32º DOMINGO DO TEMPO COMUM (Diácono Ismael)
Tema: Vigilância:
devemos caminhar pela vida sempre atentos ao Senhor que vem.
Na segunda leitura, Paulo garante que Cristo virá de novo para concluir a história humana e para inaugurar a realidade do mundo definitivo.
Na segunda leitura, Paulo garante que Cristo virá de novo para concluir a história humana e para inaugurar a realidade do mundo definitivo.
O Evangelho
lembra-nos que “estar preparado” para acolher o Senhor que vem significa viver
dia a dia na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com os
valores do Reino.
A primeira leitura apresenta-nos a “sabedoria”, dom gratuito e incondicional de Deus para
o homem. Deus se preocupa com a felicidade do homem e põe à disposição dos seus
filhos a fonte de onde jorra a vida definitiva. Ao homem resta acolher, em cada
instante, a vida e a salvação que Deus lhe oferece.
PRIMEIRA LEITURA (Sb 6,12-16)
Leitura do Livro da Sabedoria.
A Sabedoria é resplandecente e sempre
viçosa. Ela é facilmente contemplada por aqueles que a amam, e é encontrada por
aqueles que a procuram. Ela até se antecipa, dando-se a conhecer aos que a desejam.
Quem por ela madruga não se cansará, pois a encontrará sentada à sua porta.
Meditar sobre ela é a perfeição da prudência; e quem ficar acordado por causa
dela em breve há de viver despreocupado. Pois ela mesma sai à procura dos que a
merecem, cheia de bondade, aparece-lhes nas estradas e vai ao seu encontro em
todos os seus projetos.
AMBIENTE - O
“Livro da Sabedoria” é o mais recente de todos os livros do Antigo Testamento
(aparece durante a primeira metade do séc. I a.C.). O seu autor – um judeu de
língua grega, provavelmente nascido e educado na Diáspora (Alexandria?) –
exprimindo-se em termos e concepções do mundo helênico, faz o elogio da
“sabedoria” israelita, traça o quadro da sorte que espera o justo e o ímpio no
mais-além e descreve (com exemplos tirados da história do Êxodo) as sortes
diversas que tiveram os pagãos (idólatras) e os hebreus (fiéis a Jahwéh). O seu
objetivo é duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus (mergulhados no
paganismo, na idolatria, na imoralidade), convida-os a redescobrirem a fé dos
pais e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a constatar o
absurdo da idolatria e a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus… Para uns e
para outros, só Jahwéh garante a verdadeira “sabedoria” e a verdadeira felicidade.
O que é esta
“sabedoria” de que aqui se fala? A “sabedoria” é a arte de bem viver, de ser
feliz. Consta de um conjunto de princípios práticos, de normas de comportamento
deduzidas da reflexão e da experiência, destinadas a orientar o homem sobre a
forma de conduzir-se na vida do dia a dia. O objetivo dessas normas é
proporcionar ao homem uma vida harmoniosa, equilibrada, ordenada, cheia de
êxitos.
No entanto, a reflexão
israelita acabou por identificar a “sabedoria” com a Torah (Lei de Deus). Ser
“sábio” é – para a reflexão judaica da época em que o “Livro da Sabedoria”
apareceu – cumprir integralmente os mandamentos da Lei. Na “sabedoria”/Torah,
revelada por Jahwéh, está o caminho para ter êxito, para ultrapassar os
obstáculos que a vida traz e para ser feliz.
É neste contexto que
devemos entender este convite à “sabedoria”.
MENSAGEM - A
“sabedoria” não é, na perspectiva do autor do texto, algo de misterioso, e de
oculto, que o homem tem dificuldade em encontrar… Ela brilha com brilho
inalterável e atraente, que prende o olhar de quem a procura. Não é preciso
correr atrás dela, com cuidado e fadiga, trilhando caminhos difíceis ou
procurando em lugares recônditos e sombrios… Basta sentir interesse por ela,
amá-la, desejá-la, que ela imediatamente se fará presente, oferecendo a vida e
a felicidade a todos os que anseiam por ela. Quem ama a “sabedoria” facilmente
“tropeça” nela, nas circunstâncias mais comuns da vida do dia a dia: à porta da
casa, nos caminhos e até na intimidade dos próprios pensamentos… Para que a
“sabedoria” ilumine a vida do homem, só é preciso disponibilidade para a
acolher.
