quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

2º DOMINGO DA QUARESMA Ano B, homilias, subsídios homiléticos

2º  DOMINGO DA QUARESMA  Ano B 2018 (Diácono Ismael)

SINOPSE:
“Guardai a vossa fé e andai na presença de Deus!”
É o caminho do verdadeiro discípulo para chegar à vida nova.

Primeira leitura: Abraão é nosso modelo de fé, que vive na escuta e na obediência, mesmo quando parece contrário a seus interesses pessoais.
Evangelho: A transfiguração de Jesus, cheio de símbolos do A.T., nos apresenta uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus e o Pai nos dá uma ordem; “Este é meu Filho amado; ouvi-o”. obedecendo-o não caminhamos para o fracasso, mas para a vida eterna e feliz.
Segunda leitura: Deus é amor. A prova desse amor é Jesus Cristo, que morreu para ensinar o caminho da vida verdadeira. O cristão deve enfrentar as dificuldades com esperança.

PRIMEIRA LEITURA (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18) Deus pôs Abraão à prova. ...E Deus disse: “Toma teu filho único Isaac, a quem tanto amas, dirige-te à terra de Moriá, e oferece-o aí em holocausto...”. ...Abraão ergueu um altar, ...amarrou o filho e o pôs sobre a lenha em cima do altar. Depois, estendeu a mão, empunhando uma faca para sacrificar o filho. E eis que o anjo do Senhor gritou do céu, dizendo: “Abraão! Abraão!” ...“Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único”. Abraão... viu um carneiro ...e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho. O anjo do Senhor ...lhe disse: “Juro por mim mesmo ... não me recusaste teu filho único, eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. ... Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste.”

AMBIENTE - O sacrifício de Isaac é uma “lenda cultual”. A partir daí, as crianças foram substituídas por animais nos sacrifícios. Esta história primitiva foi aplicada à Abraão. A tradição acabou por englobar um clã ligado ao de Abraão, o clã de Isaac.

MENSAGEM - A idéia de “provas, testar” é frequente no Antigo Testamento. Deus parece retomar o que havia dado. Por que? A verdadeira “prova” é esta…; é o continuar a esperar num Deus que parece querer destruir os sonhos que Ele próprio ajudou a criar; é o continuar a confiar num Deus que parece esquecer tudo o que tinha prometido; é o impasse, a obscuridade, o sofrimento em que Abraão de repente se acha; é o ser convidado a atirar-se às cegas.  Abraão não discute, não argumenta. Abraão apenas age. O silêncio de Abraão e a ação mostram a entrega, a confiança em Deus.   A “prova” é conclusiva: Abraão testemunha que ele “teme o Senhor”. A obediência do “justo” Abraão resultará em bênção para “todas as nações”. Abraão é o protótipo do crente ideal, que sabe escutar Deus e acolher os seus projetos com confiança … Mesmo que as propostas de Deus resultem incompreensíveis ou interfiram com os projetos do homem. Foi para deixar esta lição que os teólogos foram buscar esta velha lenda.

ATUALIZAÇÃO • Abraão revela o lugar que Deus ocupa na sua existência. Deus é a prioridade fundamental; por isso, Abraão faz a Deus um dom total de si próprio, da sua família, do seu futuro, dos seus sonhos, das suas aspirações, dos seus projetos, dos seus interesses; O que conta são os planos de Deus…
• Abraão manifesta o respeito, a humildade, a obediência, a confiança, o amor r a fé “ideal.
• Abraão ensina-nos a confiar em Deus, mesmo quando tudo parece cair à nossa volta; Deus é a nossa esperança e tem um projeto de vida plena para todos.

SALMO RESPONSORIAL / Sl 115 (116B)
Andarei na presença de Deus, junto a ele na terra dos vivos.
 • Guardei a minha fé, mesmo dizendo: / “É demais o sofrimento em minha vida!” / É sentida por demais pelo Senhor / a morte de seus santos, seus amigos.
 • Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, / vosso servo que nasceu de vossa serva; / mas me quebrastes os grilhões da escravidão! / Por isso oferto um sacrifício de louvor, / invocando o nome santo do Senhor.
• Vou cumprir minhas promessas ao Senhor / na presença de seu povo reunido; / nos átrios da casa do Senhor, / em teu meio, ó cidade de Sião!

