6º DOMINGO DO TEMPO COMUM Ano B 2015 (Adaptado e postado pelo Diácono Ismael)
Tema: A cura do leproso: “Eu quero: fica curado!”
SINOPSE:
Primeira
leitura: Apresenta a lei de Moisés que definia como tratar os leprosos.
Evangelho: Jesus, que
é a mão Deus vem ao encontro dos seus filhos vítimas da rejeição e da exclusão,
compadece-Se da sua miséria, estende-lhes a mão com amor, liberta-os dos seus
sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do “Reino”. Deus não pactua com
a discriminação dos irmãos.
Segunda
leitura: Paulo convida os cristãos a terem como prioridade a glória de
Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo deve ser o de Cristo, que viveu na
obediência aos projetos do Pai e fez da sua vida um dom de amor, ao serviço da
libertação dos homens.
6. PRIMEIRA LEITURA (Lv 13,1-2.44-46) ...: “Quando alguém tiver na pele ...mancha branca, com aparência da lepra..., é impuro e como tal o sacerdote deve declarar. O homem ...andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! impuro!’...; e, sendo impuro, deve ficar isolado e orar fora do acampamento.”
AMBIENTE - O Livro do Levítico trata do culto. Apresenta leis, ritos da “escola sacerdotal”. O texto apresenta a “lei da pureza”. A noção de pureza supõe-se que o homem deseja a sua vida balizada por regras bem definidas, que o protejam do risco do desconhecido. Tudo o que é excepcional, anormal, misterioso, destrói a harmonia e o equilíbrio e pode libertar forças incontroláveis que o homem não domina. Certos “tabus” proibiam aos israelitas o contacto com determinadas realidades (o sangue, um cadáver, certos tipos de alimentos, etc.). Se o homem entrava em contacto com essas realidades, ficava “impuro”. O contato com a “impureza” não era pecado; mas o homem devia “limpar” a “impureza” contraída, logo que possível. Só depois poderia se aproximar de Deus. O caso mais grave de “impureza” era a lepra.
MENSAGEM - A “lepra” designa, aqui, vários tipos de enfermidade da pele, que deformam a aparência do homem. Esta doença seria uma manifestação de forças misteriosas, que ameaçam a harmonia e o equilíbrio da existência do homem. O “leproso” era afastado da convivência diária com as outras pessoas. A intenção higiênica e pretendia evitar o contágio. Mas, a exclusão dos “leprosos” da comunidade tinha razões religiosas… Para a mentalidade tradicional do povo bíblico, Deus distribuía as suas recompensas e os seus castigos de acordo com o comportamento do homem. A doença era sempre um castigo de Deus pelos pecados do homem. Ora, a “lepra” era tida como um castigo terrível para um pecado grave. O “leproso” era considerado um amaldiçoado por Deus, indigno de pertencer à comunidade e que em nenhum caso podia ser admitido às assembléias onde celebrava o culto a Deus.
O sacerdote é que decidia da capacidade ou não de alguém integrar
a comunidade.
ATUALIZAÇÃO - • O nosso texto convida-nos a repensar as nossas atitudes face aos nossos irmãos. Não será possível que os nossos preconceitos criem marginalização e exclusão.
10. EVANGELHO (Mc 1,40-45) ...um leproso chegou perto de Jesus e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado. Então Jesus o mandou embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
Cristo é
a mão de Deus que nos toca e nos purifica.
AMBIENTE - Jesus
continua a missão que o Pai lhe confiou e a anunciar o “Reino”. O “Reino”
torna-se uma realidade nas palavras e nos gestos de Jesus. Para a ideologia
oficial, o leproso era um pecador, vítima de castigo de Deus. A sua condição excluía-o
da comunidade e do culto. O leproso era
o protótipo do marginalizado, do excluído, do segregado.
MENSAGEM - Um leproso considerado maldito vem “ter com Jesus”. Provavelmente a pregação de Jesus tinha-lhe aberto um horizonte de esperança. No desejo de sair de sua marginalidade infringe a Lei e aproxima-se de Jesus. Diante de Jesus é humilde e insistente (“prostrou-se e suplicou-lhe”). O que ele pretende de Jesus não é apenas ser curado, mas ser “purificado” desse mal que o torna impuro e indigno de pertencer à comunidade («se quiseres podes “purificar-me”»; o verbo grego “katharidzô” aqui utilizado não deve traduzir-se como “curar”, mas sim como “purificar” ou “limpar”). Ele confia no poder de Jesus, sabe que só Jesus pode ajudá-lo a sair da miséria, de isolamento e de indignidade.
