22º DOMINGO DO T. COMUM Ano B (adaptado e postado pelo Diácono
Ismael)
Tema: Uma reflexão sobre a “Lei”. Deus quer a vida plena para o homem e propõe-lhe a sua “Lei”.
A primeira leitura garante-nos que as “leis” e preceitos de Deus são um caminho seguro para a vida em plenitude. No Evangelho, Jesus denuncia que não basta cumprir as leis externamente, mas fazer da vida uma contínua conversão para Deus e um compromisso de amor e de partilha para com os irmãos.
A segunda leitura: A Palavra escutada e acolhida no
coração tem de tornar-se um compromisso de amor.
6. PRIMEIRA LEITURA (Dt 4,1-2.6-8) Leitura do Livro do
Deuteronômio.
Moisés falou ao povo, dizendo: “Agora, Israel, ouve as
leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais e
entreis na posse da terra prometida pelo Senhor Deus de vossos pais. Nada
acrescenteis, nada tireis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do
Senhor vosso Deus que vos prescrevo. Vós
os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria
e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas leis, digam: ‘Na
verdade, é sábia e inteligente esta grande nação!’. Pois, qual é a grande nação
cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor nosso Deus, sempre que o
invocamos? E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos,
como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?”
AMBIENTE - O Livro do Deuteronômio é aquele “livro” descoberto no Templo no do reinado de Josias (622 a.C.). O livro apresenta: há um só Deus, que deve ser adorado; Moisés deixa ao Povo uma espécie de “testamento espiritual”: lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Jahwéh. O capítulo 4 do Livro do Deuteronômio é um texto redigido na fase final do Exílio do Povo de Deus na Babilónia. Impressionado com o esplendor ritual e as solenidades do culto babilônico, o Povo corria o risco de trocar Jahwéh pelos deuses babilónicos. É neste contexto que os teólogos vão convidar o Povo a olhar para a sua história, a redescobrir nela a presença salvadora e amorosa de Jahwéh e a comprometer-se de novo com Deus e com a Aliança.
MENSAGEM: O
Deus que, no passado, interveio na história para libertar Israel agora
oferece leis e preceitos.
As leis e preceitos são
caminhos da felicidade. Israel deve ter cuidado para não adulterar as leis que
Deus lhe propõe. Há sempre o perigo de os homens suavizarem a Palavra de Deus,
de forma a que ela não seja tão exigente, atribuindo a Deus ideias e propostas
com as quais Deus não tem nada a ver. O povo nem sempre cumpriu as leis e que o
Senhor lhe propôs. É essa a preocupação
que o catequista deuteronomista nos propõe.
ATUALIZAÇÃO à O autor vê nas leis e preceitos
de Deus um caminho seguro para a felicidade e para a vida em plenitude.
à Palavra de Deus
é um caminho sempre atual, que liberta o homem da escravidão do egoísmo e que o
conduz ao encontro da verdadeira vida e da verdadeira liberdade: salva-nos do
egoísmo, do orgulho, da autossuficiência e projeta-nos para o amor, para a
partilha, para o serviço, para o dom da vida.
à Uma das
insistentes recomendações é a de não adulterar a Palavra de Deus, ao sabor dos
interesses pessoais. Este processo de discernimento é mais fácil quando é feito
em comunidade, no diálogo e no confronto com os irmãos que caminham conosco,
que nos questionam e que partilham conosco a sua perspectiva das coisas.
à Sem a escuta da Palavra, a nossa ação
torna-se um “fazer coisas” estéril e vazio que, mais tarde ou mais cedo, nos
leva a perder o sentido do nosso testemunho e do nosso compromisso.
SALMO RESPONSORIAL / Sl
14 (15)
Senhor, quem morará em vossa casa e no vosso monte santo habitará?
• É aquele que caminha
sem pecado / e pratica a justiça fielmente; / que pensa a verdade no seu íntimo
/ e não solta em calúnias sua língua.
• Que em nada prejudica
o seu irmão, / nem cobre de insultos seu vizinho; / que não dá valor algum ao
homem ímpio, / mas honra os que respeitam o Senhor.
• Não empresta o seu
dinheiro com usura, / nem se deixa subornar contra o inocente. / Jamais
vacilará quem vive assim!
10. EVANGELHO (Mc 7,1-8.14-15.21-23)
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, os
fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de
Jesus. Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos
impuras, isto é, sem as terem lavado. Com efeito, os fariseus e todos os judeus
só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos.
Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros
costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e
vasilhas de cobre. Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus:
“Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão
sem lavar as mãos?” Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito,
hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu
coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as
doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de
Deus para seguir a tradição dos homens”. Em seguida, Jesus chamou a multidão
para perto de si e disse: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o
homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois
é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidade, roubos,
assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão,
inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de
dentro, e são elas que tornam impuro o homem”.
AMBIENTE - A proposta de Jesus provoca reações nos
líderes judaicos, no povo e nos próprios discípulos.
