quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

8º DOMINGO T. COMUM ANO C, homilias, subsídios homiléticos


8º DOMINGO T. COMUM ANO C 2019
Sinopse:
O que nós testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas?
Primeira leitura:  não julguemos as pessoas pela primeira impressão.
Evangelho: o verdadeiro apresenta a proposta de Jesus gerando comunhão, união, fraternidade, amor.
Segunda leitura: coerência com a proposta de Jesus é o caminho para a vida plena que Deus nos reserva.
LEITURA I – Eclo 27,5-8 (Sir 27, 4-7) 
Leitura do Livro do Eclesiástico (Leitura do Livro de Ben-Sirá)
Quando a gente sacode a peneira, ficam nela só os refugos; assim os defeitos de um homem aparecem no seu falar. Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa. O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem. Não elogieis ninguém, antes de ouvi-lo falar, pois é no falar que o homem se revela.
AMBIENTE - O livro de Ben Sira (Eclesiástico) aparece no início do séc. II a.C., durante o domínio selêucida. É uma época em que o helenismo procura impor-se com alguma agressividade, pondo em causa a identidade do Povo de Deus. Jesus Ben Sira, o autor deste livro, estava preocupado com a degradação dos valores tradicionais do seu Povo; escreveu este compêndio de “sabedoria” para defender o patrimônio cultural e religioso de Israel e para demonstrar aos seus compatriotas que Israel possuía na “Torah”, revelada por Deus, a verdadeira “sabedoria” – uma “sabedoria” muito superior à “sabedoria” grega.
O texto instrui a fugir do fracasso e dos juízos (“não elogies ninguém antes de ele falar”).
MENSAGEM - Jesus Ben Sira ensina que a palavra revela claramente o íntimo do coração do homem: não devemos deixar-nos condicionar pela primeira impressão ou por gestos mais ou menos teatrais que nada significam: só a palavra expressa a abundância do coração.
ATUALIZAÇÃO • Fazer escolhas de pessoas para cargos com base em critérios acidentais ou interesseiros, ignorando aspetos essenciais. O que é que nos leva a escolher este e a rejeitar aquele? O aspeto físico? A simpatia? A classe social? Ou pela competência e pela grandeza do coração?
• Não podemos, pois, deixar-nos condicionar pela primeira impressão. Um juízo apressado pode levar-nos a ser injustos e a marginalizar pessoas muito válidas e com um grande potencial.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 91 (92)
Como é bom agradecermos ao Senhor!
• Como é bom agradecermos ao Senhor / e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo! / Anunciar pela manhã vossa bondade; / e o vosso amor fiel, a noite inteira.
• O justo crescerá como a palmeira, / florirá igual ao cedro que há no Líbano; / na casa do Senhor estão plantados, / nos átrios de meu Deus florescerão.
• Mesmo no tempo da velhice darão frutos, / cheios de seiva e de folhas verdejantes; / e dirão: “É justo mesmo o Senhor Deus, / meu Rochedo; não existe nele mal!”.

EVANGELHO – Lc 6, 39-45
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”.
AMBIENTE - Jesus apresenta os elementos fundamentais da existência cristã. Lucas está preocupado com os “falsos mestres”. O texto de hoje começa com um provérbio (“poderá um cego guiar outro cego?” – vers. 39) que Mateus coloca num contexto completamente diferente do de Lucas: enquanto que em Mateus (cf. Mt 15,14) ele aparece num contexto de crítica aos fariseus, aqui é uma advertência contra os falsos mestres na comunidade cristã. Provavelmente, Lucas quer pôr a comunidade de sobreaviso em relação a esses mestres pouco ortodoxos que, na década de 80, começam a aparecer nas comunidades e cujas doutrinas apresentam desvios sérios em relação ao essencial da mensagem de Jesus Cristo.
MENSAGEM - Segundo Lucas, o verdadeiro mestre será sempre um discípulo de Jesus, o mestre por excelência; e a doutrina apresentada não poderá afastar-se daquilo que Jesus disse e ensinou. A comunidade deve ter isto presente, a fim de não se deixar conduzir por caminhos que a afastem do verdadeiro caminho que é Jesus.
Um segundo desenvolvimento, diz respeito ao julgamento dos irmãos (vers. 41-42). Há na comunidade cristã pessoas que se consideram iluminadas, que “nunca se enganam e raramente têm dúvidas”, muito exigentes para com os outros, que não reparam nos seus telhados de vidro quando criticam os irmãos... Apresentam-se muito seguros de si, às vezes com atitudes de autoridade, de orgulho e de prepotência e são incapazes de aplicar a si próprios os mesmos critérios de exigência que aplicam aos outros. Esses são “hipócritas”: o termo não designa só o homem dissimulado, falso, cujos atos não correspondem ao seu pensamento e às suas palavras, mas equivale ao termo aramaico “hanefa” que, no Antigo Testamento, significa, “perverso”, “ímpio”. Pode o verdadeiro discípulo de Jesus ser “perverso” e “ímpio”? Quem não está numa permanente atitude de conversão e de transformação de si próprio não tem qualquer autoridade para criticar os irmãos.
Finalmente, Lucas apresenta o critério para discernir quem é o verdadeiro discípulo de Jesus: é aquele que dá bons frutos. Neste contexto, dá bons frutos quem tem o coração cheio da mensagem de Jesus e a anuncia fielmente; e essa mensagem não pode gerar senão união, fraternidade, partilha, amor, reconciliação. Quando as palavras de um “mestre” geram divisão, tensão, desorientação, confrontação na comunidade, elas revelam um coração cheio de egoísmo, de orgulho, de amor próprio, de autossuficiência: cuidado com esses “mestres”, pois eles não são verdadeiros.
ATUALIZAÇÃO • Todos nós somos chamados a dar testemunho da nossa fé e da proposta de Jesus. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre a verdade ou a mentira do nosso testemunho. Como é o nosso testemunho? Identifica-se com a proposta de Cristo?
• Pode acontecer que a radicalidade do Evangelho de Jesus seja viciada pela nossa tendência em “suavizar”, “atenuar”, “adaptar”, de forma a que a mensagem seja mais consensual, menos radical, mais contemporizadora... Não estaremos, assim, a retirar à proposta de Jesus a sua capacidade transformadora e a escolher um caminho de facilidade?
• Também pode acontecer que anunciemos as nossas teorias e as nossas perspectivas, em lugar de anunciar Jesus e as suas propostas. Mais grave ainda: é possível atribuir a Jesus mandamentos e exigências que desvirtuam totalmente o sentido global das propostas que Jesus fez. Isso constitui uma grave perversão do Evangelho; e daí resulta, tantas vezes, opressão, medo, escravatura, em nome de Jesus. Isto tem acontecido, com frequência, ao longo da história da Igreja... É preciso, pois, um permanente confronto do nosso anúncio com o Evangelho e com o sentir da Igreja, a fim de que anunciemos Jesus e não traiamos a verdade da sua proposta libertadora.
• Podemos também correr o risco de deixar que o sentimento da nossa importância nos suba à cabeça; então, tornamo-nos arrogantes, exigentes, intolerantes, convencidos de que somos os únicos senhores da verdade. Com alguma frequência ouvem-se nas nossas comunidades cristãs frases como “aqui quem manda sou eu” ou “eu é que sei; tu não sabes nada disto”. Sempre que isso acontecer, convém interrogarmo-nos acerca da forma como estamos exercendo o nosso serviço à comunidade: estaremos a veicular a proposta de Jesus?
• A história da trave e do cisco convida-nos a refletir sobre a hipocrisia... É fácil reparar nas falhas dos outros e é difícil utilizar os mesmos critérios de exigência quando estão em causa as nossas pequenas e grandes falhas... Somos tão exigentes conosco como somos com os outros? Temos consciência da nossa necessidade permanente de conversão e de transformação?
LEITURA II – 1 Cor 15, 54-58
Leitura da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios
Irmãos, quando este ser corruptível estiver vestido de incorruptibilidade e este ser mortal estiver vestido de imortalidade, então estará cumprida a palavra da Escritura: “A morte foi tragada pela vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?” O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor.
AMBIENTE - Este texto conclui a catequese nos quatro últimos domingos sobre a ressurreição. Consultado pelos coríntios – preocupados com a aparente impossibilidade de o corpo, sensual e material, ter acesso à vida plena com Deus – acerca da ressurreição, Paulo desenvolve a sua catequese sobre essa questão polêmica.
MENSAGEM - No final da catequese, Paulo registra que a morte perdeu para sempre o seu poder. Tanto em relação a Cristo, como em relação aos cristãos, não é o “como” da ressurreição que interessa, mas o fato em si. Para isso, recorre a textos bíblicos de Isaías (cf. Is 25, 8) e Oseias (cf. Os 13, 14), ainda que evocados com bastante liberdade: “a morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?” (1 Cor 15 ,54-55). O pecado, a escravidão, o egoísmo, a violência, o ódio, aliados da morte não terão, a partir de agora, qualquer poder sobre o homem: a ressurreição de Cristo libertou todos os crentes do medo da morte, pois demonstrou que não há morte para quem luta por um mundo de justiça, de amor e de paz. O cântico de triunfo leva como acompanhamento obrigatório uma ação de graças a Deus pois é Ele, o Senhor da vida, “que nos dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Cor 15, 57).
A última palavra de Paulo é para convidar os coríntios – e os crentes de todas as épocas – a permanecer “firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor” (1 Cor 15, 58). É um convite a não projetarmos a ressurreição apenas num mundo futuro, mas a trabalharmos cada dia para que a ressurreição (como libertação do pecado, do egoísmo, da exploração e da morte) se vá tornando uma realidade viva na história da nossa existência. Isto implica, evidentemente, não cruzar os braços numa passividade que aliena, mas empenharmo-nos verdadeiramente numa efetiva transformação que traga vida nova ao homem e ao mundo.
ATUALIZAÇÃO • A ressurreição de Cristo garante-nos que o nosso Deus é o Senhor da vida. Assim, percorremos o nosso caminho neste mundo com total serenidade e confiança: sabemos que Deus está ao nosso lado sempre, vigiando – como uma mãe que cuida do seu bebé; e que, quando chegar a última fronteira, o nosso último fechar de olhos, a nossa saída deste mundo ou entrada no outro, também então podemos estar tranquilos, porque o nosso Deus/mãe continua vigilante. Ele é o Deus da vida, que nos garante a plenitude da vida.
• Sabemos que o mundo novo que nos espera começa já a realizar-se nesta terra e que é preciso fazê-lo aparecer todos os dias, em cada um dos nossos gestos. Acreditar na ressurreição é, assim, empenhar-se na construção de um mundo mais humano e mais fraterno, procurando eliminar as forças do egoísmo, do pecado e da morte que impedem, já nesta terra, a vida em plenitude. Por isso o Concílio Vaticano II diz: “a Igreja ensina que a importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança escatológica, mas que esta antes reforça com novos motivos a sua execução” (Gaudium et Spes, 21).
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Nós precisamos muito mais de pessoas que vivem corretamente do que de pessoas que falam bonito.