O Senhor estendeu a mão, o Senhor tocou o leproso! Não
precisava fazê-lo, não deveria fazê-lo! Ele teve compaixão! Quis estar próximo
daquele miserável, quis que ele se sentisse amado, acolhido! Ao invés da
impureza contagiar Jesus, é Jesus que contagia o leproso com a sua pureza! Eis!
O Reino chegou: em Jesus, Deus vai libertando a humanidade de toda sua lepra,
da lepra do seu pecado! Na ação de Jesus, compreendemos que o amor é mais forte
que o egoísmo, que a luz é mais forte que a treva, que o bem é mais forte que o
mal,
A reação de Jesus é diferente de acordo com os padrões judaicos.
Em lugar de se afastar do leproso e de acusá-lo de infringir a Lei, Jesus
olha-o “compadecido”, estende a mão e toca-lhe. Jesus é apresentado,
assim, como o Deus cheio de amor pelos seus filhos, que Se “compadece” face à
miséria e sofrimento dos homens. Jesus estende a mão e toca-o. É um
gesto que manifesta a bondade e a solidariedade de Jesus; mas o gesto de
estender a mão tem um significado teológico, pois é o gesto que acompanha, na
história do Êxodo, as ações libertadoras de Deus em favor do seu Povo (cf. Ex
3,20 (a- Deus estendeu sua mão sobre o
Egito feriando com prodígios para que Faraó libertasse o seu povo da
escravidão);b- 10,12 Estendeu, pois, Moisés o
seu bordão sobre a terra do Egito, e o SENHOR trouxe sobre a terra um vento
oriental todo aquele dia e toda aquela noite; quando amanheceu, o vento
oriental tinha trazido os gafanhotos. 14,16 E tu, levanta o teu bordão, estende a mão
sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do
mar em seco). O amor de Deus manifesta-se como gesto libertador, que salva o
homem leproso da escravidão em que a doença o havia lançado.
Por outro lado, ao tocar o leproso, Jesus está infringindo a
Lei. Dessa forma, Ele denuncia uma Lei que criava marginalização e
exclusão. Jesus, com a autoridade que Lhe vem de Deus, mostra que a
marginalização imposta pela Lei não expressa a vontade de Deus. O gesto de
tocar o leproso mostra que a distinção entre puro e impuro consagrada pela Lei
não vem de Deus e não transmite a lógica de Deus; mostra que Deus não
discrimina ninguém, que Ele quer amar e oferecer a liberdade a todos os seus
filhos e que a todos Ele convida a integrar a família do “Reino”, a nova
humanidade.
A resposta verbal de Jesus (“quero: fica limpo”); apenas
confirma o seu gesto. Mostra, por palavras, que o leproso não é um marginal, um
pecador condenado, mas um filho amado a quem Deus quer oferecer a salvação e a
vida plena. A purificação do leproso significa, em primeiro lugar, que o
“Reino de Deus” chegou e Deus quer banir o sofrimento, a marginalização, a
exclusão. A purificação do leproso significa, também, a desmontagem da teologia
oficial que considerava o leproso um maldito. A misericórdia, a bondade, a
ternura de Deus derramam-se sobre o leproso no gesto salvador de Jesus e
dizem-lhe: “Deus ama-te e quer salvar-te”.
Consumada a purificação do leproso, Jesus recomenda-lhe que não
diga nada a ninguém. De acordo com Mt 11,5, a cura dos leprosos era uma
obra do Messias; assim, o gesto de Jesus define-O como o Messias esperado. O messianismo
não passa por um trono político (como sonhavam as multidões), mas pela cruz. Jesus é o Messias, mas o
Messias-servo, que veio ao encontro dos homens para lhes transmitir o projeto
salvador do Pai e para libertá-los das cadeias da opressão. O seu caminho passa
pelo sofrimento e pela morte. O seu trono é a cruz, expressão máxima de uma
vida feita amor e entrega. Ao leproso purificado, Jesus diz para ir mostrar-se
aos sacerdotes. Segundo a Lei, o leproso só podia ser reintegrado na comunidade
depois de a sua cura ter sido homologada pelo sacerdote em funções no Templo.
