quinta-feira, 19 de maio de 2016

Solenidade da Trindade SANTA, subsídios homiléticos, homilias

Solenidade da Trindade SANTA 2016

SINOPSE:
TEMA: Deus que é amor e comunidade, nos criou para partilhar este amor.
Primeira leitura: A bondade e o amor de Deus manifestam-se nas obras criadas (Jesus Cristo é “sabedoria” de Deus e o grande revelador do amor do Pai).
Segunda leitura: Deus nos “justifica” através do Filho.
Evangelho: o amor do Pai se manifesta na entrega do Filho e do Espírito. A meta final é a plena na comunhão com o Deus.

PRIMEIRA LEITURA (Pr 8,22-31)
- Assim fala a Sabedoria de Deus: “O Senhor me possuiu como primícia, antes de suas obras mais antigas; desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes das origens da terra. (...) Quando preparava os céus, ali estava eu, (...) – e lançava os fundamentos da terra, eu estava ao seu lado como mestre-de-obras; eu era seu encanto, (...) brincando na superfície da terra e alegrando-me em estar com os filhos dos homens”.

AMBIENTE
O Livro dos Provérbios apresenta uma coleção de “ditos”, da reflexão (“sabedoria”) dos “sábios”, em definir as regras para ser feliz. É um artifício literário, através do qual o autor dá força ao convite de acolher e amar a “sabedoria”. O autor reflete sobre a origem da sabedoria e a sua função no plano de Deus.

MENSAGEM
A “sabedoria” tem origem em Deus. É a primeira das obras de Deus. A “sabedoria” afirma que o seu interesse é estar “junto dos filhos dos homens e se destina aos homens. A “sabedoria” aviva a inteligência dos homens e leva-os a Deus. A “sabedoria” revela aos homens a grandeza e o amor do Deus criador. Os autores neo-testamentários atribuirão a Jesus algumas das características que este texto atribui à “sabedoria”: Paulo chama a Jesus “sabedoria” de Deus”,  que existe antes de todas as coisas e desempenhou um papel privilegiado na criação do mundo (Col 1,16-17); por sua vez, o “prólogo” do Quarto Evangelho atribui ao “Logos”/Jesus os traços da “sabedoria” criadora e que Ele deu existência a todas as obras criadas. Os Padres da Igreja verão nesta “sabedoria”, traços de Jesus Cristo ou do Espírito Santo.

ATUALIZAÇÃO
 Contemplar a criação é descobrir, na beleza e na harmonia das obras criadas, esse Pai cheio de bondade e de amor. A contemplação da obra criada leva ao espanto e ao louvor.
Olhando para a obra de Deus, aprendemos que ao homem compete reconhecer o poder e a grandeza de Deus e entregar-se, confiante, nas mãos desse Pai que tudo nos entrega.
O desenvolvimento desordenado e a exploração descontrolada dos recursos da natureza põem em causa a harmonia desse “mundo bom” que Deus criou e que nos confiou.

SALMO RESPONSORIAL / 8
Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!
• Contemplando estes céus que plasmastes / e formastes com dedos de artista; / vendo a lua e estrelas brilhantes, / perguntamos: “Senhor, que é o homem,/ para dele assim vos lembrardes / e o tratardes com tanto carinho?”
• Pouco abaixo de Deus o fizestes, / coroando-o de glória e esplendor; / vós lhe destes poder sobre tudo,/ vossas obras aos pés lhe pusestes:
• As ovelhas, os bois, os rebanhos, / todo o gado e as feras da mata; / passarinhos e peixes dos mares, / todo ser que se move nas águas.

EVANGELHO (Jo 16,12-15)
Disse Jesus a seus discípulos: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu”.

AMBIENTE
Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhá-lo com a ajuda do Espírito. Jesus avisa que o caminho do testemunho deparará com a oposição da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o mundo; mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele ajudá-los-á e dar-lhes-á segurança no meio da perseguição. O Espírito ajudará a responder aos novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus.

