22º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO A
2014 (Adaptado e postado pelo Diácono Ismael)
Tema: o acesso a vida plena passa pelo amor e pela cruz; não é fácil.
Primeira
leitura, Jeremias colocou a sua vida ao
serviço de Deus, enfrentou os poderosos; por isso, conheceu o sofrimento.
Evangelho:
Jesus avisa que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos humanos,
mas pelo amor e dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus vai
percorrer esse caminho; e quem quiser ser seu discípulo tem de aceitar
percorrer um caminho semelhante.
Segunda
leitura:
Oferecer a Deus toda a existência, Significa, de acordo com Paulo, não
nos conformarmos com a lógica do mundo, aprendermos a discernir os planos de
Deus e a viver este projeto.
6. PRIMEIRA LEITURA (Jr 20,7-9) Leitura do Livro do Profeta Jeremias.
Seduziste-me,
Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me
alvo de irrisão o dia inteiro, todos
zombam de mim. Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a
maldade e invocando calamidades; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte
de vergonha e de chacota o dia inteiro. Disse comigo: “Não quero mais
lembrar-me disso nem falar mais em nome dele”. Senti, então, dentro de mim um
fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar.
AMBIENTE Jeremias (por volta de
A pregação de
Jeremias não foi apreciada pelo Povo e pelos líderes. Considerado um “profeta
da desgraça”, apenas conseguiu criar o vazio à sua volta e viu os amigos, os
familiares, os conhecidos voltarem-lhe as costas. Conheceu a solidão, o
abandono, a maledicência… Acusado de traição e encarcerado, chegou a correr
perigo de morte. Jeremias, homem bom, sofria pelo abandono a que a missão
profética o condenava.
MENSAGEM O texto apresenta-nos uma desconcertante oração de Jeremias num
momento dramático de desilusão e de desânimo (quando, preso pelos ministros de
Sedecias e atirado numa cisterna. O profeta, embalado pelas promessas desse
Deus sedutor, incapaz de resistir ao seu fogo abrasador, "Seduzido" pelo Senhor, entregou-se nas suas mãos e dedicou toda a vida ao seu serviço).
Nesse
caminho conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição.
Teve a
tentação de largar tudo, mas não desistiu: "Senti
dentro de mim um fogo ardente a me penetrar!..."
* É o grito humano de um coração
dolorido, marcado pela incompreensão e pelo aparente fracasso na Missão...
Diante do sofrimento desanima, mas
logo se reanima, movido por uma grande paixão por Deus.
É a experiência de todos os que
acolhem a Palavra do Senhor e vivem em coerência com os valores de Deus
ATUALIZAÇÃO • Ser sinal de Deus e dos seus valores significa enfrentar a
injustiça, a opressão. Deus nunca prometeu a nenhum profeta um caminho fácil de
glórias e de triunfos humanos.
• No batismo,
fomos ungidos como “profetas”, à imagem de Cristo. Somos a “boca” através da
qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e se dirige aos homens.
• O lamento de
Jeremias é o grito de um coração humano dolorido, marcado pela incompreensão
dos que o rodeiam, pelo abandono a que devotou a sua vida. É o mesmo lamento de
tantos homens e mulheres, em tantos momentos dramáticos de solidão, de
sofrimento, de incompreensão, de dor. É a expressão da nossa fragilidade, das
nossas limitações, da nossa humanidade. É precisamente nessas situações que nos
dirigimos a Deus e Lhe dizemos a falta que Ele nos faz e o quanto a nossa vida
é vazia, sem sentido se Ele não nos estender a sua mão e descobrimos que, sem
Deus e sem o seu amor, a nossa vida não faz sentido.
7. SALMO
RESPONSORIAL / Sl 62 (63)
A minh’alma tem sede de vós como a terra sedenta, ó
meu Deus!
• Sois vós,
ó Senhor, o meu Deus! / Desde a aurora ansioso vos busco! /
A minh’alma
tem sede de vós, / minha carne também vos deseja, /como terra sedenta e sem
água!
• Venho,
assim, contemplar-vos no templo, / para ver vossa glória e poder. /
Vosso amor
vale mais do que a vida: / e por isso meus lábios vos louvam.
