28º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C 2019
Tema: “não há outro Deus, senão o que há em Israel!”.
Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos os homens.
A primeira leitura apresenta-nos a
história de um leproso (o sírio Naamã). Jahwéh oferece ao homem a vida e a
salvação; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único
salvador e manifestar-Lhe gratidão.
O Evangelho apresenta-nos um
grupo de leprosos que se encontram com Jesus e descobrem a misericórdia e o
amor de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem
manifestar a Deus a sua gratidão.
A segunda leitura define a
existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus
torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos
irmãos e chega à vida nova da ressurreição.
PRIMEIRA LEITURA (2Rs 5,14-17)
Leitura do Segundo Livro dos Reis.
Naqueles
dias, Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem
de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e
ele ficou purificado. Em seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do
homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: “Agora estou
convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!
Por favor, aceita um presente de mim, teu servo”. Eliseu respondeu: “Pela vida
do Senhor, a quem sirvo, nada aceitarei”. E, por mais que Naamã insistisse,
ficou firme na recusa. Naamã disse então: “Seja como queres. Mas permite que
teu servo leve daqui a terra que dois jumentos podem carregar. Pois teu servo
já não oferecerá holocausto ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao
Senhor”.
AMBIENTE - A primeira leitura
situa-nos no reino do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão (853-842
a.C.). Os reis de Israel mantêm um intercâmbio com os povos da redondeza. Em
termos religiosos, essa política traduz-se numa invasão de deuses, de cultos e
de valores estrangeiros, que ameaçam a integridade da fé jahwista. É uma época
em que os deuses cananeus assumem um grande protagonismo e Baal substitui
Jahwéh no na vida de muitos israelitas.
O profeta Eliseu assume-se como defensor da fé jahwista continuando, aliás,
a obra do seu antecessor Elias.
O general sírio Naamã, considerado um dos heróis da Síria, era leproso;
mas, informado por uma serva de que em Israel havia um profeta que podia
curá-lo do seu mal, veio ao encontro de Eliseu, carregado de presentes. Eliseu
mandou, apenas, que Naamã se banhasse sete vezes no rio Jordão (cf. 2 Re
5,1-13).
MENSAGEM - Em primeiro lugar, os catequistas de
Israel quiseram deixar claro que Jahwéh é o Senhor da vida e que só Ele pode
salvar aquele que parece condenado à morte; é preciso que os israelitas
reconheçam isto, como o sírio Naamã o reconheceu.
Em segundo lugar, os catequistas de Israel quiseram mostrar que a intervenção salvadora
de Jahwéh não é uma ação meramente circunstancial, mas é uma ação que
transforma a vida do homem… Naamã não ficou só curado de uma doença física, mas
fez do sírio Naamã um homem novo e o levou a deixar os ídolos para servir o
verdadeiro e único Deus…
Em terceiro lugar, a história deixa claro que Deus não faz distinção de pessoas e oferece
a todos, sem exceção, a sua graça. O que é decisivo é o acolher o dom de Deus e
aceitar deixar-se transformar por Ele.
Em quarto lugar, a catequese deuteronomista sublinha a “gratidão” de Naamã. Liberto dos
males que o atormentavam, ele quis agradecer a sua cura cumulando Eliseu de
presentes; mas depressa percebeu (por ação de Eliseu, que o ajudou a ver claro)
que não era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida, mas sim a Deus… E
a sua gratidão manifestou-se numa adesão total a Jahwéh. Os catequistas de
Israel sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem.
Em quinto lugar, Eliseu nunca manifestou qualquer vontade de se aproveitar da
intervenção de Deus em favor de Naamã para benefício próprio. Ao recusar
aceitar qualquer presente das mãos de Naamã, Eliseu dá a entender que não é a
ele mas a Jahwéh que o general sírio deve agradecer a cura.
ATUALIZAÇÃO • É em Deus que eu coloco a minha esperança
de vida plena, ou há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e
que são a minha esperança de realização e de felicidade? - o dinheiro, o poder,
a moda, o comodismo, o êxito, a casa com piscina, uma Ferrari?
