quinta-feira, 12 de março de 2020

3º DOMINGO DA QUARESMA ANO A, homilias, subsídios homiléticos


3º DOMINGO DA QUARESMA ANO A 2020 (Diácono Ismael)

PRIMEIRA LEITURA (Ex 17, 3-7) Naqueles dias, o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés. O Senhor disse a Moisés: “Toma a tua vara. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber”. Moisés deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, porque tentaram o Senhor, dizendo: “O Senhor está no meio de nós, ou não?”.
AMBIENTE - Uma catequese. A questão é a sobrevivência no deserto do Sinai; mas o importante é que Israel viu no fato um sinal da presença e do amor do Deus libertador.
MENSAGEM - Jahwéh manifestou, de mil formas, o seu amor por Israel… (passagem do mar, água amarga em água doce, maná e codornizes). Diante das dificuldades, o Povo esquece tudo o que Jahwéh já fez e entra em contenda com Moisés e Acusam Deus de ter um projeto de morte. Deus responde mais uma vez com a água da vida.
ATUALIZAÇÃO
• A caminhada dos hebreus espelha nossa caminhada. Deus nunca nos abandona.
• À medida que acolhemos a Deus, tornando-nos um Povo mais responsável, mais consciente e mais santo.
• As dificuldades não são um castigo; são pedagogia de Deus para irmos mais além E crescer.

SALMO RESPONSORIAL / Sl 94 (95)
Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!
• Vinde, exultemos de alegria no Senhor; / aclamemos o Rochedo que nos salva! /
Ao seu encontro caminhemos com louvores / e com cantos de alegria o celebremos!
• Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra / e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! /
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, / e nós somos o seu povo e seu rebanho, /
as ovelhas que conduz com sua mão.
• Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / “Não fecheis os corações como em Meriba, /
como em Massa, no deserto, aquele dia, / em que outrora vossos pais me provocaram, /
apesar de terem visto as minhas obras”.

EVANGELHO (Jo 4,5-42) Jesus sentou-se junto ao poço ao meio-dia. Chegou a mulher da Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”. Os discípulos tinham ido comprar alimentos. A samaritana disse: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim?” Respondeu-lhe Jesus: “Se tu conhecesses quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede”. A mulher disse: “Senhor, dá-me dessa água”. Disse-lhe Jesus: “Vai chamar teu marido”. A mulher respondeu: “Eu não tenho marido”. Jesus disse: “não tens marido, pois tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é o teu marido. A mulher disse a Jesus: “Senhor, vejo que sois um profeta! Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. Disse-lhe Jesus: “Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”. A mulher disse a Jesus: “Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar”. Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que estou falando contigo”. Então a mulher deixou o seu cântaro e foi à cidade, dizendo ao povo: “Vinde ver um homem. Será que ele não é o Cristo?” O povo foi ao encontro de Jesus. Enquanto isso, os discípulos insistiam com Jesus: “Mestre, come”. Disse-lhes Jesus: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Muitos samaritanos abraçaram a fé em Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. E muitos outros creram por causa da sua palavra.
AMBIENTE - A Samaria era de religião sincretista. A divisão começou em 721 a.C., quando foi tomada pelos assírios. Após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos para reconstruir o Templo de Jerusalém (437 a.C.). No ano 333 a.C., os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim, que foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Mais tarde, por volta do ano 6 d.C., os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém espalhando ossos humanos nos átrios.
MENSAGEM - A mulher (sem nome) representa a Samaria, que procura a água de vida plena. O “poço” representa a Lei. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta: eles podem “matar a sede” por curtos instantes; voltará a ter sede. Jesus senta-se “junto do poço”, ocupa o seu lugar; e propõe uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna. Jesus é o “novo poço”, onde todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede. A mulher fica confusa. (“nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar”)?  Jesus nega que se trate do Templo de pedra de Jerusalém ou do Templo do monte Garizim que Deus está… O que se trata é de acolher a novidade do próprio Jesus, aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida (isto é, aceitar o Espírito). A mulher/Samaria responde abandonando o cântaro (agora inútil), e corre a anunciar o desafio que Jesus lhe faz. Jesus é reconhecido como “o salvador do mundo” – isto é, como Aquele que dá ao homem a vida plena e definitiva.
ATUALIZAÇÃO • Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem.
• O “cântaro”, abandonado representa tudo que nos dá acesso limitado de felicidade. O abandono do “cântaro” significa o romper com todos os esquemas de felicidade egoísta.
• A samaritana, depois de encontrar o “salvador do mundo”, partiu propondo a verdade que tinha encontrado.
# Cada um de nós tem o seu poço. S. Agostinho diz: “O meu coração só terá sossego quando repousar em Deus.
# Sem a água viva, a vida está ameaçada. A mulher precisava de água de verdade e Ele era a fonte.
# Jesus manda comprar alimentos para que seus discípulos também rompam a barreira do ódio.
# Aquele que pedia água fria estava oferecendo água viva, a saber, a Si mesmo.
# Um judeu preferia morrer de sede a tomar água da mão de um samaritano, muito menos de uma mulher samaritana, sobretudo pecadora. Haja vista a surpresa dos discípulos (v27).
# Os cinco maridos evocam os cinco ídolos dos samaritanos (2 Rs 17,29-30). O sexto a que Jesus alude, talvez seja João Batista. O Quarto Evangelho sugere que o sétimo é o próprio Jesus, o messias.
# A samaritana largou o balde. Já não precisava da água do poço de Jacó, da antiga Lei. Ela havia encontrado a fonte da água que brotava dentro dela para a vida eterna (Jo 4,14). 

SEGUNDA LEITURA (Rm 5,1-2.5-8) Irmãos, o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos pecadores.
AMBIENTE - Estamos no ano 58. Paulo diz que o Evangelho deve unir todo o crente, sem distinção de judeu, grego
MENSAGEM - Paulo parte da idéia de que todos foram justificados pela fé. Ora, se Jahwéh se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo significa que a bondade, a misericórdia e o amor próprios do ser de Deus se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Ao homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue nas mãos de Deus. Este homem, objeto da graça de Deus, é uma nova criatura que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo.
Em primeiro lugar, a paz. Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranqüilidade, serenidade), nem em sentido político (ausência de guerra), mas no sentido teológico, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.
Em segundo, a esperança, que nos permite superar as dificuldades da caminhada. Trata-se de encontrar um sentido novo para a vida presente, na certeza de que as forças da morte não terão a última palavra.
Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem. Paulo garante-nos hoje: Deus nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado, em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água que mata a nossa sede de vida e de felicidade (a paz, a esperança, o seu amor).
ATUALIZAÇÃO • Deus nunca desistiu dos homens e caminha conosco com novas propostas.
• A vinda de Jesus Cristo é a expressão plena do amor de Deus, a fim de nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
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OBS. Fazer a ligação entre os temas:
1º domingo da quaresma: Adão e Eva escolhem o projeto pessoal e pecam; morte.     Jesus é tentado e escolhe o projeto do pai; vida = novo Adão.
2º domingo: Deus chama Abraão a constituir novo povo = ele obedece e este povo será luz para as nações. Jesus no monte Tabor é transfigurado = é Filho de Deus enviado: ouvi-o; Ele é a verdade.
3º domingo: O povo libertado se revolta no deserto; Deus acompanha o povo e faz a água sair da rocha. Jesus e a Samaritana: Ele é a fonte da vida, é a água viva; Deus tem sede e quer saciar a todos; Ele é a Vida..
4º domingo - Jesus é a Luz, na cura do cego; Ele é o caminho.
5º domingo - Jesus é a Vida, na ressurreição de Lázaro; Ele é o Deus libertador;