Pouco antes, Jesus tinha
realizado a multiplicação dos pães, propondo, com o seu gesto, um mundo novo de
fraternidade, de serviço e de partilha (o “Reino de Deus”); e os líderes
judaicos, sem coragem para enfrentar diretamente a Jesus, escolhem os
discípulos como alvo das suas críticas… esses fariseus, fanáticos da Lei, vão
questionar os discípulos de Jesus acerca da forma como eles cumprem a “tradição
dos antigos”. Para os fariseus, a “tradição dos antigos” abrangia um imenso
conjunto de leis orais onde apareciam as decisões e as sentenças dos rabis
acerca dos mais diversos temas. Na época de Jesus, essa “tradição dos antigos”
constava de 613 leis. Essas leis – que o Povo tinha dificuldade em conhecer na
sua totalidade e que tinha, ainda mais, dificuldade em praticar – eram, para os
fariseus, o caminho para tornar Israel um Povo santo e para apressar a vinda
libertadora do Messias. Quando Marcos escreveu o seu Evangelho (década de 60),
a questão do cumprimento da Lei judaica ainda era uma questão “quente”. Para os
cristãos vindos do judaísmo, a fé em Jesus devia ser complementada com o
cumprimento rigoroso das leis judaicas… No entanto, a imposição dos costumes
judaicos levaria, certamente, ao afastamento dos cristãos vindos do paganismo.
A questão que era preciso equacionar era a seguinte: o cumprimento da Lei de
Moisés era importante, para a comunidade cristã? O Concílio de Jerusalém (por
volta do ano 49) já havia dado uma primeira resposta à questão: para os
cristãos, o fundamental é a pessoa de Jesus e o seu Evangelho; não é lícito impor
aos cristãos vindos do paganismo o fardo da Lei de Moisés. No entanto, o
problema continuou. É, provavelmente, a esta temática que o evangelista Marcos
quer responder.
MENSAGEM - Os povos antigos sentiam um grande
desconforto quando tinham de lidar com certas realidades desconhecidas e
misteriosas (ligadas à vida e à morte) que não podiam controlar nem dominar.
Criaram, então, um conjunto de regras que interditavam o contato com essas
realidades (os cadáveres, o sangue, a lepra, etc.) ou que, pelo menos,
regulamentavam a forma de lidar com elas, de forma a torná-las inofensivas. No
contexto judaico, quem infringia – mesmo involuntariamente – essas regras
colocava-se na marginalidade e de indignidade que o impedia de se aproximar do
mundo divino (o culto, o Templo) e de integrar a comunidade do Povo santo de
Deus. Dizia-se que a pessoa ficava “impura”. Para readquirir o estado de
“pureza” e poder reintegrar a comunidade do Povo santo, o crente necessitava
realizar um rito de “purificação”, estipulado na “Lei”.
Na época de Jesus, as
regras da “pureza” tinham sido absurdamente ampliadas pelos doutores da Lei. Na
opinião dos rabis de Israel, existia uma lista imensa de coisas que tornavam o
homem “impuro” e que o afastavam da comunidade do Povo santo de Deus. Daí a
obsessão com os rituais de “purificação”, que deviam ser cumpridos a cada passo
da vida diária. Um desses ritos consistia na lavagem das mãos antes das
refeições. Na sua origem está a universalização do preceito que mandava os
sacerdotes lavarem os pés e as mãos, antes de se aproximarem do altar para o
exercício do culto. Na perspectiva dos doutores da Lei, a purificação das mãos
antes das refeições não era uma questão de higiene, mas uma questão religiosa…
Em cada momento o crente corria o risco, mesmo sem o saber, de tropeçar com uma
realidade impura e de lhe tocar; para evitar que a “impureza” (que lhe ficara
agarrada às mãos) se introduzisse, juntamente com os alimentos, no corpo
exigia-se a lavagem das mãos antes das refeições.
Na Galileia, terra em
permanente contato com o mundo pagão e onde as normas de “pureza” não eram tão
rígidas como em Jerusalém, não se dava demasiada importância ao ritual de lavar
as mãos antes das refeições para evitar a ingestão da “impureza”. Os fariseus
vindos de Jerusalém, testemunhando como os discípulos comiam sem realizar o
gesto ritual de purificação das mãos, ficaram escandalizados e referiram o caso
a Jesus. Provavelmente, a história serviu aos fariseus para sondar Jesus e para
averiguar a sua ortodoxia e o seu respeito pela tradição dos antigos.
Para Jesus, a obsessão dos fariseus com os ritos externos de purificação é sintoma de uma grave deficiência quanto à forma de ver e de viver a religião; por isso, Jesus responde com dureza… Partindo da Escritura, Jesus denuncia essa vivência religiosa que aposta apenas na repetição de práticas externas e formalistas, mas que não se preocupa com a vontade de Deus (“este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”) ou com o amor aos irmãos. Trata-se de uma religião vazia e estéril (“é vão o culto que Me prestam”), que não vem de Deus mas foi inventada pelos homens (“preceitos humanos”). Àqueles que apostam na religião dos ritos estéreis, Jesus chama “hipócritas”: interessa-lhes mais o “parecer” do que o “ser” das coisas… Eles cumprem as regras, mas não amam; vestem com fingimento a máscara da religião, mas não se preocupam com a vontade de Deus. Esta religião é uma mentira, uma hipocrisia, ainda que se revista de ares muito santos e muito piedosos.
Para Jesus, a obsessão dos fariseus com os ritos externos de purificação é sintoma de uma grave deficiência quanto à forma de ver e de viver a religião; por isso, Jesus responde com dureza… Partindo da Escritura, Jesus denuncia essa vivência religiosa que aposta apenas na repetição de práticas externas e formalistas, mas que não se preocupa com a vontade de Deus (“este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”) ou com o amor aos irmãos. Trata-se de uma religião vazia e estéril (“é vão o culto que Me prestam”), que não vem de Deus mas foi inventada pelos homens (“preceitos humanos”). Àqueles que apostam na religião dos ritos estéreis, Jesus chama “hipócritas”: interessa-lhes mais o “parecer” do que o “ser” das coisas… Eles cumprem as regras, mas não amam; vestem com fingimento a máscara da religião, mas não se preocupam com a vontade de Deus. Esta religião é uma mentira, uma hipocrisia, ainda que se revista de ares muito santos e muito piedosos.
