sexta-feira, 1 de setembro de 2017

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO A, Homilias e Subsídios dominicais

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO A 2017 (Diácono Ismael)

Tema: o acesso a vida plena passa pelo amor e pela cruz; não é fácil.
Primeira leitura, Jeremias colocou a sua vida ao serviço de Deus, enfrentou os poderosos; por isso, conheceu  a perseguição e o sofrimento.
Evangelho: Jesus avisa que o caminho da vida verdadeira não passa pelos triunfos humanos, mas pelo amor e dom da vida (até à morte, se for necessário). Jesus nos diz: “tome a sua cruz e me siga”
Segunda leitura:  Oferecer a Deus toda a existência, significa, de acordo com Paulo, não nos conformarmos com a lógica do mundo e aprendermos a discernir os planos de Deus e a viver este projeto.

PRIMEIRA LEITURA (Jr 20,7-9) Leitura do Livro do Profeta Jeremias.
Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder. Tornei-me alvo de irrisão o dia inteiro,  todos zombam de mim. Todas as vezes que falo, levanto a voz, clamando contra a maldade e invocando calamidades; a palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro. Disse comigo: “Não quero mais lembrar-me disso nem falar mais em nome dele”. Senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar.

AMBIENTE Jeremias (por volta de 626 a.C.), sentiu que Deus o chamava a ser profeta. A atividade profética de Jeremias prolongou-se até depois da destruição de Jerusalém pelos babilônios (586 a.C.). Foi um período de grande instabilidade, de injustiças sociais, de infidelidade religiosa. Quer Joaquim (609-597 a.C.) quer Sedecias (597-586 a.C.) foram reis fracos, incapazes de responder com êxito uma política de neutralidade em relação às grandes potências da época (sobretudo o Egito e a Babilônia). Jeremias – convencido de que Judá estava sendo infiel a Deus ao deixar de confiar em Jahwéh e ao colocar a sua segurança e a sua esperança nas mãos dos povos estrangeiros – criticou duramente os líderes do Povo e anunciou uma invasão estrangeira, destinada a castigar os pecados de Judá.
A pregação de Jeremias não foi apreciada pelo Povo e pelos líderes. Considerado um “profeta da desgraça”, apenas conseguiu criar o vazio à sua volta e viu os amigos, os familiares, os conhecidos voltarem-lhe as costas. Conheceu a solidão, o abandono, a maledicência… Acusado de traição e encarcerado, chegou a correr perigo de morte. Jeremias, homem bom, sofria pelo abandono a que a missão profética o condenava.

MENSAGEM O texto apresenta-nos uma desconcertante oração de Jeremias num momento dramático de desilusão e de desânimo (quando, preso pelos ministros de Sedecias e atirado numa cisterna. O profeta, embalado pelas promessas desse Deus sedutor, incapaz de resistir ao seu fogo abrasador, "Seduzido" pelo Senhor, entregou-se nas suas mãos e dedicou toda a vida ao seu serviço).
Nesse caminho conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição.
Teve a tentação de largar tudo, mas não desistiu: "Senti dentro de mim um fogo ardente a me penetrar!..."
* É o grito humano de um coração dolorido, marcado pela incompreensão e pelo aparente fracasso na Missão...
Diante do sofrimento desanima, mas logo se reanima, movido por uma grande paixão por Deus.
É a experiência de todos os que acolhem a Palavra do Senhor e vivem em coerência com os valores de Deus

ATUALIZAÇÃO • Ser sinal de Deus e dos seus valores significa enfrentar a injustiça, a opressão. Deus nunca prometeu a nenhum profeta um caminho fácil de glórias e de triunfos humanos.
• No batismo, fomos ungidos como “profetas”, à imagem de Cristo. Somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus ressoa no mundo e se dirige aos homens.
• O lamento de Jeremias é o grito de um coração humano dolorido, marcado pela incompreensão dos que o rodeiam, pelo abandono a que devotou a sua vida. É o mesmo lamento de tantos homens e mulheres, em tantos momentos dramáticos de solidão, de sofrimento, de incompreensão, de dor. É a expressão da nossa fragilidade, das nossas limitações, da nossa humanidade. É precisamente nessas situações que nos dirigimos a Deus e Lhe dizemos a falta que Ele nos faz e o quanto a nossa vida é vazia, sem sentido se Ele não nos estender a sua mão e descobrimos que, sem Deus e sem o seu amor, a nossa vida não faz sentido.