Jesus é a agua viva que sacia a sede do Ser humano. Todos têm sede. Porém, em que poço se busca a água?
Muitos são os poços que o mundo oferece: o poço do materialismo exacerbado, do consumismo, do prazer etc.
Mas esses poços oferecem uma água que torna o ser Humano cada vez mais sedento. Leva-o Ao profundo vazio e, às vezes, a certas enfermidades interiores.
Eles são incapazes de saciar o coração humano. Jesus nos oferece A verdadeira água, que sacia nossa sede, que preenche nossos vazios, Que cura nossas enfermidades e nos tornam “fonte de água que jorra para a vida eterna”.
Aquele que bebe dessa água faz o mesmo que a samaritana, abandona o Cântaro e vai.... Leva Jesus ao povo e o povo a Jesus
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RITO PARA BÊNÇÃO E ASPERSÃO DA ÁGUA
(Sugestão de substituição do Ato Penitencial. Missal p. 1001).

Presidente: Invoquemos o Senhor nosso Deus, para que se digne abençoar esta água que vai ser aspergida sobre nós, recordando o nosso batismo. Que ele se digne ajudar-nos, para permanecermos fiéis ao Espírito que recebemos.

(E, após um momento de silêncio, continua)
Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que pela água, fonte de vida e princípio de purificação, a humanidade fosse purificada e recebesse o prêmio da vida eterna. Abençoai + esta água, para que nos proteja neste dia que vos é consagrado, e renovai em nós a fonte viva de vossa graça, a fim de que nos livre de todos os males e possamos nos aproximar de vós com o coração puro e receber a vossa salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
T. Amém.

(Enquanto o povo é aspergido canta-se: Cd da CF )

Pres. Que Deus todo-poderoso nos purifique dos nossos pecados e, pela celebração desta Eucaristia, nos torne dignos da mesa de seu reino.
T. Amém.

4. ORAÇÃO
S. Oremos: (pausa) Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédios contra o pecado. Acolhei esta confissão de nossa fraqueza, para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. P.N.S.J.C.
T. Amém.

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"Dá-me de beber"

A Quaresma, na Igreja primitiva, além de ser um tempo de penitência e de conversão, era um tempo de preparação para os batizados, que aconteciam no sábado santo, na Vigília Pascal.
Por isso, nesses três domingos, que antecedem a semana santa, aparece o tema batismal com os símbolos:
- da Água, no diálogo com a Samaritana,
- da Luz, na cura do cego;
- da Vida, na ressurreição de Lázaro.
Hoje nos apresenta o símbolo mais importante, a ÁGUA, que exprime o milagre renovado da VIDA.

Na 1a Leitura, o povo pede ÁGUA (Ex 17,3-7)

No deserto, o povo reclama revoltado contra Moisés, pedindo água, para manter-se vivo: "Dá-nos água para beber..." E Deus intervém, fazendo brotar milagrosamente água da rocha de Horeb.
* Moisés dá de beber a seu povo. É imagem de Cristo, que no futuro dará a água da vida, que é o Espírito Santo.

Na 2ª Leitura, São Paulo reafirma que Deus derrama sempre seu Amor em nossos corações, como aconteceu com a Samaritana. (Rm 5,1-2.5-8)

No Evangelho, Jesus pede e oferece ÁGUA à Samaritana. (Jo 4,5-42)
- Jesus cansado... sedento... senta-se ao lado do poço de Jacó...
  Uma mulher anônima... balde vazio... coração vazio... busca água...
- JESUS quebra preconceitos de raça, de sexo, de religião...    e toma a iniciativa: "Dá-me de beber".
- A Mulher estranha... (os apóstolos também): falar com samaritana e mulher...
- Do diálogo nasce a mútua compreensão.
  A mulher descobre em si mesma uma sede mais profunda de amor, pois apesar dos 5 maridos que já tivera, vivia um grande vazio...   E Jesus se revela como água viva, capaz de saciar qualquer sede humana...
- Inicialmente ela fica confusa... no final ela pede "dessa água". Reconhece Jesus como "Salvador do Mundo",
  O Templo onde Deus "deve ser adorado em espírito e verdade".
  Abandona o "Velho balde" e corre para a cidade, para anunciar ao povo a verdade que tinha encontrado.
+ O Caminho da Samaritana:
   Esse Diálogo mostra a grande pedagogia de Jesus, que se revela aos poucos, até chegar à manifestação plena.
   - No começo, a mulher só pensa na água material (seus desejos, os maridos...)
   - Aos poucos começa a compreender e aceitar a proposta de Jesus:
      Inicialmente, ela vê nele apenas um judeu viajante; depois, o chama de "Senhor"; em seguida, reconhece que é um Profeta; No final, descobre nele o Messias esperado pelo povo.
   - Abandona então o balde que dá acesso às suas propostas limitadas de felicidade, e corre até a cidade para anunciar a sua descoberta.
     Essa mulher desprezada, após escutá-lo como DISCÍPULA, torna-se MISSIONÁRIA de Cristo, antes mesmo dos apóstolos...
+ A água do poço é símbolo de todas as satisfações humanas, na esperança de encontrar nelas a nossa felicidade, mas que no fim deixam sempre muito vazio e muitas desilusões...
= Essa água não satisfaz plenamente, todos os dias precisamos voltar ao poço...

+ A água de Jesus é o espírito de Deus, o amor que enche os corações. 
   Só Cristo mata definitivamente a sede de vida e felicidade do homem.
   Essa água nos faz pensar também no BATISMO, que foi o nosso primeiro encontro com Jesus.