• A proposta de
salvação que Deus faz se destina a todos os homens e mulheres, sem exceção.
Daqui resultam duas coisas importantes: a primeira é que não basta ser batizado
e a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir qualquer irmão nosso.
• Estou consciente de
que é de Deus que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua
presença, pelos seus dons, pelo seu amor?
• Aqueles que recebem
de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos: sentem-se apenas instrumentos
de Deus, ou estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em
si próprios a gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?
SALMO RESPONSORIAL 97 (98)
O Senhor fez conhecer a salvação e às
nações revelou sua justiça.
• Cantai ao Senhor Deus um
canto novo, / porque Ele
fez prodígios! / Sua mão e o seu braço forte e santo /
alcançaram-lhe a vitória.
• O Senhor fez conhecer a
salvação, / e às nações, sua
justiça; / recordou o seu amor sempre fiel / pela casa
de Israel.
• Os confins do universo
contemplaram / a salvação do
nosso Deus. / Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,
/ alegrai-vos e exultai!
EVANGELHO (Lc 17,11-19) Evangelho de Jesus Cristo segundo
Lucas.
Aconteceu
que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia.
Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro.
Pararam à distância e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” Ao
vê-los, disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam,
aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou
glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por
terra e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou:
“Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem
voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe:
“Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.
AMBIENTE - O leproso é, no
tempo de Jesus, o protótipo do marginalizado… Além de causar naturalmente
repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um
impuro ritual (cf. Lev 13-14), a quem a teologia oficial atribuía pecados
especialmente graves (a lepra era o castigo de Deus para esses pecados); por
isso, o leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a cidade santa.
Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não contaminasse os outros
com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura, devia apresentar-se
diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a
reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas
celebrações do culto.
Um dos leprosos é samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos
judeus de Jerusalém, por causa do seu sincretismo religioso. A desconfiança
religiosa dos judeus em relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C.
(após a queda do reino do Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e
começaram a misturar-se com a população local. Para os judeus, os habitantes da
Samaria começaram, então, a paganizar-se… Após o regresso do exílio da
Babilónia, os habitantes de Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos
na reconstrução do Templo e evitaram os contatos com esses hereges, “raça
misturada com pagãos”. A construção de um santuário samaritano no monte Garizim
consumou a separação e, na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos
nos caminhos da infidelidade a Jahwéh. Algumas picardias mútuas nos séculos
seguintes consolidaram a inimizade entre judeus e samaritanos. Na época de
Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande
hostilidade.
MENSAGEM - O episódio
dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se na ótica teológica de
apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos
concretos, a salvação/libertação a todos os homens, particularmente aos
oprimidos e marginalizados.
Lucas mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para
oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado
simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo
menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária
pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A
presença de um samaritano no grupo indica que essa salvação oferecida por Deus,
em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a
todos os homens.
Contudo, dos dez leprosos curados, só um voltou para agradecer a Jesus e
era um samaritano. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação
deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com
frequência, são os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à
margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus.
ATUALIZAÇÃO • Lucas garante que Deus tem um projeto de
salvação para todos os homens, sem exceção; e que é em Jesus e através de Jesus
que esse projeto atinge todos os que se sentem “leprosos” e os faz encontrar a
vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.
• Às vezes, aqueles que
lidam diariamente com o mundo do sagrado estão demasiado cheios de
autossuficiência e de orgulho para acolherem com humildade e simplicidade os
dons de Deus, para manifestarem gratidão e para aceitarem ser transformados
pela graça…
• Curiosamente, os dez
“leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece
“no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a ação
libertadora de Jesus não é uma ação mágica, caída repentinamente do céu, mas um
processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã),
no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à
adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento
mágico que acontece quando somos batizados, ou fazemos a primeira comunhão ou
nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos
Cristo e nascemos para a vida nova.