SALMO RESPONSORIAL / Sl 62 (63)
A minh’alma tem sede de vós como a terra sedenta, ó meu Deus!
• Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! / Desde a aurora ansioso vos busco! /
A minh’alma tem sede de vós, / minha carne também vos deseja, /como terra sedenta e sem água!
• Venho, assim, contemplar-vos no templo, / para ver vossa glória e poder. /
Vosso amor vale mais do que a vida: / e por isso meus lábios vos louvam.
• Quero, pois, vos louvar pela vida / e elevar para vós minhas mãos! /
 A minh’alma será saciada, / como em grande banquete de festa; /
cantará a alegria em meus lábios, / ao cantar para vós meu louvor.

EVANGELHO (Mt 16, 21-27) Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo, dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!” Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: “Vai para longe, satanás! Tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!” Então Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida? Porque o filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”.

AMBIENTE - A comunidade dos discípulos expressava a sua fé em Jesus como o “Messias, Filho de Deus”. Nesta fase, as multidões ficaram para trás e os líderes já decidiram rejeitar Jesus. Quem continua a acompanhar Jesus é o grupo dos discípulos. Eles acreditam que Jesus é o “Messias, Filho de Deus” e querem partilhar o seu destino de glória e de triunfo. Jesus vai, no entanto, explicar-lhes que o seu messianismo não passa por triunfos e êxitos humanos, mas pela cruz; e vai avisá-los de que viver como discípulo é seguir esse caminho da entrega e do dom da vida (cf. Mt 17,22-27).
Mateus escreve o seu Evangelho para comunidades cristãs do final do séc. I (anos 80). São comunidades instaladas, que já esqueceram o fervor inicial e que se acomodaram num cristianismo morno e pouco exigente. Com a aproximação de tempos difíceis (no horizonte próximo estão já as grandes perseguições do final do séc. I), é conveniente que os crentes recordem que o caminho cristão não é um caminho fácil, percorrido no meio de êxitos e de aplausos, mas é um caminho difícil, que exige diariamente a entrega e o dom da vida.

MENSAGEM - Depois do confronto de Jesus com os líderes judeus, estes rejeitaram a proposta do Reino, pensam em matá-lo. Jesus tem consciência disso; e anuncia que pretende continuar, até ao fim, os planos do Pai.
Pedro não está de acordo com este final e opõe-se ao seu destino de cruz. A oposição significa que a compreensão do mistério de Jesus ainda é muito imperfeita. Para ele, a missão do “Messias, Filho de Deus” é uma missão gloriosa e vencedora; e, na lógica de Pedro – que é a lógica do mundo – a vitória não pode estar na cruz e no dom da vida.
Jesus dirige-Se a Pedro com dureza, pois é preciso que os discípulos corrijam a sua perspectiva de Jesus e do plano do Pai que Ele vem realizar. O plano de Deus não passa por triunfos humanos, nem por esquemas de poder e de domínio; mas o plano do Pai passa pelo dom da vida e pelo amor até às últimas conseqüências. Ao pedir a Jesus que não embarque nos projetos do Pai, Pedro está repetindo as tentações que Jesus experimentou no início do seu ministério (cf. Mt 4,3-10); por isso, Mateus coloca na boca de Jesus a mesma resposta que, então, Ele deu ao diabo: “Retira-te, Satanás”. As palavras de Pedro – como as do diabo anteriormente – pretendem desviar Jesus do cumprimento dos planos do Pai; e Jesus não está disposto a transigir com qualquer proposta que O impeça de concretizar, com amor e fidelidade, os projetos de Deus.
Na segunda parte, Jesus apresenta uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo. Quem quiser ser discípulo de Jesus, tem de “renunciar a si mesmo”, “tomar a cruz” e seguir Jesus no seu caminho de amor, de entrega e de dom da vida. Renunciar a si mesmo significa renunciar ao seu egoísmo e autossuficiência, para fazer da vida um dom a Deus e aos outros. Só assim ele poderá ser discípulo de Jesus e integrar a comunidade do Reino.
A cruz é a expressão de um amor total, radical, que se dá até à morte. Significa a entrega da própria vida por amor. “Tomar a cruz” é ser capaz de gastar a vida por amor a Deus e para que os irmãos sejam mais felizes.
No final Jesus convida-os a entender que oferecer a vida por amor não é perdê-la, mas ganhá-la. Quem é capaz de dar a vida a Deus e aos irmãos não fracassou; mas ganhou a vida eterna, a vida verdadeira que Deus oferece a quem vive de acordo com as suas propostas.
Em segundo lugar, os discípulos são convidados a perceber que a vida que gozam neste mundo não é a vida definitiva. Não devem, pois, preocupar-se em preservá-la a qualquer custo: devem é procurar encontrar, já nesta terra, essa vida definitiva que passa pelo amor total e pelo dom a Deus e aos outros. É essa a grande meta que todos devem procurar alcançar.
Em terceiro lugar, os discípulos devem pensar no seu encontro final com Deus: nessa altura, Deus dar-lhes-á a recompensa pelas opções que fizeram…

