terça-feira, 23 de julho de 2019

17º Domingo do Tempo Comum C, homilias, subsídios homiléticos


17º Domingo do Tempo Comum C (adaptado pelo diácono Ismael)

SÍNTESE:
TEMA: A Palavra de Deus mostra-nos a importância da oração.
Primeira leitura: Oração é um diálogo, no qual o homem – com humildade e confiança – apresenta a Deus seus anseios e tenta perceber os projetos de Deus para o mundo.
Evangelho: Jesus ensina que a oração deve ser um diálogo confiante de uma criança com o seu “papá”.
Segunda leitura: convida a fazer de Cristo a referência fundamental (Cristo tem de ser o modelo: quer na frequência com que se dirige ao Pai, quer na forma como dialoga com o Pai).

PRIMEIRA LEITURA (Gn 18, 20-32)
Naqueles dias, o Senhor disse a Abraão: “O clamor contra Sodoma e Gomorra cresceu, e agravou-se muito o seu pecado. ...Partindo dali, os homens dirigiram-se a Sodoma, enquanto Abraão ficou na presença do Senhor. Então... disse Abraão: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? ... O Senhor respondeu: “Se eu encontrasse em Sodoma cinquenta justos, pouparia por causa deles a cidade inteira”. Abraão prosseguiu...: “Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza. ... “E se houvesse  quarenta?” ...E se houvesse trinta justos?” Ele respondeu: “Também não o faria, se encontrasse trinta”. Tornou Abraão a insistir: “Já que me atrevi a falar a meu Senhor, e se houver vinte justos?” Ele respondeu: “Não a iria destruir por causa dos vinte”. Abraão disse: “Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar só mais uma vez: e se houvesse apenas dez?” Ele respondeu: “Por causa dos dez, não a destruiria”.

AMBIENTE - Este texto vem na sequência da primeira leitura do domingo passado. Depois de terem deixado a tenda de Abraão, os três personagens dirigiram se para a cidade de Sodoma, a fim de constatar “in loco” o pecado dos habitantes da cidade. Abraão acompanhou os seus visitantes divinos durante algum tempo. Sodoma era uma cidade antiga, que se supõe ter existido nas margens do Mar Morto, ao sul da península de El-Lisan. De acordo com as lendas, foi uma das cidades destruídas por um cataclismo que ficou na memória do povo bíblico. Alguns estudiosos modernos têm procurado uma explicação para a lenda na geologia da área: a região fica situada na falha do vale do Jordão, numa zona sujeita a terremotos e a atividades vulcânicas. Depósitos de betume e de petróleo têm sido descobertos nesta região; e alguns escritores antigos atestam a presença de gases que, uma vez inflamados, poderiam causar uma terrível destruição, do tipo relatado em Gn 19. Terá sido isso que aconteceu nessa zona? É, provavelmente, essa recordação de um antigo cataclismo que destruiu a área, que originou a reflexão que esta leitura nos apresenta. Poder-se-ia pensar que um acontecimento tenha excitado a fantasia religiosa, no sentido de procurar as causas de uma tão terrível catástrofe. Os autores jahwistas aproveitaram o ensejo para propor uma catequese sobre o peso que o justo e o pecador têm diante de Deus.

MENSAGEM - O autor jahwista resolve inserir essa pergunta que o inquieta: Deus vai castigar toda a comunidade se nela houver justos? Será que um punhado de justos vale tanto que, por amor deles, Deus esteja disposto a perdoar o castigo a uma multidão de culpados? A ideia de que um punhado de “justos” possa salvar a cidade pecadora é, em pleno séc. X a.C. (a época do jahwista), uma ideia revolucionária. Para a mentalidade religiosa dos israelitas desta altura, todos os membros de uma comunidade (família, cidade, nação) eram solidários no bem e no mal; se alguém falhasse, o castigo devia derramar-se sobre o grupo. No entanto, os catequistas Jahwistas atrevem-se a sugerir que talvez a “justiça” de uns tantos seja, para Deus, mais importante do que o pecado da maioria. Apesar de tudo, ainda estamos longe da perspectiva da retribuição e da responsabilidade individuais: essas ideias só serão consagradas pela catequese de Israel a partir do séc. VI a.C. (época do exílio na Babilônia). O problema que Abraão procura resolver é, portanto, se aos olhos de Deus um grupo de “justos” tem tal peso que, por amor deles, Deus esteja disposto a suspender o castigo que pesa sobre toda a coletividade. Os números sucessivamente avançados por Abraão (em forma descendente, de 50 até 10) fazem parte do folclore do “regateio” oriental; mas servem, também, para pôr em relevo a misericórdia e a “justiça de Deus”: a descida até aos dez “justos” e as sucessivas manifestações da vontade de Deus em suspender o castigo mostram que, n’Ele, a misericórdia é maior do que vontade de castigar, que a vontade de salvar é infinitamente maior do que a vontade de perder.
É um diálogo “face a face” no qual Abraão se apresenta com humildade, com respeito, pois sente-se “pó e cinza” diante da onipotência de Deus. No entanto, à medida que o diálogo avança e que Abraão se confronta com a benevolência de Deus, vai surgindo a confiança. Abraão chega a ser importuno na sua insistência e ousado no seu regateio. Recordando a Deus os seus compromissos, ele aparece como o “intercessor”, que consegue da misericórdia de Deus que um número insignificante de justos tenha mais peso do que um número muito elevado de culpados. É possível dialogar com Deus desta forma familiar, confiante, insistente, ousada? Certamente, pois o Deus de Abraão é esse Deus que veio ao encontro do homem, que entrou na sua tenda, que Se sentou à sua mesa, que estabeleceu com ele comunhão, que realizou os sonhos desse homem que O acolheu, que aceitou partilhar com Ele os seus projetos. Um Deus que Se revela dessa forma é um Deus com quem o homem pode dialogar, com amor e sem temor.

ATUALIZAÇÃO O diálogo entre Abraão e Deus a propósito de Sodoma confirma esse Deus da comunhão, que vem ao encontro do homem, que entra na sua casa, que Se senta à mesa com ele, que escuta os seus anseios e que lhes dá resposta; e mostra, além disso, um Deus cheio de bondade e de misericórdia, cuja vontade de salvar é infinitamente maior do que a vontade de condenar. É esse Deus “próximo”, cheio de amor, que quer vir ao nosso encontro e partilhar a nossa vida que temos de encontrar: só será possível rezar, se antes tivermos descoberto este “rosto” de Deus.
A “oração” de Abraão é paradigmática da “oração” do crente: é um diálogo com Deus – um diálogo humilde, reverente, respeitoso, mas também cheio de confiança, de ousadia e de esperança. Não é uma repetição de palavras ocas, gravadas e repetidas, mas um diálogo espontâneo e sincero, no qual o crente se expõe e coloca diante de Deus tudo aquilo que lhe enche o coração.

EVANGELHO (Lc 11, 1-13)
Jesus estava rezando..., um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”. E Jesus acrescentou: “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’; eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário. Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá. Será que algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”

AMBIENTE - Jesus apresenta aos discípulos a forma de dialogar com Deus. Não se trata tanto de ensinar uma fórmula fixa, que os discípulos devem repetir de memória, mas mais de propor um “modelo”. De resto, o “Pai nosso” conservado por Lucas é um tanto diferente do “Pai nosso” conservado por Mateus (cf. Mt 6,9-13). A versão de Mateus condiz com um meio judeu-cristão, enquanto que a de Lucas – mais breve e com menos embelezamentos litúrgicos – está mais próxima (provavelmente) da oração original. Nenhuma destas versões pretende, na realidade, reproduzir literalmente as palavras de Jesus, mas mostrar às comunidades cristãs qual a atitude que se deve assumir no diálogo com Deus.

MENSAGEM - Como é que os discípulos devem, então, rezar? Primeiro diz respeito à “forma”: deve ser um diálogo de um filho com o Pai; segundo diz respeito ao “assunto”: o diálogo incidirá na realização do plano do Pai, no advento do mundo novo. Tratar Deus como “Pai” não é novidade nenhuma. No Antigo Testamento, Deus é “como um pai” que manifesta amor e solicitude pelo seu Povo (cf. Os 11,1-9). No entanto, na boca de Jesus, a palavra “Pai” referida a Deus não é usada em sentido simbólico, mas em sentido real: para Jesus, Deus não é “como um pai”, mas é “o Pai”.
A própria linguagem com que Jesus Se dirige a Deus mostra isto: a expressão “Pai” usada por Jesus traduz o original aramaico “abba” (cf. Mc 14,36), tomada da maneira comum e familiar como as crianças chamavam o seu “papá”. Ao referir-se a Deus desta forma, Jesus manifesta a intimidade, o amor, a comunhão de vida, que o ligam a Deus. No entanto, o aspecto mais surpreendente reside no fato de Jesus ter aconselhado os seus discípulos a tratarem a Deus da mesma forma, admitindo-os à comunhão que existe entre Ele e Deus. Porque é que os discípulos podem chamar “Pai” a Deus? Porque, ao identificarem-se com Jesus e ao acolherem as propostas de Jesus, eles estabelecem uma relação íntima com Deus (a mesma relação de comunhão, de intimidade, de familiaridade que unem Jesus e o Pai). Tornam-se, portanto, “filhos de Deus”. Sentir-se “filho” desse Deus que é “Pai” significa outra coisa: implica reconhecer a fraternidade que nos liga a uma imensa família de irmãos. Dizer a Deus “Pai” implica sair do individualismo que aliena, superar as divisões e destruir as barreiras que impedem de amar e de ser solidários com os irmãos, filhos do mesmo “Pai”. Desta forma, Cristo convida os discípulos a assumirem, na sua relação e no seu diálogo com Deus, a mesma atitude de Jesus: a atitude de uma criança que, com simplicidade, se entrega confiadamente nas mãos do pai, acolhe naturalmente a sua ternura e o seu amor e aceita a proposta de intimidade e de comunhão que essa relação pai/filho implica; convida, também, os discípulos a assumirem-se como irmãos e a formarem uma verdadeira família, unida à volta do amor e do cuidado do “Pai”. Definida a “atitude”, falta definir o “assunto” ou o “tema” da oração.