MENSAGEM
O tema fundamental é a ajuda do Espírito aos discípulos. Jesus começa por dizer que há muitas outras coisas que eles não podem compreender de momento. Será o “Espírito da verdade” que guiará os discípulos para a verdade, que comunicará tudo sobre Jesus e que interpretará o que está para vir. É “pelo Espírito a proposta continua a ecoar na vida da comunidade. O Espírito não apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo. Assim, Jesus continuará em comunhão com os discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. A última expressão deste texto sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.

ATUALIZAÇÃO
O Espírito aparece, aqui, como presença divina na caminhada cristã, que potencia a fidelidade dinâmica dos crentes às propostas que o Pai, através de Jesus, fez aos homens.
 Deus que é amor e através da salvação do Pai, tornado realidade em Jesus, e continuado pelo Espírito presente na caminhada dos crentes, nos conduz para a vida plena do amor e da felicidade total – a vida do Homem Novo, a vida da comunhão e do amor em plenitude.     
       
SEGUNDA LEITURA (Rm 5,1-5)
: Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, (...) nos gloriamos, na esperança da glória de Deus.  ... nos gloriamos também de nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada desabrocha em esperança; e a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

AMBIENTE
Fim da terceira viagem missionária de Paulo. Ele aproveita para apresentar os principais problemas de relacionamento entre judeu-cristãos e pagãos-cristãos. Estamos no ano 58. Paulo sublinha que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Paulo acentua que é a “justiça de Deus” que dá vida a todos sem distinção (Rom 3,1-5,11). Neste texto, Paulo refere-se à ação de Deus, por Cristo e pelo Espírito, no sentido de “justificar” todo o homem.

MENSAGEM
Paulo parte da ideia de que todos foram justificados pela fé. Na linguagem bíblica, a justiça define a fidelidade a si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos. Ora, se Jahwéh Se manifestou como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem infringe as regras; significa que a bondade de Deus, se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Paulo, ao falar do homem justificado, está falando do homem pecador que, por iniciativa da misericórdia de Deus, recebe a graça que o salva do pecado e lhe dá, totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é pedido que acolha, com humildade e confiança, a graça que não depende dos seus méritos e que se entregue nas mãos de Deus. Este homem, objeto da graça, é uma nova criatura: é o homem ressuscitado para a vida nova, que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo. Quais os frutos deste acesso à salvação? Em primeiro lugar, a paz no sentido teológico de relação positiva com Deus. Em segundo lugar, a esperança, que nos permite superar as dificuldades, apontando a um futuro glorioso de vida em plenitude, na certeza de que a morte não tem a última palavra. Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem,  que age através do Espírito em Jesus de Nazaré a quem Deus “entregou à morte por nós quando ainda éramos pecadores”. Tudo que lhe dá sentido, é um dom de Deus Pai que, através de Jesus, demonstra o seu amor e que, pelo Espírito, derrama continuamente esse amor sobre nós.

ATUALIZAÇÃO
Na Solenidade da Santíssima Trindade, contemplamos o amor de Deus que soube encontrar formas de vir ao nosso encontro. Apesar do pecado, Deus continua a amar. Trata-se de um amor gratuito, que se traduz em dons que, uma vez acolhidos, nos conduzem à felicidade plena.
A vinda de Jesus é a expressão plena do amor de Deus e o sinal de que Deus não nos abandonou, mas quis partilhar conosco a fragilidade da nossa existência para nos mostrar como nos tornarmos “filhos de Deus” e herdeiros da vida em plenitude.
A presença do Espírito acentua essa realidade de um Deus que continua presente e atuante, derramando o seu amor ao longo do caminho que dia a dia vamos percorrendo e impelindo-nos à renovação, à transformação, até chegarmos à vida plena do Homem Novo.

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Ao Pai, se atribui de modo especial a obra da criação; ao Filho é atribuída a redenção da humanidade; e ao Espírito Santo, a renovação da vida. O Espírito Santo é o amor que une o Pai ao Filho. As três Pessoas divinas estão presentes em tudo. É consolador sabermos que Deus não é egoísta, nem solitário. É um Deus comunidade de amor, é família, são três pessoas unidas no amor.

Assim também somos nós. Quando vivemos a união e o amor fraterno, a partilha e a solidariedade. Quando realmente vivemos tudo isso na família, no ambiente de trabalho, na comunidade, seja onde for, estamos dando testemunho da presença do Deus Trindade.

