quinta-feira, 10 de outubro de 2019

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C, homilias, subsídios homiléticos


28º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C 2019
 Tema: “não há outro Deus, senão o que há em Israel!”.
 Deus tem um projeto de salvação para oferecer a todos os homens.
A primeira leitura apresenta-nos a história de um leproso (o sírio Naamã). Jahwéh oferece ao homem a vida e a salvação; ao homem resta acolher o dom de Deus, reconhecê-lo como o único salvador e manifestar-Lhe gratidão.
O Evangelho apresenta-nos um grupo de leprosos que se encontram com Jesus e descobrem a misericórdia e o amor de Deus: todos os que experimentam a salvação que Deus oferece devem manifestar a Deus a sua gratidão.
A segunda leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos e chega à vida nova da ressurreição.

 PRIMEIRA LEITURA (2Rs 5,14-17) Leitura do Segundo Livro dos Reis.
Naqueles dias, Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado. Em seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel! Por favor, aceita um presente de mim, teu servo”. Eliseu respondeu: “Pela vida do Senhor, a quem sirvo, nada aceitarei”. E, por mais que Naamã insistisse, ficou firme na recusa. Naamã disse então: “Seja como queres. Mas permite que teu servo leve daqui a terra que dois jumentos podem carregar. Pois teu servo já não oferecerá holocausto ou sacrifício a outros deuses, mas somente ao Senhor”.

 AMBIENTE - A primeira leitura situa-nos no reino do Norte (Israel), durante o reinado de Jorão (853-842 a.C.). Os reis de Israel mantêm um intercâmbio com os povos da redondeza. Em termos religiosos, essa política traduz-se numa invasão de deuses, de cultos e de valores estrangeiros, que ameaçam a integridade da fé jahwista. É uma época em que os deuses cananeus assumem um grande protagonismo e Baal substitui Jahwéh no na vida de muitos israelitas.
O profeta Eliseu assume-se como defensor da fé jahwista continuando, aliás, a obra do seu antecessor Elias.
O general sírio Naamã, considerado um dos heróis da Síria, era leproso; mas, informado por uma serva de que em Israel havia um profeta que podia curá-lo do seu mal, veio ao encontro de Eliseu, carregado de presentes. Eliseu mandou, apenas, que Naamã se banhasse sete vezes no rio Jordão (cf. 2 Re 5,1-13).

MENSAGEM -  Em primeiro lugar, os catequistas de Israel quiseram deixar claro que Jahwéh é o Senhor da vida e que só Ele pode salvar aquele que parece condenado à morte; é preciso que os israelitas reconheçam isto, como o sírio Naamã o reconheceu.
Em segundo lugar, os catequistas de Israel quiseram mostrar que a intervenção salvadora de Jahwéh não é uma ação meramente circunstancial, mas é uma ação que transforma a vida do homem… Naamã não ficou só curado de uma doença física, mas fez do sírio Naamã um homem novo e o levou a deixar os ídolos para servir o verdadeiro e único Deus…
Em terceiro lugar, a história deixa claro que Deus não faz distinção de pessoas e oferece a todos, sem exceção, a sua graça. O que é decisivo é o acolher o dom de Deus e aceitar deixar-se transformar por Ele.
Em quarto lugar, a catequese deuteronomista sublinha a “gratidão” de Naamã. Liberto dos males que o atormentavam, ele quis agradecer a sua cura cumulando Eliseu de presentes; mas depressa percebeu (por ação de Eliseu, que o ajudou a ver claro) que não era a um homem que tinha de agradecer o dom da vida, mas sim a Deus… E a sua gratidão manifestou-se numa adesão total a Jahwéh. Os catequistas de Israel sugerem que é essa a resposta que Deus espera do homem.
Em quinto lugar, Eliseu nunca manifestou qualquer vontade de se aproveitar da intervenção de Deus em favor de Naamã para benefício próprio. Ao recusar aceitar qualquer presente das mãos de Naamã, Eliseu dá a entender que não é a ele mas a Jahwéh que o general sírio deve agradecer a cura.