SEGUNDA LEITURA (2Tm 2,8-13) Leitura
da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo.
Caríssimo:
Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os
mortos, segundo o meu evangelho. Por ele eu estou sofrendo até às algemas, como
se eu fosse um malfeitor; mas a palavra de Deus não está algemada. Por isso
suporto qualquer coisa pelos eleitos, para que eles também alcancem a salvação,
que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. Merece fé esta palavra: se com
ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos.
Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece
fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.
AMBIENTE O autor exorta
Timóteo (e, na pessoa de Timóteo, todos os crentes, em geral) a perseverar na
fé, a conservar a sã doutrina recebida de Jesus e a dedicar-se totalmente ao
serviço do Evangelho.
MENSAGEM - O exemplo de
Cristo, que chegou à glória da ressurreição pelo caminho da cruz e do dom da
vida… O próprio Paulo seguiu esse duro caminho e é por isso que está preso; mas
não está preocupado, pois o essencial é que a Palavra de Deus continue a transformar
o mundo. Aliás, é preciso que alguns entreguem a própria vida para que a
proposta libertadora de Jesus chegue a todos os homens… Vale a pena sofrer, a
fim de que este objetivo se concretize.
O cristão é chamado a identificar-se com Cristo na entrega da vida e no
serviço aos irmãos; essa entrega não termina no fracasso e no sem sentido, mas
– a exemplo de Cristo – na ressurreição, na vida nova. O cristão não pode é
recusar fazer da sua vida um dom de amor, se quiser identificar-se com Cristo.
ATUALIZAÇÃO - • O autor da Segunda Carta a Timóteo recorda,
aqui, algo de central para a experiência cristã: a essência do cristianismo é a
identificação de cada crente com Cristo. Isto traduz-se, concretamente, no
entregar a própria vida em favor dos irmãos, se necessário até ao dom total.
Dehonianos
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"Obrigado,
Senhor"
Na 1ª Leitura: O Profeta Eliseu
cura o leproso Naaman. (2Rs 5,14-17)
O general sírio apresenta-se ao Profeta
para ser curado... Eliseu, sem acolhê-lo, manda lavar-se sete vezes no Rio
Jordão. O General obedece e fica
curado...
Reconhecido, proclama sua fé no Deus de
Israel e, como sinal de sua gratidão, leva consigo de Israel um pouco de terra,
a fim de cultuar na própria terra o Deus verdadeiro.
Na 2ª Leitura, São Paulo em meio
aos sofrimentos e privações da prisão, agradece a Deus pelos favores recebidos,
chegando a afirmar: "Estou algemado como um prisioneiro, mas a palavra de Deus não pode ser
algemada". (2Tm 2,8-13)
* Mesmo nos acontecimentos desagradáveis
da vida, encontra motivos de alegria, de esperança e de gratidão.
No Evangelho, Jesus cura 10
leprosos. (Lc 17,11-19)
Os leprosos deviam morar fora do
povoado, longe do convívio humano para não contaminarem os outros com a sua
impureza física e religiosa.
- Eles gritam de longe: "Jesus, mestre, tem compaixão de
nós..."
- Jesus se "compadece" e os
manda se apresentarem aos sacerdotes, que eram os responsáveis para comprovar a
cura e liberar a reintegração na Comunidade.
- Os dez obedecem e "no
caminho" se vêem curados. Mas só um volta para agradecer... - Cristo questiona: "Não foram 10 os curados? Onde estão os outros nove?"
E acrescenta: "Levanta-te e
vai. TUA FÉ te salvou".
A fé se concretiza "a caminho"
na obediência à Palavra de Jesus.
Pormenores significativos da narrativa
do milagre:
- "A
Lepra" representa o mal que
atinge toda a humanidade,
gerando exclusão, opressão e injustiça (número 10 significa
"totalidade").
- A
Lepra desaparece "no caminho":
A Ação libertadora de Jesus é um processo progressivo, no qual o crente
vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às
suas propostas e à efetiva transformação do coração.