ATUALIZAÇÃO • A lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus). A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa. A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade.
• Dar ouvidos à lógica do mundo e esquecer os planos de Deus é, para Jesus, uma tentação diabólica que Ele rejeita duramente.
• O que é “renunciar a si mesmo”? É não deixar que o egoísmo, o orgulho, o comodismo, a autossuficiência dominem a vida; mas vive para Deus e na solidariedade, na partilha e no serviço aos irmãos.
• O que é “tomar a cruz”? É amar até às últimas consequências, até à morte. O seguidor de Jesus é aquele que está disposto a dar a vida para que os seus irmãos sejam mais livres e mais felizes. Por isso, o cristão não tem medo de lutar contra a injustiça, a exploração, a miséria, o pecado, mesmo que isso signifique enfrentar a morte, a tortura, as represálias dos poderosos.
* Nós temos facilidade em aceitar a Cruz de Jesus, mas temos dificuldade, mesmo com fé, em aceitar a nossa cruz no nosso dia a dia.

SEGUNDA LEITURA (Rm 12, 1-2) Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito.

AMBIENTE - Paulo vai mostrar como deve viver aquele que é chamado à salvação.
Essas indicações práticas aparecem na segunda parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 12,1-15,13). Aí Paulo apresenta um longo discurso exortativo, no qual convida os romanos (e os crentes em geral) a comportar-se de acordo com as exigências de batizados. Aderir a Cristo e acolher a salvação exige um comportamento coerente com os valores de Jesus e com a vida nova que Ele oferece. A adesão a Jesus implica assumir atitudes que sejam a expressão de vida nova.

MENSAGEM - A bondade e o amor de Deus convidam a uma resposta do homem. Paulo convida a oferecerem-se a si mesmo. Essa oferta será um “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Oferecer a vida a Deus é o culto que Deus espera sobre quem derrama a sua misericórdia e a quem oferece a salvação.
Em primeiro lugar, não se conformar com “este mundo” – isto é, manter uma distância crítica em relação aos esquemas do mundo e aos valores sobre os quais este mundo de egoísmo e de pecado se constrói. Em segundo lugar, uma mudança de mentalidade que possibilite ao homem discernir qual é a vontade de Deus, a fim de poder percorrer, com fidelidade, os seus caminhos.
O “culto espiritual” de que Paulo fala é a entrega a Deus da totalidade da vida do homem. O cristão deve renunciar aos caminhos do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência, da injustiça e do pecado; e deve procurar conhecer os projetos de Deus, acolhê-los no coração e viver em coerência total com as suas propostas.

ATUALIZAÇÃO - • Para Paulo, o culto que Deus quer é a nossa vida, vivida no amor, no serviço, na doação, na entrega a Deus e aos irmãos.
• O cristão não pactua com um mundo que se constrói à margem dos valores de Deus.
* Para ressuscitar com Cristo, temos que acompanha–lo no seu caminho para a Cruz: aceitando as contrariedades e tribulações com paz e serenidade;
*A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus. São Tomás: “o menor bem da graça é superior a todo o bem do universo”(Suma Teológica, I-II, q. 113, a. 9).

Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho

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O caminho da Cruz - Pe. Antônio Geraldo

A Liturgia convida os seguidores do Senhor  a descobrirem a "loucura da CRUZ"
e apresenta dois exemplos: JEREMIAS e PEDRO.

