23º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B 2015 (Adaptado e postado pelo
Diácono Ismael)
Tema: “Ele tem feito bem todas as coisas!” Deus quer nos transformar para que tenhamos vida plena.
Tema: “Ele tem feito bem todas as coisas!” Deus quer nos transformar para que tenhamos vida plena.
Na primeira leitura, um profeta no exílio na Babilônia
garante aos exilados que Jahwéh está prestes a vir ao encontro do seu Povo para
o libertar: os cegos contemplarão a luz, os surdos ouvirão, os coxos que
saltarão e os mudos cantarão.
No Evangelho, Jesus abre os ouvidos e solta a
língua de um surdo-mudo… Jesus, revela-se esse Deus amor.
A segunda leitura Convida-nos a não discriminar ou marginalizar o irmão e a acolher com bondade os pobres.
A segunda leitura Convida-nos a não discriminar ou marginalizar o irmão e a acolher com bondade os pobres.
PRIMEIRA LEITURA (Is 35,4-7a)
Leitura do Livro do Profeta Isaías. Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo,
não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de
Deus; é ele que vem para vos salvar”. Então se abrirão os olhos dos cegos e se
descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a
língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no
ermo. A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes
d’água.
AMBIENTE - O autor escreve na fase final do exílio
na Babilónia (550 a.C.). A intenção é consolar os exilados.
MENSAGEM - O Povo, exilado na Babilónia, está em desespero
e sem esperança. O profeta anuncia-lhes a libertação. Deus não esqueceu o seu
Povo. O próprio Jahwéh irá realizar a libertação. O encontro com o Deus
libertador transformará o Povo, dar-lhe-á de novo a liberdade, a alegria e a vida em abundância. O dom de Deus
manifestar-se-á na própria natureza. O deserto transformar-se-á numa terra
fértil, com água em abundância e onde o Povo não terá dificuldade em saciar a
sua fome e a sua sede. A abundância de água no deserto, de que o profeta fala,
é outra imagem para mostrar a vontade de Deus em acumular o seu Povo de vida
plena e abundante.
A marcha será um novo
êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador; este
segundo êxodo será ainda mais grandioso, quanto à manifestação e à ação de
Deus. Será uma peregrinação festiva, solene, feita na alegria e na festa.
ATUALIZAÇÃO • Para os optimistas, o nosso
tempo é um tempo de grandes realizações, de grandes descobertas; para os
pessimistas, o nosso tempo é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida
do nível do mar, de destruição da camada do ozono, de eliminação das florestas,
de risco de holocausto nuclear…
• Para os crentes,
“Deus está aí”: a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e
que na planície árida do desespero brote a flor da esperança. Aos cegos Deus
irá oferecer a luz que indica o caminho para a felicidade; aos surdos Deus
abrirá os ouvidos para que escutem os gritos de sofrimento dos; aos coxos, que
estão presos por cadeias de opressão, de injustiça, de pecado, Deus vai
oferecer a liberdade; aos mudos, pelo medo, pelo comodismo, pela preguiça, pela
passividade, Deus vai enviá-los como mensageiros da justiça, do amor e da paz.
• Quando todos
cruzam os braços e se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o
futuro com os olhos de Deus e ver, para lá do horizonte, um amanhã novo. Ele
vai fazer com que o desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se
transforme em luta empenhada por um mundo melhor.
7. SALMO RESPONSORIAL / Sl
145/146
Bendize, ó minha alma ao Senhor. Bendirei ao Senhor toda a vida!
O Senhor é fiel para sempre, / faz justiça aos
que são oprimidos; / ele dá alimento aos famintos, / é o Senhor quem liberta os
cativos.
• O Senhor abre os olhos aos
cegos; / o Senhor faz erguer-se o caído; / o Senhor ama aquele que é justo. / É
o Senhor quem protege o estrangeiro.
• Ele ampara a viúva e o órfão,
/ mas confunde os caminhos dos maus. / O Senhor reinará para sempre! / Ó Sião,
o teu Deus reinará / para sempre e por todos os séculos!
EVANGELHO (Mc 7,31-37)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, Jesus saiu de
novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia,
atravessando a região da Decápole. Trouxeram então um homem surdo, que falava
com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. Jesus afastou-se com
o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos,
cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e
disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!” Imediatamente seus ouvidos se
abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. Jesus
recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele
recomendava, mais eles divulgavam. Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito
bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.
