quinta-feira, 28 de março de 2019

4º DOMINGO DA QUARESMA ano C, Homilias, subsídios homiléticos


4º DOMINGO DA QUARESMA 2019 (Adaptado pelo Diácono Ismael )

SINOPSE:
Tema: “Deixai-vos reconciliar com Deus!” Deus que é Amor, quer conduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele.
Primeira leitura: Quem segue as orientações de Deus, alcança a Felicidade.
Evangelho: Deus nos ama e respeita a nossa liberdade de estar junto ou longe dele. Mesmo quando optamos nossa vida para longe dele, ele continua a nos esperar e a nos amar.
Segunda leitura: Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo.

PRIMEIRA LEITURA (Josué 5,9a.10-12) o Senhor disse a Josué: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito”. Os israelitas [ ] celebraram a Páscoa  [ ]  na planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa comeram dos produtos da terra, pães sem fermento e grãos tostados nesse mesmo dia. O maná cessou de cair no dia seguinte, quando comeram dos produtos da terra. Os israelitas não mais tiveram o maná. Naquele ano comeram dos frutos da terra de Canaã.

AMBIENTE - O livro narra a entrada na Terra Prometida. Utiliza o gênero épico (relatos enfáticos, exagerados, maravilhosos), os autores realçam a ação de Deus que cumpre as promessas feitas. É uma catequese sobre o amor de Deus. Os israelitas, vindos do deserto, atravessam o rio Jordão. Aproxima-se a celebração da primeira Páscoa na Terra Prometida.

MENSAGEM - É um Povo renovado, que reafirma sua aliança com Deus. O rito põe um ponto final na “desonra do Egito” e assinala um “tempo novo”. A Páscoa nessa terra livre, marca a nova etapa. Israel é agora um Povo novo; Livre e comprometido com Deus; sem escravidão.

ATUALIZAÇÃO • Somos convidados, neste tempo de Quaresma, a uma experiência semelhante à que fez o Povo de Deus de que fala a primeira leitura: é preciso pôr fim à etapa da escravidão e do deserto, a fim de passar, decisivamente, à vida nova, à vida da liberdade e da paz. E a circuncisão? A circuncisão física é um rito externo, que nada significa… O que é preciso é aquilo a que os profetas chamaram a “circuncisão do coração” (Dt 10,16; Jr 4,4; cf. Jr 9,25): trata-se da adesão plena da pessoa a Deus e às suas propostas; trata-se de uma verdadeira transformação interior que se chama “conversão”. O que é que é preciso “cortar” na minha vida ou na vida da minha comunidade cristã (ou religiosa) para que se dê início a essa nova etapa? O que é que ainda nos impede de celebrar um verdadeiro compromisso com o nosso Deus?
• A partir dessa “circuncisão do coração”, podemos celebrar com verdade a vida nova, a ressurreição. A celebração da Páscoa será, dessa forma, o anúncio e a preparação dessa Páscoa definitiva (a Páscoa escatológica), que nos trará a vida plena.

ATUALIZAÇÃO
Na Quaresma fazemos a experiência  deste povo que põe fim a escravidão e passa a uma nova vida de liberdade e paz.  Trata-se de uma transformação interior que se chama “conversão”.
A celebração da Páscoa será o anúncio dessa Páscoa escatológica, que nos trará a vida plena.

EVANGELHO (Lc 15,1-3.11-32) Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, os publicanos e pecadores aproximavam se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. Então Jesus contou-lhes esta parábola: “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão e fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um de teus empregados’. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou--o, e cobriu-o de beijos. O filho, então, lhe disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse ao empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: ‘É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde’. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: ‘Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’”.

AMBIENTE Lucas apresenta uma catequese sobre a bondade e o amor de Deus a todos os que a teologia oficial excluía. O ponto é a murmuração dos fariseus: “este homem acolhe os pecadores e come com eles”. Acolher os pecadores é escandaloso, na perspectiva dos fariseus; no entanto, comer com eles, estabelecer laços de familiaridade à volta da mesa, é algo de indizível… A conclusão dos fariseus é óbvia: Jesus não pode vir de Deus, pois, na perspectiva da doutrina tradicional, os pecadores não podem aproximar-se de Deus. É neste contexto que Jesus apresenta a “parábola do Pai Misericordioso” – (não é parábola do filho pródigo, como dizem) (Só LUCAS FALA)

MENSAGEM - O personagem central é o Pai, que respeita a liberdade dos filhos, com um amor gratuito. Continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do filho. Esse amor manifesta-se na emoção do abraço no filho que volta, no “anel” que é símbolo da autoridade e nas sandálias, que é o calçado do homem livre.
O filho mais novo é ingrato e exige mais do que tem direito (a lei previa que o filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai e a posse se dá só depois da morte deste). Além disso, abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de total irresponsabilidade. Acaba por perceber o vazio, o sem sentido dessa vida de egoísmo e resolve voltar ao encontro do amor do pai.
O filho mais velho é o filho “certinho”, que, que cumpriu todas as regras. No entanto, a sua lógica é a lógica da “justiça” e não a lógica da “misericórdia. Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não aceita que o pai tenha misericórdia e acolha do filho rebelde. É a imagem dos fariseus que interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca a Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus.
A “parábola diz que Deus é o Pai bondoso, que respeita a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para procurar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar e a esperar o regresso dos filhos rebeldes. Quando  voltam, acolhe-os com amor e reintegra-os na sua família. É esse Deus de amor, de bondade, de misericórdia, que encontramos quando voltamos. A parábola pretende que ajamos com misericórdia, com amor, no julgamento que fazemos dos nossos irmãos.