• Quero,
pois, vos louvar pela vida / e elevar para vós minhas mãos! /
A minh’alma será saciada, / como em grande
banquete de festa; /
cantará a
alegria em meus lábios, / ao cantar para vós meu louvor.
10. EVANGELHO (Mt 16, 21-27) Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele
tempo, Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e
sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e
que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Então Pedro tomou Jesus à
parte e começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor!
Que isso nunca te aconteça!” Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: “Vai
para longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as
coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” Então Jesus disse aos
discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me
siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua
vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o
mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua
vida? Porque o filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e
então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”.
AMBIENTE - a comunidade dos discípulos expressava a sua fé em Jesus como o “Messias, Filho de Deus”. Nesta fase, as multidões ficaram para trás e os líderes já decidiram rejeitar Jesus. Quem continua a acompanhar Jesus é o grupo dos discípulos. Eles acreditam que Jesus é o “Messias, Filho de Deus” e querem partilhar o seu destino de glória e de triunfo. Jesus vai, no entanto, explicar-lhes que o seu messianismo não passa por triunfos e êxitos humanos, mas pela cruz; e vai avisá-los de que viver como discípulo é seguir esse caminho da entrega e do dom da vida (cf. Mt 17,22-27).
Mateus escreve
o seu Evangelho para comunidades cristãs do final do séc. I (anos 80). São
comunidades instaladas, que já esqueceram o fervor inicial e que se acomodaram
num cristianismo morno e pouco exigente. Com a aproximação de tempos difíceis
(no horizonte próximo estão já as grandes perseguições do final do séc. I), é
conveniente que os crentes recordem que o caminho cristão não é um caminho
fácil, percorrido no meio de êxitos e de aplausos, mas é um caminho difícil,
que exige diariamente a entrega e o dom da vida.
MENSAGEM - Depois do confronto de Jesus com os líderes judeus, estes
rejeitaram a proposta do Reino, pensam em matá-lo. Jesus tem consciência disso;
e anuncia que pretende continuar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se ao seu destino de cruz. A oposição significa que a compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se ao seu destino de cruz. A oposição significa que a compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus
dirige-Se a Pedro com dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam a sua
perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus
não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio; mas o
plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas conseqüências.
Ao pedir a Jesus que não embarque nos projetos do Pai, Pedro está repetindo as
tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mt 4,3-10);
por isso, Mateus coloca na boca de Jesus a mesma resposta que, então, Ele deu
ao diabo: “Retira-te, Satanás”. As palavras de Pedro – como as do diabo
anteriormente – pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e
Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de
concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus.
Na segunda
parte, Jesus apresenta uma instrução sobre
as atitudes próprias do discípulo. Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de
“renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no seu caminho de amor,
de entrega e de dom da vida. renunciar a si mesmo significa renunciar ao seu
egoísmo e autossuficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. Só
assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.
A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No final Jesus convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas.
A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No final Jesus convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas.
Em segundo
lugar, os discípulos são convidados a perceber que a vida que gozam neste mundo
não é a vida definitiva. Não devem, pois, preocupar-se em preservá-la a
qualquer custo: devem é procurar encontrar, já nesta terra, essa vida
definitiva que passa pelo amor total e pelo dom a Deus e aos outros. É essa a
grande meta que todos devem procurar alcançar.
Em terceiro
lugar, os discípulos devem pensar no seu encontro final com Deus: nessa altura,
Deus dar-lhes-á a recompensa pelas opções que fizeram…
ATUALIZAÇÃO •
A lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens
aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só
tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em
abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos
acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho
de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus
e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do
Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na
humildade, na simplicidade.
• Dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente.
• Dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente.
• O que é
“renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a
autossuficiência dominem a vida; mas vive para Deus e na solidariedade, na
partilha e no serviço aos irmãos.
• O que é
“tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de
Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam
mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a
injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique
enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.
* Nós temos
facilidade em aceitar a Cruz de Jesus, mas temos dificuldade, mesmo com fé, em
aceitar a nossa cruz no nosso dia a dia.