ATUALIZAÇÃO •
A “sabedoria” é um dom de Deus para que o homem saiba conduzir a sua vida ao
encontro da verdadeira vida e da verdadeira felicidade. Deus é cheio de amor,
preocupado em proporcionar ao homem todas as possibilidades de ser feliz e de
se realizar plenamente. Deus é esse Pai cheio de amor, preocupado com a
felicidade dos seus filhos, sempre disposto a oferecer-lhes os seus dons e a
conduzi-los para a vida e para a salvação; e convida-nos a uma atenção
contínua, a fim de detectarmos e acolhermos esses dons que, a cada instante.
• Deus coloca os seus
dons à disposição do homem, de forma gratuita e incondicional; ao homem é
pedido apenas que não se feche no seu egoísmo e na sua autossuficiência, mas
abra o seu coração à graça que Deus lhe oferece.
SALMO RESPONSORIAL / 62(63)
A
minh'alma tem sede de vós, e vos deseja, ó Senhor.
• Sois vós, ó Senhor, o meu Deus!/ Desde
a aurora ansioso vos busco! / A minh'alma tem sede de vós, / minha carne também
vos deseja, / como terra sedenta e sem água!
• Venho, assim, contemplar-vos no
templo, / para ver vossa glória e poder. / Vosso amor vale mais do que a vida:
/ e por isso meus lábios vos louvam.
• Quero, pois vos louvar pela vida,/ e
elevar para vósminhas mãos! / A minh'alma será saciada, / como em grande
banquete de festa; / cantará a alegria em meus lábios.
• Penso em vós no meu leito, de noite, /
nas vigílias suspiro por vós! / Para mim fostes sempre um socorro; / de vossas
asas à sombra eu exulto!
EVANGELHO (Mt 25,1-13)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo
segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus, a seus
discípulos, esta parábola: “O Reino dos Céus é como a história das dez jovens
que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas
eram imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes. As imprevidentes
pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. As previdentes, porém,
levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas. O noivo estava demorando e
todas elas acabaram cochilando e dormindo. No meio da noite, ouviu-se um grito:
‘O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!’ Então as dez jovens se levantaram
e prepararam as lâmpadas. As imprevidentes disseram às previdentes: ‘Dai-nos um
pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando.’ As previdentes
responderam: ‘De modo nenhum, porque o óleo pode ser insuficiente para nós e
para vós. É melhor irdes comprar aos vendedores’. Enquanto elas foram comprar
óleo, o noivo chegou, e as que estavam preparadas entraram com ele para a festa
de casamento. E a porta se fechou. Por fim, chegaram também as outras jovens e
disseram: ‘Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!’ Ele, porém, respondeu: ‘Em
verdade eu vos digo: Não vos conheço!’ Portanto, ficai vigiando, pois não
sabeis qual será o dia, nem a hora”.
AMBIENTE - Enquanto
em Marcos, o “discurso escatológico” (cf. Mc 13) se refere, especialmente, aos sinais que
precederão a destruição do Templo de Jerusalém, em Mateus o mesmo discurso
aborda, sobretudo, o tema da segunda vinda de Jesus e a atitude com que os
discípulos devem preparar essa vinda. Esta mudança de perspectiva tem a ver com
as necessidades da comunidade de Mateus…
Estamos nos finais do
séc. I (década de 80)… Já tinha passado a “febre escatológica” e os cristãos já
não esperavam a vinda iminente de Jesus. Passado o entusiasmo inicial, a vida
de fé dos crentes tinha arrefecido e a comunidade tinha-se instalado na rotina,
no comodismo, na facilidade… Era preciso algo que despertasse de novo para o
compromisso com o Evangelho.
Fundamentalmente,
lembra-lhes que a segunda vinda do Senhor está no horizonte final da história
humana; mas enquanto esse acontecimento não se realiza, os crentes são chamados
a viver com coerência e entusiasmo a sua fé, fiéis aos ensinamentos de Jesus e
comprometidos com a construção do Reino. A isto, a catequese primitiva chama
“estar vigilantes, à espera do Senhor que vem”.