+ O nosso caminho...
- No passado, o POÇO sempre foi um lugar de ENCONTRO.
- Os homens continuam ainda hoje procurando um Poço, para saciar sua sede profunda de vida. Buscam cada vez mais "coisas" para saciá-la e nada os satisfaz.
 - Cristo continua vindo ao nosso encontro. Senta perto do nosso poço e nos diz: "Quem tiver sede... venha a mim... e beba..."

- Antes de nos encontrar com Cristo, também nós estávamos preocupados com nossos problemas, desejos, ambições, e o nosso coração estava sempre repleto de tristeza e insatisfação.  Precisávamos todos os dias voltar ao poço e encher o nosso balde...

- Um belo dia, o encontro com Cristo aconteceu...
  A conversa com esse "Jesus" despertou em nós uma curiosidade, que nos levou a conhecer melhor a pessoa de Cristo e sua mensagem.

- No final da caminhada, encontramos essa água viva, prometida por Jesus.
  Abandonamos então o "velho Balde" e sentimos a necessidade de correr para anunciar a todos, como Missionários, a nossa descoberta e a nossa felicidade... 

Façamos nosso o pedido da Samaritana: "Senhor, dá-nos sempre dessa água!"
                                              Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Françoá Costa

Sede de Deus

“O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Deus está apaixonado pelo ser humano, tem sede do pobre amor dos nossos corações. Nós pedimos de beber a alguém que afirma claramente que tem sede. Essa sede de Deus por cada pessoa humana ficou claramente expressada naquele grito que somente o evangelista João conservou no Evangelho: “Tenho sede” (Jo 19,28).  Deus tem sede de que nós tenhamos sede do seu Espírito, da sua vida, da sua graça, da sua glória. Ele tem água abundante, mas tem sede de que nós a bebamos.
“Dá-me de beber” (Jo 4,7) é a expressão daquilo que todo ser humano tem: sede de Deus, que pode ser saciada: aqui pela graça e no céu pela glória. André Frossard no famoso relato da sua conversão, “Deus existe. Eu encontrei-o”, terminava com essas palavras: “l’éternité sera courte” – a eternidade será curta. Trata-se de uma maneira poética de afirmar que diante da grandeza de Deus, a mesma eternidade –um presente sem começo nem fim– será “curta” para deliciar-nos com a presença do Senhor.
Essa sede de viver conforme aquilo que Deus pensou para nós, de apetecer aquilo que constrói realmente uma existência cheia de sentido, de contemplar todas as coisas com a visão purificada e descobrir o esplendor de cada criatura, é uma sede existencial, é uma insatisfação da alma que não encontra sentido fora de Deus. Santo Tomás de Aquino fez uma análise cientificamente rigorosa sobre a felicidade do ser humano (cfr. S.Th. II-II, q. 2–5), na qual começava por estudar o fato de que a felicidade não pode consistir nas riquezas, nem na honra, na fama ou na glória; tampouco consiste no poder, no bem do corpo, no prazer, nalgum bem da alma ou num bem criado qualquer. Talvez, na sociedade atual, vale a pena enfatizar que a felicidade não consiste nas riquezas nem nos prazeres. Penso somente nessas duas questões porque, infelizmente, os nossos tempos não se destacam pelo cultivo das coisas do espírito e, por tanto, a honra, a glória, os bens da alma e o conhecimento das dimensões mais profundas dos elementos criados geralmente importam pouco.
Como poderia consistir a felicidade do homem nas riquezas, naturais ou artificiais, se estas são sempre finitas? A uma riqueza sempre se pode acrescentar outra. Como se pode ver, podemos passar a vida acumulando riquezas sem saciar-nos. Por outro lado, como poderia consistir a felicidade do ser humano nos prazeres se esses são apenas um principio de conhecimento? “O apetite veemente pelo deleite sensível deve-se ao fato de que as operações dos sentidos são mais perceptíveis, porque são princípios do nosso conhecimento. É por isso que a maioria deseja os deleites sensíveis” (Santo Tomás de Aquino). Logicamente, o prazer, quando surge de um bem real, é bom. Sem dúvida, é bom e agradável a Deus o prazer que os membros de uma família experimentam numa deliciosa comida dominical num ambiente festivo e moderado pela virtude; é bom e agradável a Deus o prazer que o homem e a mulher, unidos por santo matrimônio, sentem ao gerar os filhos; é bom e muito agradável a Deus o prazer que podemos sentir ao cumprir os nossos deveres de estado. Não obstante, o prazer, quando procede dos desejos desordenados, pode absorver de tal maneira as faculdades superiores, inteligência e vontade, que poderia cegar-nos. Os prazeres desordenados poderiam levar ao desprezo da virtude, inclusive poderia levar ao pior pecado que dar-se pode: o ódio a Deus. Neste caso, Deus seria odiado porque apareceria aos olhos do pecador como inimigo da sua vida desordenada de prazeres.
A leitura atenta descobre facilmente a importância da água para S. João. É somente nesse Evangelho que nós lemos o relato das bodas de Caná, onde Jesus transforma a água em vinho (cfr. Jo 2,1-12); no capítulo seguinte encontramos aquela afirmação que sempre nos comove: “quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5); depois a passagem, que acabamos de escutar, que nos relata o encontro de Jesus com a Samaritana (cfr. Jo 4,1-42); era pelo movimento da água que os enfermos eram curados na piscina de Betesda (cfr. Jo 5,1-18). De fato, o Catecismo da Igreja Católica afirma que o simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo, que brota do lado aberto de Cristo crucificado (cfr. Cat 694).
É no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz, os nossos prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança. Distanciar-nos daí é sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é viver uma vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da vida humana, não ser feliz. –
Pe. Françoá Costa

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Homilia de D. Henrique Soares da Costa
A Quaresma é tempo de caminho para a santa Páscoa, Páscoa de Cristo e nossa. Ora, é pelo Batismo e a Eucaristia que entramos misteriosamente na Páscoa do Senhor, no seu mistério de morte e ressurreição. Por isso celebramos a Noite Santa de Páscoa com o Batismo e a Eucaristia! Pois bem, o Evangelho de hoje é uma belíssima catequese batismal!
Acompanhemos passo a passo este texto belíssimo. “Chegou uma mulher da Samaria para buscar água”. Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos, procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo”. Consumismo, sexo, liberdade desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites, facilidades… nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca a mulher:“Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. Frase estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida eterna. Em Jo 7,37, Jesus convidou: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim”. E o Evangelista recorda que do seio do Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jo 7,38). E quem é que pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!
Diante disso, a Samaritana – e nós também – suplica: “Senhor, dá-me dessa água!” Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como aquele outro pedido: “Senhor, dá-nos deste pão” (Jo 6,34). Eis o Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco, fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a verdade: “Vai chamar teu marido!” A mulher era adúltera, com vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela que os pagãos adoram o que não conhecem, porque “a salvação vem dos judeus!” Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus, porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: “Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade” e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!
Finalmente, o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: “Tenho um alimento que não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana… e ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: “Levantai os olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia, outro o que colhe!” O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.
Que dizer mais? Somos a colheita de Cristo! “Estamos em paz com Deus por Jesus Cristo”. Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já experimentamos em nós a vida eterna, pois “o amor de Deus foi derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” E tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai, que é o alimento de Jesus!
Eis! Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus, aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento, procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito, que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a Páscoa da glória! Amém.