Na 1a Leitura, JEREMIAS descreve sua experiência de Cruz. (Jr 20,7-9)

"Seduzido" pelo Senhor, colocou toda a sua vida a serviço de Deus.
Nesse caminho conheceu o sofrimento, a solidão, a perseguição.
Teve a tentação de largar tudo, mas não desistiu: "Senti dentro de mim um fogo ardente a me penetrar!..."

* É o grito humano de um coração dolorido, marcado pela incompreensão e pelo aparente fracasso na Missão...
Diante do sofrimento desanima, mas logo se reanima, movido por uma grande paixão por Deus.
É a experiência de todos os que acolhem a Palavra do Senhore vivem em coerência com os valores de Deus

Na 2ª Leitura, Paulo convida os cristãos a oferecerem a própria vida a Deus.
Esse é o verdadeiro culto que agrada a Deus. (Rm 12,1-2)

No Evangelho, Jesus anuncia aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é semelhante. (Mt 16,21-27)

- PEDRO não concorda e começa a "repreendê-lo".
- Jesus rejeita energicamente as insinuações de Pedro e diz:  "Afasta-se de mim, Satanás... não pensas as coisas de Deus...”  E acrescenta: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo,
  tome a sua CRUZ e me siga".
* Nós temos facilidade em aceitar a Cruz de Jesus, mas temos dificuldade, mesmo com fé, em aceitar a nossa cruz no nosso dia a dia.

+ A Experiência dos CATEQUISTAS
Como Jeremias e de Pedro, eles se deixam "seduzir" por Deus e aceitam cumprir essa grande missão. São inevitáveis as dificuldades, os sofrimentos e as perseguições.
Não obstante tudo isso, no final estão convencidas que valeu a pena.

Catequistas, obrigado, porque vocês também se deixaram "SEDUZIR" pelo Senhor...
O Autor sagrado lhes garante: "Felizes os pés que andam para anunciar boas novas".

                                                                    Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Françoá Costa  - Os sinônimos da caridade

Renuncia, Cruz, Sacrifício. São sinônimos da palavra “amor”. O Evangelho de hoje nos coloca naquelas dimensões do amor mais profundo e, portanto, autêntico. No centro de todo amor verdadeiro encontra-se o mistério da cruz, que é doação e entrega. Ao contrário do narcisismo, a caridade é principalmente “ágape”, amor oblativo. Já que falamos do narcisismo, é bom conhecer a lenda de Narciso, filho do rio Cefiso e de Leríope. Conta-se que esse jovem tinha uma beleza tão arrebatadora que ele mesmo, vaidoso de si, amou-se com tanto arroubo que, ao esquecer-se das necessidades mais básicas, acabou morrendo de fraqueza, mas contemplando-se a si mesmo com transportes de êxtase. “Isso sim que é exemplo de idiota!” – dirá alguém. E eu não poderei menos que concordar!
