2º DOMINGO DA QUARESMA ANO A 2020 (Diácono Ismael)
SINOPSE:
PRIMEIRA LEITURA (Gn 12,1-4a) ...o Senhor
disse a Abrão: “Sai da tua terra, e vai para a terra que eu te vou mostrar.
Farei de ti um grande povo. E Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito.
AMBIENTE
- Texto
das tradições patriarcais durante o 2º milênio A.C. e reflexões teológicas
posteriores destinadas a apresentar modelos de vida e de fé.
MENSAGEM
– A
humanidade que escolheu o pecado; agora, o autor
vai apresentar um novo ponto de partida: Para isso, Deus chamou Abraão a
deixar a sua terra e ele pôs-se a caminho, confiando na Palavra de Deus. O Povo
nascido de Abraão será uma fonte de bênção para todas as nações: Israel será testemunha da salvação a todos os povos.
Não é um privilégio concedido a Israel, mas uma responsabilidade.
ATUALIZAÇÃO • Abraão é o homem que encontra Deus, que está atento aos seus sinais e responde aos desafios com uma obediência total.
• Abraão questiona o homem
comodista, que prefere apostar na segurança do que já tem, em vez de arriscar
na novidade de Deus.
• Deus tem um projeto para os
homens e continua a vir ao seu encontro com novas propostas.
SALMO
RESPONSORIAL / Sl 32 (33)
Sobre nós venha,
Senhor, a vossa graça, venha a vossa salvação!
•
Pois reta é a palavra do Senhor, / e tudo o que ele faz merece fé. / Deus ama o
direito e a justiça, / transborda em toda a terra a sua graça.
•
Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem / e que confiam esperando em
seu amor, / para da morte libertar as suas vidas / e alimentá-los quando é
tempo de penúria.
•
No Senhor, nós esperamos confiantes, / porque Ele é nosso auxílio e proteção! /
Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça / da mesma forma que em vós nós
esperamos!
EVANGELHO (Mt 17,1-9) Jesus tomou
consigo Pedro, Tiago e João e os levou a sobre uma alta montanha. E foi
transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas
ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando
com Jesus. Então Pedro disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou
fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”.
Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra.
E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu
agrado. Escutai-o!” Quando ouviram isto, os discípulos ficaram assustados e
caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse:
“Levantai-vos e não tenhais medo”. Os discípulos ergueram os olhos e não viram
mais ninguém, a não Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não
conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos
mortos”.
AMBIENTE
- É
uma catequese sobre Jesus. Depois de terem ouvido falar do “caminho da
cruz”, os discípulos estão desanimados, pois parece um fracasso. É neste
contexto que Mateus coloca a transfiguração. A cena constitui uma palavra de
ânimo para os discípulos, pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se
que Ele é o Filho amado de Deus. O projeto que Jesus apresenta é um
projeto que vem de Deus; e recebem esperança que lhes permite apostar nesse
projeto.
A transfiguração é uma teofania –
uma manifestação de Deus. O autor coloca todos os ingredientes que acompanham
as manifestações de Deus (nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o
monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo
daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isto quer dizer: não
estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese
a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz um projeto de Deus.
MENSAGEM
- Esta
catequese está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento:
é sempre num monte que Deus Se revela; e, faz uma aliança com o seu
Povo. A mudança do rosto e as vestes recordam o resplendor de Moisés, ao
descer do Sinai. A nuvem indica a presença de Deus quando conduzia o seu
Povo através do deserto. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas.
Além disso, são personagens que, de acordo com a
catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a
salvação definitiva.
O temor e a perturbação
são a reação de qualquer homem diante da majestade de Deus.
As tendas parecem aludir
à “festa das tendas”, em que se celebrava o
tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.
A mensagem deixa claro que Jesus é o
Filho amado de Deus e também o Messias libertador e salvador esperado por
Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias): ele é um
novo Moisés através de quem o próprio Deus dá a nova lei e uma nova aliança.
Da ação libertadora de Jesus irá nascer
um novo Povo de Deus. Com esse novo Povo, Deus vai fazer uma nova aliança; e
vai conduzi-lo através do “deserto” que leva da escravidão à liberdade.