ATUALIZAÇÃO       É em Deus que eu coloco a minha esperança de vida plena, ou há outros deuses que me seduzem, que dirigem a minha vida e que são a minha esperança de realização e de felicidade? - o dinheiro, o poder, a moda, o comodismo, o êxito, a casa com piscina, uma Ferrari?
 •       A proposta de salvação que Deus faz se destina a todos os homens e mulheres, sem exceção. Daqui resultam duas coisas importantes: a primeira é que não basta ser batizado e a segunda é que não podemos marginalizar ou excluir qualquer irmão nosso.
 •       Estou consciente de que é de Deus que recebo tudo e manifesto-Lhe a minha gratidão pela sua presença, pelos seus dons, pelo seu amor?
 •       Aqueles que recebem de Deus carismas para pôr ao serviço dos irmãos: sentem-se apenas instrumentos de Deus, ou estão preocupados em sublinhar os seus méritos e em concentrar em si próprios a gratidão que brota dos corações daqueles a quem servem?

 SALMO RESPONSORIAL 97 (98)
O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça.
        Cantai ao Senhor Deus um canto novo, / porque Ele
fez prodígios! / Sua mão e o seu braço forte e santo /
alcançaram-lhe a vitória.
        O Senhor fez conhecer a salvação, / e às nações, sua
justiça; / recordou o seu amor sempre fiel / pela casa
de Israel.
        Os confins do universo contemplaram / a salvação do
nosso Deus. / Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,
/ alegrai-vos e exultai!

EVANGELHO (Lc 17,11-19) Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” Ao vê-los, disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

AMBIENTE - O leproso é, no tempo de Jesus, o protótipo do marginalizado… Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso é um impuro ritual (cf. Lev 13-14), a quem a teologia oficial atribuía pecados especialmente graves (a lepra era o castigo de Deus para esses pecados); por isso, o leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a cidade santa. Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração na vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas celebrações do culto.
Um dos leprosos é samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por causa do seu sincretismo religioso. A desconfiança religiosa dos judeus em relação aos samaritanos começou quando, em 721 a.C. (após a queda do reino do Norte), os colonos assírios invadiram a Samaria e começaram a misturar-se com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se… Após o regresso do exílio da Babilónia, os habitantes de Jerusalém recusaram qualquer ajuda dos samaritanos na reconstrução do Templo e evitaram os contatos com esses hereges, “raça misturada com pagãos”. A construção de um santuário samaritano no monte Garizim consumou a separação e, na perspectiva judaica, lançou definitivamente os samaritanos nos caminhos da infidelidade a Jahwéh. Algumas picardias mútuas nos séculos seguintes consolidaram a inimizade entre judeus e samaritanos. Na época de Jesus, a relação entre as duas comunidades era marcada por uma grande hostilidade.

MENSAGEM -  O episódio dos dez leprosos (que é exclusivo de Lucas) insere-se na ótica teológica de apresentar Jesus como o Deus que Se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação/libertação a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados.
Lucas mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade” (o judaísmo considerava necessário que pelo menos dez homens estivessem presentes, a fim de que a oração comunitária pudesse ter lugar, porque o “dez” representa a totalidade da comunidade). A presença de um samaritano no grupo indica que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens.
Contudo, dos dez leprosos curados, só um voltou para agradecer a Jesus e era um samaritano. Lucas está interessado em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido… E avisa que, com frequência, são os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus.

