20º DOMINGO DO TEMPO COMUM
C 2016. (Adaptado pelo Diácono Ismael)
TEMA: A Coragem na atuação do projeto que Deus
nos confia.
Primeira leitura: O
profeta Jeremias recebe de Deus uma missão que lhe vai trazer o ódio do Povo de
Jerusalém.
Evangelho:
reflete a missão de Jesus como um “lançar fogo à terra”, a fim de que
desapareçam o egoísmo, a escravidão, o pecado e nasça o mundo novo – o “Reino”.
A proposta de Jesus trará, no entanto, divisão.
Segunda leitura: convida
o cristão a correr como os atletas ao encontro da vida plena.
PRIMEIRA LEITURA (Jr 38, 4-6.8-10) Leitura do Livro do Profeta
Jeremias Naqueles dias: Disseram os príncipes ao rei: Pedimos que seja morto
este homem; ele anda com habilidade lançando o desânimo entre os combatentes
que restaram na cidade e sobre todo o povo, dizendo semelhantes palavras; este
homem, portanto, não se propõe o bem-estar do povo, mas sim a desgraça. Disse o
rei Sedecias: Ele está em vossas mãos; o rei nada vos poderá negar. Agarraram
então Jeremias e lançaram-no na cisterna de Melquias, filho do rei, que havia
no pátio da guarda, fazendo-o descer por meio de cordas. Na cisterna não havia
água, somente lama; e assim ia-se Jeremias afundando na lama. Ebed-Melec saiu
da casa do rei e veio ter com ele, e falou-lhe: Ó rei, meu senhor, muito mal
procederam esses homens em tudo o que fizeram contra o profeta Jeremias,
lançando-o na cisterna para aí morrer de fome; não há mais pão na cidade. O rei
deu, então, esta ordem ao etíope Ebed-Melec: Leva contigo trinta homens e tira
da cisterna o profeta Jeremias, antes que morra.
AMBIENTE - Jeremias exerce a missão profética (de 627 e
até bem depois da queda de Jerusalém, em 586 a.C). Após o reinado de Josias, o reino de Judá conheceu
um período de grande instabilidade. 588 a.C., Sedecias negara o tributo aos
babilónios. Na sequência, Nabucodonosor pôs cerco a Jerusalém. Jeremias,
convencido de que tinha chegado o castigo para o pecado de Judá e de que Deus
tinha entregado Jerusalém nas mãos dos babilônios, aconselhou a não resistência
aos invasores e a rendição.
MENSAGEM - Os chefes mobilizam-se para se opor ao
discurso do profeta e propõem a sua eliminação. Sedecias, o rei, consente que o
profeta seja silenciado. Colocado numa cisterna cheia de lodo e sem nada para
comer, Jeremias chega a correr risco de vida; é um escravo núbio que intercede
por Jeremias e o salva.
Jahwéh confia-lhe a
missão de predizer desgraças e anunciar violência e morte; e o profeta procura
concretizar a sua missão com uma força e uma convicção que nos impressionam.
Deus seduziu Jeremias e o profeta pôs-se, incondicionalmente, ao serviço da
Palavra, mesmo que isso significa viver à margem dos familiares, dos amigos e
afrontando o ódio dos poderosos.
Jeremias é o
protótipo do profeta que dá a sua vida para que a Palavra de Deus ecoe no mundo
e na vida dos homens. Ele não pensa em si, no seu comodismo, no seu bem-estar,
no seu êxito social ou profissional, no seu triunfo diante da opinião pública;
ele pensa, apenas, em anunciar com fidelidade os projetos de Deus aos homens, a
fim de que os homens possam construir a história na perspectiva de Deus.
Na parte final deste
texto, cumpre-se a promessa de Deus, expressa no relato da vocação de Jeremias:
“não tenhas medo, Eu estarei contigo para te libertar” (Jer 1,8). Através do
sentido de justiça e da coragem de um escravo estrangeiro, Deus intervém e
salva Jeremias. Desta forma, mostra-se como Deus está sempre ao lado daqueles
que anunciam fielmente a sua Palavra e como não abandona os perseguidos e
marginalizados pelo mundo e pelos poderosos.