D. Henrique Soares da Costa
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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
 Os evangelhos dos dois primeiros domingos da Quaresma, nos três anos, estão sempre centrados em Cristo tentado e transfigurado; os outros três domingos preparam mais diretamente para o batismo ou à renovação das promessas na noite da Páscoa” (Cristo, festa da Igreja, pág. 268). Como estamos no ano A, cujo itinerário quaresmal sublinha mais o aspecto batismal, a começar deste III Domingo as perícopes evangélicas são eminentemente catequeses batismais (Samaritana, Cego de nascença, Ressurreição de Lázaro). É uma verdadeira síntese do significado do batismo como vida nova que brota do mergulho na morte e ressurreição de Cristo, que é a água viva, a luz do mundo, e a ressurreição e a vida.
Apesar de a liturgia deste domingo destacar especificamente o encontro-diálogo de Jesus com a Samaritana, não podemos esquecer que na introdução do capítulo (4,1-2) aparece claramente o tema do batismo. Diante da riqueza inesgotável do texto, destacaremos apenas alguns dos seus elementos considerando a sua perspectiva de catequese batismal:
1. Batismo é dom gratuito: Jesus, chegando primeiro ao poço de Jacó, aguarda a mulher que vem pegar água; Ele toma a iniciativa de lhe oferecer uma água superior àquela que ela pretende tirar. Apesar de ser a fonte de água viva, Jesus se coloca diante da Samaritana como um sedento: “Dá-me de beber”. Apresentar-se diante do outro, sobretudo quando há inimizade, na cultura do Antigo Oriente, era manifestar o seu desejo de reatar as relações, estabelecer a paz. Ademais, a sede de Jesus se revelará como desejo ardente de saciar a sede da mulher, de dar-lhe vida plena, que começa com a iluminação da sua história nem sempre exemplar, mas que será necessário reconhecer e assumir a fim de curar as feridas do seu coração preconceituoso e seus sentimentos de inferioridade: “Como tu judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher Samaritana?” Pregado na cruz, Jesus mais uma vez confirma qual é, de fato, a sua sede (Jo 19,28). À samaritana Ele promete a água viva, na cruz Ele realiza essa promessa entregando o seu Espírito e do seu coração traspassado fazendo brotar água e sangue, símbolos do Batismo e da Eucaristia, os sacramentos que consolidam a missão e a identidade da Igreja, a sua esposa, a nova Eva, tirada do seu lado aberto, anunciada simbolicamente no encontro com a mulher Samaritana, chamada à fidelidade da Nova Aliança, firmada em espírito e em verdade.
2. Batismo é vida nova: ao prometer a água viva, Jesus desafia a Samaritana a ter uma vida nova. E, portanto, não haverá mais necessidade de voltar ao poço, não viverá mais como uma infiel, pois teve cinco maridos, e o atual não era dela, não precisará mais de um cântaro para transportar água, pois nela se fará uma fonte de água jorrando para a vida eterna. Todo ser humano sedento de plenitude de vida, ao receber o dom do batismo, inicia um caminho conduzido pela palavra de Jesus e pela graça do Espírito Santo, a fim de que a vida nova recebida como dom não pereça. Contudo, deve abandonar os ídolos (maridos) para realizar os esponsais com o único Senhor, aquele que é o Senhor da vida. A vida nova recebida no batismo progride à medida que se cresce no conhecimento da pessoa de Jesus, pois essa vida nova significa configurar-se a Ele. Assim como a Samaritana foi amadurecendo na fé, partindo do reconhecimento preconceituoso de Jesus (tu, Judeu), passando por um processo de conversão, isto é, abertura de coração e mudança de atitudes, deixando-se orientar e corrigir (profeta) até a profissão de fé mais perfeita (Cristo), todo batizado, e não apenas os catecúmenos, precisa assumir na sua vida um permanente aprofundamento da pessoa de Jesus, crescendo nas convicções de segui-lo e de testemunhar a sua fé nele. Por isso, rezamos no primeiro Domingo da Quaresma: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”.
3. Batismo é fundamento da missão: Na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (n. 9), o Papa Francisco nos recorda: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: «O amor de Cristo nos absorve completamente» (2 Cor 5,14); «ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9,16). Sem dúvida, esta foi a experiência da Samaritana e, portanto, deve ser a de todo batizado. A missão não é algo artificial que procura estratégias para impor aos outros ideias ou pensamentos pessoais ou de um grupo, mas é, antes de tudo, testemunho convicto: “Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava: ‘Ele me disse tudo o que eu fiz”.
O percurso quaresmal reaviva em nós esta dinâmica própria do batismo, graça que nos é oferecida gratuitamente no sacramento e que compartilhamos gratuitamente na missão.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou Ministros extraordinários da Palavra):

Louvor: (Quando o Pão consagrado estiver sobre o altar)
-  o senhor esteja com todos vocês... demos graças ao senhor...com jesus, por jesus e em jesus, na força do E. santo, louvemos ao Pai
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Pai, Nós vos bendizemos porque habitais no meio de nós. Tirastes o povo escravo no Egito e por meio de Moisés fizestes jorrar água do rochedo. Nós vos pedimos: dái-nos mais confiança na vossa presença em nosso meio de nós.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Nós vos damos graças por Jesus, vosso Filho, que aceitou morrer por nós e pelo Espírito Santo que nos foi derramado em nosso batismo. Nós vos pedimos por todos que atravessam períodos de dúvida, por causa das provações e sofrimentos. Pai, olhai por eles dando força e coragem para fiquem cheios de vossa graça.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Bendito sejais, Senhor, porque nos revelais a água viva da presença de vosso Filho e do Espírito Santo no meio de nós. Fortificados pela graça do batismo, aumentai a nossa fé e fazei que sempre tenhamos sede de vos conhecer e amar.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Pai Nosso...  A Paz de cristo...  eis o cordeiro...


quarta-feira, 4 de março de 2020

2º DOMINGO DA QUARESMA ANO A, homilias, subsídios homiléticos


2º DOMINGO DA QUARESMA ANO A 2020 (Diácono Ismael)

SINOPSE:
PRIMEIRA LEITURA (Gn 12,1-4a) ...o Senhor disse a Abrão: “Sai da tua terra, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo. E Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito.
AMBIENTE - Texto das tradições patriarcais durante o 2º milênio A.C. e reflexões teológicas posteriores destinadas a apresentar modelos de vida e de fé.
MENSAGEM – A humanidade que escolheu o pecado; agora, o autor vai apresentar um novo ponto de partida: Para isso, Deus chamou Abraão a deixar a sua terra e ele pôs-se a caminho, confiando na Palavra de Deus. O Povo nascido de Abraão será uma fonte de bênção para todas as nações: Israel será testemunha da salvação a todos os povos. Não é um privilégio concedido a Israel, mas uma responsabilidade.

