quinta-feira, 31 de outubro de 2019

FIÉIS DEFUNTOS Ano C 2019, homilias, subsídios homiléticos


COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS Ano C 2019

PRIMEIRA LEITURA (Jó 19,1.23-27a) Leitura do Livro de Jó
Jó tomou a palavra e disse: “Gostaria que minhas palavras fossem escritas e gravadas numa inscrição com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na rocha para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”.

Os amigos de Jó tentam consolá-lo, recorrendo a uma sabedoria superficial, expressa em frases feitas e lugares comuns. É o que tantas vezes acontece quando pretendemos confortar alguém que sofre. As palavras de Jó são muito diferentes. No meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e trespassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor, aquele parente próximo que, segundo os costumes hebreus, deve comprometer-se a resgatar, à sua própria custa, ou a vingar, o seu familiar em caso de escravidão, de pobreza, de assassínio. Jó sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Jó afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de quem não é estranho à sua vida.

SALMO RESPONSORIAL [Sl 26(27) – Lecionário Dominical, n.3]
Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes.
• O Senhor é minha luz e salvação; / de quem eu terei medo? / O Senhor é a proteção da minha vida; / perante quem eu tremerei?
• Ao Senhor eu peço apenas uma coisa / e é só isto que eu desejo: / habitar no santuário do Senhor / por toda a minha vida; / saborear a suavidade do Senhor / e contemplá-lo no seu templo.
• Ó Senhor, ouvi a voz do meu apelo, / atendei por compaixão! / É vossa face que eu procuro. / Não afasteis em vossa ira o vosso servo, / sois vós o meu auxílio!
• Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver / na terra dos viventes. / Espera no Senhor e tem coragem, / espera no Senhor.

EVANGELHO (Jo 6, 37-40) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, disse Jesus às multidões: “Todos os que o Pai me confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei. Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Pois esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”.

O centro desta perícope é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.

Meditação
O silêncio é a melhor atitude perante a morte. Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e revelando-nos a linguagem do amor, põe-nos em comunhão profunda com esse mistério. Há um laço muito forte entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se estabelece entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que se instalam mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá onde habita a Santíssima Trindade.

O centro desta perícope é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.

SEGUNDA LEITURA (Rm 5,5-11 – Lecionário Domincal, n.1)
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos, a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores. Muito mais agora, que já estamos justificados pelo sangue de Cristo, seremos salvos da ira por ele. Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho; quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida! Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. É por ele que, já desde o tempo presente, recebemos a reconciliação.

O homem pode ter esperança diante da morte. Como intuiu Jó, Deus é, de verdade, o nosso Redentor, porque nos ama. Empenhou-se em resgatar-nos da escravidão do pecado e da morte com o preço do sangue do seu Filho (vv. 6-9) e de modo absolutamente gratuito. De fato, nós éramos pecadores, ímpios, inimigos; mas o Senhor reconheceu-nos como "seus", e morreu por nós arrancando-nos à morte eterna. Acolhemos esta graça por meio do batismo, participando no mistério pascal de Cristo. A sua morte reconciliou-nos com o Pai, e a sua ressurreição permite-nos viver como salvos. Quebrando os laços do pecado, e deixando-nos guiar pelo Espírito derramado em nossos corações, atualizamos cada dia a graça do nosso novo nascimento.

Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a "morte quotidiana" revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta "morte quotidiana" que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
Para o cristão, o sofrimento é um tempo de "disponibilidade pura", de "pura oblação" e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados "a Cristo na morte" (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma "morte bonita", tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma "liturgia esquálida", de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte "para Cristo e em Cristo" (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz: "Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb 9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: "Se morrermos com Ele, com Ele viveremos" (2 Tm 2, 11).

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Homilia de D. Henrique Soares da Costa