ATUALIZAÇÃO - A história de Jeremias não é um caso isolado,
mas a história de todos aqueles a quem Deus chama a testemunhar, com
fidelidade, os seus projetos e os seus valores. Ser profeta não é um percurso
fácil, nem uma carreira recheada de êxitos humanos, nem um caminho atapetado
pelo entusiasmo e pelas palmas das multidões; mas é um caminho de cruz, de
sofrimento, de incompreensão e, tantas, vezes, de morte. Implica o confronto
com a injustiça, com a alienação, com a opressão, com o poder daqueles que
pretendem construir o mundo sobre valores de egoísmo, de prepotência, de
orgulho, de morte.
** A história de
Jeremias mostra que o profeta não está só; Deus está sempre ao seu lado. A
garantia de Deus.
SALMO RESPONSORIAL / 39 (40)
Socorrei-me, ó Senhor, vinde logo em meu auxílio!
• Esperando, esperei no Senhor e,
inclinando-se, ouviu meu clamor. Retirou-me da cova da morte e de um charco de
lodo e de lama. Colocou os meus pés sobre a rocha, devolveu a firmeza a meus
passos.
• Canto novo ele pôs em meus
lábios, um poema em louvor ao Senhor. Muitos vejam, respeitem, adorem e esperem
em Deus, confiantes.
• Eu sou pobre, infeliz,
desvalido; porém, guarda o Senhor minha vida e por mim se desdobra em carinho.
Vós me sois salvação e auxílio: vinde logo, Senhor, não tardeis!
EVANGELHO (Lc 12, 49-53) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo
Lucas.
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já
estivesse aceso! Devo receber um batismo e como estou ansioso até que isto se
cumpra! Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu
vos digo, vim trazer divisão. Pois, daqui em diante, numa família de cinco
pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão
divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e
a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.
AMBIENTE - Desconhecendo-se o contexto primitivo deste
“dito” e as circunstâncias em que Jesus o pronunciou, é impossível determinar o
seu significado e saber qual o “fogo” de que Jesus falava.
De qualquer forma,
Lucas apresenta este material no contexto do “caminho para Jerusalém” – esse
caminho que conduz Jesus ao dom total da vida. No horizonte próximo está, cada
vez mais, o confronto final com a instituição judaica e a morte na cruz. Na
perspectiva de Lucas, estes “ditos” fazem parte da catequese que prepara os
discípulos para entender a missão de Jesus, a radicalidade do “Reino” e as
exigências que daí brotam para quem adere às propostas de Jesus.
MENSAGEM - A caminho de Jerusalém e da cruz, Jesus dá
aos discípulos algumas indicações para entender a missão que o Pai Lhe confiou
(missão que os discípulos devem continuar).
Na primeira parte,
entrelaçam-se os temas do fogo e do batismo. Jesus começa por dizer que veio
trazer o fogo à terra. Que quer isto dizer?
O “fogo” possui um
significado simbólico complexo… No Antigo Testamento começa por ser um elemento
teofânico (cf. Ex 3,2; [O
anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama (que saía) do meio a uma sarça. Moisés
olhava: a sarça ardia, mas não se consumia].
19,18; [Todo
o monte Sinai fumegava, porque o Senhor tinha descido sobre ele no meio de
chamas; o fumo que subia do monte era como a fumaça de uma fornalha, e toda a
montanha tremia com violência]. Dt 4,12; [Do meio do fogo o Senhor falou.