AMBIENTE A Decápole (“dez cidades”) era o nome dado ao território situado na Palestina oriental, estendendo-se desde Damasco, ao norte, até Filadélfia, ao sul. O nome servia para designar dez cidades, que se formou depois da conquista da Palestina pelos romanos, no ano 63 a.C.. As “dez cidades” estavam em território pagão, considerado pelos judeus completamente à margem dos caminhos da salvação. É nesse ambiente que o episódio da cura do surdo-mudo nos vai situar. O gesto de Jesus de curar o surdo-mudo deve ser visto como mais um passo no anúncio do Reino de Deus.
MENSAGEM - As pessoas que trouxeram o surdo-mudo
suplicaram a Jesus. Na sequência Marcos descreve como Jesus curou o doente e
lhe deu a possibilidade de comunicar.
A descrição de Marcos,
enriquecida com um número significativo de elementos simbólicos, é uma
catequese sobre a missão de Jesus e sobre o papel que Ele desenvolve no sentido
de fazer nascer um Homem Novo. Vejamos:
1 No centro da cena está Jesus e o surdo-mudo (literalmente,
“um surdo que tinha também um problema na fala”). Se a linguagem é um meio
privilegiado de comunicar, de estabelecer relação, o surdo-mudo é um homem que
tem dificuldade em estabelecer laços, em partilhar, em dialogar, em comunicar.
Por outro lado, num universo religioso que considera as enfermidades físicas
como consequência do pecado, o surdo-mudo é, de forma notória, um “impuro”, um
pecador e um maldito. Finalmente, o surdo-mudo vive no território pagão da
Decápole: é provavelmente um desses pagãos que a teologia judaica considerava à
margem da salvação.
2 Na catequese de Marcos, este surdo-mudo representa todos aqueles
que vivem fechados no seu mundo, na sua autossuficiência, fechados às propostas
de Deus e fechado aos outros. Representa também os pecadores, incapazes de
estabelecer uma relação verdadeira com Deus, de escutar a Palavra de Deus e de
viver de forma coerente com os desafios de Deus.
3. O encontro com Jesus transforma a vida desse surdo-mudo.
Jesus abre-lhe os ouvidos e solta-lhe a, tornando-o capaz de comunicar, de
escutar, de falar, de partilhar, de entrar em comunhão. O episódio lembra-nos o
anúncio de Isaías na primeira leitura: “Tende coragem, não temais. Aí está o
vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem
salvar-vos. Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens, a fim de os
libertar das cadeias do egoísmo, do comodismo, da autossuficiência, dos
preconceitos que impedem a relação com Deus e com os irmãos.
4. Não é o surdo-mudo que tem a iniciativa de se encontrar com
Jesus (“trouxeram-Lhe”). O surdo-mudo não sente necessidade de abrir seu
coração para o encontro com Deus e com os irmãos. É preciso que alguém o traga,
que o apresente a Jesus, que o empurre para essa vida nova de amor e de
comunhão. É esse o papel da comunidade cristã… Os que já descobriram Jesus, que
se deixaram transformar pela sua Palavra, que aceitaram segui-lo, devem dar
testemunho dessa experiência e desafiar outros irmãos para o encontro
libertador com Jesus.
5. A sós com o surdo-mudo, Jesus realiza gestos
significativos: mete-lhe os dedos nos ouvidos, faz saliva e toca-lhe com ela a
língua. Tocar com o dedo significava transmitir poder; a saliva transmitia,
pensava-se, a própria força ou energia vital (equivale ao sopro de Deus que
transformou o barro inerte do primeiro homem num ser dotado de vida divina).
Assim, Jesus transmitiu ao surdo-mudo a sua própria energia vital, dotando-o da
capacidade de ser um Homem Novo, aberto à comunhão com Deus e à relação com os
outros homens.
6.. Jesus teria
pronunciado a palavra “effathá” (“abre-te”), quando abriu os ouvidos e desatou
a língua do surdo-mudo. Não se trata de uma fórmula mágica … É um convite ao
homem fechado no seu mundo pessoal a abrir o coração à vida nova da relação com
Deus e com os irmãos. É um convite ao surdo-mudo a sair do seu fechamento, do
seu comodismo, do seu egoísmo, da sua instalação, para fazer da sua vida uma
história de comunhão com Deus e de partilha com os irmãos. O processo de
transformação do surdo-mudo em Homem Novo não é um processo em que só Jesus age
e onde o homem assume uma atitude de passividade; mas é um processo que exige o
compromisso ativo e livre do homem. Jesus faz as propostas, lança desafios,
oferece o seu Espírito que transforma e renova o coração do homem; mas o homem
tem de acolher a proposta, optar por Jesus e abrir o coração aos desafios de
Deus.
