4º
DOMINGO DA QUARESMA 2019 (Adaptado pelo Diácono
Ismael )
SINOPSE:
Tema:
“Deixai-vos reconciliar com Deus!”
Deus que é Amor, quer conduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele.
Primeira
leitura:
Quem segue as orientações de Deus, alcança a Felicidade.
Evangelho: Deus nos ama e respeita a nossa liberdade de estar junto ou longe dele.
Mesmo quando optamos nossa vida para longe dele, ele continua a nos esperar e a
nos amar.
Segunda leitura:
Só
reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se
manifesta o homem Novo.
PRIMEIRA
LEITURA (Josué 5,9a.10-12) o Senhor disse a Josué: “Hoje tirei
de cima de vós o opróbrio do Egito”. Os israelitas [ ] celebraram a Páscoa [ ] na
planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa comeram dos produtos da terra,
pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia. O maná cessou de cair no
dia seguinte, quando comeram dos produtos da terra. Os israelitas não mais
tiveram o maná. Naquele ano comeram dos frutos da terra de Canaã.
AMBIENTE - O livro narra a
entrada na Terra Prometida. Utiliza o gênero épico (relatos enfáticos,
exagerados, maravilhosos), os autores realçam a ação de Deus que cumpre as
promessas feitas. É uma catequese sobre
o amor de Deus. Os israelitas, vindos do deserto, atravessam o rio Jordão.
Aproxima-se a celebração da primeira Páscoa na Terra Prometida.
MENSAGEM - É um Povo
renovado, que reafirma sua aliança com Deus. O rito põe um ponto final na
“desonra do Egito” e assinala um “tempo novo”. A Páscoa nessa terra livre,
marca a nova etapa. Israel é agora um Povo novo; Livre e comprometido com Deus;
sem escravidão.
ATUALIZAÇÃO • Somos convidados, neste tempo de
Quaresma, a uma experiência semelhante à que fez o Povo de Deus de que fala a
primeira leitura: é preciso pôr fim à etapa da escravidão e do deserto, a fim
de passar, decisivamente, à vida nova, à vida da liberdade e da paz. E a
circuncisão? A circuncisão física é um rito externo, que nada significa… O que
é preciso é aquilo a que os profetas chamaram a “circuncisão do coração” (Dt
10,16; Jr 4,4; cf. Jr 9,25): trata-se da adesão plena da pessoa a Deus e às
suas propostas; trata-se de uma verdadeira transformação interior que se chama
“conversão”. O que é que é preciso “cortar” na minha vida ou na vida da minha
comunidade cristã (ou religiosa) para que se dê início a essa nova etapa? O que
é que ainda nos impede de celebrar um verdadeiro compromisso com o nosso Deus?
• A partir dessa “circuncisão do coração”, podemos celebrar
com verdade a vida nova, a ressurreição. A celebração da Páscoa será, dessa
forma, o anúncio e a preparação dessa Páscoa definitiva (a Páscoa
escatológica), que nos trará a vida plena.
ATUALIZAÇÃO
♦ Na Quaresma fazemos a experiência deste povo que põe fim a escravidão e passa a
uma nova vida de liberdade e paz.
Trata-se de uma transformação interior que se chama “conversão”.
♦ A celebração da Páscoa será o anúncio dessa
Páscoa escatológica, que nos trará a vida plena.
EVANGELHO (Lc 15,1-3.11-32) Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, os publicanos e pecadores aproximavam
se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam
Jesus. “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. Então Jesus
contou-lhes esta parábola: “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse
ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens
entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu
para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha
gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a
passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou
para seu campo cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a comida que
os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: ‘Quantos
empregados do meu pai têm pão e fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou-me
embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra
ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um de teus
empregados’. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe,
seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou--o, e
cobriu-o de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e
contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse ao empregados:
‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no
seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um
banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e
foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao
voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos
criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: ‘É teu irmão
que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. Mas
ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. Ele,
porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci
a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus
amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas,
matas para ele o novilho cevado’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás
sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e
alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi encontrado’”.
AMBIENTE Lucas apresenta
uma catequese sobre a bondade e o amor de Deus a todos os que
a teologia oficial excluía. O ponto é a murmuração dos fariseus: “este homem
acolhe os pecadores e come com eles”. Acolher os pecadores é escandaloso, na
perspectiva dos fariseus; no entanto, comer com eles, estabelecer laços de
familiaridade à volta da mesa, é algo de indizível… A conclusão dos fariseus é
óbvia: Jesus não pode vir de Deus, pois, na perspectiva da doutrina
tradicional, os pecadores não podem aproximar-se de Deus. É neste contexto que
Jesus apresenta a “parábola do Pai
Misericordioso” – (não é parábola do filho pródigo,
como dizem) (Só LUCAS FALA)
MENSAGEM - O personagem
central é o Pai, que respeita a liberdade dos filhos, com
um amor gratuito. Continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do
filho. Esse amor manifesta-se na emoção do abraço no filho que volta, no “anel”
que é símbolo da autoridade e nas sandálias, que é o calçado do homem livre.