Esta apresentação tem
como destinatários os discípulos de Jesus (grupo frustrado porque no horizonte
está a cruz e porque o mestre exige que aceitem caminho semelhante). Ela aponta para a ressurreição, aqui anunciada
pela glória de Deus que se manifesta em Jesus, pelas vestes resplandecentes (que lembram as vestes dos anjos – e pelas
palavras finais de Jesus (“não conteis a ninguém”): diz-lhes que a cruz não
será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus (e dos discípulos) está a
ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.
Pedro quer construir três tendas. Os
discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, ignorando o
destino de sofrimento de Jesus. Jesus nem responde à proposta: Ele sabe que o
projeto de Deus tem de passar pelo amor até às últimas consequências.
ATUALIZAÇÃO
• A
transfiguração revela Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o
projeto salvador e libertador. Pela transfiguração, Deus demonstra que uma
existência feita dom não é fracassada – mesmo na cruz.
• A
transfiguração grita-nos: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao
fracasso, mas à ressurreição, à felicidade sem fim.
• Os três
discípulos parecem não ter vontade de “descer” e enfrentar o mundo e os
problemas. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alheios
a realidade do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar.
Jesus obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar com o dom da vida; A
religião é um compromisso com Deus, que se faz amor com o mundo.
Com a TRANSFIGURAÇÃO, Mateus quer duas
coisas: - Revelar: QUEM É JESUS: É "o Filho amado do Pai" e - Convidar: "Escutem o que ele diz".
SEGUNDA LEITURA (2Tm 1,8b-10) Paulo a Timóteo.
Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras,
mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo
Jesus. Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador,
Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a
imortalidade por meio do Evangelho.
AMBIENTE
- Timóteo
recebeu a “imposição das mãos” para anunciar o Evangelho. Estão começando as
grandes perseguições; muitos estão desanimados e vacilam na fé. É preciso que
mantenham o ânimo e ajudem as comunidades.
MENSAGEM
- Mesmo
no meio das perseguições e dificuldades, todos não podem desistir da missão que
Deus lhes confiou… Têm de ser testemunhas vivas, entusiastas e corajosas do
projeto amoroso de Deus.
ATUALIZAÇÃO • Nós somos as testemunhas vivas de Deus e do seu projeto para o mundo. O comodismo não pode distrair-nos dessa responsabilidade. Temos a missão de animar e orientar a comunidade – sinais vivos de Deus, do seu amor, da sua bondade e ternura, da sua preocupação com os homens.
• As dificuldades
não podem ser uma desculpa para fugirmos das nossas responsabilidades e de
levarmos a sério a vocação a que Deus nos chama.
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No Domingo
passado, meditamos sobre as tentações de Jesus. Jesus deseja preparar o seus
para as dores da paixão. Pedro, Tiago e João, o três que estão no Tabor são os
mesmos que estarão no Jardim das Oliveiras. Também somos chamados, como Abraão,
a sair: sair de nós mesmos, transfigurados à imagem do Cristo Jesus! Tenhamos a
coragem de atravessar o deserto interior, enfrentar o deserto do nosso coração!
Somente assim chegaremos ao nosso destino. Paulo diz: “Sofre comigo pelo
Evangelho. Deus nos salvou e nos chamou
a uma vocação santa… Nunca esqueçamos: este mundo mergulhado na
violência (violência da injustiça, violência do desrespeito à dignidade humana,
violência da fome, violência dos atentados à paz, violência das drogas e das
mentiras, violência dos meios de comunicação, violência da negação de Deus)…
este mundo precisa de nosso testemunho e de nossa palavra, mesmo quando nos
rejeita, quando despreza o nome de Cristo, quando deseja esquecer o seu Senhor
e pisar os valores do Evangelho!
Deixemo-nos,
portanto, transfigurar pelo Senhor e sejamos luz para o mundo!
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Do Tabor ao Calvário
A Vida cristã pode ser comparada a uma
caminhada que deve ser percorrida na escuta atenta de Deus, na observância
total aos seus planos.
Na
1a Leitura, vemos a Caminhada
de Abraão: (Gen 12,1-4)
- Deus chama Abraão, convida-o a deixar
a terra e a família e a partir ao encontro de uma outra terra, para ser um
sinal de Deus no meio dos homens.
- Deus lhe oferece a sua bênção e a
promessa de uma família numerosa, que será testemunha da Salvação de Deus
diante de todos os povos.