EVANGELHO (Mc 9,2-10) ... Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. Então Pedro ...disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. ... estavam todos com muito medo. Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu filho amado. Escutai o que ele diz!”.... Ao descerem da montanha Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram essa ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”.

AMBIENTE - Os discípulos já tinham percebido que Jesus era o Messias libertador que Israel esperava; mas ainda acreditavam num triunfo militar sobre os romanos. Marcos vai explicar que o projeto de Jesus passa pela cruz – isto é, no amor e no dom da vida. O discípulo é convidado a renunciar a si mesmo, a tomar  a sua cruz e a seguir Jesus. Os discípulos estão frustrados, pois parece encaminhar-se para um fracasso a morte na cruz. É neste contexto que Marcos coloca a transfiguração. A cena constitui uma palavra de ânimo para os discípulos, pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Jesus apresenta um projeto que vem de Deus. A narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. O autor vai colocar todos os ingredientes que acompanham as manifestações de Deus: o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo daqueles que presenciam  o encontro com o divino: É uma catequese ensinando que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos homens um projeto que vem de Deus.

MENSAGEM - É uma Catequese com simbólicos tirados do Antigo Testamento: O monte: é sempre num monte que Deus Se revela. A mudança do rosto e as vestes brilhantes, recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai. A nuvem  indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença através do deserto. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus). O temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica, diante da manifestação da grandeza de Deus  As tendas parecem aludir à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto. A mensagem deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é o Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: Ele é um novo Moisés – nova lei e nova Aliança.  De Jesus, irá nascer um novo Povo de Deus que leva da escravidão à liberdade. Esta apresentação aponta para a ressurreição, aqui anunciada pela glória de Deus que se manifesta em Jesus, pelas “vestes brilhantes, muitíssimo brancas” (que lembram a túnica branca do “jovem” sentado junto do túmulo de Jesus e que anuncia às mulheres a ressurreição) e pela recomendação final de Jesus (“que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do Homem não ressuscitasse dos mortos”): diz-lhes que a cruz não será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus (e dos discípulos que seguirem Jesus) está a ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.
Uma palavra final para o desejo – manifestado por Pedro – de construir três tendas no cimo do monte, como se pretendesse “assentar arraiais” naquele quadro. O pormenor pode significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus. Jesus nem responde à proposta: Ele sabe que o projeto de Deus tem de passar pelo caminho do dom da vida, da entrega total, do amor até às últimas consequências.

ATUALIZAÇÃO - • A questão fundamental da transfiguração está na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de Si próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.
• Para muitos, a vida plena não está no amor levado até às últimas consequências, mas sim na preocupação egoísta com os seus interesses pessoais. Quem tem razão? Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos esquemas de Deus; A transfiguração grita-nos, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
• Os três discípulos não tem vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo. Ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar aos homens que a realização está no dom da vida; a fim de dar a nossa contribuição para um mundo mais justo e mais feliz

2ª LEITURA (Rm 8,31b-34) Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus, que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não daria tudo junto com ele? Quem acusará os escolhidos de Deus? ...
AMBIENTE - Estamos no ano 57 ou 58. Na primeira parte da Carta aos Romanos, Paulo mostra que o Evangelho é a força que congrega e salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. A “justiça de Deus” dá vida a todos, sem distinção; e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e transforma o homem. Os crentes devem identificar-se com Jesus e percorrer com Ele o caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos. Não é um caminho fácil e de êxitos; mas é um caminho que é preciso percorrer na dor e na renúncia, enfrentando as forças da morte, da opressão, do egoísmo e da injustiça. Apesar das barreiras, o cristão pode e deve confiar no êxito final.

MENSAGEM - A razão da esperança: Deus ama todos os seus filhos com um amor imenso. O envio ao mundo de Jesus Cristo é a “prova provada” do amor de Deus por nós.

