quinta-feira, 31 de outubro de 2019

FIÉIS DEFUNTOS Ano C 2019, homilias, subsídios homiléticos


COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS Ano C 2019

PRIMEIRA LEITURA (Jó 19,1.23-27a) Leitura do Livro de Jó
Jó tomou a palavra e disse: “Gostaria que minhas palavras fossem escritas e gravadas numa inscrição com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na rocha para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”.

Os amigos de Jó tentam consolá-lo, recorrendo a uma sabedoria superficial, expressa em frases feitas e lugares comuns. É o que tantas vezes acontece quando pretendemos confortar alguém que sofre. As palavras de Jó são muito diferentes. No meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e trespassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor, aquele parente próximo que, segundo os costumes hebreus, deve comprometer-se a resgatar, à sua própria custa, ou a vingar, o seu familiar em caso de escravidão, de pobreza, de assassínio. Jó sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Jó afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de quem não é estranho à sua vida.

SALMO RESPONSORIAL [Sl 26(27) – Lecionário Dominical, n.3]
Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes.
• O Senhor é minha luz e salvação; / de quem eu terei medo? / O Senhor é a proteção da minha vida; / perante quem eu tremerei?
• Ao Senhor eu peço apenas uma coisa / e é só isto que eu desejo: / habitar no santuário do Senhor / por toda a minha vida; / saborear a suavidade do Senhor / e contemplá-lo no seu templo.
• Ó Senhor, ouvi a voz do meu apelo, / atendei por compaixão! / É vossa face que eu procuro. / Não afasteis em vossa ira o vosso servo, / sois vós o meu auxílio!
• Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver / na terra dos viventes. / Espera no Senhor e tem coragem, / espera no Senhor.

EVANGELHO (Jo 6, 37-40) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, disse Jesus às multidões: “Todos os que o Pai me confia virão a mim, e quando vierem, não os afastarei. Pois eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. Pois esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”.

O centro desta perícope é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.

Meditação
O silêncio é a melhor atitude perante a morte. Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e revelando-nos a linguagem do amor, põe-nos em comunhão profunda com esse mistério. Há um laço muito forte entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se estabelece entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que se instalam mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá onde habita a Santíssima Trindade.

O centro desta perícope é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.

SEGUNDA LEITURA (Rm 5,5-11 – Lecionário Domincal, n.1)
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos, a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores. Muito mais agora, que já estamos justificados pelo sangue de Cristo, seremos salvos da ira por ele. Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho; quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida! Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. É por ele que, já desde o tempo presente, recebemos a reconciliação.

O homem pode ter esperança diante da morte. Como intuiu Jó, Deus é, de verdade, o nosso Redentor, porque nos ama. Empenhou-se em resgatar-nos da escravidão do pecado e da morte com o preço do sangue do seu Filho (vv. 6-9) e de modo absolutamente gratuito. De fato, nós éramos pecadores, ímpios, inimigos; mas o Senhor reconheceu-nos como "seus", e morreu por nós arrancando-nos à morte eterna. Acolhemos esta graça por meio do batismo, participando no mistério pascal de Cristo. A sua morte reconciliou-nos com o Pai, e a sua ressurreição permite-nos viver como salvos. Quebrando os laços do pecado, e deixando-nos guiar pelo Espírito derramado em nossos corações, atualizamos cada dia a graça do nosso novo nascimento.

Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a "morte quotidiana" revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta "morte quotidiana" que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
Para o cristão, o sofrimento é um tempo de "disponibilidade pura", de "pura oblação" e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados "a Cristo na morte" (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma "morte bonita", tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma "liturgia esquálida", de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte "para Cristo e em Cristo" (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz: "Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb 9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: "Se morrermos com Ele, com Ele viveremos" (2 Tm 2, 11).

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Homilia de D. Henrique Soares da Costa

