3º DOMINGO DA
QUARESMA ANO A 2020 (Diácono Ismael)
PRIMEIRA LEITURA (Ex 17, 3-7) Naqueles dias,
o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés. O Senhor disse a Moisés:
“Toma a tua vara. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber”. Moisés
deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, porque tentaram o Senhor, dizendo:
“O Senhor está no meio de nós, ou não?”.
AMBIENTE
- Uma catequese. A questão é a sobrevivência no deserto do Sinai; mas o
importante é que Israel viu no fato um sinal da presença e do amor do Deus
libertador.
MENSAGEM - Jahwéh manifestou, de mil formas, o seu amor por
Israel… (passagem do mar, água amarga em água doce, maná e codornizes). Diante
das dificuldades, o Povo esquece tudo o que Jahwéh já fez e entra em contenda
com Moisés e Acusam Deus de ter um projeto de morte. Deus responde mais uma vez
com a água da vida.
ATUALIZAÇÃO
•
A caminhada dos hebreus espelha nossa caminhada. Deus nunca nos abandona.
•
À medida que acolhemos a Deus, tornando-nos um Povo mais responsável, mais
consciente e mais santo.
•
As dificuldades não são um castigo; são pedagogia de Deus para irmos mais além
E crescer.
SALMO RESPONSORIAL / Sl 94 (95)
Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do
Senhor!
• Vinde,
exultemos de alegria no Senhor; / aclamemos o Rochedo que nos salva! /
Ao seu encontro
caminhemos com louvores / e com cantos de alegria o celebremos!
• Vinde,
adoremos e prostremo-nos por terra / e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! /
Porque ele é o
nosso Deus, nosso Pastor, / e nós somos o seu povo e seu rebanho, /
as ovelhas que
conduz com sua mão.
• Oxalá
ouvísseis hoje a sua voz: / “Não fecheis os corações como em Meriba, /
como em Massa,
no deserto, aquele dia, / em que outrora vossos pais me provocaram, /
apesar de terem
visto as minhas obras”.
EVANGELHO (Jo 4,5-42) Jesus sentou-se
junto ao poço ao meio-dia. Chegou a mulher da Samaria para tirar água. Jesus
lhe disse: “Dá-me de beber”. Os discípulos tinham ido comprar alimentos. A
samaritana disse: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim?” Respondeu-lhe
Jesus: “Se tu conhecesses quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe
pedirias a ele, e ele te daria água viva”. “Todo aquele que bebe desta água
terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais
terá sede”. A mulher disse: “Senhor, dá-me dessa água”. Disse-lhe Jesus: “Vai
chamar teu marido”. A mulher respondeu: “Eu não tenho marido”. Jesus disse:
“não tens marido, pois tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é o teu
marido. A mulher disse a Jesus: “Senhor, vejo que sois um profeta! Os
nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve
adorar”. Disse-lhe Jesus: “Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que
conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é
agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”.
A mulher disse a Jesus: “Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar”.
Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que estou falando contigo”. Então a mulher deixou
o seu cântaro e foi à cidade, dizendo ao povo: “Vinde ver um homem. Será
que ele não é o Cristo?” O povo foi ao encontro de Jesus. Enquanto isso, os
discípulos insistiam com Jesus: “Mestre, come”. Disse-lhes Jesus: “O meu
alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Muitos
samaritanos abraçaram a fé em Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus
permaneceu aí dois dias. E muitos outros creram por causa da sua palavra.
AMBIENTE - A Samaria era de religião sincretista. A divisão começou em 721 a .C., quando foi tomada
pelos assírios. Após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos
samaritanos para reconstruir o Templo de Jerusalém (437 a .C.). No ano 333 a .C., os samaritanos
construíram um Templo no monte Garizim, que foi destruído em 128 a .C. por João Hircano.
Mais tarde, por volta do ano 6 d.C., os samaritanos profanaram o Templo de
Jerusalém espalhando ossos humanos nos átrios.
MENSAGEM - A mulher (sem nome) representa a Samaria, que procura a água de
vida plena. O “poço” representa a Lei. Onde encontrar essa vida? Na Lei?
Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta: eles podem “matar a sede” por curtos
instantes; voltará a ter sede. Jesus senta-se
“junto do poço”, ocupa o seu lugar; e propõe uma “água viva”, que
matará definitivamente a sua sede de vida eterna. Jesus é o “novo poço”, onde
todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede. A
mulher fica confusa. (“nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é
em Jerusalém que se deve adorar”)? Jesus
nega que se trate do Templo de pedra de Jerusalém ou do Templo do monte Garizim
que Deus está… O que se trata é de acolher a novidade do próprio Jesus,
aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida (isto é, aceitar o Espírito). A
mulher/Samaria responde abandonando o cântaro (agora inútil), e corre a
anunciar o desafio que Jesus lhe faz. Jesus é reconhecido como “o salvador do
mundo” – isto é, como Aquele que dá ao homem a vida plena e definitiva.
ATUALIZAÇÃO
• Jesus Cristo oferece a água que mata
definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem.
• O “cântaro”, abandonado representa
tudo que nos dá acesso limitado de felicidade. O abandono do “cântaro”
significa o romper com todos os esquemas de felicidade egoísta.
• A samaritana, depois de encontrar o “salvador
do mundo”, partiu propondo a verdade que tinha encontrado.
# Cada um de nós
tem o seu poço. S. Agostinho diz: “O meu coração só terá sossego quando
repousar em Deus.
# Sem a água
viva, a vida está ameaçada. A mulher precisava de
água de verdade e Ele era a fonte.
# Jesus manda
comprar alimentos para que seus discípulos também rompam a barreira do ódio.
# Aquele que pedia água fria estava oferecendo água viva, a
saber, a Si mesmo.
# Um judeu preferia morrer de sede a tomar água da mão de um
samaritano, muito menos de uma mulher samaritana, sobretudo pecadora. Haja
vista a surpresa dos discípulos (v27).
# Os cinco maridos evocam os cinco ídolos dos
samaritanos (2 Rs 17,29-30). O sexto a que Jesus alude, talvez seja João
Batista. O Quarto Evangelho sugere que o sétimo é o próprio Jesus, o messias.
# A samaritana largou o balde. Já não precisava da água do
poço de Jacó, da antiga Lei. Ela havia encontrado a fonte da água que brotava
dentro dela para a vida eterna (Jo 4,14).
SEGUNDA LEITURA (Rm 5,1-2.5-8) Irmãos, o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos pecadores.
AMBIENTE - Estamos no ano 58. Paulo diz que o Evangelho deve unir todo o
crente, sem distinção de judeu, grego
MENSAGEM - Paulo parte da idéia de que todos foram justificados pela fé. Ora,
se Jahwéh se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da
misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo significa que a bondade, a
misericórdia e o amor próprios do ser de Deus se manifestam em todas as
circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Ao
homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não
depende dos seus méritos e que se entregue nas mãos de Deus. Este homem, objeto
da graça de Deus, é uma nova criatura que é filho de Deus e co-herdeiro com
Cristo.
Em primeiro lugar,
a paz. Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranqüilidade, serenidade),
nem em sentido político (ausência de guerra), mas no sentido teológico, de
plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.
Em
segundo, a esperança, que nos
permite superar as dificuldades da caminhada. Trata-se de encontrar um sentido novo
para a vida presente, na certeza de que as forças da morte não terão a última
palavra.
Em
terceiro lugar, o amor de Deus ao homem. Paulo garante-nos hoje: Deus
nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado,
em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água
que mata a nossa sede de vida e de felicidade (a paz, a esperança, o seu amor).
ATUALIZAÇÃO • Deus nunca desistiu dos homens e caminha conosco com novas
propostas.
• A vinda de Jesus Cristo é a expressão plena do amor de Deus, a fim de nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
• A vinda de Jesus Cristo é a expressão plena do amor de Deus, a fim de nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
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OBS. Fazer a ligação entre os
temas:
1º domingo da quaresma: Adão e Eva
escolhem o projeto pessoal e pecam; morte. Jesus é tentado e escolhe o projeto do pai;
vida = novo Adão.
2º domingo: Deus chama Abraão a
constituir novo povo = ele obedece e este povo será luz para as nações. Jesus
no monte Tabor é transfigurado = é Filho de Deus enviado: ouvi-o; Ele é a
verdade.