ATUALIZAÇÃO - • Para Paulo, Deus ama-nos  e em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e transformou-a, capacitando-nos para a vida eterna. Esse amor dá-nos a coragem para enfrentar a vida.
• Descobrir a vida como dom, porque Deus ama e salva.
Isaac foi substituído por um cordeiro, Cristo é o verdadeiro Cordeiro sacrificado para a salvação do mundo.+ Em nossa caminhada para a Páscoa, somos também convidados a subir com Jesus a montanha e, viver a alegria da comunhão com ele.
"Este é o meu Filho amado, ESCUTAI-O".- coragem, eu venci o mundo!!...

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Louvor (diáconos ou ministros extraordinários da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR, O NOSSO DEUS...
- POR JESUS, COM JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Grande é o Senhor e imensa é a sua misericórdia.
- Senhor Deus, Abraão foi nosso exemplo de fé; escutava e obedecia. Ajudai-nos a compreender os vossos caminhos e fazei-nos menos egoístas e mais próximos de vosso Filho..
T: Grande é o Senhor e imensa é a sua misericórdia.
- Senhor, através da transfiguração de vosso Filho, manifestastes aos discípulos que Jesus é a nossa lei e a nossa esperança. Com Jesus a morte não é o fim, mas passagem para a vossa glória eterna.
T: Grande é o Senhor e imensa é a sua misericórdia.
- Senhor Deus, nosso Pai, sabemos que sois amor e misericórdia. Prova desse amor é a morte de vosso Filho que se doou para nossa salvação. Bendito sejais, ó deus de bondade.
T: Grande é o Senhor e imensa é a sua misericórdia.
- Pai nosso... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro ...


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HOMILIA DO PE. PEDRINHO (Diocese de Santo André SP)

 II DOMINGO DA QUARESMA  Mc 9, 2-10

A liturgia nos convida a contemplar a transfiguração. Transfiguração significa ir além da figura. Para nos ajudar, é oferecida as leituras que acabamos de ouvir. Se começarmos pela segunda leitura, vamos compreender algo muito maior do que nos fala as palavras. A segunda leitura começa dizendo: se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus que não poupou seu próprio Filho, mas que entregou-o a todos nos. Isto é muito grande! Êxodo no capítulo 20, versículo 5, vai dizer: Eu sou um Deus ciumento; não terá outros deuses ao lado de mim. – Em primeiro lugar, todo mundo pode ter ciúme; pois se Deus é ciumento, nós também podemos ter ciúme. Se pararmos para analisar o ciúme, vou ver que eu tenho ciúme de alguma coisa ou de alguém que eu gosto, que eu prezo. Se eu tenho um livro e alguém me pede emprestado, eu digo: não. Este livro eu o prezo, pois é o único que tenho. Eu tenho ciúme do meu livro. Agora, no caso de Deus, Deus é dono de todo o universo. Portanto, Deus tem TUDO. Se Deus nos concede uma casa, isto não é nada para Deus, porque Ele não utiliza casa e uma casa não vai lhe fazer falta. De TUDO, só um é seu Filho. É o Filho unigênito. Ele sendo um Deus ciumento, então vamos compreender que o amor dele é maior que o seu ciúme, porque Ele entregou, aquele que ele só tinha um, para que pudesse salvar toda a humanidade. Nisto consiste o amor de Deus que não poupou se próprio filho para que toda a humanidade tivesse vida e vida em abundância.
Ora, agora compreendemos a transfiguração. Porque embora Jesus seja Deus, cem por cento Deus, Ele se revela a nós cem por cento homem. Enquanto homem, ele é parecido com cada um de nós: ele chora, ele tem sede, ele tem fome, tem cansaço, ... então, alguém poderia dizer: como alguém igual a mim pode me salvar? Será que Deus não gastou este cartucho atoa? Então, Jesus leva Pedro, Tiago e João até uma montanha, para mostrar quem Ele é dizendo: Escuta, humanidade, você deve ir além da figura que lhe aparece. Além desse ser humano fraco e limitado. Você tem que ver Jesus transfigurado. É isto que muitos fazem todos os domingos. Isto é muito interessante, pois nós vamos para a montanha todos os domingos para este monte onde está a nossa igreja. Nós nos reunimos para ver Jesus TRANSFIGURADO. Somos convidados a ver naquele pão e naquele vinho, o corpo e o sangue de Cristo presente. O Cristo inteiro; corpo sangue, alma e divindade. Este é o grande mistério de nossa fé; aquele que é capaz de enxergar além do pão e do vinho, o Cristo salvador da humanidade.  Aí compreendemos a importância da transfiguração. Não se trata de algo mágico, mas um convite para enxergarmos, com os olhos da fé, além das aparências.
A primeira leitura compreenderíamos com mais facilidade, se lêssemos direto o Gênesis 22 do versículo 01 ao 18. Aqui ele está meio picado. Deveríamos ler completo. Aí teríamos melhor compreensão da mensagem.