ATUALIZAÇÃO ♦ Pai que respeita as decisões desse filho que abandona a casa paterna; O amor que está sempre lá, fiel, preparado para abraçar o filho que volta. Quaresma é um tempo de nos voltarmos a esse Deus que nos ama.
 É uma frustração viver longe do amor do “Pai”, no egoísmo, no materialismo, na autossuficiência. Não é nos bens deste mundo, mas é na comunhão com o “Pai” que encontramos a felicidade e a paz.
♦Deus não age na justiça dos homens, mas na misericórdia, na compreensão e no amor. Sendo imagem e semelhança também devemos agir com amor.

SEGUNDA LEITURA (2Cor 5,17-21) Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. E tudo vem de Deus, que, por Cristo, nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando aos homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação. Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.

AMBIENTE - Por volta de 57, Paulo é informado de que seu ministério é desafiado e dirige-se para Corinto. O confronto é violento e Paulo é injuriado por um membro da comunidade. Paulo parte para Éfeso. Depois envia Tito a Corinto, a fim de tentar a reconciliação. Quando Tito regressa e diz que a questão foi ultrapassada, Paulo, aliviado, escreve esta Carta aos Coríntios, fazendo uma apologia do seu apostolado. Neste texto transparece essa necessidade de reconciliação.

MENSAGEM - A leitura é “reconciliação”. Mas, para além da reconciliação entre os coríntios e Paulo, é necessária a reconciliação entre os coríntios e Deus. Daí o convite para que os coríntios se deixem reconciliar com Deus. “Em Cristo”, Deus ofereceu aos homens a reconciliação; aderir à proposta de Cristo é acolher a oferta de reconciliação que Deus fez. Ser cristão implica estar reconciliado com Deus e com os irmãos. Isto significa ser uma criatura nova, uma pessoa renovada: os homens têm necessidade de viver em paz uns com os outros; mas dificilmente o conseguirão, se não viverem em paz com Deus. Cristo pela cruz arrancou-nos do domínio do pecado e transformou-nos em homens novos. Ao ser morto na cruz pela Lei, Cristo mostrou como a Lei só produz morte; e pela cruz, Jesus ensinou-nos ao amor total,  libertando-nos do egoísmo que impede a reconciliação com Deus e com os irmãos.

ATUALIZAÇÃO Deus, apesar das nossas infidelidades, continua a propor-nos um projeto de comunhão e de amor.
É “em Cristo” que somos reconciliados com Deus. Na cruz, Cristo ensinou-nos a obediência total ao Pai e o amor total aos homens. Dessa lição deve nascer o Homem Novo, o homem que vive na obediência aos projetos de Deus e no amor aos outros.
A comunhão com Deus exige a reconciliação com os irmãos.

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Sede misericordiosos

A Liturgia é um convite à RECONCILIAÇÃO.

As leituras mostram os caminhos da Reconciliação:
O Amor de Deus Pai se manifesta dando uma pátria ao povo de Israel, uma casa paterna ao filho que volta e uma personalidade nova em Cristo.
Como resposta, o homem celebra o dom de Deus, reconhece seu pecado e volta arrependido aos braços do Pai e reconhece que a iniciativa da reconciliação vem de Deus por meio de Cristo reconciliador.

Na 1ª Leitura Deus se reconcilia com o seu Povo. (Jos 5,9a.10-12)

Israel celebra pela 1ª vez a Páscoa na Terra Prometida.
Antes, os nascidos no deserto, ainda não circuncidados, devem passar pela circuncisão, como sinal da Aliança e de pertença ao Povo eleito. Assim TODOS poderiam celebrar a Páscoa, como início de uma vida nova.

* A Quaresma é tempo de retificar os caminhos e nos reconciliar com Deus.
O Povo de Israel caminhou pelo deserto, buscou a liberdade e, no final, chegou à terra prometida. Nela celebrou a Páscoa. E nós, novo povo de Deus, que páscoa, que terra, que libertação procuramos?

A 2ª Leitura é um Hino que enaltece a Misericórdia de Deus, que nos deu a vida em Cristo e recomenda:
"DEIXAI-VOS RECONCILIAR com Deus". (2Cor 5,17-21)
* Ser cristão é aceitar essa Reconciliação com Deus, em Cristo.
   A comunhão com Deus exige a reconciliação com os outros irmãos.