3º domingo: O povo libertado se
revolta no deserto; Deus acompanha o povo e faz a água sair da rocha. Jesus e a
Samaritana: Ele é a fonte da vida, é a água viva; Deus tem sede e quer saciar a
todos; Ele é a Vida..
4º domingo - Jesus é a Luz, na cura do cego; Ele é o caminho.
5º domingo - Jesus é a Vida, na ressurreição de Lázaro; Ele é o Deus libertador;
Jesus é a agua viva
que sacia a sede do Ser humano. Todos têm sede. Porém, em que poço se busca a
água?
Muitos são os poços
que o mundo oferece: o poço do materialismo exacerbado, do consumismo, do
prazer etc.
Mas esses poços
oferecem uma água que torna o ser Humano cada vez mais sedento. Leva-o Ao
profundo vazio e, às vezes, a certas enfermidades interiores.
Eles são incapazes
de saciar o coração humano. Jesus nos oferece A verdadeira água, que sacia
nossa sede, que preenche nossos vazios, Que cura nossas enfermidades e nos tornam
“fonte de água que jorra para a vida eterna”.
Aquele que bebe
dessa água faz o mesmo que a samaritana, abandona o Cântaro e vai.... Leva
Jesus ao povo e o povo a Jesus
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RITO PARA BÊNÇÃO E ASPERSÃO DA ÁGUA
(Sugestão de substituição do Ato Penitencial. Missal
p. 1001).
Presidente: Invoquemos o Senhor nosso Deus, para
que se digne abençoar esta água que vai ser aspergida sobre nós, recordando o
nosso batismo. Que ele se digne ajudar-nos, para permanecermos fiéis ao
Espírito que recebemos.
(E, após um momento de silêncio, continua)
Deus eterno e
todo-poderoso, quisestes que pela água, fonte de vida e princípio de
purificação, a humanidade fosse purificada e recebesse o prêmio da vida eterna.
Abençoai + esta água, para que nos proteja neste dia que vos é consagrado, e
renovai em nós a fonte viva de vossa graça, a fim de que nos livre de todos os
males e possamos nos aproximar de vós com o coração puro e receber a vossa
salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
T. Amém.
(Enquanto o povo é aspergido canta-se: Cd da CF )
Pres. Que Deus todo-poderoso nos purifique
dos nossos pecados e, pela celebração desta Eucaristia, nos torne dignos da
mesa de seu reino.
T. Amém.
4. ORAÇÃO
S. Oremos: (pausa) Ó Deus, fonte de toda
misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração
como remédios contra o pecado. Acolhei esta confissão de nossa fraqueza, para
que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela
vossa misericórdia. P.N.S.J.C.
T. Amém.
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"Dá-me de
beber"
A Quaresma, na
Igreja primitiva, além de ser um tempo de penitência e de conversão, era um
tempo de preparação para os batizados, que aconteciam no sábado santo, na
Vigília Pascal.
Por isso, nesses
três domingos, que antecedem a semana santa, aparece o tema batismal com os
símbolos:
-
da Água, no diálogo com a
Samaritana,
-
da Luz, na cura do cego;
-
da Vida, na ressurreição de
Lázaro.
Hoje nos
apresenta o símbolo mais importante, a ÁGUA,
que exprime o milagre renovado da VIDA.
Na 1a
Leitura, o povo pede ÁGUA (Ex
17,3-7)
No deserto, o
povo reclama revoltado contra Moisés, pedindo água, para manter-se vivo: "Dá-nos água para beber..." E
Deus intervém, fazendo brotar milagrosamente água da rocha de Horeb.
* Moisés dá de
beber a seu povo. É imagem de Cristo, que no futuro dará a água da vida, que é
o Espírito Santo.
Na 2ª
Leitura, São Paulo reafirma que Deus derrama sempre seu Amor em
nossos corações, como aconteceu com a Samaritana. (Rm 5,1-2.5-8)
No Evangelho,
Jesus pede e oferece ÁGUA à Samaritana.
(Jo 4,5-42)
- Jesus
cansado... sedento... senta-se ao lado do poço de Jacó...
Uma mulher anônima... balde vazio... coração
vazio... busca água...
- JESUS quebra
preconceitos de raça, de sexo, de religião... e toma a iniciativa: "Dá-me de beber".