Gênesis 22: 01"Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: “Abraão!” “Eis-me aqui”, respondeu ele. 2.Deus disse: “Toma teu filho, teu único filho a quem tanto amas, Isaac; e vai à terra de Moriá, onde tu o oferecerás em holocausto sobre um dos montes que eu te indicar.” 3.No dia seguinte, pela manhã, Abraão selou o seu jumento. Tomou consigo dois servos e Isaac, seu filho, e, tendo cortado a lenha para o holocausto, partiu para o lugar que Deus lhe tinha indicado. 4.Ao terceiro dia, levantando os olhos, viu o lugar de longe. 5.“Ficai aqui com o jumento, disse ele aos seus servos; eu e o menino vamos até lá mais adiante para adorar, e depois voltaremos a vós.”
(Abraão deixa claro que todos voltarão e ninguém vai se machucar)
6.Abraão tomou a lenha do holocausto e a pôs aos ombros de seu filho Isaac, levando ele mesmo nas mãos o fogo e a faca. E, enquanto os dois iam caminhando juntos, 7.Isaac disse ao seu pai: “Meu pai!” “Que há, meu filho?” Isaac continuou: “Temos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto?” 8.“Deus, respondeu-lhe Abraão, providenciará ele mesmo uma ovelha para o holocausto, meu filho.” E ambos, juntos, continuaram o seu caminho. 9.Quando chegaram ao lugar indicado por Deus, Abraão edificou um altar; colocou nele a lenha, e amarrou Isaac, seu filho, e o pôs sobre o altar em cima da lenha. 10.Depois, estendendo a mão, tomou a faca para imolar o seu filho. 11.O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: “Abraão! Abraão!” “Eis-me aqui!” 12.“Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada. Agora eu sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único.” 13.Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e, tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho. 14.Abraão chamou a este lugar Javé-yiré, de onde se diz até o dia de hoje: “Sobre o monte de Javé-Yiré.” 15.Pela segunda vez chamou o anjo do Senhor a Abraão, do céu, 16.e disse-lhe: “Juro por mim mesmo, diz o Senhor: pois que fizeste isto, e não me recusaste teu filho, teu filho único, eu te abençoarei. 17.Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu, e como a areia na praia do mar. Ela possuirá a porta dos teus inimigos, 18.e todas as nações da terra desejarão ser benditas como ela, porque obedeceste à minha voz.”" 