ATUALIZAÇÃO Abraão é o homem que encontra Deus, que está atento aos seus sinais e responde aos desafios com uma obediência total.
Abraão questiona o homem comodista, que prefere apostar na segurança do que já tem, em vez de arriscar na novidade de Deus.
Deus tem um projeto para os homens e continua a vir ao seu encontro com novas propostas.

SALMO RESPONSORIAL / Sl 32 (33)
Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, venha a vossa salvação!
• Pois reta é a palavra do Senhor, / e tudo o que ele faz merece fé. / Deus ama o direito e a justiça, / transborda em toda a terra a sua graça.
• Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem / e que confiam esperando em seu amor, / para da morte libertar as suas vidas / e alimentá-los quando é tempo de penúria.
• No Senhor, nós esperamos confiantes, / porque Ele é nosso auxílio e proteção! / Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça / da mesma forma que em vós nós esperamos!

EVANGELHO (Mt 17,1-9) Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Então Pedro disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” Quando ouviram isto, os discípulos ficaram assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.

AMBIENTE - É uma catequese sobre Jesus. Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz”, os discípulos estão desanimados, pois parece um fracasso. É neste contexto que Mateus coloca a transfiguração. A cena constitui uma palavra de ânimo para os discípulos, pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é o Filho amado de Deus. O projeto que Jesus apresenta é um projeto que vem de Deus; e recebem esperança que lhes permite apostar nesse projeto.
A transfiguração é uma teofania – uma manifestação de Deus. O autor coloca todos os ingredientes que acompanham as manifestações de Deus (nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isto quer dizer: não estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz um projeto de Deus.

MENSAGEM - Esta catequese está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento: é sempre num monte que Deus Se revela; e, faz uma aliança com o seu Povo. A mudança do rosto e as vestes recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai. A nuvem indica a presença de Deus quando conduzia o seu Povo através do deserto. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas. Além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva.
O temor e a perturbação são a reação de qualquer homem diante da majestade de Deus.
As tendas parecem aludir à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.
A mensagem deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus e também o Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias): ele é um novo Moisés através de quem o próprio Deus dá a nova lei e uma nova aliança.
Da ação libertadora de Jesus irá nascer um novo Povo de Deus. Com esse novo Povo, Deus vai fazer uma nova aliança; e vai conduzi-lo através do “deserto” que leva da escravidão à liberdade.
Esta apresentação tem como destinatários os discípulos de Jesus (grupo frustrado porque no horizonte está a cruz e porque o mestre exige que aceitem caminho semelhante).  Ela aponta para a ressurreição, aqui anunciada pela glória de Deus que se manifesta em Jesus, pelas vestes resplandecentes (que lembram as vestes dos anjos – e pelas palavras finais de Jesus (“não conteis a ninguém”): diz-lhes que a cruz não será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus (e dos discípulos) está a ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.
Pedro quer construir três tendas. Os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus. Jesus nem responde à proposta: Ele sabe que o projeto de Deus tem de passar pelo amor até às últimas consequências.

ATUALIZAÇÃO A transfiguração revela Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e libertador. Pela transfiguração, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada – mesmo na cruz.
A transfiguração grita-nos: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à felicidade sem fim.
Os três discípulos parecem não ter vontade de “descer” e enfrentar o mundo e os problemas. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alheios a realidade do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. Jesus obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar com o dom da vida; A religião é um compromisso com Deus, que se faz amor com o mundo.
Com a TRANSFIGURAÇÃO, Mateus quer duas coisas: - Revelar: QUEM É JESUS: É "o Filho amado do Pai" e - Convidar: "Escutem o que ele diz".

SEGUNDA LEITURA (2Tm 1,8b-10) Paulo a Timóteo. Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus. Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho.

AMBIENTE - Timóteo recebeu a “imposição das mãos” para anunciar o Evangelho. Estão começando as grandes perseguições; muitos estão desanimados e vacilam na fé. É preciso que mantenham o ânimo e ajudem as comunidades.

MENSAGEM - Mesmo no meio das perseguições e dificuldades, todos não podem desistir da missão que Deus lhes confiou… Têm de ser testemunhas vivas, entusiastas e corajosas do projeto amoroso de Deus.

ATUALIZAÇÃO Nós somos as testemunhas vivas de Deus e do seu projeto para o mundo. O comodismo não pode distrair-nos dessa responsabilidade. Temos a missão de animar e orientar a comunidade – sinais vivos de Deus, do seu amor, da sua bondade e ternura, da sua preocupação com os homens.
As dificuldades não podem ser uma desculpa para fugirmos das nossas responsabilidades e de levarmos a sério a vocação a que Deus nos chama.
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No Domingo passado, meditamos sobre as tentações de Jesus. Jesus deseja preparar o seus para as dores da paixão. Pedro, Tiago e João, o três que estão no Tabor são os mesmos que estarão no Jardim das Oliveiras. Também somos chamados, como Abraão, a sair: sair de nós mesmos, transfigurados à imagem do Cristo Jesus! Tenhamos a coragem de atravessar o deserto interior, enfrentar o deserto do nosso coração! Somente assim chegaremos ao nosso destino. Paulo diz: “Sofre comigo pelo Evangelho. Deus nos salvou e nos chamou a uma vocação santa… Nunca esqueçamos: este mundo mergulhado na violência (violência da injustiça, violência do desrespeito à dignidade humana, violência da fome, violência dos atentados à paz, violência das drogas e das mentiras, violência dos meios de comunicação, violência da negação de Deus)… este mundo precisa de nosso testemunho e de nossa palavra, mesmo quando nos rejeita, quando despreza o nome de Cristo, quando deseja esquecer o seu Senhor e pisar os valores do Evangelho!
Deixemo-nos, portanto, transfigurar pelo Senhor e sejamos luz para o mundo!
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  Do Tabor ao Calvário

A Vida cristã pode ser comparada a uma caminhada que deve ser percorrida na escuta atenta de Deus, na observância total aos seus planos.