Jesus dirige-Se à
multidão: “não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro;
o que sai do homem é que o torna impuro”. “do interior do homem é que saem os
maus pensamentos: imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, cobiças,
injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez. Todos
estes vícios saem lá de dentro e tornam o homem impuro”. Os alimentos que
entram no estômago não são fonte de “impureza”; os pensamentos e as ações más
que saem do coração do homem é que são fonte de “impureza”: fastam o homem de
Deus e da comunidade do Povo santo.
Na antropologia judaica,
o “coração” é o “interior do homem” em sentido amplo; é aí que está a sede dos
sentimentos, dos desejos, dos pensamentos, dos projetos e das decisões do
homem. É nesse “centro vital” de onde tudo parte que é preciso atuar. A
verdadeira religião não passa, portanto, pelo cumprimento de regras externas,
que regulam o que o homem come ou não come; mas passa por uma autêntica
conversão do coração, que leve o homem a deixar a vida velha e a transformar-se
num Homem Novo, que assume e que vive os valores do Reino. A preocupação com as
regras externas de “pureza” é uma preocupação estéril; pode até servir para distrair
o crente do essencial, dando-lhe uma falsa segurança e uma falsa sensação de
estar em dia com Deus. A verdadeira preocupação do crente deve ser moldar o seu
coração, a fim de que os seus sentimentos, os seus desejos, os seus
pensamentos, os seus projetos, as suas decisões se concretizem, no dia a dia,
na escuta atenta dos desafios de Deus e no amor aos irmãos.
ATUALIZAÇÃO
à As “leis” têm o seu
lugar numa experiência religiosa, enquanto sinais indicadores de um caminho a
percorrer. No entanto, é preciso que o crente tenha o discernimento suficiente
para dar à “lei” um valor justo, vendo-a apenas como um meio para chegar mais
além no compromisso com Deus e com os irmãos. A finalidade da nossa experiência
religiosa não é cumprir leis, mas aprofundar a nossa comunhão com Deus e com os
outros homens sendo, eventualmente, ajudados nesse processo por “leis” que nos
indicam o caminho a seguir.
à Se fizermos das
leis algo de absoluto, elas podem tornar-se para nós um fim e não um caminho.
Nesse caso, as “leis” serão, em última análise, uma forma de acalmar a nossa
consciência, de nos julgarmos em dia com Deus, de sentirmos que Deus nos deve
algo porque nós cumprimos todas as regras estabelecidas. Tornamo-nos orgulhosos
e autossuficientes, pois sentimos que somos nós que, com o nosso esforço para
estar em regra, conquistamos a nossa salvação. Deixamos de precisar de Deus, ou
só precisamos d’Ele para apreciar o nosso esforço e para nos dar aquilo que
julgamos ser uma “justa recompensa”. O culto que prestamos a Deus pode
tornar-se, nesse caso, um processo interesseiro de compra e venda de favores e
não uma manifestação do amor que nos enche o coração. A nossa religião será,
nesse caso, uma mentira, uma negociata, que Deus não aprecia nem pode
caucionar.
à De acordo com os
ensinamentos de Jesus, não é muito religioso ou muito cristão quem aceita todas
as “leis” propostas pela Igreja, ou quem cumpre escrupulosamente todos os
ritos; mas é cristão verdadeiro aquele que, no seu coração, aderiu a Jesus e
procura segui-lo no caminho do amor e da entrega, que aceita integrar a
comunidade dos discípulos, que acolhe com gratidão os dons de Deus, que celebra
a fé em comunidade, que aceita fazer com os irmãos uma experiência de amor
partilhado.
à É isso que Jesus
quer dizer quando convida os seus discípulos a não se preocuparem com as leis e
os ritos externos, mas a preocuparem-se com o que lhes sai do coração. É no
interior do homem que se definem os sentimentos, os desejos, os pensamentos, as
opções, os valores, as ações do homem. É daí que nascem os nossos gestos
injustos, as discórdias e violências que destroem a relação, as tentativas de
humilhar os irmãos, os rancores que nos impedem de perdoar e de aceitar os
outros, as opções que nos fazem escolher caminhos errados e que nos escravizam
a nós e àqueles que caminham ao nosso lado… A verdadeira religião passa por um
processo de contínua conversão, no sentido de nos parecermos cada vez mais com
Jesus e de acolhermos a proposta de Homem Novo que Ele nos veio fazer.
à É preciso
mantermo-nos livres e críticos em relação às “leis” que nos são propostas,
sejam elas leis civis ou religiosas... Elas servem-nos e devem ser consideradas
se nos ajudarem a ser mais humanos, mais fraternos, mais justos, mais
comprometidos, mais coerentes, mais “família de Deus”; elas deixam de servir se
geram escravidão, dependência, injustiça, opressão, marginalização, divisão,
morte. O processo de discernimento das “leis” boas e más não pode, contudo, ser
um processo solitário; mas deve ser um processo que fazemos, com o Espírito
Santo, na partilha comunitária, no confronto fraterno com os irmãos, numa
procura coerente e interessada do melhor caminho para chegarmos à vida plena e
verdadeira.
8. SEGUNDA LEITURA (Tg 1,17-18.21b-22.27) Leitura da
Carta de São Tiago.