Um dia, numa reunião da pastoral familiar, o coordenador disse, em claro e bom tom, para as dezenas de pais e mães ali presentes: “Não mandem seus filhos para a igreja!”
Os casais ficaram assustados, mas o coordenador fingiu não perceber e, na sua mensagem, minutos depois repetiu a mesma frase: “Não mandem seus filhos para a igreja!”
Na terceira vez que ele falou, um pai protestou: “Eu não estou entendendo! A gente se esforça tanto para mandar os filhos para a igreja, agora você vem falar isso!”
O coordenador olhou compreensivamente para o pai aflito e explicou: “Fulano, eu também estou interessado em que as crianças e jovens participem da igreja. Mas não adianta nada você manda-los para a Missa, e ficar em casa. O certo é trazê-los à igreja, isto é, vir com eles, e não simplesmente manda-los”.
Todos bateram palmas para o coordenador, parabenizando-o pela forma criativa que usou para transmitir um recado tão importante.
Se os pais mandam, os filhos obedecem enquanto pequenos, mas na adolescência começam a ficar rebeldes, porque a inteligência se desenvolve e querem fazer o que é bom e não simplesmente porque foi mandado. E o que é bom para os filhos é aquilo que os pais fazem, não o que dizem.
Maria Santíssima é a Rainha dos educadores, pois educou o nosso grande educador, Jesus Cristo. Que ela nos ajude a tirar todas as traves dos nossos olhos. Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?

Meditatio: Paulo tem consciência de ser um “agraciado” de Deus, um que foi arrancado à força do caminho da perdição, um que foi salvo por misericórdia de Deus. A sua vida deu uma grande volta, não pelos seus méritos, mas pelos méritos de Cristo. Por isso, não tem ilusões, não se julga melhor que os outros.
A consciência de que todos fomos salvos por puro amor misericordioso de Deus, não nos permite armar-nos em guias dos outros, ou em pretensos “oftalmologistas” sempre prontos a reparar no argueiro que está na vista dos outros, e a querer retirá-lo. A consciência de que todos fomos gratuitamente salvos por Deus, ajuda-nos a viver como irmãos, a viver animados por reta intenção, a procurar sinceramente a vontade do Senhor. Se assim não, seremos cegos a guiar outros cegos, caindo todos na mesma cova. O nosso guia é, unicamente, Aquele que amorosa e gratuitamente nos salvou. É nele, é na sua palavra que havemos de procurar luz, e não nas nossas limitadas opiniões humanas. É à volta dele que havemos de nos reunir. E, então, «Ele estará no meio de nós» (cf. Mt 18, 20).
Mas Jesus avisa-nos sobre outro perigo muito comum, que é a tendência para criticarmos os outros, sem nos darmos conta dos nossos próprios defeitos: «Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não reparas na trave que está na tua própria vista?» (v. 41). Na verdade, com frequência, temos o costume de criticar os outros, de ver o que neles não está bem, de ver o mal que há no mundo. É mais raro pôr-nos a considerar os nossos defeitos, pensando que, com eles, nos tornamos pesados para os outros, tornamos difícil o seu caminho e que, a primeira coisa que deveríamos fazer, era olhar para nós mesmos.
Mas, se de fato, olharmos para os nossos próprios defeitos, procurando corrigi-los, então, poderemos ajudar os outros. Hão-de compreender que há em nós um coração realmente fraterno, cheio de verdadeiro amor, e não de orgulho ou de ressentimento.
Também neste capítulo, é útil o conselho do bom Papa João XXIII: «Ver tudo, calar muito, corrigir pouco» e, antes de corrigir, rezar. Peçamos, sobretudo, um coração semelhante ao do Senhor, um coração manso e humilde, um coração movido pelo amor.
É isso que o evangelho combate, alguém sentir-me melhor do que o outro e querer corrigi-lo com uma lição de moral, aliás, por trás de todo moralista sempre há um grande vigarista. Os Fariseus eram separados dos demais, por se julgarem superiores e justos, não perdiam a ocasião de chamar a atenção de outros membros da comunidade, mas não era uma correção fraterna, era uma chamada de atenção feita com arrogância e prepotência, feita de cima para baixo.
Julgavam-se conhecedores profundos do caminho a ser percorrido, mas diante da Verdade de Jesus Cristo, eram verdadeiros cegos que nada viam nem queriam ver. Querem ensinar o caminho da Lei, da Prática Religiosa e de todos os preceitos, e o mais grave, não admitem sua cegueira...







quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

7.º DOMINGO DO TEMPO COMUM C, homilias, subsídios homiléticos


7.º DOMINGO DO TEMPO COMUM C

Sinopse: A liturgia exige-nos o amor total mesmo para com os nossos inimigos.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo David que escolhe o perdão.
O Evangelho Exige um coração sempre disponível para perdoar..
A segunda leitura continua a catequese, dizendo que é na lógica do amor que preparamos essa vida plena que Deus nos reserva.

LEITURA I – 1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23
Leitura do Primeiro Livro de Samuel.
Naqueles dias, Saul pôs-se em marcha e desceu ao deserto de Zif. Vinha acompanhado de três mil homens, escolhidos de Israel, para procurar Davi no deserto de Zif. Davi e Abisai dirigiram-se de noite até o acampamento e encontraram Saul deitado e dormindo no meio das barricadas, com a sua lança à cabeceira, fincada no chão. Abner e seus soldados dormiam ao redor dele. Abisai disse a Davi: “Deus entregou hoje em tuas mãos o teu inimigo. Vou cravá-lo em terra com uma lançada, e não será preciso repetir o golpe”. Mas Davi respondeu: “Não o mates! Pois quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?” Então Davi apanhou a lança e a bilha de água que estavam junto da cabeceira de Saul, e foram-se embora. Ninguém os viu, ninguém se deu conta de nada, ninguém despertou, pois todos dormiam um profundo sono que o Senhor lhes tinha enviado. Davi atravessou para o outro lado, parou no alto do monte, ao longe, deixando um grande espaço entre eles. E Davi disse: “Aqui está a lança do rei. Venha cá um de seus servos buscá-la! O Senhor retribuirá a cada um conforme a justiça e a sua fidelidade. Pois ele te havia entregue hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o ungido do Senhor”.

AMBIENTE - A primeira leitura faz parte das tradições que descrevem a história da ascensão de David ao trono (1 Sam 16 – 2 Sam 6). David Escolhido por Deus, mas perseguido pelo rei Saul, David tem de fugir para salvar a sua vida. Um dia, David tem a possibilidade de matar Saul; mas recusa-se a erguer a mão contra “o ungido do Senhor”. Este quadro situa-nos por volta de 1015 a.C.
O livro de Samuel não é um livro de história, mas um livro de teologia; assim, é impossível dizer o que é histórico neste conjunto de tradições e o que é catequese. Os autores deuteronomistas, responsáveis pela redação e edição da obra histórica que vai de Josué a 2 Reis, estão preocupados com uma finalidade teológica: apresentar David como o rei ideal, corajoso mas de coração magnânimo, o protótipo do homem que não se afasta dos caminhos de Deus, que pela sua bondade e misericórdia atrai para si e para o seu Povo as bênçãos de Jahwéh.

MENSAGEM - O texto põe frente a frente duas formas de lidar com aquilo que nos agride e nos violenta. De um lado, está a atitude agressiva, que responde à violência com uma violência igual ou ainda maior e que pode chegar, inclusive, à eliminação física do nosso agressor… Esta é a atitude de Abisai.
Do outro lado, está a atitude de quem recusa entrar numa lógica de agressão e se propõe perdoar, evitando que a espiral de violência. David é apresentado como o protótipo do homem bom, que pode vingar-se do agressor, mas não o faz, pois sabe que a vida do outro é sagrada e inviolável.