- A Mulher
estranha... (os apóstolos também): falar com samaritana e mulher...
- Do diálogo
nasce a mútua compreensão.
A mulher descobre em si mesma uma sede mais
profunda de amor, pois apesar dos 5 maridos que já tivera, vivia um grande
vazio... E Jesus se revela como água
viva, capaz de saciar qualquer sede humana...
- Inicialmente
ela fica confusa... no final ela pede
"dessa água". Reconhece Jesus como "Salvador do Mundo",
O Templo onde Deus "deve ser adorado em
espírito e verdade".
Abandona o "Velho balde" e corre
para a cidade, para anunciar ao povo a verdade que tinha encontrado.
+ O
Caminho da Samaritana:
Esse
Diálogo mostra a grande pedagogia de Jesus, que se revela aos poucos,
até chegar à manifestação plena.
- No começo, a mulher só pensa na água
material (seus desejos, os maridos...)
- Aos poucos começa a compreender e aceitar
a proposta de Jesus:
Inicialmente, ela vê nele apenas um judeu
viajante; depois, o chama de "Senhor"; em seguida,
reconhece que é um Profeta; No final, descobre nele o Messias
esperado pelo povo.
- Abandona então o balde que dá acesso às
suas propostas limitadas de felicidade, e corre até a cidade para anunciar a
sua descoberta.
Essa mulher desprezada, após escutá-lo
como DISCÍPULA, torna-se MISSIONÁRIA de Cristo, antes mesmo dos apóstolos...
+ A água do poço é símbolo de
todas as satisfações humanas, na esperança de encontrar nelas a nossa
felicidade, mas que no fim deixam sempre muito vazio e muitas desilusões...
= Essa água não
satisfaz plenamente, todos os dias precisamos voltar ao poço...
+ A água de Jesus é o espírito de
Deus, o amor que enche os corações.
Só Cristo mata definitivamente a sede de
vida e felicidade do homem.
Essa água nos faz pensar também no BATISMO, que foi o nosso primeiro
encontro com Jesus.
+ O nosso caminho...
- No passado, o POÇO sempre foi um lugar de ENCONTRO.
- Os homens
continuam ainda hoje procurando um Poço, para saciar sua sede profunda de vida.
Buscam cada vez mais "coisas" para saciá-la e nada os satisfaz.
- Cristo continua vindo ao nosso encontro.
Senta perto do nosso poço e nos diz: "Quem
tiver sede... venha a mim... e beba..."
- Antes de nos
encontrar com Cristo, também nós estávamos preocupados com nossos problemas,
desejos, ambições, e o nosso coração estava sempre repleto de tristeza e
insatisfação. Precisávamos todos os dias
voltar ao poço e encher o nosso balde...
- Um belo dia, o
encontro com Cristo aconteceu...
A conversa com esse "Jesus"
despertou em nós uma curiosidade, que nos levou a conhecer melhor a pessoa de
Cristo e sua mensagem.
- No final da
caminhada, encontramos essa água viva, prometida por Jesus.
Abandonamos então o "velho Balde" e
sentimos a necessidade de correr para anunciar a todos, como Missionários, a
nossa descoberta e a nossa felicidade...
Façamos nosso o
pedido da Samaritana: "Senhor, dá-nos sempre dessa água!"
Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Françoá Costa
Sede
de Deus
“O
pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na
liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e
quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida
eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros
adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta
água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água,
que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e
insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de
Santo Agostinho” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Deus
está apaixonado pelo ser humano, tem sede do pobre amor dos nossos corações.
Nós pedimos de beber a alguém que afirma claramente que tem sede. Essa sede de
Deus por cada pessoa humana ficou claramente expressada naquele grito que
somente o evangelista João conservou no Evangelho: “Tenho sede” (Jo 19,28).
Deus tem sede de que nós tenhamos sede do seu Espírito, da sua vida, da
sua graça, da sua glória. Ele tem água abundante, mas tem sede de que nós a
bebamos.