Irmãos bem-amados, todo dom precioso e toda dádiva
perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes, no qual não há mudança, nem
sombra de variação. De livre vontade ele nos gerou, pela Palavra da verdade, a
fim de sermos como que as primícias de suas criaturas. Recebei com humildade a
Palavra que em vós foi implantada e que é capaz de salvar as vossas almas.
Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós
mesmos. Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta:
assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar
pelo mundo.
AMBIENTE - A carta certamente de um sábio judeu-cristão
que repensa, de maneira original, as máximas da sabedoria judaica, em função do
cumprimento que elas encontraram na boca e no ensinamento de Jesus.
A carta Denuncia,
sobretudo, certas interpretações consideradas abusivas da doutrina paulina da
salvação pela fé, sublinhando a importância das obras; e ataca com extrema
severidade os ricos (cf. Tg 1,9-11; 2,5-7; 4,13-17; 5,1-6).
MENSAGEM - como os crentes devem ver e acolher a
Palavra de Deus…
1.
Deus oferece
continuamente os seus dons, a fim de lhe proporcionar vida e felicidade. A
Palavra de Deus é um dom que destina-se a gerar uma nova humanidade. Os
iluminados pela “Palavra da verdade” podem caminhar em segurança em direção à
vida plena, à felicidade sem fim.
2.
Os crentes devem estar
disponíveis para acolher a Palavra de Deus. Não podem fechar-se no seu orgulho
e autossuficiência, ignorando as propostas de Deus; mas devem abrir o coração
para que a Palavra aí encontre lugar, aí possa lançar raízes e desenvolver-se.
3.
A Palavra têm de conduzir
à ação, à conversão, à mudança, ao abandono da vida velha do egoísmo e do
pecado, a fim de abraçar uma vida segundo Deus. A Palavra de Deus também não
pode fechar o homem num espiritualismo alienante e estéril, mas tem de conduzir
a um compromisso efetivo com a transformação do mundo.
4.
a religião autêntica (por
oposição à religião vazia, inoperante, morta, daqueles que falam muito mas não
praticam ações coerentes com as suas palavras): “visitar os órfãos e as viúvas
nas suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo”. A escuta atenta
da Palavra de Deus nos projeta para a ação e para o compromisso. A escuta da
Palavra de Deus leva o crente a passar de uma religião ritual, legalista,
externa, superficial, para uma religião de compromisso com a realização do
projeto de Deus e com o amor dos irmãos.
ATUALIZAÇÃO - à A Palavra de Deus é
Palavra geradora de vida, de eternidade, de felicidade; por isso, deve ser por
nós valorizada.
à Criamos hábitos de não escuta e
tornamo-nos surdos aos apelos que chegam até nós através da palavra.
à A Palavra de Deus que escutamos e
que acolhemos no coração deve conduzir-nos à ação. Se ficamos apenas pela
escuta e pela contemplação da Palavra, ela torna-se estéril e inútil. É preciso
transformar essa Palavra que escutamos em gestos concretos, que nos levem à
conversão e que tragam um acréscimo de vida para o mundo. A Palavra de Deus que
escutamos tem de nos levar ao compromisso – à luta pela justiça, pela paz, pela
dignidade dos nossos irmãos, pelos direitos dos pobres, por um mundo mais
fraterno e mais cristão.
à A nossa religião, sem a escuta
atenta e comprometida da Palavra de Deus, pode facilmente tornar-se o mero
cumprimento de ritos, a fidelidade a certas práticas de piedade, uma tradição
que herdámos e na qual nos instalamos. É a Palavra de Deus que dá sentido a
toda a nossa experiência religiosa, transformando-a numa verdadeira experiência
de vida nova, de vida autêntica.
à As nossas palavras e orações devem ser
a expressão do nosso amor filial e fraternal. A lei de Deus está inscrita no
nosso coração, conhecemos a sua vontade, sabemos muito bem o que Lhe agrada:
cabe a nós pormo-nos de acordo sobre os nossos comportamentos e sobre esta
vontade de Deus. Aliás, falta-nos pedir-Lhe: “Que a tua vontade seja feita!”
Então, talvez Deus dir-nos-á: “Honras-Me com os lábios, fazes a minha vontade,
mas o teu coração está longe de Mim”.
Fonte:
Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho
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A Lei de Deus
A Liturgia nos convida a refletir sobre o sentido da "LEI".
Deus quer a realização e a vida plena para o homem e, nesse
sentido, propõe a sua "Lei" e o modo como ela deve ser
observada.
Na 1a Leitura, o Povo
de Deus recebe a LEI. (Dt 4,1-2.6-8)
No final da vida, antes de entrar na Terra Prometida,
MOISÉS deixa um "testamento
Espiritual": A LEI proposta por Deus.
A LEI DE DEUS é sagrada, não pode ser alterada...
- A "Lei" de Deus representa uma Sabedoria
desconhecida pelos outros povos, um meio de viver a Aliança com Deus, e assim
chegar à Terra Prometida...
- A Observância da Lei será uma Resposta de gratidão
a esse Deus libertador, que muitas vezes no passado agiu para salvar o seu
Povo.
- A "Lei" de Deus é um Caminho seguro para
a felicidade e a vida plena.
Na 2a leitura: SÃO TIAGO lembra:
"Sede
CUMPRIDORES da Palavra, e não apenas ouvintes" (Tg
1,17-18.21-22.27)
* A Palavra de Deus devemos acolher e por em prática...