ATUALIZAÇÃO • A lógica da violência tem feito parte da história humana. Quando alguém tem pontos de vista diferentes dos meus, grito mais alto para o vencer, ou utilizo a violência física? Agrido-o na sua honra e na sua dignidade, se não puder vencê-lo pela força dos argumentos? A minha lógica é a do “olho por olho, dente por dente”, ou é a lógica do perdão e do amor?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103)
O Senhor é bondoso e compassivo!
• Bendize, ó minha alma, o Senhor, / e todo o meu ser, seu santo nome! / Bendize, ó minha alma, o Senhor, / não te esqueças de nenhum de seus favores!
• Pois ele te perdoa toda culpa / e cura toda a tua enfermidade; / da sepultura ele salva tua vida / e te cerca de carinho e compaixão.
• O Senhor é indulgente, é favorável, / é paciente, é bondoso e compassivo. / Não nos trata como exigem nossas faltas, / nem nos pune em proporção às nossas culpas.
• Quanto dista o nascente do poente, / tanto afasta para longe os nossos crimes. / Como um pai se compadece de seus filhos, o Senhor tem compaixão dos que o temem.

EVANGELHO – Lc 6, 27-38
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “A vós que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos como também o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, será colocada no vosso colo; porque, com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.

AMBIENTE - Continuamos no horizonte do “discurso da planície” que começámos a ler no passado domingo. As “bem-aventuranças” (cf. Lc 6, 20-26) propunham aos seguidores de Jesus uma dinâmica nova, diferente da dinâmica do mundo; na sequência, Jesus exige aos seus uma transformação dos próprios sentimentos e atitudes, de forma que o amor ocupe sempre o primeiro lugar.

MENSAGEM - A exigência de amar e perdoar não é uma novidade radical inventada por Jesus. O Antigo Testamento já conhecia a exigência de amar o próximo (cf. Lv 19, 18); no entanto, essa exigência aparecia com limitações. Normalmente, o amor e o perdão ao inimigo apareciam limitados aos adversários israelitas (cf. 1 Sam 24, 26), aos compatriotas, àqueles a quem o crente vétero-testamentário estava ligado por laços étnicos, sociais, familiares, religiosos. Em contrapartida, o ódio ao inimigo – a esse que não fazia parte do mesmo povo nem da mesma raça – parecia, para o Antigo Testamento, algo natural (cf. Sal 35).
Jesus vai muito mais além do que a doutrina do Antigo Testamento. Para Ele, é preciso amar o próximo; e o próximo é, sem exceção, o outro – mesmo o inimigo, mesmo o que nos odeia, mesmo aquele que nos calunia e amaldiçoa, mesmo aquele de quem a história ou os ódios ancestrais nos separam (cf. Lc 10, 25-37). Os exemplos concretos que Jesus dá a este propósito (cf. Lc 6, 29-30) sugerem que não basta evitar responder às ofensas; é preciso ir mais além e inventar uma dinâmica de amor que desarme a violência, a agressividade, o ódio. Ele não nos pede, possivelmente, que tenhamos uma atitude covarde, passiva ou colaborante perante a injustiça e a opressão; o que Ele nos pede é que sejamos capazes de gestos concretos que invertam a espiral de violência e de ódio: trata-se de não responder “na mesma moeda”; trata-se de estar sempre disposto a acolher o outro, mesmo o que nos magoou e ofendeu; trata-se de estar sempre de mão estendida para o irmão, sem nunca cortar as vias do diálogo e da compreensão. O amor é a única forma de desarmar o ódio e a violência… Só assim os cristãos imitarão a bondade, o amor e a ternura de Deus.
A afirmação de Lc 6, 31 costuma ser chamada a “regra de ouro” da caridade cristã: “o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o vós também”. Indica que o amor não se limita a excluir o mal, mas que implica um compromisso sério e objetivo para fazer o bem ao próximo. Devemos, no entanto, rejeitar qualquer compreensão “mercantilista” desta regra: o que se procura é o bem do outro e não a estrita reciprocidade. Os versículos seguintes (cf. Lc 6, 32-35) acentuam esta perspectiva e garantem que só quem faz o bem de forma gratuita, sem cálculos e sem esperar nada em troca, pode ser “filho de Deus”.

ATUALIZAÇÃO • No mundo em que vivemos, é um sinal de fraqueza não responder a uma agressão ou não pagar na mesma moeda a quem nos faz mal; e é um sinal de coragem e de força pagar o mal com o mal – se possível, com um mal ainda maior. Achamos, assim, que defendemos a nossa honra e o nosso orgulho. Estes princípios geram guerras entre os povos, separações e divisões entre os membros da mesma família, inimizades e conflitos entre os colegas de trabalho.
• A nossa força e coragem manifestam-se na capacidade de inverter esta lógica de violência e de orgulho e de estender a mão a quem nos magoou e ofendeu. Esta é a lógica dos seguidores de Jesus, desse que morreu pedindo ao Pai perdão para os seus assassinos.
• A violência gera sempre mais violência; só o amor desarma a agressividade e transforma os corações dos maus e dos violentos.
• Isto não significa ter uma atitude passiva e conivente diante das injustiças e das arbitrariedades; significa estar sempre disposto a dar o primeiro passo para o reencontro, para acolher o que falhou; significa ter gestos de bondade e de compreensão, mesmo para quem nos fez mal. Também não significa esquecer (temos memória e não a podemos desligar quando nos apetece); mas significa não deixar que as falhas dos outros nos afastem; significa ter o coração aberto– mesmo quando Ele é ou foi um “inimigo”.

LEITURA II – 1 Cor 15, 45-49
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Irmãos, o primeiro homem, Adão, “foi um ser vivo”. O segundo Adão é um espírito vivificante. Veio primeiro não o homem espiritual, mas o homem natural; depois é que veio o homem espiritual. O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do céu. Como foi o homem terrestre, assim também são as pessoas terrestres; e, como é o homem celeste, assim também vão ser as pessoas celestes. E, como já refletimos a imagem do homem terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste.

AMBIENTE - Paulo reflete sobre o “modo” da ressurreição. Como ressuscitarão os mortos? As crenças judaicas do tempo concebiam o mundo dos ressuscitados como uma continuação do mundo presente; no momento da ressurreição, dizia a crença judaica, todos recuperarão o corpo que tinham neste mundo. Evidentemente, tais representações não podiam ser facilmente aceites pelos espiritualistas de Corinto (recordar que, para os gregos, o corpo era uma realidade material, sensual, carnal, que não podia ter acesso ao mundo ideal e espiritual).
Que pensa Paulo de tudo isto? Ainda que saiba estar a mover-se num terreno misterioso, Paulo não se esquiva à questão e apresenta uma série de reflexões que podem ser clarificadoras para os seus interlocutores coríntios.

MENSAGEM - A afirmação básica de Paulo é que os mortos serão objeto de uma profundíssima transformação para chegar ao estado de ressuscitados. Não se pode falar, sem mais, de uma simples continuidade entre o corpo terrestre e o corpo ressuscitado. Ambos são corpos, mas as suas caraterísticas são claramente distintas, opostas até.
Para explicar isto, Paulo recorre à figura de Adão. De um lado, está o primeiro Adão, tirado do barro, homem terreno e mortal, que é o modelo da nossa humanidade enquanto caminhamos neste mundo. Do outro, está o segundo Adão (Cristo ressuscitado) que, por ação do Espírito, se torna “corpo espiritual”. O modelo a que devem equiparar-se os crentes é o do segundo Adão, Jesus ressuscitado: incorporados pelo batismo em Cristo, os crentes equiparar-se-ão a Cristo ressuscitado e serão, como Ele, um “corpo espiritual”. O que é esse “corpo espiritual”? Paulo não o explica; mas, na tradição bíblica, “espírito” não é sinónimo de imaterialidade, mas sim de força, de vitalidade, de poder, de criatividade.
Portanto, falar da nossa ressurreição é falar desse estado em que seremos um “corpo espiritual”, à imagem de Cristo ressuscitado. Nesse “corpo espiritual” estará presente o homem inteiro, dotado de novas qualidades – as qualidades do Homem Novo.

ATUALIZAÇÃO • A ressurreição aparece, nesta perspectiva, como a passagem para uma nova vida, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites que a materialidade do nosso corpo nos impõe. Será a vida em plenitude ou, como diz Karl Rahner, “a transposição no modo de plenitude daquilo que aqui vivemos no modo de deficiência”. A morte é o fim da vida; mas fim entendido como meta alcançada, como plenitude atingida, como nascimento para um mundo infinito, como termo final do processo de hominização, como realização total da utopia da vida plena.
• Mais uma vez convém recordar que ver a morte e a ressurreição na perspectiva da fé é libertarmo-nos do medo: medo de agir, medo de atuar, medo de denunciar as forças de morte que oprimem os homens e desfeiam o mundo… Que temos a perder, quando nos espera a vida plena, o mergulho no horizonte infinito de Deus – onde nem o ódio, nem a injustiça, nem a morte podem pôr fim a essa vida total que Deus reserva aos que percorreram, neste mundo, os caminhos do amor e da paz?

