quinta-feira, 12 de março de 2020

3º DOMINGO DA QUARESMA ANO A, homilias, subsídios homiléticos


3º DOMINGO DA QUARESMA ANO A 2020 (Diácono Ismael)

PRIMEIRA LEITURA (Ex 17, 3-7) Naqueles dias, o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés. O Senhor disse a Moisés: “Toma a tua vara. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber”. Moisés deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, porque tentaram o Senhor, dizendo: “O Senhor está no meio de nós, ou não?”.
AMBIENTE - Uma catequese. A questão é a sobrevivência no deserto do Sinai; mas o importante é que Israel viu no fato um sinal da presença e do amor do Deus libertador.
MENSAGEM - Jahwéh manifestou, de mil formas, o seu amor por Israel… (passagem do mar, água amarga em água doce, maná e codornizes). Diante das dificuldades, o Povo esquece tudo o que Jahwéh já fez e entra em contenda com Moisés e Acusam Deus de ter um projeto de morte. Deus responde mais uma vez com a água da vida.
ATUALIZAÇÃO
• A caminhada dos hebreus espelha nossa caminhada. Deus nunca nos abandona.
• À medida que acolhemos a Deus, tornando-nos um Povo mais responsável, mais consciente e mais santo.
• As dificuldades não são um castigo; são pedagogia de Deus para irmos mais além E crescer.

SALMO RESPONSORIAL / Sl 94 (95)
Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!
• Vinde, exultemos de alegria no Senhor; / aclamemos o Rochedo que nos salva! /
Ao seu encontro caminhemos com louvores / e com cantos de alegria o celebremos!
• Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra / e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! /
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, / e nós somos o seu povo e seu rebanho, /
as ovelhas que conduz com sua mão.
• Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: / “Não fecheis os corações como em Meriba, /
como em Massa, no deserto, aquele dia, / em que outrora vossos pais me provocaram, /
apesar de terem visto as minhas obras”.

EVANGELHO (Jo 4,5-42) Jesus sentou-se junto ao poço ao meio-dia. Chegou a mulher da Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”. Os discípulos tinham ido comprar alimentos. A samaritana disse: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim?” Respondeu-lhe Jesus: “Se tu conhecesses quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede”. A mulher disse: “Senhor, dá-me dessa água”. Disse-lhe Jesus: “Vai chamar teu marido”. A mulher respondeu: “Eu não tenho marido”. Jesus disse: “não tens marido, pois tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é o teu marido. A mulher disse a Jesus: “Senhor, vejo que sois um profeta! Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. Disse-lhe Jesus: “Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade”. A mulher disse a Jesus: “Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar”. Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que estou falando contigo”. Então a mulher deixou o seu cântaro e foi à cidade, dizendo ao povo: “Vinde ver um homem. Será que ele não é o Cristo?” O povo foi ao encontro de Jesus. Enquanto isso, os discípulos insistiam com Jesus: “Mestre, come”. Disse-lhes Jesus: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Muitos samaritanos abraçaram a fé em Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. E muitos outros creram por causa da sua palavra.
AMBIENTE - A Samaria era de religião sincretista. A divisão começou em 721 a.C., quando foi tomada pelos assírios. Após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos para reconstruir o Templo de Jerusalém (437 a.C.). No ano 333 a.C., os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim, que foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Mais tarde, por volta do ano 6 d.C., os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém espalhando ossos humanos nos átrios.
MENSAGEM - A mulher (sem nome) representa a Samaria, que procura a água de vida plena. O “poço” representa a Lei. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta: eles podem “matar a sede” por curtos instantes; voltará a ter sede. Jesus senta-se “junto do poço”, ocupa o seu lugar; e propõe uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida eterna. Jesus é o “novo poço”, onde todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede. A mulher fica confusa. (“nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar”)?  Jesus nega que se trate do Templo de pedra de Jerusalém ou do Templo do monte Garizim que Deus está… O que se trata é de acolher a novidade do próprio Jesus, aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida (isto é, aceitar o Espírito). A mulher/Samaria responde abandonando o cântaro (agora inútil), e corre a anunciar o desafio que Jesus lhe faz. Jesus é reconhecido como “o salvador do mundo” – isto é, como Aquele que dá ao homem a vida plena e definitiva.
ATUALIZAÇÃO • Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem.
• O “cântaro”, abandonado representa tudo que nos dá acesso limitado de felicidade. O abandono do “cântaro” significa o romper com todos os esquemas de felicidade egoísta.
• A samaritana, depois de encontrar o “salvador do mundo”, partiu propondo a verdade que tinha encontrado.
# Cada um de nós tem o seu poço. S. Agostinho diz: “O meu coração só terá sossego quando repousar em Deus.
# Sem a água viva, a vida está ameaçada. A mulher precisava de água de verdade e Ele era a fonte.
# Jesus manda comprar alimentos para que seus discípulos também rompam a barreira do ódio.
# Aquele que pedia água fria estava oferecendo água viva, a saber, a Si mesmo.
# Um judeu preferia morrer de sede a tomar água da mão de um samaritano, muito menos de uma mulher samaritana, sobretudo pecadora. Haja vista a surpresa dos discípulos (v27).
# Os cinco maridos evocam os cinco ídolos dos samaritanos (2 Rs 17,29-30). O sexto a que Jesus alude, talvez seja João Batista. O Quarto Evangelho sugere que o sétimo é o próprio Jesus, o messias.
# A samaritana largou o balde. Já não precisava da água do poço de Jacó, da antiga Lei. Ela havia encontrado a fonte da água que brotava dentro dela para a vida eterna (Jo 4,14). 