8. SEGUNDA LEITURA (Rm 12, 1-2) Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Pela
misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. Não vos
conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar
e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o
que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.
AMBIENTE - Paulo vai mostrar como deve viver aquele que é chamado à salvação.
Essas
indicações práticas aparecem na segunda parte da Carta aos Romanos (cf. Rom
12,1-15,13). Aí Paulo apresenta um longo discurso exortativo, no qual convida
os romanos (e os crentes em geral) a comportar-se de acordo com as exigências
de batizados. Aderir a Cristo e acolher a salvação exige um comportamento
coerente com os valores de Jesus e com a vida nova que Ele oferece. A adesão
a Jesus implica assumir atitudes que sejam a expressão de vida nova.
MENSAGEM - A bondade e o amor de Deus convidam a uma resposta do homem. Paulo
convida a oferecerem-se a si mesmo. Essa oferta será um “sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus”. Oferecer a vida a Deus é o culto que Deus espera sobre
quem derrama a sua misericórdia e a quem oferece a salvação.
Em primeiro lugar,
não se conformar com “este mundo” – isto é, manter uma distância crítica em
relação aos esquemas do mundo e aos valores sobre os quais este mundo de
egoísmo e de pecado se constrói. Em segundo lugar, uma mudança de mentalidade
que possibilite ao homem discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder
percorrer, com fidelidade, os seus caminhos.
O “culto
espiritual” de que Paulo fala é a entrega a Deus da totalidade da vida do
homem. O cristão deve renunciar aos caminhos do egoísmo, do orgulho, da
auto-suficiência, da injustiça e do pecado; e deve procurar conhecer os
projetos de Deus, acolhê-los no coração e viver em coerência total com as suas
propostas.
ATUALIZAÇÃO - • Para Paulo, o culto que Deus quer é a nossa vida, vivida no amor,
no serviço, na doação, na entrega a Deus e aos irmãos.
• O cristão
não pactua com um mundo que se constrói à margem dos valores de Deus.
*
Para ressuscitar com Cristo, temos que acompanha–lo no seu caminho para a Cruz:
aceitando as contrariedades e tribulações com paz e serenidade;
*A exigência do Senhor inclui
renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus. São Tomás: “o
menor bem da graça é superior a todo o bem do universo”(Suma Teológica, I-II,
q. 113, a .
9).
Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho
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O caminho da Cruz - Pe. Antônio Geraldo
A Liturgia convida os seguidores do
Senhor a descobrirem a "loucura da CRUZ"
e apresenta dois exemplos: JEREMIAS e
PEDRO.
Na 1a Leitura, JEREMIAS descreve sua experiência de Cruz. (Jr 20,7-9)
"Seduzido"
pelo Senhor, colocou toda a sua vida a serviço de Deus.
Nesse
caminho conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição.
Teve a
tentação de largar tudo, mas não desistiu: "Senti
dentro de mim um fogo ardente a me penetrar!..."
* É o grito humano de um coração
dolorido, marcado pela incompreensão e pelo aparente fracasso na Missão...
Diante do sofrimento desanima, mas
logo se reanima, movido por uma grande paixão por Deus.
É a experiência de todos os que
acolhem a Palavra do Senhore vivem em coerência com os valores de Deus
Na 2ª Leitura, Paulo convida os
cristãos a oferecerem a própria vida a Deus.
Esse é o
verdadeiro culto que agrada a Deus. (Rm 12,1-2)
No Evangelho, Jesus
anuncia aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos
é semelhante. (Mt 16,21-27)
- PEDRO
não concorda e começa a "repreendê-lo".
- Jesus rejeita energicamente as
insinuações de Pedro e diz: "Afasta-se de mim, Satanás... não pensas
as coisas de Deus...” E acrescenta: "Se alguém quer me seguir, renuncie a
si mesmo,
tome a sua CRUZ e me siga".
* Nós temos facilidade em aceitar a
Cruz de Jesus, mas temos dificuldade, mesmo com fé, em aceitar a nossa cruz no
nosso dia a dia.