Temos aí, três aspectos importantes: 01 a questão da providência de Deus. Eu creio na providência de Deus mesmo? Deus não mede esforços para termos vida e vida em abundância. A prova disso é que entregou seu Filho para que pudéssemos ter vida. Ora, isso é o suficiente para Abraão ir determinado, sabendo que Deus irá providenciar a vítima a ser ofertado. Por outro lado, Isaac teve medo de ir com Abraão? As crianças já me responderam que não, porque o filho sempre confia no pai. Aqui é o ponto fundamental. Isaac não se preocupa, pois sabe que não vai correr risco, porque ele sabe quem é Abraão, ele confia no pai dele.
Aí compreendemos porque Jesus realiza a sua missão. Jesus realiza sua missão com tranquilidade, porque confia no Pai que tem.
A pergunta é para nós, que dizemos que Deus é providente, se nós confiamos, de fato, nele, ou se quando somos solicitado nos apresentamos tremendo de medo, superpreocupados, fazendo mil pedidos, porque confiamos em Deus só com a razão, mas não com a fé. Aí vamos compreender e nos questionar: eu confio mesmo na providência de Deus, ou não?  Ora, aqui eu sou chamado a ir além da imagem que eu tenho de Deus. Normalmente as pessoas tem a imagem de Deus que castiga, que pune, uma imagem de um Deus perseguidor e não a imagem de um Deus que nos protege.
Para concluir: este Deus que é providência, onde temos o testemunho máximo de Jesus, que nos convida a ir além da imagem que nos é transmitida. aí voltamos ao Evangelho onde Jesus diz para Pedro, Tiago e João; não conte nada a ninguém, até que o Filho do Homem  ressuscite dos mortos e eles se perguntavam o que significa ressurreição dos mortos.
Meus irmãos e irmãs, também na questão da morte, somos convidados a ver além da figura. “Quem crê em mim, mesmo que morto, viverá e todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá para sempre”. Quando eu vejo um morto no caixão, eu creio nisso mesmo? Ou eu fico parado só naquela imagem? Eu consigo ir além do que estou vendo? Eu creio que aquela pessoa não está perdida? Mas ela está, como diz o salmo, na terra dos vivos? Ou não. Ou eu creio para os outros? Então veja: a liturgia de hoje nos convida a ir além daquilo que conseguimos enxergar.
É isto que faz da quaresma algo maravilhoso. Porque embora eu me vejo pecador, frágil, eu sou chamado a ir além daquilo que eu estou vendo.
No Brasil a campanha da fraternidade nos ajuda a pensar melhor nas coisas. Se por um lado Deus é providente, nós somos chamados a ser previdentes. Prevenir tudo aquilo que pode nos acontecer. A questão da segurança não é Deus o culpado. Ele já Providenciou tudo o que era necessário, mas às vezes falta a nossa previdência do que é necessário. Quanto ao Estado, bem sabemos, falta uma administração justa, competente. Quanto a nós eu vou dar dois exemplos: eu bebo e vou dirigir e Bato o carro e então toda a sociedade deve pagar o meu tratamento. Alguém que sai de moto sem capacete. Cai da moto e toda a sociedade tem que pagar o seu tratamento. Então veja o que é ser previdente. É confiar em Deus sempre, mas também fazer a minha parte. Caso contrário, acabo onerando todos ou outros pela minha falta de previdência. Por isso, a campanha da fraternidade chama a atenção para a responsabilidade de cada um: para pensarmos além daquilo que eu vivo. Às vezes ouvimos: isto é problema meu! Não é não. É um problema que você causa e depois todos tem que arcar com consequências. Por isso a visão do conjunto é muito importante, para que tenhamos uma segurança mais saudável.
Que Deus nos ajude a fazer de nossa caminhada também uma transfiguração.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
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"Escutai-o"

Aqui estamos reunidos em assembléia para ESCUTAR  a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia.
A Escuta dessa Palavra nos revela os Planos de Deus e nos aponta o caminho a seguir para chegar à vida plena. 
As leituras bíblicas de hoje nos apresentam dois exemplos na CAMINHADA DA FÉ: a fé de Abraão e a fé dos Apóstolos.

A 1a Leitura fala da fé de Abraão. (Gn 22,1-2.9.10-13.15-18)

A narrativa faz parte das "tradições patriarcais", sem caráter histórico. Destina-se a apresentar Abraão como MODELO DE FÉ: Ele vive numa constante ESCUTA da Palavra de Deus, aceita os apelos de Deus,  e lhe responde com obediência total, mesmo oferecendo o filho Isaac.
Abraão ensina a confiar em Deus, mesmo quando tudo parece cair à nossa volta,  e quando os caminhos do Senhor se revelam estranhos e incompreensíveis.
Sua obediência tornou-se uma fonte de vida  para ele, para a sua família e para todos os povos...

O sacrifício de Isaac é símbolo do sacrifício de Jesus.
Isaac foi substituído por um cordeiro, Cristo é o verdadeiro Cordeiro sacrificado para a salvação do mundo.

Na 2a Leitura, Paulo retoma a figura de Isaac, subindo o monte Moriá, com a lenha do sacrifício às costas, como imagem de Cristo que também sobe o monte Calvário, carregando às costas o lenho da Cruz. (Rm 8,31-34)

É um hino, em que Paulo canta entusiasmado o Amor de Deus, manifestado na morte e ressurreição de seu Filho Jesus Cristo.