SEGUNDA LEITURA (Rm 5,1-2.5-8) Irmãos, o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos pecadores.
AMBIENTE - Estamos no ano 58. Paulo diz que o Evangelho deve unir todo o crente, sem distinção de judeu, grego
MENSAGEM - Paulo parte da idéia de que todos foram justificados pela fé. Ora, se Jahwéh se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo significa que a bondade, a misericórdia e o amor próprios do ser de Deus se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Ao homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue nas mãos de Deus. Este homem, objeto da graça de Deus, é uma nova criatura que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo.
Em primeiro lugar, a paz. Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranqüilidade, serenidade), nem em sentido político (ausência de guerra), mas no sentido teológico, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.
Em segundo, a esperança, que nos permite superar as dificuldades da caminhada. Trata-se de encontrar um sentido novo para a vida presente, na certeza de que as forças da morte não terão a última palavra.
Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem. Paulo garante-nos hoje: Deus nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado, em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água que mata a nossa sede de vida e de felicidade (a paz, a esperança, o seu amor).
ATUALIZAÇÃO • Deus nunca desistiu dos homens e caminha conosco com novas propostas.
• A vinda de Jesus Cristo é a expressão plena do amor de Deus, a fim de nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
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OBS. Fazer a ligação entre os temas:
1º domingo da quaresma: Adão e Eva escolhem o projeto pessoal e pecam; morte.     Jesus é tentado e escolhe o projeto do pai; vida = novo Adão.
2º domingo: Deus chama Abraão a constituir novo povo = ele obedece e este povo será luz para as nações. Jesus no monte Tabor é transfigurado = é Filho de Deus enviado: ouvi-o; Ele é a verdade.
3º domingo: O povo libertado se revolta no deserto; Deus acompanha o povo e faz a água sair da rocha. Jesus e a Samaritana: Ele é a fonte da vida, é a água viva; Deus tem sede e quer saciar a todos; Ele é a Vida..
4º domingo - Jesus é a Luz, na cura do cego; Ele é o caminho.
5º domingo - Jesus é a Vida, na ressurreição de Lázaro; Ele é o Deus libertador;

Jesus é a agua viva que sacia a sede do Ser humano. Todos têm sede. Porém, em que poço se busca a água?
Muitos são os poços que o mundo oferece: o poço do materialismo exacerbado, do consumismo, do prazer etc.
Mas esses poços oferecem uma água que torna o ser Humano cada vez mais sedento. Leva-o Ao profundo vazio e, às vezes, a certas enfermidades interiores.
Eles são incapazes de saciar o coração humano. Jesus nos oferece A verdadeira água, que sacia nossa sede, que preenche nossos vazios, Que cura nossas enfermidades e nos tornam “fonte de água que jorra para a vida eterna”.
Aquele que bebe dessa água faz o mesmo que a samaritana, abandona o Cântaro e vai.... Leva Jesus ao povo e o povo a Jesus
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RITO PARA BÊNÇÃO E ASPERSÃO DA ÁGUA
(Sugestão de substituição do Ato Penitencial. Missal p. 1001).

Presidente: Invoquemos o Senhor nosso Deus, para que se digne abençoar esta água que vai ser aspergida sobre nós, recordando o nosso batismo. Que ele se digne ajudar-nos, para permanecermos fiéis ao Espírito que recebemos.