+
A Experiência dos CATEQUISTAS
Como Jeremias e de Pedro, eles se
deixam "seduzir" por Deus e aceitam cumprir essa grande missão. São
inevitáveis as dificuldades, os sofrimentos e as perseguições.
Não obstante tudo isso, no final estão
convencidas que valeu a pena.
Catequistas, obrigado, porque vocês
também se deixaram "SEDUZIR" pelo Senhor...
O Autor sagrado lhes garante: "Felizes os pés que andam para anunciar
boas novas".
Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Françoá Costa - Os sinônimos da caridade
Renuncia, Cruz, Sacrifício. São
sinônimos da palavra “amor”. O Evangelho de hoje nos coloca naquelas dimensões
do amor mais profundo e, portanto, autêntico. No centro de todo amor verdadeiro
encontra-se o mistério da cruz, que é doação e entrega. Ao contrário do narcisismo,
a caridade é principalmente “ágape”, amor oblativo. Já que falamos do
narcisismo, é bom conhecer a lenda de Narciso, filho do rio Cefiso e de
Leríope. Conta-se que esse jovem tinha uma beleza tão arrebatadora que ele
mesmo, vaidoso de si, amou-se com tanto arroubo que, ao esquecer-se das
necessidades mais básicas, acabou morrendo de fraqueza, mas contemplando-se a
si mesmo com transportes de êxtase. “Isso sim que é exemplo de idiota!” – dirá
alguém. E eu não poderei menos que concordar!
Um pai de família que está
sempre pensando em si mesmo, nas suas coisas, nas suas vaidades, nas suas
festas e nas suas coisinhas de trabalho e que, consequentemente, já não dá
atenção à esposa e aos filhos, não se preocupa com a educação dos filhos, omite
os detalhes de cortesia com os companheiros de trabalho, não procura escutar as
preocupações da sua esposa com paciência e compreensão, esse tal ainda não
compreendeu nem vivenciou as palavras de Jesus sobre a renúncia a si mesmo para
segui-lo de perto, neste caso na vocação matrimonial. E a esposa que só olha
para si mesmo e confia a educação dos filhos a terceiros, mas de maneira
irresponsável; que faz questão de ser narcisista da própria beleza em salões
que a detêm quase por tempos indeterminados; ou que já não se arruma e procura
estar bonita para o próprio esposo; que não faz aquela comidinha que ele gosta
tanto… Como poderá esperar a recompensa do nosso Pai do céu a uma caridade
ativa (cfr. Mt 16,27)?”
Um jovem que não compreendeu a
força do amor de Deus sempre encontra o amor cristão um pouco absurdo. Claro!
Enquanto ele entender o amor como satisfação dos próprios apetites, o amor de
Deus lhe parecerá, no pior dos casos, inclusive odioso. Neste sentido, uma das
melhores maneiras de aprender a caridade é sendo generoso de verdade. Como é
importante visitar os enfermos e compreender a alegria de fazer os outros
alegres. É interessante visitar algum orfanato para aprender a generosidade de
um sorriso infantil que nada pede. Cuidar dos outros e pensar neles, em como ajudá-los
melhor, é, na verdade, um excelente remédio para descomplicar-se a si mesmo.
Ainda que no começo se realize essas atividades de caridade pensando em si
mesmo, pouco a pouco a força do amor convencerá do contrário: é preciso
doar-se; é na entrega singela que se encontra a felicidade autêntica.
E o mesmo se diga com tantas
outras coisas na nossa vida. Essas palavras de São Gregório Magno referidas a
São Paulo são elucidativas: “[Paulo] suporta no exterior adversidades. Pois é
rasgado pelas chicotadas, preso em cadeias. No interior, sente o medo de que
seus sofrimentos sejam obstáculos não para si, mas para os discípulos… Ó
entranhas de imensa caridade! Não se importa com aquilo que ele mesmo sofre e
cuida de que os discípulos não sofram de alguma ideia perniciosa no coração.