Um pai de família que está sempre pensando em si mesmo, nas suas coisas, nas suas vaidades, nas suas festas e nas suas coisinhas de trabalho e que, consequentemente, já não dá atenção à esposa e aos filhos, não se preocupa com a educação dos filhos, omite os detalhes de cortesia com os companheiros de trabalho, não procura escutar as preocupações da sua esposa com paciência e compreensão, esse tal ainda não compreendeu nem vivenciou as palavras de Jesus sobre a renúncia a si mesmo para segui-lo de perto, neste caso na vocação matrimonial. E a esposa que só olha para si mesmo e confia a educação dos filhos a terceiros, mas de maneira irresponsável; que faz questão de ser narcisista da própria beleza em salões que a detêm quase por tempos indeterminados; ou que já não se arruma e procura estar bonita para o próprio esposo; que não faz aquela comidinha que ele gosta tanto… Como poderá esperar a recompensa do nosso Pai do céu a uma caridade ativa (cfr. Mt 16,27)?”
Um jovem que não compreendeu a força do amor de Deus sempre encontra o amor cristão um pouco absurdo. Claro! Enquanto ele entender o amor como satisfação dos próprios apetites, o amor de Deus lhe parecerá, no pior dos casos, inclusive odioso. Neste sentido, uma das melhores maneiras de aprender a caridade é sendo generoso de verdade. Como é importante visitar os enfermos e compreender a alegria de fazer os outros alegres. É interessante visitar algum orfanato para aprender a generosidade de um sorriso infantil que nada pede. Cuidar dos outros e pensar neles, em como ajudá-los melhor, é, na verdade, um excelente remédio para descomplicar-se a si mesmo. Ainda que no começo se realize essas atividades de caridade pensando em si mesmo, pouco a pouco a força do amor convencerá do contrário: é preciso doar-se; é na entrega singela que se encontra a felicidade autêntica.
E o mesmo se diga com tantas outras coisas na nossa vida. Essas palavras de São Gregório Magno referidas a São Paulo são elucidativas: “[Paulo] suporta no exterior adversidades. Pois é rasgado pelas chicotadas, preso em cadeias. No interior, sente o medo de que seus sofrimentos sejam obstáculos não para si, mas para os discípulos… Ó entranhas de imensa caridade! Não se importa com aquilo que ele mesmo sofre e cuida de que os discípulos não sofram de alguma ideia perniciosa no coração. Despreza em si as feridas do corpo e sara nos outros as feridas do coração. Os justos têm isto de próprio: na dor de suas tribulações, não abandonam o interesse pelo bem do outro; e, sobretudo, estão atentos a ensinar o necessário aos outros e sofrem como grandes médicos doentes. Em si toleram as feridas profundas e prescrevem a outros os medicamentos salutares” (S. Gregório Magno, “Moralia in Iob”, 3, 39-40).
Escutei esta frase quando era um adolescente: “quem busca um Cristo sem cruz acabará encontrando uma cruz sem Cristo”. Passaram-se os anos, mas continuo convencido de que a frase é verdadeira. Além do mais, as pessoas que não amam a Deus e aos seus semelhantes também sofrem. Mas – pergunta-se – qual é o sentido do seu sofrimento? E no caso do cristão, acaso o sentido para os seus padecimentos e alegrias não se encontra no Cristo que nos salvou? Certamente. Ele se entregou por amor. Agora é a nossa vez: por amor também!