Na 1a Leitura, vemos a Caminhada de Abraão: (Gen 12,1-4)
- Deus chama Abraão, convida-o a deixar a terra e a família e a partir ao encontro de uma outra terra, para ser um sinal de Deus no meio dos homens.
- Deus lhe oferece a sua bênção e a promessa de uma família numerosa, que será testemunha da Salvação de Deus diante de todos os povos.
- Diante do desafio de Deus, Abraão pôs-se a caminho.
  Abraão percebe o projeto de Deus e o segue de todo o coração.

Na 2ª leitura, Paulo exorta Timóteo a superar a sua timidez e a ser um modelo de fidelidade no testemunho da fé. (2Tm 1,8b-10)

No Evangelho, vemos a Caminhada de Jesus:  (Mt 17,1-9)

A caminho de Jerusalém, Jesus faz o primeiro anúncio da Paixão.
O caminho da salvação esperado pelos discípulos é bem diferente.
Por isso, ficam profundamente desanimados e frustrados.
A aventura parece encaminhar-se para um grande fracasso.
- Para fortalecer o ânimo profundamente abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, e revela-lhes no Monte Tabor a glória da divindade.
Após um momento de medo, eles reencontram a paz e a alegria.

Com a TRANSFIGURAÇÃO, Mateus quer duas coisas:
- Revelar: QUEM É JESUS: É "o Filho amado do Pai" e
- Convidar: "Escutem o que ele diz".

* Pela Transfiguração, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada, mesmo quando termina na cruz.
A vida plena e definitiva espera, no final do caminho, todos os que forem capazes de pôr sua vida a serviço dos irmãos, como Jesus.

A Nossa caminhada para Deus:
Também nós somos chamados a uma caminhada, que começa com o BATISMO.
No final dessa viagem, seremos envolvidos pela mesma "nuvem luminosa", que envolveu o Mestre e brilharemos como o sol no reino do Pai.
O Papa enviou uma linda Mensagem Quaresmal, que vou tentar resumir. Inicia com as palavras de Paulo (Cl 2,12):
"Sepultados com ele no BATISMO, foi também com ele que ressuscitastes".

 A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito precioso e importante... para intensificar o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do mistério da Redenção a Vida nova em Cristo Senhor.
Essa vida já nos foi transmitida no dia do nosso Batismo, quando iniciou para nós a aventura jubilosa do discípulo.
Um vínculo particular liga o Batismo com a Quaresma, como momento favorável para experimentar a Graça que salva.
A Igreja associa sempre a Vigília Pascal à celebração do Batismo.
Os textos evangélicos da Quaresma nos guiam para um encontro intenso com o Senhor, fazendo percorrer as etapas do caminho da Iniciação cristã.

- O Primeiro domingo evidencia a nossa condição de homens nesta terra.
O combate vitorioso contra as Tentações é um convite a tomar consciência da própria fragilidade, para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo.
- A Transfiguração do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos a um alto Monte para acolher de novo em Cristo, como filhos do Filho, o dom da Graça de Deus: "Este é o meu Filho amado: Escutai-o".
- O pedido de Jesus à Samaritana "Dá-me de beber" exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar em nosso coração o desejo dessa água que jorra para a vida eterna. É o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos verdadeiros "adoradores do Pai, em espírito e verdade..."
- A Cura do Cego de Nascença apresenta Cristo como Luz do Mundo.
O Evangelho nos interpela: "Tu crês no Filho do Homem?" "Creio, Senhor", afirmou com alegria o cego... fazendo-se voz de todos os crentes.
- No 5º domingo, a Ressurreição de Lázaro nos põe diante do último mistério da nossa existência: "Eu sou a ressurreição e a Vida... crês tu isto?"
A resposta de Marta deve ser a nossa: "Sim, eu creio que tu és o Filho de Deus".

Na grande Vigília Pascal, renovamos as promessas batismais e reafirmamos que Cristo é o Senhor de nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou no Batismo e reconfirmamos...

Mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do Jejum, da Esmola e da Oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Batismo.
Renovemos nessa Páscoa o acolhimento da graça, que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas ações.
                                      Pe. Antônio Geraldo