(E, após um momento de silêncio, continua)
Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que pela água, fonte de vida e princípio de purificação, a humanidade fosse purificada e recebesse o prêmio da vida eterna. Abençoai + esta água, para que nos proteja neste dia que vos é consagrado, e renovai em nós a fonte viva de vossa graça, a fim de que nos livre de todos os males e possamos nos aproximar de vós com o coração puro e receber a vossa salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
T. Amém.

(Enquanto o povo é aspergido canta-se: Cd da CF )

Pres. Que Deus todo-poderoso nos purifique dos nossos pecados e, pela celebração desta Eucaristia, nos torne dignos da mesa de seu reino.
T. Amém.

4. ORAÇÃO
S. Oremos: (pausa) Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédios contra o pecado. Acolhei esta confissão de nossa fraqueza, para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. P.N.S.J.C.
T. Amém.

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"Dá-me de beber"

A Quaresma, na Igreja primitiva, além de ser um tempo de penitência e de conversão, era um tempo de preparação para os batizados, que aconteciam no sábado santo, na Vigília Pascal.
Por isso, nesses três domingos, que antecedem a semana santa, aparece o tema batismal com os símbolos:
- da Água, no diálogo com a Samaritana,
- da Luz, na cura do cego;
- da Vida, na ressurreição de Lázaro.
Hoje nos apresenta o símbolo mais importante, a ÁGUA, que exprime o milagre renovado da VIDA.

Na 1a Leitura, o povo pede ÁGUA (Ex 17,3-7)

No deserto, o povo reclama revoltado contra Moisés, pedindo água, para manter-se vivo: "Dá-nos água para beber..." E Deus intervém, fazendo brotar milagrosamente água da rocha de Horeb.
* Moisés dá de beber a seu povo. É imagem de Cristo, que no futuro dará a água da vida, que é o Espírito Santo.

Na 2ª Leitura, São Paulo reafirma que Deus derrama sempre seu Amor em nossos corações, como aconteceu com a Samaritana. (Rm 5,1-2.5-8)

No Evangelho, Jesus pede e oferece ÁGUA à Samaritana. (Jo 4,5-42)
- Jesus cansado... sedento... senta-se ao lado do poço de Jacó...
  Uma mulher anônima... balde vazio... coração vazio... busca água...
- JESUS quebra preconceitos de raça, de sexo, de religião...    e toma a iniciativa: "Dá-me de beber".
- A Mulher estranha... (os apóstolos também): falar com samaritana e mulher...
- Do diálogo nasce a mútua compreensão.
  A mulher descobre em si mesma uma sede mais profunda de amor, pois apesar dos 5 maridos que já tivera, vivia um grande vazio...   E Jesus se revela como água viva, capaz de saciar qualquer sede humana...
- Inicialmente ela fica confusa... no final ela pede "dessa água". Reconhece Jesus como "Salvador do Mundo",
  O Templo onde Deus "deve ser adorado em espírito e verdade".
  Abandona o "Velho balde" e corre para a cidade, para anunciar ao povo a verdade que tinha encontrado.
+ O Caminho da Samaritana:
   Esse Diálogo mostra a grande pedagogia de Jesus, que se revela aos poucos, até chegar à manifestação plena.
   - No começo, a mulher só pensa na água material (seus desejos, os maridos...)
   - Aos poucos começa a compreender e aceitar a proposta de Jesus:
      Inicialmente, ela vê nele apenas um judeu viajante; depois, o chama de "Senhor"; em seguida, reconhece que é um Profeta; No final, descobre nele o Messias esperado pelo povo.
   - Abandona então o balde que dá acesso às suas propostas limitadas de felicidade, e corre até a cidade para anunciar a sua descoberta.
     Essa mulher desprezada, após escutá-lo como DISCÍPULA, torna-se MISSIONÁRIA de Cristo, antes mesmo dos apóstolos...
+ A água do poço é símbolo de todas as satisfações humanas, na esperança de encontrar nelas a nossa felicidade, mas que no fim deixam sempre muito vazio e muitas desilusões...
= Essa água não satisfaz plenamente, todos os dias precisamos voltar ao poço...

+ A água de Jesus é o espírito de Deus, o amor que enche os corações. 
   Só Cristo mata definitivamente a sede de vida e felicidade do homem.
   Essa água nos faz pensar também no BATISMO, que foi o nosso primeiro encontro com Jesus.