Despreza em si as feridas do corpo e sara nos outros as feridas do coração. Os
justos têm isto de próprio: na dor de suas tribulações, não abandonam o
interesse pelo bem do outro; e, sobretudo, estão atentos a ensinar o necessário
aos outros e sofrem como grandes médicos doentes. Em si toleram as feridas
profundas e prescrevem a outros os medicamentos salutares” (S. Gregório Magno,
“Moralia in Iob”, 3, 39-40).
Escutei esta frase quando era
um adolescente: “quem busca um Cristo sem cruz acabará encontrando uma cruz
sem Cristo”. Passaram-se os anos, mas continuo convencido de que a frase é
verdadeira. Além do mais, as pessoas que não amam a Deus e aos seus semelhantes
também sofrem. Mas – pergunta-se – qual é o sentido do seu sofrimento? E no
caso do cristão, acaso o sentido para os seus padecimentos e alegrias não se
encontra no Cristo que nos salvou? Certamente. Ele se entregou por amor. Agora
é a nossa vez: por amor também!
Pe. Françoá Costa
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Homilia
de D. Henrique Soares
- Mt 16,21-27
O Evangelho deste Domingo
reflete um momento crítico da vida do Senhor Jesus. Ele sabe que será
massacrado por seus inimigos, sabe que a vinda do Reino de Deus passaria pelo
desastre da cruz. Agora, anuncia isso aos apóstolos: iria sofrer e morrer para
ressuscitar. Pedro não compreende como isso possa ser possível, não aceita tal
caminho para o Mestre: “Deus
não permita tal coisa, Senhor!” Eis que drama, caríssimos: a
atitude de Pedro é a de muitos de nós: não compreendemos o caminho do Senhor,
seu sofrimento e sua cruz.
Esse caminho do Senhor está
presente na nossa vida; e nós não somos capazes de acolhê-lo, de perceber aí o
misterioso desígnio de Deus. Nossa lógica, infelizmente, é tão mundana, tão
terra-terra, tão presa à humana racionalidade. A dura reprimenda do Senhor a
Pedro vale também para nós: “Tu
és para mim pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as
coisas dos homens”. Não nos iludamos: trata-se de duas lógicas sem
acordo: não se pode abraçar a sede louca do mundo de se dar bem a qualquer
custo, de possuir tudo, de viver sempre no sucesso e no acordo com todos e, ao
mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão radical, tão contra a corrente. Vale
para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas
perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” Caros,
olhem o Cristo, pensem no seu caminho e escutem a palavra do Senhor a nós, seus
discípulos: “Se
alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois
quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa
de mim, vai encontrá-la!” Renunciar-se, tomar a cruz por causa de
Jesus… por causa dele! Não há, não pode haver outro caminho para um cristão! Qualquer
outra possibilidade é ilusão humana!
Caros meus, estejamos atentos,
que o Deus de Jesus – e o próprio Jesus é Deus! – nos coloca em crise. Nosso
Deus não é um Deus fácil, manipulável, domesticável: ele seduz, atrai, e sua
sedução no coloca em crise porque nos faz pensas as coisas de Deus, não as dos
homens e isso nos faz nadar contra a corrente. Por mais que quiséssemos, já não
seria possível esquecê-lo, fazer de conta que não o encontramos um dia! É o
drama do profeta Jeremias na primeira leitura deste hoje: “Tu me seduziste, Senhor! ”É
o que afirma o coração do Salmista: “Sois
vós, ó Senhor, o meu Deus: a minha alma tem sede de vós, como terra sedenta e
sem água! Vosso amor vale mais do que a vida!”
Que fazer, meus caros? Por um
lado, experimentamos a sede de Deus, a vontade louca de seguir de todo o
coração o nosso Senhor Jesus, por outro lado, os apelos de um mundo soberbo e
satisfeito consigo mesmo, atanazam o nosso coração… que fazer? Como abraçar
sinceramente a lógica do Evangelho? Há só um modo de seguir adiante, de ser
cristão de verdade: o caminho da conversão. Não é um caminho fácil: é difícil,
doloroso, mas libertador. São Paulo, na segunda leitura de hoje, exorta-nos a
tal caminho: “Eu
vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus: este é o vosso culto espiritual” Compreendem, irmãos?