“Dá-me
de beber” (Jo 4,7) é a expressão daquilo que todo ser humano tem: sede de Deus,
que pode ser saciada: aqui pela graça e no céu pela glória. André Frossard no
famoso relato da sua conversão, “Deus existe. Eu encontrei-o”, terminava com
essas palavras: “l’éternité sera courte” – a eternidade será curta. Trata-se de
uma maneira poética de afirmar que diante da grandeza de Deus, a mesma
eternidade –um presente sem começo nem fim– será “curta” para deliciar-nos com
a presença do Senhor.
Essa
sede de viver conforme aquilo que Deus pensou para nós, de apetecer aquilo que
constrói realmente uma existência cheia de sentido, de contemplar todas as
coisas com a visão purificada e descobrir o esplendor de cada criatura, é uma
sede existencial, é uma insatisfação da alma que não encontra sentido fora de
Deus. Santo Tomás de Aquino fez uma análise cientificamente rigorosa sobre a
felicidade do ser humano (cfr. S.Th. II-II, q. 2–5), na qual começava por
estudar o fato de que a felicidade não pode consistir nas riquezas, nem na
honra, na fama ou na glória; tampouco consiste no poder, no bem do corpo, no
prazer, nalgum bem da alma ou num bem criado qualquer. Talvez, na sociedade
atual, vale a pena enfatizar que a felicidade não consiste nas riquezas nem nos
prazeres. Penso somente nessas duas questões porque, infelizmente, os nossos
tempos não se destacam pelo cultivo das coisas do espírito e, por tanto, a
honra, a glória, os bens da alma e o conhecimento das dimensões mais profundas
dos elementos criados geralmente importam pouco.
Como
poderia consistir a felicidade do homem nas riquezas, naturais ou artificiais,
se estas são sempre finitas? A uma riqueza sempre se pode acrescentar outra.
Como se pode ver, podemos passar a vida acumulando riquezas sem saciar-nos. Por
outro lado, como poderia consistir a felicidade do ser humano nos prazeres se
esses são apenas um principio de conhecimento? “O apetite veemente pelo deleite
sensível deve-se ao fato de que as operações dos sentidos são mais
perceptíveis, porque são princípios do nosso conhecimento. É por isso que a
maioria deseja os deleites sensíveis” (Santo Tomás de Aquino). Logicamente, o
prazer, quando surge de um bem real, é bom. Sem dúvida, é bom e agradável a
Deus o prazer que os membros de uma família experimentam numa deliciosa comida
dominical num ambiente festivo e moderado pela virtude; é bom e agradável a
Deus o prazer que o homem e a mulher, unidos por santo matrimônio, sentem ao
gerar os filhos; é bom e muito agradável a Deus o prazer que podemos sentir ao
cumprir os nossos deveres de estado. Não obstante, o prazer, quando procede dos
desejos desordenados, pode absorver de tal maneira as faculdades superiores,
inteligência e vontade, que poderia cegar-nos. Os prazeres desordenados
poderiam levar ao desprezo da virtude, inclusive poderia levar ao pior pecado
que dar-se pode: o ódio a Deus. Neste caso, Deus seria odiado porque apareceria
aos olhos do pecador como inimigo da sua vida desordenada de prazeres.
A
leitura atenta descobre facilmente a importância da água para S. João. É
somente nesse Evangelho que nós lemos o relato das bodas de Caná, onde Jesus
transforma a água em vinho (cfr. Jo 2,1-12); no capítulo seguinte encontramos
aquela afirmação que sempre nos comove: “quem não renascer da água e do
Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5); depois a passagem, que
acabamos de escutar, que nos relata o encontro de Jesus com a Samaritana (cfr.
Jo 4,1-42); era pelo movimento da água que os enfermos eram curados na piscina
de Betesda (cfr. Jo 5,1-18). De fato, o Catecismo da Igreja Católica afirma que
o simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo, que brota do lado
aberto de Cristo crucificado (cfr. Cat 694).
É
no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz, os nossos
prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança. Distanciar-nos daí é
sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é viver uma
vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da vida
humana, não ser feliz. –
Pe. Françoá Costa
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Homilia
de D. Henrique Soares da Costa
A
Quaresma é tempo de caminho para a santa Páscoa, Páscoa de Cristo e nossa. Ora,
é pelo Batismo e a Eucaristia que entramos misteriosamente na Páscoa do Senhor,
no seu mistério de morte e ressurreição. Por isso celebramos a Noite Santa de
Páscoa com o Batismo e a Eucaristia! Pois bem, o Evangelho de hoje é uma
belíssima catequese batismal!