- Só um volta para agradecer:
O Leproso curado volta "glorificando
a Deus em alta voz".
Agradece e acredita, por isso recebe mais: "Vai a tua fé de salvou".
-
"E é um Samaritano" (estrangeiro)
* A graça de Deus é mais valorizada por
quem não pertence à Comunidade...
- O que nos diz esse fato?
Nem todos sabem agradecer. (Nem obrigado
recebi!)
- Não basta na hora da necessidade
gritar: "Senhor, tem piedade de
mim!".
É preciso também manifestar a nossa
gratidão pela libertação que faz acontecer em nós, comprometendo-nos com ele.
- "Obrigado" é uma
palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos.
+ EUCARISTIA quer dizer: "ação de graças".
Aproveitemos esse momento privilegiado
para agradecer a Deus de todos os favores recebidos em nossa vida, e partamos
daqui dispostos a reconhecer agradecidos
também os inúmeros favores recebidos de
nossos irmãos...
Pe. Antônio Geraldo
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Homilia
de Dom Henrique Soares da Costa
A gratidão pela ação benéfica de Deus na nossa
vida. Gratidão e ingratidão. Primeiro, a gratidão de Naamã, um pagão, inimigo
de Israel, que sabe ser agradecido a Deus; levou terra de Israel para Damasco,
para, sobre essa terra, adorar a Deus. Também a gratidão de outro pagão, o
leproso samaritano que voltou a Jesus “para dar glória a Deus”.
Mas também, hoje, aparece a ingratidão. Nove leprosos, filhos do povo de Israel,
que curados, não retornam para agradecer o dom…
Estejamos atentos! Hoje, temos tudo… Vamos nos
tornando insensíveis para perceber a vida como dom, como graça, como presente.
É impressionante como o mundo nos vai tornando dormentes, insensíveis mesmo, para
Deus! Se a vida já não mais é percebida como um dom, também não brota mais a
ação de graças. Somente quando abrimos o coração e os olhos da fé, podemos
perceber que tudo é graça, imenso dom de um Amor. Poderemos ouvir a palavra de
Jesus: “Levanta-te e vai! A tua fé te salvou! Salvou-te de uma
vida mesquinha, fechada, incapaz de olhar as estrelas, incapaz de comunhão com
o Pai do céu, incapaz de dizer “Pai nosso” e de reconhecer nos outros
teus irmãos…” Mas, para isso – nunca esqueçamos – é necessário um coração de
pobre, um coração humilde, que reconheça que tudo quanto possuímos foi recebido
de Deus.
Vale a advertência de São Paulo, na segunda
leitura de hoje: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os
mortos!”. Lembrar-se de Jesus é nunca esquecer que Deus está conosco,
amando-nos, perdoando-nos e acolhendo-nos como Deus providente e
misericordioso. Lembrar-se de Jesus morto e ressuscitado é nunca duvidar da
misericórdia de Deus e de seu compromisso na nossa existência e na existência
do mundo. “Lembra-te de Jesus Cristo ressuscitado! Se nós o
renegarmos, também ele nos negará.” Aqui está o motivo último; vale a pena
morrer com ele para, nele, viver uma vida nova; vale a pena sofrer com ele
para, nele, reinarmos: a ingratidão de negá-lo em nossa vida, de fechar-se de
tal modo para ele, que já não mais deixemos que ele seja o Senhor de nossa
existência, que já não mais percebamos que tudo é graça, tudo é presente de
amor, se o negarmos então tudo estará perdido.
Dom Henrique Soares da Costa
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Homilia do Mons. José
Maria
A vida humana transformou-se num grande comércio
onde tudo se compra e tudo se paga… É a época do descartável! Diante dessa
realidade, muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão.
“Obrigado” é uma palavra tão simples, mas tão
esquecida por muitos! Jesus cura dez leprosos, mas apenas um volta para
agradecer.
Jesus se compadece e os manda se apresentarem
aos sacerdotes, para comprovar a cura e liberar a reintegração na Comunidade.