Para a Celebração da Palavra (Diáconos ou Ministros da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS...    DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
Todos: Meu Senhor e meu Deus, eu vos amo.
- Pai, nós Vos damos graças pelo Vosso Filho Jesus, novo Adão, ser espiritual vindo de junto de Vós para nos dar a vida, a nós, os herdeiros do primeiro Adão, votados à terra e à morte. Nós Vos pedimos pelos nossos parentes e amigos falecidos. Pelo batismo, Vós os recriastes à imagem do novo Adão, o Cristo. Associai-os à sua ressurreição.
Todos: Meu Senhor e meu Deus, eu vos amo.
- Pai misericordioso, bom para os ingratos e os maus, bendito sejais pela revelação da Vossa bondade sem limites que Jesus nos faz pelo seu ensinamento e pelo seu comportamento.
Nós Vos pedimos: que o Vosso Espírito nos ajude a nos comportarmos como filhos e filhas dignos de Vós.
Todos: Meu Senhor e meu Deus, eu vos amo.
Pai, Vós sois bondade e amor. Ajudai-nos a nos transformar em vossa imagem e semelhança diante daqueles que nos afligem e nos maltratam. Que tenhamos a força e coragem de saber amar.
Todos: Meu Senhor e meu Deus, eu vos amo.
- Pai nosso...   A Paz...     Eis o Cordeiro...

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Um dia, um esposo foi procurar um sábio e lhe disse que já não amava mais a sua esposa, e que por isso pensava em deixá-la.
O
sábio escutou tudo em silêncio, depois olhou bem nos olhos do homem e disse apenas uma palavra: “Ame-a”. E se calou.

“Mas eu não sinto mais nada por ela!” disse o esposo. O sábio falou novamente: “Ame-a”.
Depois de algum tempo de silêncio, e diante do impasse, o sábio explicou: “Amar é uma decisão, não um sentimento!”
Ninguém vive sem amor, mas amor nessa linha, isto é, como decisão, não apenas como sentimento. “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por quem ama.”
Maria Santíssima nos mostrou, com a sua vida, o que é amar, tanto a Deus como ao próximo. Mãe do belo amor, rogai por nós!
Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

6º Domingo do Tempo Comum C, homilias, subsídios homiléticos


6º Domingo do Tempo Comum C 2019 (Adaptado pelo Diácono Ismael)

Sinópse:
TEMA: Deus tem uma proposta para nos dar a felicidade eterna.
Primeira leitura: Nossos projetos COM ou sem Deus;  Jeremias avisa que prescindir de Deus é renunciar à felicidade plena.
Evangelho: os preferidos de Deus são os que vivem na simplicidade e na humildade
Segunda leitura: Jesus ressuscitou; e nos aponta os critérios de uma vida nova e plena.

LEITURA I – Jer 17,5-8
[ ]Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor.[ ] habitará na aridez do deserto, [ ], onde ninguém habita. Bendito quem confia no Senhor [ ]  É como a árvore plantada à beira da água, [ ]: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; e não deixa de produzir os [ ] frutos.

AMBIENTE
Reinado de Joaquim (609-597 a.C.): política de alianças. Confia a segurança, não a Jahwéh, mas aos exércitos egípcios (aliados de Joaquim). O profeta ataca a infidelidade ao Deus da aliança: Judá já não coloca a sua esperança em Deus, mas sim nos homens.

MENSAGEM
O tema Denuncia o homem que se apóia noutro homem e prescinde de Deus; denuncia a autossuficiência que não precisa de Deus. Prescindir de Deus significa construir uma existência limitada, tendo em vista apenas o nosso olhar que não vê o todo.

ATUALIZAÇÃO
♦ Tudo o que é humano é efêmero, limitado, finito; só em Deus encontramos o rochedo seguro que não falha e que não nos decepciona.
Onde está a nossa segurança e a nossa esperança? Na conta que temos no banco? Na importância da nossa posição social ou profissional? Nas conquistas científicas ou técnicas? Ou nesse Deus que se compromete conosco e encontra mil formas de demonstrar, dia a dia, a sua fidelidade?

SALMO RESPONSORIAL (Sl 1)
É feliz quem a Deus se confia!
• Feliz é todo aquele que não anda / conforme os conselhos dos perversos; / que não entra no caminho dos malvados / nem junto aos zombadores vai sentar-se; / mas encontra seu prazer na lei de Deus / e a medita, dia e noite, sem cessar.
• Eis que ele é semelhante a uma árvore / que à beira da torrente está plantada; / ela sempre dá seus frutos ao seu tempo, / e jamais as suas folhas vão murchar. / Eis que tudo que ele faz vai prosperar.
• Mas bem outra é sorte dos perversos. / Ao contrário, são iguais à palha seca, / espalhada e dispersada pelo vento. / Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, / mas a estrada dos malvados leva à morte.

EVANGELHO – Lc 6,17.20-26
[ ]Jesus desceu do monte, e [ ], disse: Bem-aventurados os pobres porque é deles o reino de Deus. Bem-aventurados os que tem fome, porque serão saciados. Bem-aventurados os que choram, porque haveis de rir. Bem-aventurados quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e prescreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas. Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação. Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome. Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar. Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem. Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas.

AMBIENTE
Lucas procura apresentar um primeiro anúncio sobre Jesus (“kerigma”) e definir o programa que o Messias vai cumprir em favor dos oprimidos. O Evangelho continua a afirmação da Sinagoga de Nazaré, onde Jesus enuncia o seu programa: “o Espírito do Senhor está sobre Mim porque Me ungiu, para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-Me a proclamar a libertação aos cativos…” (Lc 4,18-19). A libertação chegou com Jesus e dirige-se aos pobres (todos somos necessitados de Deus e não autosuficientes). Numa planície (em Mateus é numa montanha), rodeado dos discípulos e por uma multidão.

MENSAGEM
Lucas apresenta quatro bem-aventuranças (nove em Mateus). Os destinatários são os pobres, os que têm fome, os que choram, os que são perseguidos. São os desprotegidos, os explorados, os pequenos e sem voz, as vítimas da injustiça, que com frequência são privados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos poderosos. Serão eles os primeiros destinatários da salvação de Deus, porque eles estão numa situação de debilidade e Deus quer derramar sobre eles a sua bondade.. A salvação dirige se  prioritariamente a estes porque eles, na simplicidade, humildade, estão mais abertos para acolher a proposta que Deus lhes faz em Jesus.  As bem-aventuranças manifestam, numa outra linguagem, o que Jesus já havia dito no início da sua atividade na sinagoga de Nazaré: Ele é enviado pelo Pai ao mundo, com a missão de libertar os oprimidos. Aos pequenos aos simples e humildes. Jesus diz que Deus os ama e quer oferecer-lhes a vida e a liberdade plenas. Por isso eles são “bem aventurados”. As “maldições” são o reverso da medalha. Denunciam a lógica dos opressores, dos poderosos, dos que têm o coração cheio de orgulho e de autossuficiência e não estão disponíveis para acolher a novidade do “Reino”. As advertências aos ricos significam que, se eles persistirem numa lógica de egoísmo, de prepotência, de injustiça, de autossuficiência, não têm lugar nesse “Reino.

ATUALIZAÇÃO
A lógica do mundo proclama “felizes” os que têm dinheiro (mesmo se resulta da exploração dos mais pobres), os que têm poder (mesmo que seja exercido com prepotência e arbitrariedade), os que têm influência (mesmo obtida na corrupção); mas a lógica de Deus exalta os pobres, os débeis: é a esses que Deus Se dirige com uma proposta libertadora e convida a fazer parte da sua família. Jesus traz a Boa Nova que alegra os corações amargurados, os marginalizados, os oprimidos. Jesus propõe um mundo novo, um mundo de irmãos, onde a prepotência, o egoísmo, a exploração e a miséria serão banidos e onde os pobres e marginalizados terão lugar como filhos iguais e amados de Deus.
Vinte e um séculos depois mudou alguma coisa no nosso mundo? somos tentados a crer que a proposta de Jesus falhou; mas talvez seja mais correto colocar a questão nestes termos: nós, testemunhas de Jesus, teremos conseguido passar aos pobres, aos marginalizados, esse projeto libertador?

LEITURA II – 1 Cor 15,12.16-20
Irmãos: Se [ ] Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, [ ] . Se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram.

AMBIENTE
É continuação da catequese sobre a ressurreição que Paulo apresenta aos Coríntios.. É preciso recordar que a ressurreição dos mortos, constituía um sério problema para a mentalidade grega, habituada a ver no corpo uma realidade negativa, que aprisionava a alma no mundo material; sendo assim, o corpo – realidade carnal– não podia seguir a alma nessa busca da vida plena, da vida divina.

MENSAGEM
Se Cristo ressuscitou, todos ressuscitaremos. Se Cristo não tivesse ressuscitado, suas propostas não teriam qualquer sentido, “os mais miseráveis de todos os homens”. A partir da ressurreição de Cristo, podemos acreditar nessa vida plena que Deus reserva para todos os que O amam. É essa perspectiva que dá sentido à caminhada que o cristão faz neste mundo: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram”. Jesus ressuscitou não como o único, mas como o primeiro de uma longa cadeia da qual fazemos parte. Ele arrasta atrás de Si a humanidade solidária com Ele, até à realização plena, à vida definitiva, à salvação total.