No entanto, Jesus acrescenta: “para lhes servir de testemunho”. Dado que
a cura de um leproso só podia ser operada por Deus e era, por isso, um sinal
messiânico, o fato devia servir aos líderes do Povo para concluírem que o
Messias tinha chegado e que o “Reino de Deus” estava já presente no meio do
mundo. O leproso purificado devia, portanto, ser um “testemunho” da presença de
Deus no meio do seu Povo e um sinal de que os novos tempos tinham chegado.
O leproso
purificado “começou a apregoar e a divulgar o que acontecera”, apesar do
silêncio que Jesus lhe impusera. Jesus Cristo curou, pois viu um
“projeto de apóstolo”. Logo que se foi, o ex-leproso converteu-se num
mensageiro do Evangelho. Jesus também
poderia perguntar a você: Queres? Queres seguir-me de verdade?
Marcos quer sugerir que quem experimenta o poder integrador e
salvador de Jesus converte-se em profeta e em testemunha do amor e da bondade
de Deus.
ATUALIZAÇÃO – O nosso texto fala-nos de um Deus cheio de amor, de bondade e de ternura e os convida a viver em comunhão com Ele e a integrar a sua família. É um Deus que não exclui ninguém e que não aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação dos irmãos. É, esse Deus que vem ao encontro de cada pessoa, lhe estende a mão com ternura, o purifica e lhe oferece uma nova vida na comunidade do “Reino”.
• A atitude de Jesus é de solidariedade e aceitação. Jesus apenas
vê em cada pessoa um irmão a quem é preciso estender a mão e amar.
• O gesto de Jesus de estender a mão denuncia uma Lei geradora de
discriminação, de exclusão e de sofrimento. Essa Lei não tem qualquer
significado.
• O leproso, apesar da proibição de Jesus, “começou a divulgar o
que acontecera”. Marcos sugere que o encontro com Jesus transforma a vida do
homem e ele não pode calar a alegria pela novidade que Cristo introduziu na sua
vida e tem de dar testemunho.
8. SEGUNDA LEITURA (1Cor 10,31-11,1) ...quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus. Não escandalizeis ninguém.... Fazei tudo como eu, que procuro agradar a todos, em tudo, não buscando o que é vantajoso para mim mesmo, mas o que é vantajoso para todos, a fim de que sejam salvos. Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo.
AMBIENTE – O texto é a conclusão sobre o problema de comer ou não a carne dos animais imolados aos ídolos (cf. 1 Cor 8-10). Comprar essas carnes e comê-las era lícito? A resposta de Paulo: dado que os ídolos não são nada, comer dessa carne é indiferente; contudo, deve-se evitar escandalizar os mais débeis na fé: se houver esse perigo, evite-se comer da carne sacrificada nos santuários pagãos, a fim de não faltar à caridade.
MENSAGEM – Na questão do comer as carnes dos templos pagãos, há um duplo critério: em qualquer atividade devem dar“glória de Deus”; e o bem dos irmãos. O cristão é livre, mas pode ser convidado a prescindir dos seus direitos e da sua liberdade em função de um bem maior e que é o amor dos irmãos. A lei do amor deve sobrepor-se a tudo o resto, inclusive aos “direitos” de cada um. Paulo dá o exemplo: Ele não procura o seu próprio interesse, seus projetos pessoais, mas o bem de todos os irmãos. Nisto, Paulo imita Cristo, que não procurou cumprir não a sua vontade, mas a vontade do Pai e morreu na cruz por amor aos homens, a fim de lhes apontar um caminho de salvação. Cristo renunciou aos seus direitos por amor e para que se concretizasse o projeto de salvação que Deus tinha para os homens. Para Paulo, o exemplo de Cristo é a fonte inspiradora que tem condicionado as suas atitudes …
ATUALIZAÇÃO -• Paulo deixa claro que o valor absoluto e ao qual tudo o resto se deve subordinar é o amor. O cristão sabe que, em certas circunstâncias, pode ser convidado a renunciar aos próprios direitos, à própria liberdade, aos próprios projetos porque a caridade ou o bem dos irmãos assim o exigem. Mesmo que um determinado comportamento seja legítimo, o cristão deve evitá-lo se esse comportamento faz mal a alguém.