No caminho se vêem curados; mas só um volta para
agradecer… e era um samaritano, considerado estrangeiro e desprezado pelos
judeus… Onde estão os outros nove? E acrescenta: Levanta-te e vai. TUA FÉ te
salvou.”
Estes leprosos ensinam-nos a pedir: recorrem à
misericórdia divina, que é fonte de todas as graças. E mostra-nos o caminho da
cura, seja qual for a lepra que tenhamos na alma: em nome do Mestre, nos
indicam o que devemos fazer.
Imaginemos o samaritano correndo, glorificando a
Deus em voz alta; e foi prostrar-se aos pés do Mestre, dando-lhe graças.
Foi uma ação profundamente humana e cheia de
beleza. Dizia Santo Agostinho: “Que coisa melhor podemos trazer no coração,
pronunciar estas palavras: “graças a Deus”? A gratidão é uma das virtudes que
enobrecem a pessoa humana. Desde criança, fomos educados a agradecer os favores
recebidos. A gratidão é uma atitude que brota do coração de quem se sente amado
pelo amor de Deus…
“Não foram dez os curados? E os outros nove,
onde estão?” Quantas vezes Jesus não terá perguntado por nós, depois de tantas
graças!
Com frequência, temos melhor memória para as
nossas necessidades e carências do que para os nossos bens. Vivemos pendentes
daquilo que nos falta, e reparamos pouco naquilo que temos, e talvez seja por
isso que ficamos aquém no nosso agradecimento. Pensamos que temos pleno direito
ao que possuímos e esquecemo-nos do que diz Santo Agostinho: “Nada é nosso, a
não ser o pecado que possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor
4, 7).”
Toda a nossa vida deve ser uma contínua ação de
graças. Lembrai-vos das maravilhas que Ele fez, exorta o salmista. O
samaritano, através do seu mal, pôde conhecer Jesus Cristo e por ser agradecido
conquistou a sua amizade e o incomparável dom da fé: …Tua fé te salvou.
Saibamos agradecer a tantas pessoas que tornaram
nossa vida mais feliz: nossos pais, nossos professores, o padre, o médico, o
catequista, os colegas de estudo, de trabalho, de esporte e de tantos outros.
Também é significativo que fosse um estrangeiro
quem voltasse para agradecer. Isso recorda-nos que, por vezes, não sabemos dar
importância às delicadezas e atenções que recebemos dos mais próximos.
Não existe um só dia em que Deus não nos conceda
alguma graça particular e extraordinária! Em todos os momentos saibamos dizer:
“Obrigado, Senhor, por tudo.”
Não podemos esquecer-nos de que na vida das
criaturas humanas tudo é dom de Deus, tudo é graça, tudo é benção de Deus.
Ensina São Paulo: “Em todas as circunstâncias
dai graças…” (1Ts 5, 18). Já dizia Sêneca: “Só os espíritos bem formados são
capazes de cultivar a gratidão.” Importantíssimo é educar-nos para esta atitude
de ação de graças.
Mons. José Maria Pereira
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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Os dez leprosos,
que Jesus encontra à entrada do povoado, têm em comum duas situações
existenciais: a doença e a cura. A doença os torna solidários, pois a
desventura, a dor, o sofrimento, não distinguem cor, raça, condição social ou
econômica e, nem mesmo, convicção religiosa. Situações-limite sempre levam as
pessoas, na luta pela sobrevivência, a uma superação de preconceitos ou, ao
menos, as tornam mais receptivas na aceitação de uma simples presença que
alivie a sua dor. Se entre eles havia um samaritano, certamente os demais eram
judeus ou provenientes das outras regiões. Caso fossem pessoas sadias, por
causa de seus preconceitos raciais, certamente nunca se permitiriam estar tão
próximas. Contudo, formavam um grupo unitário de dez homens, que padeciam de
duas grandes e dilacerantes dores.