A parábola que hoje nos
é proposta alude aos rituais típicos dos casamentos judaicos. De acordo com os
costumes, a cerimónia do casamento começava com a ida do noivo a casa da noiva,
para levá-la para a sua nova casa. Normalmente, o noivo chegava atrasado, pois
devia, antes, discutir com os familiares da noiva os presentes que ofereceria à
família da sua amada. As negociações entre as duas partes eram demoradas e
tinham uma importante função social… Os parentes da noiva deviam mostrar-se
exigentes, sugerindo dessa forma que a família perdia algo de muito precioso ao
entregar a menina a outra família; por outro lado, o noivo e os seus familiares
ficavam contentes com as exigências, pois dessa forma mostravam aos vizinhos e
conhecidos o valor e a importância dessa mulher que entrava na sua família. Os
que testemunhavam o acordo, estavam prontos para ir avisar a noiva de que as
negociações estavam concluídas e o noivo ia chegar… Enquanto isso, a noiva,
vestida a preceito, esperava em casa do seu pai que o noivo viesse ao seu
encontro. As amigas da noiva esperavam também, com as lâmpadas acesas, para
acompanhar a noiva, entre danças e cânticos, à sua nova casa. Era aí que tinha
lugar a festa do casamento.
MENSAGEM - A
“parábola das dez virgens”, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola
do Reino”. O Reino de Deus é, aqui, comparado com uma das celebrações mais
alegres e mais festivas que os israelitas conheciam: o banquete de casamento.
As dez jovens, representam a totalidade do Povo de Deus, que espera
ansiosamente a chegada do messias (o noivo)… Uma parte desse Povo (as jovens
previdentes) está preparada e, quando o messias finalmente aparece, pode entrar
a fazer parte da comunidade do Reino; outra parte (as jovens descuidadas) não
está preparada e não pode entrar na comunidade do Reino.
A parábola original
constituía, pois, um apelo aos israelitas no sentido de não perderem a
oportunidade de participar na grande festa do Reino.
Algumas dezenas de anos
depois, Mateus retomou a mesma parábola, adaptando-a às necessidades da
comunidade. A parábola foi, então, convertida numa exortação a estar preparado
para a vinda do Senhor, a qual pode acontecer no momento menos esperado. A
festa é, neste novo contexto, a segunda vinda de Jesus. O noivo que está para
chegar é Jesus. As dez jovens representam a Igreja que, experimentando na
história as dificuldades e as perseguições, anseia pela chegada da libertação
definitiva. Uma parte da Igreja (as jovens previdentes) está preparada,
vigilante, atenta e, quando o “noivo” chega, pode entrar no banquete da vida
eterna; a outra parte (as jovens descuidadas) não está preparada, porque
apostou nos valores do mundo, guiou a sua vida por eles e esqueceu os valores
do Reino.
O que é que significa,
na perspectiva de Mateus, “estar preparado para acolher a vinda do Senhor”?
Significa, escutar as palavras de Jesus, acolhê-las no coração e viver de forma
coerente com os valores do Evangelho… “Estar preparado” significa,
fundamentalmente, viver na fidelidade aos projetos do Pai e amar os irmãos até
ao dom da vida, em todos os instantes da nossa existência.
A mensagem é esta: nós
os crentes, não podemos afrouxar a vigilância e enfraquecer o nosso compromisso
com os valores do Reino. Com o passar do tempo, as nossas comunidades têm
tendência para se instalar no comodismo, no adormecimento, no descuido, numa
vida de fé que não compromete, numa religião de facilidade, num testemunho
pouco empenhado e pouco coerente… É preciso, no entanto, que o nosso
compromisso com Jesus se renove cada dia. A certeza de que Ele vem outra vez,
deve impulsionar-nos a um compromisso ativo com os valores do Evangelho, na
fidelidade aos ensinamentos de Jesus e ao compromisso com o Reino.