Hoje, a Igreja recolhe-se em oração pelos seus filhos que já partiram desta vida. Para os cristãos, não se trata de um simples dia de saudade, mas de oração pelos fiéis de Cristo que já partiram para a Casa do Pai na firme esperança da ressurreição. Vêm à nossa mente e ao nosso coração tantas perguntas: Que é a morte? Que é a vida que termina com a morte? O que há após a morte? São interrogações que devemos responder à luz da fé.
Num mundo que já não crê e não tem quase nada a dizer sobre a vida e sobre a morte, a Palavra de Deus nos ilumina: “Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros, que não têm esperança” (1Ts 4,13). O cristão não pode encarar a morte como os pagãos; nós temos uma esperança, e ela se chama Jesus Cristo, aquele que disse “eu sou a Ressurreição, eu sou a Vida” (Jo 11,25)!
Recordemos algumas certezas fundamentais da nossa fé:
(1) Deus é vida, criou tudo para a vida. Ele não é o autor da morte, não entende nada de morte, não tem parte com a morte (cf. Sb 1,13-15). Pelo contrário, a morte é a separação do Deus da vida, como as trevas são a separação da luz do sol. “Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do Diabo que a morte entrou no mundo: experimentam-na aqueles que lhe pertencem” (Sb 2,23s). Deus pensou para nós somente o bem e a felicidade com ele! O homem, ao fechar-se desde o princípio, para o Deus da vida, desarrumou-se, desaprumou-se e passou a experimentar sua vida como uma morte: desequilíbrio, dor, egoísmo, solidão, medo, doença, falta de sentido e, finalmente, a morte física... O salário do nosso pecado foi uma situação de morte, de infelicidade, de incoerência e tristeza, que culmina com a morte física. Basta olhar o mundo ao nosso redor!
(2) Isto não significa que, se não tivéssemos pecado, viveríamos aqui para sempre. Deus não nos criou para vivermos aqui indeterminadamente: “O Senhor tirou o homem da terra e a ela faz voltar novamente. Deu aos homens número preciso de dias e tempo determinado” (Eclo 17,1s). Deus nos deu um número preciso de dias, um tempo de vida. Mas, uma coisa é certa: sem o pecado, vivendo na amizade com Deus e na harmonia com os outros e o mundo, nossa morte não teria o gosto amargo de morte. Se hoje a morte tem um aspecto trágico, é porque está ligada ao pecado, ao nosso afastamento de Deus. Por isso a morte nos mete medo e, muitas vezes, é sentida como uma ameaça de cair no nada.
(3) Mas, Deus não nos abandonou à morte: ele nos enviou o seu Filho, em tudo igual a nós, menos no pecado. Ele tomou sobre si as nossas dores, viveu nossa vida mortal, de incertezas, de tristezas, de angústias, de morte. Morrendo de nossa morte, ele foi ressuscitado pelo Pai na força do Espírito Santo. Morrendo da nossa morte, ele nos deu a possibilidade e a graça de morrer como ele e com ele ressuscitar da morte: “Eu sou a ressurreição! Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá!” (Jo 11,25). Desde o Batismo, unidos a Cristo morto e ressuscitado, alimentados pelo seu corpo e sangue na Eucaristia, sabemos que “nem a morte nem a vida nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Cristo” (Rm 8,38s).
Esta é a nossa esperança: vivermos unidos a Cristo já agora e, após a nossa morte, ressuscitar nele e com ele, nele e como ele! Como o Senhor foi glorificado no seu corpo e na sua alma pela potência do Espírito Santo, assim também nós seremos glorificados: logo após a nossa morte, na nossa alma, nunca mais sentiremos o medo, a tristeza, a dor, o pranto... e, no fim dos tempos, também no nosso corpo mortal seremos glorificados: “semeado corruptível, ressuscitará corpo incorruptível; semeado desprezível, ressuscitará reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,42-44). Sermos glorificados significa entrar na plenitude de Cristo, na alegria de Cristo, na eternidade de Cristo! Isto, para nós, é o Paraíso: estar para sempre com o Senhor!
Irmãos, Irmãs, rezemos hoje pelos nossos queridos que já morreram; rezemos por todos os fiéis que já partiram para o Cristo: que recebam o perdão de seus pecados e entrem na plenitude de Deus. A Sagrada Escritura diz que “é um santo e piedoso pensamento rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados” (2Mc 12,46). Que nosso carinho e nossa saudade sejam acompanhados pela nossa piedosa oração, cheia de esperança na ressurreição.
Mas, pensemos também na nossa vida, no destino que estamos dando à nossa existência, pois nosso encontro com o Senhor é preparado no dia-a-dia, nos pequenos momentos de nosso caminho neste mundo. São Bernardo de Claraval afirmava que nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Pois bem! Estejamos atentos para viver de tal modo, que nossa vida seja uma amizade com Deus que começa aqui e se consumará na glória!
Voltemos nosso olhar e nosso pensamento para Cristo, vencedor da nossa morte. As palavras do Prefácio da missa de hoje são tão consoladoras: Em Cristo “brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus, um corpo imperecível”.Que o Senhor realize a nossa esperança e que nós vivamos de tal modo, que sejamos dignos dela!
Descanso eterno dai-lhes, Senhor!
Da luz perpétua, o resplendor!
Que suas almas descansem em paz.   Assim seja!
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Participando da vida de Cristo
Rezar pelos mortos é mostrar nossa fé na Ressurreição. Esta fé nos garante a vida: “Eu sou a Ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo o que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês nisso? Sim, Senhor, eu creio firmemente que Tu és o Messias, o Filho de Deus que deve vir ao mundo” (Jo 11,25-27). Ter fé é, no ensinamento de João, ter a Vida Eterna: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia… Aquele que crê tem a Vida eterna” (Jo 6,44.47). Ter a Vida Eterna é participar de Cristo que é a vida. A celebração dos mortos mostra com clareza que acreditamos na Vida de Cristo em nós. A narrativa da ressurreição de Lázaro vai além de um caso de amizade que termina numa ressurreição, mas é a demonstração da garantia de nossa ressurreição. Na oração da missa pedimos a Deus: “aumentai nossa fé no Cristo ressuscitado para que seja mais viva a nossa esperança na Ressurreição dos vossos filhos e filhas”. Queremos, com a celebração de hoje celebrar o sacramento pascal, a Eucaristia, para que os falecidos cheguem à luz e à paz da casa do Pai (pós-comunhão).
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No dia em que celebramos os mortos, tudo fala de vida, de modo que podemos afirmar, que morrer é viver. A razão disso tudo é a pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Hoje de modo especial, recordamos os nossos falecidos. Uma lembrança de carinho e piedade. A Igreja sempre nos ensinou a rezar no Credo: “Creio na comunhão dos santos... e na vida eterna”. O que significa isso? Quer dizer que nós, que peregrinamos nesta Terra, estamos em comum união, em comunhão com os que terminaram esta vida, seja os que alcançaram a glorificação, seja os que ainda precisam de purificação. A criatura humana não é feita para a morte, mas para a vida eterna. E Jesus foi claro quando disse: “Deus não é um deus dos mortos, mas dos vivos”. A morte biológica não é o fim do ser humano. Tudo é possível se a morte não é o fim. Apesar da fé, é natural que nos pese a ausência física de pessoas que amamos e já não estão neste mundo. Não celebramos nossos mortos como quem lembra de alguém que se foi e nunca mais se verá. Cremos num encontro que está carinhosamente preparado pelo Pai e que podemos rezar uns pelos outros, vivos e mortos, porque continuamos sendo todos membros da mesma família de filhos e filhas de Deus. 

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Toda eucaristia é ação de graças. Esta de hoje nos faz agradecer a Deus por todas aquelas pessoas que encarnaram para nós o rosto de Cristo. Olhamos para eles na luz da gratidão. Muitos de nós, quando foram provados pela separação de uma pessoa querida, tiveram que aprender a oração de Santo Agostinho: “Senhor, não vos pergunto por que ma tirastes, mas vos agradeço por ma terdes dado.”