A Verdadeira Religião não consiste apenas no cumprimento de
ritos e na fidelidade a certas práticas de piedade,
mas na dedicação em favor dos necessitados ("órfãos e
viúvas"), no compromisso por um mundo mais fraterno e cristão.
No Evangelho, temos a atitude de
CRISTO diante da LEI. (Mc 7,1-8.14-15.21-23)
Retomamos o Evangelho de Marcos...
- Os fariseus, que tramavam contra a vida de Cristo,
eram exigentes na observância externa das leis e se
escandalizaram porque os apóstolos não faziam antes de comer os ritos de
"purificação", prescritos por "preceitos humanos"...
- Cristo denuncia esse espírito mesquinho:
"Hipócritas... Abandonais o Mandamento
de Deus, apegando-vos à tradição
dos homens"
* Na VERDADEIRA RELIGIÃO, não basta apenas a observância
externa da Lei e das "tradições humanas",
precisa também uma autêntica conversão do coração.
Deus olha o interior das pessoas e não as práticas
exteriores e formais.
+ A LEI: um CAMINHO, não um fim.
- A "Lei" tem o seu lugar numa experiência
religiosa, enquanto sinal indicador de um caminho a percorrer,
é um meio para chegar mais além no compromisso com Deus e
com os irmãos.
- A verdadeira religião não se resume no cumprimento formal
das "leis", mas num processo de conversão que leve o homem à comunhão
com Deus e a viver numa real partilha de amor com os irmãos.
Nesse processo, as "leis" são apenas um caminho, não um fim absoluto...
Nesse processo, as "leis" são apenas um caminho, não um fim absoluto...
+ A Lei o que é para nós?
- Nos contentamos apenas com a PRÁTICA EXTERNA,
uma religião de
tradição, talvez para salvar as aparências?
- Ou procuramos ter sempre um coração puro e
disponível à voz de
Deus e à voz de nossa consciência?
Cristo veio para nos libertar de uma religião exterior,
e nos levar a uma religião interior... "em espírito e verdade..."
E Nós?
- Praticamos uma Religião como a dos fariseus, ou a
verdadeira religião proposta por Jesus,
como expressão dum verdadeiro compromisso com o Reino de
Deus?
Aos fariseus de hoje, Cristo continua denunciando: "Este povo me honra com os lábios, mas
o coração deles está longe de mim!" Pe. Antônio
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HOMILIA DO PE. PEDRINHO
Meus irmãos e irmãs, o mês de setembro é
sempre dedicado à Palavra de Deus, é o mês da Bíblia. Isto, é para animar,
incentivar os católicos a se aproximarem, cada vez mais, da leitura bíblica. Há
cinquenta anos atrás, o Concílio Ecumênico declarou que a importância da
Eucaristia é a mesma da Palavra de Deus. Da mesma maneira que eu venero a
Eucaristia, devo venerar a Palavra de Deus. A partir daí, na reforma litúrgica,
nós tivemos dois momentos distintos da Celebração Eucarística; Um, é a celebração
da Palavra. E dois, a Celebração Eucarística. As duas Celebrações no mesmo pé
de igualdade. De tal maneira, que quem venera a Eucaristia, deve venerar a
Palavra e quem venera a Palavra, deve venerar a Eucaristia. Infelizmente, ainda
vamos levar um tempo para que todo católico se dê conta disso. De qualquer
forma, a partir da liturgia de hoje, podemos entender porque a litura da Bíblia
é tão importante. De partida, já afirmo com segurança; Jesus nunca foi contra a
higiene. Muito pelo contrário. Ele, como Deus feito homem, Ele veio para que todos
tenham vida e vida em abundância. Tudo que concorre para uma melhor qualidade
de vida, é vontade de Deus. Por que eu digo isto? Porque olhando a leitura, dá a impressão de que não precisa lavar a mão,
lavar o copo. Na realidade, o livro do Deuteronômio traz todas estas prescrições.
Mas, por que isto foi feito? Porque na terra em que Jesus nasceu e viveu, a água
é muito escassa. Então, as pessoas não tinham muito o hábito da higiene,
exatamente pela dificuldade desse liquido precioso. Então, foi regulamentado,
como vontade de Deus, normas que pudessem garantir saúde para estas pessoas. O problema
é que depois de um determinado tempo, as pessoas achavam que bastava observar
as leis da higiene e já eram tementes de Deus perfeito. E, Jesus vai dizer; não.
Quem não tem fé também tem que que ter higiene. Higiene é algo que precisa ser
observado por todos. Agora, quem teme o Deus vivo e verdadeiro, tem que ir além
disto. Não pode honrar a Deus somente em obras, mas também com o coração. É isto
que Jesus está nos alertando no dia de hoje. É claro, que no Antigo testamento
já tinha dito isto; a partir do salmo que nós recitamos, você tem clareza do
que de fato é servir a Deus. Senhor, quem morará em vossa casa?
• É aquele que caminha
sem pecado / e pratica a justiça fielmente; / que pensa a verdade no seu íntimo
/ e não solta em calúnias sua língua. Quem
entra na casa do Senhor?
• Quem em nada
prejudica o seu irmão, / nem cobre de insultos seu vizinho; / que não dá valor
algum ao homem ímpio, / mas honra os que respeitam o Senhor. Quem habita na casa do Senhor?
• Quem Não empresta o
seu dinheiro com usura, / nem se deixa subornar contra o inocente. / -
Então, é claro
que o Antigo Testamento já tinha indicado uma prática diferenciada daqueles que
temem o Senhor. Aí, são Tiago diz: isto também deve ser aplicado por nós cristãos.