ATUALIZAÇÃO •
Nós, os cristãos do séc. XXI, não somos significativamente diferentes dos
cristãos que integravam a comunidade de Mateus… Também percorremos um caminho
de altos e baixos, em que os momentos de entusiasmo e de compromisso alternam
com os momentos de instalação, de comodismo, de adormecimento, de pouco
empenho. As dificuldades da caminhada, os apelos do mundo, a monotonia, a nossa
fragilidade levam-nos, frequentemente, a esquecer os valores do Reino e a
correr atrás de valores efémeros, que parecem garantir-nos a felicidade e só
nos arrastam para caminhos de escravidão e de frustração. O Evangelho deste
domingo lembra-nos que a segunda vinda do Senhor deve estar sempre no horizonte
final da nossa existência e que não podemos alienar os valores do Evangelho,
pois só eles nos mantêm identificados com esse Senhor Jesus que há de voltar
para nos oferecer a vida plena e definitiva. Enquanto caminhamos nesta terra
devemos, pois, manter-nos atentos e vigilantes, fiéis aos ensinamentos de Jesus
e comprometidos com esse Reino que Ele nos mandou construir.
• “Estar preparado” significa,
sobretudo, vivermos dia a dia, de forma comprometida e entusiasta, o nosso
compromisso batismal. “Estar preparado” passa por descobrirmos dia a dia os
projetos de Deus para nós e para o mundo e procurar concretizá-los, com alegria
e entusiasmo; “estar preparado” passa por fazermos da nossa vida, em cada
instante, um dom aos irmãos, no serviço, na partilha, no amor, ao jeito de
Jesus.
• O Evangelho deste
domingo avisa-nos que não podemos instalar-nos no nosso egoísmo e na nossa autossuficiência
e recusar-nos a escutar os apelos do Senhor.
• Mateus, com algum
dramatismo, avisa-nos que só os valores do Evangelho nos asseguram a
participação no banquete do Reino. O objetivo da catequese de Mateus não é
dizer-nos que, se não nos portarmos bem, Deus nos castiga com o inferno; mas é
alertar-nos para a seriedade com que devemos avaliar as nossas opções, de forma
a não perdermos oportunidades para nos realizarmos e para chegarmos à
felicidade plena e definitiva.
SEGUNDA LEITURA (1Ts 4,13-18,
mais longa) Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses.
Irmãos, não queremos deixar-vos na
incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros,
que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou - e esta é nossa fé - de
modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram
no sono da morte. Isto vos declaramos, segundo a palavra do Senhor: nós que
formos deixados com vida para a vinda do Senhor não levaremos vantagem em
relação aos que morreram. Pois o Senhor mesmo, quando for dada a ordem, à voz
do arcanjo e ao som da trombeta, descerá do céu e os que morreram em Cristo
ressuscitarão primeiro. Em seguida, nós que formos deixados com vida seremos
arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor, nos ares. E
assim estaremos sempre com o Senhor. Exortai-vos, pois, uns aos outros, com
estas palavras.
AMBIENTE - De
acordo com os “Atos dos Apóstolos”, Paulo não teve muito tempo para evangelizar
os tessalonicenses. Depois de poucas semanas de pregação, um motim habilmente
preparado pelos judeus da cidade obrigou-o a deixar precipitadamente Tessalônica,
deixando atrás de si uma comunidade cristã fervorosa e entusiasta, mas
insuficientemente preparada do ponto de vista catequético (cf. At 17,1-10).
Paulo foi para Bereia, depois para Atenas e Corinto. De Corinto, Paulo enviou
Timóteo ao encontro dos tessalonicenses, para verificar como é que a comunidade
se estava a aguentar face à hostilidade dos judeus. No regresso a Corinto,
Timóteo deu conta a Paulo da situação da comunidade: os tessalonicenses
continuavam a viver com entusiasmo a sua fé, embora sentissem algumas dúvidas
em questões de fé e de doutrina.
Um dos problemas teológicos que mais preocupava os tessalonicenses era a questão da parusia (regresso de Jesus, no final dos tempos)… Paulo e as primeiras gerações cristãs acreditavam que esse dia surgiria num espaço de tempo muito curto e que assistiriam ao triunfo final de Jesus. A este propósito os tessalonicenses punham, no entanto, um problema muito prático: qual será a sorte dos cristãos que morrerem antes da segunda vinda de Cristo? Como poderão sair ao encontro de Cristo vitorioso e entrar com ele no Reino de Deus se já estão mortos?