Na perspectiva de Jesus, o diálogo do crente com Deus deve abordar o tema do advento do Reino, do nascimento desse mundo novo que Deus nos quer oferecer. A referência à “santificação do nome” expressa o desejo de que Deus se manifeste como salvador aos olhos de todos os povos e o reconhecimento por parte dos homens, da justiça e da bondade do projeto de Deus para o mundo; a referência à “vinda do Reino” expressa o desejo de que esse mundo novo que Jesus veio propor se torne uma realidade definitivamente presente na vida dos homens; a referência ao “pão de cada dia” expressa o desejo de que Deus não cesse de nos alimentar com a sua vida (na forma do pão material e na forma do pão espiritual); a referência ao “perdão dos pecados” pede que a misericórdia de Deus não cesse de derramar-se sobre as nossas infidelidades e que, a partir de nós, ela atinja também os outros irmãos que falharam; a referência à “tentação” pede que Deus não nos deixe seduzir pelo apelo das felicidades ilusórias, mas que nos ajude a caminhar ao encontro da felicidade duradoura, da vida plena… Duas parábolas finais completam o quadro. O acento da primeira (vers. 5-8) não deve ser posto tanto na insistência do “amigo importuno”, mas mais na ação do amigo que satisfaz o pedido; o que Jesus pretende dizer é: se os homens são capazes de escutar o apelo de um amigo importuno, ainda mais Deus atenderá gratuitamente aqueles que se Lhe dirigem. A segunda parábola (vers. 9-13) convida à confiança em Deus: Ele conhece-nos bem e sabe do que necessitamos; em todas as circunstâncias Ele derramará sobre nós o Espírito, que nos permitirá enfrentar todas as situações da vida com a força de Deus.

ATUALIZAÇÃO A forma como Jesus Se dirige a Deus mostra a existência de uma relação de intimidade, de amor, de confiança, de comunhão entre Ele e o Pai (de tal forma que Jesus chama a Deus “papá”); e Ele convida os seus discípulos a assumirem uma atitude semelhante quando se dirigem a Deus… É essa a atitude que eu assumo na minha relação com Deus? Ele é o “papá” a quem amo, a quem confio, a quem recorro, com quem partilho a vida, ou é o Deus distante, inacessível, indiferente?
A minha oração é uma oração egoísta, de “pedinchice” ou é, antes de mais, um encontro, um diálogo, no qual me esforço para escutar Deus, por estar em comunhão com Ele, por perceber os seus projetos e acolhê-los?
A minha oração é uma “negociata” entre dois parceiros comerciais (“dou-te isto, se me deres aquilo”) ou é um encontro com um amigo de quem preciso, a quem amo e com quem partilho as preocupações, os sonhos e as esperanças?

SEGUNDA LEITURA (Cl 2, 12-14) Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses.
Irmãos: Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. Ora, vós estáveis mortos por causa dos vossos pecados, e vossos corpos não tinham recebido a circuncisão, até que Deus vos trouxe para a vida, junto com Cristo, e a todos nós perdoou os pecados. Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz.

AMBIENTE - Paulo defende a absoluta suficiência de Cristo para a salvação do homem. Paulo polemiza contra os “falsos doutores” que confundiam os cristãos de Colossos com exigências acerca de anjos, de ritos e de práticas ascéticas (cf. Col 2,4-3,4). Depois de exortar os Colossenses à firmeza na fé frente aos erros dos “falsos doutores” (cf. Col 2,4-8), Paulo afirma que Cristo basta, pois é n’Ele que reside a plenitude da divindade; Ele é a cabeça de todo o principado e potestade e foi Ele que nos redimiu com a sua morte (cf. Col 2,9-15).

MENSAGEM - A questão fundamental é a afirmação da supremacia de Cristo e da sua suficiência na salvação do crente. Pelo Batismo, o crente aderiu a Cristo e identificou-se com Cristo; a vida de Cristo passou a circular nele: por isso, o crente morreu para o pecado e nasceu para a vida nova do Homem Novo. Em Cristo encontramos a vida em plenitude, sem que seja necessário recorrer a mais nada (poderes angélicos, ritos, práticas) para ter acesso à salvação. Para representar, de forma mais explícita, o que significa este “morrer” e “ressuscitar”, Paulo refere-se a um “documento de dívida” que a morte de Cristo teria “anulado”. Este “documento” em que se reconhece a nossa dívida para com Deus pode designar aqui, quer a Lei de Moisés (com as suas leis, exigências, prescrições, impossíveis de cumprir na totalidade e constituindo, portanto, um documento de acusação contra as falhas dos homens), quer o “registro” onde, de acordo com as tradições judaicas da época, Deus inscreve as contas da humanidade (cf. Sal 139,16). De uma forma ou de outra, não interessa acentuar demasiado esta imagem do “documento de dívida”: ela é, apenas, uma linguagem, utilizada para significar que Cristo anulou os nossos débitos (no sentido em que o nosso egoísmo e o nosso pecado morreram, no instante em que Ele nos libertou); e, através de Cristo, começou para nós uma vida nova, liberta de tudo o que nos oprime, nos escraviza, nos rouba a felicidade, nos impede o acesso à vida plena.

ATUALIZAÇÃO É por Cristo que o nosso pecado e o nosso egoísmo são saneados e temos acesso à salvação, à vida nova do Homem Novo. É nisto que se deve centralizar a nossa existência de cristãos. Ao denunciar a atitude dos Colossenses (mais preocupados com os poderes dos anjos e com certas práticas e ritos do que com Cristo), Paulo adverte-nos para não nos deixarmos afastar do essencial por aspectos secundários. O critério deve ser este: tudo o que contribui para nos levar até Cristo é bom; tudo o que nos distrai de Cristo é dispensável.
Pelo Batismo nos identificamos com Jesus e partimos para uma vida vivida ao jeito de Jesus, na doação, no serviço, na entrega da vida por amor. A minha vida caminha em direção ao Homem Novo, ou mantém-me no homem velho do egoísmo, do orgulho e do pecado?

Dehonianos

==========------------========

"Pai Nosso..."

A Liturgia nos convida a refletir sobre um dos elementos essenciais da vida cristã e do seguimento de Cristo: a ORAÇÃO.
Mas o que é Oração? Como fazê-la?

A leituras nos dão dois exemplos concretos: Abraão e Jesus.

Na 1a Leitura, ABRAÃO reza, intercedendo por Sodoma e Gomorra. (Gn 18,20-32)

É a primeira vez na Bíblia que um homem inicia uma conversa com Deus.
Sua oração é um DIÁLOGO com Deus, humilde, reverente, respeitoso,
mas também cheio de confiança, de ousadia e de esperança.
Não foi a repetição de fórmulas decoradas ou lidas, mastigadas às pressas,
mas um diálogo no qual apresenta a Deus as suas inquietações, dúvidas, anseios
e tenta perceber os projetos de Deus para o mundo e para os homens.

A 2ª Leitura convida a viver de forma renovada, pois fomos libertados
pela obra redentora de Cristo na cruz. (Cl 2,12-14)

No Evangelho, JESUS reza e ensina a rezar. (Lc 11,1-13)

Lucas é o evangelista da oração de Jesus.
O texto não quer ensinar uma fórmula fixa, que os discípulos devem repetir de cor, mas propor um modelo, o espírito que deve estar presente em todas as orações.
Uma conversa de filho para Pai.  (em Lucas 5 pedidos; em Mateus 7)

1. A Introdução apresenta o contexto em que Jesus ensinou o Pai Nosso.
   - Jesus estava rezando...
   - Os Apóstolos, impressionados, pedem: "Ensina-nos a rezar..."
   - Jesus responde: "Quando rezardes, dizei: PAI NOSSO..."

2. A Oração:

 - "Pai nosso..."
     - Que imagem temos de Deus?
       De um patrão exigente, um juiz severo, do qual se deve ter medo?
     = Deus é PAI... é Nosso (não apenas meu)...
 - "Santificado seja o vosso nome..."
     "Glorificado seja o vosso Santo nome" seria uma tradução mais exata...
      Quando? Quando é ovacionado com salva de palmas? 
      ou quando a Salvação alcança o coração de todos os homens?
  - "Venha a nós o vosso Reino.."
     - Reino de Justiça, de Amor e Paz, de Liberdade, de Fraternidade...
 - "Dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento..."
     - Todos precisamos do pão... e as coisas necessárias para uma vida digna.
        Isso não dispensa o nosso esforço e o nosso trabalho.
     - "Nosso" = "de todos..."
 - "Perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos..."
     - Não é possível rezar o Pai Nosso, tendo ódio no coração...
       Muitas vezes, o amor e a união só são possíveis pelo caminho do perdão...