Ouvistes o som de suas palavras, mas não víeis no entanto nenhuma forma,
somente uma voz]. 5,4.22.23; [Falou-nos o Senhor face a face
no monte, do seio do fogo. Tais
são as palavras que no monte, do meio do fogo, da nuvem e das trevas, o Senhor
dirigiu com voz forte a toda a vossa assembléia, sem juntar mais nada. E
escreveu-as em duas tábuas de pedra, que me entregou. Ora, depois que ouvistes a voz que saía do meio das
trevas e vistes o monte ardendo em fogo, viestes ter comigo com vossos chefes
de tribos e vossos anciãos]2 Re 2,11 [Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis
que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo os separou um do outro, e
Elias subiu ao céu num turbilhão].), usado para representar a santidade divina.
A manifestação do divino provoca no homem, simultaneamente, atração e temor;
ora, explorando a relação entre o fogo e o temor que Deus inspira, a catequese
de Israel vai fazer do fogo um símbolo da intransigência de Deus em relação ao
pecado… Por isso, os profetas usam a imagem do fogo para anunciar e descrever a
ira de Deus (cf. Am 1,4; 2,5 [porei fogo à casa de Hazael, e esse fogo devorará os
palácios de Ben-Hadad. porei
fogo a Judá, e ele devorará os palácios de Jerusalém].). O fogo aparece,
assim, como imagem privilegiada para pintar o quadro do castigo das nações
pecadoras (cf. Is 30,27.30.33 [É o nome do Senhor que vem de longe, sua cólera é ardente,
uma nuvem pesada se levanta, seus lábios respiram furor, e sua língua é como um
fogo devorador. O
Senhor fará retumbar sua voz majestosa, e mostrará como o seu braço desaba em
sua cólera ardente, nas chamas de um fogo devorador, na tempestade, com chuva e
granizo. Sim,
um lugar de incineração está preparado também para Moloc, cavado, profundo e
largo; palha e lenha ali há em quantidade, e o sopro do Senhor, como uma
torrente de enxofre, acendê-lo-á].) e do próprio
Israel. No entanto, ao mesmo tempo que castiga, o fogo também faz desaparecer o
pecado (cf. Is 9,17-18; [17.Porque
a maldade queima como um fogo que devora as sarças e os espinhos, e depois
envolve a espessura da floresta, de onde a fumaça se eleva em turbilhões. 18.Pela cólera do Senhor a terra está em fogo, e o
povo veio a ser presa das chamas. Jer
15,14; 17,4.27 [14.Fá-los-ei passar com seus inimigos
para um país que não conheces, porquanto inflamou-se um fogo em minhas narinas,
que arderá para vos consumir. 17, 4.Deixarás ao abandono a herança que te conferira, e eu te farei o
escravo dos teus inimigos, em terra que desconheces, porquanto acendeste o fogo
de minha cólera que não mais cessará de flamejar. 27.Se, porém, não observardes meus
preceitos acerca da santificação do sábado, e a respeito da abstenção de
transportar fardos pelas portas da cidade no dia de sábado, porei fogo nessas
portas, e ele consumirá os palácios de Jerusalém, sem que ninguém possa
extingui-lo.].): o fogo aparece, assim, como elemento de purificação e transformação
(cf. Is 6,6; [6.Porém, um dos serafins voou em minha direção;
trazia na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz.] Ben Sira 2,5; Dan 3). Na literatura apocalíptica, o fogo é a
imagem do juízo escatológico (Is 66,15-16 [15.Pois o Senhor virá no meio do fogo, com seus carros
semelhantes ao furacão, para satisfazer sua cólera num braseiro, e cumprir suas
ameaças em chamas ardentes; 16.porque
o Senhor fará a justiça de toda a terra pelo fogo e de todo o ser vivente pela
espada, e muitos cairão sob os golpes do Senhor.]): o “dia de Jahwéh” é como o fogo do
fundidor (cf. Mal 3,2 [2.Quem estará seguro no dia de sua vinda? Quem poderá
resistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do fundidor, como a
lixívia dos lavadeiros.]); será um dia, ardente como uma fornalha, em
que os arrogantes e os maus arderão como palha (cf. Mal 3,19 [19.Porque eis que vem o dia, ardente
como uma fornalha. E todos os soberbos, todos os que cometem o mal serão como a
palha; este dia que vai vir os queimará - diz o Senhor dos exércitos - e nada
ficará: nem raiz, nem ramos.]) e em que a terra
inteira será devorada pelo fogo do zelo de Deus (cf. Sof 1,18; 3,8 [18.Nem sua prata, nem seu ouro poderão salvá-los no
dia da cólera do Senhor. Toda a terra será devorada pelo fogo de seu zelo,
porque ele aniquilará de repente toda a população da terra. 3, 8.Por isso, esperai-me - oráculo do Senhor - até o dia em que me
levantarei como testemunha, porque resolvi congregar as nações e reunir os
reinos, para descarregar sobre eles o meu furor, todo o ardor de minha cólera;
porque toda a terra será devorada pelo fogo de meu ressentimento.]). Desse fogo devorador
do pecado, purificador e transformador, nascerá
o mundo novo, sem pecado, de justiça e de paz sem fim.