Um dos problemas teológicos que mais preocupava os tessalonicenses era a questão da parusia (regresso de Jesus, no final dos tempos)… Paulo e as primeiras gerações cristãs acreditavam que esse dia surgiria num espaço de tempo muito curto e que assistiriam ao triunfo final de Jesus. A este propósito os tessalonicenses punham, no entanto, um problema muito prático: qual será a sorte dos cristãos que morrerem antes da segunda vinda de Cristo? Como poderão sair ao encontro de Cristo vitorioso e entrar com ele no Reino de Deus se já estão mortos?
É então que Paulo
escreve aos tessalonicenses, encorajando-os na fé e respondendo às suas
dúvidas. Estamos no ano 50 ou 51.
MENSAGEM - Paulo
confirma aquilo que, provavelmente, já antes havia ensinado aos tessalonicenses:
que Cristo virá para concluir a história humana; e que todo aquele que tiver
aderido a Cristo e se tiver identificado com Ele, esteja morto ou esteja vivo,
encontrará a salvação (vers. 14). Se Cristo recebeu do Pai a vida que não
acaba, quem se identifica com Cristo está destinado a uma vida semelhante; a
morte não tem poder sobre Ele… Isto deve encher de esperança o cristão,
mantendo-o alegre, sereno e cheio de ânimo.
Paulo não é demasiado
explícito, pois está consciente que se trata de uma realidade misteriosa, que
foge à lógica e à linguagem humanas. De qualquer forma, para descrever a
passagem do homem velho para a realidade do homem novo que vive para sempre
junto de Deus, Paulo vai recorrer ao gênero literário “apocalipse”, um gênero
literário que utiliza preferentemente a imagem e o símbolo (afinal, a linguagem
mais adaptada para expressar uma realidade que nos ultrapassa e que não conseguimos
definir e explicar nos seus detalhes). O quadro que Paulo traça é o seguinte:
aqueles crentes que entretanto morreram ressuscitarão primeiro (“à voz do
arcanjo”, “ao som da trombeta de Deus” – elementos típicos da escatologia
judaica); depois, em companhia de “nós, os vivos”, irão ao encontro do Senhor
que vem na sua glória e permanecerão com Ele para sempre.
O que Paulo aqui
pretende é tranquilizar os tessalonicenses, assegurando-lhes que não haverá
qualquer diferença ou discriminação entre os que morreram antes da segunda
vinda de Jesus e aqueles que permanecerem vivos até esse instante: uns e outros
encontrar-se-ão com o Senhor Jesus, partilharão o seu triunfo e entrarão com
ele na glória.
ATUALIZAÇÃO • A certeza
da ressurreição garante-nos que Deus tem um projeto de salvação e de vida para
cada homem; e que esse projeto está a realizar-se continuamente em nós, até à
sua concretização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus.
• A nossa vida presente
não é, pois, um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada
tranquila, confiante – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em direção a
esse desabrochar pleno, a essa vida total em que se revelará o Homem Novo.
• Isso não quer dizer
que devamos ignorar as coisas boas deste mundo, vivendo apenas à espera da
recompensa futura, no céu; quer dizer que a nossa existência deve ser – já
neste mundo – uma busca da vida e da felicidade; isso implicará uma não
conformação com tudo aquilo que nos rouba a vida e que nos impede de alcançar a
felicidade plena, a perfeição última (a nós e a todos os homens nossos irmãos).
• Não é possível viver
com medo, depois desta descoberta: podemos comprometer-nos na luta pela justiça
e pela paz, com a certeza de que a injustiça e a opressão não podem pôr fim à
vida que nos anima; e é na medida em que nos comprometemos com esse mundo novo
e o construímos com gestos concretos, que estamos a anunciar a ressurreição
plena do mundo, dos homens e das coisas.
Dehonianos
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Dez virgens saíram ao encontro do noivo, empolgadas
com as alegrias vindouras da festa de casamento. Todas estavam presentes; todas
estavam esperando o noivo; todas se sentiam satisfeitas com a sua preparação,
pois estavam cochilando e dormindo, e todas tinham lâmpadas. A diferença entre
as cinco virgens prudentes e as cinco tolas era que as cinco prudentes
trouxeram óleo junto com suas lâmpadas. O tempo da preparação tinha-se passado.