Os judeus sabem que Deus é um só; aquele que os arrancou da terra do Egito, da casa da servidão. Ouvimos falar dele na primeira leitura: “Reconhece hoje e grava em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele". Os muçulmanos afirmam que não há outro Deus a não ser o único Deus de Abraão. Neste sentido, esta é também a nossa fé. Deus é um só, uma Essência eterna, infinita, onipotente, imutável. Deus é absolutamente um, que não pode ser multiplicado nem dividido: ele é Amor todo inteiro, inteiro na Beleza, inteiro na Infinitude, inteiro na Onipotência e na Onipresença. Pois bem, como os judeus e como os muçulmanos nós confessamos firmemente que só há um Deus, absolutamente uno, Senhor do céu e da terra
.
Assim sendo, em Deus não há três vontades iguais, mas uma só vontade; não há três poderes iguais, mas um só poder, não três consciências iguais, mas uma só consciência. Mais uma vez: Deus é absolutamente UM! E, no entanto, os três divinos são absolutamente diversos: só o Pai gera, só o Filho é gerado, só o Espírito é a própria Geração; só o Pai é o Amante, só o Filho é o Amado, só o Espírito é o Amor.
O Pai, eterno Amante, tudo criou através do Filho, eterno Amado, na potência do Espírito Santo, eterno Amor. Vimos do Pai, pelo Filho, no Espírito; vivemos no Pai pelo Filho no Espírito; vamos para o Pai, através do Filho no Espírito, Trindade Santa, nossa vida e plenitude eterna.
O Pai amou tanto o mundo, a ponto de enviar o seu Filho e, pelo Filho, derramou no nosso coração o Espírito do Filho que, em nós, clama Abbá, Pai. Por isso, podemos dizer que Deus é amor e, quem não ama, não conhece a Deus!
Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso, vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará”. Como é que Cristo pode dizer que “tudo o que o Pai tem é meu”? Só se ele mesmo for Deus, pode dizer isso. No evangelho de Mateus, Cristo chega a dizer que ninguém conhece o Pai se não o Filho e que ninguém conhece o Filho senão o Pai. Mas quem pode conhecer Deus? Só Deus pode conhecer Deus.

Deus dá-se para salvar-nos. Ele é amor. Mas não só isso: revela-nos que o amor é tudo. Tudo o que o Pai tem, dá ao Filho, tudo o que Filho tem dá ao Pai. Isso é o amor!
Por outro lado, se Deus é Trindade e, por isso, comunidade de amor, então o amor é tudo. No Deus cristão, cada Pessoa dá tudo às outras. A partilha chega a tal radicalidade que não são três deuses, três indivíduos separados, mas um só. Por isso, também, o amor entre os homens, como imitação do divino, nunca será demasiado radical, nunca ninguém de nós poderá sentar-se satisfeito e dizer “basta já dei suficientemente aos outros”.



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SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
A melhor Comunidade...

Desde pequenos, aprendemos de nossos pais a fazer o sinal da cruz e chamar a Deus:  de Pai, Filho e Espírito Santo.

Assim com toda a naturalidade, estávamos invocando o mistério mais profundo de nossa fé e da vida cristã: o Mistério da Santíssima TRINDADE, cuja festa hoje celebramos.
Mais tarde, na catequese, nos apresentaram o mistério da Trindade como um exemplo clássico de coisa incompreensível. "É um mistério"!...

O que é um Mistério?
- Na natureza, existem muitos mistérios que hoje não conhecemos e que um dia poderão ser desvendados.
- Em Deus, o mistério nunca poderá ser totalmente compreendido, pela grandeza de Deus e pela nossa pequenez...  mas podemos e devemos crescer no conhecimento desse mistério.

O que é então a Trindade?
A Santíssima Trindade é o Mistério de um só Deus em três pessoas.
É uma comunidade de amor vivida pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.
Deus, como nos ensina São João, é Amor. E o amor é, ao mesmo tempo, três e um: aquele que ama, aquele que é amado e o amor entre os dois.
- Ao "Amor amante", nós chamamos de PAI;
- ao "Amor amado", de FILHO;
- ao "Amor que circula entre os dois e os abre para o mundo e a humanidade", ESPÍRITO SANTO

- DEUS PAI (Criador) que manifesta sua bondade e amor na beleza e na harmonia das coisas criadas.
- DEUS FILHO (Jesus): Foi enviado ao mundo pelo Pai, para nos oferecer a vida em plenitude...
Ensinou-nos a viver o grande projeto de Deus: viver o amor.
E por amor, deu-nos sua vida para a nossa Salvação.
- DEUS ESPÍRITO SANTO: renova continuamente na Igreja a salvação iniciada por Cristo.