ATUALIZAÇÃO A certeza da ressurreição garante-nos que Deus tem um projeto de salvação e de vida para cada homem.
A nossa vida não é sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada confiante – mesmo no sofrimento e na dor – em direção a essa vida total em que se revelará o Homem Novo.
Isso não quer dizer que devamos ignorar as coisas boas deste mundo, vivendo apenas à espera da recompensa futura, no céu
Podemos comprometer nos na luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça e a opressão não podem pôr fim à vida que nos anima; temos uma ressurreição.

 (Pobre é o que tem a capacidade de se esvaziar para o bem do próximo)
O que nos torna felizes, bem aventurados é quando temos a riqueza para podermos partilhar, nos esvaziar por amor ao próximo. O pobre, o desprovido de bens, o marginalizado, deve lutar para que tenha bens para também poder se esvaziar, partilhar. Se não luta, é um acomodado que não quer ser feliz, pois prefere se acomodar na sua vida. Se luta e lhe tiram o direito de ter, Deus está com ele, pois o mundo o marginaliza. Deus está com o que se faz pobre, se esvazia e com o que está pobre porque não lhe deixam ter para partilhar. Felizes os pobres, porque estes merecem a felicidade do Reino.

O que nos faz pobres, como quer Jesus,  é a riqueza que se torna socorro dos pobres, como lemos no texto do juízo final (Mt 25,34-43). 34  então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. 35  Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; 36  estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. [ ] 40  O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
 
Jesus se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza (2Cor 8,9). (9  pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.)
   Assim temos as demais bem-aventuranças da fome que será saciada, da lágrima enxugada e da perseguição vencida. Não podemos entender o termo pobre como apenas aquele que passa necessidades, ou que é feito assim pelos outros, pois Jesus veio para tirá-los desta situação de sofrimento. Veio dar a boa-notícia aos pobres (Lc 4,18ss). Ser pobre não está nos planos de Deus para nós. O que Jesus chama de pobre? São os que se fazem pobres para dar vida aos pobres. Esse é feliz porque assume a mesma condição de Jesus. Maria não quis dizer que os pobres iriam ficar ricos para oprimirem. D. Helder explica; “Nem pobres, nem ricos, mas todos irmãos”

A Escritura se pergunta por que o rico injusto prospera e o justo fiel não vai para frente. É o tema da retribuição que nos questiona também. O salmo reza: “São como o rebanho destinado ao abismo, que a morte os leva a pastar” (Sl 49,15-16).

Jesus não quer a pobreza. Ele quer que, na fraternidade, consigamos a felicidade, colocando o amor como critério maior.
1.         Importante é confiar no Senhor. Isto é ser pobre. Deus sempre esteve do lado dos pobres. Ana e Maria cantam a mudança de situação. O que a bem-aventurança ensina é que a riqueza sem a destinação em favor dos pobres nos faz injustos. Deus quer todos irmãos.
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Para a Celebração da Palavra (Diáconos ou ministros extraordinários da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS...    DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
- Senhor, Sois a nossa esperança, em Vós pomos a nossa confiança. O Vosso Espírito é como a água que torna verdejante a erva e faz crescer a árvore, ele nos irriga com a vossa vida e nos faz produzir os frutos que esperais. Pai, Nós Vos confiamos os nossos irmãos e irmãs cuja fé secou. Não permitais que os nossos corações se afastem de Vós.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
- Pai dos pobres, Deus de misericórdia, bendito sejais pela esperança que revelais aos pobres, aos pequenos e a todos os feridos da vida, aqueles que a sociedade despreza e abandona. Vós lhe ofereceis a felicidade do Vosso Reino. Pai, Tantos companheiros à nossa volta andam à procura da felicidade e não sabemos como os ajudar. Iluminai-os com o Vosso Espírito.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
- Ó Deus de vida, nós Vos damos graças pela esperança que nos dais de ressuscitarmos para a Vida Eterna e Feliz. Pai, Nós Vos confiamos todos os nossos irmãos que ainda ignoram a luz da ressurreição.
T: Bendito sejais, Senhor nosso Deus!
- Pai nosso...   A Paz...     Eis o Cordeiro...


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

5º Domingo do Tempo comum C, homilias, subsídios homiléticos


V Domingo do T. Comum (adaptado pelo Diácono Ismael)

Sinopse:
TEMA: “É pela graça de Deus que eu sou o que sou.” Somos todos chamados a uma missão.
Primeira leitura: Isaías é modelo de um homem, que é sensível aos apelos de Deus.
Evangelho: Um grupo de discípulos que partilharam a barca com Jesus, acolhem as propostas e reconhecem Jesus como seu “Senhor”, e que deixaram tudo para segui-lo. 
Segunda leitura: A ressurreição de Jesus é que nos anima a evangelizar e enfrentar a injustiça.

LEITURA I – Is 6,1-2a.3-8
[ ] vi o Senhor, sentado num trono [ ] serafins de pé, [ ] o templo enchia-se de fumaça. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros,  [ ] Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente [ ] . Tocou-me com ele na boca e disse-me: « [ ] o teu pecado, foi perdoado ». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?» Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».

AMBIENTE
Estamos em Jerusalém, 740 a.C.. Isaías tem vinte anos. Enquanto está no Templo, descobre que Deus o chama a ser profeta. No entanto, este relato não deve ser visto como uma reportagem jornalística de acontecimentos, mas sim como uma apresentação teológica de uma experiência interior de vocação. Os pormenores folclóricos – o trono alto em que o Senhor Se senta, os “serafins” com seis asas, o fumo – são elementos simbólicos com que o profeta desenha a grandeza de Deus que lhe chamou.

MENSAGEM
Isaías deixa claro que a sua vocação é obra de Deus.
Em segundo lugar, Tem consciência dos seus limites. A “purificação” sugere que a indignidade e a limitação não são impeditivos para a missão.
Em terceiro lugar, temos a aceitação da missão pelo profeta.

ATUALIZAÇÃO
 Deus nos chama  para a missão e espera uma resposta.
A missão frequentemente está associada a dificuldades, a sofrimentos, e a conflitos.
Minhas limitações não servem de desculpa para a missão que Deus quer confiar: Ele dará a força para superar os limites.

SALMO RESPONSORIAL / 137 (138)
Vou cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me.
• Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, / porque ouvistes as palavras dos meus lábios! /
Perante os vossos anjos vou cantar-vos / e ante o vosso templo vou prostrar-me.
• Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, / porque fizeste muito mais que prometestes; /
 naquele dia em que gritei, vós me escutastes / e aumentastes o vigor da minha alma.
• Os reis de toda a terra hão de louvar-vos, / quando ouvirem, ó Senhor, vossa promessa. /
Hão de cantar vossos caminhos e dirão: / “Como a glória do Senhor é grandiosa!”
• Estendereis o vosso braço em meu auxílio / e havereis de me salvar com vossa destra. /
Completai em mim a obra começada. / Ó Senhor, vossa bondade é para sempre! /
Eu vos peço: não deixeis inacabada/ esta obra que fizeram vossas mãos!

EVANGELHO – Lc 5,1-11
[ ] a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. Jesus viu duas barcas[ ]. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se rompiam. Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!”. [ ] Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.

AMBIENTE
Estamos na Galileia, no início do ministério de Jesus. Lucas apresentou o programa de Jesus na sinagoga de Nazaré como anúncio da Boa Nova aos pobres e a libertação dos prisioneiros… Agora, começam a notar-se os primeiros resultados da atividade de Jesus: à sua volta formar-se o grupo dos que foram sensíveis a essa proposta de salvação e seguiram Jesus.

MENSAGEM
O texto é uma catequese da identidade cristã:
- Ser cristão é, em primeiro lugar, estar com Jesus “no mesmo barco”. É desse barco, que a Palavra de Jesus se dirige ao mundo, propondo a todos a libertação.
- Ser cristão é, em segundo lugar, escutar a proposta de Jesus, fazer o que Ele diz, cumprir as suas indicações, lançar as redes ao mar.
- Ser cristão é, em terceiro lugar, reconhecer Jesus como “o Senhor”: é o que faz Pedro, ao perceber como a proposta de Jesus gera vida e fecundidade para todos.
- Ser cristão é, em quarto lugar, aceitar a missão que Jesus propõe: ser pescador de homens. O “mar” no ideário judaico: era o lugar dos monstros que procuravam roubar a vida e a felicidade do homem. Ser “pescadores de homens” significa que a missão do cristão é continuar a obra libertadora de Jesus. Trata-se de salvar o homem de morrer afogado no mar da opressão, do egoísmo, do sofrimento, do medo.
- Ser cristão é, finalmente, deixar tudo e seguir Jesus.

ATUALIZAÇÃO
♦ Estamos no barco de Jesus? Ouvimos suas propostas ou as do mundo?
♦Chamados a ser “pescadores de homens”, temos por missão combater o mal, a injustiça, o egoísmo, a miséria, tudo o que impede os homens de viver com dignidade e de ser felizes.
♦ Deixamos tudo na praia para seguir Jesus?

LEITURA II – 1 Cor 15,1-11
Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e [ ]  pelo qual sereis salvos. [ ]  Transmiti-vos  [ ] o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados [ ]; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos [ ]. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. E [ ], apareceu-me também a mim, como o abortivo. [ ] a graça que Ele me deu não foi inútil. [ ] pregamos; e   vós  acreditastes.