• A propósito, Paulo refere o exemplo de Cristo, (“Abbá, Pai, tudo
Te é possível; afasta de Mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim
o que Tu queres” – Mc 14,36); e, apesar de ser “mestre” e “Senhor”, multiplicou
os gestos de serviço e fez da sua vida uma entrega total aos homens, até à
morte. Cada cristão deve ser capaz de ultrapassar o egoísmo e o comodismo, a
fim de fazer da sua própria vida um serviço e um dom de amor aos irmãos
Pe. Joaquim, Pe.
Barbosa, Pe. Carvalho
Para a celebração da PALAVRA
Mc 1, 40-45 -Louvor: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
à POR JESUS,COM JESUS E EM JESUS,
NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
à Ó Deus, nosso Pai, abençoado seja o vosso Nome, sois eterno e
único. Vosso Filho nos mostrou que amais a todos que criastes. Sois um Pai que
sempre nos acolheis curando nossas fragilidades.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
à Seja louvado e santificado o Vosso nome. Sois Deus de amor e
misericórdia. Pai, curai-nos do egoísmo e da falta de amor para os irmãos que
sofrem. Dai-nos a capacidade de acolher bem a todos em nossa com unidade e em
nossa vida.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
à Ó Deus, nosso Pai, enviai-nos o Espírito Santo para que sejamos
transformados na vossa imagem de amor. Que nosso orgulho e vaidade sejam
destruídos para que saibamos espelhar o vosso amor entre vossos filhos.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
à Senhor, nosso Deus e Pai, louvor e glória Vos sejam dados pela vossa imensa misericórdia.
Pai, fortalecei-nos para que saibamos fazer a vossa vontade aqui na terra e
também no Céu.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
...
// PAI NOSSO... // ...// A PAZ DE CRISTO...//
...//EIS O CORDEIRO...//
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HOMILIA DO PE. PEDRINHO
A liturgia de hoje nos convida a contemplar Jesus, aquele que tem
compaixão para com o povo.
Compaixão é diferente de ter dó. O cristão não tem dó das pessoas,
porque normalmente você deve ter dó daquele que é inferior a você. Portanto,
você deve ter dó de gato, cachorro. O cristão, diante do irmão, o seu
sentimento é de compaixão. O cristão é alguém que é convidado a se colocar ao
lado do irmão e sofrer com ele, aquela dificuldade que deve ser enfrentada.
Este é um desafio para cada um de nós. De fato, é um grande desafio para nossa
época. Onde as pessoas não tem sequer tempo para dedicar àqueles que ama,
imagina para com aqueles que não conhece. O Evangelho de hoje, o primeiro
chamado é à consciência: de que maneira eu utilizo o meu tempo? Este tempo
utilizado é em vista do que? Estou construindo o Reino ou estou deixando uma
grande oportunidade de ser um grande colaborador de Deus, deixando passar de
lado? Então, o Evangelho de Marcos, desde o início, já, está nos mostrando
Jesus que está atento a todas as necessidades. Primeiro o homem da mão seca,
depois, a sogra de Pedro que ele cura e hoje o seu encontro é com um leproso.
Ora, o leproso no tempo de Jesus, ele é carregado de muitos preconceitos;
primeiro, eles não sabiam distinguir lepra de hanseníase. Isto é uma diferença
brutal. De qualquer forma, o leproso precisava estar distante de todos, precisava
andar avisando a todos de que era leproso, e no caso do homem, devia estar com
o barba sem cortar, com a roupa toda desgrenhada e rasgada e ninguém podia
tocar naquela pessoa, porque ela era considerada impura. E tal, que sendo
impura era uma pecadora. Se era pecador e eu tocar no pecador, eu também me
torno pecador. Esta é a situação de uma pessoa que está totalmente segregada e
separada do convívio dos outros e que não tem muita perspectiva, pois, a final
de contas, quem poderá ajuda-la? Ora, isto é resultado de uma compreensão
equivocada sob a orientação de Moisés. Moisés havia disto ao povo isto: se
alguém tem algum problema de pele, deve ficar à parte, para não correr o risco
de discriminar isto a outras pessoas e o sacerdote deve cuidar dessa pessoa que
está enferma. O sacerdote deve ajuda-lo a superar esta doença para que volte ao
convívio de todos. Assim, o sacerdote deveria empenhar o seu tempo em cuidar
daquela pessoa. Ora, Moisés não viu outra alternativa do que fazer isto, já que
o ambiente de deserto é propício para uma série de enfermidades de pele. A água
é muito pouca e de fato as condições higiênicas são precárias. De tal maneira
que era a forma encontrada por Moisés de garantir a vida daquele povo. Agora,
entre você ter um cuidado especial com alguém e deixar alguém ao “léu”, “deixar
à sorte”, há uma diferença muito grande.