No Evangelho, o PAI se reconciliou com o filho e convidou os filhos se reconciliarem entre eles. (Lc 15,1-3.11-32)

Um grupo de fariseus e escribas criticava Jesus, pela atenção especial que dava aos marginalizados, muitas vezes tidos  como "pecadores pela sociedade de então.
- Jesus responde com três parábolas (Ovelha, Moeda e Filho Pródigo), que revelam a grande bondade e MISERICÓRDIA de Deus, que sai à procura do perdido

A Parábola do PAI MISERICORDIOSO (ou do Filho Pródigo) narra 2 cenas: o Filho mais novo e o Filho mais velho,  unidas pela ação do PAI, que é o centro do relato:

+ O Filho mais novo, numa atitude de orgulho e de desprezo...  afastou-se do Pai, da família e da comunidade...
   Renunciou à sua posição de filho e foi "para longe"...
- Sonhou sua felicidade com uma vida de independência e de liberdade, e voltou espoliado, esfarrapado, faminto e sem dignidade...
- "Longe" da casa do Pai, não encontrou a felicidade desejada.
  A fome fez ter saudades da casa do Pai e a lembrança da bondade do Pai o animou a voltar...
+ O Filho mais velho é um "bom filho", sóbrio, obediente e trabalhador...  mas não é um bom irmão. Não aceita a volta do irmão, nem mesmo o amor do Pai, que o acolheu...

+ O Pai é o personagem central:  Sai ao encontro dos DOIS FILHOS:

   - CORRE "movido de compaixão" ao encontro do Filho mais novo...
     Abraça-o... Beija-o... Manda buscar roupa, calçado, o anel, para que o filho seja restituído em sua dignidade de filho.
     E faz uma FESTA para celebrar na alegria a sua volta...

   - VAI também ao encontro do Filho mais velho...
     Suplica-lhe que entre... Convida-o para a festa... Para a alegria...

* Podemos abandonar a nossa dignidade de filhos.   Deus não abandona a sua missão de Pai.
   Deus sai à procura dos perdidos e festeja porque são resgatados...
   A ação do Pai reflete a atitude de Jesus e deve ser também a nossa.

- Quem é esse jovem, que num desejo de liberdade e felicidade,  vai longe do pai, da família, da comunidade e de Deus...  E quando sente o vazio em que se encontra, começa a sentir saudades da casa do pai?

- Quem é esse irmão mais velho, "bom praticante", mas mau irmão, que não se alegra com o retorno do irmão arrependido, e até tenta impedir a volta de quem se desgarrou na vida?
  Quantos filhos pródigos (Jovens) continuam ainda hoje pródigos, perdidos, longe da casa do Pai... Porque não há quem acredite neles e vá ao seu encontro, ajudando-os a descobrirem os valores da vida e da fé...

  * Talvez sejamos um pouco dos dois: Todos temos um pouco do pecado do mais novo e da intransigência do mais velho.

+ O Evangelho de hoje nos convida a imitar o gesto do Pai:
   - que respeita a liberdade e as decisões dos seus filhos...
   - que continua a amar e a esperar o regresso dos filhos rebeldes.    
   - que está sempre preparado para abraçar os filhos que retornam..
   - que os acolhe com amor e os reintegra na sua família.
   - que festeja com alegria a sua volta...

Acolhendo os apelos de conversão da Quaresma e da Palavra de Deus,  a nossa celebração será sempre um verdadeiro banquete para celebrar na alegria a volta ao Pai e à comunidade dos filhos pródigos que estavam perdidos, mas que voltaram à vida pela Bondade de Deus e pela Acolhida dos irmãos.