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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
A celebração do Mistério Pascal nos faz mergulhar na dimensão profunda da nossa realidade com todos os seus aspectos e dimensões, mas também nos proporciona a participação na vida de Deus, Senhor da morte e da vida. Na Eucaristia não falta nada, não há espaços vazios, pois todo o mistério de Cristo ilumina a totalidade do mistério da vida humana. Portanto, a realidade da morte e da vida está sempre presente em cada Eucaristia. Nela a Igreja renova a sua consciência e fé de ser Corpo de Cristo e, portanto, do qual nada a poderá separar, nem a vida e nem mesmo a morte (Rm 8,38). Respeitando a sensibilidade e os limites da própria experiência humana, e seguindo uma longa Tradição, a Igreja neste dia faz uma memória especial dos seus membros que já atravessaram o limiar da última experiência da existência terrena. A Eucaristia deste dia não é apenas ocasião para reacender em nós a certeza de que um dia morreremos ou mesmo para reavivar a tristeza no nosso coração por causa da morte dos nossos entes queridos. Para isto não se faria necessário a Eucaristia; tantos neste dia farão essa experiência sem necessariamente participarem de uma missa.
A contemplação da morte e ressurreição de Cristo nos coloca noutra perspectiva. Não fazemos apenas a constatação que há a morte, e que dela ninguém escapará, mas somos desafiados a crer na vida que não morre. Pois esta é a certeza fundamental para se admitir a verdade morte.  Talvez nos cause estranheza a comemoração deste dia, já que se ressalta tanto a morte; será que isso não seria contraditório para aqueles que creem que a morte já foi derrotada pelo Cristo vitorioso? A tendência a minimizar a morte ou os malabarismos cosméticos para fazer de conta que a sua dor não existe representam hoje uma das mais sutis expressões da alienação humana. Enquanto o ser humano não se abrir para o mistério da morte como momento decisivo para reafirmar as convicções da vida, ele viverá sempre fugindo dela, alimentando a ilusão infantil de que poderá driblá-la ou, sentindo-se onipotente, prolongá-la para sempre aqui na terra, isto se pareceria com a insensatez de uma mãe que não quer permitir que o seu filho saia do seu ventre, pensando que fora daquele pequeno mundo não haveria outra felicidade.
Diante dessa alienação, só resta uma angústia insuportável ou um desespero enlouquecedor. A sociedade alienada, que é incapaz de olhar para o horizonte mais amplo que toca o céu, tenta sedar a angústia de um ser humano enfeitiçado pelo pouco que saboreia aqui na terra. Por isso, transforma os cemitérios, cujas cruzes lembravam que a morte foi destruída pela morte Daquele que ressuscitou, em jardins botânicos ou corredores de um bosque florido a fim de criar um clima “agradável” aos seus visitantes, que não podem ser impactados com sinais que lembrem que ali estão depositados os corpos dos seus entes queridos, que aguardam o grande dia da ressurreição também para eles e não apenas esperam brotar como belas flores, que de manhã crescem vicejantes, mas que à tarde logo secam (Sl 89).
O medo de encarar aquilo que São Francisco declarou irmã leva o ser humano a ser inimigo do seu próprio destino, e não podendo negá-lo, apela de modo deliberado e covarde para a perda da sua consciência embriagando-se de calmantes e ansiolíticos. Preferem evitar as lágrimas e a dor do momento, tão naturais ao ser humano, para passar o resto da vida tentando preencher um vazio que fora cavado na alma por causa de uma ausência efetiva e afetiva que artifícios da sociedade alienada lhe ofereceram para impedi-lo de ter dor e se permitir sofrer por ocasião da morte de um dos seus. A fé cristã nos oferece uma outra possibilidade de encarar a morte: a certeza de que a vida não morre; crer na eternidade é um sinal de que se vive bem, que se descobriu o real sentido que a vida tem: ser semente de eternidade.
É possível imaginar a sede sem a água, a fome sem o alimento, o calor sem o frio, o frio sem o aquecimento? Se fosse assim, a vida não existiria ou seria apenas um terrível momento de angústia, de busca sem sentido. Como seria torturante necessitar, buscar, sem encontrar! “Como a corça suspira por águas correntes, minha vida suspira por ti, ó meu Deus” (Sl 42,2).
A própria experiência da humanidade, ao longo de sua história, tem demonstrado que, além da sede e da fome e de tantas outras necessidades fundamentais, no coração humano está inscrito um irresistível desejo de vida plena. E se é verdade que só temos sede porque existe água, do mesmo modo, só desejamos que a vida não morra, porque existe a eternidade. A morte sem a fé na vida tornar-se-ia a grande ironia da existência humana. Assim como uma cova não pode reter a semente nela depositada, pois no momento certo irromperá com força e vitalidade, tornando-se planta madura e frutífera, assim também um túmulo não é capaz de aprisionar alguém cuja vida foi marcada por tantas lutas, tantos esforços, tanta beleza e encanto.
“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24)Crer na ressurreição não é uma atitude alienante para suavizar a dor de ingênuos, mas a atitude mais coerente de quem crê na vida e, portanto, reconhece os seus anseios mais profundos e não os nega, e não admite o absurdo de que a morte seja a última palavra da sua existência; reconhece a sede, mas não se recusa a beber na fonte.
“Quem tiver sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim… do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,37). A fé na ressurreição é o caminho que conduz o sedento à fonte. A sede e a fome não podemos negar, mas comer e beber podemos optar. A fé não nos faz crer na morte, mas na vida que não morre!


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Para a Celebração da Palavra (Diáconos e Ministros extraordinários da Palavra)
Louvor: (Quando O Pão consagrado estiver sobre o altar)
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Senhor, queremos hoje pedir por aqueles que desapareceram no mistério da morte. Dái o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam pelo teu infinito amor.
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Que nossos amigos e parentes descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz,
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Também vos agradecemos por nos ter dado a companhia destes que partiram que tanto nos ajudaram nesta vida. Agrademos por tudo o eles nos ensinaram. Apagai, senhor, os seus erros e acolhei-os na glória eterna.
T: Senhor, sois a nossa esperança.

Pai nosso ... A Paz de Cristo....   Eis o Cordeiro de Deus....



TODOS OS SANTOS, homilias, subsídios homiléticos


31º  DOMINGO do TC SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS ano 2019
SINOPSE: (Diácono Ismael)

TEMA: Todos os Santos; Dia de contemplar os nossos heróis na fé. “Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro.” Todos os Santos é a festa de todos aqueles que procuram, em cada dia, amar a Deus e os seus irmãos.
Primeira leitura: João recorre a uma visão para descrever nossos heróis na fé.
Evangelho: Jesus nos fala das bem-aventuranças no Reino.
Segunda leitura: João nos diz que pelo batismo somos filhos de Deus e nós nem podemos imaginar a felicidade que nos aguarda.

PRIMEIRA LEITURA (Ap 7,2-4.9-14) Leitura do Livro do Apocalipse de São João.
Eu, João, vi um outro anjo, que subia do lado onde nasce o sol. Ele trazia a marca do Deus vivo e gritava, em alta voz, aos quatro anjos que tinham recebido o poder de danificar a terra e o mar, dizendo-lhes: “Não façais mal à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus”. Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: eram cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. Todos proclamavam com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”. Todos os anjos estavam de pé, em volta do trono e dos Anciãos e dos quatro seres vivos e prostravam- se, com o rosto por terra, diante do trono. E adoravam a Deus, dizendo: “Amém. O louvor, a glória e a sabedoria,
a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém!” E um dos Anciãos falou comigo e perguntou: “Quem são esses vestidos com roupas brancas? De onde vieram?” Eu respondi: “Tu é que sabes, meu senhor”. E então ele me disse: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.

Breve comentário – Em meio às perseguições o profeta traz esperança. É uma linguagem codificada, que evoca Roma (Babilônia). Proclama a vitória do Cordeiro que transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que O seguem, e eles são numerosos; participam do seu triunfo, numa festa eterna.
1- «O selo (o sinete de marcar); nesta marca, em forma de cruz, o caráter batismal.
2- «Cento e quarenta e quatro mil» é simbólico; 12 x 12 x 1000 e são a mesma «multidão imensa que ninguém podia contar» (v. 9).
3 «Os (24) Anciãos».12 as tribos de Israel e 12 todas as tribos do mundo.
4- «Os 4 Viventes», os quatro pontos cardeais, ou os quatro elementos do mundo (terra, fogo, água e ar), isto é, a totalidade do Universo; única adoração e louvor a Deus.
6- «A grande tribulação»; perseguição violenta no curso da história da Igreja.
7- «Lavaram as suas túnicas no sangue do Cordeiro». Todos alcançaram a purificação através do sangue do crucificado, pois aceitaram Jesus e sua vida foi um esforço contínuo de conversão na imitação do Mestre Divino.