Esta é a situação desse leproso, que se vê diante da lei dita por
Moisés e está totalmente segregado. É aí que ele tem esse encontro com Jesus. É
um encontro muito interessante, porque em primeiro lugar ele assume a sua posição
de necessitado. Diante da necessidade ele se ajoelha e vai dizer a Jesus: se
queres, podes me curar. Jesus diz: Eu quero. Toca no leproso e a lepra vai
embora. Nesse movimento todo, escrito por São Marcos, tanto de Jesus quanto do
leproso, temos muito a aprender. Em primeiro lugar, nem sempre estamos
conscientes de nossa situação de necessitados. Confiamos demais na nossa pré-vidência.
Como nós não temos pré-vidência, acabamos nos equivocando sempre. Estamos sempre
preocupados com o futuro e nunca vivemos o presente, como momento de realizar o
bem. Achamos que não precisamos de mais nada, além do dinheiro, da nossa posição
social, da nossa comodidade de garantir
o bem estar dos nossos. Então, demos dificuldade de nos ajoelhar e de pedir a
Jesus que nos ajude. Aliás, alguns comentam que quem vai a Igreja domingo,
porque não tem outra coisa a fazer, pois quando eu vou passear, eu não vou à
igreja. Eu vou desfrutar do feriado de maneira mais adequada, de uma forma mais
interessante. Muitos ainda vão atribuir que só tem fé quem é ignorante, pois
quem estuda vai ver que Deus é uma invenção humana. E assim por diante. Ora,
diante desta realidade, é preciso fazer uma escolha: ou me dou conta de que sou
finito e que sou limitado e que necessito de tudo e de todos pra viver e consequentemente
necessito de Deus, ou então perco o sentido de minha vida. Eu creio que a grande
maioria que está aqui, são pessoas que sabem o quanto é importante ter este
encontro ao menos semanal com Jesus Cristo na Eucaristia. Porque é daí que eu
tiro forças, orientação para poder caminhar e nessa caminhada fazer o bem. Então,
eu aprendo com este leproso qual é o lugar daquele que é filho de Deus. Por outro
lado, Jesus sempre nos surpreende e a atitude dele diante daquele leproso é
algo que mostra o amor infinito que Deus tem para com todos que a Ele recorrem.
Diante daquele leproso, Jesus diz: Eu quero, sê purificado. E ele pode fazer
isto, porque afinal de contas, como Senhor da vida, Ele não correrá nenhum
risco de se contaminar com a situação do pedinte. Ora, este Jesus TOCA no leproso
e a partir daí, Ele se torna UM com aquele leproso. O Evangelho diz que por
conta disso, Jesus já não podia mais entrar na cidade. É diante desta postura
de Jesus, que nós somos questionados. Entre poder participar de todas as
regalias que a sociedade me oferece ou ser compassivo com aquele que é
marginalizado, qual é a posição que eu escolho, o que é que eu tenho a perder? Jesus
não fez esta conta. Ele viu que ali estava alguém necessitado da sua ajuda e
mesmo sabendo que seria impedido de entrar na cidade, Ele não se omitiu diante
do pedido daquele necessitado. É assim que nós aprendemos o que é ter compaixão.
O fato é que hoje temos muito mais informações e sabemos que lepra é um
conceito pejorativo que insinua que alguém pode nos contaminar. Enquanto que
hanseníase é uma doença de pele e que hoje tem cura. Portanto, em primeiro
lugar é necessário eliminar todo tipo de preconceito. Em segundo lugar, sabendo
que a lepra já não causa segregação, outras doenças físicas ou psíquicas pode
contribuir para levar a segregar outras pessoas. Então, o preconceito precisa
ser eliminado. Por outro lado, pode ser que não tenhamos nenhuma doença física
ou psíquica, que podemos chamar de lepra, mas o pecado nos corrói muitas vezes.