ATUALIZAÇÃO  •     Lucas garante que Deus tem um projeto de salvação para todos os homens, sem exceção; e que é em Jesus e através de Jesus que esse projeto atinge todos os que se sentem “leprosos” e os faz encontrar a vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.
 •       Às vezes, aqueles que lidam diariamente com o mundo do sagrado estão demasiado cheios de autossuficiência e de orgulho para acolherem com humildade e simplicidade os dons de Deus, para manifestarem gratidão e para aceitarem ser transformados pela graça…
 •       Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a ação libertadora de Jesus não é uma ação mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos batizados, ou fazemos a primeira comunhão ou nos crismamos; mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.

SEGUNDA LEITURA (2Tm 2,8-13) Leitura da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo.
Caríssimo: Lembra-te de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos, segundo o meu evangelho. Por ele eu estou sofrendo até às algemas, como se eu fosse um malfeitor; mas a palavra de Deus não está algemada. Por isso suporto qualquer coisa pelos eleitos, para que eles também alcancem a salvação, que está em Cristo Jesus, com a glória eterna. Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. 
 AMBIENTE O autor exorta Timóteo (e, na pessoa de Timóteo, todos os crentes, em geral) a perseverar na fé, a conservar a sã doutrina recebida de Jesus e a dedicar-se totalmente ao serviço do Evangelho.
 MENSAGEM -  O exemplo de Cristo, que chegou à glória da ressurreição pelo caminho da cruz e do dom da vida… O próprio Paulo seguiu esse duro caminho e é por isso que está preso; mas não está preocupado, pois o essencial é que a Palavra de Deus continue a transformar o mundo. Aliás, é preciso que alguns entreguem a própria vida para que a proposta libertadora de Jesus chegue a todos os homens… Vale a pena sofrer, a fim de que este objetivo se concretize.
O cristão é chamado a identificar-se com Cristo na entrega da vida e no serviço aos irmãos; essa entrega não termina no fracasso e no sem sentido, mas – a exemplo de Cristo – na ressurreição, na vida nova. O cristão não pode é recusar fazer da sua vida um dom de amor, se quiser identificar-se com Cristo.
 ATUALIZAÇÃO -  •  O autor da Segunda Carta a Timóteo recorda, aqui, algo de central para a experiência cristã: a essência do cristianismo é a identificação de cada crente com Cristo. Isto traduz-se, concretamente, no entregar a própria vida em favor dos irmãos, se necessário até ao dom total.

Dehonianos
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"Obrigado, Senhor"

Na 1ª Leitura: O Profeta Eliseu cura o leproso Naaman. (2Rs 5,14-17)
O general sírio apresenta-se ao Profeta para ser curado... Eliseu, sem acolhê-lo, manda lavar-se sete vezes no Rio Jordão. O General  obedece e fica curado...
Reconhecido, proclama sua fé no Deus de Israel e, como sinal de sua gratidão, leva consigo de Israel um pouco de terra, a fim de cultuar na própria terra o Deus verdadeiro.

Na 2ª Leitura, São Paulo em meio aos sofrimentos e privações da prisão, agradece a Deus pelos favores recebidos, chegando a afirmar: "Estou algemado como um prisioneiro,  mas a palavra de Deus não pode ser algemada". (2Tm 2,8-13)
* Mesmo nos acontecimentos desagradáveis da vida, encontra motivos de alegria, de esperança e de gratidão.

No Evangelho, Jesus cura 10 leprosos. (Lc 17,11-19)

Os leprosos deviam morar fora do povoado, longe do convívio humano para não contaminarem os outros com a sua impureza física e religiosa.
- Eles gritam de longe: "Jesus, mestre, tem compaixão de nós..."
- Jesus se "compadece" e os manda se apresentarem aos sacerdotes, que eram os responsáveis para comprovar a cura e liberar a reintegração na Comunidade.
- Os dez obedecem e "no caminho" se vêem curados. Mas só um volta para agradecer...  - Cristo questiona: "Não foram 10 os curados? Onde estão os outros nove?"
  E acrescenta: "Levanta-te e vai. TUA FÉ te salvou".
A fé se concretiza "a caminho" na obediência à Palavra de Jesus.