                                       Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe. Pedrinho

Irmãos e irmãs, estamos dando o quarto passo na caminhada quaresmal; Entramos na quarta semana. Este Evangelho é muito conhecido de todos nós. É conhecido como a parábola do Filho pródigo. Na verdade, é uma maneira equivocada de identificar esta parábola. Porque Jesus não está interessado em falar dos filhos, mas está interessado em apresentar quem é o Pai. muitas vezes, a gente se prende na atitude de um filho ou de outro e deixamos de lado o que é fundamental: conhecer o Pai, conhecer a Deus. Jesus vem para inaugurar uma festa, que é uma festa eterna. O Reino de Deus não se acaba e celebra-se o Reino de Deus com festa, mas uma festa um pouco diferente daquela, que normalmente, estamos acostumados. Porque a festa que nós estamos acostumados, nos servimos de alimentos, que depois se acabam. Enquanto que na festa que Deus promove, o alimento é eterno, o Pão é eterno. É muito interessante observar a primeira leitura, onde o Maná foi o alimento de salvação de Deus. Eles não tinham o que comer no deserto e Deus providenciou o Maná. Mas, o Maná acabou um dia. Por que? Porque todo alimento um dia se acaba. Ora, Jesus vem oferecer um alimento que não acaba: o Pão da vida, o Pão descido do céu, o seu corpo e o seu sangue: aquilo que celebramos, cada vez que nos reunimos ao redor do altar. Esta é a festa. Evidente, que ainda não conseguimos vislumbrar a grandeza plena desta festa. Só consegue participar plenamente desta festa, quem está junto de Deus. É por isso, que celebramos sétimo dia, vigésimo dia, aniversário de falecimento. Não é pela alma da pessoa, mas celebrando com ela o encontro com o Pai misericordioso nesta festa plena. Nós participamos aqui, claro, não plenamente, mas com certa dificuldade, porque ainda não temos o encontro face a face com Deus e pior, ainda trazemos conosco o pecado.
A segunda leitura é para nos questionar profundamente. Ela diz, que somos nascidos de Cristo, somos homens e mulheres novos. Isto tem nos preocupado bastante, porque ninguém contesta isto, mas nem todos vivem a vida nova gerada em Deus.
Qual é a diferença entre nós e aqueles que não crêem no Cristo? Às vezes, nós nem sabemos perceber as diferenças. Muitas vezes, nos apresentamos como filhos obedientes a Deus, mas sequer sabemos fazer a sua vontade. O que nos preocupa mais, é que, muitas vezes transmitimos isto para as novas gerações. Será por nada, que a juventude anda com tanta dificuldade, será por nada, que as crianças enfrentam tantos desafios? Ainda ontem assistimos cenas de tiroteios nas ruas de nosso bairro e ninguém está comentando isto. Vocês perceberam? Quando alguém fala, outro diz: ali sempre acontece. Virou rotina. Ora, estes filhos vieram de onde? Certamente, não nasceram em chocadeira. E, as suas famílias? Não estou julgando, nem responsabilizando nenhuma, mas, como será que elas vivem? Por que eles aprenderam a acertar as diferenças na bala? Aprenderam onde isto? Certamente não foi do pai misericordioso. O filho mais novo, no Evangelho, tem todos os motivos para ser jogado no esquecimento. Primeiro, ele prejudicou todo mundo, porque quando ele pede sua parte na herança,  simplesmente, ele está levando consigo, algo que o pai batalhou bastante para conquistar e de uma forma indireta está prejudicando o filho mais velho, que com a parte dos dois poderia crescer um pouco mais o patrimônio. No entanto, ele quis a parte dele e esbanjou tudo de forma irresponsável. Então, ele tem todos os motivos para nós o condenarmos; “vamos acerta-lo na bala”. Não foi assim, que Jesus nos ensinou. O que nos ensinou? Que o Pai está, ali, sempre para acolhê-lo e resgatá-lo com vida. Esta prática é de quem nasce em Jesus Cristo: apostar, sempre, na vida.
Por outro lado, temos o filho mais velho, que é exemplar, não dá nenhum trabalho, mas não está disposto a entrar na festa. Quantos de nós, que somos pessoas honestas, trabalhadoras, que de fato, honram os nossos compromissos, mas dizem: “na missa (celebração Eucarística) eu não vou não”. “não quero entrar na festa”. Por que não quer entrar na festa? Porque na festa acolhem os filhos que dão trabalho. Quanto mais eu me distancio da festa, menos eu compreendo quem é Jesus, menos eu entendo qual é a sua vontade e menos eu sei praticar a fé, que eu digo ter, que eu professo. Este encontro nosso, ele PODE ser às vezes monótono, nem sempre o presidente da Celebração agrada, às vezes a música não me contagia, às vezes, eu nem sei o que fazer, de verdade, ali dentro. Ora, é por isso, que o Pai vai até a porta e diz: “entra na festa”. É aqui que você começa a experimentar uma nova maneira de tratamento. Aos poucos, você se sente amado, aos poucos você percebe o quanto Deus lhe dirige a sua atenção e a sua Palavra, e aos poucos, vamos perceber, que Ele se imolou foi por nós mesmo. Ele entregou sua vida, foi por nós. O Pai misericordioso é aquele que tem consciência das falhas dos filhos, mas faz questão de ajuda-los a crescer. Não crescer somente em estatura, em estudo, mas crescer no seu assumir. Olha o processo do filho mais novo: “Eu vou dizer: pequei contra o céu, contra ti, não mereço ser chamado de teu filho”. Ele confiou no Pai. É esta a grande mensagem de Jesus. Tem pessoas que dizem: eu peco tanto, que, olha, i..., vai ser difícil Deus me aceitar no céu. Não conhece esta parábola. É lógico, que é necessário se dar conta de querer mudar de vida. Este filho confia no Pai. Nós confiamos? Ou como o filho mais novo, ou, como o filho mais velho, qual é a minha relação com Deus? É isto que a quarta semana da quaresma está nos propondo: ajudar a mostrar o quanto Deus é misericordioso, a confiar nele e a mudar de vida. Caso contrário, vamos continuar nos relacionando como qualquer outro, como pessoas que nunca ouviram falar do Evangelho. Hoje, as pessoas acham que o Evangelho não faz falta. E, se a sociedade não conhecer o Evangelho e eu conhecer, a realidade vai ser a mesma. Nós dizemos: não. O Evangelho é necessário para que a sociedade possa crescer na paz, na harmonia, possa crescer na solidariedade. Uma sociedade sem Deus, é uma sociedade não desenvolvida. Muitos achem que falar do Evangelho é bobagem. Isto precisa ser mudado. Caso contrário, nossa sociedade será cada vez mais violenta e cada vez menos generosa. O Pai misericordioso está aguardando nossa sociedade de braços abertos. O que eu posso fazer? Muitas coisas. Primeiro: participe da Festa sempre. Segundo: ajude o irmão ou irmã a participar. Com certeza, todos nós vamos nos sentir muito melhores.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