- Diante do desafio de Deus, Abraão
pôs-se a caminho.
Abraão percebe o projeto de Deus e o segue de todo o coração.
Na 2ª leitura, Paulo exorta
Timóteo a superar a sua timidez e a ser um modelo de fidelidade no testemunho da
fé. (2Tm 1,8b-10)
No Evangelho,
vemos a Caminhada de
Jesus: (Mt 17,1-9)
A caminho de Jerusalém, Jesus faz o
primeiro anúncio da Paixão.
O caminho da salvação esperado pelos
discípulos é bem diferente.
Por isso, ficam profundamente
desanimados e frustrados.
A aventura parece encaminhar-se para um
grande fracasso.
- Para fortalecer o ânimo profundamente
abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, e revela-lhes
no Monte Tabor a glória da divindade.
Após um momento de medo, eles reencontram
a paz e a alegria.
Com a TRANSFIGURAÇÃO, Mateus quer duas
coisas:
- Revelar: QUEM É JESUS: É "o Filho amado do Pai" e
- Convidar: "Escutem o que ele diz".
* Pela Transfiguração, Deus demonstra
que uma existência feita dom não é fracassada, mesmo quando termina na cruz.
A vida plena e definitiva espera, no
final do caminho, todos os que forem capazes de pôr sua vida a serviço dos
irmãos, como Jesus.
A Nossa caminhada para Deus:
Também nós somos chamados a uma
caminhada, que começa com o BATISMO.
No final dessa viagem, seremos
envolvidos pela mesma "nuvem
luminosa", que envolveu o Mestre e brilharemos como o sol no reino do
Pai.
O Papa enviou uma linda Mensagem
Quaresmal,
que vou tentar resumir. Inicia com as palavras de Paulo (Cl 2,12):
"Sepultados com ele no BATISMO, foi
também com ele que ressuscitastes".
A
Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico
muito precioso e importante... para intensificar o seu caminho de purificação
no espírito, para haurir com mais abundância do mistério da Redenção a Vida
nova em Cristo Senhor.
Essa vida já nos foi transmitida no dia
do nosso Batismo, quando iniciou para nós a aventura jubilosa do discípulo.
Um vínculo particular liga o Batismo com
a Quaresma, como momento favorável para experimentar a Graça que salva.
A Igreja associa sempre a Vigília Pascal
à celebração do Batismo.
Os textos evangélicos da Quaresma nos
guiam para um encontro intenso com o Senhor, fazendo percorrer as etapas do
caminho da Iniciação cristã.
- O Primeiro domingo evidencia a nossa
condição de homens nesta terra.
O combate vitorioso contra as Tentações é um convite a tomar
consciência da própria fragilidade, para acolher a Graça que liberta do pecado
e infunde nova força em Cristo.
- A Transfiguração
do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos
a um alto Monte para acolher de novo em Cristo, como filhos do Filho, o dom da
Graça de Deus: "Este é o meu Filho
amado: Escutai-o".
- O pedido de Jesus à Samaritana "Dá-me de beber" exprime a paixão de Deus por todos os
homens e quer suscitar em nosso coração o desejo dessa água que jorra para a
vida eterna. É o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos verdadeiros "adoradores do Pai, em espírito e
verdade..."
- A Cura do Cego de Nascença apresenta Cristo como Luz do Mundo.
O Evangelho nos interpela: "Tu crês no Filho do Homem?" "Creio, Senhor", afirmou com
alegria o cego... fazendo-se voz de todos os crentes.
- No 5º domingo, a Ressurreição de Lázaro nos põe diante do último mistério da
nossa existência: "Eu sou a
ressurreição e a Vida... crês tu isto?"
A resposta de Marta deve ser a nossa:
"Sim, eu creio que tu és o Filho de Deus".
Na grande Vigília Pascal, renovamos as promessas batismais e
reafirmamos que Cristo é o Senhor de nossa vida, daquela vida que Deus nos
comunicou no Batismo e reconfirmamos...
Mediante o encontro pessoal com o nosso
Redentor e através do Jejum, da Esmola e da Oração, o caminho de conversão rumo
à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Batismo.
Renovemos nessa Páscoa o acolhimento da
graça, que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as
nossas ações.
Pe.