Compreendem, irmãs? Seguir o Cristo é entrar no seu caminho, é, em união com
ele, fazer-se sacrifício agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo
Espírito do Cristo crucificado e ressuscitado. E o Apóstolo nos previne
claramente: “Não
vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de
pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus,
isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”. Não tomar
a forma do mundo, não viver como o mundo, com sua maneira de pensar e de
avaliar as coisas. Só assim poderemos compreender a vontade de Deus – e ela
passa pela cruz e ressurreição do Senhor!
Caríssimos, pensemos bem! Os
cristãos não são mais perseguidos por soldados, já não são crucificados,
jogados às feras ou queimados vivos. Hoje, o mundo nos combate invadindo nossa
casa e nosso coração com tanta superficialidade e tanto paganismo, acirrando
nossos instintos e explorando nossas fraquezas; hoje o mundo nos ataca nos
ridicularizando, fazendo crer que o cristianismo é algo do passado, opressor e
castrador… Quantos cristãos – até padres, freiras e teólogos – enganam-se e
enganam pensando que se pode dialogar com o mundo… O mundo crucificou Jesus; o
mundo crucifica o Evangelho; o mundo nos crucificará se formos fiéis ao Senhor.
Estamos dispostos a pagar o preço?
“O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”
A única atitude realmente
evangélica diante do mundo é o anúncio inteiro do Cristo, com todas as suas
exigências – sem disfarçar, sem esconder, sem se envergonhar… E isso com
paciência, com amor, com todo respeito.
Levantemo-nos, meus caros!
Sigamos o Senhor até a cruz, para estar com ele na ressurreição. Amém.
D. Henrique Soares
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A Loucura da Cruz - Mons. José Maria Pereira
Em Mt 16, 21-27, Jesus anuncia
aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é
semelhante. Pedro não concorda e começa a “repreendê-Lo”.
Jesus rejeita energicamente as
insinuações de Pedro e diz: “Retira-te, Satanás! Queres fazer-me cair. Pensas
de modo humano, não de acordo com Deus”(Mt 16,23).
Levado pelo seu imenso carinho
por Jesus, Simão procura afastá-Lo do caminho da Cruz, sem compreender ainda
que ela será um grande bem para a humanidade e a suprema demonstração do amor
de Deus por nós. Comenta São João Crisóstomo: ”Pedro raciocinava humanamente e
concluía que tudo aquilo- a Paixão e a Morte- era indigno de Cristo e
reprovável.”
Pedro, naquele momento, não
chega a entender que, por vontade expressa de Deus, a Redenção se tem de fazer
mediante a Cruz e que “não houve meio mais conveniente de salvar a nossa
miséria” (Sto. Agostinho).
Pensando apenas com uma lógica
humana, é difícil entender que a dor, o sofrimento, aquilo que se apresenta
como custoso, possa chegar a ser um bem. Até mesmo porque não fomos feitos para
sofrer, pois todos aspiramos à felicidade.
O medo à dor é um impulso
profundamente arraigado em nós, e a nossa primeira reação é de repulsa. Por
isso, a mortificação, a penitência cristã, tropeça com dificuldades; não é
fácil, e, ainda que a pratiquemos assiduamente, não acabamos nunca de
acostumar-nos a ela.
A fé, no entanto, permite-nos
ver - e experimentar - que sem sacrifício não há amor, não há alegria
verdadeira, a alma não se purifica, não encontramos a Deus. O caminho da
santidade passa pela Cruz, e todo o apostolado fundamenta-se nela. Ensinava o
Papa João Paulo II: “A Cruz é o livro vivo em que aprendemos definitivamente
quem somos e como devemos atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós” (Alocução,
01/04/1980). Devemos aproximar-nos dele e lê-lo; nele aprendemos quem é Cristo,
o seu amor por nós e o caminho para segui- Lo. Quem procura a Deus sem
sacrifício, sem Cruz, não O encontrará. Para ressuscitar com Cristo, temos que
acompanha – lo no seu caminho para a Cruz: aceitando as contrariedades e
tribulações com paz e serenidade; sendo generosos na mortificação voluntária,
que nos faz entender o sentido transcendente da vida e reafirma o senhorio da
alma sobre o corpo. Devemos ter em conta que a Cruz que anuncia Cristo é
escândalo para uns e loucura e insensatez para outros (cf. 1 Cor 1,23).