 - "Não nos deixeis cair em tentação...":  
     - Sobretudo o abandono da fé... dos projetos de Deus...
       para abraçar o espírito do mundo...

3. Duas Parábolas completam o quadro:
    - A 1ª salienta a eficácia da Oração perseverante:
      O "Amigo inoportuno" é atendido: "Pedi e recebereis..."

   - A 2ª convida à Confiança em Deus: lembra o amor de pai para os filhos...
     "Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos,
      quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem..."

+ Não basta rezar... devemos rezar como convém...
   A Oração deve unificar a vida de um homem com Deus...
   deve impregnar a vida de cada dia... não é uma "gaveta" isolada.  
   - Que dizer de fórmulas "milagrosas", das "orações de poder?"
   - Das orações comerciais: "dou, se me deres?"
   - Dos decepcionados, quando não são atendidos?

+ O Valor da Oração não está condicionado:
   - Ao comprimento das velas... - Ao número de vezes que repetimos...
   - Ao comprimento da fita...     - Ao número de nós no barbante...
   - À fórmula milagrosa - Ao lugar em que fazemos... - Ao Santo que invocamos.
   = Mas sim ao espírito de FÉ e AMOR com que a fazemos...

REZAR: É um DIÁLOGO familiar com Deus,
que brota de um ato de fé e de um ato de amor e
que nos leva a entrar no Plano de Deus: "Seja feita a vossa vontade..."

REZAR: Não é apenas orar com os lábios,
mas também com a inteligência, com o coração e com toda a nossa vida...

* Temos tempo para rezar? Quando é que nos lembramos de rezar?
   Só nos momentos de apuro, como um pronto-socorro?

E Você, Pai (ou mãe) reza profundamente com o seu Deus,
a ponto provocar em seu filho o pedido: "Pai (Mãe), ensina-me a rezar?"

Estamos aqui reunidos, porque acreditamos na Oração...
- Ela está marcando de fato a nossa vida,
de modo a impressionar também os que aqui não vem,
percebendo em nós a alegria de alguém se encontrou com Deus na oração?

Se ainda não o conseguimos... façamos nossa, a oração dos apóstolos:
"Senhor, ensina-nos a rezar..."

No dia dedicado ao Agricultor e ao Motorista, nossa prece e reconhecimento àqueles que cultivam a terra e aos que transportam os frutos.
Que São Cristóvão abençoe os motoristas e proteja todos os agricultores...

                            Pe. Antônio Geraldo
==============-------------=========

Homilia de D. Henrique Soares da Costa

Basta recordar a primeira leitura e o evangelho para ver claramente que a Palavra de Deus deste domingo fala da oração. Abraão reza, intercedendo por Sodoma e Gomorra; Cristo ensina seus discípulos a rezar. Portanto, a oração.

É impressionante não somente o fato de Jesus nos ter mandado rezar, nos ter ensinado a rezar, mas sobretudo, o fato de ele mesmo ter rezado com muitíssima frequência. Basta recordar o início do evangelho de hoje: “Jesus estava rezando num certo lugar”. Nós sabemos que ele passava noites inteiras em oração, que rezava antes dos grandes momentos de sua vida, que morreu rezando.
Afinal, por que rezar? Para nos abrir para Deus, para nos fazer tomar consciência dele com todo o nosso ser, para que percebamos com cada fibra do nosso ser, do nosso consciente e do nosso inconsciente que não nos bastamos a nós mesmos, mas somos seres chamados a viver a vida em comunhão com o Infinito, em relação com o Senhor. Sem a oração, perderíamos nossa referência viva a Deus, cairíamos na ilusão que somos o centro da nossa vida e reduziríamos o Senhor Deus a uma simples idéia abstrata, distante e sem força. Todo aquele que não reza, seja leigo, seja religioso, seja padre, perde Deus, perde a relação viva com ele. Pode até falar dele, mas fala como quem fala de uma idéia, de uma teoria e não de alguém vivo e próximo, que enche a vida de alegria, ternura, paz e amor. Sem a oração, Deus morre em nós. Sem a oração é impossível uma experiência verdadeira e profunda de Deus e, portanto, é impossível ser cristão. Por tudo isso, a oração tem que ser diária, perseverante e fiel.
Assim, quando agradecemos, reconhecemos que tudo recebemos de Deus; quando suplicamos, reconhecemos e aprendemos que dependemos dele e da sua providência; quando intercedemos, aprendemos e experimentamos que tudo e todos estão nas mãos amorosas de Deus; quando pedimos perdão, reconhecemos que nossa vida é vivida diante dele e a ele devemos prestar contas da existência que recebemos. Portanto, a oração nos abre, nos educa, nos amadurece, nos faz viver em parceria com o Senhor.
Quanto aos modos de rezar, são variados. A melhor forma é com a Sagrada Escritura: tomando a Palavra de Deus, lendo-a com os lábios, meditando-a com o coração e procurando vivê-la na existência. Tome diariamente a Bíblia, leia-a com fé, repita as palavras ou frases que tocaram seu coração e derrame sua alma diante do Senhor. Nunca esqueçamos que essa Palavra de Deus é viva e eficaz, transformando a nossa vida e dando-lhe um novo sentido. Também é importante a oração espontânea, com nossas palavras e a oração vocal, aquela decorada, como o Pai-nosso e a Ave-Maria. Aqui, é bom recordar o terço, que tanto bem tem feito ao longo dos séculos. Mas, a oração por excelência é a própria Celebração Eucarística (missa). Aí, de modo pleno, nós somos unidos à própria oração de Cristo, participando do seu sacrifico pela salvação nossa e do mundo inteiro.
Mas, recordemos que a oração não é uma negociata com Deus nem é para dobrar Deus aos nossos caprichos. É, antes, para nos tornar disponíveis à vontade do Senhor a nosso respeito. Uma das coisas muito belas da oração é que, tendo rezado e pedido, o que acontecer depois podemos saber com certeza que é vontade de Deus! É nesse sentido que Nosso Senhor afirmou que tudo quanto pedirmos em seu nome, o Pai nos concederá. Ora, o que é pedir em nome de Jesus? É pedir como Jesus; Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade. Rezar assim é entrar no cerne da oração de Jesus. Então, tudo que nos vier, saberemos que é vontade do Pai, pois sabemos que nossa oração foi atendida; e nisto teremos paz.
Que nesta Celebração Eucarística (Missa), nós peçamos, humildemente, como os primeiros discípulos: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E aqui não se trata de fórmulas, mas de atitudes. Observemos que a oração que Jesus ensinou, o Pai-nosso, é toda ela centrada não em nós, mas no Pai: no seu Reino, na sua vontade, na santificação do seu nome. Somente depois, quando aprendermos a deixar que Deus seja tudo na nossa vida, é que experimentaremos que somos pessoas novas, transformadas pela graça do Senhor.
Cuidemos, pois de avaliar nossa vida de oração e retomar nosso caminho de busca de intimidade com o Senhor, ele que é a fonte e a razão de ser da nossa existência. Amém.
D. Henrique Soares da Costa