O filho
mais novo é ingrato e exige mais do que tem direito (a lei previa que o
filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai e a posse se
dá só depois da morte deste). Além disso, abandona a casa e o amor do
pai e dissipa os bens. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência,
de total irresponsabilidade. Acaba por perceber o vazio, o sem sentido dessa
vida de egoísmo e resolve voltar ao encontro do amor do pai.
O filho mais velho é o filho “certinho”, que, que cumpriu
todas as regras. No entanto, a sua lógica é a lógica da “justiça” e não a lógica da “misericórdia”.
Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não aceita que o pai tenha
misericórdia e acolha do filho rebelde. É a imagem dos fariseus que
interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca a Lei, desprezavam os pecadores e
achavam que essa devia ser também a lógica de Deus.
A “parábola
diz que Deus é o Pai bondoso, que respeita a liberdade e as decisões dos seus
filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para procurar a felicidade em
caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar e a esperar o
regresso dos filhos rebeldes. Quando
voltam, acolhe-os com amor e reintegra-os na sua família. É esse Deus de
amor, de bondade, de misericórdia, que encontramos quando voltamos. A parábola
pretende que ajamos com misericórdia, com amor, no julgamento que fazemos dos
nossos irmãos.
ATUALIZAÇÃO ♦ Pai que respeita as decisões desse
filho que abandona a casa paterna; O amor que está sempre lá, fiel, preparado
para abraçar o filho que volta. Quaresma é um tempo de nos voltarmos a esse
Deus que nos ama.
♦ É uma frustração viver longe do amor
do “Pai”, no egoísmo, no materialismo, na autossuficiência. Não é nos bens
deste mundo, mas é na comunhão com o “Pai” que encontramos a felicidade e a
paz.
♦Deus não age na justiça dos homens, mas
na misericórdia, na compreensão e no amor. Sendo imagem e semelhança também
devemos agir com amor.
SEGUNDA LEITURA (2Cor 5,17-21) Leitura da Segunda Carta de São Paulo
aos Coríntios.
Irmãos, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova.
O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. E tudo vem de Deus, que, por
Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação.
Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos
homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. Somos,
pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome
de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não
cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos
justiça de Deus.
AMBIENTE - Por volta de 57,
Paulo é informado de que seu ministério é desafiado e dirige-se para Corinto. O
confronto é violento e Paulo é injuriado por um membro da comunidade. Paulo
parte para Éfeso. Depois envia Tito a Corinto, a fim de tentar a reconciliação.
Quando Tito regressa e diz que a questão foi ultrapassada, Paulo, aliviado,
escreve esta Carta aos Coríntios, fazendo uma apologia do seu apostolado. Neste
texto transparece essa necessidade de reconciliação.
MENSAGEM - A leitura é “reconciliação”.
Mas, para além da reconciliação entre os coríntios e Paulo, é necessária a
reconciliação entre os coríntios e Deus. Daí o convite para que os coríntios se
deixem reconciliar com Deus. “Em Cristo”, Deus ofereceu aos homens a
reconciliação; aderir à proposta de Cristo é acolher a oferta de reconciliação
que Deus fez. Ser cristão implica estar reconciliado com Deus e com os irmãos.
Isto significa ser uma criatura nova, uma pessoa renovada: os homens têm
necessidade de viver em paz uns com os outros; mas dificilmente o conseguirão,
se não viverem em paz com Deus. Cristo pela cruz arrancou-nos do domínio do
pecado e transformou-nos em homens novos. Ao ser morto na cruz pela Lei, Cristo
mostrou como a Lei só produz morte; e pela cruz, Jesus ensinou-nos ao amor
total, libertando-nos do egoísmo que
impede a reconciliação com Deus e com os irmãos.
ATUALIZAÇÃO ♦ Deus, apesar das nossas infidelidades,
continua a propor-nos um projeto de comunhão e de amor.
♦ É “em Cristo” que somos reconciliados com
Deus. Na cruz, Cristo ensinou-nos a obediência total ao Pai e o amor total aos
homens. Dessa lição deve nascer o Homem Novo, o homem que vive na obediência
aos projetos de Deus e no amor aos outros.
♦ A comunhão com Deus exige a
reconciliação com os irmãos.
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Sede misericordiosos
A
Liturgia é um convite à RECONCILIAÇÃO.
As
leituras mostram os caminhos da Reconciliação:
O
Amor de Deus Pai se manifesta dando uma pátria ao povo de Israel, uma casa
paterna ao filho que volta e uma personalidade nova em Cristo.
Como
resposta, o homem celebra o dom de Deus, reconhece seu pecado e volta
arrependido aos braços do Pai e reconhece que a iniciativa da reconciliação vem
de Deus por meio de Cristo reconciliador.
Na 1ª Leitura Deus se reconcilia com o seu Povo. (Jos 5,9a.10-12)
Israel celebra pela 1ª vez a Páscoa na Terra Prometida.
Antes, os nascidos no deserto, ainda não circuncidados, devem
passar pela circuncisão, como sinal da Aliança e de pertença ao Povo eleito.
Assim TODOS poderiam celebrar a Páscoa, como início de uma vida nova.
* A Quaresma é tempo de retificar os caminhos e nos reconciliar
com Deus.
O
Povo de Israel caminhou pelo deserto, buscou a liberdade e, no final, chegou à
terra prometida. Nela celebrou a Páscoa. E nós, novo povo de Deus, que páscoa,
que terra, que libertação procuramos?