O símbolo do fogo,
posto na boca de Jesus, deve ser entendido neste enquadramento. Jesus veio
revelar a santidade de Deus; a sua proposta destina-se a destruir o egoísmo, a
injustiça, a opressão, a fim de que surja, das cinzas desse mundo velho, o
mundo novo de amor, de partilha, de fraternidade, de justiça.
Como é que isso vai
acontecer? Através da Palavra e da ação de Jesus; mas Lucas está pensando no
Espírito enviado por Jesus aos discípulos através da imagem das línguas de
fogo.
Quanto à imagem do
batismo: ela refere-se à morte de Jesus (cf. Mc 10,38 [38."Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus.
Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que
eu vou ser batizado?"], onde
Jesus pergunta a João e Tiago se estão dispostos a beber do cálice que Ele vai
beber e a receber o batismo que Ele vai receber). Para que o “fogo”
transformador e purificador se manifeste, é necessário que Jesus faça da sua
vida um dom de amor, até à cruz. Só então nascerá o mundo novo.
Na segunda parte
(vers. 51-53), Jesus confessa que não veio trazer a paz, mas a divisão. Lucas
deixou expresso, frequentemente, que “a paz” é um dom messiânico (cf. Lc
2,14.29; [14.Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz
aos homens, objetos da benevolência (divina). 29.Agora, Senhor, deixai o vosso
servo ir em paz, segundo a vossa palavra.] 7,50;
[50.Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé
te salvou; vai em paz.] 8,48; [48.Jesus disse-lhe: Minha filha, tua
fé te salvou; vai em paz.]10,5-6; [5.Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta
casa! 6.Se ali houver algum homem pacífico,
repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para vós] 11,21; 19,38.42; [38.E dizia: Bendito o rei que vem em nome do Senhor!
Paz no céu e glória no mais alto dos céus! 42.Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado,
conhecesses o que te pode trazer a paz!... Mas não, isso está oculto aos teus
olhos.] 24,36
[36.Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus
apresentou-se no meio deles e disse-lhes: A paz esteja convosco!]) e
que a função do Messias será guiar os passos dos homens “no caminho da paz” (Lc
1,79 [36.Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus
apresentou-se no meio deles e disse-lhes: A paz esteja convosco!]). Que
sentido fará, agora, dizer que Jesus não veio trazer a paz, mas a divisão?
O “dito” faz
referência às reações à pessoa de Jesus e à proposta que Ele oferece. A
proposta de Jesus é questionante, interpeladora, e não deixa os homens
indiferentes. Alguns a acolhem positivamente; outros a rejeitam. Alguns vêem
nela uma proposta de libertação; outros não estão interessados nem em Jesus nem
nos valores que Ele propõe… Como consequência,
haverá divisão e desavença, às vezes mesmo dentro da própria família, a propósito
das opções que cada um faz face a Jesus. Este quadro devia refletir uma
realidade que a comunidade de Lucas conhecia bem…
Jesus veio trazer a
paz, mas a paz que é vida plena vivida com exigência e coerência; essa paz não
se faz com meias verdades, com jogos de equilíbrio que não chateiam ninguém,
mas também não transformam nada. A proposta de Jesus é exigente e radical;
assim, não pode deixar de criar divisão.