Então, meus irmãos, é interessante... o Papa Bento XVI já falava. São Tiago diz
que a religião pura, diante do Deus Pai, é assistir aos órfãos, às viúvas e não
se contaminar pelo mundo. É claro, que a
oração é importante, mas precisamos ir além. É claro, que ter devoção a um
santo é importante, mas nós somos chamados a ir além disto. É evidente que nós
nos preocuparmos com a religião é importante, mas ter um gesto concreto, uma prática
de vida, de acordo com a Palavra de Jesus, é esperado de nós. Então, é
interessante, que o Papa Bento XVI dizia: infelizmente, também entre nós,
aqueles que acham que praticar a religião é se limitar a uma atividade. Não. Precisamos
ir além. Como eu posso cumprir isto? Eu me lembro de um professor que dizia: você
não vê galinha abandonada na rua, você não vê boi abandonado, você não vê
nenhum tipo de animal que tenha valor abandonado. Você vê menor abandonado, você
vê ser humano abandonado. – Nós não temos culpa disso. Eu tenho clareza comigo,
que se dependesse de nós que estamos aqui, não haveria ninguém abandonado. Entretanto,
também isto não é o suficiente. É preciso cada dia mais pensar o que mais
podemos fazer, para minimizar o sofrimento do órfão, e a viúva, aqui
simbolizando todo aquele que não tem a quem recorrer. Com certeza, a solução
parte de nós. Não vai partir de nenhum político, nenhum super-homem, porque ninguém
resolve os desafios sozinho. Então, o que fazer? Em primeiro lugar, ser pessoa
honesta, coerente, não corrupta, sermos pessoas dispostas a defender a justiça,
o amor e se nós vivermos isto e ensinarmos isto aos outros, já é um bom
caminho. Certamente, quem procurar defender a justiça será perseguido. É aí que
entra o valor da oração, o valor da prática religiosa, o valor de todos os
santos, porque é aí que encontramos força para realizar aquilo que nós é
pedido. Que Deus, portanto, nos dê força e coragem para vivermos a Palavra que
contemplamos.
Louvado seja
Nosso Senhor Jesus Cristo.
PE. PEDRINHO.
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Homilia de D. Henrique Soares
A palavra de Deus deste XXII Domingo
chama atenção para o modo como o cristão deve viver sua prática religiosa: com
sinceridade diante de Deus, humildade e amor para com os outros e não de forma
legalista, fria e auto-suficiente. Com efeito, Jesus critica duramente os
escribas e fariseus, que vieram de Jerusalém para observá-lo e questioná-lo.
Qual é o problema deles? Certamente eram homens piedosos e queriam seguir a Lei
de Deus. O problema era o espírito com o qual faziam: extremamente legalista.
Vejamos:
1) A lei de Deus (para os judeus,
expressa na Torah) é santa: “Agora, Israel, ouve as leis e
os decretos que eu vos ensino a cumprir... Nada acrescentareis, nada tirareis à
palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus...” (1a.
leitura). Ora, o zelo dos fariseus e dos escribas eram tais e com uma mentalidade
de tanto apego à letra pela letra, que se tornaram extremamente legalistas.
Eles diziam: “Façamos uma cerca em torno da Lei”, ou seja, criaram pouco a
pouco um número enorme de preceitos para evitar qualquer desobediência, ao
menos remota, à lei. Preceitos humanos que foram obscurecendo a pureza da lei
de Deus e sua característica de ser sinal de amor. Por exemplo: (a) A Lei dizia
que o castigo não poderia ultrapassar as quarenta varadas. Os fariseus permitam
somente trinta e nove, para evitar qualquer perigo de ultrapassar a conta da
lei. (b) A lei proibia o trabalho no sábado. Os escribas e fariseus insistiam
que até carregar o instrumento de trabalho no sábado era já um pecado: o
alfaiate não poderia carregar sua agulha no sábado. (c) A lei prescrevia
abluções (banhos rituais para o culto) só para os sacerdotes. Os fariseus
queriam impô-las a todo o povo. A intenção era boa.... mas o resultado, não:
tornava a religião algo pesado, legalista e apegado a tantos detalhes que fazia
esquecer o essencial: o amor a Deus e ao irmão! Os preceitos humanos
obscureciam a intenção divina!
2) A Lei não fora dada para ser um
fardo que tira a liberdade e entristece a vida, mas como sinal do amor de Deus,
que orienta e indica o caminho com ternura: “Vós os guardareis...
porque neles está a vossa sabedoria e inteligência... Ouve as leis que vos
ensino a cumprir para que vivais e entreis na posse da terra prometido pelo
Senhor Deus” (1a. leitura). A lei e toda prática religiosa
devem ser caminho de vida, e não um fardo insuportável e asfixiante, tornando a
religião algo tristonho e pesado, como se fosse obra de um Deus ciumento e
invejoso da nossa felicidade! Jesus critica os fariseus e os escribas por isso:
tornaram a religião um fardo pesado e triste, ao invés de ser primeiramente um
relacionamento com Deus, íntimo, feliz e amoroso!
3) Jesus censura também os escribas e
fariseus pela incapacidade de distinguir entre o essencial e o secundário; em
discernir o que vem Deus e o que é meramente prática e tradição humanas, talvez
boas e louváveis, mas não essenciais. Em matéria de religião, nem tudo tem
igual valor, nem tudo tem a mesma importância. A medida de tudo é o amor: o
amor é a plenitude da lei (Rm 13,10); só o amor dá sentido a todas as
coisas!