A 2ª Leitura é um Hino que enaltece a Misericórdia de
Deus, que nos deu a vida em Cristo e recomenda:
"DEIXAI-VOS
RECONCILIAR com Deus". (2Cor 5,17-21)
*
Ser cristão é aceitar essa Reconciliação com Deus, em Cristo.
A comunhão com Deus exige a reconciliação
com os outros irmãos.
No Evangelho, o
PAI se reconciliou com o filho e
convidou os filhos se reconciliarem entre eles. (Lc 15,1-3.11-32)
Um
grupo de fariseus e escribas criticava Jesus, pela atenção especial que dava
aos marginalizados, muitas vezes tidos
como "pecadores pela sociedade de então.
-
Jesus responde com três parábolas (Ovelha, Moeda e Filho Pródigo), que revelam
a grande bondade e MISERICÓRDIA de Deus, que sai à procura do perdido
A
Parábola do PAI MISERICORDIOSO (ou do Filho
Pródigo) narra 2 cenas: o Filho mais novo e o Filho mais velho, unidas pela ação do PAI, que é o centro
do relato:
+
O Filho
mais novo, numa atitude de orgulho e de desprezo... afastou-se do Pai, da família e da
comunidade...
Renunciou à sua posição de filho e foi
"para longe"...
-
Sonhou sua felicidade com uma vida de independência e de liberdade, e voltou
espoliado, esfarrapado, faminto e sem dignidade...
-
"Longe" da casa do Pai, não encontrou a felicidade desejada.
A fome fez ter saudades da casa do Pai e a
lembrança da bondade do Pai o animou a voltar...
+
O Filho
mais velho é um "bom filho", sóbrio, obediente e
trabalhador... mas não é um bom irmão.
Não aceita a volta do irmão, nem mesmo o amor do Pai, que o acolheu...
+ O
Pai é o personagem central:
Sai ao encontro dos DOIS FILHOS:
- CORRE "movido
de compaixão" ao encontro do Filho mais novo...
Abraça-o... Beija-o... Manda buscar roupa,
calçado, o anel, para que o filho seja restituído em sua dignidade de filho.
E faz uma FESTA para celebrar na alegria a
sua volta...
- VAI também ao
encontro do Filho mais velho...
Suplica-lhe que entre... Convida-o para a
festa... Para a alegria...
*
Podemos abandonar a nossa dignidade de filhos.
Deus não abandona a sua missão de Pai.
Deus sai à procura dos perdidos e festeja
porque são resgatados...
A ação do Pai reflete a atitude de Jesus e
deve ser também a nossa.
- Quem
é esse jovem,
que num desejo de liberdade e felicidade,
vai longe do pai, da família, da comunidade e de Deus... E quando sente o vazio em que se encontra,
começa a sentir saudades da casa do pai?
- Quem
é esse irmão mais velho, "bom praticante", mas mau irmão,
que não se alegra com o retorno do irmão arrependido, e até tenta impedir a
volta de quem se desgarrou na vida?
Quantos filhos pródigos (Jovens) continuam
ainda hoje pródigos, perdidos, longe da casa do Pai... Porque não há quem
acredite neles e vá ao seu encontro, ajudando-os a descobrirem os valores da
vida e da fé...
* Talvez sejamos um pouco dos dois: Todos
temos um pouco do pecado do mais novo e da intransigência do mais velho.
+ O
Evangelho de hoje nos convida a imitar o gesto do Pai:
- que respeita a liberdade e as decisões dos
seus filhos...
- que continua a amar e a esperar o regresso
dos filhos rebeldes.
- que está sempre preparado para abraçar os
filhos que retornam..
- que os acolhe com amor e os reintegra na
sua família.
- que festeja com alegria a sua volta...
Acolhendo
os apelos de conversão da Quaresma e da Palavra de Deus, a nossa celebração será sempre um verdadeiro
banquete para celebrar na alegria a volta ao Pai e à comunidade dos filhos
pródigos que estavam perdidos, mas que voltaram à vida pela Bondade de Deus
e pela Acolhida dos irmãos.
Pe. Antônio
Geraldo
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Homilia do Pe. Pedrinho
Irmãos e irmãs,
estamos dando o quarto passo na caminhada quaresmal; Entramos na quarta semana.
Este Evangelho é muito conhecido de todos nós. É conhecido como a parábola do
Filho pródigo. Na verdade, é uma maneira equivocada de identificar esta
parábola. Porque Jesus não está interessado em falar dos filhos, mas está
interessado em apresentar quem é o Pai. muitas vezes, a gente se prende na
atitude de um filho ou de outro e deixamos de lado o que é fundamental:
conhecer o Pai, conhecer a Deus. Jesus vem para inaugurar uma festa, que é uma
festa eterna. O Reino de Deus não se acaba e celebra-se o Reino de Deus com
festa, mas uma festa um pouco diferente daquela, que normalmente, estamos
acostumados. Porque a festa que nós estamos acostumados, nos servimos de
alimentos, que depois se acabam. Enquanto que na festa que Deus promove, o
alimento é eterno, o Pão é eterno. É muito interessante observar a primeira
leitura, onde o Maná foi o alimento de salvação de Deus. Eles não tinham o que
comer no deserto e Deus providenciou o Maná. Mas, o Maná acabou um dia. Por
que? Porque todo alimento um dia se acaba. Ora, Jesus vem oferecer um alimento
que não acaba: o Pão da vida, o Pão descido do céu, o seu corpo e o seu sangue:
aquilo que celebramos, cada vez que nos reunimos ao redor do altar. Esta é a
festa. Evidente, que ainda não conseguimos vislumbrar a grandeza plena desta
festa. Só consegue participar plenamente desta festa, quem está junto de Deus.