Antônio Geraldo
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Homilia
de D. Henrique Soares da Costa
No Domingo
passado, primeiro da Quaresma, meditamos sobre as tentações de Jesus. O Senhor
no deserto, lutando contra o diabo, convidava-nos ao combate espiritual,
próprio do deserto quaresmal. Sim, porque é isso que o tempo santo que estamos
vivendo deseja ser: tempo de retiro no deserto do coração para combater nossos
demônios interiores e, pela oração, a penitência, a caridade fraterna, a escuta
da Palavra de Deus e a reconciliação sacramental, caminharmos para a santa Páscoa.
Na liturgia de
hoje, ladeado por Moisés e Elias, que também enfrentaram durante quarenta dias
e quarenta noites o combate no deserto para experimentarem o fulgor da glória
de Deus, Jesus nos mostra qual a finalidade do nosso caminho quaresmal, Jesus
nos revela aonde nos leva nosso combate espiritual. Qual o objetivo? Qual a
finalidade? Ei-los: celebrar com ele a sua Páscoa, sendo com ele transfigurado
em glória! Nosso objetivo, nosso escopo, o feliz e gozoso fim do nosso caminho
é o Cristo envolto na sua glória pascal que nos transfigura também a nós! Mais
que Moisés e Elias, nós seremos envolvidos da glória de Cristo, aquela glória
que é o Espírito Santo que o Pai derramou sobre ele na sua ressurreição!
Passaremos, portanto, do roxo quaresmal, tão sóbrio, para o esfuseante branco
pascal, sinal da glória e da imortalidade, transfigurados em Jesus e por Jesus,
o homem perfeito, modelo de todo ser humano que vem a este mundo. Um dia, meus
caros em Cristo, passaremos do roxo das lágrimas desta vida, para o branco da
glória eterna dos que, revestidos da glória do Cordeiro, haverão de segui-lo
para sempre! De Quaresma em Quaresma e de Páscoa em Páscoa, passaremos da
Quaresma deste mundo para a Páscoa da glória eterna!
Mas, detenhamo-nos
um pouco no Tabor do Evangelho hodierno. Ele é prenúncio, uma misteriosa
antecipação da ressurreição. Com sua bendita Transfiguração, Jesus deseja
preparar o seus para as dores da paixão – do mesmo modo que a Igreja nos deseja
alentar e motivar para as renúncias e observâncias quaresmais. Por isso mesmo,
Pedro, Tiago e João, o três que estão no Tabor são os mesmos que estarão no
Jardim das Oliveiras. Por isso também o Evangelho de hoje termina com uma
alusão à ressurreição de Jesus dentre os mortos e, o relato da transfiguração em
Lucas afirma que “Jesus falava de sua partida que iria consumar-se em
Jerusalém” (9,30). Eis: Moisés e Elias, a Lei e os Profetas dão testemunho
da paixão do Senhor: tudo estava no misterioso desígnio de Deus! Após a
ressurreição, isso ficará claro: “’Não era preciso que o Cristo
sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?’ E começando por Moisés e por
todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia
respeito” (Lc 34,26-27). Eis que mistério: a Lei (Moisés) e os Profetas
(Elias) dão testemunho de Jesus e aparecem iluminados por ele. Somente nele, na
luz da sua cruz e ressurreição, o Antigo Testamento encontra sua plenitude e
sua luz!
Sendo assim,
levantemo-nos! Tornemos, generosos, nosso caminho quaresmal! Também nós somos
chamados, como nosso pai Abraão o foi, a sair: sair de nós mesmos, sair de nós
velhos para nós renovados, transfigurados à imagem do Cristo Jesus! Tenhamos a
coragem de atravessar o deserto interior, enfrentar o deserto do nosso coração,
como Moisés e Elias, como o povo de Israel, como o próprio Senhor Jesus, que
por nós quis ser tentado no seu período de deserto! Somente assim chegaremos
renovados e purificados ao nosso destino. Este destino não é um lugar, mas uma
situação, uma realidade: é o homem novo, transfigurado à imagem do Cristo que,
após o tormento imenso da cruz, foi glorificado pelo Espírito do Pai. Eis o
caminho quaresmal: do homem velho ao homem novo, do pecado à graça, do vício à
virtude, da preguiça espiritual à generosidade, da morte à vida, da tristeza à
alegria… trazendo em nós, na nossa vida, o reflexo da glória do próprio Cristo
Jesus! Não é este o significado das palavras de São Paulo, na segunda leitura
de hoje? “Sofre comigo pelo Evangelho. Deus nos salvou e nos chamou a
uma vocação santa… em virtude da graça que nos foi dada em Jesus Cristo. Esta
graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo.
Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade”.
Eis! Os sofrimentos e lutas desta vida não são pesados se compararmos com o
objetivo tão alto que nos preparam!
Caríssimos, que as
práticas quaresmais, vividas com generosa fidelidade, arrancando o pecado que
nos torna opacos, possam revelar em nós o resplendor da glória de Cristo a que
somos chamados e que já está presente em nós desde o nosso batismo!
Mais ainda: que a
novidade de nossa vida transborde para o mundo, que tanto tem necessidade do
testemunho dos cristãos. Nunca esqueçamos: este mundo mergulhado na violência
(violência da injustiça, violência do desrespeito à dignidade humana, violência
da fome, violência dos atentados à paz, violência das drogas e das mentiras,
violência dos meios de comunicação, violência da negação de Deus)… este mundo
precisa de nosso testemunho e de nossa palavra, mesmo quando nos rejeita,
quando despreza o nome de Cristo, quando deseja esquecer o seu Senhor e pisar
os valores do Evangelho!
Deixemo-nos,
portanto, transfigurar pelo Senhor e sejamos luz para o mundo! Como pede a
oração inicial da Missa hodierna: Senhor, “que purificado o olhar da
nossa fé, nos alegremos com a visão da vossa glória!” Por Cristo, nosso
único Senhor. Amém. – D.
Henrique Soares
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Homilia do Mons.
José Maria Pereira
ENCONTRAR E OUVIR
O FILHO!
O Evangelho (Mt
17, 1-9) relata-nos o que aconteceu no Tabor.
A caminho de
Jerusalém, Jesus faz o primeiro anúncio da Paixão. Disse que iria sofrer e
padecer em Jerusalém, e que morreria às mãos dos príncipes dos sacerdotes, dos
anciãos e dos escribas. Os apóstolos tinham ficado aflitos e tristes com a
notícia. O caminho da salvação esperado pelos discípulos é bem diferente! Para
fortalecer o ânimo profundamente abalado dos discípulos, Jesus toma consigo
Pedro, Tiago e João e leva-os a um lugar à parte para orar. Aí, no Monte Tabor,
revela-lhes a glória da divindade. “Enquanto orava, o seu rosto transformou-se
e as suas vestes tornaram-se resplandecentes” (Lc 9, 29).
São Leão Magno diz
que “a finalidade principal da Transfiguração foi desterrar das almas dos
discípulos o escândalo da Cruz.”
Pela
Transfiguração, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada,
mesmo quando termina na Cruz. Também nos revela que Jesus é “o Filho amado do
Pai” e nos convida a escutar o que Ele diz.
A Transfiguração
do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos
a um alto Monte para acolher de novo, em Cristo, como filhos do Filho, o dom da
Graça de Deus: “Este é o meu Filho amado: Escutai-O.”
A Transfiguração
foi uma centelha de glória divina que inundou os apóstolos de uma felicidade
tão grande que fez Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou
fazer aqui três tendas…” (Mt 17, 4). Pedro quer prolongar aquele momento. Mas,
Pedro não sabia o que dizia; pois o que é bom, o que importa, não é estar aqui
ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-lo por trás das
circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Ele, tanto faz que
estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados no leito de um
hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto: vê-lo e
viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na
vida presente e na outra. Desejo ver-te, Senhor, e procurarei o teu rosto nas
circunstâncias habituais da minha vida!
São Beda diz que o
Senhor, “numa piedosa autorização, permitiu que Pedro, Tiago e João fruíssem
durante um tempo muito curto da contemplação da felicidade que dura para
sempre, a fim de fortalecê-los perante a adversidade”. A lembrança desses
momentos ao lado do Senhor, no Tabor, foi sem dúvida uma grande ajuda nas
várias situações difíceis em que estes três Apóstolos viriam a passar.
A Transfiguração
leva-nos a pensar no Céu, que é a nossa morada. O Senhor quer confortar-nos com
a esperança do Céu, de modo especial nos momentos mais duros ou quando se torna
mais patente a fraqueza da nossa condição: “à hora da tentação, pensa no Amor
que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de
generosidade” (Caminho, 139).