ATUALIZAÇÃO • Deus cheio de amor, a cada
instante, vem ao nosso encontro, convida-nos aos caminhos que nos conduzem à
felicidade e à vida verdadeira.
• O surdo-mudo,
incapaz de escutar a Palavra de Deus, representa esses homens que vivem
fechados aos projetos e aos desafios de Deus.
• O surdo-mudo
representa também aqueles que não se preocupam em comunicar, partilhar a vida,
dialogar com outros… vive instalado nas suas certezas e nos seus preconceitos,
convencido de que é dono da verdade. É aquele que não tem tempo para o irmão;
não é tolerante, não compreende os erros dos outros e não sabe perdoar. Uma
vida de “surdez” é uma vida vazia, estéril, triste, egoísta, fechada, sem amor.
• O surdo-mudo se
fecha no egoísmo e no comodismo, indiferentes aos apelos dos irmãos. Somos
surdos quando não escutamos os injustiçados; surdos quando toleramos injustiça,
miséria, sofrimento e morte; somos surdos quando encolhemos os ombros,
indiferentes, face à guerra, à fome, à injustiça, à doença, ao analfabetismo;
somos surdos quando temos vergonha de testemunhar os valores em que
acreditamos; somos surdos quando não
assumimos responsabilidades e deixamos que sejam os outros a comprometer-se;
somos surdos quando calamos; Uma vida comodamente instalada nesta “surdez”
descomprometida é uma vida que vale a pena ser vivida?
• A missão de Cristo
consistiu precisamente em abrir os olhos aos cegos e desatar a língua dos
mudos… Ele veio abrir-nos à relação com Deus, ao amor dos irmãos, ao
compromisso com o mundo. Quem adere a Cristo e quer segui-lo no caminho do amor
a Deus e da entrega aos irmãos, não pode resignar-se a viver fechado a Deus e
ao mundo. O encontro com Cristo tira-nos da mediocridade e desperta-nos para o
compromisso, para o testemunho. Ainda somos
os surdo-mudo, ou ainda não assumimos a missão que Cristo nos deixou?.
• Cristo lembra-nos
o nosso papel de fazer a ponte entre os irmãos que vivem prisioneiros da
“surdez” e a proposta libertadora de Jesus Cristo. Não podemos ficar de braços
cruzados quando algum dos nossos irmãos se instalam em esquemas de fechamento,
de egoísmo, de auto-suficiência; mas, com o nosso testemunho de vida, temos de
lhe apresentar essa proposta libertadora que Cristo quer oferecer a todos os
homens.
• Antes de curar o
surdo-mudo, Jesus “ergueu os olhos ao céu”. O gesto de Jesus recorda-nos que é
preciso manter sempre, no meio da ação, a referência a Deus. É necessário
dialogarmos continuamente com Deus para descobrir os seus projetos, para
perceber as suas propostas, para ser fiel aos seus planos; é preciso tomar
continuamente consciência de que é Deus que age no mundo através dos nossos
gestos; é preciso que toda a nossa ação encontre em Deus a sua razão
última: se isso não acontecer, rapidamente a nossa ação perde todo o sentido.
SEGUNDA LEITURA (Tg 2,1-5)
Leitura da Carta de São Tiago. Meus irmãos: a fé que tendes em nosso Senhor
Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas. Pois bem,
imaginai que na vossa reunião entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem
vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada, e vós dedicais atenção ao que
está bem vestido, dizendo-lhe: “Vem sentar-te aqui, à vontade”, enquanto dizeis
ao pobre: “Fica aí, de pé”, ou então: “Senta-te aqui no chão, aos meus pés”.
Não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com
critérios injustos? Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres
deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o
amam?
AMBIENTE - O objetivo fundamental do autor é
exortar os crentes para que não percam os valores cristãos herdados através dos
ensinamentos de Cristo. A fé concretiza-se no amor ao próximo, sem qualquer
discriminação.
MENSAGEM - Jesus a todos amou igualmente. Quem
aderiu a Jesus Cristo e procura segui-lo, tem de assumir os mesmos valores; por
isso, não pode marginalizar ninguém.