As Leituras nos ajudam a entender melhor esse tema central da fé:

- A 1a Leitura fala do PAI e da sua obra criadora.
Põe em ação seu projeto: cria o universo com "Sabedoria" e Amor... (Pr 8,22-31)

- A 2a Leitura apresenta a obra do FILHO, que realiza o projeto da Salvação.
Ele se torna "um de nós", para justificar todos os pecadores. Através dele Deus-Pai derrama sobre nós os seus dons (a paz, a esperança,  o amor de Deus) e nos oferece a vida em plenitude. (Rm 5,1-5)

- A 3a leitura esclarece a missão do ESPÍRITO SANTO:
completará a obra do Pai e do Filho, para que possamos aderir plenamente
ao projeto do Pai e à obra salvadora do Filho.  (Jo 16,12-15)


+ O Código do Catecismo da Igreja Católica afirma:
   "Deus deixou vestígios desse mistério na Criação e no Antigo Testamento,
    mas a intimidade de Deus Trindade constitui um mistério inacessível
    à inteligência humana e até mesmo à fé de Israel...
    Esse mistério foi revelado por Jesus Cristo e
    é a fonte de todos os outros mistérios". (CCIC 45)
CRISTO nos revelou claramente essa verdade:

- Fala constantemente do PAI:
    - Felipe: "Mostra-nos o Pai..." (Jo 14,8)
      Jesus: "Felipe... quem me vê, vê o Pai". (Jo 14,8)
    - "Quem observa os meus mandamentos... o Pai o amará...
        e viremos nele e faremos nele morada..." (Jo 14, 23)
    - Ensina a Rezar: "Pai Nosso..." (Lc 11,1 ss)
      
- Promete muitas vezes o ESPÍRITO SANTO:
  "Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena Verdade" (Jo 16,13)

* Quando se despede, no dia da Ascensão, afirma:
   "Ide... e batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo." (Mt 28, 19)

+ Por que Jesus nos revelou? Para nos deixar mais um problema? Não...

- É um gesto de amor e de amizade:
  A gente revela os segredos de sua vida íntima a quem confia... a quem ama...
  Porque Deus nos ama, quis revelar os segredos de sua vida íntima...

- É um convite a também viver em comunhão... em comunidade...
  "Pai, que todos sejam um, como eu e tu somos um..." (Jo 17,11)
  A Trindade é o modelo da comunidade sonhada por Deus.

+ A FESTA DA TRINDADE:

  - Não é apenas uma oportunidade para falar da Trindade e
    e compreender e decifrar essa estranha charada de "Um em Três"...

  - É um convite para contemplar Deus,
    que é amor, que é família, que é comunidade e
    que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor. 
    Deus não é um ser solitário que vive sozinho perdido no infinito.
    O princípio do Amor é o Pai.
    Sua realização concreta está no Filho Jesus.
    A perpetuação desse amor é o Espírito Santo.

  - É a festa da COMUNIDADE.
    As Comunidades cristãs devem, ser a expressão desse Deus, que é amor, 
    que é comunidade, vivendo numa experiência verdadeira de amor, de partilha,  
    de família, de comunidade... pois a Trindade é a melhor das comunidades.

   - É a festa do BATISMO, que nos tornou participantes da vida da Trindade.
     Hoje somos chamados a renovar nosso compromisso batismal
     para sermos reflexos da Santíssima Trindade, sinais de comunhão.

     Quanto mais nos esforçamos para viver em comunhão, de partilha e de esperança
     num mundo tão dividido, individualista e desesperançado, melhor entendemos o Mistério da Santíssima Trindade.