+ O nosso caminho...
- No passado, o POÇO sempre foi um lugar de ENCONTRO.
- Os homens continuam ainda hoje procurando um Poço, para saciar sua sede profunda de vida. Buscam cada vez mais "coisas" para saciá-la e nada os satisfaz.
 - Cristo continua vindo ao nosso encontro. Senta perto do nosso poço e nos diz: "Quem tiver sede... venha a mim... e beba..."

- Antes de nos encontrar com Cristo, também nós estávamos preocupados com nossos problemas, desejos, ambições, e o nosso coração estava sempre repleto de tristeza e insatisfação.  Precisávamos todos os dias voltar ao poço e encher o nosso balde...

- Um belo dia, o encontro com Cristo aconteceu...
  A conversa com esse "Jesus" despertou em nós uma curiosidade, que nos levou a conhecer melhor a pessoa de Cristo e sua mensagem.

- No final da caminhada, encontramos essa água viva, prometida por Jesus.
  Abandonamos então o "velho Balde" e sentimos a necessidade de correr para anunciar a todos, como Missionários, a nossa descoberta e a nossa felicidade... 

Façamos nosso o pedido da Samaritana: "Senhor, dá-nos sempre dessa água!"
                                              Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Françoá Costa

Sede de Deus

“O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Deus está apaixonado pelo ser humano, tem sede do pobre amor dos nossos corações. Nós pedimos de beber a alguém que afirma claramente que tem sede. Essa sede de Deus por cada pessoa humana ficou claramente expressada naquele grito que somente o evangelista João conservou no Evangelho: “Tenho sede” (Jo 19,28).  Deus tem sede de que nós tenhamos sede do seu Espírito, da sua vida, da sua graça, da sua glória. Ele tem água abundante, mas tem sede de que nós a bebamos.
“Dá-me de beber” (Jo 4,7) é a expressão daquilo que todo ser humano tem: sede de Deus, que pode ser saciada: aqui pela graça e no céu pela glória. André Frossard no famoso relato da sua conversão, “Deus existe. Eu encontrei-o”, terminava com essas palavras: “l’éternité sera courte” – a eternidade será curta. Trata-se de uma maneira poética de afirmar que diante da grandeza de Deus, a mesma eternidade –um presente sem começo nem fim– será “curta” para deliciar-nos com a presença do Senhor.
Essa sede de viver conforme aquilo que Deus pensou para nós, de apetecer aquilo que constrói realmente uma existência cheia de sentido, de contemplar todas as coisas com a visão purificada e descobrir o esplendor de cada criatura, é uma sede existencial, é uma insatisfação da alma que não encontra sentido fora de Deus. Santo Tomás de Aquino fez uma análise cientificamente rigorosa sobre a felicidade do ser humano (cfr. S.Th. II-II, q. 2–5), na qual começava por estudar o fato de que a felicidade não pode consistir nas riquezas, nem na honra, na fama ou na glória; tampouco consiste no poder, no bem do corpo, no prazer, nalgum bem da alma ou num bem criado qualquer. Talvez, na sociedade atual, vale a pena enfatizar que a felicidade não consiste nas riquezas nem nos prazeres. Penso somente nessas duas questões porque, infelizmente, os nossos tempos não se destacam pelo cultivo das coisas do espírito e, por tanto, a honra, a glória, os bens da alma e o conhecimento das dimensões mais profundas dos elementos criados geralmente importam pouco.
Como poderia consistir a felicidade do homem nas riquezas, naturais ou artificiais, se estas são sempre finitas? A uma riqueza sempre se pode acrescentar outra. Como se pode ver, podemos passar a vida acumulando riquezas sem saciar-nos. Por outro lado, como poderia consistir a felicidade do ser humano nos prazeres se esses são apenas um principio de conhecimento? “O apetite veemente pelo deleite sensível deve-se ao fato de que as operações dos sentidos são mais perceptíveis, porque são princípios do nosso conhecimento. É por isso que a maioria deseja os deleites sensíveis” (Santo Tomás de Aquino). Logicamente, o prazer, quando surge de um bem real, é bom. Sem dúvida, é bom e agradável a Deus o prazer que os membros de uma família experimentam numa deliciosa comida dominical num ambiente festivo e moderado pela virtude; é bom e agradável a Deus o prazer que o homem e a mulher, unidos por santo matrimônio, sentem ao gerar os filhos; é bom e muito agradável a Deus o prazer que podemos sentir ao cumprir os nossos deveres de estado. Não obstante, o prazer, quando procede dos desejos desordenados, pode absorver de tal maneira as faculdades superiores, inteligência e vontade, que poderia cegar-nos. Os prazeres desordenados poderiam levar ao desprezo da virtude, inclusive poderia levar ao pior pecado que dar-se pode: o ódio a Deus. Neste caso, Deus seria odiado porque apareceria aos olhos do pecador como inimigo da sua vida desordenada de prazeres.
A leitura atenta descobre facilmente a importância da água para S. João. É somente nesse Evangelho que nós lemos o relato das bodas de Caná, onde Jesus transforma a água em vinho (cfr. Jo 2,1-12); no capítulo seguinte encontramos aquela afirmação que sempre nos comove: “quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5); depois a passagem, que acabamos de escutar, que nos relata o encontro de Jesus com a Samaritana (cfr. Jo 4,1-42); era pelo movimento da água que os enfermos eram curados na piscina de Betesda (cfr. Jo 5,1-18). De fato, o Catecismo da Igreja Católica afirma que o simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo, que brota do lado aberto de Cristo crucificado (cfr. Cat 694).
É no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz, os nossos prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança. Distanciar-nos daí é sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é viver uma vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da vida humana, não ser feliz. –
Pe. Françoá Costa