As primeiras perseguições tinham feito destruições cruéis nas comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades, acabadas de fundar, desaparecer? As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de esperança nesta provação. É uma linguagem codificada, que evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear diretamente, aplicando-lhe o qualificativo de Babilônia.
A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que o seguem, em particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.

SALMO RESPONSORIAL / 23 (24)
É assim a geração dos que procuram o Senhor.
• Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra, / o
mundo inteiro com os seres que o povoam, / porque
ele a tornou firme sobre os mares; / sobre as águas a
mantém inabalável.
• “Quem subirá até o monte do Senhor, / quem ficará
em sua santa habitação?” / “Quem tem mãos puras e
inocente coração, / quem não dirige sua mente para
o crime.
• Sobre este desce a bênção do Senhor / e a recompensa
de seu Deus e Salvador”. / “É assim a geração dos que
o procuram / e do Deus de Israel buscam a face”.

EVANGELHO (Mt 5,1-12a) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem- aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem- aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem- aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

AMBIENTE - Mateus nos lembra a montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo a nova Lei que deve guiar a todos.
MENSAGEM
Jesus proclama “bem-aventurados” os que estão de espírito aberto para acolher a proposta que Deus lhes oferece em Jesus; não colocam sua confiança na riqueza, no poder, no êxitos, mas sua esperança em Deus.
1- «Os pobres em espírito». Quem se apresenta diante de Deus com uma atitude humilde, sem méritos pessoais, pecador, necessitado do perdão divino, da misericórdia de Deus. Daí que: pobre não é o sem bens, mas o que não se apega a ele; tudo é de Deus. Se colocou nas mãos de Deus, para servir os irmãos e partilhar tudo com eles; partilha; não explora, não mente e sente compaixão dos necessitados.
***• Jesus diz: “felizes os pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes os que tem dinheiro, comodidade, poder, segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais poderosos, mais livres e mais felizes”.
2 «Os humildes». Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, mas os que não aceitam as injustiças dos poderosos, mas agem com amor, sem violência, para a construção da paz; Sabe compreender, perdoar.
***• Jesus diz: “felizes os mansos”; o mundo diz: “felizes os que sabem responder com força ainda maior a uma violência e a injustiça. 
3 «Os que choram», os que têm o coração cheio de mágoa por terem ofendido a Deus e que vivem na aflição, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; O cristão não se conforma diante do sofrimento dos outros. Ele se aflige, mas nem por isso perde a alegria, a esperança e a felicidade. O egoísta fala: “Senhor, obrigado por eu ter comida na mesa, quando há tantos que não tem”. O cristão fala o contrário: “Senhor, eu lhe agradeço este alimento, mas me preocupo com os que não tem.  Senhor, Abra o nosso coração à partilha!”
***• Jesus diz: “felizes os que choram”; o mundo diz: Feliz quem  faz da vida uma festa chic,  alta sociedade, amigos poderosos, uma boa conta bancária e um bom emprego arranjado pelo amigo político”.
4 «Fome e sede de justiça». Os que anseiam o projeto de Deus. A idéia de justiça é uma idéia de natureza religiosa: justo é aquele que cumpre a vontade de Deus. Ele anseia por uma sociedade nova e luta por ela, para que todos tenham o que lhe é necessário.
***• Jesus diz: “felizes os que têm sede de justiça”; o mundo diz: feliz quem não está bitolado por uma religião. Religião já era. Felizes os que não dependem de preconceitos ultrapassados e não acreditam num deus que diz o que deveis e não deveis fazer; Sois livres.
 5 Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros; sentem como suas as alegrias e as tristezas dos irmãos e Deus também terá misericórdia dele.
***• Jesus diz: “felizes os que têm misericórdia”; o mundo diz: “felizes os que ficam longe dos miseráveis e sofredores, pois quem se comove e tem misericórdia dos outros nesse mundo competitivo nunca será grande”. 
6 «Os puros de coração» são aqueles que agem com honestidade e não enganando.   Não é falso nem engana ninguém, mas é verdadeiro e transparente. Estes verão a Deus porque Deus é assim.
***• Jesus diz: “felizes os sinceros de coração”; o mundo diz: A lei é dos espertos. “A verdade e a sinceridade destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso”. 
7 «Os que promovem a paz» (pacíficos): Os que procuram ser instrumentos de reconciliação. Se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; Na família, nos vizinhos, na Comunidade, no País, no mundo. Ele une os separados e integra os excluídos.
***• Jesus diz: “felizes os que constroem a paz”; o mundo diz: o que vale é a força e o poder. Cada um por si. “Quem pode mais chora menos, pois só assim podereis ser homens e mulheres de sucesso”.
8- Os “que são perseguidos por causa da justiça” são os que sofrem a injustiça dos homens. São os que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, por aqueles que praticam a injustiça.
***• Jesus diz: “felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: Feliz é quem faz o jogo dos poderosos, pois sobe na carreira e tem êxito na vida.
As “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; a libertação está  chegando.

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Bem-aventurados vós, os pobres de coração, porque vosso é o Reino de Deus!”.
Jesus Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar (fé, esperança e caridade).
 O pobre é aquele que “tem fé” em Deus.
Pobre é o que reconhece a sua limitação, faz a leitura de toda realidade criada e de sua própria existência, e vê a sua limitação, pois tudo foi criado e ele próprio é um ser criado, não por sua vontade, mas por outro projeto que não foi o seu. Ele vê que existe alguém mais poderoso, mais capaz e deparando com sua fragilidade de criatura, acredita na bondade desse Criador. Acreditando, parte e grita em direção a este Deus no meio de seu sofrimento ou da sua confusão. É aquele que confia sempre em Deus, pois se sente pequeno.
 O pobre é também aquele que espera.
O rico não pode esperar, está plenamente satisfeito. O pobre, esse, está sempre virado para um futuro que espera que seja melhor; depois, ele procura, porque pensa nunca ter totalmente encontrado. A sua vida é uma procura e todos os sinais que ele encontra enchem-no de alegria e fazem-no avançar. O pobre é aquele que aceita ser criticado pela Palavra de Deus, sabe de sua pequenez e espera pela misericórdia desse Deus que o criou, pois só nele e com ele terá a plenitude da felicidade.
 O pobre é aquele que ama.
Por não estar plenamente satisfeito consigo mesmo, crendo no Deus Criador de tudo e de todos, vê no próximo o irmão. Sabendo de sua limitação, pois tudo que tem lhe foi dado, imita o criador na bondade e serve ao irmão com o que lhe foi dado. Não centra em si o interesse, mas abre os olhos e vê aqueles que esperam os seus gestos de amor; ouve os gritos dos seus irmãos e abre as suas mãos do pouco que tem para àquele que tem necessidade. Quem é pobre Crê, confia, espera e ama seu Criador e seu irmão.