É por isso, que celebramos sétimo dia, vigésimo dia, aniversário de falecimento.
Não é pela alma da pessoa, mas celebrando com ela o encontro com o Pai
misericordioso nesta festa plena. Nós participamos aqui, claro, não plenamente,
mas com certa dificuldade, porque ainda não temos o encontro face a face com
Deus e pior, ainda trazemos conosco o pecado.
A segunda
leitura é para nos questionar profundamente. Ela diz, que somos nascidos de
Cristo, somos homens e mulheres novos. Isto tem nos preocupado bastante, porque
ninguém contesta isto, mas nem todos vivem a vida nova gerada em Deus.
Qual é a
diferença entre nós e aqueles que não crêem no Cristo? Às vezes, nós nem
sabemos perceber as diferenças. Muitas vezes, nos apresentamos como filhos
obedientes a Deus, mas sequer sabemos fazer a sua vontade. O que nos preocupa
mais, é que, muitas vezes transmitimos isto para as novas gerações. Será por
nada, que a juventude anda com tanta dificuldade, será por nada, que as
crianças enfrentam tantos desafios? Ainda ontem assistimos cenas de tiroteios
nas ruas de nosso bairro e ninguém está comentando isto. Vocês perceberam?
Quando alguém fala, outro diz: ali sempre acontece. Virou rotina. Ora, estes
filhos vieram de onde? Certamente, não nasceram em chocadeira. E, as suas
famílias? Não estou julgando, nem responsabilizando nenhuma, mas, como será que
elas vivem? Por que eles aprenderam a acertar as diferenças na bala? Aprenderam
onde isto? Certamente não foi do pai misericordioso. O filho mais novo, no
Evangelho, tem todos os motivos para ser jogado no esquecimento. Primeiro, ele
prejudicou todo mundo, porque quando ele pede sua parte na herança, simplesmente, ele está levando consigo, algo
que o pai batalhou bastante para conquistar e de uma forma indireta está
prejudicando o filho mais velho, que com a parte dos dois poderia crescer um pouco
mais o patrimônio. No entanto, ele quis a parte dele e esbanjou tudo de forma
irresponsável. Então, ele tem todos os motivos para nós o condenarmos; “vamos
acerta-lo na bala”. Não foi assim, que Jesus nos ensinou. O que nos ensinou?
Que o Pai está, ali, sempre para acolhê-lo e resgatá-lo com vida. Esta prática
é de quem nasce em Jesus Cristo: apostar, sempre, na vida.
Por outro lado,
temos o filho mais velho, que é exemplar, não dá nenhum trabalho, mas não está
disposto a entrar na festa. Quantos de nós, que somos pessoas honestas,
trabalhadoras, que de fato, honram os nossos compromissos, mas dizem: “na missa
(celebração Eucarística) eu não vou não”. “não quero entrar na festa”. Por que
não quer entrar na festa? Porque na festa acolhem os filhos que dão trabalho. Quanto
mais eu me distancio da festa, menos eu compreendo quem é Jesus, menos eu
entendo qual é a sua vontade e menos eu sei praticar a fé, que eu digo ter, que
eu professo. Este encontro nosso, ele PODE ser às vezes monótono, nem sempre o
presidente da Celebração agrada, às vezes a música não me contagia, às vezes,
eu nem sei o que fazer, de verdade, ali dentro. Ora, é por isso, que o Pai vai
até a porta e diz: “entra na festa”. É aqui que você começa a experimentar uma
nova maneira de tratamento. Aos poucos, você se sente amado, aos poucos você
percebe o quanto Deus lhe dirige a sua atenção e a sua Palavra, e aos poucos,
vamos perceber, que Ele se imolou foi por nós mesmo. Ele entregou sua vida, foi
por nós. O Pai misericordioso é aquele que tem consciência das falhas dos
filhos, mas faz questão de ajuda-los a crescer. Não crescer somente em
estatura, em estudo, mas crescer no seu assumir. Olha o processo do filho mais
novo: “Eu vou dizer: pequei contra o céu, contra ti, não mereço ser chamado de
teu filho”. Ele confiou no Pai. É esta a grande mensagem de Jesus. Tem pessoas
que dizem: eu peco tanto, que, olha, i..., vai ser difícil Deus me aceitar no
céu. Não conhece esta parábola. É lógico, que é necessário se dar conta de
querer mudar de vida. Este filho confia no Pai. Nós confiamos? Ou como o filho
mais novo, ou, como o filho mais velho, qual é a minha relação com Deus? É isto
que a quarta semana da quaresma está nos propondo: ajudar a mostrar o quanto
Deus é misericordioso, a confiar nele e a mudar de vida. Caso contrário, vamos
continuar nos relacionando como qualquer outro, como pessoas que nunca ouviram
falar do Evangelho. Hoje, as pessoas acham que o Evangelho não faz falta. E, se
a sociedade não conhecer o Evangelho e eu conhecer, a realidade vai ser a
mesma. Nós dizemos: não. O Evangelho é necessário para que a sociedade possa
crescer na paz, na harmonia, possa crescer na solidariedade. Uma sociedade sem
Deus, é uma sociedade não desenvolvida. Muitos achem que falar do Evangelho é bobagem.