Na comunidade cristã,
todos são iguais e dignos de consideração e de respeito, ainda que desempenhem
funções diferentes e serviços diversos. Os “pobres deste mundo” são, na
linguagem bíblica, os humildes, os débeis, os pacíficos, aqueles que se
apresentam diante de Deus numa atitude de simplicidade, despidos de qualquer
atitude de orgulho, de autossuficiência, de preconceitos; são aqueles que, com
humildade, aceitam os dons de Deus e acolhem as suas propostas com alegria e
gratidão. Porque é que Deus os prefere? Em primeiro lugar, porque são os que
mais necessitam de ser libertados e salvos; em segundo lugar, porque são os
mais disponíveis para acolher o dom do reino. Não é que o reino de Deus seja
uma opção de classe e que os ricos e poderosos não possam ter acesso ao reino;
mas os ricos com o coração cheio de orgulho e de autossuficiência, não estão
disponíveis para acolher a novidade revolucionária e libertadora do reino… São
os “pobres”, na sua simplicidade, humildade e despojamento, na sua ânsia de
libertação, que estão preparados para acolher o dom de Deus que se torna
presente em Jesus e no seu projeto.
ATUALIZAÇÃO - • O cristão que aderiu a Jesus
Cristo, que assumiu os valores que Ele veio propor, procura concretizar essa
proposta de vida que Ele veio fazer. A comunidade cristã é o rosto de Cristo
para os homens; por isso, não faz sentido qualquer acepção de pessoas na
comunidade cristã. Não esqueçamos: a comunidade cristã é chamada a testemunhar
o amor, a bondade, a misericórdia de Cristo para com todos os irmãos, sem
exceção.
• A fraternidade, o
amor, a misericórdia, a tolerância que Cristo nos propõe têm de derramar-se
sobre aqueles que encontramos em cada instante, mesmo se são de outra raça, outra
cultura, se frequentam ambientes diversos, se não concordam com as nossas
ideias, se têm uma forma diferente de encarar a vida.
• Deus oferece o
seu amor, a sua graça e a sua vida a todos; contudo, uns acolhem os seus dons e
outros não… O que é decisivo, na perspectiva de Deus, é a disponibilidade para
acolher a sua proposta e os seus dons. O nosso texto convida-nos a despir-nos
do orgulho, da autossuficiência, dos preconceitos, para acolher com humildade e
simplicidade os dons de Deus.
Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Ornelas
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Os Sinais Messiânicos
No mês de setembro, dedicado à Bíblia, a Palavra de Deus de hoje nos
fala dos sinais dos tempos messiânicos,
com os quais Deus manifesta seu
Plano de amor e de libertação para todo seu povo.
Na 1a leitura,
o Profeta anuncia ao povo sofrido do exílio um sinal da iminência da sua
libertação: a cura de
surdos, mudos, coxos e cegos. (Is 35,4-7)
* Para os judeus, esses sinais serão sinal que
chegou o Messias.
Na 2ª
Leitura, Tiago convida a não discriminar as pessoas e a acolher com
especial bondade os pequenos e os pobres. (Tg
2,15)
No Evangelho temos a
realização da profecia da 1ª leitura:
(Mc 7,31-37)
- Jesus abre os ouvidos e solta a
língua de um surdo-mudo.
- E o povo, entusiasmado, vê nessa
cura um SINAL da presença do Poder salvífico do Messias e exclama:
"Tudo ele tem
feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem".
- Como na "criação", quando
Deus viu que tudo era bom. (Gn 1,31)
Quem é o surdo-mudo?
É uma pessoa incapaz de escutar...
de falar... (a palavra).
- O que seriamos nós sem o uso da
PALAVRA?
A Palavra é o meio por excelência de
comunicação do homem…
- A CRIANÇA não precisa só de alimento, ela necessita também de
palavras de carinho;
- Os NAMORADOS têm necessidade de traduzir em palavras os sentimentos de
seu coração;
- A Palavra acompanha o nascimento e o desenvolvimento de todo AMOR e AMIZADE;
- Os MUDOS convertem seus gestos em palavras.
Há palavras vazias que não dizem
nada… mas há também palavras, que carregam todo o peso de uma existência.
+ Deus também fez uso da Palavra.
Não quis apenas que sua palavra
fosse lida e ouvida...
Quis que fosse também vista,
andando no meio dos homens.
Ele próprio SE FEZ PALAVRA,
na pessoa de Jesus Cristo.