Muitas vezes, espiritualmente falando, estamos leprosos. De qualquer forma, é
cada um que deve pensar, cada um que deve julgar a si mesmo; será que eu
preciso pedir a Jesus que me purifique? Jesus vai muito além daquilo que o
Evangelho nos fala, porque o Evangelho diz que Jesus tocou o leproso. Hoje Ele
não somente nos toca quando nós o procuramos, como Ele volta para casa conosco,
porque este é o sentido da Eucaristia. Eucaristia é uma comunhão tão plena,
aonde eu e Jesus nos tornamos UM só, pelo ato de eu comungar. Portanto, por
pior que seja o nosso pecado, é sempre uma esperança nova que reacende, quando
encontramos com Jesus. E por pior que seja o pecado, não é impossível de ser
purificado; basta que peçamos. Se eu não pedir, claro que Ele não vai me
purificar, porque Ele respeita a minha opção, o meu pedido. Por isso o Salmo
vai dizer; feliz o homem que foi perdoado. E nós respondemos; Sois, Senhor, meu
refúgio e minha alegria.
São Paulo nos mostra a necessidade de estarmos atentos. E diz:
fazei tudo como eu, procure agradar a todos. Não vamos entender São Paulo de
maneira equivocada; achando que com isto ele faz média com todos e procura
nessa média não se indispor com ninguém. Não é isto! Diante do interesse do irmão,
da necessidade do irmão e do meu interesse, eu sou convidado a imitar Jesus e
atender o interesse do outro. Isto não é tão simples. Isto requer uma renuncia
dos próprios interesses e vontade, em vista do outro. Entretanto, há um critério;
não é tudo que o irmão quer, que eu vou oferecer. “Quer comais, quer bebais,
fazei tudo para a glória de Deus”. Então,
servir o irmão naquilo que pode glorificar o Pai.
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Homilia de D. Henrique Soares
Para
nos guiar na meditação da Palavra de Deus deste hoje, tomemos o Evangelho que
acabamos de ouvir. “Um leproso chegou perto de Jesus”. No tempo de
Cristo, toda doença na pele que oferecesse perigo de contágio era considerada
um tipo de lepra; tornava a pessoa impura. Ouvimos na primeira leitura: “O
homem atingido por esse mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em
desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’ Durante todo o tempo em
que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar
fora do acampamento”. Eis! É alguém assim que se aproxima de Jesus: ferido,
excluído do convívio da Assembléia de Israel, colocado fora da Cidade, um
morto-vivo… Um leproso não podia tocar as pessoas: elas se tornariam impuras
como ele; um leproso não convivia com sua família, não podia entrar na Casa do
Senhor para rezar com seus irmãos: era um ninguém: “Impuro! Impuro!” – ele
gritava, com a barba coberta em sinal de luto e profunda tristeza…
É
um homem assim que se aproxima de Jesus; tem a ousadia de chegar junto dele,
sem medo de ser repelido, repreendido, desprezado. E, do fundo de sua miséria,
ele suplica: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Quanta
confiança, quanta esperança! Que oração brotada do mais profundo da dor! O que
fará Jesus? Sua reação é absolutamente inesperada: ele faz algo que a Lei
proibia: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e
disse: ‘Eu quero: fica curado!’” Notai, irmãos! O Senhor estendeu a mão, o Senhor tocou o leproso! Não precisava
fazê-lo, não deveria fazê-lo! Segundo a Lei, Jesus deveria ficar impuro
também, ao menos até o entardecer… Por que tocou o leproso? Não poderia tê-lo
curado sem tocá-lo? O próprio Evangelho explica: ele teve compaixão! Quis estar próximo daquele miserável, quis que ele
se sentisse amado, acolhido! Jesus não nos ama de longe, não vê de modo
indiferente a nossa miséria: ele se faz próximo, ele nos toca, ele compartilha
nossa dor! Assim Deus faz conosco! E, para nossa surpresa, ao invés da impureza contagiar Jesus, é Jesus que contagia o leproso
com a sua pureza! Eis! O Reino chegou: em Jesus, Deus vai libertando a humanidade
de toda sua lepra, da lepra do seu pecado! Na ação de Jesus, compreendemos
que o amor é mais forte que o egoísmo,
que a luz é mais forte que a treva, que o bem é mais forte que o mal, que a
graça é mais poderosa que o pecado, que a vida é capaz de vencer a morte! “No
mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado”.Eis o bem, eis a
graça, eis a salvação que o Senhor nos veio trazer! O Profeta Isaías, havia
anunciado: “Ele tomou sobre si as nossas dores, ele carregou-se com os
nossos pecados! Era nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas
dores que ele carregava (Is 53,4-5). Jesus curou o leproso e o Evangelho
diz que ele“não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em
lugares desertos.” Vede bem que, com essa linguagem, o Evangelho deseja
afirmar que Cristo, curando o leproso, assumiu o seu lugar: agora, o homem que
antes vivia nos lugares desertos, entra na cidade, volta a ser alguém; quanto a
Jesus, fica fora, assume o lugar do homem: tomou sobre si as nossas dores!