Pormenores significativos da narrativa do milagre:

- "A Lepra" representa o mal que atinge toda a humanidade,   gerando exclusão, opressão e injustiça (número 10 significa "totalidade").
  
- A Lepra desaparece "no caminho":
  A Ação libertadora de Jesus é um processo progressivo, no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração.
- Só um volta para agradecer:
  O Leproso curado volta "glorificando a Deus em alta voz".
  Agradece e acredita, por isso recebe mais: "Vai a tua fé de salvou".
  - "E é um Samaritano" (estrangeiro)
* A graça de Deus é mais valorizada por quem não pertence à Comunidade...
   - O que nos diz esse fato?
Nem todos sabem agradecer. (Nem obrigado recebi!)
- Não basta na hora da necessidade gritar: "Senhor, tem piedade de mim!".
É preciso também manifestar a nossa gratidão pela libertação que faz acontecer em nós, comprometendo-nos com ele.

- "Obrigado" é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos.
   + EUCARISTIA quer dizer: "ação de graças".
Aproveitemos esse momento privilegiado para agradecer a Deus de todos os favores recebidos em nossa vida, e partamos daqui dispostos a reconhecer agradecidos
também os inúmeros favores recebidos de nossos irmãos...

                                        Pe. Antônio Geraldo
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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa

A gratidão pela ação benéfica de Deus na nossa vida. Gratidão e ingratidão. Primeiro, a gratidão de Naamã, um pagão, inimigo de Israel, que sabe ser agradecido a Deus; levou terra de Israel para Damasco, para, sobre essa terra, adorar a Deus. Também a gratidão de outro pagão, o leproso samaritano que voltou a Jesus “para dar glória a Deus”. Mas também, hoje, aparece a ingratidão. Nove leprosos, filhos do povo de Israel, que curados, não retornam para agradecer o dom…
Estejamos atentos! Hoje, temos tudo… Vamos nos tornando insensíveis para perceber a vida como dom, como graça, como presente. É impressionante como o mundo nos vai tornando dormentes, insensíveis mesmo, para Deus! Se a vida já não mais é percebida como um dom, também não brota mais a ação de graças. Somente quando abrimos o coração e os olhos da fé, podemos perceber que tudo é graça, imenso dom de um Amor. Poderemos ouvir a palavra de Jesus: “Levanta-te e vai! A tua fé te salvou! Salvou-te de uma vida mesquinha, fechada, incapaz de olhar as estrelas, incapaz de comunhão com o Pai do céu, incapaz de dizer “Pai nosso”  e de reconhecer nos outros teus irmãos…” Mas, para isso – nunca esqueçamos – é necessário um coração de pobre, um coração humilde, que reconheça que tudo quanto possuímos foi recebido de Deus.
Vale a advertência de São Paulo, na segunda leitura de hoje: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos!”. Lembrar-se de Jesus é nunca esquecer que Deus está conosco, amando-nos, perdoando-nos e acolhendo-nos como Deus providente e misericordioso. Lembrar-se de Jesus morto e ressuscitado é nunca duvidar da misericórdia de Deus e de seu compromisso na nossa existência e na existência do mundo. “Lembra-te de Jesus Cristo ressuscitado! Se nós o renegarmos, também ele nos negará.” Aqui está o motivo último; vale a pena morrer com ele para, nele, viver uma vida nova; vale a pena sofrer com ele para, nele, reinarmos: a ingratidão de negá-lo em nossa vida, de fechar-se de tal modo para ele, que já não mais deixemos que ele seja o Senhor de nossa existência, que já não mais percebamos que tudo é graça, tudo é presente de amor, se o negarmos então tudo estará perdido.
Dom Henrique Soares da Costa
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Homilia do Mons. José Maria
A vida humana transformou-se num grande comércio onde tudo se compra e tudo se paga… É a época do descartável! Diante dessa realidade, muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão.
“Obrigado” é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos! Jesus cura dez leprosos, mas apenas um volta para agradecer.
Jesus se compadece e os manda se apresentarem aos sacerdotes, para comprovar a cura e liberar a reintegração na Comunidade.
No caminho se vêem curados; mas só um volta para agradecer… e era um samaritano, considerado estrangeiro e desprezado pelos judeus… Onde estão os outros nove? E acrescenta: Levanta-te e vai. TUA FÉ te salvou.”
Estes leprosos ensinam-nos a pedir: recorrem à misericórdia divina, que é fonte de todas as graças. E mostra-nos o caminho da cura, seja qual for a lepra que tenhamos na alma: em nome do Mestre, nos indicam o que devemos fazer.
Imaginemos o samaritano correndo, glorificando a Deus em voz alta; e foi prostrar-se aos pés do Mestre, dando-lhe graças.
Foi uma ação profundamente humana e cheia de beleza. Dizia Santo Agostinho: “Que coisa melhor podemos trazer no coração, pronunciar estas palavras: “graças a Deus”? A gratidão é uma das virtudes que enobrecem a pessoa humana. Desde criança, fomos educados a agradecer os favores recebidos. A gratidão é uma atitude que brota do coração de quem se sente amado pelo amor de Deus…
“Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?” Quantas vezes Jesus não terá perguntado por nós, depois de tantas graças!
Com frequência, temos melhor memória para as nossas necessidades e carências do que para os nossos bens. Vivemos pendentes daquilo que nos falta, e reparamos pouco naquilo que temos, e talvez seja por isso que ficamos aquém no nosso agradecimento. Pensamos que temos pleno direito ao que possuímos e esquecemo-nos do que diz Santo Agostinho: “Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”
Toda a nossa vida deve ser uma contínua ação de graças. Lembrai-vos das maravilhas que Ele fez, exorta o salmista. O samaritano, através do seu mal, pôde conhecer Jesus Cristo e por ser agradecido conquistou a sua amizade e o incomparável dom da fé: …Tua fé te salvou.
Saibamos agradecer a tantas pessoas que tornaram nossa vida mais feliz: nossos pais, nossos professores, o padre, o médico, o catequista, os colegas de estudo, de trabalho, de esporte e de tantos outros.
Também é significativo que fosse um estrangeiro quem voltasse para agradecer. Isso recorda-nos que, por vezes, não sabemos dar importância às delicadezas e atenções que recebemos dos mais próximos.
Não existe um só dia em que Deus não nos conceda alguma graça particular e extraordinária! Em todos os momentos saibamos dizer: “Obrigado, Senhor, por tudo.”
Não podemos esquecer-nos de que na vida das criaturas humanas tudo é dom de Deus, tudo é graça, tudo é benção de Deus.
Ensina São Paulo: “Em todas as circunstâncias dai graças…” (1Ts 5, 18). Já dizia Sêneca: “Só os espíritos bem formados são capazes de cultivar a gratidão.” Importantíssimo é educar-nos para esta atitude de ação de graças.
Mons. José Maria Pereira