===========----------------==============

Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
A oração ao Pai (nosso), ensinada pelo Filho aos seus discípulos, não se reduz a uma fórmula a ser pronunciada, mas é, antes de tudo, o modelo por excelência da oração cristã. Ao mesmo tempo simples e profunda, nela encontramos não apenas as palavras acertadas para dirigir a Deus, nosso Pai, mas é um verdadeiro programa de vida a fim de que nos tornemos, de fato, seus filhos e filhas. Nas cinco petições que compõem esse modo de orar (versão de Lucas), temos uma referência e inspiração concretas para o nosso modo de rezar.:“se por um lado, a sua simplicidade é confirmada pelo fato de que qualquer criança pode aprendê-la, por outro, a sua profundidade exige toda uma vida para meditar e vivenciar cada uma de suas afirmações” (São João Paulo II).
Podemos identificar duas partes nessa oração-modelo. Inicia-se com petições que se referem ao louvor de Deus e ao advento do seu Reino. Em seguida, três súplicas concernentes ao ser humano concreto, inserido num horizonte histórico marcado por um presente com suas necessidades (pão cotidiano), por um passado com suas consequências (perdão para os pecados cometidos) e por um futuro com seus desafios (não cair na tentação). Portanto, a oração do Pai (nosso) nos favorece a experiência do encontro da eternidade com o tempo, do Divino com o humano. É uma oração que, do ponto de vista pedagógico-espiritual, leva-nos ao centro da experiência litúrgica cristã, que deve ser o encontro do Eterno com o transitório. Enquanto peregrinamos rumo ao definitivo, o Eterno se faz companheiro nesse caminho para não perdemos a direção. A oração nos ajuda a recuperar a lucidez dessa verdade.
A oração cristã não se aprende, se reza. Certamente foi assim a experiência de muitos de nós. Quando crianças, nossos pais, avós rezavam conosco, e não simplesmente nos davam fórmulas para copiar e decorar como tarefa escolar. Mesmo repetindo o que nos diziam, a disposição não era de quem estava cumprindo um dever de casa, mas nos faziam mergulhar numa experiência de abertura ao Transcendente. 
O pedido do discípulo: “Senhor, ensina-nos a rezar”, surpreendentemente já é oração. E, ao mesmo tempo, fruto da oração de Jesus, pois desperta nos seus discípulos o desejo de, também eles, fazerem essa experiência. Ao verem Jesus orando, os discípulos descobrem onde se enraizava a existência do Mestre; e se Ele realizava tantos prodígios, se tinham tanta sabedoria os seus ensinamentos e, se mesmo diante da rejeição, perseguição, mantinha-se sereno e firme, havia uma razão para tudo isso: a sua atitude orante. 
Jesus não ensina uma oração, mas ensina um modo de orar que reconhece a grandeza de Deus, o Totalmente Outro cujo nome é Santo, mas que não se isola na sua transcendência distante e inacessível, mas que desce ao encontro das suas criaturas para reinar entre elas, fazendo-as participantes do seu Reino. Suplicando o pão de cada dia, o orante faz memória da experiência do povo libertado, peregrinando no deserto e alimentado pelo maná, o pão descido do céu a cada dia. Mas ao mesmo tempo, toma consciência de que o definitivo pão descido do céu é o próprio Senhor, que a cada dia nos alimenta com a sua Palavra e com a Eucaristia. 
Suplicando o perdão por causa dos pecados, o orante se reconhece fraco, limitado, infiel, desobediente. Mas se pede perdão é porque acredita que será perdoado, pois ele mesmo dando o perdão, sendo mal, não pode duvidar que Aquele que é sumamente bom não lhe perdoará.
Suplicando: “Não nos deixes cair em tentação”, o orante manifesta o seu mais audacioso pedido, ou seja, chegar a ser como o Filho, que obediente ao Pai até à morte, não se deixou convencer pelas propostas do Tentador (Lc 4,1-13). Esse no início da vida pública de Jesus quis desviá-lo do seu caminho, querendo que usasse o seu poder para transformar a pedra em pão, ao invés de alimentar-se com a Palavra do seu Pai; continuando a tentação, quis induzir Jesus a rejeitar o Reino do seu Pai para receber do Tentador toda a glória dos reinos da terra; por fim, usando a Escritura, quis que Jesus desobedecesse ao Pai e caísse na mais terrível das rebeliões: tentar o próprio Deus, invertendo a sua realidade eterna do Filho que obedece ao Pai para tornar-se um filho que manda no Pai.
Portanto, rezar ao Pai (nosso) é aprender a viver como o Filho, é acolher o Reino de Deus com a simplicidade de uma criança que depende do Pai para se alimentar, mas também é ter a humildade de reconhecer o seu pecado, ter coragem de pedir perdão e ter a generosidade de dar o perdão. 
A parábola seguinte elucida de forma concreta as atitudes do autêntico orante: a intimidade de um verdadeiro amigo que confia sempre e, por isso, não se constrange de procurar, independentemente das circunstâncias ou das necessidades, pois tem a firme certeza de que será atendido; a humildade para reconhecer suas necessidades e por isso bate insistentemente, porque sabe que a porta onde está batendo é da casa de um amigo; a convicção de que o outro é bom e, mesmo se não fosse seu amigo, daria o que lhe pede, pois sabe que ele tem e, por isso, sabe onde está procurando. 
Ao concluir seu ensinamento sobre a oração, Jesus anuncia aquele que será a grande resposta de Deus a quem o reconhece como Pai: o Espírito Santo, o mesmo que guiou Jesus no deserto para não cair nas tentações, o mesmo que o acompanhou durante a sua missão, o mesmo que será concedido à Igreja para poder dizer: “Pai...”



==========-----------=============

PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e ministros da Palavra):




LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
Pres: O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
Pres: COM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, NOS COLOQUEMOS NA PRESENÇA DO PAI:
T: Pai querido, santificado seja o vosso nome.
Pres: “Deus de bondade, nós Vos damos graças pelo Vosso Filho Jesus; com sua morte de cruz nos mostrou como é grande o vosso amor por nós. Pai, iluminai-nos para que saibamos ser instrumentos desse amor na construção do Reino.
T: Pai querido, santificado seja o vosso nome.
Pres: “Deus da vida e da ressurreição, nós Vos damos graças pelo nosso batismo. Estávamos destinados à morte e Vós nos deste vida nova quando nos enviastes vosso Filho, que nos tornou também filhos vossos. Somos um novo povo rumo à eternidade junto a Vós. 
T: Pai querido, santificado seja o vosso nome.
Pres: Pai, nós Vos damos graças pela oração, porque Jesus ensinou-nos a procurar-vos, a bater à vossa porta, a pedir-vos o pão e a falar-vos diretamente e com confiança, como filhos a seu Pai. Que vosso nome seja santificado e que vosso Reino seja edificado. Dai-nos o pão de vida e o Espírito da fortaleza para que vençamos nossas dificuldades.
T: Pai querido, santificado seja o vosso nome.
Pres: Jesus nos fez irmãos; como Jesus orou ao seu “papá”, ao seu paizinho, rezemos a oração que Ele nos ensinou:
 PAI NOSSO... EIS O CORDEIRO.


quinta-feira, 18 de julho de 2019

16º Domingo do Tempo Comum ano C, homilias, subsídios homiléticos


16º Domingo do Tempo Comum (Adaptado pelo Diácono Ismael)

Tema: Hospitalidade e acolhimento.
Primeira leitura:  Abraão encontra no hóspede que entra na sua tenda a figura do próprio Deus.
Evangelho: Maria senta-se aos pés do Senhor e escuta a sua palavra.  
Segunda leitura: Para Paulo, o que é necessário é “acolher Cristo” e construir toda a vida à volta dos seus valores. É isso que é preponderante na experiência cristã.

PRIMEIRA LEITURA (Gn 18, 1-10a) Leitura do Livro do Gênesis.
Naqueles dias, o Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada da sua tenda, no maior calor do dia. Levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele. Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra. E disse: “Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo. Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e descansareis debaixo da árvore. Farei servir um pouco de pão para refazerdes vossas forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo”. Eles responderam: “Faze como disseste”. Abraão entrou logo na tenda, onde estava Sara e lhe disse: “Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa alguns pães e assa-os”. Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro dos mais tenros e melhores e deu-o a um criado, para que o preparasse sem demora. A seguir, foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado e pôs tudo diante deles. Abraão, porém, permaneceu de pé, junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam. E eles lhe perguntaram: “Onde está Sara, tua mulher?”. “Está na tenda”, respondeu ele. E um deles disse: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.

AMBIENTE - Os capítulos 12-36 do Livro do Génesis são um conjunto de textos sem grande unidade e sem carácter de documento histórico ou de reportagem jornalística de acontecimentos. Fundamentalmente, estamos diante de uma mistura de “mitos de origem” (que narravam a chegada de um “fundador” a um determinado local e a tomada de posse daquela terra), de “lendas cultuais” (que relatavam como um deus qualquer apareceu em determinado local a um desses “fundadores” e como esse lugar se tornou um local de culto) e de relatos onde se expressa a realidade da vida nómada durante o segundo milénio antes de Cristo.
Na origem do texto que hoje nos é proposto como primeira leitura está, provavelmente, uma antiga “lenda cultual” que narrava como três figuras divinas tinham aparecido a um cananeu anônimo junto do carvalho sagrado de Mambré (perto de Hebron), como esse cananeu os tinha acolhido na sua tenda e como tinha sido recompensado com um filho pelos deuses (Mambré é um famoso santuário cananeu, já no terceiro milénio a.C., muito antes de Abraão aí ter chegado). Mais tarde, quando Abraão se estabeleceu nesse lugar, a antiga lenda cananaica foi-lhe aplicada e ele passou a ser o herói desse encontro com as figuras divinas. No séc. X a.C. (reinado de Salomão), os autores jahwistas recuperaram essa velha lenda para apresentar a sua catequese.

MENSAGEM - Qual é, então, a proposta catequética que os autores jahwistas querem fazer passar, servindo-se dessa velha “lenda cultual”?
No estado atual do texto, a personagem central é Abraão. É esta figura que os catequistas jahwistas vão apresentar aos israelitas da época de Salomão, como um modelo de vida e de fé.
O texto apresenta-nos Abraão “sentado à entrada da sua tenda, na hora de maior calor do dia” (vers. 1). De repente, aparecem três homens diante de Abraão (vers. 2). Abraão convida-os a entrar; não se limita a trazer-lhes água para lavar os pés, mas improvisa um banquete com pão recentemente cozido, com um vitelo “tenro e bom” do rebanho, com manteiga e leite; depois, fica de pé junto deles, na atitude do servo sempre vigilante para que nada falte aos convidados (vers. 3-8): é a lendária hospitalidade nómada no seu melhor.
Abraão é, assim, apresentado, como o modelo do homem íntegro, humano, bondoso, misericordioso, atento a quem passa e disposto a repartir com ele, de forma gratuita, aquilo que tem de melhor.
Terminada a refeição, é anunciada a Abraão a próxima realização dos seus anseios mais profundos: a chegada de um filho, o herdeiro da sua casa, o continuador da sua descendência (vers. 9-10). Aparentemente, o dom do filho é a resposta de Deus à ação de Abraão: o catequista jahwista pretende dizer que Deus não deixa passar em claro, mas recompensa uma  tal atitude de bondade, de gratuidade, de amor.
O texto apresenta, complementarmente, a atitude do verdadeiro crente face a Deus. Ao longo do relato – sem que fique expresso se Abraão tem ou não consciência de que está diante de Deus – transparece a serena submissão, o respeito, a confiança total (num desenvolvimento que, contudo, não aparece na leitura que nos é proposta, Sara ri diante da “promessa”; mas Abraão conserva-se em silêncio digno, sem manifestar qualquer dúvida – vers. 10b-15): tais são as atitudes que o crente israelita é convidado a assumir diante desse Deus que vem ao encontro do homem.
Atente-se, também, na sugestiva imagem de um Deus que irrompe repentinamente na vida do homem, que aceita entrar na sua tenda e sentar-Se à sua mesa, constituindo-Se em comunidade com ele. Por detrás desta imagem, está o significado do comer em conjunto: criar comunhão, estabelecer laços de família, partilhar vida. O jahwista apresenta, assim, um Deus dialogante, que quer estabelecer laços familiares com o homem e estabelecer com ele uma história de amor e de comunhão.
O catequista jahwista aproveitou a velha “lenda cultual” e a figura inspirativa de Abraão para apresentar aos homens do seu tempo o modelo do crente: ele é aquele a quem Deus vem visitar, que o acolhe na sua casa e na sua vida de forma exemplar, que coloca tudo o que possui nas mãos de Deus e que manifesta, com o seu comportamento, a sua bondade, a sua humanidade, a sua confiança e a sua fé; ele é aquele que partilha o que tem com quem passa e cumpre em grau extremo o sagrado dever da hospitalidade. A realização dos anseios mais profundos do homem é a recompensa de Deus para quem age como Abraão.