PE. PEDRINHO

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Homilia de D. Henrique Soares

Homilia I
Este Domingo hodierno, caríssimos, marca como que o início de uma segunda parte da Santa Quaresma. Primeiramente é chamado “Domingo Laetare”, isto é “Domingo Alegra-te”, porque, no Missal, a antífona de entrada traz as palavras do Profeta Isaías: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações!” Um tom de júbilo na sobriedade quaresmal! É que já estamos às portas “das festas que se aproximam”. A Igreja é essa Jerusalém, convidada a reunir seus filhos na alegria, pela abundância das consolações que a Páscoa nos traz! Este tom de júbilo aparece nas flores que são colocadas hoje na igreja e na cor rosa dos paramentos do celebrante.

Depois deste Domingo, o tom da Quaresma muda. A partir de amanhã, até a Semana Santa, todos os evangelhos da Missa serão de São João. Isto porque o Quarto Evangelho é, todo ele, como um processo entre os judeus e Jesus: os judeus levarão Jesus ao tribunal de Pilatos. Este condena-lo-á, mas Deus haverá de absolvê-lo e ressuscitá-lo! A partir de amanhã também, a ênfase da Palavra de Deus que ouviremos na Missa da cada dia, deixa de ser a conversão, a penitência, a oração e a esmola, para ser o Cristo no mistério de sua entrega de amor, de sua angústia, ante a paixão e morte que se aproximam.
Em todo caso, não esqueçamos: a Quaresma conduz à Páscoa. A primeira leitura da Missa no-lo recorda ao nos falar da chegada dos israelitas à Terra Prometida. Eles celebraram a Páscoa ao partirem do Egito e, agora, chegando à Terra Santa, celebram-na novamente. Aí, então, o maná deixou de cair do céu. Coragem, também nós: estamos a caminho: nossa Terra Prometida é Cristo, nossa Páscoa é Cristo, nosso maná é Cristo! Ele, para nós, é, simplesmente, tudo! Estão chegando os dias solenes de celebração de sua Páscoa!
Quanto à liturgia da Palavra, chama-nos atenção hoje a parábola do filho pródigo. Por que está ela aí, na Quaresma? Recordemos como Lucas começa: “Naquele tempo, os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo. Os fariseus, porém, e os escribas criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’”. Então: de um lado, os pecadores, miseráveis sem esperança ante Deus e ante os homens, que, agora, cheios de esperança nova e alegria, aproximam-se de Jesus, que se mostra tão misericordioso e compassivo. Do outro lado, os homens de religião, os praticantes, que sentem como que ciúme e recriminam duramente a Jesus! É para estes que Jesus conta a parábola, para explicar-lhes que o seu modo de agir, ao receber os pecadores, é o modo de agir de Deus!
Quem é o Pai da parábola? É o Deus de Israel, o Pai de Jesus. Quem é o filho mais novo? São os pecadores e publicanos. Este filho sem juízo deixou o Pai, largou tudo, pensando poder ser feliz por si mesmo, longe de Deus, procurando uma liberdade que não passava de ilusão. Como ele termina? Longe do Pai, sozinho, humilhado e maltrapilho, sem poder nem mesmo comer lavagem de porcos - recordemos que, para os judeus, os porcos são animais impuros! Mas, no seu pecado, na sua loucura e na sua miséria, esse jovem é sincero e generoso: caiu em si, reconheceu que o Pai é bom (como ele nunca tinha parado para perceber), reconheceu também que era culpado, que fora ingrato... e teve coragem de voltar: confiou no amor do Pai. Cheio de humildade, ele queria ser tratado ao menos como um empregado! Esse moço tem muito a nos ensinar: a capacidade de reconhecer as próprias culpas, a maturidade de não jogar a responsabilidade nos outros, a coragem de arrepender-se, a disposição de voltar, confiando no amor do Pai! Para cada filho que volta assim, o Pai prepara uma festa (a Páscoa) e o novilho cevado (o próprio Cristo, cordeiro de Deus) e um banquete (a Eucaristia) e a melhor veste (a veste alva do Batismo, cuja graça é renovada na Reconciliação).
E o filho mais velho, quem é? São os escribas e fariseus, são os que pensam que estão em ordem com o Pai e não lhe devem nada, são os que se acham no direito de pensar que são melhores que os demais e, por isso, merecem a salvação. O filho mais velho nunca amou de verdade o Pai: trabalhou com ele, nunca saiu do lado dele, mas fazendo conta de tudo, jamais se sentindo íntimo do Pai, de tudo foi fazendo conta para, um dia, cobrar a fatura: “Eu trabalho para ti a tantos anos, jamais desobedeci qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos” O filho nunca compreendera que tudo quanto era do Pai era seu... porque nunca amara o Pai de verdade: agia de modo legalista, exterior, fazendo conta de tudo... E, agora, rancoroso, não aceitava entrar na festa do Pai, no coração do Pai, no amor do Pai, para festejar com o Pai a vida do irmão! O Pai insiste para que entre... mas, os escribas e os fariseus não quiseram entrar na festa do Pai, que Jesus veio celebrar neste mundo...
Quem somos nós, nesta parábola? Somos o filho mais novo e somos também o mais velho! Somos, às vezes, loucos, como o mais jovem, e duros e egoístas, como o mais velho. Pedimos perdão como o mais novo, e negamos a misericórdia, como o mais velho. Queremos entrar na festa do Pai como o mais novo, e, às vezes, temos raiva da bondade de Deus para com os pecadores, como o mais velho! Convertamo-nos!
São Paulo nos ensinou na Epístola que, em Cristo, Deus reconciliou o mundo com ele e fez de nós, criaturas novas. O mundo velho, marcado pelo pecado, desapareceu. Em nome de Cristo, Paulo pediu – e eu vos suplico também: “Deixai-vos reconciliar com Deus! Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus!”
Alegremo-nos, pois! Cuidemos de entrar na festa do Pai, que Cristo veio trazer: peçamos perdão a Deus, demos perdão aos irmãos! “Como o Senhor vos perdoou e acolheu, perdoai e acolhei vossos irmãos!” Deixemos que Cristo nos renove, ele que é Deus bendito pelos séculos. Amém.