As bem-aventuranças nos diz que: “Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! É certo que sereis perseguidos ou, pelo menos, rir-se-ão de vós, ou procurarão fazer-vos calar. Sereis felizes, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos”. Queremos experimentar ser já felizes? Basta-nos ter um coração de pobre.

SEGUNDA LEITURA (1Jo 3,1-3) Leitura da Primeira Carta de São João.
Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai. Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. Todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.

Breve comentário - Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos.
1 «E o somos de fato». S. João não se contenta com dizer que somos chamados filhos de Deus, pois para ele ser chamado (por Deus) equivalia a ser. 
2 A filiação divina capacita-nos para a glória do Céu, pois não é uma mera adoção legal e extrínseca, como a adoção humana de um filho. A adoção divina implica uma participação da natureza divina (cf. 2 Pe 1, 4) pela graça. «Semelhantes a Deus», mas só na glória celeste se tornará patente o que já «agora somos».
3 «Purifica-se a si mesmo». A certeza da filiação divina conduz-nos à purificação e à imitação de Cristo, o Filho de Deus por natureza: «como Ele é puro»; efetivamente, os puros de coração hão-de ver a Deus (cf. Evangelho de hoje: Mt 5, 8).
Pelo batismo fomos identificados com Cristo, filho de Deus. Logo também, nós o somos de direito e de fato. A nossa preocupação na terra há-de ser a de imitarmos Jesus Cristo. É uma luta todos os dias porque ainda se não nos manifestou o que havemos de ser pois que só no céu o conseguiremos. A multidão incontável de que nos fala S. João, são os nossos irmãos que venceram o que temos a vencer, lutaram como temos que lutar. Em Jesus Cristo fomos chamados por Deus à filiação divina, chamados a ser herdeiros no Céu. O mistério da nossa salvação é uma realidade a construir. É um trabalho árduo que, depende da nossa fé, do nosso querer. Deus quer contar com a nossa colaboração, com o nosso querer. A única dificuldade está na nossa liberdade que Deus respeita. Deus não nos falta com a Sua ajuda e por isso teremos o prêmio, seremos bem-aventurados.
“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram nem o homem pode imaginar o que Deus preparou para aqueles que o ama" (1 Cor2,9). "Agora vemos como num espelho, mas depois veremos face a face" (13,12).

A santidade tem duas dimensões:
A Santidade não é fruto do esforço humano. É ação de Deus Espírito Santo e resposta do cristão.
A nossa fé nos ensina que somente Deus é Santo. Na Bíblia, “santo” significa, “separado”. São João: “Quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”.
Nesta perspectiva Eis quem são os santos: aqueles que atravessaram as lutas desta vida, unidos a Cristo; são os que venceram em Cristo –;se caíram, se erraram, foram lavando e alvejando suas vestes no sangue de Cristo: só em Cristo somos santificados, pois somente Cristo derrama sobre nós o Espírito de santidade. O nosso único trabalho é lutar para acolher esse Espírito, deixando-nos guiar por ele e por ele sermos transfigurados em Cristo!
Realmente, o que faz feliz o coração humano não são as coisas desse mundo, mas o sentido na vivencia e na utilização dessas coisas. A mulher que vai ao salão de beleza e espera durante algumas horas para que a deixem bem bonita, é feliz; ela se submete a esse pequeno sacrifício por um bem maior.
Há coisas que levam à autêntica felicidade e outras que levam a uma aparente felicidade
Existe também uma “educação para a felicidade”. Há fases árduas, “chatas” que nos fazem felizes, como tomar um remédio amargo ou ir à escola. No momento não se percebe que é assim, mas com o passar do tempo estamos felizes e agradecidos por estar sadios e por não sermos burros.
Nossos heróis e modelos venceram e correram para o Cristo! Que eles roguem por nós, pois o que eles foram, nós somos e o que eles são, todos nós somos chamados a ser. Todos os Santos e Santas de Deus, rogai por nós!
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Todos os Santos

A Solenidade de TODOS OS SANTOS é a festa da Vida e celebra a plenitude da Vida cristã e a Santidade de Deus manifestada em seus filhos, os santos da Igreja.

Celebramos, como uma antecipação e em comunhão com a liturgia celeste,
a vitória daqueles irmãos nossos que superaram "a grande tribulação",
e estão marcados com o selo do Deus vivo.
Recordamos aqueles que vivem para sempre diante de Deus,
entre os quais, se encontram nossos entes queridos que já faleceram.
Nossa fé é culto à Vida, porque o nosso Deus é um Deus dos vivos e
pelo Espírito nos dá a Vida em Cristo Jesus ressuscitado dentre os mortos.
Por isso a festa de hoje é um convite total à alegria esperançosa,
que nasce das profundezas da Vida, da aspiração da felicidade sem ocaso.

A Fonte da santidade cristã é Deus:  
A santidade tem seu início, seu crescimento e consumação
na graça de Deus, no amor gratuito do Senhor, que derrama seu Espírito
em nossos corações para que possamos chamá-lo "Pai",
pois nos faz seus filhos em seu Filho Jesus Cristo (LG 14,2).
Portanto, a santidade não é mero produto de nosso esforço somente,
nem tão pouco resultado automático da graça, mas efeito da ação de Deus.

A santidade tem duas dimensões:
A Santidade não é fruto do esforço humano,
que procura alcançar Deus com suas forças.
É ação de Deus em nós pelo dom do Espírito Santo e
resposta do cristão a esse dom e presença de Deus.
A Santidade cristã manifesta-se como uma participação na vida de Deus,
que se realiza com os meios que a Igreja nos oferece,
especialmente com os Sacramentos.

A Morada dos Santos será o CÉU, que não é um lugar, mas um estado de felicidade
na presença e companhia de Deus, dos anjos e dos santos.
Em que consiste, supera a nossa imaginação e entendimento:
"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram nem o homem pode imaginar
o que Deus preparou para aqueles que o ama" (1 Cor2,9).
"Agora vemos como num espelho, mas depois veremos face a face" (13,12).
E a ETERNIDADE não um "eterno descanso", mas vida ativa e intensa com Deus.

Quem é santo?
SANTO significa que não tem nada de imperfeito, de fraco, de precário.
Neste sentido, só Deus é santo. No entanto, por graça de Deus,
participamos da sua Santidade e nos unimos a todos os irmãos.
Essa doutrina era tão viva nos primeiros séculos,
que os membros da Igreja não hesitavam em chamar-se: "Santos"
e a própria Igreja era chamada de "Comunhão dos Santos".