Isto precisa ser mudado. Caso contrário, nossa sociedade será cada vez mais
violenta e cada vez menos generosa. O Pai misericordioso está aguardando nossa
sociedade de braços abertos. O que eu posso fazer? Muitas coisas. Primeiro:
participe da Festa sempre. Segundo: ajude o irmão ou irmã a participar. Com
certeza, todos nós vamos nos sentir muito melhores.
Louvado seja
nosso Senhor Jesus Cristo.
PE. PEDRINHO
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Homilia de D. Henrique Soares
Homilia I
Este Domingo hodierno, caríssimos, marca como que o início de uma
segunda parte da Santa Quaresma. Primeiramente é chamado “Domingo
Laetare”, isto é “Domingo Alegra-te”, porque, no Missal, a antífona de
entrada traz as palavras do Profeta Isaías: “Alegra-te, Jerusalém!
Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria!
Saciai-vos com a abundância de suas consolações!” Um tom de júbilo na
sobriedade quaresmal! É que já estamos às portas “das festas que se
aproximam”. A Igreja é essa Jerusalém, convidada a reunir seus filhos
na alegria, pela abundância das consolações que a Páscoa nos traz! Este tom de
júbilo aparece nas flores que são colocadas hoje na igreja e na cor rosa dos
paramentos do celebrante.
Depois deste Domingo, o tom da Quaresma muda. A partir de amanhã, até a
Semana Santa, todos os evangelhos da Missa serão de São João. Isto porque o
Quarto Evangelho é, todo ele, como um processo entre os judeus e Jesus: os
judeus levarão Jesus ao tribunal de Pilatos. Este condena-lo-á, mas Deus haverá
de absolvê-lo e ressuscitá-lo! A partir de amanhã também, a ênfase da Palavra
de Deus que ouviremos na Missa da cada dia, deixa de ser a conversão, a
penitência, a oração e a esmola, para ser o Cristo no mistério de sua entrega
de amor, de sua angústia, ante a paixão e morte que se aproximam.
Em todo caso, não esqueçamos: a Quaresma conduz à Páscoa. A primeira
leitura da Missa no-lo recorda ao nos falar da chegada dos israelitas à Terra
Prometida. Eles celebraram a Páscoa ao partirem do Egito e, agora, chegando à
Terra Santa, celebram-na novamente. Aí, então, o maná deixou de cair do céu.
Coragem, também nós: estamos a caminho: nossa Terra Prometida é Cristo, nossa
Páscoa é Cristo, nosso maná é Cristo! Ele, para nós, é, simplesmente, tudo! Estão
chegando os dias solenes de celebração de sua Páscoa!
Quanto à liturgia da Palavra, chama-nos atenção hoje a parábola do filho
pródigo. Por que está ela aí, na Quaresma? Recordemos como Lucas começa: “Naquele
tempo, os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo. Os
fariseus, porém, e os escribas criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os
pecadores e faz refeição com eles’”. Então: de um lado, os pecadores,
miseráveis sem esperança ante Deus e ante os homens, que, agora, cheios de
esperança nova e alegria, aproximam-se de Jesus, que se mostra tão
misericordioso e compassivo. Do outro lado, os homens de religião, os
praticantes, que sentem como que ciúme e recriminam duramente a Jesus! É para
estes que Jesus conta a parábola, para explicar-lhes que o seu modo de agir, ao
receber os pecadores, é o modo de agir de Deus!
Quem é o Pai da parábola? É o Deus de Israel, o Pai de Jesus. Quem é o
filho mais novo? São os pecadores e publicanos. Este filho sem juízo deixou o
Pai, largou tudo, pensando poder ser feliz por si mesmo, longe de Deus,
procurando uma liberdade que não passava de ilusão. Como ele termina? Longe do
Pai, sozinho, humilhado e maltrapilho, sem poder nem mesmo comer lavagem de
porcos - recordemos que, para os judeus, os porcos são animais impuros! Mas, no
seu pecado, na sua loucura e na sua miséria, esse jovem é sincero e generoso:
caiu em si, reconheceu que o Pai é bom (como ele nunca tinha parado para
perceber), reconheceu também que era culpado, que fora ingrato... e teve coragem
de voltar: confiou no amor do Pai. Cheio de humildade, ele queria ser tratado
ao menos como um empregado! Esse moço tem muito a nos ensinar: a capacidade de
reconhecer as próprias culpas, a maturidade de não jogar a responsabilidade nos
outros, a coragem de arrepender-se, a disposição de voltar, confiando no amor
do Pai! Para cada filho que volta assim, o Pai prepara uma festa (a Páscoa) e o
novilho cevado (o próprio Cristo, cordeiro de Deus) e um banquete (a
Eucaristia) e a melhor veste (a veste alva do Batismo, cuja graça é renovada na
Reconciliação).