ATUALIZAÇÃO • Cada vez mais, o sagrado sacramento da hospitalidade está em crise, pelo menos na nossa civilização ocidental. O egoísmo, o fechamento, o “salve-se quem puder”, o “cada um que se meta na sua vida”… parecem marcar cada vez mais a nossa realidade. No entanto, são cada vez mais as pessoas perdidas, não acolhidas, que têm por teto os buracos das nossas cidades… De África, do Leste da Europa, da Ásia, da América Latina, chegam todos os dias à fronteira da “fortaleza Europa” bandos de deserdados, que procuram conquistar, com sangue, suor e lágrimas, o direito a uma vida minimamente humana. Que fazer por eles? Como os acolhemos: com indiferença e agressividade, ou com a atitude humana e misericordiosa de Abraão? Temos consciência de que, em cada irmão deserdado, é Deus que vem ao nosso encontro?
• É com atenção, com bondade, com respeito, que as pessoas são acolhidas na nossa família, na nossa comunidade cristã, nas nossas repartições públicas, nas urgências dos nossos hospitais, nas recepções das nossas igrejas, nas portarias das nossas comunidades religiosas?
• A atitude de Abraão face a Deus é, também, questionante, numa época em que muita gente vê em Deus um concorrente ou um rival do homem… Abraão é o crente que acolhe Deus na sua vida, que aceita viver em comunhão com Ele, que aceita pôr tudo o que tem nas mãos de Deus e que se coloca diante de Deus numa atitude de respeito, de submissão, de total confiança. Qual é a atitude que marca, dia a dia, a nossa relação com Deus?

SALMO RESPONSORIAL / 14 (15)
Senhor, quem morará em vossa casa?
• É aquele que caminha sem pecado / e pratica a justiça fielmente; / que pensa a verdade no seu íntimo / e não solta em calúnias sua língua.
• Que em nada prejudica o seu irmão, / nem cobre de insultos seu vizinho; / que não dá valor algum ao homem ímpio, / mas honra os que respeitam o Senhor.
• Não empresta o seu dinheiro com usura, / nem se deixa subornar contra o inocente. / Jamais vacilará quem vive assim!

EVANGELHO (Lc 10, 38-42) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, Jesus entrou num povoado e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

AMBIENTE - Este episódio situa-nos numa aldeia não identificada, em casa de duas irmãs (Marta e Maria). Estas duas irmãs são, provavelmente, as mesmas Marta e Maria, irmãs de Lázaro, referidas em Jo 11,1-40 e Jo 12,1-3. Se assim for, a ação passa-se em Betânia, uma pequena aldeia situada na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de 3 quilómetros de Jerusalém. Continuamos, de qualquer forma, a percorrer esse “caminho de Jerusalém”, durante o qual Jesus vai revelando aos seus discípulos os projetos do Pai e os vai preparando para o testemunho do Reino.

MENSAGEM - Estamos no contexto de um banquete. Não se diz se havia muitos ou poucos convidados; o que se diz é que uma das irmãs (Marta) andava atarefada “com muito serviço” (vers. 40), enquanto a outra (Maria) “sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua Palavra” (vers. 39). Marta, naturalmente, não se conformou com a situação e queixou-se a Jesus pela indiferença da irmã. A resposta de Jesus (vers. 41-42) constitui o centro do relato e dá-nos o sentido da catequese que, com este episódio, Lucas nos quer apresentar: a Palavra de Jesus deve estar acima de qualquer outro interesse.
Há, neste texto, um pormenor que é preciso pôr em relevo. Diz respeito à “posição” de Maria: “sentada aos pés de Jesus”. É a posição típica de um discípulo diante do seu mestre (cf. Lc 8,35; At 22,3). É uma situação surpreendente, num contexto sociológico em que as mulheres tinham um estatuto de subalternidade e viam limitados alguns dos seus direitos religiosos e sociais; por isso, nenhum “rabbi” da época se dignava aceitar uma mulher no grupo dos discípulos que se sentavam aos seus pés para escutar as suas lições. Lucas (que, na sua obra, procura dizer que Jesus veio libertar e salvar os que eram oprimidos e escravizados, nomeadamente as mulheres) mostra, neste episódio, que Jesus não faz qualquer discriminação: o fato decisivo para ser seu discípulo é estar disposto a escutar a sua Palavra.
Muitas vezes, este episódio foi lido à luz da oposição entre ação e contemplação; no entanto, não é bem isso que aqui está em causa… Lucas não está, nesta catequese, a explicar que a vida contemplativa é superior à vida ativa; está é a dizer que a escuta da Palavra de Jesus é o mais importante para a vida do crente, pois é o ponto de partida da caminhada da fé. Isto não significa que o “fazer coisas”, que o “servir os irmãos” não seja importante; mas significa que tudo deve partir da escuta da Palavra, pois é a escuta da Palavra que nos projeta para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.

ATUALIZAÇÃO •  Para ganhar uns minutos, arriscamos a vida porque “tempo é dinheiro” e perder um segundo é ficar para trás ou deixar acumular trabalho que depois não conseguimos “digerir”. Mudamos de fila no trânsito da manhã vezes incontáveis para ganhar uns metros, passamos semáforos vermelhos, comemos de pé ao lado de pessoas para quem nem olhamos, chegamos a casa derreados, enervados, vencidos pelo cansaço e pelo stress, sem tempo e sem vontade de brincar com os filhos ou de lhes ler uma história e dormimos algumas horas com a consciência de que amanhã tudo vai ser igual… Claro que estas são as exigências da vida moderna; mas, como é possível, neste ritmo, guardar tempo para as coisas essenciais? Como é possível encontrar espaço para nos sentarmos aos pés de Jesus e escutarmos o que Ele tem para nos propor?
• Nas nossas comunidades cristãs e religiosas, encontramos pessoas que fazem muitas coisas, que se dão completamente à missão e ao serviço dos irmãos, que não param um instante… É óptimo que exista esta capacidade de doação, de entrega, de serviço; mas não nos podemos esquecer que o ativismo desenfreado nos aliena, nos massacra e asfixia. É preciso encontrar tempo para escutar Jesus, para acolher e “ruminar” a Palavra, para nos encontrarmos com Deus e conosco próprios, para perceber os desafios que Deus nos lança. Sem isso, facilmente perdemos o sentido das coisas e o sentido da missão que nos é proposta; sem isso, facilmente passamos a agir por nossa conta, passando ao lado do que Deus quer de nós.
• Esta época do ano – tempo de férias, de evasão, de descanso – é um tempo privilegiado para invertermos a marcha alienante que nos massacra. Que este tempo não seja mais uma corrida desenfreada para lugar nenhum, mas um tempo de reencontro conosco, com a nossa família, com os nossos amigos, com Deus e com as nossas prioridades. A oração e a escuta da Palavra podem ajudar-nos a recentrar a nossa vida e a redescobrir o sentido da nossa existência.
• Qual é a nossa perspectiva da hospitalidade e do acolhimento? Esta leitura sugere que o verdadeiro acolhimento não se limita a abrir a porta, a sentar a pessoa no sofá, a ligar a televisão para que ela se entretenha sozinha, e a correr para a cozinha para lhe preparar um banquete opíparo; mas o verdadeiro acolhimento passa por dar atenção àquele que veio ao nosso encontro, escutá-lo, partilhar com ele, a fazê-lo sentir o quanto nos preocupamos com aquilo que ele sente…
• A atitude de Jesus – que, contra os costumes da época, aceita Maria como discípula – faz-nos, mais uma vez, pensar nas discriminações que, na Igreja e fora dela, existem, nomeadamente em relação às mulheres. Fará algum sentido qualquer tipo de discriminação, à luz das atitudes que Jesus sempre tomou?

SEGUNDA LEITURA (Cl 1, 24-28) Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses.
Irmãos, alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta às tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo.