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Homilia de D. Henrique Soares da Costa
No Domingo passado, primeiro da Quaresma, meditamos sobre as tentações de Jesus. O Senhor no deserto, lutando contra o diabo, convidava-nos ao combate espiritual, próprio do deserto quaresmal. Sim, porque é isso que o tempo santo que estamos vivendo deseja ser: tempo de retiro no deserto do coração para combater nossos demônios interiores e, pela oração, a penitência, a caridade fraterna, a escuta da Palavra de Deus e a reconciliação sacramental, caminharmos para a santa Páscoa.
Na liturgia de hoje, ladeado por Moisés e Elias, que também enfrentaram durante quarenta dias e quarenta noites o combate no deserto para experimentarem o fulgor da glória de Deus, Jesus nos mostra qual a finalidade do nosso caminho quaresmal, Jesus nos revela aonde nos leva nosso combate espiritual. Qual o objetivo? Qual a finalidade? Ei-los: celebrar com ele a sua Páscoa, sendo com ele transfigurado em glória! Nosso objetivo, nosso escopo, o feliz e gozoso fim do nosso caminho é o Cristo envolto na sua glória pascal que nos transfigura também a nós! Mais que Moisés e Elias, nós seremos envolvidos da glória de Cristo, aquela glória que é o Espírito Santo que o Pai derramou sobre ele na sua ressurreição! Passaremos, portanto, do roxo quaresmal, tão sóbrio, para o esfuseante branco pascal, sinal da glória e da imortalidade, transfigurados em Jesus e por Jesus, o homem perfeito, modelo de todo ser humano que vem a este mundo. Um dia, meus caros em Cristo, passaremos do roxo das lágrimas desta vida, para o branco da glória eterna dos que, revestidos da glória do Cordeiro, haverão de segui-lo para sempre! De Quaresma em Quaresma e de Páscoa em Páscoa, passaremos da Quaresma deste mundo para a Páscoa da glória eterna!
Mas, detenhamo-nos um pouco no Tabor do Evangelho hodierno. Ele é prenúncio, uma misteriosa antecipação da ressurreição. Com sua bendita Transfiguração, Jesus deseja preparar o seus para as dores da paixão – do mesmo modo que a Igreja nos deseja alentar e motivar para as renúncias e observâncias quaresmais. Por isso mesmo, Pedro, Tiago e João, o três que estão no Tabor são os mesmos que estarão no Jardim das Oliveiras. Por isso também o Evangelho de hoje termina com uma alusão à ressurreição de Jesus dentre os mortos e, o relato da transfiguração em Lucas afirma que “Jesus falava de sua partida que iria consumar-se em Jerusalém” (9,30). Eis: Moisés e Elias, a Lei e os Profetas dão testemunho da paixão do Senhor: tudo estava no misterioso desígnio de Deus! Após a ressurreição, isso ficará claro: “’Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?’ E começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito” (Lc 34,26-27). Eis que mistério: a Lei (Moisés) e os Profetas (Elias) dão testemunho de Jesus e aparecem iluminados por ele. Somente nele, na luz da sua cruz e ressurreição, o Antigo Testamento encontra sua plenitude e sua luz!
Sendo assim, levantemo-nos! Tornemos, generosos, nosso caminho quaresmal! Também nós somos chamados, como nosso pai Abraão o foi, a sair: sair de nós mesmos, sair de nós velhos para nós renovados, transfigurados à imagem do Cristo Jesus! Tenhamos a coragem de atravessar o deserto interior, enfrentar o deserto do nosso coração, como Moisés e Elias, como o povo de Israel, como o próprio Senhor Jesus, que por nós quis ser tentado no seu período de deserto! Somente assim chegaremos renovados e purificados ao nosso destino. Este destino não é um lugar, mas uma situação, uma realidade: é o homem novo, transfigurado à imagem do Cristo que, após o tormento imenso da cruz, foi glorificado pelo Espírito do Pai. Eis o caminho quaresmal: do homem velho ao homem novo, do pecado à graça, do vício à virtude, da preguiça espiritual à generosidade, da morte à vida, da tristeza à alegria… trazendo em nós, na nossa vida, o reflexo da glória do próprio Cristo Jesus! Não é este o significado das palavras de São Paulo, na segunda leitura de hoje? “Sofre comigo pelo Evangelho. Deus nos salvou e nos chamou a uma vocação santa… em virtude da graça que nos foi dada em Jesus Cristo. Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade”. Eis! Os sofrimentos e lutas desta vida não são pesados se compararmos com o objetivo tão alto que nos preparam!
Caríssimos, que as práticas quaresmais, vividas com generosa fidelidade, arrancando o pecado que nos torna opacos, possam revelar em nós o resplendor da glória de Cristo a que somos chamados e que já está presente em nós desde o nosso batismo!
Mais ainda: que a novidade de nossa vida transborde para o mundo, que tanto tem necessidade do testemunho dos cristãos. Nunca esqueçamos: este mundo mergulhado na violência (violência da injustiça, violência do desrespeito à dignidade humana, violência da fome, violência dos atentados à paz, violência das drogas e das mentiras, violência dos meios de comunicação, violência da negação de Deus)… este mundo precisa de nosso testemunho e de nossa palavra, mesmo quando nos rejeita, quando despreza o nome de Cristo, quando deseja esquecer o seu Senhor e pisar os valores do Evangelho!
Deixemo-nos, portanto, transfigurar pelo Senhor e sejamos luz para o mundo! Como pede a oração inicial da Missa hodierna: Senhor, “que purificado o olhar da nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória!” Por Cristo, nosso único Senhor. Amém. –   D. Henrique Soares
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Homilia do Mons. José Maria Pereira

ENCONTRAR E OUVIR O FILHO!