E essa Palavra de Deus ainda hoje
a encontramos em parte escrita num livro que chamamos de BÍBLIA…
Muito se perdeu ao longo da
história…
Muito ainda permanece escondida em
nossos corações e aguarda que a escutemos e anunciemos.
É o que nos lembra São Tiago: "Acolhei com humildade a Palavra que
lhes foi plantada no coração". (Tg 1,21)
Quem são os surdos e mudos de hoje?
+ Diante da REALIDADE em que vivemos:
- São os que ficam indiferentes,
vivem fechados no seu mundo, de ouvidos
fechados às propostas de Deus e de coração fechado aos irmãos.
Nada vêem, nada escutam, nada falam...
Preferem que sua voz só seja ouvida na hora de rezar, permanecendo
cegos, surdos e mudos aos problemas da vida real.
- O Surdo-mudo representa os que
não se preocupam em comunicar, em
partilhar a vida, em dialogar...
* E Cristo convoca a ouvir o clamor dos que sofrem e a falar em defesa da justiça, dos direitos humanos,
na honestidade pública.
- Quantas pessoas continuam sendo...
surdo-mudas!...
+ Diante da FAMÍLIA:
São os que não têm tempo para escutar... nem para falar... e quando falam é bronca...
- Quantos pais, mães, filhos...
surdo-mudos!...
+ Diante da BÍBLIA:
São os que têm os ouvidos e a boca fechados à Palavra de Deus...
São os que não lêem, não escutam, não estudam, não anunciam...
-
Quantos católicos surdos-mudos!...
- Que
tal valorizar um pouco mais a Bíblia nesse mês?
- No
Rito do Batismo, há uma oração muito significativa:
"O Senhor Jesus, que fez os surdos
ouvirem e os mudos falarem,
te conceda que possas logo ouvir a
Palavra e professar a fé para louvor e
glória de Deus Pai."
- Desde o Batismo, nossos ouvidos
se abriram para escutar a Palavra e a nossa língua se soltou para professar a
fé e louvar o Senhor.
Nossos ouvidos estão atentos à
Palavra divina e nossa boca é Palavra de oração permanente?
O Evangelho de hoje nos fala do
milagre do surdo-mudo.
Jesus tocou os ouvidos e a boca do
doente e ele começou a escutar e a falar.
- A Missão da Igreja é trazer e
apresentar essas pessoas a Jesus para
que Ele as liberte de todos os males...
Peçamos a Cristo, que toque também
- NOSSOS OUVIDOS para que se
tornem sensíveis em escutar sua Palavra,
- NOSSOS LÁBIOS para que se tornem
entusiastas em anunciá-la e
- NOSSAS MÃOS para que nos tornemos
generosos em testemunhá-la…
- NOSSOS PÉS, para que desperte em
nós novo ardor missionário...
Pe. Antônio Geraldo
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Homilia de
D. Henrique Soares
O Evangelho deste Domingo apresenta-nos um homem surdo e gago que é colocado diante de Jesus para que ele o cure.
Quem
é o surdo-gago? É a humanidade, enquanto fechada para o dom de Deus que Jesus
nos traz. Surda, porque incapaz de ouvir a Palavra, ouvi-la compreendendo-a,
acolhendo-a no coração: "tem ouvido para ouvir, mas não ouve" (Jr
5,21; cf. Mt 13,14-15).
Esta
é a tendência do coração humano, que a Escritura sempre denunciou: o fechamento
para não acolher a proposta que Deus nos faz, de um caminho com ele, a
tendência de nos fechar em nós e viver a vida como se fosse nossa de modo
absoluto: "Escutai, prestai ouvidos, não sejais orgulhosos, porque
o Senhor falou!" (Jr 13,15); "Ah! Se meu povo me
escutasse, se Israel andasse em meus caminhos... Mas meu povo não ouviu a minha
voz, Israel não quis saber de obedecer-me; então os entreguei ao seu coração
endurecido: que sigam seus próprios caminhos!" (Sl 81/80,14.13). Assim,
no fundo, é o fechamento para Deus, para um Deus verdadeiro, a resistência em
realmente levar a sério o primeiro mandamento: "Ouve, ó
Israel!" (Dt 6,4).