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Homilia de D. Henrique Soares da Costa
A Quaresma é tempo de caminho para a santa Páscoa, Páscoa de Cristo e nossa. Ora, é pelo Batismo e a Eucaristia que entramos misteriosamente na Páscoa do Senhor, no seu mistério de morte e ressurreição. Por isso celebramos a Noite Santa de Páscoa com o Batismo e a Eucaristia! Pois bem, o Evangelho de hoje é uma belíssima catequese batismal!
Acompanhemos passo a passo este texto belíssimo. “Chegou uma mulher da Samaria para buscar água”. Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos, procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo”. Consumismo, sexo, liberdade desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites, facilidades… nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca a mulher:“Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. Frase estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida eterna. Em Jo 7,37, Jesus convidou: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim”. E o Evangelista recorda que do seio do Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jo 7,38). E quem é que pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!
Diante disso, a Samaritana – e nós também – suplica: “Senhor, dá-me dessa água!” Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como aquele outro pedido: “Senhor, dá-nos deste pão” (Jo 6,34). Eis o Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco, fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a verdade: “Vai chamar teu marido!” A mulher era adúltera, com vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela que os pagãos adoram o que não conhecem, porque “a salvação vem dos judeus!” Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus, porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: “Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade” e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!
Finalmente, o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: “Tenho um alimento que não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana… e ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: “Levantai os olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia, outro o que colhe!” O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.
Que dizer mais? Somos a colheita de Cristo! “Estamos em paz com Deus por Jesus Cristo”. Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já experimentamos em nós a vida eterna, pois “o amor de Deus foi derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” E tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai, que é o alimento de Jesus!
Eis! Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus, aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento, procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito, que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a Páscoa da glória! Amém.