O Evangelho fala da fé dos Apóstolos: (Mc 9,2-10)

Na caminhada para Jerusalém, o 1º Anúncio da Paixão e Morte de Jesus abalou profundamente a fé dos apóstolos. Desmoronaram seus planos de glória e de poder.
Para fortalecer essa fé ainda tão frágil… Cristo tomou três deles...  subiu o Monte Tabor e "TRANSFIGUROU-SE…"
- Proposta de Pedro: "É bom estar aqui! Vamos fazer três tendas..."
- Proposta de Deus: "Este é o meu Filho amado, ESCUTAI-O!".

* A transfiguração de Jesus é uma Catequese que revela aos discípulos e a nós Quem é Jesus: o FILHO AMADO DE DEUS:
Um novo MOISÉS que dá ao seu povo uma NOVA LEI e através de quem Deus propõe aos homens uma NOVA ALIANÇA
As figuras de Elias e Moisés ressaltam que a Lei e as Profecias são realizadas plenamente em Jesus.
O mundo se transforma quando acolhemos a voz do Pai...
+ Em nossa caminhada para a Páscoa, somos também convidados a subir com Jesus a montanha e,
na companhia dos 3 discípulos, viver a alegria da comunhão com ele.
As dificuldades da caminhada não podem nos desanimar.
No meio dos conflitos, o Pai nos mostra desde já sinais da ressurreição e do alto daquele monte ele continua a nos gritar: "Este é o meu Filho amado, ESCUTAI-O".
- Não desanimemos, os Planos de Deus não conduzem ao fracasso,   mas à Ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.

O que é ter fé? O que é mesmo a fé?

A FÉ É:

- É a Adesão de nossa vida a Deus...   É acolher Deus que quer fazer sua história junto conosco...
  É fazer a vontade de Deus... (tanto no Tabor, como no Calvário)
- É um Dom gratuito de Deus (Não foi Abraão que tomou a iniciativa)

A FÉ EXIGE:

- Uma Resposta da pessoa a uma palavra, a uma Promessa...

- Um Serviço pronto e generoso na Obra de Deus... 

- Uma Ruptura: Deixar a terra dos ídolos que nos prendem… e abraçar o desconhecido… (experiência de Abraão)

- Escutar atentamente tudo o que Jesus diz, seguindo seus passos com confiança total, mesmo nos momentos difíceis e incompreensíveis…

- Reconhecer esse Cristo desfigurado, presente na pessoa dos irmãos... sobretudo nos excluídos e nos oprimidos...
   É fácil reconhecer o Cristo transfigurado no Tabor… mais difícil é reconhecê-lo desfigurado no Monte Calvário...  mais difícil é descer o monte,  ir ao encontro do Cristo desfigurado na pessoa do irmão…

- Ação: Não podemos ficar no Monte... de braços cruzados....
O seguidor de Cristo deve "descer o monte" para enfrentar o mundo e os problemas dos homens, testemunhar aos homens o dom da vida, para que a "saúde de difunda sobre a terra".
Somos convidados a ser Missionários da Transfiguração…
Pe. Geraldo
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Homilia de D. Henrique Soares

Um compromisso com Deus se faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.