                                        Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Pedrinho

Meus irmãos e irmãs, hoje celebramos a festa da Santíssima Trindade. É muito interessante, pois, para falar da Santíssima Trindade, a liturgia nos fala do ser humano. Este é o grande mistério e ao mesmo tampo a grande graça de Deus. Nós podemos entender a Trindade de Deus, a partir do ser humano. Vejamos o salmo: este é um dos salmos mais belos, que temos na Bíblia. Ele não tem uma palavra negativa. Ele poderia dizer: o homem não é Deus, mas ele diz: o homem foi criado um pouco abaixo de Deus. É de propósito. Ele não quer nenhuma palavra negativa. Que pena, que na correria do dia a dia, não temos o hábito de contemplar o ser humano. Aliás, o ser humano se tornou apenas objeto de comércio. Até o próprio trabalho é chamado de mercado de trabalho e eu sou a mão de obra, eu sou o produto desse mercado.
Deus nos faz um pouco abaixo dele e a humanidade o coloca abaixo das coisas. Como estamos distantes de Deus! No entanto, Deus não desiste do ser humano. A todo momento o procura e propõe a ele uma aliança, mas estamos acostumados a ver coisas. Não a ouvir coisas. Como não vemos Deus, sequer nos lembramos dele ao longo do dia, em muitos casos. Só vamos nos lembrar de Deus, quando a nossa sabedoria, o nosso dinheiro, o nosso prestígio, a nossa influência, não resolver e aí tornamos Deus também um produto do mercado. Quando é que eu vou ao mercado? Quando eu preciso de um produto; quando é que eu vou até Deus? Quando eu preciso dele. E, quando Ele não me atender, vou logo concluir que Deus é uma grande farsa, porque ele tem que me atender, pois afinal de contas, eu preciso daquilo que estou pedindo. E mais, temos a coragem de insistir com Deus para que ele nos atenda. Sequer pensamos nele, mas quando precisamos, aí estamos nós insistindo. E, até revoltados com Deus, pois eu não mereço isto. É sempre assim, que agente fala.
No salmo 8 Deus diz, que tudo está a sua disposição. Que bom que eu não sou Deus, pois eu acho que o problema é este: Ele entregou tudo para o ser humano. Como o ser humano não sente falta das coisas, então, ele também não acha necessário Deus. Basta ver o quanto dedicamos ao trabalho, quanto dedicamos ao lazer e quanto dedicamos a Deus no dia. Uma Celebração é demorada quando passa de uma hora e quinze, mas não perdemos o jogo de futebol que começa às dez horas e vai até meia noite. E, antes das seis horas da tarde, o pessoal não chega para a Celebração sem que antes termine o futebol, porque é mais importante ver o resultado do que a Celebração. Sabe, uma coisa não exclui a outra. É uma questão de bom senso. Se eu tenho disposição para ver o jogo até meia noite, poderia ter disposição para ter meia hora de oração para com Deus, mas aí já estou cansado. Deus é misericórdia, Deus é pai, Deus é bom. Então, Ele releva, como muitos pais fazem com os filhos, que tem disposição para sair com todo mundo, mas quando o pai pede alguma coisa, diz: estou cansado. Então, o pai diz: está bem, vá dormir para descansar, amanhã agente vê isso.
Creio que não estou exagerando. Esta é a pura realidade nossa. O que é que isto tem a ver com a Trindade de Deus? São Paulo vai dizer, que fomos justificados a partir da fé. No que consiste a minha fé? No que ela está baseada? É muito interessante observar, que, às vezes, vemos Deus tão alto, tão grande, porque a nossa fé é infantil. Nós só adquirimos a fé daquilo que ouvimos falar de “papai do céu, de Jesus, de nossa mãe do céu...” e depois fomos para a catequese e terminado a primeira comunhão, nunca mais aparecemos. Desenvolvemos todo o nosso potencial, menos na fé. A fé permanece naquela estatura, a fé permanece raquítica, porque a criança se desenvolve, mas se eu não desenvolvo alguma dimensão, acabo me tornando fraco naquela dimensão. Então, fomos justificados na fé. Será que fomos mesmo? Cada um responda para si. Onde eu começo por adquirir a fé? No Batismo. Quando os pais trazem a criança para ser batizada, lhes é perguntado: o que viestes buscar na Igreja? – Eu vim buscar a fé. -  Então eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É aí que entra a Trindade em nossa vida. A Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, entra em nossa vida, quando começamos a fazer parte dessa comunidade. Eu, quando presido a Celebração do Batismo, sempre pergunto para os pais: por que teu filho