Enquanto as virgens tolas estavam comprando óleo, o noivo chegou e elas foram
deixadas fora do casamento para sempre. Jesus declarou a aplicação: “Vigiai,
pois, porque não sabeis o dia nem a hora” na qual o Filho do homem vem
(versículo 13).
Há preparação adequada contrastada com
negligência. Esse é o grande perigo. Não despreparo completo, mas
negligência: negligência em abandonar algum mau hábito; negligência em
confessar algum erro; negligência em tornar-se como seu Senhor.
“E, tardando o noivo”, Sem dúvida, isso contribuiu para a negligência
mencionada acima.
Há responsabilidade individual. As virgens
prudentes não podiam compartilhar seu óleo com as tolas. Cada um tinha que
prestar contas pelo que tinha feito pessoalmente. Assim será quando o
Senhor retornar. Nenhum pai será capaz de partilhar um pouco da sua fidelidade
com os seus filhos; nenhum esposo com a sua esposa ou vice-versa; nenhum amigo
com outro amigo. Ninguém poderá se gabar dizendo “veja o que nós fizemos”; ele
só pode obter a graça na base de sua própria preparação.
Há separação. As cinco virgens prudentes
entraram com o noivo no casamento, enquanto as cinco tolas não puderam entrar.
A expressão “Fechou-se a porta”, é uma
das expressões mais tristes nas Escrituras. Ela retrata a exclusão final e
eterna, do céu, quando o Senhor retornar. Dentro, há insuperável beleza, mas
estes estão de fora. Dentro estão os anjos de Deus e todos os redimidos
reunidos em volta do trono, mas estes estão de fora. Dentro há alegria, amor e
paz, mas estes estão de fora.
A lição é clara: cada um de nós precisa submeter-se,
totalmente e sem resistência, ao domínio de Deus em Jesus Cristo para
que, quando o Senhor retornar, o galardão eterno do reino dos céus seja nosso.
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São Jerônimo,
Santo Hilário e Orígenes dizem que a lâmpada designa a fé; o óleo designa as
boas obras, sem as quais é morta a nossa fé, como está em São Tiago 2, 17: “Assim
também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento”.
As virgens
prudentes levaram vasos com suas lâmpadas; mas as loucas ao pegarem as
lâmpadas, não levaram azeite consigo. O Presbítero Duarte Leopoldo escreve: “As
virgens prudentes são as almas que tem a fé e também as obras de misericórdia,
de caridade e de outras virtudes; as loucas, as pecadoras que crêem e não
praticam, são os católicos do Credo e hereges dos Mandamentos”. O Presbítero acrescenta:
“Não basta crer para salvarmos a nossa alma, é ainda indispensável agir
conforme os ensinos da fé, não de uma fé individual, como a quer e entende cada
um, mas como a quer e entende Jesus Cristo e ensina a sua Igreja”. As virgens
loucas possuíam as lâmpadas da fé, mas não possuíam o óleo das boas obras
nem a chama da caridade.
O Presbítero Duarte
Leopoldo escreve: “A demora do Esposo será até o momento da morte”. Está claro
que não podemos adiar a nossa conversão e a nossa mudança de vida; não podemos
deixar para depois o bem que podemos fazer hoje; precisamos estar sempre preparados
para o encontro com Nosso Senhor que acontecerá logo após a nossa morte.
Essa vigília é a
vida cristã. Não sabemos nem o dia nem a hora que o Senhor virá, isto é, o
noivo; cabe-nos vivermos sempre preparados, isto é, na graça de Deus e
entesourando tesouros no céu através das boas obras, da oração constante, da
recepção digna dos sacramentos, etc.
Na 2ª Carta de
São Paulo aos Coríntios 5, 10: “Porquanto todos nós teremos de comparecer
manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a
retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem,
seja para o mal”,
“Ir aos
vendedores, comprar o óleo, preparar as lâmpadas de novo, voltar à procura do
esposo, etc., tudo isto exige tempo e trabalho”, por isso, siga o conselho de
São João Berchmans: “Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”.