Hoje, a Igreja recolhe-se em oração pelos seus filhos que já partiram desta vida. Para os cristãos, não se trata de um simples dia de saudade, mas de oração pelos fiéis de Cristo que já partiram para a Casa do Pai na firme esperança da ressurreição. Vêm à nossa mente e ao nosso coração tantas perguntas: Que é a morte? Que é a vida que termina com a morte? O que há após a morte? São interrogações que devemos responder à luz da fé.
Num mundo que já não crê e não tem quase nada a dizer sobre a vida e sobre a morte, a Palavra de Deus nos ilumina: “Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros, que não têm esperança” (1Ts 4,13). O cristão não pode encarar a morte como os pagãos; nós temos uma esperança, e ela se chama Jesus Cristo, aquele que disse “eu sou a Ressurreição, eu sou a Vida” (Jo 11,25)!
Recordemos algumas certezas fundamentais da nossa fé:
(1) Deus é vida, criou tudo para a vida. Ele não é o autor da morte, não entende nada de morte, não tem parte com a morte (cf. Sb 1,13-15). Pelo contrário, a morte é a separação do Deus da vida, como as trevas são a separação da luz do sol. “Deus criou o homem para a incorruptibilidade e o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do Diabo que a morte entrou no mundo: experimentam-na aqueles que lhe pertencem” (Sb 2,23s). Deus pensou para nós somente o bem e a felicidade com ele! O homem, ao fechar-se desde o princípio, para o Deus da vida, desarrumou-se, desaprumou-se e passou a experimentar sua vida como uma morte: desequilíbrio, dor, egoísmo, solidão, medo, doença, falta de sentido e, finalmente, a morte física... O salário do nosso pecado foi uma situação de morte, de infelicidade, de incoerência e tristeza, que culmina com a morte física. Basta olhar o mundo ao nosso redor!
(2) Isto não significa que, se não tivéssemos pecado, viveríamos aqui para sempre. Deus não nos criou para vivermos aqui indeterminadamente: “O Senhor tirou o homem da terra e a ela faz voltar novamente. Deu aos homens número preciso de dias e tempo determinado” (Eclo 17,1s). Deus nos deu um número preciso de dias, um tempo de vida. Mas, uma coisa é certa: sem o pecado, vivendo na amizade com Deus e na harmonia com os outros e o mundo, nossa morte não teria o gosto amargo de morte. Se hoje a morte tem um aspecto trágico, é porque está ligada ao pecado, ao nosso afastamento de Deus. Por isso a morte nos mete medo e, muitas vezes, é sentida como uma ameaça de cair no nada.
(3) Mas, Deus não nos abandonou à morte: ele nos enviou o seu Filho, em tudo igual a nós, menos no pecado. Ele tomou sobre si as nossas dores, viveu nossa vida mortal, de incertezas, de tristezas, de angústias, de morte. Morrendo de nossa morte, ele foi ressuscitado pelo Pai na força do Espírito Santo. Morrendo da nossa morte, ele nos deu a possibilidade e a graça de morrer como ele e com ele ressuscitar da morte: “Eu sou a ressurreição! Quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá!” (Jo 11,25). Desde o Batismo, unidos a Cristo morto e ressuscitado, alimentados pelo seu corpo e sangue na Eucaristia, sabemos que “nem a morte nem a vida nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Cristo” (Rm 8,38s).
Esta é a nossa esperança: vivermos unidos a Cristo já agora e, após a nossa morte, ressuscitar nele e com ele, nele e como ele! Como o Senhor foi glorificado no seu corpo e na sua alma pela potência do Espírito Santo, assim também nós seremos glorificados: logo após a nossa morte, na nossa alma, nunca mais sentiremos o medo, a tristeza, a dor, o pranto... e, no fim dos tempos, também no nosso corpo mortal seremos glorificados: “semeado corruptível, ressuscitará corpo incorruptível; semeado desprezível, ressuscitará reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,42-44). Sermos glorificados significa entrar na plenitude de Cristo, na alegria de Cristo, na eternidade de Cristo! Isto, para nós, é o Paraíso: estar para sempre com o Senhor!