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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Os dez leprosos, que Jesus encontra à entrada do povoado, têm em comum duas situações existenciais: a doença e a cura. A doença os torna solidários, pois a desventura, a dor, o sofrimento, não distinguem cor, raça, condição social ou econômica e, nem mesmo, convicção religiosa. Situações-limite sempre levam as pessoas, na luta pela sobrevivência, a uma superação de preconceitos ou, ao menos, as tornam mais receptivas na aceitação de uma simples presença que alivie a sua dor. Se entre eles havia um samaritano, certamente os demais eram judeus ou provenientes das outras regiões. Caso fossem pessoas sadias, por causa de seus preconceitos raciais, certamente nunca se permitiriam estar tão próximas. Contudo, formavam um grupo unitário de dez homens, que padeciam de duas grandes e dilacerantes dores.
No corpo físico, assistiam impotentemente à destruição dos seus nervos, cujo sinal era visto na sua pele carcomida pela lepra, ou nos membros do seu corpo esmigalhados pelas consequências da doença; sem contar a humilhação do mal cheiro que exalavam, assemelhando-se aos cadáveres de animais mortos ao longo da estrada. No corpo social, suportavam a dor da marginalização, pois como membros decepados de suas famílias, de suas comunidades religiosas e de seus agrupamentos sociais, por causa da ignorância e do preconceito, deveriam viver isolados dos “sãos”.
A situação existencial desse grupo não se diferencia muito da realidade do ser humano da nossa sociedade. Não são poucas as pessoas que estão marcadas profundamente pelas lepras atuais, causadas conscientemente sobretudo pelas potentes ideologias que produzem inúmeras levas de agrupamentos humanos que compartilham da mesma dor, isto é, a privação das mínimas condições de dignidade de vida (refugiados, ignorantes políticos manipulados por falsos líderes ou enfeitiçados por seus discursos demagógicos, adolescentes e jovens escravizados pelos modismos impostos por poderosos grupos econômicos etc.).
O encontro com Jesus é decisivo para o início de um caminho de cura e salvação para todos os leprosos (de ontem e de hoje). Numa sociedade de doentes, certamente muitos desejam a cura, mas nem sempre reconhecem que necessitam de algo a mais, isto é, a plenitude de vida, a salvação.
A primeira atitude para alcançar a cura e a salvação é a obediência à Palavra de Jesus. Uma obediência que manifesta abertura, humildade, confiança e fé. Os leprosos gritam por compaixão, e Jesus responde com um mandato: “Ide mostrai-vos aos sacerdotes”; antes mesmo de curá-los, o Senhor os desafia a crer na sua palavra. Dando o passo da fé, receberam a cura, mas isso não era tudo, pois o caminho completo não se faz apenas com alguns passos. Há tantas pessoas que suplicam ao Senhor por uma cura, e quando a alcançam, voltam para suas casas contentes, mas não estão dispostas a continuar a estrada. Encontraram a resolução de um problema na vida, mas não encontram a vida plena, pois contentam-se apenas com o mínimo.
Só o samaritano conseguiu mais do que uma cura, ele encontrou o caminho da plenitude de vida porque foi capaz de assumir duas outras atitudes. Curado, ele voltou para Jesus com a disposição de discípulo, que posta-se aos pés do Mestre para ouvir o que ele ainda tinha a dizer (grego: hypéstrepsen é um verbo composto de duas palavras significativas: voltar para os pés). O verbo “voltar”, tanto no grego (strefo) quanto no hebraico (shuv), é usado para indicar conversão, mudança de rumo. Portanto, o samaritano leproso não apenas foi purificado no corpo, mas empreendeu um verdadeiro itinerário de mudança de vida. Nem sempre as pessoas que alcançam curas se convertem verdadeiramente, tornam-se discípulas.
A outra atitude fundamental daquele que voltou foi a gratidão: “Retornou em alta voz dando glória a Deus”. O seu reconhecimento diante do bem recebido tornou-se anúncio público, ao longo do seu caminho; assim como os anjos de Belém que cantavam glória a Deus por ocasião do nascimento de Jesus, agora o leproso curado dá glória a Deus pois reconhece ter nascido de novo, tinha recuperado a vida, o convívio, a dignidade. Sua gratidão alcança o ponto mais alto quando “caiu sobre o rosto aos pés de Jesus agradecendo” (Lucas usa o verbo eucharisto, mesma raiz de Eucaristia, agradecer, ação de graças). Esse mesmo gesto de gratidão fará Jesus ao Pai no momento em que ele, na última ceia, anunciará a sua morte e ressurreição (cf. Lc 22,19). A celebração da Eucaristia não é apenas momento de cura e libertação, mas é anúncio e atualização da Salvação realizada por Jesus.
Se o primeiro mandato de Jesus aos leprosos garantiu-lhes a cura, o segundo àquele único que voltou (converteu-se), assegura-lhe a salvação: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. Na primeira vez, os leprosos se levantaram com a esperança da cura; na segunda, o único que voltou, levantou-se com a garantia da salvação. Esse não foi apenas purificado de uma doença, mas mergulhado na plenitude da vida. Assim como ele anunciou o benefício da cura recebida, glorificando a Deus no caminho, Jesus o declara ressuscitado para uma vida nova (“Levanta-te”, grego avastàs, do verbo avaistemitraduzido por levantar, ressuscitar). O leproso curado nos ensina que gratidão não é pagamento de um bem recebido, mas reconhecimento e testemunho de um bem que nos foi dado, isto é, a salvação. Se a fé nos ajuda a reconhecer tão grande bem, irresistivelmente só haverá um modo de agradecer: converter-se.