Não há qualquer
menção à noiva, que é a personagem que fica faltando, o que é de se admirar, já
que Jesus está a falar de uma festividade de casamento, onde o centro das
atenções é, precisamente, a noiva. Porém, na parábola das dez virgens, a grande
ausente é a noiva. A noiva, que, como sabemos, é a Igreja, está ausente aqui
desta parábola, porque é alguém que surgirá somente quando do arrebatamento da
Igreja, quando, então, os salvos de todas as épocas, pela primeira vez, estarão
reunidos diante de Jesus. Esta ausência corrobora o entendimento de alguns
estudiosos das Escrituras que crêem que a inauguração da Igreja se dará apenas
no dia do arrebatamento, pois só então teremos a “reunião dos tirados para fora
do mundo”. Até lá, jamais se terá a “universal assembléia e igreja dos
primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23a). Com certeza, a Igreja
será inaugurada quando todos os remidos, de todos os tempos, juntamente com os
santos que morreram desde o princípio da geração e foram evangelizados por
Cristo após a ressurreição, estiverem reunidos em número incalculável,
liderados pelo Senhor Jesus Cristo que irá adiante da grande multidão e nos
apresentará ao Pai, dizendo: ”…Eis-Me aqui, e aos filhos que Deus me deu”(Hb
2:13). Então haverá festa nos céus, todas as hostes celestiais se alegrarão
juntamente com todos os seus servos(Ap 19:5-7).
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As dez Virgens - Em que eram semelhantes e em
que eram diferentes
Elas eram iguais aos olhos dos homens –
“...pois o homem vê o que está diante dos olhos...”, porém, eram
diferentes diante dos olhos de Deus, porque – “...o Senhor olha para o coração”(I
Sm 16:7).
– Todas eram Virgens - O fato de
serem virgens não significa que eram puras, ou santas; se fossem, não ficariam
de fora algumas delas.
Para a mesma
Bíblia o adultério e a prostituição, no sentido espiritual, significa traição a
Deus, ou seja, quando uma pessoa vai atrás da idolatria, de qualquer natureza,
ela é considerada, espiritualmente, como tendo cometido adultério, ou
prostituição. Assim, todas são virgens porque nenhuma delas pode ser contada
entre os idólatras, ou pagãos. Todas dizem servir somente a Deus. Todas se identificam
como sendo cristãs, evangélicas. Por isto se diz que todas são virgens.
– Todas estavam vestidas iguais - Pelo aspecto exterior não podemos
identificar e diferenciar os verdadeiros e os falsos crentes.
– Todas tinham lâmpadas nas
mãos - A lâmpada é um dos símbolos
da Palavra de Deus, conforme afirmou o salmista: “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra...”
(Salmo 119:105). Todos possuem uma Bíblia, mesmo que não a leiam e nem a sigam,
porém, a lâmpada está em suas mãos.
– Todas estavam no mesmo
lugar
– Todas estavam esperando o
noivo
A diferença fundamental entre elas, é
que as virgens prudentes levaram azeite de reserva para uma eventual
situação, enquanto que as virgens loucas não levaram.
As virgens loucas não tiveram como repor
o azeite nas suas lâmpadas, e por isso foram excluídas da festa.
Para ser de Cristo não basta ser cristão;
não basta ter a Bíblia nas mãos, na cabeça, ou no Púlpito. Para ser de Cristo é
preciso ter azeite na vasilha , ter plena comunhão com o Espírito
Santo e fazer as mesmas obras do Mestre; “Eu vim para servir e não para ser
servido, amai-vos como eu vos amei”; faltavam-lhes as obras de amor. Por isso
ficaram de fora.
=========--------------============
"De
lâmpadas acesas"
Aproximando-se
o fim do ano litúrgico, a Liturgia é marcada pelo pensamento do FIM, fim
da vida, fim do mundo e faz um apelo à vigilância
para
a grande chegada do Senhor que vem.
A
1a leitura
louva a busca da Sabedoria proveniente de Deus e ordenada ao serviço.
Esta
Sabedoria torna prudentes os homens, ensina-lhes a não desperdiçar a vida em
coisas vãs, e sim a
empenhá-la
no serviço divino à espera de Deus. (Sb
6, 12-16)
Na
linguagem bíblica, sabedoria se identifica com a pessoa de Cristo, que é a
plenitude da sabedoria. Quem a procura, a encontra... desde já...
Para
que a Sabedoria ilumine a vida do homem, só é preciso disponibilidade para
acolher.