O que é a Comunhão dos Santos?
- "Essa expressão indica em primeiro lugar a comum participação
  de todos os membros da Igreja nas COISAS SANTAS:  a fé, os Sacramentos, os Carismas e outros dons espirituais". (CCIC 194)
- "Designa também a comunhão entre as PESSOAS SANTAS,
  ou seja, entre as que pela graça estão unidas a Cristo morto e ressuscitado. 
  Alguns são peregrinos na terra; outros, tendo deixado essa vida,
  estão se purificando ajudados também pelas nossas orações;
  outros enfim já gozam da glória de Deus e intercedem por nós.
  Todos juntos formamos em Cristo uma só família, a Igreja,
  para a glória da Trindade." (CCIC 195)

Quem são os santos?
- Não são apenas aqueles que estão nos altares, declarados santos pela Igreja.
  Não são apenas pessoas privilegiadas do passado, que já nasceram santas...
- São todas aquelas pessoas que vivem unidas a Deus, construindo o bem.
  São pessoas normais, que no passado e no presente dão testemunho de fidelidade a Cristo.

As Leituras de hoje revelam o projeto de Deus a respeito do homem: quer torná-lo participante da sua Santidade.

A 1ª Leitura afirma que uma grande multidão de pessoas, de todos os povos,
são os santos que participam da glória celeste, junto de Deus. (Ap 7,2-4.9-14)

O texto fala de 144 mil eleitos. O Número é simbólico e indica a totalidade da comunidade cristã. (12x12x mil:12 tribos do AT + 12 apóstolos do NT + mil)

A 2ª leitura recorda que a Vida divina, que se manifestará no final da vida,
já está presente em nós desde agora. (1Jo 3,1-3)

No Evangelho, Jesus apresenta uma proposta de Santidade,
resumida nas BEM-AVENTURANÇAS: (Mt 5,1-12)

* O melhor CAMINHO para a Santidade é a vivência das Bem aventuranças.

+ A Festa de hoje pretende homenagear todos os santos, conhecidos ou não,
e apresentar o ideal da santidade como possível hoje e desejado por Deus.
"Todos os fiéis são chamados à Santidade cristã.
Ela é a plenitude da vida cristã e perfeição da caridade, realiza-se na união íntima ao Cristo e, nele, com a Santíssima Trindade". (CCIC 428)
Portanto, SANTOS podemos e devemos ser também nós...

Acolhamos o apelo de Deus à Santidade...
e que os Santos sejam modelos e intercessores nossos, nessa caminhada...
                                 
                                Pe. Antônio Geraldo
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HOMILIA DO PE. PEDRINHO
O dia de todos os santos é um dia importante, uma solenidade importante, porque nos ajuda a cada um de nós a lembrarmos, que nós somos santos.
Segunda leitura chama a atenção para uma questão muito simples: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados Filhos de Deus”. Deus acolhe toda a humanidade como sendo seus filhos e filhas. Na medida em que eu respondo, aceito, esta adoção por parte de Deus, eu me torno santo. Por quê? Porque procuro viver o batismo. É o primeiro gesto, no rito do Batismo, que nos marca. Aqui é interessante a primeira leitura: o ancião, que é João, pergunta: “quem são estes que trazem as vestes brancas”? O Senhor lhe diz: Estes são os que foram marcados com o selo; cento e quarenta e quatro mil e além deste, uma multidão que não se pode contar, de todas as raças, línguas e povos.
Ora, que sinal é este? É o sinal da cruz que fazemos, quando vamos batizar alguém. Fazemos este sinal na testa do batizando, dizendo: receba a cruz de Cristo, o Cristo salvador. Este sinal é para que nos lembremos de que Jesus nos salvou pela cruz e pela ressurreição.
Filhos de Deus são todos. Os marcados com o selo, são os que foram Batizados. Aí, então, vamos nos perguntar: quando é que vai chegar o fim dos tempos? Quando tiver sido marcada a última pessoa. O que significa, que se não pudermos contar quantos são os marcados, muito menos quando será o último a ser Batizado. Até lá, somos chamados a anunciar Jesus Cristo e a convidar as pessoas para o Batismo.
Iniciamos a nossa reflexão dizendo que somos santos. Por quê? Porque fomos batizados. O que acontece, é que às vezes não honramos o Batismo que recebemos e acabamos cometendo pecado. Na medida em que eu me dou conta da santidade, eu percebo que no Batismo tenho o início de uma caminhada que vai me levar até Deus. O último passo dessa caminhada é quando eu encontro Deus face a face; é quando eu morro, é no momento de minha morte. Por isso, celebramos os fiéis defuntos e celebramos também todos os santos. Os que buscaram caminhar, procuraram a Deus e agora vivem junto de Deus eternamente glorificando-o junto com todos os anjos. Um dia louvaremos a Deus face a face com hinos de alegria e agradecimento.
Aqui é o ponto: como fazer para me tornar cada vez mais santo? Jesus apresenta as Bem-aventuranças. As bem-aventuranças nos lembra Moisés, que subiu a montanha e trouxe as tábuas da Lei para o povo. Agora é Jesus, que não recebe as Tábuas da Lei, porque Ele é Deus, mas Ele nos dá o ensinamento, transmite a nova Lei para que o povo possa conhecer a Deus com mais facilidade. Ao transmitir, elimina qualquer intermediário. Se no Antigo Testamento Moises foi o intermediário entre Deus e o povo, Jesus, que é Deus, é a grande ponte para o Reino e não existe outro intermediário.
Se é assim, qual é a função dos Santos? Porque aprendemos que devemos pedir aos santos e anjos que intercedam por nós junto a Deus. Os Santos são INTERCESSORES e não intermediários. Qual é a diferença? Eu me relaciono diretamente com Deus e os Santos intercedem por isso, torcem, tentam facilitar para que também eu chegue até onde eles estão. Se quiser imitar um santo, serei eternamente frustrado, porque ninguém consegue imitar outra pessoa. Cada um de nós Deus criou como único. Cada um de nós vai descobrir o caminho da santidade a partir de nós mesmos. O que os santos nos fazem é ajudar a perceber que é possível, mesmo sendo limitado, tendo fraquezas, cometendo pecado, é possível atingir a santidade. Cada um descobre o seu modo. Se eu for imitar São Francisco, Santa Terezinha, Santa Rita, eu vou ficar a vida inteira me lamentando, porque quando eu estava para ser igual a ele, eu não consegui mais. Não. O caminho é próprio de cada um. Agora, Deus nos ajuda, porque Jesus, quando apresenta as Bem-aventuranças, Ele nos traz como ponto central a MISERICÓRDIA. O que é a misericórdia? A misericórdia é a prática do amor. Deus é misericordioso. Na medida em que eu procuro semear, difundir o amor, por meio de gestos concretos, eu apresento a misericórdia de Deus. É por misericórdia de Deus que somos quem somos. Veja que a primeira leitura nos lembra que tudo é de Deus e no entanto, Ele entregou tudo para o ser humano. Também somos lembrados em cada Celebração Eucarística, que Deus entregou o seu Filho e por meio do seu sangue, o sangue derramado na Cruz, que todos nós fomos resgatados da morte. É a partir daí, que o Batismo se torna o segundo nascimento. Por isso, somos convidados a comemorar duas datas; aquela que nascemos, de registro, de certidão de nascimento e aquela que fomos Batizados. No Batismo nós morremos para o mundo e começamos uma nova caminhada em direção a Deus. Quanto mais eu me aproximo de Deus, mais santo eu me torno. Por isso, alguém só é declarado santo, depois da sua morte, porque é o momento em que a pessoa se encontra com Deus. Não precisamos ter medo da morte. A morte é tão somente este passo para aquilo que almejamos tanto.
Outra ajuda de Deus é a sua Palavra. A Palavra de Deus nos orienta e nos ajuda a não desviar do caminho.
A terceira é a Eucaristia, porque na medida em que comungo o Pão consagrado, eu estabeleço a comunhão com Deus. Para que esta experiência seja viva, sou chamado à oração. A oração onde eu apresento a Deus as minhas dificuldades e ao mesmo tempo agradeço, celebrando com Ele as minhas vitórias.
Que Deus nos ajude a viver cada dia em busca da santidade e que esta caminhada nos leve a encontra-lo, porque a segunda leitura nos diz, que quando encontrarmos o Cristo, seremos como Ele. Porque o veremos face-a-face no Céu.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
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Homilia do D. Henrique Soares da Costa