Acompanhemos
passo a passo este texto belíssimo. “Chegou uma mulher da Samaria para
buscar água”. Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos
não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos,
procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao
poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: “Todo
aquele que bebe desta água terá sede de novo”. Consumismo, sexo, liberdade
desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites,
facilidades… nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca
a mulher:“Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede ‘Dá-me de
beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. Frase
estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida
eterna. Em Jo 7,37, Jesus convidou: “Se alguém tem sede, venha a mim,
e beba aquele que crê em mim”. E o Evangelista recorda que do seio do
Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jo 7,38). E quem é que
pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do
Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!
Diante
disso, a Samaritana – e nós também – suplica: “Senhor, dá-me dessa
água!” Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como
aquele outro pedido: “Senhor, dá-nos deste pão” (Jo 6,34). Eis o
Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se
pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro
confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem
não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá
dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco,
fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a
verdade: “Vai chamar teu marido!” A mulher era adúltera, com
vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela
que os pagãos adoram o que não conhecem, porque “a salvação vem dos
judeus!” Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não
nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus,
porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do
qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo
isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: “Está chegando a
hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade”
e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse
Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a
humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a
salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja
católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são
chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!
Finalmente,
o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: “Tenho um alimento que
não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e
realizar a sua obra”. O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos
os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana… e
ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: “Levantai os
olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está
recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia,
outro o que colhe!” O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham
depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma
antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.
Que
dizer mais? Somos a colheita de Cristo! “Estamos em paz com Deus por
Jesus Cristo”. Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já
experimentamos em nós a vida eterna, pois “o amor de Deus foi
derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” E
tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá
fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis
em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai,
que é o alimento de Jesus!
Eis!
Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus,
aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar
a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento,
procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que
nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito,
que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a
Páscoa da glória! Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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Pe. André Vital
Félix da Silva, SCJ
“Os evangelhos dos dois
primeiros domingos da Quaresma, nos três anos, estão sempre centrados em Cristo
tentado e transfigurado; os outros três domingos preparam mais diretamente para
o batismo ou à renovação das promessas na noite da Páscoa” (Cristo,
festa da Igreja, pág. 268). Como estamos no ano A, cujo itinerário quaresmal
sublinha mais o aspecto batismal, a começar deste III Domingo as perícopes
evangélicas são eminentemente catequeses batismais (Samaritana, Cego de
nascença, Ressurreição de Lázaro). É uma verdadeira síntese do significado do
batismo como vida nova que brota do mergulho na morte e ressurreição de Cristo,
que é a água viva, a luz do mundo, e a ressurreição e a vida.
Apesar de a liturgia deste domingo destacar especificamente o
encontro-diálogo de Jesus com a Samaritana, não podemos esquecer que na
introdução do capítulo (4,1-2) aparece claramente o tema do batismo. Diante da
riqueza inesgotável do texto, destacaremos apenas alguns dos seus elementos
considerando a sua perspectiva de catequese batismal:
1. Batismo é dom gratuito: Jesus,
chegando primeiro ao poço de Jacó, aguarda a mulher que vem pegar água; Ele
toma a iniciativa de lhe oferecer uma água superior àquela que ela pretende
tirar. Apesar de ser a fonte de água viva, Jesus se coloca diante da Samaritana
como um sedento: “Dá-me de beber”. Apresentar-se
diante do outro, sobretudo quando há inimizade, na cultura do Antigo Oriente,
era manifestar o seu desejo de reatar as relações, estabelecer a paz. Ademais,
a sede de Jesus se revelará como desejo ardente de saciar a sede da mulher, de
dar-lhe vida plena, que começa com a iluminação da sua história nem sempre
exemplar, mas que será necessário reconhecer e assumir a fim de curar as
feridas do seu coração preconceituoso e seus sentimentos de inferioridade: “Como tu judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher
Samaritana?” Pregado na cruz, Jesus mais uma vez confirma qual
é, de fato, a sua sede (Jo 19,28). À samaritana Ele promete a água viva, na
cruz Ele realiza essa promessa entregando o seu Espírito e do seu coração
traspassado fazendo brotar água e sangue, símbolos do Batismo e da Eucaristia,
os sacramentos que consolidam a missão e a identidade da Igreja, a sua esposa,
a nova Eva, tirada do seu lado aberto, anunciada simbolicamente no encontro com
a mulher Samaritana, chamada à fidelidade da Nova Aliança, firmada em espírito
e em verdade.