AMBIENTE
A ressurreição dos mortos era relativamente bem aceita no judaísmo, habituado a ver o homem na sua unidade; mas constituía um problema para a mentalidade grega. Porquê? A cultura grega, era influenciada por filosofias dualistas (Platão) que viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre, recusava-se a aceitar a ressurreição do homem integral. Como poderia o corpo que aprisionava a alma e a impedia de subir ao mundo ideal, na opinião dos filósofos gregos – seguir a alma? É a esta questão posta pelos Coríntios que Paulo vai responder neste texto.

MENSAGEM
A argumentação de Paulo é simples: nós ressuscitaremos, porque Cristo já ressuscitou. A comprovação do fato resulta dos outros dois elementos. No que diz respeito ao testemunho das escrituras, Paulo não cita diretamente nenhum texto da Sagrada Escritura em favor da sua tese; mas podemos pensar que  Paulo está referindo a Is 53,8-12 (o quarto poema do Servo de Jahwéh) e a Os 6,2. No que diz respeito às testemunhas da ressurreição de Jesus, Paulo cita seis manifestações de Jesus ressuscitado. Notemos que os apóstolos (Paulo incluído) não testemunharam o momento da ressurreição, mas a experiência de um Jesus que continuou vivo depois da morte. O ressuscitado fez-se presente na vida destes homens. A ressurreição de Cristo é um fato real, mas ao mesmo tempo sobrenatural e meta-histórico, algo que ultrapassa completamente as categorias humanas de espaço e de tempo, a fim de entrar na órbita da fé. É algo que a ciência histórica não pode demonstrar, porque corresponde a uma experiência de fé. O que, historicamente, podemos comprovar, é a incrível transformação dos discípulos que, de homens cheios de medo, de frustração e de covardia, se converteram em arautos destemidos de Jesus, vivo e ressuscitado. Além do mais, a ressurreição é um fato que ocorreu, mas que continua a ocorrer; continua a ter a eficácia primitiva, continua a ser capaz de converter em homens novos, a quantos aceitam Jesus pela fé. A comunidade cristã é convidada a fazer esta descoberta, a partir das Escrituras, do Espírito e da própria vida nova que continuamente vai nascendo nos cristãos.

ATUALIZAÇÃO
♦ Essa ressurreição é que afirmamos no credo e continua a acontecer na nossa vida e na nossa história, gerando vida nova, libertação, amor, numa contínua manifestação de Primavera para nós.
A ressurreição de Cristo garante-nos que não há morte para quem aceita fazer da sua vida uma luta pela justiça, pela verdade, pelo projeto de Deus. A certeza da ressurreição encoraja-nos a lutar, sem medo, por um mundo mais justo, mais fraterno e mais humano.

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"O Chamado"

Ao longo da história, Deus sempre chama pessoas e as envia para realizar os seus planos.
As Leituras bíblicas de hoje nos falam de TRÊS CHAMADOS:

Na 1ª Leitura, temos o Chamado de ISAÍAS.  (Is 6,1-8)

- Deus se revelou a ele, quando estava em oração no templo.
- Inicialmente, ele se sente pequeno e indigno.
  Prefere continuar no seu cantinho cômodo, sem se comprometer.
- Um anjo lhe toca os lábios com uma brasa, purificando-o para a missão.
- Deus então pergunta: "Quem vou enviar?"
  Isaías, sensível ao apelo de Deus, aceita: "Eis-me aqui, envia-me".

* Vemos aqui os PASSOS DA VOCAÇÃO:
- A iniciativa é sempre de Deus
- A primeira reação é sempre a mesma: "não sou capaz". "Não sou digno".
- Mas quando nos colocamos numa atitude de disponibilidade, Deus nos purifica e fortalece, e acabamos dando conta do recado.

Na 2ª Leitura, PAULO conta o seu Chamado. (1 Cor 15,1-11)

Ele se considera o "último" dos apóstolos... como um "abortivo".
Mas no encontro com Cristo a caminho de Damasco, responde: "Senhor, que queres que eu faça?"

No Evangelho temos o Chamado dos Primeiros APÓSTOLOS. (Lc 5,1-11)

 - Jesus na Barca de Pedro fala ao povo... e depois os convida a pescar...
 - Pedro confia na sua palavra e acontece a pesca milagrosa...
 - Pedro também se sente indigno...
 - Jesus convida: "Doravante serás pescador de gente."
 - E eles aceitam o convite: "Largam tudo e o seguem..."

O texto apresenta uma Catequese sobre: O QUE É SER CRISTÃO.

- É ESTAR com Jesus "no mesmo barco".
  É desse barco (a comunidade cristã), que Jesus fala ao mundo.

- É ESCUTAR a proposta de Jesus, fazer o que ele diz, mesmo quando suas propostas podem parecer ilógicas e incoerentes.
  "Porque tu o dizes, lançarei as redes".

- É RECONHECER Jesus como "o SENHOR": É o que Pedro faz, ao perceber que a proposta de Jesus gera vida e fecundidade para todos.

- É ACEITAR a missão que Jesus propõe: Ser pescador de gente: Significa continuar a obra libertadora de Jesus.

- É DEIXAR tudo e seguir Jesus.
  A generosidade e o dom total devem ser sinais distintivos dos que o seguem.

O texto é rico de outros detalhes:

- Jesus proclama a Palavra da Barca de Pedro:
   Essa barca representa a comunidade cristã. (Jesus foi expulso da sinagoga)
   Embora ocupada por pecadores, é dessa barca que ecoou a voz de Deus.
- O Anúncio da Palavra acontece num dia de semana: no ambiente de trabalho, sem ser no sábado...  
   A Palavra de Deus deve ser anunciada sempre e em todos os lugares...
- "Avança para águas mais profundas"... É o convite para os novos pescadores superarem a rotina da ação pastoral, sempre agarrada às margens que não dão mais peixe! Precisa buscar sempre um novo jeito de "pescar".
- É Pedro quem conduz a barca para o lugar indicado... e a ele Jesus diz: "Serás pescador de homens..."
   A ele é confiado um ministério especial na Igreja, que navega nos mares da história...
- A Pesca milagrosa não é resultado da habilidade de Pedro, mas da força da Palavra de Deus.
   Por que muito trabalho não produz fruto?  Em nome de quem estamos pescando?
- A Missão é ser pescador de gente: Jesus escolhe pessoas simples para uma missão tão importante...
   Deus não olha tanto as qualidades humanas... mas a generosidade... 

 - Essa Missão é confiada a toda a Comunidade, apesar de suas limitações.
    Deus só espera a disponibilidade em acolher o seu convite e deixar tudo...

* Todos somos chamados por Deus a sermos profetas como Isaías, e pescadores de homens como Pedro.
- O chamado pode chegar até nós através do padre... da comunidade...
  Vocês não imaginam como é difícil essa missão de convidar!...
   "Quem poderia, não aceita... e quem aceitaria, a comunidade não aprova!..."

Qual é a nossa Resposta?  Acolhemos com a generosidade...
- de Isaías: "Eis-me aqui... envia-me..."
- de Paulo: "Senhor, que queres que eu faça?"
- dos primeiros Apóstolos: "Largaram tudo e o seguiram"

-  Às vezes, esquecendo que somos pecadores, podemos confiar demais em nós, ou então não confiar em nós e na ação de Deus em nós.
- Se confiarmos na força da Palavra de Deus e tivermos a coragem de deixar tudo, a pesca milagrosa continuará acontecendo, ainda hoje...

  Cristo ainda hoje precisa de pescadores de gente.
  Ele pode contar com você?