Primeiramente, a glória de Jesus no Tabor, antegozo da sua ressurreição, anima-nos neste caminho quaresmal. Ao nos falar da oração, da penitência, da esmola, ao nos exortar ao combate aos vícios e à leitura espiritual, a Igreja, fazendo-nos contemplar o Transfigurado, revela-nos qual o objetivo da batalha da Quaresma: encontrar o Cristo cheio de glória e, com ele, sermos glorificados. Olhai o Tabor, irmãos, e vereis o que o Senhor preparou para nós! Pensai no Tabor, e a penitência terá um sentido, as mortificações deste tempo serão feitas com alegria! Que diz o Evangelho? Diz que, diante dos apóstolos, Jesus transfigurou-se: “Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”. Eis! A Transfiguração é uma profecia, uma antecipação da glória da Páscoa; e a Páscoa de Cristo é a garantia da nossa glorificação. Porque Cristo morreu e ressuscitou, nós também, mortos com ele, seremos daquela multidão vestida de branco, de que fala o Apocalipse! (Ap 7,9) Então, ânimo! As observâncias da santa Quaresma não são um peso, mas um belo caminho, um belo instrumento para conduzir-nos à Páscoa do Senhor!
                Mas, a leituras de hoje colocam-nos também diante de uma outra realidade, bela e profunda. Comecemos pela primeira leitura, na qual Deus pede a Abraão tudo quanto ele tinha: “teu filho único, Isaac, a quem tanto amas”. Isaac era tudo para Abraão: por ele, tinha deixado Ur na Caldéia, por ele, tinha esperado mais de trinta anos, por ele, tinha suportado todas as provas... E, agora, já idoso, sem nenhuma possibilidade de ter mais filhos, agora que o menino já esta crescidinho e Abraão pensava poder descansar, Deus o pede a Abraão. Que prova, caríssimos! A fé de Abraão, aqui, chega quase que ao absurdo! Mas, ele foi em frente e “estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho”.
                Caríssimos, Deus tinha o direito de pedir isso a Abraão? Deus tem o direito de nos provar, de tantas vezes nos pedir coisas que não compreendemos bem? Tem o direito de pedir fé e confiança diante dos percalços da vida? Poderíamos responder dizendo simplesmente que “sim”, porque ele é Deus; deu-nos tudo e pode pedir-nos o que desejar. Mas, não é essa a resposta que a Palavra de Deus nos indica na liturgia de hoje. Ele nos pode pedir, certamente, e nós devemos dar, com certeza, porque ele mesmo, o nosso Deus, nos deu tudo! Ele, que pede que Abraão lhe sacrifique o filho único e amado, é o mesmo Deus que, como diz São Paulo, na segunda leitura deste hoje, “não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós!” Eis o grande mistério: Deus, no seu amor por nós – primeiro pelo povo de Israel, descendência de Abraão, e, depois, por toda a humanidade, com a qual ele deseja formar o novo povo, que é a Igreja – Deus, no seu amor por nós, entregou à morte o seu Filho único, o Amado, o Justo e Santo, aquele no qual ele coloca todo o seu bem-querer. Não é assim que ele no-lo apresenta hoje no Monte Tabor? “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” É este Filho que será entregue à morte. O Evangelho de São Lucas nos diz que, precisamente nesta ocasião, Jesus transfigurado falava com Moisés e Elias “sobre a sua partida, isto é, a sua morte, que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9,31). E no Evangelho de São Marcos, que escutamos, o próprio Jesus, ao descer da montanha, “ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. Compreendei, caríssimos: sobre o Monte Tabor, com o Transfigurado envolto em glória, paira a sombra da paixão, da morte do Filho amado e único, que o Deus de Abraão entregará por nós até o fim. Ao filho de Abraão, a Isaac, Deus poupou no último momento; não poupará, contudo, o seu próprio Filho!
                Isso nos revela a dimensão do amor de Deus, da sua paixão pela humanidade, do seu compromisso salvífico em nosso favor! Ele pode nos pedir tudo, caríssimos, e nós deveríamos dar-lhe tudo, porque, ainda que não compreendamos, ele deseja somente o nosso bem, a nossa vida, a nossa salvação. Somos preciosos a seus olhos! Escutai o Apóstolo: "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo juntamente com ele? Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está à direita de Deus, intercedendo por nós?” Eis, pois, amados em Cristo, a dimensão e a profundidade, a largura e a altura do amor de Deus por nós! Deixemo-nos, portanto, tocar no nosso coração; convertamo-nos! Abramo-nos para o Senhor! Arrependamo-nos de nossas indiferenças, de nossa frieza, de nosso fechamento! Tenhamos vergonha de tanta incredulidade e desconfiança de Deus, simplesmente porque não entendemos seu modo de agir! Que Santo Abraão, nosso pai na fé, e a Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe na fé, intercedam por nós para uma verdadeira conversão quaresmal. E que, realizando com generosidade a amor, as práticas quaresmais, cheguemos às alegrias da Páscoa e contemplemos nos santos mistérios da Liturgia, a face do Cristo glorificado. Amém.


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