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PARA A CELEBRAÇAO DA PALAVRA (Diáconos e Ministros da Palavra):

Louvor: (quando o Pão sagrado estiver sobre o altar)
- Com Jesus, por Jesus e em Jesus, na força do Espírito Santo, Louvemos ao Pai:
-T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
- Ó Deus, nosso Pai, sois nosso Deus e somos vosso povo. Hoje nos ensinastes que todas as pessoas são filhos e filhas vossas. A cura da salvação é para todos que vos procuram. O sírio Naamam foi curado e reconheceu o bem que lhe fizeste. Nós vos agradecemos por tudo que nos tem dado. Agradecemos pela vida, pelo batismo, pela família que nos criou, pelos amigos e parentes. Agradecemos pela saúde, pelos nossos alimentos, pela fé, pelos ensinamentos, pela casa e pelos bens que nos destes.
T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
- Ó Pai, nos ensinastes através de Paulo que temos que carregar as nossas cruzes, que devemos seguir o exemplo de Vosso Filho no amor a todos os irmãos. Que Vosso Espírito Santo nos fortaleça para que sejamos servos fiéis aos vossos ensinamentos, porque somos vossos filhos e através de Jesus se manifestou a vossa bondade para com todos. Pai, ajudai-nos a sermos melhores.
T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
- Senhor, obrigado por nos enviar vosso Filho, nos dar a salvação e nos enviar o Espírito Santo para nos iluminar e nos fortalecer. Pai, temos as nossas cruzes e as nossas dificuldades que bem o sabeis. Dai-nos força e coragem para perseverarmos em nossa fé.
T: Bendito sejais, ó Deus de bondade.
- Rito da comunhão:  - Pai nosso... A Paz... Eis o Cordeiro...
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A fé em crise? Vejamos o que o canto nos diz:

CANTO DE ABERTURA
Toda a terra te adore, ó Senhor do universo, / os louvores
do teu nome cante o povo em seus versos!
1. Venham todos, com alegria, / aclamar nosso Senhor,
/ caminhando ao seu encontro, / proclamando seu
louvor. / Ele é o Rei dos reis. / E dos deuses o maior.  E dos deuses o maior? Tem outros deuses? Quais? Não será uma mentalidade do tempo do exílio da Babilônia?

Vejamos anotações de minhas aulas de teologia:

A fé em crise

Os pais do gênero Apocalíptico foram os Profetas e o livro da sabedoria. O Profeta é aquele que denuncia e faz o povo agir (normalmente). A Sabedoria fala do Homem reto, posto que se encontra no conhecimento com Deus.

Na Babilônia, já vimos, temos uma crise de fé. O povo hebreu perdeu a guerra para Nabucodonosor, o rei da Babilônia. Quando se ganhava, era Deus que ganhava. Se perdeu, é o  Deus Javé que “perdeu  a guerra para o deus Marduc”. Qual então é o deus maior? Nosso Deus é mesmo Deus? Ou será um entre outros? – crise de fé.