ATUALIZAÇÃO - O
Evangelho mostra que o objetivo de Jesus passava por “incendiar o mundo”, pondo
em causa tudo aquilo que escraviza o homem e o priva de vida. É fogo que transforma.
** A proposta de
Jesus não passa pela manutenção de uma paz podre, que não questiona nem
incomoda ninguém, mas por opções
radicais, que interpelam e que obrigam a decisões arriscadas. No entanto, a
Igreja de Jesus aceita muitas vezes abençoar as ideologias que escravizam e
oprimem, para manter uma certa paz social (a paz dos cemitérios?), para
“defender a civilização cristã” (como se pudessem ser cristãos aqueles que
constroem máquinas de injustiça e de morte) ou para manter determinados
privilégios. Quando isto acontece (e tem acontecido demasiadas vezes, ao longo
da história), a Igreja estará a ser fiel a esse Jesus, que veio lançar o fogo à
terra e que não veio trazer a paz, mas a divisão?
SEGUNDA LEITURA (Hb 12,1-4) Irmãos, rodeados como estamos por tamanha
multidão de testemunhas, deixemos de lado o que nos pesa e o pecado que nos
envolve. Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os
olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da
alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infâmia,
e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensai, pois, naquele que enfrentou
uma tal oposição por parte dos pecadores, para que não vos deixeis abater pelo
desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue na vossa luta contra o
pecado.
AMBIENTE - A Carta aos Hebreus
dirige-se a cristãos em situação difícil, que vivem mergulhados num ambiente
hostil e que sofrem a forte oposição dos seus concidadãos. Por isso, são também
cristãos expostos ao desalento e ao desânimo, na sua fé e na sua vida cristã… O
texto que nos é proposto é um apelo à fé e à constância ou perseverança.
MENSAGEM - Nos versículos anteriores (cf. Heb 11,1-40),
o autor apresentou figuras – desde Abraão a Moisés – que, pela firmeza e
fortaleza da sua fé, tiveram êxito, apesar das dificuldades que tiveram de
vencer; agora, o autor da carta convida os cristãos a imitar tais exemplos e a
perseverar na fé: os cristãos devem ser como atletas que correm de forma
decidida e empenhada e que dão provas de coragem, de força, de vontade de
vencer… Para que nada atrapalhe essa “corrida” para a vitória, os cristãos
devem despojar-se do fardo do pecado (o egoísmo, o comodismo, a autossuficiência),
pois esse peso acrescido será um obstáculo que impedirá o atleta de chegar
vitorioso à meta. Nessa “corrida”, o modelo fundamental do crente é Cristo.
Ele, renunciando a um caminho de facilidade e de triunfo humano, enfrentou a
cruz e venceu a morte; como resultado, foi exaltado e “sentou-Se à direita do
trono de Deus”. Dessa forma, Ele abriu para os crentes o caminho e mostrou-lhes
como proceder. O seu exemplo deve estimular continuamente os cristãos na sua
caminhada em direção à vitória.
ATUALIZAÇÃO - ** O caminho do cristão é um caminho duro e
difícil. Exige coragem para vencer os obstáculos, capacidade de luta para
enfrentar a oposição, compromissos profundos e radicais. Muitas vezes, os
obstáculos são internos: a nossa preguiça, o egoísmo, o comodismo desarmam a
nossa vontade de vivermos, com coerência, a nossa fé e as exigências do
Evangelho; outras vezes, os obstáculos são externos: são os ataques
injustificados e irracionais, os insultos, a incompreensão de um mundo que
cultiva o comodismo e a facilidade …
*** O cristão é
convidado a não perder de vista o exemplo de Cristo. Apesar da tentação, ele
nunca cedeu ao mais fácil, ao mais cômodo, ao mais agradável… Para ele, o
critério fundamental era o plano do Pai; e o
caminho do Pai passava pelo amor radical, pelo dom da vida, pela cruz. No
entanto, ele demonstrou que o caminho da entrega da vida não conduz ao
fracasso, mas à vida plena… É este o quadro que o cristão deve ter sempre
diante dos olhos.