Nossa
civilização ocidental tem sido particularmente fechada à Palavra do Senhor: construímos
a sociedade e construímos nossa vida privada, nossos valores morais, nossas
escolhas, do nosso modo, sem realmente ouvir a proposta e o caminho que o
Senhor nos indica. Reunimos e escutamos os especialistas: economistas,
antropólogos, sociólogos, sexólogos, psicólogos... mas, para nós, o Senhor não
tem mais nada a dizer! Os gurus são os economistas e psicólogos, é o Paulo
Coelho, são os livros de auto-ajuda... Somos uma geração de surdos!
Ora,
se somos surdos, também não podemos falar com clareza: nossas idéias são
embotadas, nossos debates, nossas palavras, não chegam ao essencial da vida, do
sentido da existência, não podemos proclamar de verdade a alegria da salvação,
da plenitude de quem sabe de onde vem e para onde vai. A comunicação se torna
oca, alienada e alienante. Basta observar o que os meios de comunicação
veiculam! Por isso, Jesus cura primeiro a surdez e, depois, a gagueira do
homem. Quando ele puder ouvir o Senhor, tornando-se discípulo pela fé, também
poderá falar, proclamar a ação de Deus em Jesus: do Deus que salva e nos mostra
o sentido da vida, abrindo-nos a esperança eterna!
Sigamos os detalhes da narração de Marcos: (1) Trouxeram o homem surdo-gago
para que Jesus o curasse. "Jesus afastou-se com o homem para fora
da multidão" – bem ao contrário dos curadores pentecostais de
televisão, que exploram seus "milagres" e "curas" como
shows, Jesus procura evitar todo sensacionalismo: ele quer encontrar-se
realmente com aquele homem, pessoa a pessoa, quer que aquele homem o descubra
como sua salvação; (2) "Em seguida, colocou os dedos nos seus
ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele" – o homem,
sendo surdo, somente poderia compreender a linguagem dos símbolos, dos sinais;
é a que Jesus empregou: toca os dedos que, para os antigos, transmitiam poder
(cf. Ex 8,15) e, depois, toca sua língua com a saliva, significando o dom do
Espírito que cura e liberta. Para os antigos, a saliva era o Espírito em estado
líquido (a idéia é estranha, mas é preciso que nos transportemos para o modo de
pensar semítico)! (3)"Olhando para o céu, suspirou e disse:
'Ephatà'". Assim, Jesus indica que a salvação que ele traz procede do
Pai, que o enviou. Mais ainda: ao suspirar, ao gemer, ele exprime sua
compaixão, sua dor pela situação humana; (4) "Imediatamente seus
ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem
dificuldade". Somente Jesus, com o poder do seu Espírito, pode
curar o homem de seu fechamento para escutar e para proclamar. Sim, porque
também nossa geração cristã é, muitíssimas vezes, covarde para proclamar, para
professar sem medo e respeito humano nossa fé. O cristão ou é testemunha ou não
é cristão:"Não podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e
ouvimos. Nós somos testemunhas destas coisas, nós e o Espírito Santo" (At
4,20; 5,32).
Este caminho do surdo-gago é urgente para o cristão: reaprender a escutar de
verdade Jesus (= crer nele de verdade) e falar dele ao mundo no testemunho
corajoso, pois, somente assim, a humanidade atual encontrará a paz que tanto
almeja. Somente em Cristo aquilo que a primeira leitura vislumbra e anuncia de
modo tão belo, pode realizar-se: "Dizei às pessoas deprimidas:
'Criai ânimo, não tenhais medo! Vede! É o nosso Deus que vem; é ele que vem
para salvar!' Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos
dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos,
assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terá árida
se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d'água" –
Que imagens impressionantes, belas, evocativas! Quando Deus vem, quando ele
está presente, tudo é vida, tudo é plenitude, tudo canta de alegria! Não é
disso que nosso mundo atual tanto precisa? Mas, o homem fechado na sua soberba
– nós, fechados na nossa auto-suficiência e no nosso comodismo! – jamais vai
experimentar isso!
Para
acolher na alegria e simplicidade, é necessário reconhecer-se necessitado, como
o surdo-gago, que procurou Jesus, para que lhe impusesse as mãos: somente quem
é pobre diante de Deus, quem se reconhece pequeno diante do Altíssimo, pode
abrir-se para a salvação e recebê-la do Senhor! Daí a lembrete de São
Tiago: "Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos
na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?" São
palavras que nos incomodam e até escandalizam: Deus prefere os pobres... porque
os pobres são abertos para Deus. Eles conseguem experimentar dolorosamente na
carne aquilo que nós tentamos esquecer ou temos dificuldades para compreender:
que somos todos pobres, necessitados, pequenos diante de Deus! Com nossas
posses e nossas seguranças, apoiamo-nos em nós mesmos, tornando-nos surdos e
mudos para o Senhor! O pobre é profético sempre, porque recorda o que nós somos
e, quando descobrimos isso, podemos ser curados de nossa auto-suficiência surda
e libertados de nossa preguiça muda. O salmo da Missa de hoje canta exatamente
esta experiência: Deus salva o pobre, o pequeno, o desvalido!