vai te reconhecer como pai? eles dizem: por causa do amor. Eu digo: não, o avô também ama e no entanto, um vai ser chamado de Pai e o outro de avô. Por que você vai ser chamada de mãe? – Por causa de minha dedicação. – A avó, a tia, também vai se dedicar. No entanto, uma será chamada de mãe, outra de vó e outra de tia. Por que a criança consegue esta distinção? Custa chegar na resposta, que é o óbvio: é porque lhe ensinaram assim. Quando eu digo: vem com o papai, ele consegue casar a idéia; este é o papai. Vem com o titio, este é o titio. Vem com a mamãe, esta é a mamãe. Assim é Deus. Se eu não falo de Deus para as crianças, elas não vão aprender quem é Deus e vão crescer pensando, que Deus realmente não existe. De nada vale eu batizar a criança se não lhe ensinar a reconhecer o Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo. Não seria, então, melhor batizar como adulto? Claro que não. Imaginou se eu vou esperar a criança crescer para depois perguntar que roupa vai usar, que comida vai comer? Que médico vai, o que vai querer estudar na vida? Não. Não é assim que funciona. Pessoas que pensam assim são pessoas que não sabem o que ensinar aos filhos sobre a fé. Não. Fomos feitos um pouco abaixo de Deus. Eu preciso saber onde está Deus, para saber onde está o ser humano. Aí, eu aprendo e começo a respeitar o ser humano.
O livro de provérbios trás, hoje, uma revelação esplêndida: Deus criou o universo brincando. É claro, na medida em que vamos adquirindo uma certa idade, vamos aprendendo que a vida não é só brincadeira, mas todos precisam brincar. Na forma como a criança brinca, se demonstra a imagem e semelhança de Deus. É no lúdico, na brincadeira, que a criança aprende a ser criativa. Em sendo criativa, ela se torna imagem do criador. É assim que a criança é a imagem de Deus. O jovem é adquirindo a sabedoria nos estudos. O adulto é transformando a natureza no que é necessário para o consumo. O idoso é contemplando toda obra realizada durante a vida. Ora, aqui entre nós, no mundo, temos todos os elementos necessários para aprender a ocupar o nosso lugar: um pouco abaixo de Deus. Por que isto é importante? Para que eu tenha a vida eterna. Este foi o grande debate entre judeus e cristãos: como é que Cristo pode ser Deus, se ele foi criado. É  o livro de provérbios de hoje: “No princípio eu fui constituído”. Ora, como ele foi constituído? Então, ele não existia! E se não existia e passou a existir, então, não é eterno. Santo Eusébio, são Crisóstomo, nos ajudaram a compreender, que no texto está: “Desde o início fui gerado”. E, é o ser humano, que é Jesus, que é gerado. Agente não diz: a senhora está para dar cria da criança. Não. Isto é só para animal. Agente diz: a senhora está gerando uma criança. O que significa, que ela já está em Deus, desde toda eternidade e que agora, simplesmente, está sendo gerada. Daqui a pouco, no creio, iremos dizer: creio em Jesus Cristo, gerado e não criado, consubstancial ao Pai. Jesus não foi criado, mas gerado. O Pai, o Filho e o Espírito, de fato, é um Deus que é eterno. Quando eu comungo a hóstia consagrada, eu entro em comunhão com este Deus. É Ele que me leva à vida eterna. É Ele que leva a ocupar o lugar para o qual eu fui gerado: um pouco abaixo de Deus, mas vivendo em comunhão com Ele.
Como isto é bom, quando perdemos alguém que amamos. Porque nós sabemos que ela não está sozinha, mas ela está em plena comunhão com Deus e não existe companhia melhor do que Deus. Ninguém de nós pode ser melhor do que Deus para acompanhar, cuidar, para estar com alguém. Se eu quiser usar esta palavra, que eu não acredito, mas muita gente usa: “perdi meu ente querido”. Você perdeu para alguém que é melhor do que você, então, perdeu para alguém que vale a pena. Não perdeu para alguém igual ou pior. Para que perde, sabe: perder para o melhor, não é vergonha. A vergonha é quando eu perco para o pior. Eu perdi para Deus: então, eu não perdi. Ela simplesmente ocupou o lugar para o qual foi criada.
É na família, que aprendemos estes valores todos. O pai, a mãe e o filho, acabam revelando, para nós, a Trindade de Deus, porque é ali que eu aprendo a viver em comunhão. De fato, é ali que aprendo a respeitar um ao outro. De fato, é ali que aprendo os valores a serem vividos. Que Deus nos ajude a compreender e a viver estas grandezas.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. Pedrinho – Diocese de Santo André – SP.