Hoje vemos também muitas
pessoas que não sentem as coisas de Deus, mas as dos homens. Têm o olhar posto
nas coisas da terra, nos bens materiais, sobre os quais se lançam sem medida,
como se fossem os únicos reais e verdadeiros. Disse Álvaro Del Portilho: ”Este
paganismo contemporâneo caracteriza-se pela busca do bem-estar material a
qualquer custo, e pelo correspondente esquecimento – melhor seria dizer medo,
autentico pavor- de tudo o que possa causar sofrimento. Com esta perspectiva,
palavra como Deus, pecado , cruz, mortificação, vida eterna… acabam por ser
incompreensíveis para um grande número de pessoas, que desconhecem o seu
significado e sentido”.
Temos que lembrar a todos que
não ponham o coração nas coisas da terra, que tudo é caduco, que envelhece e
dura pouco. ”Todos envelhecerão como uma veste” (Hb 1,11).Somente a alma
que luta por manter-se em Deus permanecerá numa juventude sempre maior até que
chegue o encontro com o Senhor. Todas as outras coisas passam, e depressa.
Jesus recorda-nos hoje: ”Que
adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá
alguém dar em troca de sua vida?”(Mt 16,26).Antes, falou: ”Quem quiser salvar a
sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai
encontrá-la.”
O cristão não pode passar por
alto estas palavras de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em
troca de conseguir a eterna. ”Que pouco é uma vida para oferecê-la a
Deus!…”(Caminho, nº 4 20).
A exigência do Senhor inclui
renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus, não aconteça que,
como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos ”Que queriam
que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus
quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que
muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade
de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, crêem que Deus Se satisfaz,
medindo também a Deus por si, e não a si mesmo por Deus”.
“O Filho do Homem virá na
glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo
com a sua conduta”(Mt 16, 27). O Senhor, com estas palavras, situa cada homem,
individualmente, diante do Juízo Final. A salvação tem, pois, um caráter
radicalmente pessoal!
O fim do homem não é ganhar os
bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último
do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela
Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para
conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade,
egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a Cruz. Porque nenhum bem terreno,
que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Como explica São Tomás:
“o menor bem da graça é superior a todo o bem do universo”(Suma Teológica,
I-II, q. 113, a .
9).
Mons. José Maria Pereira
PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA:
LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE
O ALTAR)
- O
Senhor esteja convosco... – Demos graças ao Senhor, nosso Deus...
à COM JESUS,
POR JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS
DIFICULDADES.
à
Senhor, Nosso Pai, nós Vos louvamos pelos profetas que auxiliaram o povo na
caminhada. Nós vos louvamos pelo vosso grande amor. Pai, Vos pedimos por
todos os que receberam o batismo, pois também são os profetas de hoje e devem
testemunhar os valores do Reino. Que o vosso Espírito nos torne mais fortes.
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS
DIFICULDADES.
à
Pai, nós Vos damos graças e vos louvamos por nos enviar vosso
filho para nos instruir no verdadeiro caminho da vitória. Nós Vos pedimos:
renovai nosso pensar e ensinai-nos a reconhecer o que é bom, o que Vos é
agradável para a salvação do mundo.
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS
DIFICULDADES.
à
Pai, Vos agradecemos e louvamos pela ressurreição de Jesus, e
pela assunção de Maria. Através deles nos mostrastes que todos aqueles que
lutam pelo vosso reino serão elevados em glória até Vós. Pai, nós Vos pedimos:
Quando estivermos em dificuldades, desamparados, abandonados, sofrendo as
amarguras desta vida, não nos desampareis com a vossa graça. Enviai vosso
Espírito Santo para nos fortalecer na coragem. T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS DIFICULDADES.
àPAI NOSSO... A PAZ DE CRISTO... EIS O CORDEIRO...