Caríssimos,
um grande mal da nossa época, uma grande ilusão, é achar que não temos pecado,
pensar que somos maduros e integrados. Não somos capazes de reconhecer nossas
lepras, somos incapazes de suplicar, de joelhos: “Senhor, se queres, podes
curar-me!” E por que isso? Porque somos auto-suficientes: olhamo-nos,
examinamo-nos não à luz do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus , mas à
luz de nós mesmos. Pensamos que somos senhores do bem e do mal, do certo e do
errado! É tão comum vivermos de modo contrário à vontade do Senhor e ainda,
cheios de orgulho e soberba, dizermos que estamos certos… É tão comum querermos
moldar Jesus e a sua Palavra à nossa vontade… É tão freqüente a ilusão que
podemos jogar na lata do lixo o ensinamento da Igreja, sobretudo no campo
moral… E assim, vamos construindo nossa vidinha do nosso modo, modo de pecado,
modo de lepra, modo de doença: doença da ida, da descrença, da indiferença, da
falta de fé!
Reconheçamo-nos
pecadores, meus caros! Mostremos ao Senhor a nossa lepra? Como fazê-lo?
Primeiramente, deixando que sua Palavra nos fale e nos mostre nossos erros,
nossas manhas, nossos males. Depois, à luz da Palavra do Senhor, façamos, com
freqüência, o sincero exame de consciência e tenhamos a coragem de olhar de
frente o que pensamos, falamos e fazemos contrário ao Senhor. Finalmente,
sinceramente arrependidos, procuremos o Senhor no sacramento da Confissão e,
confessando nossos pecados, busquemos o perdão, a cura do Cristo, nosso Deus.
Quantas vezes evitamos a Confissão! Quantas vezes fugimos na tal da Confissão
comunitária, desobedecendo às normas da Igreja, que só a permitem em casos
raros e graves. A Confissão, então é inválida e acrescentamos aos pecados
cometidos, mais estes: a desobediência à norma de Igreja e a soberba de nos
julgar autossuficientes. Deveríamos aprender do Salmista, na missa de
hoje: “Eu confessei, afinal, meu pecado, e minha falta vos fiz
conhecer. Disse: ‘Eu irei confessar meu pecado!’ E perdoastes, Senhor, minha
falta!” Mas, não! Teimamos em não levar a sério nosso próprio pecado!
Julgamo-nos juízes de Deus e da Igreja! Terminamos, então por comungar
indignamente, esquecendo que a Eucaristia, se traz vida para quem a recebe bem,
traz também morte para quem não a recebe com as devidas disposições…
Caros
meus em Cristo, chega de um cristianismo morno, chega da falta de coragem de
nos olharmos de frente! Senhor, cura-nos! Senhor, somos leprosos, somos
pecadores, nossos pecados mancham não a nossa pele, mas o nosso coração, o mais
profundo da nossa alma! Senhor, de joelhos, como o leproso do Evangelho, te
suplicamos: cura-nos e seremos curados! Dá-nos a graça de reconhecer nossos
pecados; reconhecendo-os, dá-nos a coragem e sinceridade de confessá-los;
confessando-os, dá-nos a graça de experimentar teu perdão, de cumprir
generosamente a penitência e de procurar com responsabilidade emendar a nossa
vida! Tem piedade de nós, ó Autor da graça e Doador do perdão! A ti a glória
para sempre! Amém.
D.
Henrique Soares
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Homilia de Pe. Françoá Costa - Queres?
Queres?