AMBIENTE - Continuamos com a leitura dessa Carta aos Colossenses que já vimos no passado domingo. Recordemos que é uma carta escrita por Paulo da prisão (em Roma), convidando os habitantes da cidade de Colossos (Ásia Menor) a não darem ouvidos a esses doutores para quem a fé em Cristo devia ser complementada com o culto dos anjos, com rituais legalistas, com práticas ascéticas rigoristas e com a observância de certas festas… Para Paulo, o único necessário é Cristo: a sua vida, o seu testemunho, a sua cruz (o dom da vida por amor) e a sua ressurreição. Estamos por volta dos anos 61/63.
O texto que nos é proposto inicia a parte polémica da carta. Nele, Paulo apresenta o seu próprio exemplo, para que ele sirva de estímulo aos Colossenses.

MENSAGEM - Qual é, então, o exemplo que o apóstolo quer propor aos cristãos de Colossos? É um exemplo de alguém que, a partir da sua conversão, se alheou de tudo o resto, fez de Cristo a referência fundamental e se preocupou apenas em pôr a sua vida ao serviço de Cristo.
Ao longo do seu caminho de missionário, Paulo sofreu muito para levar a proposta de salvação a todos os homens, sem exceção (cf. 2 Cor 11,23-29). Inclusive, no momento em que escreve, Paulo está prisioneiro por causa do anúncio do Evangelho. No entanto, o apóstolo sente-se feliz pois sabe que esses sofrimentos não foram em vão, mas deram frutos e levaram muita gente a descobrir Jesus Cristo e a sua proposta de libertação.
Mais ainda: os sofrimentos de Paulo completam “o que falta à paixão de Cristo, em favor do seu corpo que é a Igreja”. Que significa isto? Para uns, Paulo refere-se à união da Igreja/corpo com o Cristo/cabeça: uma vez que a cabeça (Cristo) sofreu, os membros devem sofrer também para partilhar a sorte que a cabeça suportou. Esta explicação põe em relevo a união dos cristãos com Cristo e dos cristãos entre si.
Para outros, Paulo refere-se à ação redentora de Jesus: para Jesus, a redenção significou a cruz e o dom da vida; se os apóstolos aceitam ser testemunhas da redenção, isso implica, também para eles, o dom da vida (que passa pela perseguição e pelo sofrimento). Esta explicação põe em relevo a unidade do ministério de Cristo e dos apóstolos e a necessidade do testemunho apostólico. Esta explicação – que aparece já nos Padres Gregos – é a que está mais de acordo com o contexto.
De resto, Paulo tem consciência de que foi chamado por Cristo a anunciar o “mistério” (“mystêrion” – vers. 26). Esta palavra (que a “Lumen Gentium” retomará para definir a Igreja e a sua missão no mundo – cf. LG 1) designa, em Paulo, o plano salvador de Deus, escondido aos homens durante séculos, revelado plenamente na vida, na ação e nas palavras de Jesus Cristo e continuado pelos discípulos de Jesus (Igreja) na história. O esforço de Paulo (e dos cristãos em geral) deve ir no sentido de continuar a apresentação desse projeto de salvação/libertação que traz a vida em plenitude aos homens de toda a terra.
Paulo convida, pois, os Colossenses a construir a sua vida à volta de Jesus e do seu projeto (mesmo que isso implique sofrimento e perseguição); com o seu exemplo, Paulo estimula-os a uma comunhão cada vez mais perfeita com Cristo, pois é em Cristo (e não nos anjos, ou nas prática legalistas, ou nas práticas ascéticas) que os crentes encontrarão a salvação e a vida em plenitude.

ATUALIZAÇÃO - • Paulo é, para os crentes, uma das figuras mais questionantes da história do cristianismo. É o cristão de “vistas largas”, que não se deixa amarrar pelas coisas secundárias, mas sabe discernir o essencial e lutar por aquilo que é importante… Mas, sobretudo, é o exemplo do apóstolo por excelência, do apóstolo para quem Cristo é tudo e que põe cada batida do seu coração ao serviço do Evangelho e da libertação dos homens. É com o mesmo empenho de Paulo que eu “agarro” a missão que Cristo me confiou? Como é que a nossa comunidade trata e considera esses irmãos que, tantas vezes escondidos atrás da sua simplicidade e humildade, dão a vida à causa do Evangelho e da libertação dos outros?
• A centralidade que Cristo assume na experiência religiosa de Paulo leva-o à conclusão de que Cristo basta e que tudo o resto assume um valor relativo (quando não serve, até, para “desviar” os crentes do essencial). Que valor ocupa Cristo na minha experiência de fé? Ele é a prioridade fundamental, ou há outras imagens ou ritos que chegam a ocupar o lugar central que só pode pertencer a Cristo?

Dehonianos
============--------------======

Marta e Maria...

A Liturgia de hoje nos convida a refletir
sobre a HOSPITALIDADE e o Acolhimento.
Toda vez que nos reunimos para celebrar a Eucaristia,
o Senhor nos acolhe como hóspedes em sua casa e
nos oferece a "melhor parte": a sua Palavra e o Pão da vida.

As leituras apresentam pessoas, que acolheram o Senhor...

Na 1a Leitura, ABRAÃO acolhe os mensageiros de Deus. (Gn 18,1-10a)

Abraão está sentado à porta de sua tenda em Mambré,
atento a quem passa e disposto a repartir com ele,
de forma gratuita, aquilo que tem de melhor...
Ao ver três homens, que se aproximam, o Patriarca corre ao encontro deles
e oferece-lhes com insistência hospedagem.
No final da refeição, como recompensa pela generosa hospitalidade,
recebe a promessa de um filho, apesar da idade avançada de Abraão e Sara.
Era o que mais desejava na vida... Seria o herdeiro das Promessas...
Antiga tradição cristã viu nestes três personagens,
dos quais só um fala, misteriosa figura da Trindade...

* Todos somos peregrinos procurando pousada no coração das pessoas,
que podem ser o próprio Deus que nos pede um pouco do nosso tempo.

Na 2a Leitura, PAULO apresenta o próprio exemplo:
acolheu em sua vida Cristo, que deu sentido à sua vida e sua missão:
"É Cristo crucificado que vive em mim" (Cl 1,24-28)

 * Missão do ministro é acolher o povo em seu coração
para que se sinta acolhido, amado e valorizado.
As pessoas não procuram tanto na Igreja uma boa organização,
mas serem ouvidas e receberem palavras que comuniquem o Amor de Deus.

No Evangelho, MARTA e MARIA acolhem Jesus em sua casa. (Lc 10,38-42)

- MARTA preocupa-se com os trabalhos
  para acolher bem o visitante em sua CASA.
- MARIA, pelo contrário, SENTA-SE aos pés do Mestre
  (posição típica de um discípulo diante do seu Mestre)
  e acolhe a Palavra de Jesus em seu CORAÇÃO...

Duas formas sinceras de acolher... mas diante da reclamação de Marta,
Jesus afirma que a atitude de Maria lhe era mais agradável,
pois a escuta da sua palavra é o ponto de partida na caminhada da fé.

A Hospitalidade é um gesto sagrado desde o Antigo Testamento...
Não é só abrir a porta da casa, mas é também abrir os ouvidos e o coração,
para dar a nossa atenção àquele que veio ao nosso encontro.
Durante o diálogo, Maria permanece em silêncio,
sinal de meditação e interiorização da Palavra de Deus.
- Marta acolhe em sua casa um AMIGO muito querido...
- Maria acolhe o MESTRE que tem palavras de Vida...
- Paulo hospeda o REDENTOR, que redime os homens de seus pecados...
- Abraão acolhe naqueles viajantes o próprio DEUS...

Quem são as Martas e Marias, HOJE?

- Na Vida Prática: Você valoriza mais as pessoas,
  ou as coisas, os trabalhos, a casa, os negócios?

- Na Família...
   > Você, Esposa, costuma acolher com carinho, com atenção e com sorriso
      o seu esposo que chega cansado do trabalho ou
      o seu filho que retorna da escola?
   > Você, Marido, mesmo cansado, escuta com interesse, sua esposa
      que deseja lhe contar como foi o dia?
   > E você, Jovem, sabe dar a devida atenção a seus pais,
      que trabalham o dia todo por você?

- Na Comunidade...Você encontra tempo para "sentar aos pés de Jesus
  e escutar a sua palavra"? Ou apenas se satisfaz em "fazer coisas"?
  Fato decisivo para ser "Discípulo" de Cristo,
  é estar disposto a escutar a sua Palavra...

- Na Sociedade... Você tem tempo para parar e escutar os que chegam até você, 
  reconhecendo neles a voz de Cristo (ou a visita de Deus)?
  Ou apenas se contenta em oferecer "coisas"?

- Na Ação Pastoral... como servimos a Deus?
  O Evangelho nos mostra dois modos: como Marta... e como Maria...
  Damos o devido tempo entre Ação e Contemplação, Trabalho e Oração...

  Ação, sem escuta da Palavra de Deus, torna-se vazia...
  E Oração, sem ação, é estéril e alienante...

Que a nossa atitude não seja apenas a de Marta, nem apenas a de Maria...
mas a de Marta e de Maria, juntas, se completando em nós...
Cristo ainda hoje continua nos advertindo: "Marta, Marta..."

Cristo continua ainda hoje batendo à nossa porta.
Sua voz tem inúmeros timbres.
Procuremos reconhecê-la e abrir a porta sem fazê-lo esperar.
Para acolher Jesus, devemos encontrar tempo
para nos sentar a seus pés, escutá-lo e escutar os outros;
tempo para rezar; tempo para servir; um coração pronto e disponível.

- A Conferência de Aparecida fala em gastar mais tempo
  para escutar as pessoas...