E o filho mais velho, quem é? São os escribas e fariseus, são os que
pensam que estão em ordem com o Pai e não lhe devem nada, são os que se acham
no direito de pensar que são melhores que os demais e, por isso, merecem a
salvação. O filho mais velho nunca amou de verdade o Pai: trabalhou com ele,
nunca saiu do lado dele, mas fazendo conta de tudo, jamais se sentindo íntimo
do Pai, de tudo foi fazendo conta para, um dia, cobrar a fatura: “Eu
trabalho para ti a tantos anos, jamais desobedeci qualquer ordem tua. E tu
nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos” O filho
nunca compreendera que tudo quanto era do Pai era seu... porque nunca amara o
Pai de verdade: agia de modo legalista, exterior, fazendo conta de tudo... E,
agora, rancoroso, não aceitava entrar na festa do Pai, no coração do Pai, no
amor do Pai, para festejar com o Pai a vida do irmão! O Pai insiste para que
entre... mas, os escribas e os fariseus não quiseram entrar na festa do Pai,
que Jesus veio celebrar neste mundo...
Quem somos nós, nesta parábola? Somos o filho mais novo e somos também o
mais velho! Somos, às vezes, loucos, como o mais jovem, e duros e egoístas,
como o mais velho. Pedimos perdão como o mais novo, e negamos a misericórdia,
como o mais velho. Queremos entrar na festa do Pai como o mais novo, e, às
vezes, temos raiva da bondade de Deus para com os pecadores, como o mais velho!
Convertamo-nos!
São Paulo nos ensinou na Epístola que, em Cristo, Deus reconciliou o
mundo com ele e fez de nós, criaturas novas. O mundo velho, marcado pelo
pecado, desapareceu. Em nome de Cristo, Paulo pediu – e eu vos suplico também: “Deixai-vos
reconciliar com Deus! Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado
por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus!”
Alegremo-nos, pois! Cuidemos de entrar na festa do Pai, que Cristo veio
trazer: peçamos perdão a Deus, demos perdão aos irmãos! “Como o Senhor vos
perdoou e acolheu, perdoai e acolhei vossos irmãos!” Deixemos que Cristo nos
renove, ele que é Deus bendito pelos séculos. Amém.
Homilia II
Caríssimos irmãos no Senhor, este é o
IV Domingo da Quaresma, chamado de Domingo “Laetare”. “Laetare””
– alegra-te, em latim... Na antífona de Entrada do Missal Romano, está escrito,
para a Missa deste hoje: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a
amais; vós, que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância
de suas consolações”. São palavras do Profeta Isaías, no capítulo 66... Tão
oportuno, amados meus, este convite à alegria a esta altura da Quaresma...
Pensando nos nossos pecados, pensando nos pecados de tantos na Igreja, pensando
em tantas de nossas infidelidades e em tantos escândalos que nos cortam o
coração, vem-nos a tentação do desânimo, de pensar até que a graça de Deus não
é forte o bastante para debelar o mal que se incrusta no nosso coração e no
coração do mundo... E, no entanto, o Senhor nos convida à alegria; convida a
Igreja, nova e eterna Jerusalém, à alegria, convida-nos a nós, que amamos a Mãe
católica - tão sofrida pelas fraquezas de seus filhos -, convida-nos a nós à
alegria: “Reuni-vos, vós todos que a amais; vós, que estais tristes, exultai de
alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”. Que consolações são
essas, irmãos? Que consolações são as da Igreja entre tanta desolação? Eis
quais são: aquelas que vêm do Senhor que é fiel, que se entregou por nós, que
amou a sua Igreja e nela permanece sempre com invencível fidelidade! E todo
aquele que se une ao Senhor e nele permanece pode experimentar tal consolação!
Caros irmãos, amados companheiros no
caminho de Cristo, na tribulação do combate desta vida, não é ilusória a
afirmação do Apóstolo na segunda leitura de hoje: “Se alguém está em Cristo, é
uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo!” Quem, nesta
santa Quaresma, estiver se entregando ao exercício espiritual, quem combatendo,
quem rezando mais, quem lutando contra os vícios, quem exercitando-se no amor
fraterno, pode experimentar a realidade dessa bendita novidade que Cristo nos
proporciona e gera em nós com a sua graça!
Somos frágeis, caríssimos! Às vezes,
como o filho mais novo da parábola de hoje, caímos na ilusão de pensar que
longe de Deus, fazendo por nossa conta e vivendo do nosso modo, seríamos mais
felizes. E, no entanto, somente perto dele é que teremos a paz e a alegria e
viver de verdade! Por isso mesmo o Pai entregou por nós o Filho único, o Filho
bendito, o Filho amado! Como é bom o nosso Deus! Ele não mata para nós o
novilho cevado; ele faz mais, faz o impensável, o inesperado: “Aquele Filho
bendito que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez vítima de pecado por nós,
para que nele nós nos tornemos justiça de Deus”. Eis, que mistério: na morte do
Cristo, no sangue do Filho amado nós fomos feitos justos, santos, diante de
Deus! A todos nós e a Igreja inteira o Senhor Deus pode dizer o que disse ao
povo de Israel na primeira leitura deste Domingo santo: “Hoje tirei de cima de
vós o opróbrio do Egito”. Sim, Senhor, tiraste de cima de nós o opróbrio de
nossa escravidão, aquela pior de todas, aquela do pecado! Obrigado, Senhor
Deus, que nos livraste da miséria na qual caímos por nossa própria culpa quando
nos afastamos de ti! Obrigado porque tiveste compaixão, e correste ao nosso
encontro com os braços abertos do teu Jesus, e nos calçaste as sandálias da
salvação, e nos deste a melhor roupa, aquela do nosso Batismo e nos deste o
banquete da Eucaristia, corpo do Cordeiro verdadeiro, que tira o pecado do
mundo e é alimento de vida eterna!