D. Henrique Soares da Costa
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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
 Os evangelhos dos dois primeiros domingos da Quaresma, nos três anos, estão sempre centrados em Cristo tentado e transfigurado; os outros três domingos preparam mais diretamente para o batismo ou à renovação das promessas na noite da Páscoa” (Cristo, festa da Igreja, pág. 268). Como estamos no ano A, cujo itinerário quaresmal sublinha mais o aspecto batismal, a começar deste III Domingo as perícopes evangélicas são eminentemente catequeses batismais (Samaritana, Cego de nascença, Ressurreição de Lázaro). É uma verdadeira síntese do significado do batismo como vida nova que brota do mergulho na morte e ressurreição de Cristo, que é a água viva, a luz do mundo, e a ressurreição e a vida.
Apesar de a liturgia deste domingo destacar especificamente o encontro-diálogo de Jesus com a Samaritana, não podemos esquecer que na introdução do capítulo (4,1-2) aparece claramente o tema do batismo. Diante da riqueza inesgotável do texto, destacaremos apenas alguns dos seus elementos considerando a sua perspectiva de catequese batismal:
1. Batismo é dom gratuito: Jesus, chegando primeiro ao poço de Jacó, aguarda a mulher que vem pegar água; Ele toma a iniciativa de lhe oferecer uma água superior àquela que ela pretende tirar. Apesar de ser a fonte de água viva, Jesus se coloca diante da Samaritana como um sedento: “Dá-me de beber”. Apresentar-se diante do outro, sobretudo quando há inimizade, na cultura do Antigo Oriente, era manifestar o seu desejo de reatar as relações, estabelecer a paz. Ademais, a sede de Jesus se revelará como desejo ardente de saciar a sede da mulher, de dar-lhe vida plena, que começa com a iluminação da sua história nem sempre exemplar, mas que será necessário reconhecer e assumir a fim de curar as feridas do seu coração preconceituoso e seus sentimentos de inferioridade: “Como tu judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher Samaritana?” Pregado na cruz, Jesus mais uma vez confirma qual é, de fato, a sua sede (Jo 19,28). À samaritana Ele promete a água viva, na cruz Ele realiza essa promessa entregando o seu Espírito e do seu coração traspassado fazendo brotar água e sangue, símbolos do Batismo e da Eucaristia, os sacramentos que consolidam a missão e a identidade da Igreja, a sua esposa, a nova Eva, tirada do seu lado aberto, anunciada simbolicamente no encontro com a mulher Samaritana, chamada à fidelidade da Nova Aliança, firmada em espírito e em verdade.
2. Batismo é vida nova: ao prometer a água viva, Jesus desafia a Samaritana a ter uma vida nova. E, portanto, não haverá mais necessidade de voltar ao poço, não viverá mais como uma infiel, pois teve cinco maridos, e o atual não era dela, não precisará mais de um cântaro para transportar água, pois nela se fará uma fonte de água jorrando para a vida eterna. Todo ser humano sedento de plenitude de vida, ao receber o dom do batismo, inicia um caminho conduzido pela palavra de Jesus e pela graça do Espírito Santo, a fim de que a vida nova recebida como dom não pereça. Contudo, deve abandonar os ídolos (maridos) para realizar os esponsais com o único Senhor, aquele que é o Senhor da vida. A vida nova recebida no batismo progride à medida que se cresce no conhecimento da pessoa de Jesus, pois essa vida nova significa configurar-se a Ele. Assim como a Samaritana foi amadurecendo na fé, partindo do reconhecimento preconceituoso de Jesus (tu, Judeu), passando por um processo de conversão, isto é, abertura de coração e mudança de atitudes, deixando-se orientar e corrigir (profeta) até a profissão de fé mais perfeita (Cristo), todo batizado, e não apenas os catecúmenos, precisa assumir na sua vida um permanente aprofundamento da pessoa de Jesus, crescendo nas convicções de segui-lo e de testemunhar a sua fé nele. Por isso, rezamos no primeiro Domingo da Quaresma: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa”.
3. Batismo é fundamento da missão: Na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (n. 9), o Papa Francisco nos recorda: “O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: «O amor de Cristo nos absorve completamente» (2 Cor 5,14); «ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9,16). Sem dúvida, esta foi a experiência da Samaritana e, portanto, deve ser a de todo batizado. A missão não é algo artificial que procura estratégias para impor aos outros ideias ou pensamentos pessoais ou de um grupo, mas é, antes de tudo, testemunho convicto: “Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava: ‘Ele me disse tudo o que eu fiz”.
O percurso quaresmal reaviva em nós esta dinâmica própria do batismo, graça que nos é oferecida gratuitamente no sacramento e que compartilhamos gratuitamente na missão.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou Ministros extraordinários da Palavra):

Louvor: (Quando o Pão consagrado estiver sobre o altar)
-  o senhor esteja com todos vocês... demos graças ao senhor...com jesus, por jesus e em jesus, na força do E. santo, louvemos ao Pai
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Pai, Nós vos bendizemos porque habitais no meio de nós. Tirastes o povo escravo no Egito e por meio de Moisés fizestes jorrar água do rochedo. Nós vos pedimos: dái-nos mais confiança na vossa presença em nosso meio de nós.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Nós vos damos graças por Jesus, vosso Filho, que aceitou morrer por nós e pelo Espírito Santo que nos foi derramado em nosso batismo. Nós vos pedimos por todos que atravessam períodos de dúvida, por causa das provações e sofrimentos. Pai, olhai por eles dando força e coragem para fiquem cheios de vossa graça.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Bendito sejais, Senhor, porque nos revelais a água viva da presença de vosso Filho e do Espírito Santo no meio de nós. Fortificados pela graça do batismo, aumentai a nossa fé e fazei que sempre tenhamos sede de vos conhecer e amar.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade.
- Pai Nosso...  A Paz de cristo...  eis o cordeiro...


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