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Sinal de Contradição
O Evangelho de Lucas, que meditamos nesse ano litúrgico,
apresenta caminhada de Jesus para Jerusalém.
É um itinerário espiritual, ao longo do qual Jesus vai
educando seus discípulos e alertando sobre as
consequências no seguimento fiel ao Mestre.
O profeta sempre foi e sempre será um sinal de contradição.
As Leituras ilustram essa verdade.
1. A 1ª Leitura propõe o exemplo
de JEREMIAS, que foi escolhido por Deus para anunciar uma mensagem dura,
contrária à opinião do rei e dos generais do exército. (Jr 38,4-6.8-10)
No ano 587, os Babilônios suspenderam o cerco a Jerusalém para
enfrentar a ameaça do Egito. Os judeus consideram eliminado o perigo. Jeremias,
em nome de Deus, falou o que as autoridades não queriam ouvir:
Era melhor fazer um acordo, para não morrer à espada ou de
fome.
Jeremias foi então perseguido, colocado numa cisterna, onde
deveria morrer de fome.
Mas Deus o libertou das mãos dos seus inimigos.
Os profetas sempre incomodam e são perseguidos.
A 2ª Leitura nos alerta a
permanecermos firmes em todas as provações, para superarmos com galhardia todas
as dificuldades, como os atletas numa competição. (He 12,1-4)
No Evangelho, Jesus está a
caminho de Jerusalém.
É uma viagem teológica e de julgamento, na qual Jesus lança
desafios a quem deseja segui-lo. (Lc
12,49-53)
À medida que caminhamos com ele, purificamos nosso olhar e
direcionamos nossos passos no caminho
certo. Não devemos ter medo das divisões provocadas pela sua palavra.
+ A Palavra de Cristo é sinal de divisão:
Os profetas tinham anunciado que o Reino de Deus como um
tempo de paz, bem-estar, de alegria; um
tempo de fraternidade universal.
Como concordar isso com as palavras de Jesus do evangelho de
hoje?
"Pensais que eu
vim trazer a paz à terra? Não, digo-vos,
mas a divisão".
+ O Anúncio da verdade suscita oposição.
Jesus pede uma opção pessoal consciente, que assume os
riscos, inclusive a rejeição dos familiares, para pertencer à nova família,
cujo laço de unidade não é o sangue, mas o compromisso com a Palavra.
É nesse sentido que Jesus traz divisão.
Ela não é essência do seu projeto e sim consequência.
Jesus que caminha exige opções maduras e consequentes.
É estranho que a fé em Cristo crie inimigos, ponha
obstáculos.
Isso é a realidade, porque o amor e a verdade têm na cruz o
seu preço.
Não há amor verdadeiro que não acarrete sofrimento, não há
verdade que não fira.
O profeta é aquele que anuncia a verdade profunda dos fatos.
Uma vez que a realidade dos fatos é a ação imprevisível de
Deus, que move para a liberdade, suscita ela sempre no homem a dúvida, o medo
do risco, a oposição, pelos quais se manifestam o orgulho e o pecado.
Da verdade nasce a incerteza, porque o homem prefere a
segurança da prudência humana ao abandono à imprevisibilidade de Deus.
+ Escolher Cristo
é angariar inimigos
O cristão, ao se pôr do lado de Cristo, entra, por isso
mesmo, na luta.
Não pode considerar-se nem conservar-se um neutro.
Através história da humanidade transparece a vontade de
comunhão, de esforço, de colaboração do cristão, mas seu plano de libertação
não podem deixar de suscitar dissensões na família, entre os amigos, na
sociedade, impor opções que impedem a tranquilidade de muitos.