Homilia II

Caríssimos irmãos no Senhor, este é o IV Domingo da Quaresma, chamado de Domingo “Laetare”. “Laetare”” – alegra-te, em latim... Na antífona de Entrada do Missal Romano, está escrito, para a Missa deste hoje: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós, que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”. São palavras do Profeta Isaías, no capítulo 66... Tão oportuno, amados meus, este convite à alegria a esta altura da Quaresma... Pensando nos nossos pecados, pensando nos pecados de tantos na Igreja, pensando em tantas de nossas infidelidades e em tantos escândalos que nos cortam o coração, vem-nos a tentação do desânimo, de pensar até que a graça de Deus não é forte o bastante para debelar o mal que se incrusta no nosso coração e no coração do mundo... E, no entanto, o Senhor nos convida à alegria; convida a Igreja, nova e eterna Jerusalém, à alegria, convida-nos a nós, que amamos a Mãe católica - tão sofrida pelas fraquezas de seus filhos -, convida-nos a nós à alegria: “Reuni-vos, vós todos que a amais; vós, que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”. Que consolações são essas, irmãos? Que consolações são as da Igreja entre tanta desolação? Eis quais são: aquelas que vêm do Senhor que é fiel, que se entregou por nós, que amou a sua Igreja e nela permanece sempre com invencível fidelidade! E todo aquele que se une ao Senhor e nele permanece pode experimentar tal consolação!
Caros irmãos, amados companheiros no caminho de Cristo, na tribulação do combate desta vida, não é ilusória a afirmação do Apóstolo na segunda leitura de hoje: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo!” Quem, nesta santa Quaresma, estiver se entregando ao exercício espiritual, quem combatendo, quem rezando mais, quem lutando contra os vícios, quem exercitando-se no amor fraterno, pode experimentar a realidade dessa bendita novidade que Cristo nos proporciona e gera em nós com a sua graça!
Somos frágeis, caríssimos! Às vezes, como o filho mais novo da parábola de hoje, caímos na ilusão de pensar que longe de Deus, fazendo por nossa conta e vivendo do nosso modo, seríamos mais felizes. E, no entanto, somente perto dele é que teremos a paz e a alegria e viver de verdade! Por isso mesmo o Pai entregou por nós o Filho único, o Filho bendito, o Filho amado! Como é bom o nosso Deus! Ele não mata para nós o novilho cevado; ele faz mais, faz o impensável, o inesperado: “Aquele Filho bendito que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez vítima de pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus”. Eis, que mistério: na morte do Cristo, no sangue do Filho amado nós fomos feitos justos, santos, diante de Deus! A todos nós e a Igreja inteira o Senhor Deus pode dizer o que disse ao povo de Israel na primeira leitura deste Domingo santo: “Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito”. Sim, Senhor, tiraste de cima de nós o opróbrio de nossa escravidão, aquela pior de todas, aquela do pecado! Obrigado, Senhor Deus, que nos livraste da miséria na qual caímos por nossa própria culpa quando nos afastamos de ti! Obrigado porque tiveste compaixão, e correste ao nosso encontro com os braços abertos do teu Jesus, e nos calçaste as sandálias da salvação, e nos deste a melhor roupa, aquela do nosso Batismo e nos deste o banquete da Eucaristia, corpo do Cordeiro verdadeiro, que tira o pecado do mundo e é alimento de vida eterna!
Queridos irmãos, reconheçamo-nos pecadores. Mas, antes, reconheçamo-nos amados e acolhidos pelos braços abertos do Senhor! Experimentemos com toda certeza que “em Cristo crucificado Deus reconciliou o mundo consigo”, Deus nos deu o perdão e a paz verdadeira! E este amor experimentado de modo interior, profundo e verdadeiro, seja transbordado para os irmãos. Não sejamos de coração duro como o filho mais velho da parábola: estava junto do pai exteriormente, era exteriormente obediente ao pai e, no entanto, seu coração era sem afeto, sem amor, coração frio, calculista, pronto para cobrar, ponto por ponto, tudo quanto fizera no trabalho do pai... Tão distante, aquele moço, que não se sentia à vontade para pegar um cordeiro do pai e festejar com os amigos; tão duro de coração, que não era capaz de chamar o irmão que voltou de irmão...
Meus caros, em Cristo Deus nos perdoou, em Cristo ele nos acolheu! Recebamos esse perdão bendito no sacramento da Penitência e sejamos testemunhas desse perdão e da benevolência e benignidade do nosso Deus pelo nosso modo de proceder em relação aos irmãos! Eis aqui o motivo da alegria e do júbilo da Igreja, nossa Mãe católica: ver seus filhos reconciliados com o Esposo Jesus, experimentar seus filhos vivendo como irmãos! Alegra-te, Jerusalém do Alto, Cidade dos cristãos, Templo do Senhor! Alegra-te! Que teus filhos em ti vivam todos como irmãos! Amém.
D. Henrique Soares