  O que poderíamos fazer nesse sentido? 
           
                        Pe. Antônio Geraldo

==========---------------============

Homilia do Pe. Pedrinho

Meus irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos chama a atenção para a contemplação em todo trabalho, que nós realizamos, sobretudo, para a realidade urbana. Nós temos a correria do dia inteiro e avançamos até altas horas da noite com nossas tarefas e obrigações. Aos poucos, vamos deixando de lado aquilo que nos diferencia dos outros animais; um burro, um cavalo e tantos outros animais que também trabalham. Só que eles não têm a capacidade de contemplar o seu dia, o que fizeram naquele dia. Nós, os seres humanos, é que temos esta capacidade de parar no final do dia e dizer: como é que foi o meu dia? Então, contemplar. Agora, contemplar aos pés do mestre, significa termos uma intimidade com Jesus. Neste ponto, vamos resgatar, um pouco, quem é Marta e Maria. Marta e Maria são as irmãs de Lázaro. Os três são amigos de Jesus. Claro, que, quando o Evangelho fala de amigo, não está só dando uma informaçãozinha de que Jesus tinha lá os seus amigos. Já, São Lucas, antecipadamente, no início do Evangelho que ele escreveu, ele dedica o seu trabalho a Teófilo. Teófilo significa amigo de Deus. Portanto, quem é amigo de Deus, é amigo de Jesus. Aliás, alguns vão achar que o Evangelho de São João quando diz “O Discípulo Amado”, está falando de Lázaro. Porque, a final de contas, os próprios, que vão ao sepultamento de Lázaro, vêem Jesus chorando e dizem: “Vejam como Ele o amava”. De qualquer maneira, Marta Maria são amigos de Jesus. Então, eles podem nos ajudar, porque nós também somos amigos de Jesus, a refletir sobre a nossa conduta. Marta não é má. Ao contrário. Ela tenta servir o Senhor, de todas as formas, providenciando tudo que é necessário e Maria contempla o Senhor. Convenhamos: se ficarmos contemplando Jesus o dia inteiro, o que é que vamos fazer? Vamos ser bem práticos. Quem é que vai preparar o almoço, quem é que vai honrar os compromissos para ter um salário no fim do mês? Então, não se trata de ficar vinte e quatro horas contemplando Jesus, mas de ter este hábito. O papa Francisco lembrava: “São Bento nos ensinou: oração e trabalho. Trabalho e oração”. Então, veja, quando Jesus chama a atenção de Marta, não é que Ele está contra o trabalho que ela realiza, mas Ele quer chamar a atenção para este aspecto: que nenhum trabalho, em nome do Evangelho, por mais que sejamos amigos de Jesus, ele não transmitirá Jesus, se eu não tiver o lado contemplativo, se eu não tiver o lado da oração. Nenhuma oração terá conteúdo, como diz o popular; “sustança”, se não tiver AÇÃO. Marta e Maria deve ser um estímulo para sermos uma síntese dessas duas. Buscar no nosso trabalho apresentar Jesus, que é nosso amigo. Ao mesmo tempo, buscar na oração corrigir aquilo que faltou em nosso trabalho e agradecer aquilo que realizamos.
Anunciar Jesus é coisa simples; não precisamos fazer grandes discursos, nem pequenos. Às vezes, quando permito alguém ultrapassar o carro que estou dirigindo, pois talvez ele tenha mais pressa do que eu, isto é um gesto. É um gesto de respeito pelo irmão. Aquilo que é obrigação, mas que aqui no Brasil não se faz, pelo menos grande parte do Brasil. Tem alguém querendo passar na faixa de pedestre; eu parar, estou mostrando que a pessoa tem valor, que ela é importante. Chegar em casa e elogiar quem preparou a comida; são gestos tão simples. Elogiar quem ficou o dia inteiro fora trabalhando e chega em casa alegre e feliz. São gestos simples. São gestos que não fazemos e não é por maldade. Não. Nós amamos quem nos prepara o alimento, nós amamos quem busca o sustento da casa, nós amamos tudo isto. Só que, na correria do dia a dia, perdemos este hábito. É aí que a contemplação vai nos ajudar. A contemplação vai fazer com que eu me dê conta: como é que eu apresentei Jesus hoje? Aí, então, repassar o dia. Senhor, obrigado, pois consegui isto e isto. Senhor, me perdoa, aqui e ali eu poderia ter feito melhor.
Abraão é um exemplo prático de contemplação e ele une o útil ao agradável. Olhe a primeira leitura. Na hora de maior calor do dia, imagina ele no deserto, o que é que ele vai fazer? Nada. Vai ficar debaixo da sombra da árvore. Aí, aproveita este momento para contemplar. É por conta da contemplação, que ele se torna mais sensível, ao ponto de avistar três homens e ele se coloca no lugar desses três homens e corre a servir lhes água, pão, leite, porque eles devem estar famintos e com muito calor. Este é o valor da contemplação; o sentar-se aos pés do Mestre é ajudar-nos a sermos mais sensíveis às necessidades dos outros, que às vezes, é uma necessidade muito simples e que podemos oferecer. De qualquer maneira, na medida em que eu sou sensível ao próximo, eu sou sensível a Jesus, porque ele disse: “O que fizeres ao menor de meus irmãos, a mim o fizestes”.
Assumir todo o desafio, que aparece na segunda Leitura, que é chamado de tribulação, é assumir esta preocupação para com o irmão e fazer do nosso trabalho algo que nos possa levar a Deus.
Que esta Celebração sirva para renovar a nossa disposição de contemplar a Deus no trabalho do dia a dia que realizamos.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. Pedrinho – Diocese de Santo André – SP.

========------------=======

Homilia de D. Henrique Soares da Costa

O Senhor hoje nos acolhe em sua Casa, hospeda-nos ao redor do seu Altar sagrado, para nos falar de hospitalidade. Aquele que nos hospeda bate à nossa porta, humildemente, como hóspede, esperando ser acolhido por nós: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). Abramos para ele nosso coração e nossa vida.
A Palavra de Deus apresenta-nos, nas leituras deste Domingo, dois modos de acolher o Senhor; dois modos distintos, mas que se relacionam e mutuamente se condicionam. O primeiro, é acolhendo-o na sua Palavra, como Maria, a irmã de Marta e de Lázaro. Para nós, ela é modelo do discípulo perfeito, pois “sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra”. Marta também acolheu Jesus, mas é um acolhimento exterior e, portanto, superficial, como o daqueles que são cristãos tão empenhados em trabalhar por Cristo e em falar de Cristo, que esquecem de estar com Cristo, de realmente dar-lhe atenção na escuta da Palavra e na oração. Ora, é nisto, precisamente, que Maria, hoje, é exemplo para nós: “sentou-se aos pés do Senhor”. – Vejam a disponibilidade, à atenção à Pessoa de Cristo, a disposição em acolher a Palavra que brota do coração do Salvador: “escutava sua palavra”. Aqui, cabe-nos perguntar: neste mundo dispersivo e agitado, neste mundo da competição e do estresse, tenho tido tempo, realmente, para acolher o Cristo que bate à minha porta? “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei...” Não tenhamos dúvida que grande parte da crise de fé e de entusiasmo de muitos cristãos decorre da falta desse acolhimento íntimo em relação ao Senhor, da incapacidade de hospedá-lo no nosso afeto e no nosso coração pela escuta da Palavra que se torna oração amorosa e perseverante. Talvez sirva para todos nós, ativos em excesso e dispersos contumazes, a advertência de Jesus: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária”. Qual? Que coisa é a única necessária? Estar aos pés do Senhor, abrindo-se à sua Palavra: “O homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). É esta a parte que Maria escolheu e que, por nós escolhida, jamais nos será tirada, porque Deus é fiel!
Mas, há um outro modo de acolher Aquele que está à porta e bate. Este modo deve decorrer da escuta da Palavra e mostra se essa Palavra é eficaz na nossa vida. Trata-se de acolher os outros, de hospedá-los no nosso coração e na nossa vida. Recordemos a cena de Abraão, nosso pai na fé. Colhamos os detalhes! Abraão estava sentado, talvez descansando do almoço, “no maior calor do dia”. Ao ver os estrangeiros que lhe estão próximos, corre ao encontro deles. Observem a solicitude de nosso pai na fé: não os conhecia, mas corre, com pressa, até eles e os reverencia: “Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra”. Observem a insistência no convite para que os estranhos comam de sua mesa; notem a solicitude em preparar rápido o melhor que tem: entrou logo na tenda, tomou farinha fina, correu ao rebanho e pegou um dos bezerros mais tenros e melhores, pegou coalhada e colocou tudo diante dos hóspedes... Por que fez isso? Porque tem fé! Para Abraão, não existe acaso. Notem como ele diz aos estrangeiros: “Foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo”. Ou seja: fizestes-vos próximos de mim para que eu me faça próximos de vós e vos sirva! Notem ainda como a situação se inverte: ao início, Abraão estava sentado e os hóspedes, de pé; agora, Abraão está de pé, servindo, e os hóspedes, comodamente sentados. Sem saber, naqueles estrangeiros, acolhidos desinteressadamente, Abraão estava acolhendo o próprio Senhor. E, ao fazê-lo, ao esquecer-se de si para preocupar-se com os outros, tornou-se fecundo: “Onde está Sara, tua mulher? Voltarei, sem falta, no ano que vem, por esse tempo, e sara, tua mulher, já terá um filho!” Bendita hospitalidade, que gera vida! Bendito sair de nós, que nos torna fecundos!
Domingo passado, a Palavra nos fazia perguntar: quem é o meu próximo? Pois hoje, a pergunta volta, insistente: quem são aqueles e aquelas que estão de pé, à porta da minha tenda esperando que eu os acolha no meu coração e na minha atenção? Pensemos nos pobres, nos desvalidos, nos sem amor, nos que caíram, nos que se sentem sozinhos, nos que batem à nossa porta pedindo uma esmola e nos que pedem atenção, respeito, compreensão, perdão e amor... Somos tão tentados ao fechamento no nosso mundo e nas nossas preocupações! E, no entanto, neles, o Senhor bate à nossa porta, pede-nos hospedagem: “Eis que estou à porta e bato!” E isso não é de hoje nem de ontem: desde Belém, que ele está à porta, desde Belém, que ele procura o nosso acolhimento! Desde Belém, não “havia lugar para ele na hospedaria” (Lc 2,7).
Então, somente poderemos hospedar Jesus em plenitude quando estes dois modos se completam: hospedá-lo na escuta da Palavra e no silêncio da oração e hospedá-lo naqueles que vêm a nós pelos caminhos da vida. Calha maravilhosamente hoje o conselho do Autor da Carta aos Hebreus: “O amor fraterno permaneça. Não vos esqueçais da hospitalidade, porque graças ela alguns, sem saber, acolheram anjos” (Hb 13,1s). Mais que anjos: acolheram o próprio Deus, aquele que disse: “Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes!” (Mt 25,40).
Que o Senhor nos conceda hospedar sempre, para que encontremos hospedagem no seu coração. A ele a glória para sempre. Amém.