                                           Pe. Antônio Geraldo

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Homilia do Pe. Pedrinho

A Palavra de Deus é dirigida a cada um de nós. A última frase da primeira Leitura diz: «Quem enviarei? Quem irá por nós?» Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».
Ora, a coragem do profeta Isaías, com toda a sua juventude, a disposição de Paulo, com todo seu selo em pregar a Palavra e a missão, que Jesus atribui a Pedro, para que seja pescador de homens, são três exemplos de como nós poderíamos responder ao chamado, que Deus nos faz a cada dia. O ambiente é a liturgia, o ambiente é a Celebração, o encontro com Deus. Este é o lugar adequado, o melhor de todos, para respondermos ao chamado de Deus. Veja como é interessante: Diz a primeira leitura, que diante dos cânticos, que eles cantavam, até os ferrolhos das portas tremiam e a fumaça ocupava o Templo todo. São dois pontos, sobretudo, muito presentes na nossa Liturgia e muitos católicos não se dispõem em fazer. Eu não estou falando de quem está aqui, mas de quem não tem o hábito de participar da Celebração Eucarística (missa). Simplesmente não cantam. Vai para ouvir e assistir os outros cantarem. Aqui diz, que é um elemento para ajudar você a encontrar-se com Deus. Isaías conseguiu ver a face de Deus, durante os cânticos e muitas vezes, quando utilizamos o incenso, somos criticados, quando dizem: esta fumaça toda, para que? O incenso é um recurso utilizado para nós nos sentirmos mais próximos de Deus, como se estivéssemos, assim, nas nuvens. São dois elementos, que não são, assim, essenciais, mas que facilitam a nossa experiência diante de Deus. Só que temos uma dificuldade: a dificuldade do pecado. Todos nós somos pecadores. Na medida em que vamos perdendo a inocência, eu não estou dizendo de sexo, mas de todo sentido de pecado, nós vamos nos sentindo mais distantes de Deus. Por conta disso, achamos que é melhor se afastar de Jesus, do que assumir a nossa realidade de pecadores. Olha a reação de São Pedro: “afasta de mim, Senhor, porque sou pecador”. Quem de nós está, cem por cento, pronto para se colocar diante de Deus? Esta é a grandeza do cristianismo. Nós não precisamos estar formados para podermos Evangelizar, porque nunca estaremos formados. Nós somos sempre discípulos e o mestre é sempre Jesus. Quando acharmos que encontramos Jesus, Ele vai dizer: vá para a Galiléia, porque lá eu te precedo. Então, não adianta acharmos que estamos prontos. Não. Ora, então, o que fazer? Nem estou pronto e sou pecador. Confiar na graça de Deus. Este é o segredo. Quem é que, de fato, está pronto para assumir a sua missão de evangelizador como leigo? Leigo são as pessoas que não são padre, nem frei, nem freira, mas que são chamados a evangelizar. Quem é que está cem por cento digno para presidir uma Eucaristia? Quem é que está cem por cento coerente com a sua vida, para se apresentar como frei ou freira? Que é o sinal do Reino de Deus já implantado. Claro, que estou generalizando e cada um vai responder por si próprio. O fato é que utilizamos, muitas vezes, da desculpa do pecado e do não preparo, para não assumirmos a nossa missão de evangelizadores. O profeta Isaías, São Paulo, acreditaram na graça de Deus e, por isso, assumiram o seu trabalho. Isaías fez o que? Senhor, eu sou um pecador. Ora, na medida em que ele confessou esta sua realidade, então, ele foi purificado, diz a primeira leitura. Aí tornou-se apto, pronto, para anunciar a Palavra e apresentou-se: Eis me aqui. Envia-me. Quem crê na graça de Deus, não tem medo de dizer isto: “envia-me”. Ora, São Paulo é um outro exemplo. Muita gente diz: “ih, se eu for contar a minha vida! Nossa, não acaba nunca”. São Paulo diz isto: Eu sou como um abortivo. Nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque eu perseguia a Igreja. Ele, até com boa vontade, ele não era ruim não. Ele até apostou na morte: ele achou que matando as pessoas, ele iria resolver os problemas da vida dele. Ele queria defender a fé em Deus. Ora, foi aos poucos que foi dando conta do seu grande equivoco e torna-se, assim, um grande anunciador do Evangelho. Aliás, ele exagera um pouco: ele diz: trabalhei mais que todos os apóstolos juntos. Isto é um exagero! Quem é que pode provar que eu trabalhei mais na evangelização do que você? Quem é que pode medir, a não ser Deus? Entretanto, ele se dá conta do exagero e diz: eu não! A graça de Deus que está em mim. Então, é confiando na graça de Deus, que nós somos capazes de realizar alguma coisa. Ah, mais hoje ninguém quer ouvir a Palavra! O Evangelho nos instiga, dizendo que todos estavam amontoados, querendo ouvir a Palavra. E, hoje também. Dificilmente você não encontra alguém que não tem sede de Deus, porque na realidade, todo mundo quer ser feliz e é Deus que nos dá felicidade. Agora, é preciso que alguém saia anunciando. É evidente, que sair anunciando não é ir numa praça pública todos os dias. De vez em quando, sim, quando  você quer dar uma mensagem ou outra, como nós mesmo já fizemos isto. Mas, o anúncio é a partir de nossa postura, do nosso testemunho, da nossa maneira de se apresentar ao mundo. Ora, ,só crendo na Graça de Deus, que nós vamos nos dispor a ouvir a Palavra e anuncia-la. É nesse encontro de domingo, é um oásis, é um momento onde eu paro, cansado da missão da semana, ouço a Palavra, me reanimo, tomo o alimento, que é a Eucaristia, me reforço e saio para realizar esta missão. Até quando? Até o dia da morte. E, agente morre, quando termina a nossa missão. É nisto que nós cremos. De fato, queremos conduzir as pessoas a Deus, mas também queremos nos encontrar  com Deus. Diante de tanta coisa a fazer, a tentação é dizer como Pedro: eu sou muito pequeno. Não tenho condições de realizar isto. Não! Somos equivocados. Nós somos pequenos, mas não sou eu que faço. Eu me disponho a levar a graça. Deus é quem faz. Aquilo que eu não conseguir fazer, outros farão. Se outros não fizerem, Deus fará, porque é a sua graça que realiza. Então, agradecer a Deus e dizer: eis me aqui, Senhor. Envia-me.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. Pedrinho Diocese de Santo André, SP

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 Homilia de D. Henrique Soares

Caros Irmãos, sigamos de perto este Evangelho de hoje, V Domingo Comum. Jesus aparece à margem do Mar da Galileia – ou Mar de Tiberíades, ou Lago de Genesaré. Trata-se daquele lago formado pelas águas do Jordão. Aí Jesus pregou e viveu a maior parte do seu ministério, aí fez seus milagres, aí contou aquelas parábolas tão bonitas, que encantam ainda hoje o nosso coração peregrino.
O Senhor está às margens desse lago e a multidão se apinha na praia para escutá-lo. Diz o Evangelho deste hoje que todos queriam “ouvir a Palavra de Deus”. É o que tanto atrai em Jesus: ele fala do Infinito, ele traz o Céu, traz Deus para este mundo cansado, para o coração humano tão sedento, tão vazio, tão ferido... Mais ainda: o nosso bendito e santo Salvador não somente traz a Palavra, mas ele próprio é essa Palavra: “No princípio era a Palavra, o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória!” (Jo 1,1.14). Pensai bem meus caros, porque ainda hoje é assim: a humanidade tem sede dessa Palavra e a Igreja somente atrairá o mundo quando anuncia esta Palavra bendita, que é Jesus. Não se trata de inventar tantos programas de pastoral, de aparecer com tantas novidades e muito menos d e se adequar aos modos e modas do mundo, mas de ser transparência viva de Jesus, de sua encantadora Pessoa e da Palavra que ele anuncia!
E o Senhor entra na barca de Pedro – recordai que no Evangelho, a barca é imagem da Igreja. É na Igreja de Pedro, na Igreja de Bento XVI que Jesus se encontra e aí, pela voz da Igreja, da Mãe católica, ele ainda hoje nos faz ouvir a sua voz, que é luz, que é doçura que inebria o nosso coração! Que cena tão comovente: a barca a uns poucos metros da praia, Jesus nela sentado ensinando, o povo sentado à margem do lago, e o vento, trazendo aos ouvidos da multidão as palavras de vida eterna, a bendita mensagem que vem do infinito para o nosso mundo sofrido e cansado...
E ao terminar, Jesus diz a Pedro – e diz a nós, a cada um e à sua inteira Igreja: “Avança para as águas mais profundas, conduz o barco para o mar alto, e lançai vossas redes para a pesca!” O mar do mundo, o mar da vida, o mar do dia-a-dia, o mar das mil dificuldades e desafios do mundo atual – eia onde o Senhor nos envia! E Pedro, cansado e desiludido, pois que passara a noite num mar que não estava para peixe, diz a Jesus o que nós deveremos sempre dizer: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Estamos cansados e desiludidos, sentimo-nos sem forças, sem motivação... Mas, porque tu mandas, na tua palavra, lançarei as redes!” Ah, queridos irmãos meus, companheiros de caminho neste mundo, companheiros na barca de Pedro, que é a Igreja, por que temos medo? Jesus é quem está na barca, Jesus é quem comanda a pesca! Não somos nós, não são as nossas f orças, não é a esperteza dos nossos planos de pastoral: é ele quem nos sustenta, é ele quem nos inspira o que dizer, é ele quem pode tocar os corações! Vamos, pois, ao alto mar desse mundo, e lancemos as redes do Evangelho! E o milagre acontece, e os peixes são tantos, que se faz necessária a ajuda dos companheiros de Pedro!
E Simão, diante da manifestação da santidade de Jesus – não é ele o Deus Santo que Isaías viu no Templo, na primeira leitura de hoje? Não é ele, Jesus, aquele a quem proclamamos a cada Domingo: “Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vos o Altíssimo”? Não é ele, a quem os anjos aclamam no céu dizendo: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos”? Pedro prostra-se ante Jesus e confessa humildemente ser apenas um pecador, como Isaías na primeira leitura: Ai de mim! Afasta-te de mim, Senhor: sou apenas um homem impuro que vive no meio de um povo impuro! Sou apenas um pobre pecador: não sirvo para o teu santo serviço!” - eis o que deveríamos pensar, eis o que deveríamos dizer! E o mesmo Deus que tocou os lábios de Isaías e o purificou, toca o coração de Pedro – toca o meu e o teu coração – e afirma, misericordioso: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu deras pescador de homens!” Pescador não por nossos méritos, mas pela misericórdia do Senhor, como São Paulo, que hoje humildemente reconhece: “ Eu sou o menor dos apóstolos, eu nem mereço o nome de apóstolo! É pela graça de Deus que sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril!” Também nós não somos nem dignos de ser cristãos; nem merecemos testemunhar e anunciar Jesus! E, no entanto, ele nos escolheu, nos chamou, ele nos enviou, a cada um de nós, seus discípulos – apesar de nossa fraqueza e de nossas mil infidelidades! Cristão, tu não és melhor que ninguém, não és pior que ninguém; mas és diferente: és de Cristo, és por ele escolhido, consagrado e enviado ao alto mar do mundo para aí testemunhares o seu santo nome!
E este testemunho, caríssimos, não pode ser outro que aquele de Paulo, da Igreja dos Apóstolos e de todos os tempos: o anúncio de Jesus tal qual é conservado e proclamado de modo íntegro pela nossa Mãe católica: “Cristo, o único Salvador, morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” – Buda não salva, Maomé não salva, os orixás não salvam e sequer existem! Somente Cristo morto por nós é o Salvador! Ele “foi sepultado e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras”. Nele, caríssimos, a morte foi vencida! Ele está vivo e apareceu primeiro a Simão-Cefas, aquele mesmo que foi feito pescador de homens, aquele de quem Bento XVI é legítimo Sucessor; e apareceu aos Doze, aqueles mesmos que têm como sucessores os Bispos católicos. Apareceu a Tiago e também a mais de quinhentos irmãos, a maioria dos quais ainda vivia na época de Paulo Apóstolo. Por último apareceu a Paulo – e o próprio Apóstolo hoje dá testemunho de que viu o Senhor vivo, ressuscitado, vitorioso!
Queridos irmãos, se o Senhor está vivo, se o Senhor é aquele proclamado no Evangelho tal como conservado pela santa Igreja católica, por que ter medo? Por que a falta de convicção? Por que a covardia em dizer aos quatro ventos dos quatro mares que Jesus é o Senhor, único Salvador?
Jesus, vivo para sempre! Jesus presente na tua Esposa católica, nossa Mãe amada, Jesus ajuda-nos a sermos tuas testemunhas, apesar de nossa indignidade e fraqueza, apesar de nossa covardia tantas vezes! Jesus, torna cheia a rede da tua Igreja, não segundo os nossos modos e prazos, mas unicamente segundo a tua santa vontade! A ti a glória, ó Salvador, hoje e para sempre. Amém!
D. Henrique Soares