Irmãos, Irmãs, rezemos hoje pelos nossos queridos que já morreram; rezemos por todos os fiéis que já partiram para o Cristo: que recebam o perdão de seus pecados e entrem na plenitude de Deus. A Sagrada Escritura diz que “é um santo e piedoso pensamento rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados” (2Mc 12,46). Que nosso carinho e nossa saudade sejam acompanhados pela nossa piedosa oração, cheia de esperança na ressurreição.
Mas, pensemos também na nossa vida, no destino que estamos dando à nossa existência, pois nosso encontro com o Senhor é preparado no dia-a-dia, nos pequenos momentos de nosso caminho neste mundo. São Bernardo de Claraval afirmava que nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Pois bem! Estejamos atentos para viver de tal modo, que nossa vida seja uma amizade com Deus que começa aqui e se consumará na glória!
Voltemos nosso olhar e nosso pensamento para Cristo, vencedor da nossa morte. As palavras do Prefácio da missa de hoje são tão consoladoras: Em Cristo “brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus, um corpo imperecível”.Que o Senhor realize a nossa esperança e que nós vivamos de tal modo, que sejamos dignos dela!
Descanso eterno dai-lhes, Senhor!
Da luz perpétua, o resplendor!
Que suas almas descansem em paz.   Assim seja!
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Participando da vida de Cristo
Rezar pelos mortos é mostrar nossa fé na Ressurreição. Esta fé nos garante a vida: “Eu sou a Ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo o que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês nisso? Sim, Senhor, eu creio firmemente que Tu és o Messias, o Filho de Deus que deve vir ao mundo” (Jo 11,25-27). Ter fé é, no ensinamento de João, ter a Vida Eterna: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia… Aquele que crê tem a Vida eterna” (Jo 6,44.47). Ter a Vida Eterna é participar de Cristo que é a vida. A celebração dos mortos mostra com clareza que acreditamos na Vida de Cristo em nós. A narrativa da ressurreição de Lázaro vai além de um caso de amizade que termina numa ressurreição, mas é a demonstração da garantia de nossa ressurreição. Na oração da missa pedimos a Deus: “aumentai nossa fé no Cristo ressuscitado para que seja mais viva a nossa esperança na Ressurreição dos vossos filhos e filhas”. Queremos, com a celebração de hoje celebrar o sacramento pascal, a Eucaristia, para que os falecidos cheguem à luz e à paz da casa do Pai (pós-comunhão).
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No dia em que celebramos os mortos, tudo fala de vida, de modo que podemos afirmar, que morrer é viver. A razão disso tudo é a pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Hoje de modo especial, recordamos os nossos falecidos. Uma lembrança de carinho e piedade. A Igreja sempre nos ensinou a rezar no Credo: “Creio na comunhão dos santos... e na vida eterna”. O que significa isso? Quer dizer que nós, que peregrinamos nesta Terra, estamos em comum união, em comunhão com os que terminaram esta vida, seja os que alcançaram a glorificação, seja os que ainda precisam de purificação. A criatura humana não é feita para a morte, mas para a vida eterna. E Jesus foi claro quando disse: “Deus não é um deus dos mortos, mas dos vivos”. A morte biológica não é o fim do ser humano. Tudo é possível se a morte não é o fim. Apesar da fé, é natural que nos pese a ausência física de pessoas que amamos e já não estão neste mundo. Não celebramos nossos mortos como quem lembra de alguém que se foi e nunca mais se verá. Cremos num encontro que está carinhosamente preparado pelo Pai e que podemos rezar uns pelos outros, vivos e mortos, porque continuamos sendo todos membros da mesma família de filhos e filhas de Deus. 