Isto é inevitável porque é sobre os valores e os
significados que estão em jogo a luta e a vida, e é sobre esses significados
que se faz a comunhão ou surgem as oposições.
Os homens se dividem em grandes grupos geográfico e sociais,
mas o que os distingue realmente e os opõe
é a concepção que têm do devir humano, o modo de enfrentar
os graves problemas que se impõem a todos: a injustiça, a liberdade, as
prioridades e responsabilidades sociais...
+ O cristão supera a divisão com o amor
gratuito
O cidadão do reino está em paz com quem, como ele, aceita a
própria morte para que o outro viva, entra
em comunhão com quem vive na esperança.
Mas estará separado de quem não busca a verdade, o amor e a
justiça, e experimentará a realidade das palavras de Cristo: "Pensais que vim trazer a paz à terra?
Não, digo-vos, mas a divisão".
Ele, porém, supera a divisão com o amor.
Mesmo que sua palavra e a sua ação criem divisões e
oposições, ele não paga o mal com o mal, mas sabe vencer o mal com o bem.
Retribui o ódio com o amor.
- Que tipo de Igreja somos hoje? Profética como Jesus e
Jeremias?
- Que tipo de cristãos somos nós? De conveniência, de tradição ou conscientes,
consequentes e participantes?
Aos PAIS que testemunham o Bem e a Verdade, a nossa eterna
gratidão!...
Pe.
Antônio Geraldo
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A metáfora do “fogo” é muito usada em qualquer
literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode significar purificação, renovação, amor etc..
Em toda a Bíblia, o fogo é símbolo de Deus:
Na sarça ardente encontrada por Moisés (Ex 3,1-15);
No fogo ou raio da tempestade no Sinai (Ex
19,16-25);
Nos sacrifícios do Templo onde as vitimas passadas
pelo fogo;
Como símbolo do juízo final que purifica todas as
coisas.
Na tradição bíblico-profética, o “fogo” é um
elemento purificador que consome as impurezas.
Na linguagem bíblica e apocalíptica “fogo”
significa também juízo que supõe o fim do mundo e o início do outro.
O fogo é o sinal do julgamento que, como o fogo,
purifica e consome (cf. Lc 17,29-30).
“Eu vim lançar fogo à terra”, disse Jesus.
Em algumas partes dos evangelhos encontramos o uso do termo fogo. Jesus se
compara com aquele que leva em sua mão a pá para limpar a eira e recolher o
trigo e queimar as palhas (Mt 3,12). Jesus fala do joio que jogará no fogo (Mt
13,40). Mas Jesus recusa fazer baixar fogo do céu sobre os samaritanos (Lc
9,54). A Igreja vive do “fogo do Espírito” descido em Pentecostes (At 2,3).
Esse fogo ardia no coração dos peregrinos de Emaús quando escutavam o
Ressuscitado sem conhecê-Lo (Lc 24,32).
Vir
trazer fogo à terra significa que a presença de Jesus tem a força de
purificar o mundo da impureza, do egoísmo, da desigualdade, da
discriminação, da exclusão, da insensibilidade e assim por diante. Através da
purificação dessas impurezas a graça tem seu lugar para brilhar em todo seu
esplendor. Por isso, a divisão imposta por Jesus significa a eliminação da
ilusória convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir a dois
senhores.
O fogo de
Jesus é o mesmo Reino de Deus que traz um elemento destruidor de pecado. É o
fogo que vai queimando as impurezas dos homens, destruindo a arrogância
(altivez) dos soberbos. Não poderá surgir a nova humanidade, se não forem
destruídas as estruturas que oprimem o homem por dentro e por fora. Este fogo
do Espírito destrói e purifica ao mesmo tempo.