Hoje, a Igreja volta seu olhar e seu coração para o céu e enche-se de alegria ao contemplar uma multidão que participa da glória e da plenitude do Deus Santo.
A nossa fé nos ensina que somente Deus é Santo. Na Bíblia, “santo” significa, literalmente, “separado”. Deus é aquele que é separado, absolutamente diferente de tudo quanto exista no céu e na terra: Ele é único, Ele é absoluto, Ele sozinho se basta, sozinho é pleno, sozinho é infinitamente feliz. Ele é Deus! Por isso, Santo, em sentido absoluto, é somente o Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo. A Jesus, o Filho eterno feito homem, nós proclamamos em cada missa: “Só vós sois o Santo”; ao Pai nós dizemos: “Na verdade, ó Pai, vós sois Santo e fonte de toda santidade”; ao Espírito nós chamamos de Santo.
Mas, a nossa fé também nos ensina que este Deus santo e pleno, dobra-se carinhosamente sobre a humanidade – sobre cada um de nós – para nos dar a sua própria vida, para nos fazer participantes de sua própria plenitude, sua própria santidade. Foi assim que o Pai, cheio de imenso amor, enviou-nos seu Filho único até nós, e este, morto e ressuscitado, infundiu no mais íntimo de nós e de toda a Igreja o seu Espírito de santidade. Eis, quanta misericórdia: Deus, o único Santo, nos santifica pelo Filho no Espírito: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” É isto a santidade para nós: participar da vida do próprio Deus, sermos separados, consagrados por ele e para ele desde o nosso Batismo, para vivermos sua própria vida, vida de filhos no Filho Jesus! É assim que todo cristão é um santificado, um separado para Deus. Mas, esta santidade que já possuímos deve, contudo, aparecer no nosso modo de viver, nas nossas ações e atitudes. E o modelo de toda santidade é Jesus, o Bem-aventurado. Ele, o Filho, foi totalmente aberto para o Pai no Espírito Santo e, por isso, foi totalmente pobre, totalmente manso, totalmente puro e abandonado a Deus no pranto, na fome de justiça e na misericórdia. Então, ser santo, é ser como Jesus, deixando-se guiar e transformar pelo seu Espírito em direção ao Pai. Esta santidade é um processo que dura a vida toda e somente será pleno na glória. São João nos fala disso na segunda leitura de hoje: “Quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é”.
Nesta perspectiva, podemos contemplar a estupenda leitura do Apocalipse que escutamos como primeira leitura. O que se vê aí? Uma multidão. Primeiro, cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel. Isto simboliza todo o Israel. Recordemos: 12 é o número do Povo do Antigo Testamento. Pois bem, cento e quarenta e quatro mil equivale a 12 x 12 x 1000, isto é, à totalidade de Israel. Deus não se cansou de chamar o povo da antiga aliança: Israel haverá de ser salvo pelo sangue de Cristo. Mas, há ainda mais: “Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro”. Essa multidão são todos os povos da terra, chamados por Cristo, na Igreja, para a salvação, para a santificação que Deus nos oferece. Notemos bem: “uma multidão que ninguém podia contar”.A salvação é para todos, a santidade não é para um grupinho de eleitos, para uma elite espiritual. Todos são chamados a essa vida divina que Deus quer partilhar conosco, todos são chamados à santidade! “Trajavam vestes brancas e traziam palmas nas mãos. São os que vieram da grande tribulação e lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro”. Eis quem são os santos: aqueles que atravessaram as lutas desta vida, as tribulações desta nossa pobre existência, unidos a Cristo; são os que venceram em Cristo – por isso trazem a palma da vitória; são os que não tiveram medo de viver e, se caíram, se erraram, foram, humildemente, lavando e alvejando suas vestes no sangue precioso de Cristo: são santos não com sua própria santidade, mas com a santidade do Cristo-Deus. Nunca esqueçamos: ninguém é santo com suas forças, ninguém é santo por sua própria santidade: só em Cristo somos santificados, pois somente Cristo derrama sobre nós o Espírito de santidade. O nosso único trabalho é lutar para acolher esse Espírito, deixando-nos guiar por ele e por ele sermos transfigurados em Cristo!
Olhemos para o céu: lá estão Pedro e Paulo, lá estão os Doze, lá estão os mártires de Cristo, os santos pastores e doutores, lá estão as santas virgens e os santos homens, lá estão tantos e tantos – uns, conhecidos e reconhecidos pela Igreja publicamente, outros, cujo nome somente Deus conhece; lá está a Santíssima e Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe e discípula perfeita do Cristo, toda plena do Espírito, toda obediente ao Pai. Eles chegaram lá, eles intercedem por nós, eles são nossos modelos, eles nos esperam.
Num mundo que vive estressado, que corre sem saber para onde… num mundo que já não crê nos verdadeiros valores, porque já não crê em Deus, contemplar hoje todos os santos é recordar para onde vamos e qual é o sentido da nossa vida! Não tenhamos medo de ser de Deus, não tenhamos medo de testemunhar o Evangelho, não tenhamos medo de alimentar nossa visa com o Cristo, na sua Palavra e na sua Eucaristia para sermos inebriados da vida do próprio Deus.
Infelizmente, muitos hoje têm como heróis os atletas, os atores, os cantores e tantos outros que não têm muito e até nada para ensinar. Quanto a nós, que nossos heróis e modelos sejam os santos e santas de Cristo, que foram heróis porque se venceram e correram para o Cristo! Que eles roguem por nós, pois o que eles foram, nós somos e o que eles são, todos nós somos chamados a ser.
Todos os Santos e Santas de Deus, rogai por nós!
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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Celebrando hoje a Solenidade de todos os Santos e Santas de Deus, a Igreja faz duas grandes proclamações: Deus é verdadeiramente santo e todo ser humano é chamado à santidade. Afirmar a santidade de Deus é denunciar toda forma de ateísmo e, ao mesmo tempo, todo tipo de idolatria. Santidade significa separação que garante identidade, condição fundamental para estabelecer relacionamentos. Deus é o santo por excelência, porque é totalmente Outro, tem uma identidade, é o Criador, aquele que separa a luz das trevas, a terra das águas, e todos os seres que existem, e estes não se confundem nem se fundem uns nos outros. A sua obra criadora (hebraico kadash: separar, santificar) chega ao ápice na separação do Adão primordial em homem e mulher (Gn 1). O ateísmo é a negação de que a criação é obra de Deus e, por conseguinte, do próprio Deus que a criou. Sem referência a Deus, a criação perde sua identidade e sua razão de ser, torna-se caos.
Afirmar a santidade de Deus é, também, desmascarar todo tipo de idolatria. Os ídolos representam a não criação, eles indicam que os seres perderam a sua identidade e, portanto, tomaram o lugar do seu Criador. As religiões pagãs primitivas, encantadas com a beleza de alguns seres criados e amedrontadas pela sua grandeza, praticavam a idolatria confundindo o sol, a lua, as estrelas e as forças da natureza com a divindade; inclusive alguns homens, declarando-se deuses para os seus semelhantes, confundiram a sua identidade e condição de criatura, tornaram-se ídolos de si mesmos.
Reconhecer a vocação universal à santidade do ser humano é, ao mesmo tempo, recuperar a sua identidade e reafirmar a identidade de Deus. Os santos e santas são testemunhos vivos e convincentes de que é possível encontrar esse caminho. As bem-aventuranças vividas e propostas por Jesus indicam as atitudes fundamentais de quem reconhece a sua vocação à santidade.
As nove bem-aventuranças de Mateus não devem ser compreendidas como virtudes individuais aplicadas a nove categorias de pessoas diferentes, mas todas elas fazem parte de um mesmo perfil, são as diversas exigências de santidade para todo cristão. Bem-aventurado é quem faz esse percurso: partindo do despojamento dos seus bens (1ª. Bem-aventurança) chega até o desprendimento da própria vida (última Bem-aventurança). Portanto, o pobre só é bem-aventurado se tiver fome e sede de justiça; não é feliz quem, sendo manso, não assume a tarefa corajosa de construir a paz. Infeliz é o aflito que não tem sede e fome de justiça, mas só sabe lamentar, e, por isso, não tem forças para lutar. Os puros de coração só encontram a felicidade verdadeira quando praticam a misericórdia, pois é esta que purifica o nosso olhar fazendo-nos enxergar Deus no semelhante. Não pode ser bem-aventurado só quem deseja o Reino de Deus, mas não se dispõe a sofrer por ele, mas foge das perseguições por causa da justiça e tem medo das difamações e injúrias para garantir o seu prestígio neste mundo e a sua vida tão efêmera nessa curta peregrinação rumo à pátria definitiva.
As Bem-aventuranças servem de porta de entrada do ensinamento e da vida de Jesus, resumem o estilo de vida do Mestre e de quem deseja ser seu discípulo, pois indicam um caminho de absoluta mudança de mentalidade e de atitudes (conversão). De caráter profético, as Bem-aventuranças desqualificam a concepção farisaica da religião que defendia a prosperidade material como bênção e recompensa de Deus (“Bem-aventurados os pobres…os aflitos, os mansos…”). Contrapondo-se à mentalidade do mundo, as Bem-aventuranças anunciam uma nova maneira de buscar a felicidade. Ser bem-aventurado não é viver numa redoma de proteção, isento de dificuldades ou problemas, mas bem-aventurado é quem se dispõe a seguir o caminho que leva à verdadeira vida, ainda que tenha de carregar a sua cruz, mas sabe que o seu destino não é o vazio. Bem-aventurado é aquele que sabe a quem dirigir o seu grito, na certeza de que será ouvido; infeliz é aquele que grita sem saber a quem.
A Santidade como vocação fundamental do ser humano é o caminho que o seu Criador escolheu para ele. Optar por outra estrada é recusar a verdadeira bem-aventurança, é preferir o caos à beleza da criação, é negar a sua condição de separado por Deus e para Ele, e voltar-se para si mesmo, fazendo de si o seu próprio ídolo, mergulhando na confusão de uma criatura que rejeita seu criador e, portanto, perde sua identidade e rumo. Porque Deus nos criou, separou-nos para Ele, nascemos santos. Porém, a vida é a hora de acolhermos ou não esse dom: sermos ou não Dele, abraçarmos ou não a santidade.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e Ministros extraordinários da Palavra):