3) Outro motivo de crítica é que uma
religião assim, apegada a preceitos exteriores, torna-se desatenta do coração,
sem olhar a intenção com que se faz e se vive. Cai-se na hipocrisia (a palavra
hipócrita vem dehypokrités = ator teatral): uma religião meramente
exterior, sem aquelas atitudes interiores, que são as que importam realmente: “Este
povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta
o culto que me prestam!” (evangelho). É sério: a atitude exterior
(lábios) não combina com o interior (coração)! As práticas externas valem
quando são sinal de um compromisso interior de amor e conversão em relação a
Deus. É importante observar que Jesus não condena as práticas exteriores, mas a
sua supervalorização e a sua atuação sem sinceridade: “Importava
praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas”(Mt 23,23).
4) Há também o perigo da
auto-suficiência: a pessoa sente-se segura de si mesma por causa de suas
práticas: “Ah, eu vou à missa todo domingo, rezo o terço e dou esmola! Estou em
dia com Deus!” O homem nunca está em dia com Deus. Pensar assim, é deixar de
perceber que tudo é graça e que jamais mereceremos o amor que Deus nos tem
gratuitamente. Sem contar que tal atitude nos leva, muitas vezes, a nos julgar
melhores que os outros, desprezando os que julgamos mais fracos ou imperfeitos!
Era exatamente o que ocorria com os fariseus: “Este povo que não
conhece a lei são uns malditos!” (Jo 7,49); “Tu nasceste todo
no pecado e nos ensinas?” (Jo 9,34); “Ó Deus, eu te dou graças
porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros, nem como
este publicano!” (Lc 18,11). É interessante comparar estas atitudes
com as que São Paulo recomenda aos cristãos em Rm 12,3-13.
5) Jesus convida a ir ao essencial:
vigiar as intenções e atitudes do nosso coração, pois “o que torna
impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu
interior” (evangelho). Com um coração puro, poderemos reconhecer que
tudo de bom que temos é dom de Deus (“Todo dom precioso e toda dádiva
perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes!” – 2a.
leitura) e que, diante dele, somos sempre pobres e pecadores, necessitados de
sua misericórdia. Isto nos abre de verdade para o amor aos outros e para a
compaixão: somos todos pobres diante de Deus: “A religião pura e sem
mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas
tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo”.
6) Concluindo:
Como vai nossa prática religiosa,
pessoal e comunitariamente? Buscamos um relacionamento amoroso, íntimo e
pessoal com o Senhor ou nos contentamos com uma prática meramente exterior?
Julgamo-nos melhores que os outros diante de Deus? Às vezes dizemos: “Eu não
merecia este mal...” – julgando-nos credores de Deus! Dizemos também: “Há tanta
gente pior que eu; por que aconteceu comigo?” – julgando-nos melhores que os
outros!
O que é mais importante na nossa vida
de fé? E na nossa vida em comunidade? O salmo de meditação da missa de hoje dá
ótimas pistas para uma exame de consciência.
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Vivemos num mundo de muitos mestres, de muitas opiniões, de muita gente
entendida sobre tudo que fala sobre tudo... Há tantos caminhos, tantas
propostas, tanta gente com ares de sábio... Os meios de comunicação nos propõem
tantas coisas: livros, televisão, rádio, Internet, jornais, revistas... E, no
entanto, para nós, que cremos, o Senhor que nos orienta e educa na sua santa
Palavra, recebida, guardada, crida, contemplada e ensinada pela Igreja, o
Senhor é o único caminho, a única verdade, a única luz! É disso que fala a
Palavra de Deus deste Domingo santo.
A grande tentação do nosso tempo, caríssimos em Cristo, é pensar que nossa
razão é o critério da verdade, é a medida do bem e do mal. Assim, é certo, é
bom, é aceitável o que nós julgamos ser ou o que a maioria, o senso comum
julgam ser bom. Se agora o divórcio é um bem, então que seja; se nos tempos
atuais a união homossexual é norma, então que seja aprovada; se nos cânones da
ciência manipular embriões humanos é correto, então vá lá; se todo mundo tem
numa boa relações pré-matrimoniais, então para que se opor? Eis aqui: o homem
agora se julga adulto, emancipado, liberado: ele próprio julga poder definir
sua vida, construí-la a seu modo. Para que um Deus que me diga o que fazer?
Para que uma Igreja com ares de mãe e de mestra? Ninguém precisa mais disso!
Esta é a mentalidade hodierna...
E, no entanto, para quem crê, há um Deus que é o Senhor da vida, de quem nós
vimos e para quem vamos: “Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm
do Alto, descem do Pai das luzes: de livre vontade ele nos gerou pela Palavra
da verdade, a fim de sermos como que as primícias de suas criaturas!” Nossa
vida não é nossa de modo absoluto; não nos fizemos a nós mesmos. Tua vida, ó
homem, é vida recebida gratuita e amorosamente; é dom de Deus, para que vivas
na amizade com ele e, acolhendo sua Palavra sejas gerado para uma vida
verdadeira, vida plena, vida eterna!