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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e ministros extraordinários da Palavra):


LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Ó Deus fiel, bondoso e compassivo. Libertastes o povo da escravidão do Egito e lhe deste uma nova terra. Libertastes também a nós pelo batismo e nos tornastes participantes de Vosso Reino. Nós vos damos graças. Somos o vosso povo. No deserto os alimentastes com o maná e a nós nos alimentais com o Pão descido do céu.
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Pai misericordioso e paciente, agradecemos a reconciliação que nos deste por Jesus. Iluminai os nossos corações e fazei-nos capazes de perdoar e amar aos nossos irmãos.
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Pai, enviai-nos o Espírito Santo para que, convertidos e iluminados pela vossa sabedoria, saibamos caminhar seguindo os passos de Jesus e possamos chegar ao vosso Reino.
T: Senhor, sois o Pai bondoso que aguarda nossa chegada.
- Pai nosso    - À Paz    - EIS O CORDEIRO DE DEUS...


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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Certamente estamos diante de uma das páginas mais conhecidas do evangelho de Lucas, mas ao mesmo tempo de uma riqueza inesgotável. Ainda que a liturgia deste IV Domingo da Quaresma faça apenas a proclamação da terceira parte do capítulo 15, é imprescindível, para não perdemos o seu significado essencial, que o tenhamos presente em toda a sua inteireza, pois nele encontramos uma única parábola, ricamente plasmada em três tempos. É prova da intrínseca e necessária relação entre esses três tempos, o fato de Jesus dirigir o seu ensinamento ao mesmo grupo de ouvintes: “Publicanos e pecadores… Fariseus e os Mestres da Lei… Então, contou-lhes esta parábola”. A separação formal entre os que eram reconhecidos pecadores e aqueles que se pensavam santos e irrepreensíveis é desfeita por esta única parábola. O Mestre derruba este muro de separação hipócrita e conduz os seus ouvintes a um caminho de reconhecimento da sua condição atual, isto é, todos são necessitados de “reconciliar-se com Deus” (2Cor 5,20), pois todos estão perdidos.