No corpo físico,
assistiam impotentemente à destruição dos seus nervos, cujo sinal era visto na
sua pele carcomida pela lepra, ou nos membros do seu corpo esmigalhados pelas
consequências da doença; sem contar a humilhação do mal cheiro que exalavam,
assemelhando-se aos cadáveres de animais mortos ao longo da estrada. No corpo
social, suportavam a dor da marginalização, pois como membros decepados de suas
famílias, de suas comunidades religiosas e de seus agrupamentos sociais, por
causa da ignorância e do preconceito, deveriam viver isolados dos “sãos”.
A situação
existencial desse grupo não se diferencia muito da realidade do ser humano da
nossa sociedade. Não são poucas as pessoas que estão marcadas profundamente
pelas lepras atuais, causadas conscientemente sobretudo pelas potentes
ideologias que produzem inúmeras levas de agrupamentos humanos que compartilham
da mesma dor, isto é, a privação das mínimas condições de dignidade de vida
(refugiados, ignorantes políticos manipulados por falsos líderes ou enfeitiçados
por seus discursos demagógicos, adolescentes e jovens escravizados pelos
modismos impostos por poderosos grupos econômicos etc.).
O encontro com
Jesus é decisivo para o início de um caminho de cura e salvação para todos os
leprosos (de ontem e de hoje). Numa sociedade de doentes, certamente muitos
desejam a cura, mas nem sempre reconhecem que necessitam de algo a mais, isto
é, a plenitude de vida, a salvação.
A primeira atitude para alcançar a cura e a salvação é a obediência à
Palavra de Jesus. Uma obediência que manifesta abertura, humildade, confiança e
fé. Os leprosos gritam por compaixão, e Jesus responde com um mandato: “Ide mostrai-vos aos sacerdotes”; antes mesmo de
curá-los, o Senhor os desafia a crer na sua palavra. Dando o passo da fé, receberam
a cura, mas isso não era tudo, pois o caminho completo não se faz apenas com
alguns passos. Há tantas pessoas que suplicam ao Senhor por uma cura, e quando
a alcançam, voltam para suas casas contentes, mas não estão dispostas a
continuar a estrada. Encontraram a resolução de um problema na vida, mas não
encontram a vida plena, pois contentam-se apenas com o mínimo.
Só o samaritano conseguiu mais do que uma cura, ele encontrou o caminho
da plenitude de vida porque foi capaz de assumir duas outras atitudes. Curado,
ele voltou para Jesus com a disposição de discípulo, que posta-se aos pés do
Mestre para ouvir o que ele ainda tinha a dizer (grego: hypéstrepsen é um verbo composto de duas palavras
significativas: voltar para os pés). O verbo “voltar”, tanto no grego (strefo) quanto no hebraico (shuv),
é usado para indicar conversão, mudança de rumo. Portanto, o samaritano leproso
não apenas foi purificado no corpo, mas empreendeu um verdadeiro itinerário de
mudança de vida. Nem sempre as pessoas que alcançam curas se convertem
verdadeiramente, tornam-se discípulas.
A outra atitude fundamental daquele que voltou foi a gratidão: “Retornou em alta voz dando glória a Deus”. O seu
reconhecimento diante do bem recebido tornou-se anúncio público, ao longo do
seu caminho; assim como os anjos de Belém que cantavam glória a Deus por
ocasião do nascimento de Jesus, agora o leproso curado dá glória a Deus pois
reconhece ter nascido de novo, tinha recuperado a vida, o convívio, a
dignidade. Sua gratidão alcança o ponto mais alto quando “caiu sobre o rosto aos pés de Jesus agradecendo”
(Lucas usa o verbo eucharisto, mesma
raiz de Eucaristia, agradecer, ação de graças). Esse mesmo gesto de gratidão
fará Jesus ao Pai no momento em que ele, na última ceia, anunciará a sua morte
e ressurreição (cf. Lc 22,19). A celebração da Eucaristia não é apenas momento
de cura e libertação, mas é anúncio e atualização da Salvação realizada por
Jesus.