Pe. Françoá Costa

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Homilia de D. Henrique Soares - Mt 16,21-27

O Evangelho deste Domingo reflete um momento crítico da vida do Senhor Jesus. Ele sabe que será massacrado por seus inimigos, sabe que a vinda do Reino de Deus passaria pelo desastre da cruz. Agora, anuncia isso aos apóstolos: iria sofrer e morrer para ressuscitar. Pedro não compreende como isso possa ser possível, não aceita tal caminho para o Mestre: “Deus não permita tal coisa, Senhor!” Eis que drama, caríssimos: a atitude de Pedro é a de muitos de nós: não compreendemos o caminho do Senhor, seu sofrimento e sua cruz.
Esse caminho do Senhor está presente na nossa vida; e nós não somos capazes de acolhê-lo, de perceber aí o misterioso desígnio de Deus. Nossa lógica, infelizmente, é tão mundana, tão terra-terra, tão presa à humana racionalidade. A dura reprimenda do Senhor a Pedro vale também para nós: “Tu és para mim pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens”. Não nos iludamos: trata-se de duas lógicas sem acordo: não se pode abraçar a sede louca do mundo de se dar bem a qualquer custo, de possuir tudo, de viver sempre no sucesso e no acordo com todos e, ao mesmo tempo, ser fiel ao Evangelho, tão radical, tão contra a corrente. Vale para nós – valerá sempre – o desafio de Jesus: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” Caros, olhem o Cristo, pensem no seu caminho e escutem a palavra do Senhor a nós, seus discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la!” Renunciar-se, tomar a cruz por causa de Jesus… por causa dele! Não há, não pode haver outro caminho para um cristão! Qualquer outra possibilidade é ilusão humana!
Caros meus, estejamos atentos, que o Deus de Jesus – e o próprio Jesus é Deus! – nos coloca em crise. Nosso Deus não é um Deus fácil, manipulável, domesticável: ele seduz, atrai, e sua sedução no coloca em crise porque nos faz pensar as coisas de Deus, não as dos homens e isso nos faz nadar contra a corrente. Por mais que quiséssemos, já não seria possível esquecê-lo, fazer de conta que não o encontramos um dia! É o drama do profeta Jeremias na primeira leitura deste hoje: “Tu me seduziste, Senhor! ”É o que afirma o coração do Salmista: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus: a minha alma tem sede de vós, como terra sedenta e sem água! Vosso amor vale mais do que a vida!”
Que fazer, meus caros? Por um lado, experimentamos a sede de Deus, a vontade louca de seguir de todo o coração o nosso Senhor Jesus, por outro lado, os apelos de um mundo soberbo e satisfeito consigo mesmo, atanazam o nosso coração… que fazer? Como abraçar sinceramente a lógica do Evangelho? Há só um modo de seguir adiante, de ser cristão de verdade: o caminho da conversão. Não é um caminho fácil: é difícil, doloroso, mas libertador. São Paulo, na segunda leitura de hoje, exorta-nos a tal caminho: “Eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” Compreendem, irmãos? Compreendem, irmãs? Seguir o Cristo é entrar no seu caminho, é, em união com ele, fazer-se sacrifício agradável a Deus, deixando-se guiar e queimar pelo Espírito do Cristo crucificado e ressuscitado. E o Apóstolo nos previne claramente: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”. Não tomar a forma do mundo, não viver como o mundo, com sua maneira de pensar e de avaliar as coisas. Só assim poderemos compreender a vontade de Deus – e ela passa pela cruz e ressurreição do Senhor!
Caríssimos, pensemos bem! Os cristãos não são mais perseguidos por soldados, já não são crucificados, jogados às feras ou queimados vivos. Hoje, o mundo nos combate invadindo nossa casa e nosso coração com tanta superficialidade e tanto paganismo, acirrando nossos instintos e explorando nossas fraquezas; hoje o mundo nos ataca nos ridicularizando, fazendo crer que o cristianismo é algo do passado, opressor e castrador… Quantos cristãos – até padres, freiras e teólogos – enganam-se e enganam pensando que se pode dialogar com o mundo… O mundo crucificou Jesus; o mundo crucifica o Evangelho; o mundo nos crucificará se formos fiéis ao Senhor. Estamos dispostos a pagar o preço? “O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”
A única atitude realmente evangélica diante do mundo é o anúncio inteiro do Cristo, com todas as suas exigências – sem disfarçar, sem esconder, sem se envergonhar… E isso com paciência, com amor, com todo respeito.
Levantemo-nos, meus caros! Sigamos o Senhor até a cruz, para estar com ele na ressurreição. Amém.

D. Henrique Soares

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A Loucura da Cruz - Mons. José Maria Pereira

 