O pensamento da
glória que nos espera deve animar-nos na nossa luta diária. Nada vale tanto
como ganhar o Céu. Ensina Santa Teresa: “E se fordes sempre avante com essa
determinação de antes morrer do que desistir de chegar ao termo da jornada, o
Senhor, mesmo que vos mantenha com alguma sede nesta vida, na outra, que durará
para sempre, vos dará de beber com toda abundância e sem perigo de que vos
venha a faltar.”
“Este é o meu
Filho amado: ouvi-O”. Deus Pai fala através de Jesus Cristo a todos os homens,
de todos os tempos. Ensinava o papa João Paulo II: “procura continuamente as
vias para tornar próximo do gênero humano o mistério do seu Mestre e Senhor:
próximo dos povos, das nações, das gerações que se sucedem e de cada um dos
homens em particular” (Encíclica Redemptor Hominis, 7). A sua voz faz-se ouvir
em todas as épocas, sobretudo através dos ensinamentos da Igreja.
Nós devemos
encontrar Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que
nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência
(Confissão), e sobretudo na Eucaristia, onde se encontra verdadeira, real e
substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas
ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o extraordinário.
Mons. José
Maria Pereira
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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
O episódio da Transfiguração do Senhor, neste Segundo Domingo da
Quaresma, está intimamente relacionado com a narração das tentações de Jesus
que meditamos oito dias atrás; pois dois elementos fundamentais estão presentes
em ambas as situações. Por um lado, a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus,
mas ao mesmo tempo a tentação (Diabo e Pedro) de impedi-lo de cumprir com
coerência e fidelidade a sua missão de Servo Sofredor.
A versão da Transfiguração que encontramos no lecionário dominical, por
questão de adaptação à leitura litúrgica, substitui: “E seis dias depois” (grego: Kai meth’ hemeras hex) por “Naquele tempo”. Porém, a expressão original nos dá
uma chave de leitura importantíssima para captarmos bem o significado teológico
da Transfiguração tanto no contexto do evangelho de Mateus quanto à luz Antigo
Testamento. Em primeiro lugar, os vários elementos que aparecem na cena da
transfiguração fazem referência a Êxodo 24,13-16, quando a expressão “seis dias” indica o tempo no qual Moisés permaneceu na
montanha de Deus, sob a nuvem, a fim de receber as tábuas da Lei; no 7º dia
Deus chamou Moisés do meio da nuvem e manifestou-lhe a sua glória como um fogo
consumidor. Ademais, encontramos também uma referência ao profeta Elias que,
por sua vez, também na montanha de Deus, fez a experiência do encontro com o
Senhor (1Rs 19,8-18), cujas manifestações que antecederam a sua presença
levaram o profeta a cobrir o seu rosto com o manto.
No evangelho, quando lemos a expressão “Seis dias depois”,
naturalmente nos vem a pergunta: “De quê?” (O que aconteceu antes?). Portanto,
é bom ter presentes estes últimos episódios: a confissão de Pedro (Mt
16,13-20), o anúncio da paixão e a tentação de Pedro (Mt 16,21-23), as
condições para seguir Jesus (Mt 16,24-26) e, por fim, o próprio anúncio da
Transfiguração: “Em verdade vos digo que alguns
dos que aqui estão não provarão a morte até que vejam o Filho do Homem vindo em
seu Reino” (Mt 16,28). Por isso, daqueles que ali estavam
presentes, “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João”.
Serão eles as testemunhas de que o Reino chegou com Jesus de Nazaré, o Filho de
Deus, aquele que vai morrer e, ao terceiro dia, ressurgirá.
Tanto no centro do relato dos acontecimentos anteriormente mencionados
quanto na narração da Transfiguração encontramos a tentação de Pedro, que
procura impedir Jesus de cumprir sua missão: “Pedro começou a repreendê-lo:
Deus não te permita, Senhor” (Mt 16,22), “Senhor, é bom estarmos aqui” (Mt 17,4); em outras
palavras, Pedro estava querendo dissuadir Jesus para que permanecesse no monte
da Glória, sob a proteção de uma tenda e, assim, não teria que descer de lá
para subir o monte da Cruz. Em ambos os casos, Pedro tenta Jesus para que
abandone o caminho do sofrimento, da cruz, assim como fez o Satanás no deserto
quando sugeriu que Jesus matasse a sua fome com um toque mágico, exigisse a
proteção de Deus sem obediência e alcançasse o poder e a riqueza renegando a
sua filiação divina.