Se o primeiro mandato de Jesus aos leprosos garantiu-lhes a cura, o
segundo àquele único que voltou (converteu-se), assegura-lhe a salvação: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. Na primeira
vez, os leprosos se levantaram com a esperança da cura; na segunda, o único que
voltou, levantou-se com a garantia da salvação. Esse não foi apenas purificado
de uma doença, mas mergulhado na plenitude da vida. Assim como ele anunciou o
benefício da cura recebida, glorificando a Deus no caminho, Jesus o declara
ressuscitado para uma vida nova (“Levanta-te”, grego avastàs, do verbo avaistemitraduzido
por levantar, ressuscitar). O leproso curado nos ensina que gratidão não é
pagamento de um bem recebido, mas reconhecimento e testemunho de um bem que nos
foi dado, isto é, a salvação. Se a fé nos ajuda a reconhecer tão grande bem,
irresistivelmente só haverá um modo de agradecer: converter-se.
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PARA A CELEBRAÇAO DA PALAVRA (Diáconos e
Ministros da Palavra):
Louvor:
(quando o Pão sagrado estiver sobre o altar)
-
Com Jesus, por Jesus e em Jesus, na força do Espírito Santo, Louvemos ao Pai:
-T:
Bendito sejais, ó Deus de bondade.
-
Ó Deus, nosso Pai, sois nosso Deus e somos vosso povo. Hoje nos ensinastes que
todas as pessoas são filhos e filhas vossas. A cura da salvação é para todos
que vos procuram. O sírio Naamam foi curado e reconheceu o bem que lhe fizeste.
Nós vos agradecemos por tudo que nos tem dado. Agradecemos pela vida, pelo
batismo, pela família que nos criou, pelos amigos e parentes. Agradecemos pela
saúde, pelos nossos alimentos, pela fé, pelos ensinamentos, pela casa e pelos
bens que nos destes.
T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
-
Ó Pai, nos ensinastes através de Paulo que temos que carregar as nossas cruzes,
que devemos seguir o exemplo de Vosso Filho no amor a todos os irmãos. Que
Vosso Espírito Santo nos fortaleça para que sejamos servos fiéis aos vossos
ensinamentos, porque somos vossos filhos e através de Jesus se manifestou a
vossa bondade para com todos. Pai, ajudai-nos a sermos melhores.
T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
-
Senhor, obrigado por nos enviar vosso Filho, nos dar a salvação e nos enviar o
Espírito Santo para nos iluminar e nos fortalecer. Pai, temos as nossas cruzes
e as nossas dificuldades que bem o sabeis. Dai-nos força e coragem para
perseverarmos em nossa fé.
T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
- Rito da comunhão: - Pai
nosso... A Paz... Eis o Cordeiro...
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A fé em crise? Vejamos o que o canto nos diz:
CANTO DE ABERTURA
Toda a terra te adore, ó Senhor do
universo, / os louvores
do teu nome cante o povo em seus versos!
1. Venham todos, com alegria, / aclamar
nosso Senhor,
/ caminhando ao seu encontro, /
proclamando seu
louvor. / Ele é o Rei dos reis. / E dos
deuses o maior. E dos deuses o maior? Tem
outros deuses? Quais? Não será uma mentalidade do tempo do exílio da Babilônia?
Vejamos anotações de minhas aulas de teologia:
A fé em crise
Os pais do gênero Apocalíptico foram os Profetas e o
livro da sabedoria. O Profeta é aquele que denuncia e faz o povo agir
(normalmente). A Sabedoria fala do Homem reto, posto que se encontra no
conhecimento com Deus.
Na Babilônia, já
vimos, temos uma crise de fé. O povo hebreu perdeu a guerra para Nabucodonosor,
o rei da Babilônia. Quando se ganhava, era Deus que ganhava. Se perdeu, é
o Deus Javé que “perdeu a guerra para o deus Marduc”. Qual então é o
deus maior? Nosso Deus é mesmo Deus? Ou será um entre outros? – crise de fé.