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Toda eucaristia é ação de graças. Esta de hoje nos faz agradecer a Deus por todas aquelas pessoas que encarnaram para nós o rosto de Cristo. Olhamos para eles na luz da gratidão. Muitos de nós, quando foram provados pela separação de uma pessoa querida, tiveram que aprender a oração de Santo Agostinho: “Senhor, não vos pergunto por que ma tirastes, mas vos agradeço por ma terdes dado.”

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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
A celebração do Mistério Pascal nos faz mergulhar na dimensão profunda da nossa realidade com todos os seus aspectos e dimensões, mas também nos proporciona a participação na vida de Deus, Senhor da morte e da vida. Na Eucaristia não falta nada, não há espaços vazios, pois todo o mistério de Cristo ilumina a totalidade do mistério da vida humana. Portanto, a realidade da morte e da vida está sempre presente em cada Eucaristia. Nela a Igreja renova a sua consciência e fé de ser Corpo de Cristo e, portanto, do qual nada a poderá separar, nem a vida e nem mesmo a morte (Rm 8,38). Respeitando a sensibilidade e os limites da própria experiência humana, e seguindo uma longa Tradição, a Igreja neste dia faz uma memória especial dos seus membros que já atravessaram o limiar da última experiência da existência terrena. A Eucaristia deste dia não é apenas ocasião para reacender em nós a certeza de que um dia morreremos ou mesmo para reavivar a tristeza no nosso coração por causa da morte dos nossos entes queridos. Para isto não se faria necessário a Eucaristia; tantos neste dia farão essa experiência sem necessariamente participarem de uma missa.
A contemplação da morte e ressurreição de Cristo nos coloca noutra perspectiva. Não fazemos apenas a constatação que há a morte, e que dela ninguém escapará, mas somos desafiados a crer na vida que não morre. Pois esta é a certeza fundamental para se admitir a verdade morte.  Talvez nos cause estranheza a comemoração deste dia, já que se ressalta tanto a morte; será que isso não seria contraditório para aqueles que creem que a morte já foi derrotada pelo Cristo vitorioso? A tendência a minimizar a morte ou os malabarismos cosméticos para fazer de conta que a sua dor não existe representam hoje uma das mais sutis expressões da alienação humana. Enquanto o ser humano não se abrir para o mistério da morte como momento decisivo para reafirmar as convicções da vida, ele viverá sempre fugindo dela, alimentando a ilusão infantil de que poderá driblá-la ou, sentindo-se onipotente, prolongá-la para sempre aqui na terra, isto se pareceria com a insensatez de uma mãe que não quer permitir que o seu filho saia do seu ventre, pensando que fora daquele pequeno mundo não haveria outra felicidade.
Diante dessa alienação, só resta uma angústia insuportável ou um desespero enlouquecedor. A sociedade alienada, que é incapaz de olhar para o horizonte mais amplo que toca o céu, tenta sedar a angústia de um ser humano enfeitiçado pelo pouco que saboreia aqui na terra. Por isso, transforma os cemitérios, cujas cruzes lembravam que a morte foi destruída pela morte Daquele que ressuscitou, em jardins botânicos ou corredores de um bosque florido a fim de criar um clima “agradável” aos seus visitantes, que não podem ser impactados com sinais que lembrem que ali estão depositados os corpos dos seus entes queridos, que aguardam o grande dia da ressurreição também para eles e não apenas esperam brotar como belas flores, que de manhã crescem vicejantes, mas que à tarde logo secam (Sl 89).
O medo de encarar aquilo que São Francisco declarou irmã leva o ser humano a ser inimigo do seu próprio destino, e não podendo negá-lo, apela de modo deliberado e covarde para a perda da sua consciência embriagando-se de calmantes e ansiolíticos. Preferem evitar as lágrimas e a dor do momento, tão naturais ao ser humano, para passar o resto da vida tentando preencher um vazio que fora cavado na alma por causa de uma ausência efetiva e afetiva que artifícios da sociedade alienada lhe ofereceram para impedi-lo de ter dor e se permitir sofrer por ocasião da morte de um dos seus. A fé cristã nos oferece uma outra possibilidade de encarar a morte: a certeza de que a vida não morre; crer na eternidade é um sinal de que se vive bem, que se descobriu o real sentido que a vida tem: ser semente de eternidade.
É possível imaginar a sede sem a água, a fome sem o alimento, o calor sem o frio, o frio sem o aquecimento? Se fosse assim, a vida não existiria ou seria apenas um terrível momento de angústia, de busca sem sentido. Como seria torturante necessitar, buscar, sem encontrar! “Como a corça suspira por águas correntes, minha vida suspira por ti, ó meu Deus” (Sl 42,2).
A própria experiência da humanidade, ao longo de sua história, tem demonstrado que, além da sede e da fome e de tantas outras necessidades fundamentais, no coração humano está inscrito um irresistível desejo de vida plena. E se é verdade que só temos sede porque existe água, do mesmo modo, só desejamos que a vida não morra, porque existe a eternidade. A morte sem a fé na vida tornar-se-ia a grande ironia da existência humana. Assim como uma cova não pode reter a semente nela depositada, pois no momento certo irromperá com força e vitalidade, tornando-se planta madura e frutífera, assim também um túmulo não é capaz de aprisionar alguém cuja vida foi marcada por tantas lutas, tantos esforços, tanta beleza e encanto.
“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24)Crer na ressurreição não é uma atitude alienante para suavizar a dor de ingênuos, mas a atitude mais coerente de quem crê na vida e, portanto, reconhece os seus anseios mais profundos e não os nega, e não admite o absurdo de que a morte seja a última palavra da sua existência; reconhece a sede, mas não se recusa a beber na fonte.
“Quem tiver sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim… do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,37). A fé na ressurreição é o caminho que conduz o sedento à fonte. A sede e a fome não podemos negar, mas comer e beber podemos optar. A fé não nos faz crer na morte, mas na vida que não morre!


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Para a Celebração da Palavra (Diáconos e Ministros extraordinários da Palavra)
Louvor: (Quando O Pão consagrado estiver sobre o altar)
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Senhor, queremos hoje pedir por aqueles que desapareceram no mistério da morte. Dái o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam pelo teu infinito amor.
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Que nossos amigos e parentes descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz,
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Também vos agradecemos por nos ter dado a companhia destes que partiram que tanto nos ajudaram nesta vida. Agrademos por tudo o eles nos ensinaram. Apagai, senhor, os seus erros e acolhei-os na glória eterna.
T: Senhor, sois a nossa esperança.

Pai nosso ... A Paz de Cristo....   Eis o Cordeiro de Deus....



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