LOUVOR: Quando o Pão consagrado estiver sobre o altar:                             
- O senhor esteja com todos vocês... demos graças ao senhor, nosso Deus: ...
- Com Jesus, por jesus e em Jesus, na força do Espírito Santo, louvemos ao Pai:
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade!
- Ó Pai, nós Vos bendizemos pela Vossa paciência e pela Vossa bondade. Quando nos afastamos do caminho da justiça, Vós nos recordais de vossos preceitos.  Senhor, purificai-nos da mentira, do egoísmo e fazei-nos mais justos e humildes.
 T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade!
- Deus de infinita sabedoria, nós Vos damos graças, porque nos chamastes; escolheis aqueles que se reconhecem pobres, para lhes dar a Vossa sabedoria. Senhor, Pomos em Vós a nossa confiança, a nossa esperança e estendemos as mãos para o Vosso Filho: Ele é a nossa justiça, a nossa santificação e a nossa redenção. Só em Cristo somos fortes.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade!
- Bendito sejais, Vós que abris ao Vosso povo o Reino dos céus, Vós que o saciais com a Vossa justiça, Vós que nos chamais Vossos filhos. Fazei-nos corações puros, amáveis com os irmãos e testemunhas do Vosso Reino.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade!

- PAI NOSSO... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro de Deus...