Jesus é o
portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido sua missão fundamental consiste em purificar
o homem velho ao destruir o que se encontra pervertido nele. Jesus proclama
uma mensagem que é fogo, que coloca as consciências diante de sua própria
verdade profunda. Consequentemente causa divisão: ou opta pela verdade que
Jesus que significa salvação ou manter-se na falsidade e mentira que tem como
resultado final, a perdição eterna. Jesus acendeu um fogo e nos convida a mantê-lo
aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas inúteis, tanto
organismos estéreis e paralisantes, tantas palavras vazias, tantas falhas
morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é velho em nós para
surgir o novo.
O que
acontece quando esse fogo não fica aceso na Igreja e em cada um em particular?
Quando é que esse fogo não fica aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o
cristianismo não como novidade original que nos renova permanentemente, quando
vivemos sem nos opor às estruturas que criam na humanidade um estado de
injustiça, de fome, da violação dos direitos humanos, de exploração dos
pequenos e assim por diante. Não haverá esse fogo de Jesus quando tudo continua
igual, quando os sacramentos não significam mais que um ato social que não nos
levam para uma vida transformada. Não haverá o fogo de Jesus quando a
instituição religiosa se contenta com repetir mecanicamente gestos ou ritos que
os homens de hoje não entendem nem lhes interessam.
Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste
dia.
A paz é
um dos maiores benefícios que o homem deseja. Os hebreus se saúdam dizendo
“Shalom”. Jesus despede os pecadores e as pecadores com esta frase cheia de
sentido: Vá em paz (Lc 7,50; 8,48; 10,5-9). E seus discípulos desejavam a “paz”
para as casas onde entravam. Trata-se da paz nova que vem transtornar a paz
deste mundo. Mas não é uma paz fácil, pois há que construí-la na dificuldade e
com muito esforço e maturidade espiritual.
Jesus
traz a paz, dá a paz, mas não a qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe
uma opção, uma decisão e com frequência romper com a vida anterior ou com os
laços humanos familiares e sociais que não salvam. Somente acontecerá tudo
isto, se o fogo de Jesus permanecer aceso na nossa vida e no nosso coração. Por
isso, diante de Jesus não se pode ficar neutro.
“Mas
devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!”,
acrescenta Jesus. Jesus vive sua vocação/ missão como uma paixão. Este batismo
do qual Jesus fala é sua própria morte assassinada, consequência do seu amor
incondicional pelos homens, esquecendo-se de si próprio. Quem quiser seguir a
Jesus fielmente, quem quiser viver piedosamente todos os ensinamentos de Jesus
deve estar preparado para ser perseguido até ser morto. Mas trata-se de uma
morte que termina na glorificação da vida em Deus.
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Para A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (DIÁCONOS E MINISTROS DA PALAVRA):
LOUVOR SÁLMICO –
O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS.
DEMOS GRAÇAS AO SENHOR NOSSO DEUS.
POR JESUS, COM JESUS E EM JESUS, NO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS
AO PAI:
T: Bendito sejais, Senhor nosso
Deus!
à Ó Deus, nosso Pai, abençoado seja o vosso Nome, sois eterno e
único. Sois poderoso e repleto de amor. Sois nosso Deus e somos vosso povo.
Vosso Reino é glorioso para sempre.
T: Bendito sejais, Senhor nosso
Deus!
à Seja louvado e santificado o Vosso nome, pois sois o Senhor no
mundo criado segundo Vossa vontade. Pai, fazei que acolhamos nossos
compromissos do batismo e vivamos como cidadãos do alto na construção de Vosso
Reino.
T:
Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
à Senhor, Que vosso nome Seja bendito, louvado, honrado,
engrandecido e glorificado.
ó Eterno, ó Deus santo!
T: Bendito sejais, Senhor nosso
Deus!
à Pai, sede a nossa força e nossa defesa. Quando nos desviarmos
do caminho correto,
dai-nos o arrependimento para que vejamos
os valores do vosso Reino.
T: Bendito sejais, Senhor
nosso Deus!
// PAI NOSSO... A Paz...
Eis o Cordeiro...
-- Jesus é
amor, é perdão, é misericórdia; é Paz.
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