Queridos irmãos, reconheçamo-nos
pecadores. Mas, antes, reconheçamo-nos amados e acolhidos pelos braços abertos
do Senhor! Experimentemos com toda certeza que “em Cristo crucificado Deus reconciliou
o mundo consigo”, Deus nos deu o perdão e a paz verdadeira! E este amor
experimentado de modo interior, profundo e verdadeiro, seja transbordado para
os irmãos. Não sejamos de coração duro como o filho mais velho da parábola:
estava junto do pai exteriormente, era exteriormente obediente ao pai e, no
entanto, seu coração era sem afeto, sem amor, coração frio, calculista, pronto
para cobrar, ponto por ponto, tudo quanto fizera no trabalho do pai... Tão
distante, aquele moço, que não se sentia à vontade para pegar um cordeiro do
pai e festejar com os amigos; tão duro de coração, que não era capaz de chamar
o irmão que voltou de irmão...
Meus caros, em Cristo Deus nos
perdoou, em Cristo ele nos acolheu! Recebamos esse perdão bendito no sacramento
da Penitência e sejamos testemunhas desse perdão e da benevolência e
benignidade do nosso Deus pelo nosso modo de proceder em relação aos irmãos!
Eis aqui o motivo da alegria e do júbilo da Igreja, nossa Mãe católica: ver
seus filhos reconciliados com o Esposo Jesus, experimentar seus filhos vivendo
como irmãos! Alegra-te, Jerusalém do Alto, Cidade dos cristãos, Templo do
Senhor! Alegra-te! Que teus filhos em ti vivam todos como irmãos! Amém.
D. Henrique
Soares
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PARA A CELEBRAÇÃO
DA PALAVRA
(Diáconos
e ministros extraordinários da Palavra):
LOUVOR: (QUANDO O PÃO
CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS
AO PAI:
T: Senhor, sois o Pai
bondoso que aguarda nossa chegada.
- Ó Deus fiel, bondoso e compassivo. Libertastes o povo da escravidão
do Egito e lhe deste uma nova terra. Libertastes também a nós pelo batismo e
nos tornastes participantes de Vosso Reino. Nós vos damos graças. Somos o vosso
povo. No deserto os alimentastes com o maná e a nós nos alimentais com o Pão
descido do céu.
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Pai misericordioso e paciente, agradecemos a reconciliação que nos
deste por Jesus. Iluminai os nossos corações e fazei-nos capazes de perdoar e
amar aos nossos irmãos.
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Pai, enviai-nos o Espírito Santo para que, convertidos e iluminados
pela vossa sabedoria, saibamos caminhar seguindo os passos de Jesus e possamos
chegar ao vosso Reino.
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Pai nosso - À Paz
- EIS O CORDEIRO DE DEUS...
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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Certamente
estamos diante de uma das páginas mais conhecidas do evangelho de Lucas, mas ao
mesmo tempo de uma riqueza inesgotável. Ainda que a liturgia deste IV Domingo
da Quaresma faça apenas a proclamação da terceira parte do capítulo 15, é
imprescindível, para não perdemos o seu significado essencial, que o tenhamos
presente em toda a sua inteireza, pois nele encontramos uma única parábola,
ricamente plasmada em três tempos. É prova da intrínseca e necessária relação
entre esses três tempos, o fato de Jesus dirigir o seu ensinamento ao mesmo
grupo de ouvintes: “Publicanos e pecadores… Fariseus e os Mestres da Lei… Então,
contou-lhes esta parábola”. A separação formal entre os que
eram reconhecidos pecadores e aqueles que se pensavam santos e irrepreensíveis
é desfeita por esta única parábola. O Mestre derruba este muro de separação
hipócrita e conduz os seus ouvintes a um caminho de reconhecimento da sua
condição atual, isto é, todos são necessitados de “reconciliar-se com Deus” (2Cor 5,20), pois todos
estão perdidos.