E, no entanto, quanto é difícil esta atitude de compreender a vida como um dom
que recebemos! Quão grande a tentação de viver como donos absolutos da
existência! Pois bem, o Senhor nos convida, o Senhor nos ordena a que vivamos
abertos à sua Palavra, para que vivamos de verdade: “Agora, Israel,
ouve! Para que, fazendo-o, vivais! Nada tireis, nada acrescenteis às palavras
que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus! Vós os
guardareis e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e
inteligência.” Tristes de nós quando nos julgamos sábios a nossos
próprios olhos e desprezamos a Palavra do Senhor e as orientações da sua
Igreja, que dele recebeu a missão e a autoridade de nos educar nos caminhos do
Senhor! Pensemos, caríssimos irmãos – que cada um pense: tenho construído a
minha vida, segundo a Palavra do Senhor? Tenho feito minhas opções de vida de
acordo com a moral cristã custodiada e ensinada maternalmente pela Igreja? No
mundo da idolatria da autonomia, não é fácil a madura atitude de sair de nós
mesmos e deixar que o Senhor e sua Igreja nos guiem. Entretanto, este é o
caminho do cristão verdadeiro, do católico coerente e maduro! Na segunda
leitura de hoje, São Tiago nos exorta com palavras muito claras e diretas, sem
deixar margem para ilusões: “Recebei com humildade a Palavra que em vós
foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas! Sede praticantes da
Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos!” Não
deveríamos nos enganar com falsos raciocínios, não deveríamos dar ouvidos
àqueles – mesmo dentro da Igreja, infelizmente, mesmo padres, infelizmente,
mesmo teólogos, infelizmente – que tentam mundanizar o cristianismo para
fazê-lo mais atraente. Escutai, caríssimos, a advertência do Senhor: “Vós
abandonais os mandamentos de Deus para seguir a tradição dos homens!” Também
São Paulo nos previne para que não caiamos nas teias de uma vã filosofia, uma
sabedoria segundo o mundo e não segundo o Espírito de Cristo! Nunca esqueçamos:
uma vida verdadeiramente cristã exige de nós fidelidade ao Senhor, ruptura com
o que é mundano e um coração aberto para os necessitados: “A religião
pura e sem mancha diante de Deus: assistir os órfãos e viúvas e não se deixar
contaminar pelo mundo!” Estejamos atentos, amados no Senhor, porque o
que passa disso vem do Maligno!
Supliquemos nesta Santa Missa que o Senhor converta o nosso coração para que
nossa vida pessoal e familiar, nossa vida social e profissional seja pautada
pelo Evangelho, pela lei de Cristo. Qual será o fruto de uma existência assim?
Experimentar a proximidade do Senhor, do Deus vivo e cheio de ternura na nossa
existência. Não é isso que diz o próprio Senhor na primeira leitura de hoje? “Qual
é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor nossos Deus,
sempre que o invocamos?” Sim! Esta é a verdadeira grandeza nossa, de
nossa família, de nossa Pátria! Não simplesmente o desenvolvimento econômico,
social ou tecnológico, mas, antes de tudo e sobre tudo caminhar com o Senhor e
experimentá-lo ao nosso lado, sabendo que somos uma sociedade que é aberta para
Deus...
Certamente, não é nesse caminho que o mundo caminha; não é essa a estrada pela
qual a nossa sociedade vai se movendo... mas deve ser essa a nossa direção,
esse o nosso rumo. Nunca esqueçamos que somos as primícias de uma nova criação,
de um novo mundo, de um modo de viver que seja alternativo, diferente, luz e
sal desse mundo sem graça: “de livre vontade o Pai nos gerou pela
Palavra da verdade, a fim de sermos como que as primícias de suas criaturas!” –
Senhor, converte o nosso coração! Dá-nos um coração capaz de te escutar, um
coração de carne e não de pedra, um coração para obedecer e te amar! Livra-nos
de nós mesmos, Senhor, e faze-nos para o mundo sinais e instrumentos da
verdadeira liberdade – aquela que somente tu sabes dar e somente tu podes dar!
A ti a glória, ó Deus santo, que vives e reinas com o teu bendito Filho na
unidade do Santo Espírito, pelos séculos dos séculos! Amém!
D. Henrique Soares
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PARA
A CELEBRAÇAO DA PALAVRA (DIÁCONOS E MINISTROS EXTRAORDINARIOS DA PALAVRA):
LOUVOR
(QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
à
COM JESUS, com Jesus e em Jesus, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T:
SENHOR, QUE A VOSSA PALAVRA NOS TRANSFORME!
à
Senhor, nosso Deus e Pai, Vos louvamos e agradecemos por nos amar e nos dar
Jesus como a palavra viva que nos orienta, ensina transforma.
T:
SENHOR, QUE A VOSSA PALAVRA NOS TRANSFORME!
à
Senhor, nosso Deus e Pai, grande é o vosso amor nos ensinando os caminhos que
nos conduzem à felicidade plena e eterna.
Que sejamos atentos aos vossos ensinamentos e que façamos a vossa vontade
T:
SENHOR, QUE A VOSSA PALAVRA NOS TRANSFORME!
à
Senhor, nosso Deus e Pai, Sois imenso e cheio de bondade. Dai-nos o
entendimento para que cumpramos os vossos mandamentos e sejamos fiéis na
construção de vosso Reino.
T:
SENHOR, QUE A VOSSA PALAVRA NOS TRANSFORME!
à
Senhor, nosso Deus e Pai, que nosso coração seja renovado pelo vosso amor e
possamos refletir ao mundo o vosso amor.
T:
SENHOR, QUE A VOSSA PALAVRA NOS TRANSFORME!
à
Senhor, nosso Deus e Pai, que vossas leis sejam luz para nossas ações e possamos
viver como irmãos em nossa comunidade.
T:
SENHOR, QUE A VOSSA PALAVRA NOS TRANSFORME!
à PAI NOSSO... A PAZ
DE CRISTO... EIS O CORDEIRO DE DEUS.