D. Henrique Soares da Costa

===========---------------==========
Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Ao longo do seu caminho rumo a Jerusalém (Lc 9,51s: XIII Domingo), Jesus vai passar por muitas situações: rejeição por parte dos Samaritanos, confronto com os doutores da Lei (Lc 10,25s: XV Domingo), e na perícope deste XVI Domingo faz uma parada estratégica na casa de Marta e Maria para retomar um dos principais temas do evangelho de Lucas, isto é, a visita de Deus (Lc 7,11-17: X Domingo). As duas irmãs, anfitriãs de Jesus, representam dois modos de reagir diante da visita de Deus. É inegável que ambas recebem Jesus, mas é também evidente que só uma permaneceu com Ele. Ali está a grande diferença diante da visita. Não basta apenas receber em casa, é preciso acolher no coração. Portanto, é preciso passar de anfitriã à discípula. Enquanto Marta optou por estar sozinha com os afazeres da casa, Maria escolheu a melhor parte: “ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra”. Marta estava preocupada pelo muito serviço, talvez empenhada na preparação de algo para oferecer a Jesus e aos seus discípulos; com as mãos e o coração tão ocupados, não conseguia acolher o que o Senhor tinha para lhe oferecer: sua presença e sua palavra. Marta e Maria não representam simplesmente duas pessoas (ativa e contemplativa), mas indicam as duas possibilidades de escolhas que temos nos nossos relacionamentos: receber e abandonar ou receber e permanecer.
Há uma tendência muito forte no coração das pessoas, quando querem estabelecer relacionamentos, deixarem-se levar pela tentação de oferecer coisas, pensando ser a maneira mais segura de construir pontes e criar laços, quando na verdade o excesso de coisas materiais pode criar uma montanha de entulhos, impedindo a leveza da relação e a profundidade do encontro, pois confunde a gratuidade da presença com a compulsiva insegurança da cobrança velada dos presentes. Jesus adverte Marta diante da sua inquietação e agitação, totalmente absorvida por muitas coisas. Quando cremos que as coisas que podemos oferecer às pessoas garantirão o nosso relacionamento com elas e esquecemos de ser presença que as acolhe, mais cedo ou mais tarde nos depararemos com a chocante verdade: ficamos sozinhos. Quando consideramos mais importante o que podemos oferecer e não tanto o fazer-se oferta, restará apenas no nosso coração a angústia de ter perdido a oportunidade do encontro, e ter feito apenas o papel de um deliverer de coisas.
Quando nos excedemos nas coisas que podemos dar ao outro, projetamos nele o nosso mendigo interior, revelamos a nossa incapacidade de viver a gratuidade, transformando sutilmente os nossos relacionamentos em relação mercantil: “ofereço coisas a você, e você me paga com afetos que sedam a minha angústia de ser incapaz de estabelecer relacionamentos alimentados por presença, mas simplesmente comprados com presentes”.
Jesus entrando na casa de Marta e Maria não pretendia encontrar uma mesa preparada a fim de matar a sua fome como também a dos seus discípulos. Mas fazendo-se hóspede, anunciou com a sua presença e palavra que Deus visita o seu povo, e é Ele mesmo quem prepara a mesa; Ele mesmo oferece o alimento mais desejado pelo coração humano, como fará com os discípulos de Emaús no final do evangelho quando de hóspede, torna-se o anfitrião partindo o pão para anunciar-lhe que não está morto, mas ressuscitado e, portanto, fazendo-se presença permanente.
Marta, preocupada e agitada para servir, é chamada a fazer a experiência do acolhimento Daquele que veio para servir, pois Ele mesmo afirma: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27). Querer servir sem aprender de Jesus, sem antes colocar-se aos seus pés, pode levar simplesmente a uma agitação ou a um ativismo perturbador e estéril, tendo como consequência o cansaço e a solidão. Quem pretende servir o Reino, mas não cresce no discipulado, não se nutre da palavra do Mestre, não encontra tempo para permanecer aos seus pés, torna-se um trabalhador frustrado, agitado com tantos afazeres, ironicamente se afastará do Senhor e da comunidade fraterna, e só saberá expressar seu descontentamento acusando os demais de o ter deixado sozinho, quando na verdade, a escolha da solidão foi uma opção sua, pois preferiu fazer coisas, e não ser discípulo.

==============-------------==========

Para a Celebração da Palavra (Diáconos e Ministros da Palavra):

Louvor : (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR):  16º dom TC
Pres. O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
Pres. COM JESUS, por Jesus e em Jesus, NA FORÇA DO E. SANTO, louvemos O PAI:
T: Bendito e louvado seja o nosso Deus!
Presidente: Senhor, nosso Deus e Pai! Vos louvamos por nos revelar vosso amor enviando vosso Filho para nos guiar para a felicidade eterna. Hoje vimos o quanto Abraão, nosso pai na fé, foi atento às necessidades daqueles três homens que passavam próximo a sua tenda. Pai, abri nossos olhos para que vejamos as necessidades de nossos irmãos e irmãs que passam por nós.
T: Bendito e louvado seja o nosso Deus!
Presidente: Pai, bendito sejais, porque nos fizestes conhecer vossos ensinamentos através de vosso Filho. Hoje Jesus nos ensinou, que não basta a ação do trabalhos, mas que precisamos também estar aos seus pés e contemplar a palavra que nos edifica e salva.
T: Bendito e louvado seja o nosso Deus!
Presidente: Pai, vos agradecemos pela Palavra de vida, que é sabedoria. Vós nos destes a melhor parte, que é o conhecimento de vosso amor e de vossa bondade. Vosso amor nos deu a dignidade de filhos  Vossos. Pai, ajudai-nos para que também sejamos solícitos para com os que estão ao nosso redor. Que sejamos amáveis, acolhedores, bondosos e úteis ao nosso irmão ou irmã que precisam de nós.
T: Bendito e louvado seja o nosso Deus!
PAI NOSSO... A PAZ DE CRISTO... EIS O CORDEIRO




====================--------------============

16º Domingo do Tempo Comum (Adaptado pelo Diácono Ismael) - SINOPSE:

1 Abraão conserva-se em silêncio digno, sem manifestar qualquer dúvida tais são as atitudes que o crente israelita é convidado a assumir diante desse Deus que vem ao encontro do homem.

2 O modelo do crente: ele o acolhe na sua casa e na sua vida de forma exemplar, que coloca tudo o que possui nas mãos de Deus; sacramento da hospitalidade
Abraão é o crente que acolhe Deus na sua vida, que aceita viver em comunhão com Ele, que aceita pôr tudo o que tem nas mãos de Deus e que se coloca diante de Deus numa atitude de respeito, de submissão, de total confiança.

3 Marta andava atarefada “com muito serviço”, Maria “sentada aos pés de Jesus, ouvia”.
nenhum “rabbi” da época se dignava aceitar uma mulher no grupo dos discípulos
4 A escuta da Palavra de Jesus é o mais importante para a vida do crente,
5 A Palavra nos projeta para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.

6 O ativismo desenfreado nos aliena, nos massacra e asfixia. É preciso encontrar tempo para escutar Jesus, para acolher e “ruminar” a Palavra, para nos encontrarmos com Deus e conosco próprios, para perceber os desafios que Deus nos lança.

7 O apóstolo sente-se feliz pois sabe que esses sofrimentos não foram em vão, mas deram frutos e levaram muita gente a descobrir Jesus Cristo e a sua proposta de libertação.

8 Os sofrimentos de Paulo completam “o que falta à paixão de Cristo, em favor do seu corpo que é a Igreja”. Uma vez que a cabeça (Cristo) sofreu, os membros devem sofrer também para partilhar a sorte que a cabeça suportou.