Se o pobre é sempre profeta, sempre uma palavra de Deus ao nosso lado e, mais
ainda, é presença do próprio Cristo, que sendo rico se fez pobre (cf. 2Cor 8,9)
- "O que fizestes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes"
(Mt 25,40) -, então, o nosso modo de tratar o pobre, de ver o pobre,
de nos aproximar do pobre – seja pessoal, seja comunitariamente – diz muito
daquilo que nós e nossa Comunidade somos em relação a Deus; diz muito dos nosso
critérios: se são segundo Deus ou segundo nosso coração mundano!
Que o Senhor nos cure da surdez e da gagueira; faça-nos atentos à sua Palavra e
ao seu testemunho; dê-nos olhos para reconhecê-lo nos irmãos, sobretudo nos
pobres, seja de que pobreza for... sobretudo os pobres, social e economicamente
falando!
+++++
Homilia II
Caríssimos em Cristo, hoje a santa Palavra do Senhor nos fala de um Deus que
vem. E ele vem sempre, amados! Vem porque está entre nós na potência do seu
Santo Espírito, que age constantemente nos sacramentos da Igreja, que proclamam
a Palavra da Salvação e tornam realidade essa Palavra salvífica! Eis, portanto,
nosso Deus vem, vem sempre no seu Filho Jesus pleno do Santo Espírito. E quando
ele vem, a nossa sorte muda: "Criai ânimo, não tenhais medo! Vede,
é vosso Deus: é ele que vem para vos salvar! Abrir-se-ão os olhos dos cegos e
se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se
desatará a língua dos mudos... brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes
no ermo. A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes
d'água". Ó caros! Não é coxo o mundo atual, não é cego, não é
seco? Vede ao redor em que tem se tornado a nossa existência! Tanto mais o
homem se feche para Deus, tanto menos vive, tanto menos se realiza, tanto menos
é feliz... E, no entanto, se nos abrirmos, se nos deixarmos curar, o Senhor
transformará a nossa pobre vida: nossa surdez será curada e escutaremos a doce
voz do Senhor que nos guia, nossa mudez transformar-se-á em canto de exultação
e da sequidão do nosso coração sem vida, a água fresca e vivificante brotará em
abundância! Humanidade dura e teimosa, a nossa, que procura vida sem Deus e não
encontra a não ser desilusão! Pois bem, caríssimos, é de paz, é de vida, é de
felicidade que o Senhor nos fala hoje, nos fala sempre nos anúncios dos
profetas! E o que eles anunciaram para os tempos do Messias, tempos de
salvação, o Senhor Jesus realiza em plenitude: hoje, no Evangelho que ouvimos,
ele coloca os dedos nos ouvidos dum surdo-mudo e, com a saliva, toca-lhe a
língua. Que significa esse gesto? A saliva, para os judeus, era o ar feito
líquido. Assim, Jesus dá seu Sopro, seu Espírito ao homem. Agora aquele
zé-ninguém, aquele surdo-mudo de vida semi-humana é homem novo: pode ouvir o
Senhor, pode proclamar suas maravilhas! Mas, não é isso que somos? Não é isso
que devemos testemunhar com a nossa vida?
Recordam, irmãos amados, do rito batismal, quando o sacerdotes traçou o sinal
da cruz nos nossos ouvidos e nos nossos lábios, repetindo o gesto de Jesus?
Recordam quando ele exclamou: "Efatá!", como o próprio Jesus,
naquele tempo? Recordam? Surdos curados por Jesus, é o que somos; mudos
libertados pelo Senhor, é a nossa realidade! Agora curados, aprendamos a
escutar realmente a palavra e os apelos daquele que nos curou; agora libertos,
proclamemos ante o mundo incréu as maravilhas daquele que nos livrou e nos
chamou das trevas para a sua luz admirável! Somos novos em Cristo, somos novas
criaturas! Externemos essa realidade com nossa vida pessoal e comunitária! Ó
cristão, quantas vezes será necessário exortar-te a viver de acordo com aquilo
que tu és? Por que és frouxo, por que covarde, por que sem entusiasmo, por que
omisso, por que és duro e surdo para a voz do teu Senhor? Por que, caríssimos
meus, o nosso modo de viver não impressiona? Por que nosso testemunho do Senhor
não contagia os outros? Por que nossas ações não iluminam o mundo em trevas?