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HOMILIA  de D. Henrique Soares:
É estranho celebrar com uma festa litúrgica a Santíssima Trindade, pois a Trindade Santa é celebrada em toda a vida cristã e, particularmente, em toda e cada Eucaristia. Recordemos que a Missa é glorificação da Trindade Santíssima, na qual o Filho se oferece e é por nós oferecido ao Pai no Espírito Santo, para a salvação nossa e do mundo inteiro. Mas, aproveitando a festa hodierna, façamos algumas considerações que nos ajudem na contemplação e adoração desse Mistério tão santo, que nos desvela a vida íntima do próprio Deus.

Poderíamos começar com uma pergunta provocadora: como a Igreja descobriu a Trindade? Descobriu, como duas pessoas se descobrem: revelando-se! Duas pessoas somente se conhecem de verdade se conviverem, se forem se revelando no dia-a-dia, se se amarem. Só há verdadeiro conhecimento onde há verdadeiro amor. É costume dizer-se que ninguém ama o que não conhece; pois, que seja dito também: ninguém conhece o que não ama. O amor é a forma mais profunda e completa de conhecimento! Foi, portanto, por puro amor a nós, à nossa pobre humanidade, que Deus quis dirigir-se a nós, revelar-se, convivendo conosco, abrindo-nos seu coração, dando-nos a conhecer e a experimentar seu amor… E fez isso trinitariamente! Então, desde o início, a Igreja experimentou Deus na sua vida concreta, e o experimentou trinitariamente, como Pai, como Filho e como Espírito Santo. Antes de falar sobre a Trindade, a Igreja experimentou a Trindade!
Primeiramente, o Senhor Deus incutiu no coração do povo de Israel e da própria Igreja que ele é um só: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um só!” Um porque não pode haver outro ao seu lado, Um porque não pode ser multiplicado, Um porque não pode ser dividido e Um porque deve ser o único horizonte, o único apoio, a única rocha de nossa existência: ele, o Senhor Deus, é o único absoluto, o único que é, sem princípio e sem fim, sem mudança e sem limite! Jamais poderemos imaginar tal grandeza, tal plenitude, tal suficiência de si mesmo! Deus É – e basta! Tudo o mais apenas existe porque vem dele, daquele que É! Mas, ele não é um Deus frio: sempre apresentou-se ao povo de Israel como um Deus amante, um Deus de misericórdia e compaixão, um Deus que não sossega enquanto não levar à plenitude da vida as suas criaturas. Por isso, com paciência e bondade, conduziu o seu povo de Israel, formando-o, educando-o, orientando-o e prometendo um futuro de bênção e plenitude, de eternidade e abundância de dons, que se concretizaria com um personagem que ele enviaria: o Messias, seu Ungido.
Esse Messias prometido, nós, cristãos, o reconhecemos em Jesus, nosso Senhor. Ele é o enviado de Deus, do Deus único, Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, Deus do povo de Israel. A esse Deus tão grande e tão santo, Jesus chamava de Abbá – Papai: o meu Papai! A si mesmo, Jesus se chamava “o Filho” – Filho único, unigênito de Deus, Filho Amado! Mais ainda: o próprio Jesus, que veio para nós e por amor de nós, agiu neste mundo, em nosso favor, com uma autoridade que ultrapassava de longe a autoridade de um simples ser humano: ele agia como o próprio Deus. Não só interpretava a Lei de Moisés, como também a modificou e a ultrapassou; perdoava os pecados, exigia um amor e uma obediência absolutos à sua pessoa… amor que somente Deus pode exigir. Jesus se revelava igual ao Pai, absolutamente unido a ele: “Eu e o Pai somos uma coisa só! Quem me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em mim”. Após a ressurreição, a Igreja compreendeu, impressionada, maravilhada: Jesus não somente é o enviado daquele Deus a quem chamava de “Pai”, mas ele é igual ao Pai: ele é Deus como o Pai, é eterno como o Pai, é o Filho amado pelo Pai desde toda a eternidade. Então, o Deus de Israel é Pai, Pai eterno, Pai eternamente, que eternamente gera no amor o Filho amado. Por amor, ele nos enviou este Filho: “Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado. Anunciou aos pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tristes, a alegria”. E para realizar o plano de amor do Pai, “entregou-se à morte e, ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou a vida”.
Mas, há ainda mais: o Filho, ressuscitado e glorificado, derramou sobre seus discípulos o Espírito Santo, que é o próprio Amor que o liga ao Pai. Este Espírito de Amor não é uma coisa, não é simplesmente uma força, não é algo: é Alguém, é o Amor que une o Pai e o Filho, e agora é, na Igreja de Cristo, o Paráclito-Consolador, Aquele que dá testemunho de Jesus morto e ressuscitado, Aquele que vivifica e orienta a Igreja, Aquele que renova em Cristo todas as coisas. Ele é o Dom que o Filho ressuscitado recebeu do Pai e derramou sobre a Igreja, para santificar todas as coisas. Este Espírito permanece no nosso meio na Palavra e nos sacramentos; este Espírito conserva a Igreja unida na mesma fé e na mesma caridade fraterna, este Espírito é a Força divina, a Energia criadora que nos ressuscitará, como ressuscitou o Filho Jesus para a glória do Pai.
É assim que a Igreja confessa um só Deus, imutável, indivisível, perfeito, eterno, absolutamente um só. Mas confessa e experimenta igualmente que este Deus único é real e verdadeiramente Pai, Filho e Espírito Santo, numa Trindade de amor perfeito e perfeitíssima Unidade. A oração inicial da Missa de hoje, exprime este Mistério: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade, que é o Filho, e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”.
Continuemos, então, a nossa Eucaristia, na qual torna-se presente sobre o Altar a oferta do Filho que, por nós, entregou-se ao Pai num Espírito eterno.
Ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito, Trindade santa a consubstancial, a glória e o louvor pelos séculos dos séculos. Amém.
 Dom Henrique Soares da Costa
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Para a Celebração da Palavra (Diáconos e ministros da Palavra):

 LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR:
à O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
à COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Ó DEUS DE BONDADE, NÓS VOS LOUVAMOS E VOS BENDIZEMOS!
à Deus eterno, Pai e criador de todo o universo, contemplamos o céu, a terra, os oceanos e todas as vossas maravilhas, onde vemos a obra admirável da Vossa Sabedoria.
T: Ó DEUS DE BONDADE, NÓS VOS LOUVAMOS E VOS BENDIZEMOS!
à Pai, nós Vos damos graças pela nossa existência e pelos dons que nos destes: a justiça, a paz, a fé, a esperança e o Vosso amor, que derramastes em nossos corações pelo Esp. Santo. 
T: Ó DEUS DE BONDADE, NÓS VOS LOUVAMOS E VOS BENDIZEMOS!
à Deus fiel, Pai rico em misericórdia, que nos foi revelado pelo Vosso Filho no Espírito Santo. Nós Vos damos graças, porque nos introduzes na comunhão da Vossa glória. Pai, guiai-nos nos vossos caminhos e dai-nos força e perseverança.
T: Ó DEUS DE BONDADE, NÓS VOS LOUVAMOS E VOS BENDIZEMOS!
à Pai bondoso e fiel, nós vos agradecemos por nos terdes enviado Vosso Filho, vos agradecemos por nos enviar o Espírito Santo que nos ensina e nos ajuda a compreender a vossa vontade.
T: Ó DEUS DE BONDADE, NÓS VOS LOUVAMOS E VOS BENDIZEMOS!
PAI NOSSO...         A PAZ DE CRISTO...        EIS O CORDEIRO DE DEUS...







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