Em Mt 16, 21-27, Jesus anuncia aos discípulos a sua Paixão e Cruz e avisa que o caminho dos discípulos é semelhante. Pedro não concorda e começa a “repreendê-Lo”.
Jesus rejeita energicamente as insinuações de Pedro e diz: “Retira-te, Satanás! Queres fazer-me cair. Pensas de modo humano, não de acordo com Deus”(Mt 16,23).
Levado pelo seu imenso carinho por Jesus, Simão procura afastá-Lo do caminho da Cruz, sem compreender ainda que ela será um grande bem para a humanidade e a suprema demonstração do amor de Deus por nós. Comenta São João Crisóstomo: ”Pedro raciocinava humanamente e concluía que tudo aquilo- a Paixão e a Morte- era indigno de Cristo e reprovável.”
Pedro, naquele momento, não chega a entender que, por vontade expressa de Deus, a Redenção se tem de fazer mediante a Cruz e que “não houve meio mais conveniente de salvar a nossa miséria” (Sto. Agostinho).
Pensando apenas com uma lógica humana, é difícil entender que a dor, o sofrimento, aquilo que se apresenta como custoso, possa chegar a ser um bem. Até mesmo porque não fomos feitos para sofrer, pois todos aspiramos à felicidade.
O medo à dor é um impulso profundamente arraigado em nós, e a nossa primeira reação é de repulsa. Por isso, a mortificação, a penitência cristã, tropeça com dificuldades; não é fácil, e, ainda que a pratiquemos assiduamente, não acabamos nunca de acostumar-nos a ela.
A fé, no entanto, permite-nos ver - e experimentar - que sem sacrifício não há amor, não há alegria verdadeira, a alma não se purifica, não encontramos a Deus. O caminho da santidade passa pela Cruz, e todo o apostolado fundamenta-se nela. Ensinava o Papa João Paulo II: “A Cruz é o livro vivo em que aprendemos definitivamente quem somos e como devemos atuar. Este livro está sempre aberto diante de nós” (Alocução, 01/04/1980). Devemos aproximar-nos dele e lê-lo; nele aprendemos quem é Cristo, o seu amor por nós e o caminho para segui- Lo. Quem procura a Deus sem sacrifício, sem Cruz, não O encontrará. Para ressuscitar com Cristo, temos que acompanha – lo no seu caminho para a Cruz: aceitando as contrariedades e tribulações com paz e serenidade; sendo generosos na mortificação voluntária, que nos faz entender o sentido transcendente da vida e reafirma o senhorio da alma sobre o corpo. Devemos ter em conta que a Cruz que anuncia Cristo é escândalo para uns e loucura e insensatez para outros (cf. 1 Cor 1,23).
Hoje vemos também muitas pessoas que não sentem as coisas de Deus, mas as dos homens. Têm o olhar posto nas coisas da terra, nos bens materiais, sobre os quais se lançam sem medida, como se fossem os únicos reais e verdadeiros. Disse Álvaro Del Portilho: ”Este paganismo contemporâneo caracteriza-se pela busca do bem-estar material a qualquer custo, e pelo correspondente esquecimento – melhor seria dizer medo, autentico pavor- de tudo o que possa causar sofrimento. Com esta perspectiva, palavra como Deus, pecado , cruz, mortificação, vida eterna… acabam por ser incompreensíveis para um grande número de pessoas, que desconhecem o seu significado e sentido”.
Temos que lembrar a todos que não ponham o coração nas coisas da terra, que tudo é caduco, que envelhece e dura pouco. ”Todos envelhecerão  como uma veste” (Hb 1,11).Somente a alma que luta por manter-se em Deus permanecerá numa juventude sempre maior até que chegue o encontro com o Senhor. Todas as outras coisas passam, e depressa.
Jesus recorda-nos hoje: ”Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?”(Mt 16,26).Antes, falou: ”Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la.”
O cristão não pode passar por alto estas palavras de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna. ”Que pouco é uma vida para oferecê-la a Deus!…”(Caminho, nº 4 20).
A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para a identificar com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos ”Que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, crêem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmo por Deus”.
“O Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta”(Mt 16, 27). O Senhor, com estas palavras, situa cada homem, individualmente, diante  do Juízo Final. A salvação tem, pois, um caráter radicalmente pessoal!
O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a Cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Como explica São Tomás: “o menor bem da graça é superior a todo o bem do universo”(Suma Teológica, I-II, q. 113, a. 9).

Mons. José Maria Pereira


PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou Ministros da Palavra):

LOUVOR:   (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O Senhor esteja convosco... – Demos graças ao Senhor, nosso Deus...
- COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS DIFICULDADES.
- Senhor, Nosso Pai, nós Vos bendizemos pelos profetas que auxiliaram o povo na caminhada. Nós vos louvamos pelo vosso grande amor.  Pai, pedimos por todos os que receberam o batismo, pois também são os profetas de hoje e devem testemunhar os valores do Reino. Que o vosso Espírito nos torne mais fortes.
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS DIFICULDADES.
- Pai, nós Vos damos graças e vos louvamos por nos enviar vosso filho para nos instruir no verdadeiro caminho da vitória. Nós Vos pedimos: renovai nosso pensar e ensinai-nos a reconhecer o que é bom, o que Vos é agradável para a salvação do mundo.
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS DIFICULDADES.
- Pai, Vos agradecemos e louvamos pela ressurreição de Jesus, e pela assunção de Maria. Através deles nos mostrastes que todos aqueles que lutam pelo vosso reino serão elevados em glória até Vós. Nós Vos pedimos: Quando estivermos em dificuldades, desamparados, abandonados, sofrendo as amarguras desta vida, não nos desampareis com a vossa graça. Enviai vosso Espírito Santo para nos fortalecer.
T: PAI, SEDE A NOSSA FORÇA NAS DIFICULDADES.
-PAI NOSSO... A PAZ DE CRISTO... EIS O CORDEIRO...



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