Assim como Satanás propôs a Jesus três proteções ilusórias (material: o
pão; divina: os anjos; humana: o poder e a riqueza), Pedro quer erguer três
tendas para proteger os três personagens importantes da cena. Contudo, essa
aparente benevolência de Pedro acarretaria um grande dano: impedir que as
Escrituras, representadas em Moisés e Elias, se realizassem plenamente com a
morte e ressurreição de Jesus; é mais uma tentativa de afastar Jesus da cruz. O
objetivo é claro: ao construir uma tenda para cada um, Pedro isolará os três e
impedirá o diálogo (Lucas explicita que a conversa era sobre a morte de Jesus
em Jerusalém: Lc 9,30-31) entre Moisés (Lei), Elias (Profecia) e Jesus (Palavra
Encarnada), que já tinha afirmado: “Não vim para revogar a Lei e os
Profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Jesus é
aquele que realiza o autêntico diálogo entre o Antigo Testamento (Moisés e
Elias) e o Novo Testamento (Pedro, Tiago e João). É o próprio Pai, cuja palavra
se faz ouvir nas Escrituras, que declara ser o seu Filho amado, o único
intérprete fiel da Lei e dos Profetas. Assim como no deserto, Jesus venceu as
tentações do diabo com a proclamação da palavra do seu Pai (“Não só de pão viverá o homem…” Não tentarás o Senhor teu Deus”, “Ao
Senhor teu Deus adorarás…”), agora diante das tentações de Pedro (e
dos discípulos) é a Palavra do Pai mais uma vez que se faz ouvir: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o”.
Assim como as tentações foram vencidas pela obediência de Jesus à Palavra de
Deus, agora os discípulos são instruídos para que também aprendam a vencê-las.
Satanás vencido, recuou (“O diabo o deixou”),
os discípulos, por sua vez, ouvindo a voz do céu: “Muito assustados, caíram com o rosto no chão”,
portanto, foram derrotados nas suas tentações, mas Jesus os ergue, fazendo-os
participar antecipadamente da sua ressurreição pois dirige-lhes as palavras
próprias do ressuscitado: “Não tenhais medo”
(Mt 28,10).
Quaresma é tempo de renovar o nosso compromisso de seguir os passos de
Jesus que exige de nós a coragem de desamarmos as nossas tendas (comodismo,
egoísmo, descompromisso etc.). Armar a tenda no monte da transfiguração pode
ser prazeroso, mas nos impede de prosseguir o caminho que leva à verdadeira
vitória, que não se alcança senão subindo o monte da cruz. Mais uma vez é a
Palavra de Deus a nos guiar e fortalecer na luta contra as tentações das
inúmeras tendas, que ao longo do caminho encontramos.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou ministros
da Palavra):
LOUVOR: (quando o Pão Sagrado estiver
sobre o altar)
- O Senhor esteja com todos vocês...
Demos graças ao Senhor, o nosso Deus...
- Com Jesus, por Jesus e em Jesus, na
força do Espírito Santo Louvemos ao Pai:
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de
bondade!
- Pai! Nós Vos damos
graças por Abraão, que escolhestes e chamastes para constituir um novo povo.
Somos o vosso povo. Recebemos o Batismo e somos profetas em vosso Filho; Nós
Vos pedimos por todas as famílias para que sejam abençoadas.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de
bondade!
- Deus da vida, nós
Vos bendizemos, porque fizestes resplandecer a vida e a imortalidade pelo
anúncio do Evangelho. Vós nos salvastes e nos destes a Dignidade de filhos
vossos. Vos pedimos pelos que sofrem no
testemunho do Evangelho. Sustentai-os com a força do vosso Espírito.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de
bondade!
- Deus da luz, nós Vos
damos graças pela transfiguração do vosso Filho, quando manifestes vossa
glória. Nós Vos pedimos; curai os nossos corações para que acolhamos as
palavras do Vosso Filho. Estabelecei a Vossa tenda nas nossas casas e em nossos
corações.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de
bondade!
- PAI
NOSSO... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro...
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