No tempo das profecias lemos no Êxodo 20:5  Não se ajoelhe diante de ídolos, nem os adore, pois eu, o Eterno, sou o seu Deus e não tolero outros deuses.    “Eu sou o seu Deus e sou maior que outros deuses”. Agora este meu Deus perde a guerra para outro Deus? - “Então o Deus deles é maior que o nosso!”.  Surgem então sacerdotes e profetas e criam o gênero apocalíptico, onde tudo é Deus que irá fazer; vemos isto em Ezequiel na visão dos ossos (Ezequiel 37,3). 
 
Profetismo  hoje: “O povo unido, jamais será vencido”.
Sabedoria:  O Justo vive da fé (ele faz porque tem alguém maior que ele).
Gênero Apocalíptico: Deus fará (Deus provê, Deus proverá e nada faltará). Com ou sem mim, é Deus que faz sem necessitar de ninguém.

Dentro do gênero apocalíptico, isto vai causar um modo diferente na conversão: Bandido, traficante ao conhecerem Jesus dizem: “eu já parei de fazer o mal e não o farei mais, pois aceitei a Jesus. Eu matava e agora não mato mais”.

O que Deus quer é que não matemos e por outro lado que levemos vida. Se roubei agora devolvo e faço doações: isto é mais que conversão, é ir mais fundo.

Hoje é exigido; “Deixe que o Senhor te toque, ele vai mudar a sua vida”! – Só isto não basta, pois temos que dar a nossa contribuição para a construção do Reino. Uma ação detona uma reação.

O convertido pela metade é perigoso (sai um e voltam sete demônios). Conversão é só o 1° passo. A seguir vem a mudança de vida.

Jesus pede no  evangelho de Marcos que o povo se arrependa e converta-se (Mc 1,15). A palavra colocada é “Metanóiate”. Isto é mais que arrependimento. Arrepender-se é só o 1o passo. Outros passos é que vão mudar a posição. Jesus exige não só que se arrependa, mas que faça o Caminho.
 “Metanóiate”: mudança de atitude, de pensamento e de ação.

Em Mateus não é o que diz, mas o faz a vontade de Deus na construção do reino que entrará no céu (Mateus 7:21). 

Conversão é processo, pois Lucas nos diz que para seguirmos Jesus temos que carregar a cruz dia a dia (Lucas 9:23).  O correto é dizer: estou mudando e não “eu mudei”.

No Gênero Apocalíptico vemos em Ezequiel que É Deus que faz tudo. Todo o fazer cabe a Deus. (Dn 37,1).

No Livro da Sabedoria vemos que Deus faz através do justo. Paulo ainda acrescenta que somos companheiros de trabalho no serviço de Deus (1 Coríntios 3:9) 
 
  O profeta nos diz que Deus faz através do Povo (Miquéias 6,8), enquanto o apocalíptico se ampara somente no “Deus fará” (Ezequiel 37,3), onde o homem é só mero expectador.

Nós, hoje, fazemos o mesmo. Ao invés de dizer: fico grato com você, dizemos “Deus lhe pague”; se vire com ele. (Nos carros tem uma frase: Deus é fiel. – tudo é Deus e nós nada!). Olhando o nosso mundo atual é mais fácil acreditar que só Deus pode mudar o que aí está. Veja os Estados Unidos e o mundo todo que nada faz. Aí dizemos: “Deus fará justiça!” (enquanto nós ficamos na nossa passividade?).

O que o testemunha de Jeová diz? “Converta-se, pois o mundo será destruído. Vá para o lado de Deus”; O Rito pentecostal é gênero Apocalíptico.

A Igreja precisa é de profecia e não de gênero apocalíptico: levante e faça algo. Mesmo errando, mas tente alguma coisa. Faça como Maria, pois se “Deus está contigo”, Ele nos dará forças para que mudemos este mundo construindo o Reino de Deus rumo a sua plenitude.









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