Na
2a Leitura, Paulo fala do destino eterno dos
homens.
A
vida terrena não termina no vazio, mas no encontro com Cristo, que virá para
concluir a História humana.
A
morte nos introduzirá nas núpcias eternas, onde estaremos sempre com o Senhor. (1Tess 4,13-18)
O
Evangelho apresenta o início do sermão escatológico, o
quinto e último dos grandes sermões, que estruturam o evangelho de Mateus. (Mt 25,1-13)
Encaixa-se
bem no ambiente dos últimos domingos do Ano Litúrgico.
Sob
a figura de núpcias, apresenta as relações entre Deus e o homem.
O
Filho de Deus desposou a humanidade ao encarnar-se.
Depois
consumou estas núpcias na cruz com que remiu os homens e os ligou a si,
reunindo-os na Igreja, sua mística esposa.
Assim
a existência é uma vigilante espera do esposo, ocupada em boas obras,
que
são o óleo que alimenta a lâmpada da fé.
+
As Virgens prudentes,
preparadas, previdentes, atentas aos sinais dos tempos,
representam o cristão que acendeu um dia a
chama da fé no batismo,
e continua alimentando essa fé, com a
Oração... com os Sacramentos...
com a Palavra de Deus.... e continua ainda
hoje fiel a Deus e sempre atento às vindas do Cristo...
+
As Virgens imprudentes,
imprevidentes, acomodadas, julgam que no momento oportuno haverá alguém que as
ajude....
Elas representam o cristão despreocupado
com as realidades profundas.
Apenas se contenta de ter aceso à chama da
fé com o Batismo, mas hoje não participa da Missa, nem de grupos de reflexão,
não estuda, não atua em nenhuma pastoral, não se responsabiliza por nada.
Muitas vezes Cristo cruza o seu caminho e
mesmo vai ao encontro dele, mas ele distraído não o reconhece e nem faz caso.
São aqueles aos quais Cristo um dia fechará
a porta, dizendo aquelas terríveis palavras: "Eu não vos conheço"...
E
a Parábola conclui:
"Portanto
ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora..."
A
Parábola era atual para os cristãos daquele tempo, que esperavam a Parusia
(esta vinda) para breve. Mateus desejava passar a eles uma mensagem de
Vigilância.
* A vida do cristão é considerada como um empenho
de fidelidade nupcial a Cristo, inspirada por um amor que não admite
compromissos.
Assim
vivida, a existência é uma vigilante espera do esposo, ocupada em boas obras,
que são o óleo que alimenta a lâmpada da fé.
Quem espera o Senhor com a lâmpada acesa
entrará no banquete...
O que significa
Vigiar?
+
Ser Previdentes: alimentando essa chama, com reserva, não apenas o
mínimo necessário.
Se faltar o óleo, a comunidade empaca, não
anda, não realiza a festa e não participa dela. Sem óleo, a lâmpada se apaga e
a comunidade estaciona...
+
Estar Atentos: aos sinais de Deus, para reconhecer o seu rosto e sua
voz...
- no grito do pobre, no desespero do
marginalizado, no pranto do doente...
- Naquele que anuncia a Paz, naquele que
clama por justiça, por amor,
por respeito, por igualdade...
Vigilância é sinal de amor, quem ama fica
vigilante aguardando...
mesmo se ele demora para chegar...
Por
isso, vemos que o esposo não virá somente uma vez no fim do mundo,
mas
é preciso esperá-lo todos os dias...
+ Deus está
sempre conosco:
Jesus permanece sempre ao nosso lado.
Há
porém momentos de um encontro mais profundo: são as visitas de Deus;
sobretudo
a última para a qual o Senhor chamou hoje especial atenção.
Mas
quem vive vigilante, não se preocupa...
pelo
contrário, aguarda com profunda esperança esse momento.
Cristo
continua advertindo também a nós: "Ficai
vigiando..."
para
que o Cristo não fique despercebido e um dia, fechando-nos a porta,
ele
nos diga aquelas terríveis palavras: "Eu
não vos conheço..."
A Liturgia de hoje nos convida a esperar
- com muito amor na lâmpada do nosso coração e
- com muita sabedoria na lâmpada de nossa mente.
Que assim seja.
Pe. Antônio Geraldo
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