2. Batismo é vida nova: ao prometer a
água viva, Jesus desafia a Samaritana a ter uma vida nova. E, portanto, não haverá
mais necessidade de voltar ao poço, não viverá mais como uma infiel, pois teve
cinco maridos, e o atual não era dela, não precisará mais de um cântaro para
transportar água, pois nela se fará uma fonte de água jorrando para a vida
eterna. Todo ser humano sedento de plenitude de vida, ao receber o dom do
batismo, inicia um caminho conduzido pela palavra de Jesus e pela graça do
Espírito Santo, a fim de que a vida nova recebida como dom não pereça. Contudo,
deve abandonar os ídolos (maridos) para realizar os esponsais com o único
Senhor, aquele que é o Senhor da vida. A vida nova recebida no batismo progride
à medida que se cresce no conhecimento da pessoa de Jesus, pois essa vida nova
significa configurar-se a Ele. Assim como a Samaritana foi amadurecendo na fé,
partindo do reconhecimento preconceituoso de Jesus (tu, Judeu), passando por um
processo de conversão, isto é, abertura de coração e mudança de atitudes,
deixando-se orientar e corrigir (profeta) até a profissão de fé mais perfeita
(Cristo), todo batizado, e não apenas os catecúmenos, precisa assumir na sua
vida um permanente aprofundamento da pessoa de Jesus, crescendo nas convicções
de segui-lo e de testemunhar a sua fé nele. Por isso, rezamos no primeiro
Domingo da Quaresma: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo
desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e
corresponder a seu amor por uma vida santa”.
3. Batismo é fundamento da missão: Na sua exortação
apostólica Evangelii Gaudium (n. 9), o
Papa Francisco nos recorda: “O bem tende sempre a
comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por
si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda
adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado,
o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em
plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem.
Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: «O amor de
Cristo nos absorve completamente» (2 Cor 5,14); «ai de mim, se eu não
evangelizar!» (1 Cor 9,16). Sem dúvida, esta foi a experiência
da Samaritana e, portanto, deve ser a de todo batizado. A missão não é algo
artificial que procura estratégias para impor aos outros ideias ou pensamentos
pessoais ou de um grupo, mas é, antes de tudo, testemunho convicto: “Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus por
causa da palavra da mulher que testemunhava: ‘Ele me disse tudo o que eu fiz”.
O percurso quaresmal reaviva em nós esta dinâmica própria do batismo,
graça que nos é oferecida gratuitamente no sacramento e que compartilhamos
gratuitamente na missão.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou
Ministros extraordinários da Palavra):
Louvor: (Quando o Pão consagrado estiver sobre o
altar)
- o senhor esteja com todos
vocês... demos graças ao senhor...com jesus, por jesus e em jesus, na força do
E. santo, louvemos ao Pai
T: Louvor e
glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Pai, Nós vos
bendizemos porque habitais no meio de nós. Tirastes o povo escravo no Egito e
por meio de Moisés fizestes jorrar água do rochedo. Nós vos pedimos: dái-nos
mais confiança na vossa presença em nosso meio de nós.
T: Louvor e
glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Nós vos damos
graças por Jesus, vosso Filho, que aceitou morrer por nós e pelo Espírito Santo
que nos foi derramado em nosso batismo. Nós vos pedimos por todos que
atravessam períodos de dúvida, por causa das provações e sofrimentos. Pai,
olhai por eles dando força e coragem para fiquem cheios de vossa graça.
T: Louvor e
glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Bendito
sejais, Senhor, porque nos revelais a água viva da presença de vosso Filho e do
Espírito Santo no meio de nós. Fortificados pela graça do batismo, aumentai a
nossa fé e fazei que sempre tenhamos sede de vos conhecer e amar.
T: Louvor e
glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Pai Nosso... A Paz de
cristo... eis o cordeiro...