Há, porém, modos diferentes de perder-se: a ovelha perde-se no deserto, enquanto que a dracma, dentro de casa. Assim, os publicanos e pecadores eram considerados perdidos porque viviam longe da instituição religiosa, não frequentavam o templo e não praticavam a Lei, assemelham-se, portanto, à ovelha desgarrada no deserto. Porém, Jesus completa o quadro dos perdidos, quando indica que há perdidos também dentro de casa: os fariseus e escribas, homens da religião, de dentro da casa de Deus (templo, sinagoga). Portanto, esses dois primeiros momentos indicam a condição idêntica de todas as pessoas: são pecadoras e necessitadas de conversão, de reencontro, de retorno, de vida plena cuja expressão máxima é uma alegria que se compartilha: “Chama os vizinhos e amigos, convoca amigas e vizinhas, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo…”, e alcança os céus: “Há mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte…
O terceiro momento, o relato do pai e seus dois filhos, retoma a condição atual da humanidade pecadora (perdida), sublinhando agora a causa dessa perda, isto é, o seu pecado fundamental. O filho mais novo, representando os pecadores (oficiais) e os publicanos, afastados de casa, assim como a ovelha tresmalhada, vai para longe e se perde no deserto. O filho mais velho, representa os observantes da Lei e, portanto, exemplar e irrepreensível, e é identificado com a dracma que, mesmo estando dentro de casa, não vivia na comunhão nem com o seu pai, a quem reconhece apenas como um senhor despótico: “Tantos anos que te sirvo, nunca desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos”; nem com o seu irmão, a quem não reconhece mais como tal, pois refere-se a ele apenas como: “Este teu filho”; não o chama em nenhum momento de irmão, rejeitando assim absolutamente a fraternidade.

A reconciliação entre os dois filhos perdidos e, portanto, idênticos no seu pecado, é iniciativa do pai, assim como foi a procura árdua do pastor e a diligente busca da mulher. Jesus, ao acolher os pecadores e sentar-se à mesa com eles, abre espaço de reconciliação para todos, inclusive para aqueles que não se reconhecem pecadores, mas necessitam de salvação. “E Deus realiza essa reconciliação em Cristo, não imputando aos homens as suas faltas…” (2ª leitura). O pecado da humanidade, indicado na parábola como uma perda, é, antes de tudo, perda da relação com Deus e com os demais. A ovelha não se perdeu apenas do seu pastor, mas das demais (99). Uma dracma perdida não era apenas prejuízo individual para a sua dona, mas a sua falta quebrava a harmonia entre todas as outras, pois certamente seria sentida no seu conjunto, sobretudo se fosse uma peça de um colar. Portanto, não estamos diante de perdas simplesmente materiais, mas de perdas que ferem a totalidade da relação. Por isso, a grande denúncia de Jesus é o pecado que provoca a perda da comunhão com Deus (filiação) e com os irmãos (fraternidade). Ambos os filhos estão perdidos, independente de onde e de como se perderam. Ao sair de casa e exigir a sua parte na herança, o filho mais novo renuncia a filiação, pois declara morto o seu pai, quebrando todos os vínculos afetivos com ele e com a família. Não sendo mais filho, torna-se um escravo cuja sobrevivência dependerá de um patrão: “Foi empregar-se com um homem que o mandou cuidar dos porcos”. A humanidade quando rejeita a sua filiação, escraviza-se nas mãos dos senhores do mundo, que permitem-lhe sobreviver apenas a duras penas, negando-lhe dignidade e respeito.
O filho mais velho rejeita a filiação, apesar de não sair de casa, quando reconhece que na casa do seu pai é apenas um escravo, cumpridor de todas as normas, mas não tem motivos para alegrar-se no seio familiar, por isso precisava de um cabrito para festejar fora (“com meus amigos”). Rejeitando a filiação, consequentemente assumem-se posturas que ferem a fraternidade. O filho mais novo afastando-se de casa não terá mais um irmão com o qual dividir os direitos, mas também deveres; não reconhece que apoderar-se da herança antes do tempo e partir para longe era impedir que o seu irmão pudesse usufruir também do que lhe pertencia, não reconheceu que o critério do seu pai era outro: “O que é meu é teu”. Preferiu gastar tudo sozinho, de forma egoísta, sem nenhuma possibilidade de partilha com os que lhe eram mais próximos, e, por isso, perdeu tudo.
A misericórdia do pai, ponto alto da parábola, anuncia a grande diferença do agir de Deus, que está sempre disposto a nos readotar como filhos, para que nos reconheçamos mais uma vez irmãos. Ele está disposto a fazer como o pastor ou a mulher, que empreendem a sua busca com a certeza de que irão encontrar: “Procura até encontrar”. Assim faz Deus, nem abandona os de casa nem condena os de fora. Contudo, não lhes impõe nada, apenas busca, vai ao encontro com o seu amor que ultrapassa todas as barreiras de tempo e distância. É significativo que filho, mesmo distante, toma a decisão de voltar para casa porque descobre a proximidade do seu pai, que é bom para com todos: “Na casa do meu pai até os empregados têm pão com fartura”. O filho mais velho, condenando o irmão que saíra de casa, condena-se a si mesmo quando rejeita a fraternidade e se exclui da família: “ficou com raiva e não queria entrar”. Filhos idênticos no pecado, mas com a possiblidade de fazerem uma experiência diferente graças a um pai diferente cuja misericórdia é a mais forte expressão do seu poder. A única condição exigida é não negar que são pecadores, para serem perdoados, acolhidos e recuperarem a verdadeira alegria de serem irmãos, porque de Deus são filhos.
Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ. Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Professor nos Seminários de Campina Grande-PB, Caruaru-PE e João Pessoa-PB. Membro da Comissão Teológica Dehoniana Continental – América Latina (CTDC-AL).


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