No tempo das
profecias lemos no Êxodo 20:5 Não se
ajoelhe diante de ídolos, nem os adore, pois eu, o Eterno, sou o seu Deus e não
tolero outros deuses. “Eu sou o seu Deus e sou maior que outros
deuses”. Agora este meu Deus perde a guerra para outro Deus? - “Então o Deus
deles é maior que o nosso!”. Surgem
então sacerdotes e profetas e criam o gênero apocalíptico, onde tudo é Deus que
irá fazer; vemos isto em Ezequiel na visão dos ossos (Ezequiel 37,3).
Profetismo hoje: “O povo unido, jamais será vencido”.
Sabedoria: O Justo vive da fé (ele faz porque tem alguém
maior que ele).
Gênero
Apocalíptico: Deus fará (Deus provê, Deus proverá e nada faltará). Com ou sem
mim, é Deus que faz sem necessitar de ninguém.
Dentro do gênero
apocalíptico, isto vai causar um modo diferente na conversão: Bandido,
traficante ao conhecerem Jesus dizem: “eu já parei de fazer o mal e não o farei
mais, pois aceitei a Jesus. Eu matava e agora não mato mais”.
O que Deus quer
é que não matemos e por outro lado que levemos vida. Se roubei agora devolvo e
faço doações: isto é mais que conversão, é ir mais fundo.
Hoje é exigido;
“Deixe que o Senhor te toque, ele vai mudar a sua vida”! – Só isto não basta,
pois temos que dar a nossa contribuição para a construção do Reino. Uma ação
detona uma reação.
O convertido
pela metade é perigoso (sai um e voltam sete demônios). Conversão é só o 1°
passo. A seguir vem a mudança de vida.
Jesus pede no evangelho de Marcos que o povo se
arrependa e converta-se (Mc 1,15). A palavra colocada é “Metanóiate”. Isto é
mais que arrependimento. Arrepender-se é só o 1o passo. Outros
passos é que vão mudar a posição. Jesus exige não só que se arrependa, mas que
faça o Caminho.
“Metanóiate”: mudança de atitude, de
pensamento e de ação.
Em Mateus não é
o que diz, mas o faz a vontade de Deus na construção do reino que entrará no
céu (Mateus 7:21).
Conversão é
processo, pois Lucas nos diz que para seguirmos Jesus temos que carregar a cruz
dia a dia (Lucas 9:23). O correto
é dizer: estou mudando e não “eu mudei”.
No Gênero
Apocalíptico vemos em Ezequiel que É Deus que faz tudo. Todo o fazer cabe a
Deus. (Dn 37,1).
No Livro da
Sabedoria vemos que Deus faz através do justo. Paulo
ainda acrescenta que somos companheiros de trabalho no serviço de
Deus (1 Coríntios 3:9)
O profeta nos diz que Deus faz através
do Povo (Miquéias 6,8), enquanto o apocalíptico se ampara somente no
“Deus fará” (Ezequiel 37,3), onde o homem é só mero expectador.
Nós, hoje,
fazemos o mesmo. Ao invés de dizer: fico grato com você, dizemos “Deus lhe
pague”; se vire com ele. (Nos carros tem uma frase: Deus é fiel. – tudo é Deus
e nós nada!). Olhando o nosso mundo atual é mais fácil acreditar que só Deus
pode mudar o que aí está. Veja os Estados Unidos e o mundo todo que nada faz.
Aí dizemos: “Deus fará justiça!” (enquanto nós ficamos na nossa passividade?).
O que o
testemunha de Jeová diz? “Converta-se, pois o mundo será destruído. Vá para o
lado de Deus”; O Rito pentecostal é gênero Apocalíptico.
A Igreja precisa
é de profecia e não de gênero apocalíptico: levante e faça algo. Mesmo errando,
mas tente alguma coisa. Faça como Maria, pois se “Deus está contigo”, Ele nos
dará forças para que mudemos este mundo construindo o Reino de Deus rumo a sua
plenitude.
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