Há,
porém, modos diferentes de perder-se: a ovelha perde-se no deserto, enquanto
que a dracma, dentro de casa. Assim, os publicanos e pecadores eram
considerados perdidos porque viviam longe da instituição religiosa, não
frequentavam o templo e não praticavam a Lei, assemelham-se, portanto, à ovelha
desgarrada no deserto. Porém, Jesus completa o quadro dos perdidos, quando
indica que há perdidos também dentro de casa: os fariseus e escribas, homens da
religião, de dentro da casa de Deus (templo, sinagoga). Portanto, esses dois
primeiros momentos indicam a condição idêntica de todas as pessoas: são
pecadoras e necessitadas de conversão, de reencontro, de retorno, de vida plena
cuja expressão máxima é uma alegria que se compartilha: “Chama os vizinhos e amigos, convoca amigas e vizinhas,
dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo…”, e alcança os céus: “Há mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se
converte…”
O
terceiro momento, o relato do pai e seus dois filhos, retoma a condição atual
da humanidade pecadora (perdida), sublinhando agora a causa dessa perda, isto
é, o seu pecado fundamental. O filho mais novo, representando os pecadores
(oficiais) e os publicanos, afastados de casa, assim como a ovelha tresmalhada,
vai para longe e se perde no deserto. O filho mais velho, representa os
observantes da Lei e, portanto, exemplar e irrepreensível, e é identificado com
a dracma que, mesmo estando dentro de casa, não vivia na comunhão nem com o seu
pai, a quem reconhece apenas como um senhor despótico: “Tantos anos que te sirvo, nunca desobedeci a qualquer ordem tua. E
tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos”;
nem com o seu irmão, a quem não reconhece mais como tal, pois refere-se a ele
apenas como: “Este teu filho”; não o chama
em nenhum momento de irmão, rejeitando assim absolutamente a fraternidade.
A
reconciliação entre os dois filhos perdidos e, portanto, idênticos no seu
pecado, é iniciativa do pai, assim como foi a procura árdua do pastor e a
diligente busca da mulher. Jesus, ao acolher os pecadores e sentar-se à mesa
com eles, abre espaço de reconciliação para todos, inclusive para aqueles que
não se reconhecem pecadores, mas necessitam de salvação. “E Deus realiza essa reconciliação em Cristo, não imputando aos
homens as suas faltas…” (2ª leitura). O pecado da humanidade,
indicado na parábola como uma perda, é, antes de tudo, perda da relação com
Deus e com os demais. A ovelha não se perdeu apenas do seu pastor, mas das
demais (99). Uma dracma perdida não era apenas prejuízo individual para a sua
dona, mas a sua falta quebrava a harmonia entre todas as outras, pois
certamente seria sentida no seu conjunto, sobretudo se fosse uma peça de um
colar. Portanto, não estamos diante de perdas simplesmente materiais, mas de
perdas que ferem a totalidade da relação. Por isso, a grande denúncia de Jesus
é o pecado que provoca a perda da comunhão com Deus (filiação) e com os irmãos
(fraternidade). Ambos os filhos estão perdidos, independente de onde e de como
se perderam. Ao sair de casa e exigir a sua parte na herança, o filho mais novo
renuncia a filiação, pois declara morto o seu pai, quebrando todos os vínculos
afetivos com ele e com a família. Não sendo mais filho, torna-se um escravo
cuja sobrevivência dependerá de um patrão: “Foi empregar-se com um homem
que o mandou cuidar dos porcos”. A humanidade quando rejeita a
sua filiação, escraviza-se nas mãos dos senhores do mundo, que permitem-lhe
sobreviver apenas a duras penas, negando-lhe dignidade e respeito.
O filho
mais velho rejeita a filiação, apesar de não sair de casa, quando reconhece que
na casa do seu pai é apenas um escravo, cumpridor de todas as normas, mas não
tem motivos para alegrar-se no seio familiar, por isso precisava de um cabrito
para festejar fora (“com meus amigos”).
Rejeitando a filiação, consequentemente assumem-se posturas que ferem a
fraternidade. O filho mais novo afastando-se de casa não terá mais um irmão com
o qual dividir os direitos, mas também deveres; não reconhece que apoderar-se
da herança antes do tempo e partir para longe era impedir que o seu irmão
pudesse usufruir também do que lhe pertencia, não reconheceu que o critério do
seu pai era outro: “O que é meu é teu”.
Preferiu gastar tudo sozinho, de forma egoísta, sem nenhuma possibilidade de
partilha com os que lhe eram mais próximos, e, por isso, perdeu tudo.
A
misericórdia do pai, ponto alto da parábola, anuncia a grande diferença do agir
de Deus, que está sempre disposto a nos readotar como filhos, para que nos
reconheçamos mais uma vez irmãos. Ele está disposto a fazer como o pastor ou a
mulher, que empreendem a sua busca com a certeza de que irão encontrar: “Procura até encontrar”. Assim faz Deus, nem
abandona os de casa nem condena os de fora. Contudo, não lhes impõe nada,
apenas busca, vai ao encontro com o seu amor que ultrapassa todas as barreiras
de tempo e distância. É significativo que filho, mesmo distante, toma a decisão
de voltar para casa porque descobre a proximidade do seu pai, que é bom para
com todos: “Na casa do meu pai até os empregados têm pão com fartura”.
O filho mais velho, condenando o irmão que saíra de casa, condena-se a si mesmo
quando rejeita a fraternidade e se exclui da família: “ficou com raiva e não queria
entrar”. Filhos idênticos no pecado, mas com a possiblidade de
fazerem uma experiência diferente graças a um pai diferente cuja misericórdia é
a mais forte expressão do seu poder. A única condição exigida é não negar que
são pecadores, para serem perdoados, acolhidos e recuperarem a verdadeira
alegria de serem irmãos, porque de Deus são filhos.
Pe.
André Vital Félix da Silva, SCJ. Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia
Universidade Gregoriana. Professor nos Seminários de Campina Grande-PB,
Caruaru-PE e João Pessoa-PB. Membro da Comissão Teológica Dehoniana Continental
– América Latina (CTDC-AL).