Quero. Com essas palavrinhas foram resolvidos os problemas do leproso (cf. Mc
1,40-41). Também nós podemos perguntar a Jesus: queres? Procuremos escutar a
resposta. Mas será que pode ser que ele não queira o que eu estou pedindo e que
me parece tão importante? É possível. Aquilo que julgamos bom para nós e
pedimos insistentemente, Deus, na sua omnisciência, poderia não estar de
acordo. Desta maneira, não nos concederá determinada coisa ou talvez atrase a
concessão da mesma.
E
nem adianta viver na ilusão. Não faz muito tempo escutei a história daquela
senhora, diabética quase ao extremo, que acreditava tanto nas curas de Deus que
afirmou a outra pessoa o seguinte: – “Jesus me curou, já não sou diabética?” A
sua amiga respondeu-lhe: – “puxa vida, pena que ele se esqueceu de dar-lhe um
pouco de cor, pois você está muito pálida; vejamos se realmente está curada: vá
tomar um café com muito açúcar.” A diabética afirmou: – “não, eu ainda não
posso”.
Estou
a afirmar que Deus não cura? Não. Claro que o Senhor cura, liberta e faz
milagres. E não obstante, pode ser que em determinados momentos ele não o
queira e permita que padeçamos porque ele sabe que tal sofrimento será para o
nosso bem e para a glória de Deus: “Esta enfermidade não causará a morte, mas
tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus”
(Jo 11,4). Infelizmente, alguns grupos cristãos têm satanizado toda e qualquer
enfermidade, as doenças viriam do diabo e por isso seria preciso curar-se de
qualquer jeito. Um dos grandes perigos dessa maneira de ver o sofrimento é a
vinda do ateísmo. Explico-me: as pessoas que frequentam esses tipos de seitas,
quando abrem os olhos e percebem que há anos vêm pedindo cura e,
paradoxalmente, não recuperam a saúde desejada, podem vir a perder a fé em Deus. Mas , deixemo-lo
claro: essas pessoas acreditam num Deus que não parece ser exatamente o Deus
que é Pai e Filho e Espírito Santo. Tenho medo de que, com o passar do tempo,
essa grande onda de curas e de milagres venha a desembocar num ateísmo cada vez
maior e num secularismo que já não conhece a mensagem cristã, cujo centro é
justamente o mistério da cruz que eclode no domingo da ressurreição.
Mas
o fato é que no caso do leproso de hoje, Jesus quis a sua cura. Por quê? Ora,
naquele homem enfermo, Jesus Cristo viu um “projeto de apóstolo”. E assim foi!
“Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o
acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade.
Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com
ele” (Mc 1,45). O ex-leproso converteu-se então num mensageiro do Evangelho.
Neste caso, a cura dele também foi para a glória de Deus!
Em
suma, tanto a nossa enfermidade quanto a nossa cura podem ser para o nosso bem
e para a glória de Deus. Ele, que tem a visão de todas as coisas e conhece o
mais íntimo de nós mais que nós mesmos, sabe o que será melhor no nosso caso
concreto. Daí que devemos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Bom Deus.
Jesus
também poderia perguntar a você: Queres? Queres seguir-me de verdade? Queres
buscar-me de verdade ou será que queres tão somente aquilo que eu posso te
oferecer? As perguntas entram numa clara lógica de conversão. A cura do leproso
não foi apenas uma cura do corpo, mas principalmente da alma: ele tornou-se uma
testemunha do Senhor. Jesus quis curá-lo, mas ele – o leproso – também quis
seguir o Senhor de verdade.
Conta-se
que certa vez a irmã de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe qual era o segredo
da santidade. O santo respondeu sem hesitar: – querer! Caso nós percebemos que
não vamos para frente na extirpação de tal ou qual vício ou no progresso em
determinada virtude, perguntemo-nos a nós mesmos: será que eu quero? A graça de
Deus não nos falta, o problema não pode está aí; o problema está na debilidade
da nossa resposta aos apelos de Deus. Lembro-me daquele espanhol, professor
renomado, que confessou aos seus alunos: – “Eu parei de fumar. O que eu fiz?
Lutei para nem sequer pensar no cigarro”. Esse homem QUERIA de fato deixar de
fumar!
Queres,
meu filho? Queres, minha filha?
Pe.
Françoá Costa
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