Porque fugimos do Senhor, porque não deixamos que ele nos toque, nos cure, nos
liberte! Sufocamos a graça recebida no batismo! E como a sufocamos? Pela
vida frouxa, pela existência displicente, que não leva a sério realmente a ação
libertadora do Senhor em nós!
Somos novos de uma nova vida! Novos, cada um de nós; novos, nós todos como
Igreja! Somos a comunidade dos que experimentam essa vida nova, dos que vivem
já neste mundo o sonho de um novo modo de existir. Não se trata, meus caros, de
um ideal sociológico ou simplesmente humanístico: o motivo da vida nova é o
Cristo de Deus que, nos dando o seu Santo Espírito, faz-nos criaturas novas,
capazes de viver no seu amor e do seu amor. A Igreja é isso: uma comunhão
brotada do amor do Cristo – e este amor é o Santo Espírito. Uma comunidade que
vive neste Espírito, que não é o do mundo, que não é o da esquerda festiva ou
da direita egoísta, do centro omisso ou dos extremos exaltados... Nossa vida,
nossa inspiração, nossa força é o Espírito no qual o Pai e o Filho se amam e se
dão! Pois bem! Uma comunidade que vive nesse Espírito não admite discriminações
injustas, não admite o desprezo de uns pelos outros, sobretudo dos seus membros
mais frágeis e pobres. Uma comunidade "espiritual" julga segundo os
critérios do Evangelho e descobre que aquilo que para o mundo é frágil, é
perdido, é sem valor, na verdade é o que há de mais precioso aos olhos de Deus:"Meus
queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem
ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?" Aqui
não se trata de bom-mocismo, de uma filantropia meramente humana; trata-se,
antes, de uma consciência que brota da contemplação do próprio modo de agir de
Deus: ele ama o miserável porque é misericordioso, ele se volta para o pobre,
de qualquer pobreza que seja, porque nos ama gratuitamente, e lhe apraz retirar
o pobrezinho do monturo e elevá-lo com os nobres do seu povo! Neste sentido,
São Tiago nos chama atenção para uma realidade bem concreta, palpável em cada
geração: são os pobres, os débeis, os fracos que mais têm fé, que mais se
abandonam no Senhor. Quem enche nossas igrejas? Quem é mais generoso para com
Deus? Quem mais se esforça para levar a sério os preceitos do Senhor? Quem mais
teme a Deus? Em geral, os pobres, os sofredores, os desvalidos! E por quê?
Porque ali, na humana miséria, podemos ver sem máscaras aquilo que somos o
tempo todo: pobres! Ainda que não queiramos admitir, somos todos pobres, todos
necessitados, todos dependentes diante de Deus. Precisamente aqui está a grande
bem-aventurança: ser pobre diante de Deus. E são os pobres do mundo e os pobres
de nossas comunidades quem melhor nos lembram isso! Olhemos os pobres e vejamos
o que somos; sirvamos e honremos os pobres, e serviremos e honraremos aquele
por quem e para quem somos!
Neste sentido, a segunda leitura deste hoje é um sério convite a que nos
perguntemos sobre como nossa comunidade e nossa casa se comportam em relação
aos pobres e carentes do mundo. Damos-lhe atenção? Preocupamo-nos com eles? Uma
comunidade cristã – a de casa, da paróquia ou do grupo e movimento de Igreja –
que não abra o coração para os pobres, não é comunidade cristã! É incômodo isso
que eu digo; mas, é a verdade da Palavra de Deus, que não pode ser maquiada nem
domesticada! Nosso comportamento em relação aos pobres definirá nossa situação
para sempre diante de Cristo no Último Dia! Disso não tenhamos a mínima dúvida!
Portanto, ouçamos e tremamos!
Caríssimos, calem no coração as palavras que o Senhor hoje nos dirigiu. E que
esta Eucaristia cure nossa surdez, desate nossa língua e converta o nosso coração.
Amém.
D.
Henrique Soares
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