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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Ao concluir a celebração do Jubileu do ano 2000, São João Paulo II dirigiu à Igreja e, naturalmente, a toda a humanidade, um urgente e determinante apelo: “No início do novo milênio… um novo percurso de estrada se abre para a Igreja, e ressoam no nosso coração as palavras com que um dia Jesus, depois de ter falado às multidões a partir da barca de Simão, convidou o Apóstolo a «fazer-se ao largo» para a pesca: «Duc in altum»” (Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, n. 1).
Sem sombra de dúvida, este apelo continua ainda muito atual, sobretudo para uma sociedade marcada pela superficialidade nas palavras e ações e pela irreparável perda de valores. Diante dos graves perigos da ditadura do relativismo e da leviandade de uma sociedade líquida, a Palavra do Mestre: “Avancem para as águas mais profundas” continua apontando o fundamental e indispensável caminho que a humanidade deve percorrer para garantir a consistente felicidade, a real liberdade e a verdadeira vida.
Assim como naquele tempo as multidões acorriam a Jesus para encontrar Nele uma orientação para as suas vidas, hoje também são inúmeras as multidões que se encontram perdidas e manipuladas por tantas ideologias e, portanto, necessitadas de uma orientação que possa indicar caminhos construtores de verdadeira justiça e paz.
O evangelho como anúncio da pessoa de Jesus é uma proposta muito concreta para empreender tal caminho. Por outro lado, urge assumir maneiras mais eficazes de fazer este anúncio. Não basta apenas espalhar ideias sobre Jesus ou mesmo multiplicar pregações teóricas sobre os valores fundamentais da vida humana. É necessário construir uma sociedade que não tenha medo da verdade, ainda que esta tenha um alto preço a ser pago, mas valerá a pena.
Jesus ao subir na barca e afastando-se um pouco da margem, usou um meio simples mas muito eficaz para se fazer ouvir. Mantendo-se a uma distância necessária e estratégica, podia ser visto e ouvido pela multidão. Caso contrário, permanecendo indistintamente no meio da multidão, seria comprimido por ela e impedido de dirigir-lhe a Palavra tão desejada. A Igreja para levar o evangelho às multidões de hoje precisa aprender a usar meios mais eficazes, contudo não pode trair a sua missão, deve manter-se fiel à sua identidade. Será sempre uma barca no mar muitas vezes revolto e tempestuoso. Contudo, deixando-se guiar pelo seu Timoneiro, não naufragará.
Assim como os pescadores se encontraram desencorajados diante do insucesso do árduo trabalho, apesar de terem usado as melhores técnicas do tempo (pesca noturna), em muitos setores da Igreja hoje há muito desânimo, descontentamento e frustração. Pescadores exaustos por excesso de ativismo pastoral, com suas redes esvaziadas pois esgotaram-se as suas criatividades. Por outro lado, constata-se a tentação de atrair muitos peixes a todo custo, capturando-os com as redes do sentimentalismo religioso ou mesmo na armadilha da fé infantilizada pela compulsiva e ilusória busca da prosperidade. Tal pescaria, fácil de realizar nas margens do mar, não serve para o Reino, pois não é fruto da obediência ao Mestre: “Porque disseste, lançarei as redes”, mas se enraíza na autorreferencialidade e orgulho de quem se pensa dono da barca.
Significativa é a reação de Pedro diante da surpreendente pesca, fruto não tanto das suas técnicas de pescador, mas consequência da sua atitude humilde e obediente, deixando-se orientar pela palavra do Mestre. Depois de ter avançado para as águas mais profundas, Pedro mergulha numa outra profundeza, a da sua realidade de homem: “Afasta-te de mim porque sou um homem pecador”. Sem dúvida, este foi o mergulho mais importante que Simão Pedro realizou, consequentemente a pesca que teve maior resultado em toda a sua existência. Um pouco antes quando obedeceu ao mandato do Mestre, e avançou para as águas mais profundas, encheu suas redes abundantemente. Isto foi apenas um ensaio daquilo que seria a experiência decisiva para conhecer quem era aquele homem Jesus de Nazaré e, também, o momento de Pedro reconhecer-se quem era: um pecador.
Se o reconhecimento de que não haviam apanhado nada foi o passo decisivo para reverter a situação de frustração e insucesso em abundância e fartura, agora o reconhecimento de que nada mais é do que um pecador foi decisivo para dar o importante passo para a grande mudança, a conversão: de pescador de peixes para pescador de homens. Se até então Pedro e os seus companheiros pescavam para a morte (retirando os peixes da água conduziam à morte), agora são chamados pelo Mestre para que continuem a pescar, mas para a vida.
Se para a primeira pesca tiveram que deixar tudo aquilo que representava a sua experiência de pescadores para obedecer à Palavra, isto é, voltar para o mar depois de uma tentativa frustrante, e assim realizar o inesperado, apanhando uma “multidão de peixes grandes”, agora, tendo aprendido a lição na prática da fé, deixam tudo e seguem a Jesus para singrar os mares da humanidade, com o grande e permanente apelo: vencer a superficialidade estéril, e na profundidade da existência, encontrar a vida, e a vida em plenitude.

Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ. 
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Celebração da Palavra ( Diáconos e Ministros extraordinários da Palavra)

Louvor: (Quando o Pão consagrado estiver sobre o altar)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR O NOSSO ...
- COM JESUS, por Jesus e em Jesus,  NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Senhor, vos agradecemos pelo vosso imenso amor.
- “Deus Altíssimo, Rei e Senhor do universo, juntamo-nos à imensa multidão celeste para Vos aclamar: Santo, Santo, Santo... Toda a terra está cheia da Vossa glória! - Pai, que desejais vos fazer conhecido: enviai os vossos mensageiros, para que o vosso Nome seja santificado em toda a terra.”
T: Senhor, vos agradecemos pelo vosso imenso amor.
- Senhor, bendito sejais pelo convite que dirigis a todos para que sigamos o vosso Filho Jesus Cristo. Senhor, sabeis que somos fracos e muitas vezes nos desviamos do reto caminho. Pai, enviai-nos o Espírito Santo para que sejamos fortalecidos e encorajados pelas palavras de Vosso Filho que nos instrui e nos transforma.
T: Senhor, vos agradecemos pelo vosso imenso amor.
- “Pai, nos Vos damos graças pela Boa Nova de Jesus ressuscitado, Ele que foi manifestado aos Apóstolos e revelado a todos aqueles que vos procuram com fé. Bendito sejas pelo testemunho dos apóstolos  transmitido de geração em geração. Senhor, salvai-nos e acolhei a todos nós em vosso Reino.
T: Senhor, vos agradecemos pelo vosso imenso amor.
- Senhor, abri nossos ouvidos quando vossa Igreja nos instrui através de seus ministros. Abri o nosso coração para que possamos acolher a vossa Palavra. Abri nossos olhos para que vejamos a obra de vossa criação. Enviai o Espírito Santo para que tenhamos ardor missionário de levar o vosso nome a todos os irmãos.
T: Senhor, vos agradecemos pelo vosso imenso amor...
-  PAI NOSSO...         A PAZ DO SENHOR...            CORDEIRO DE DEUS.