O Evangelho (Mt 17, 1-9) relata-nos o que aconteceu no Tabor.
A caminho de Jerusalém, Jesus faz o primeiro anúncio da Paixão. Disse que iria sofrer e padecer em Jerusalém, e que morreria às mãos dos príncipes dos sacerdotes, dos anciãos e dos escribas. Os apóstolos tinham ficado aflitos e tristes com a notícia. O caminho da salvação esperado pelos discípulos é bem diferente! Para fortalecer o ânimo profundamente abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e leva-os a um lugar à parte para orar. Aí, no Monte Tabor, revela-lhes a glória da divindade. “Enquanto orava, o seu rosto transformou-se e as suas vestes tornaram-se resplandecentes” (Lc 9, 29).
São Leão Magno diz que “a finalidade principal da Transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da Cruz.”
Pela Transfiguração, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada, mesmo quando termina na Cruz. Também nos revela que Jesus é “o Filho amado do Pai” e nos convida a escutar o que Ele diz.
A Transfiguração do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos a um alto Monte para acolher de novo, em Cristo, como filhos do Filho, o dom da Graça de Deus: “Este é o meu Filho amado: Escutai-O.”
A Transfiguração foi uma centelha de glória divina que inundou os apóstolos de uma felicidade tão grande que fez Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas…” (Mt 17, 4). Pedro quer prolongar aquele momento. Mas, Pedro não sabia o que dizia; pois o que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-lo por trás das circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Ele, tanto faz que estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados no leito de um hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto: vê-lo e viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na vida presente e na outra. Desejo ver-te, Senhor, e procurarei o teu rosto nas circunstâncias habituais da minha vida!
São Beda diz que o Senhor, “numa piedosa autorização, permitiu que Pedro, Tiago e João fruíssem durante um tempo muito curto da contemplação da felicidade que dura para sempre, a fim de fortalecê-los perante a adversidade”. A lembrança desses momentos ao lado do Senhor, no Tabor, foi sem dúvida uma grande ajuda nas várias situações difíceis em que estes três Apóstolos viriam a passar.
A Transfiguração leva-nos a pensar no Céu, que é a nossa morada. O Senhor quer confortar-nos com a esperança do Céu, de modo especial nos momentos mais duros ou quando se torna mais patente a fraqueza da nossa condição: “à hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade” (Caminho, 139).
O pensamento da glória que nos espera deve animar-nos na nossa luta diária. Nada vale tanto como ganhar o Céu. Ensina Santa Teresa: “E se fordes sempre avante com essa determinação de antes morrer do que desistir de chegar ao termo da jornada, o Senhor, mesmo que vos mantenha com alguma sede nesta vida, na outra, que durará para sempre, vos dará de beber com toda abundância e sem perigo de que vos venha a faltar.”
“Este é o meu Filho amado: ouvi-O”. Deus Pai fala através de Jesus Cristo a todos os homens, de todos os tempos. Ensinava o papa João Paulo II: “procura continuamente as vias para tornar próximo do gênero humano o mistério do seu Mestre e Senhor: próximo dos povos, das nações, das gerações que se sucedem e de cada um dos homens em particular” (Encíclica Redemptor Hominis, 7). A sua voz faz-se ouvir em todas as épocas, sobretudo através dos ensinamentos da Igreja.
Nós devemos encontrar Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência (Confissão), e sobretudo na Eucaristia, onde se encontra verdadeira, real e substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o extraordinário.
Mons. José Maria Pereira
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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
O episódio da Transfiguração do Senhor, neste Segundo Domingo da Quaresma, está intimamente relacionado com a narração das tentações de Jesus que meditamos oito dias atrás; pois dois elementos fundamentais estão presentes em ambas as situações. Por um lado, a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus, mas ao mesmo tempo a tentação (Diabo e Pedro) de impedi-lo de cumprir com coerência e fidelidade a sua missão de Servo Sofredor.
A versão da Transfiguração que encontramos no lecionário dominical, por questão de adaptação à leitura litúrgica, substitui: “E seis dias depois” (grego: Kai meth’ hemeras hex) por “Naquele tempo”. Porém, a expressão original nos dá uma chave de leitura importantíssima para captarmos bem o significado teológico da Transfiguração tanto no contexto do evangelho de Mateus quanto à luz Antigo Testamento. Em primeiro lugar, os vários elementos que aparecem na cena da transfiguração fazem referência a Êxodo 24,13-16, quando a expressão “seis dias” indica o tempo no qual Moisés permaneceu na montanha de Deus, sob a nuvem, a fim de receber as tábuas da Lei; no 7º dia Deus chamou Moisés do meio da nuvem e manifestou-lhe a sua glória como um fogo consumidor. Ademais, encontramos também uma referência ao profeta Elias que, por sua vez, também na montanha de Deus, fez a experiência do encontro com o Senhor (1Rs 19,8-18), cujas manifestações que antecederam a sua presença levaram o profeta a cobrir o seu rosto com o manto.
No evangelho, quando lemos a expressão “Seis dias depois”, naturalmente nos vem a pergunta: “De quê?” (O que aconteceu antes?). Portanto, é bom ter presentes estes últimos episódios: a confissão de Pedro (Mt 16,13-20), o anúncio da paixão e a tentação de Pedro (Mt 16,21-23), as condições para seguir Jesus (Mt 16,24-26) e, por fim, o próprio anúncio da Transfiguração: “Em verdade vos digo que alguns dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam o Filho do Homem vindo em seu Reino” (Mt 16,28). Por isso, daqueles que ali estavam presentes, “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João”. Serão eles as testemunhas de que o Reino chegou com Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, aquele que vai morrer e, ao terceiro dia, ressurgirá.
Tanto no centro do relato dos acontecimentos anteriormente mencionados quanto na narração da Transfiguração encontramos a tentação de Pedro, que procura impedir Jesus de cumprir sua missão: “Pedro começou a repreendê-lo: Deus não te permita, Senhor” (Mt 16,22), “Senhor, é bom estarmos aqui” (Mt 17,4); em outras palavras, Pedro estava querendo dissuadir Jesus para que permanecesse no monte da Glória, sob a proteção de uma tenda e, assim, não teria que descer de lá para subir o monte da Cruz. Em ambos os casos, Pedro tenta Jesus para que abandone o caminho do sofrimento, da cruz, assim como fez o Satanás no deserto quando sugeriu que Jesus matasse a sua fome com um toque mágico, exigisse a proteção de Deus sem obediência e alcançasse o poder e a riqueza renegando a sua filiação divina.
Assim como Satanás propôs a Jesus três proteções ilusórias (material: o pão; divina: os anjos; humana: o poder e a riqueza), Pedro quer erguer três tendas para proteger os três personagens importantes da cena. Contudo, essa aparente benevolência de Pedro acarretaria um grande dano: impedir que as Escrituras, representadas em Moisés e Elias, se realizassem plenamente com a morte e ressurreição de Jesus; é mais uma tentativa de afastar Jesus da cruz. O objetivo é claro: ao construir uma tenda para cada um, Pedro isolará os três e impedirá o diálogo (Lucas explicita que a conversa era sobre a morte de Jesus em Jerusalém: Lc 9,30-31) entre Moisés (Lei), Elias (Profecia) e Jesus (Palavra Encarnada), que já tinha afirmado: “Não vim para revogar a Lei e os Profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Jesus é aquele que realiza o autêntico diálogo entre o Antigo Testamento (Moisés e Elias) e o Novo Testamento (Pedro, Tiago e João). É o próprio Pai, cuja palavra se faz ouvir nas Escrituras, que declara ser o seu Filho amado, o único intérprete fiel da Lei e dos Profetas. Assim como no deserto, Jesus venceu as tentações do diabo com a proclamação da palavra do seu Pai (“Não só de pão viverá o homem…” Não tentarás o Senhor teu Deus”, “Ao Senhor teu Deus adorarás…”), agora diante das tentações de Pedro (e dos discípulos) é a Palavra do Pai mais uma vez que se faz ouvir: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o”. Assim como as tentações foram vencidas pela obediência de Jesus à Palavra de Deus, agora os discípulos são instruídos para que também aprendam a vencê-las. Satanás vencido, recuou (“O diabo o deixou”), os discípulos, por sua vez, ouvindo a voz do céu: “Muito assustados, caíram com o rosto no chão”, portanto, foram derrotados nas suas tentações, mas Jesus os ergue, fazendo-os participar antecipadamente da sua ressurreição pois dirige-lhes as palavras próprias do ressuscitado: “Não tenhais medo” (Mt 28,10).
Quaresma é tempo de renovar o nosso compromisso de seguir os passos de Jesus que exige de nós a coragem de desamarmos as nossas tendas (comodismo, egoísmo, descompromisso etc.). Armar a tenda no monte da transfiguração pode ser prazeroso, mas nos impede de prosseguir o caminho que leva à verdadeira vitória, que não se alcança senão subindo o monte da cruz. Mais uma vez é a Palavra de Deus a nos guiar e fortalecer na luta contra as tentações das inúmeras tendas, que ao longo do caminho encontramos.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou ministros da Palavra):
  LOUVOR: (quando o Pão Sagrado estiver sobre o altar)                                          
- O Senhor esteja com todos vocês... Demos graças ao Senhor, o nosso Deus...
- Com Jesus, por Jesus e em Jesus, na força do Espírito Santo Louvemos ao Pai:
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade!
- Pai! Nós Vos damos graças por Abraão, que escolhestes e chamastes para constituir um novo povo. Somos o vosso povo. Recebemos o Batismo e somos profetas em vosso Filho; Nós Vos pedimos por todas as famílias para que sejam abençoadas.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade!
- Deus da vida, nós Vos bendizemos, porque fizestes resplandecer a vida e a imortalidade pelo anúncio do Evangelho. Vós nos salvastes e nos destes a Dignidade de filhos vossos.  Vos pedimos pelos que sofrem no testemunho do Evangelho. Sustentai-os com a força do vosso Espírito.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade!
- Deus da luz, nós Vos damos graças pela transfiguração do vosso Filho, quando manifestes vossa glória. Nós Vos pedimos; curai os nossos corações para que acolhamos as palavras do Vosso Filho. Estabelecei a Vossa tenda nas nossas casas e em nossos corações.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade!
- PAI NOSSO... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro...