COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS Ano C
2019
PRIMEIRA
LEITURA (Jó 19,1.23-27a) Leitura do Livro de Jó
Jó
tomou a palavra e disse: “Gostaria que minhas palavras fossem escritas e
gravadas numa inscrição com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na rocha para
sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará
sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne,
verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de
outros”.
Os amigos de Jó tentam consolá-lo, recorrendo a uma sabedoria
superficial, expressa em frases feitas e lugares comuns. É o que tantas vezes
acontece quando pretendemos confortar alguém que sofre. As palavras de Jó são
muito diferentes. No meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e
trespassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor, aquele parente
próximo que, segundo os costumes hebreus, deve comprometer-se a resgatar, à sua
própria custa, ou a vingar, o seu familiar em caso de escravidão, de pobreza,
de assassínio. Jó sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como
alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre
Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Jó
afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de
quem não é estranho à sua vida.
SALMO
RESPONSORIAL [Sl
26(27) – Lecionário Dominical, n.3]
Sei que a
bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes.
•
O Senhor é minha luz e salvação; / de quem eu terei medo? / O Senhor é a
proteção da minha vida; / perante quem eu tremerei?
•
Ao Senhor eu peço apenas uma coisa / e é só isto que eu desejo: / habitar no
santuário do Senhor / por toda a minha vida; / saborear a suavidade do Senhor /
e contemplá-lo no seu templo.
•
Ó Senhor, ouvi a voz do meu apelo, / atendei por compaixão! / É vossa face que
eu procuro. / Não afasteis em vossa ira o vosso servo, / sois vós o meu
auxílio!
•
Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver / na terra dos viventes. / Espera no
Senhor e tem coragem, / espera no Senhor.
EVANGELHO
(Jo 6, 37-40) Proclamação do Evangelho
de Jesus Cristo segundo João.
Naquele
tempo, disse Jesus às multidões: “Todos os que o Pai me confia virão a mim, e
quando vierem, não os afastarei. Pois eu desci do céu não para fazer a minha
vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me
enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no
último dia. Pois esta é a vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e
nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”.
O centro desta perícope é a vontade de
Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa
vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela
mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus
manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade
atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre
consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque
adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para
além do intransponível limite da morte.
Meditação
O silêncio é a melhor atitude perante
a morte. Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e revelando-nos a linguagem
do amor, põe-nos em comunhão profunda com esse mistério. Há um laço muito forte
entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem
neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos
causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se estabelece
entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima
comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que se instalam
mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa
interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá onde
habita a Santíssima Trindade.
O centro desta perícope é a vontade de Deus, para a
qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um
desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de
Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a
sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa
por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que
acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a
ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível
limite da morte.
SEGUNDA LEITURA (Rm 5,5-11 – Lecionário Domincal, n.1)
SEGUNDA LEITURA (Rm 5,5-11 – Lecionário Domincal, n.1)
Leitura da Carta de São Paulo aos
Romanos.
Irmãos, a esperança não decepciona,
porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que
nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos
ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma
pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que
Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores. Muito
mais agora, que já estamos justificados pelo sangue de Cristo, seremos salvos
da ira por ele. Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele
pela morte do seu Filho; quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos
salvos por sua vida! Ainda mais: nós nos gloriamos em Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo. É por ele que, já desde o tempo presente, recebemos a
reconciliação.
O homem pode ter esperança diante
da morte. Como intuiu Jó, Deus é, de verdade, o nosso Redentor, porque nos ama.
Empenhou-se em resgatar-nos da escravidão do pecado e da morte com o preço do
sangue do seu Filho (vv. 6-9) e de modo absolutamente gratuito. De fato, nós
éramos pecadores, ímpios, inimigos; mas o Senhor reconheceu-nos como
"seus", e morreu por nós arrancando-nos à morte eterna. Acolhemos
esta graça por meio do batismo, participando no mistério pascal de Cristo. A
sua morte reconciliou-nos com o Pai, e a sua ressurreição permite-nos viver
como salvos. Quebrando os laços do pecado, e deixando-nos guiar pelo Espírito
derramado em nossos corações, atualizamos cada dia a graça do nosso novo
nascimento.
Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a "morte quotidiana" revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta "morte quotidiana" que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
Para o cristão, o sofrimento é um tempo de "disponibilidade pura", de "pura oblação" e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados "a Cristo na morte" (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma "morte bonita", tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma "liturgia esquálida", de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte "para Cristo e em Cristo" (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz: "Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus" (Heb 9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: "Se morrermos com Ele, com Ele viveremos" (2 Tm 2, 11).
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Homilia de D.
Henrique Soares da Costa
Hoje, a Igreja recolhe-se em oração pelos seus filhos que já partiram
desta vida. Para os cristãos, não se trata de um simples dia de saudade, mas de
oração pelos fiéis de Cristo que já partiram para a Casa do Pai na firme
esperança da ressurreição. Vêm à nossa mente e ao nosso coração tantas
perguntas: Que é a morte? Que é a vida que termina com a morte? O que há após a
morte? São interrogações que devemos responder à luz da fé.
Num mundo que já não crê e não tem quase nada a dizer sobre a vida e
sobre a morte, a Palavra de Deus nos ilumina: “Irmãos, não queremos que
ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros,
que não têm esperança” (1Ts 4,13). O cristão não pode encarar a morte
como os pagãos; nós temos uma esperança, e ela se chama Jesus Cristo, aquele
que disse “eu sou a Ressurreição, eu sou a Vida” (Jo 11,25)!
Recordemos algumas certezas
fundamentais da nossa fé:
(1) Deus é vida, criou tudo para a vida. Ele não é o autor da morte, não
entende nada de morte, não tem parte com a morte (cf. Sb 1,13-15). Pelo
contrário, a morte é a separação do Deus da vida, como as trevas são a
separação da luz do sol. “Deus criou o homem para a incorruptibilidade e
o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do Diabo que a morte
entrou no mundo: experimentam-na aqueles que lhe pertencem” (Sb 2,23s). Deus
pensou para nós somente o bem e a felicidade com ele! O homem, ao fechar-se
desde o princípio, para o Deus da vida, desarrumou-se, desaprumou-se e passou a
experimentar sua vida como uma morte: desequilíbrio, dor, egoísmo, solidão,
medo, doença, falta de sentido e, finalmente, a morte física... O salário do
nosso pecado foi uma situação de morte, de infelicidade, de incoerência e
tristeza, que culmina com a morte física. Basta olhar o mundo ao nosso redor!
(2) Isto não significa que, se não tivéssemos pecado, viveríamos aqui
para sempre. Deus não nos criou para vivermos aqui indeterminadamente: “O
Senhor tirou o homem da terra e a ela faz voltar novamente. Deu aos homens
número preciso de dias e tempo determinado” (Eclo 17,1s). Deus nos deu
um número preciso de dias, um tempo de vida. Mas, uma coisa é certa: sem o
pecado, vivendo na amizade com Deus e na harmonia com os outros e o mundo,
nossa morte não teria o gosto amargo de morte. Se hoje a morte tem um aspecto
trágico, é porque está ligada ao pecado, ao nosso afastamento de Deus. Por isso
a morte nos mete medo e, muitas vezes, é sentida como uma ameaça de cair no
nada.
(3) Mas, Deus não nos abandonou à morte: ele nos enviou o seu Filho, em
tudo igual a nós, menos no pecado. Ele tomou sobre si as nossas dores, viveu
nossa vida mortal, de incertezas, de tristezas, de angústias, de morte.
Morrendo de nossa morte, ele foi ressuscitado pelo Pai na força do Espírito
Santo. Morrendo da nossa morte, ele nos deu a possibilidade e a graça de morrer
como ele e com ele ressuscitar da morte: “Eu sou a ressurreição! Quem
crê em mim, ainda que esteja morto viverá!” (Jo 11,25). Desde o
Batismo, unidos a Cristo morto e ressuscitado, alimentados pelo seu corpo e
sangue na Eucaristia, sabemos que “nem a morte nem a vida nem criatura
alguma nos poderá separar do amor de Cristo” (Rm 8,38s).
Esta é a nossa esperança: vivermos unidos a Cristo já agora e, após a
nossa morte, ressuscitar nele e com ele, nele e como ele! Como o Senhor foi
glorificado no seu corpo e na sua alma pela potência do Espírito Santo, assim
também nós seremos glorificados: logo após a nossa morte, na nossa alma, nunca
mais sentiremos o medo, a tristeza, a dor, o pranto... e, no fim dos tempos,
também no nosso corpo mortal seremos glorificados: “semeado
corruptível, ressuscitará corpo incorruptível; semeado desprezível,
ressuscitará reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de
força; semeado psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,42-44). Sermos
glorificados significa entrar na plenitude de Cristo, na alegria de Cristo, na
eternidade de Cristo! Isto, para nós, é o Paraíso: estar para sempre com o
Senhor!
Irmãos, Irmãs, rezemos hoje pelos nossos queridos que já morreram;
rezemos por todos os fiéis que já partiram para o Cristo: que recebam o perdão
de seus pecados e entrem na plenitude de Deus. A Sagrada Escritura diz
que “é um santo e piedoso pensamento rezar pelos mortos, para que sejam
livres de seus pecados” (2Mc 12,46). Que nosso carinho e nossa saudade
sejam acompanhados pela nossa piedosa oração, cheia de esperança na
ressurreição.
Mas, pensemos também na nossa vida, no destino que estamos dando à nossa
existência, pois nosso encontro com o Senhor é preparado no dia-a-dia, nos
pequenos momentos de nosso caminho neste mundo. São Bernardo de Claraval
afirmava que nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Pois bem!
Estejamos atentos para viver de tal modo, que nossa vida seja uma amizade com
Deus que começa aqui e se consumará na glória!
Voltemos nosso olhar e nosso pensamento para Cristo, vencedor da nossa
morte. As palavras do Prefácio da missa de hoje são tão consoladoras: Em Cristo “brilhou
para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte
entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que crêem em
vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal,
nos é dado nos céus, um corpo imperecível”.Que o Senhor realize a nossa
esperança e que nós vivamos de tal modo, que sejamos dignos dela!
Descanso eterno dai-lhes, Senhor!
Da luz perpétua, o resplendor!
Que suas almas descansem em paz.
Assim seja!
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Participando da vida de Cristo
Rezar pelos mortos é mostrar nossa fé na
Ressurreição. Esta fé nos garante a vida: Eu sou a Ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, mesmo que morra viverá. E todo o que vive e crê em mim não
morrerá jamais. Crês nisso? Sim, Senhor, eu creio firmemente que Tu és
o Messias, o Filho de Deus que deve vir ao mundo (Jo 11,25-27). Ter fé é,
no ensinamento de João, ter a Vida Eterna: Ninguém pode vir a mim se o
Pai que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia…
Aquele que crê tem a Vida eterna (Jo 6,44.47). Ter a Vida Eterna é
participar de Cristo que é a vida. A celebração dos mortos mostra com
clareza que acreditamos na Vida de Cristo em nós. A narrativa da
ressurreição de Lázaro vai além de um caso de amizade que termina numa
ressurreição, mas é a demonstração da garantia de nossa ressurreição. Na
oração da missa pedimos a Deus: aumentai nossa fé no Cristo ressuscitado
para que seja mais viva a nossa esperança na Ressurreição dos vossos
filhos e filhas. Queremos, com a celebração de hoje celebrar o sacramento
pascal, a Eucaristia, para que os falecidos cheguem à luz e à paz da casa
do Pai (pós-comunhão).
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No dia em que celebramos os mortos,
tudo fala de vida, de modo que podemos afirmar, que morrer é viver. A razão
disso tudo é a pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Hoje de modo
especial, recordamos os nossos falecidos. Uma lembrança de carinho e piedade. A
Igreja sempre nos ensinou a rezar no Credo: “Creio na comunhão dos santos... e
na vida eterna”. O que significa isso? Quer dizer que nós, que peregrinamos
nesta Terra, estamos em comum união, em comunhão com os que terminaram esta
vida, seja os que alcançaram a glorificação, seja os que ainda precisam de
purificação. A criatura humana não é feita para a morte, mas para a vida
eterna. E Jesus foi claro quando disse: “Deus não é um deus dos mortos, mas dos
vivos”. A morte biológica não é o fim do ser humano. Tudo é possível se a morte
não é o fim. Apesar da fé, é natural que nos pese a ausência física de pessoas
que amamos e já não estão neste mundo. Não celebramos nossos mortos como quem
lembra de alguém que se foi e nunca mais se verá. Cremos num encontro que está
carinhosamente preparado pelo Pai e que podemos rezar uns pelos outros, vivos e
mortos, porque continuamos sendo todos membros da mesma família de filhos e
filhas de Deus.
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Toda eucaristia
é ação de graças.
Esta de hoje nos faz agradecer a Deus por todas aquelas pessoas que encarnaram
para nós o rosto de Cristo. Olhamos para eles na luz da gratidão. Muitos de
nós, quando foram provados pela separação de uma pessoa querida, tiveram que
aprender a oração de Santo Agostinho: “Senhor, não vos pergunto por que ma
tirastes, mas vos agradeço por ma terdes dado.”
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Por: Pe. André Vital Félix da Silva,
SCJ
A celebração do Mistério Pascal nos faz mergulhar na dimensão profunda da
nossa realidade com todos os seus aspectos e dimensões, mas também nos
proporciona a participação na vida de Deus, Senhor da morte e da vida. Na
Eucaristia não falta nada, não há espaços vazios, pois todo o mistério de
Cristo ilumina a totalidade do mistério da vida humana. Portanto, a realidade
da morte e da vida está sempre presente em cada Eucaristia. Nela a Igreja
renova a sua consciência e fé de ser Corpo de Cristo e, portanto, do qual nada
a poderá separar, nem a vida e nem mesmo a morte (Rm 8,38). Respeitando a
sensibilidade e os limites da própria experiência humana, e seguindo uma longa
Tradição, a Igreja neste dia faz uma memória especial dos seus membros que já
atravessaram o limiar da última experiência da existência terrena. A Eucaristia
deste dia não é apenas ocasião para reacender em nós a certeza de que um dia
morreremos ou mesmo para reavivar a tristeza no nosso coração por causa da
morte dos nossos entes queridos. Para isto não se faria necessário a
Eucaristia; tantos neste dia farão essa experiência sem necessariamente
participarem de uma missa.
A contemplação da morte e ressurreição de Cristo nos coloca noutra
perspectiva. Não fazemos apenas a constatação que há a morte, e que dela
ninguém escapará, mas somos desafiados a crer na vida que não morre. Pois esta
é a certeza fundamental para se admitir a verdade morte. Talvez nos cause
estranheza a comemoração deste dia, já que se ressalta tanto a morte; será que
isso não seria contraditório para aqueles que creem que a morte já foi derrotada
pelo Cristo vitorioso? A tendência a minimizar a morte ou os malabarismos
cosméticos para fazer de conta que a sua dor não existe representam hoje uma
das mais sutis expressões da alienação humana. Enquanto o ser humano não se
abrir para o mistério da morte como momento decisivo para reafirmar as
convicções da vida, ele viverá sempre fugindo dela, alimentando a ilusão
infantil de que poderá driblá-la ou, sentindo-se onipotente, prolongá-la para
sempre aqui na terra, isto se pareceria com a insensatez de uma mãe que não
quer permitir que o seu filho saia do seu ventre, pensando que fora daquele
pequeno mundo não haveria outra felicidade.
Diante dessa alienação, só resta uma angústia insuportável ou um
desespero enlouquecedor. A sociedade alienada, que é incapaz de olhar para o
horizonte mais amplo que toca o céu, tenta sedar a angústia de um ser humano
enfeitiçado pelo pouco que saboreia aqui na terra. Por isso, transforma os
cemitérios, cujas cruzes lembravam que a morte foi destruída pela morte Daquele
que ressuscitou, em jardins botânicos ou corredores de um bosque florido a fim
de criar um clima “agradável” aos seus visitantes, que não podem ser impactados
com sinais que lembrem que ali estão depositados os corpos dos seus entes
queridos, que aguardam o grande dia da ressurreição também para eles e não
apenas esperam brotar como belas flores, que de manhã crescem vicejantes, mas
que à tarde logo secam (Sl 89).
O medo de encarar aquilo que São Francisco declarou irmã leva o ser
humano a ser inimigo do seu próprio destino, e não podendo negá-lo, apela de
modo deliberado e covarde para a perda da sua consciência embriagando-se de
calmantes e ansiolíticos. Preferem evitar as lágrimas e a dor do momento, tão
naturais ao ser humano, para passar o resto da vida tentando preencher um vazio
que fora cavado na alma por causa de uma ausência efetiva e afetiva que
artifícios da sociedade alienada lhe ofereceram para impedi-lo de ter dor e se
permitir sofrer por ocasião da morte de um dos seus. A fé cristã nos oferece uma
outra possibilidade de encarar a morte: a certeza de que a vida não morre; crer
na eternidade é um sinal de que se vive bem, que se descobriu o real sentido
que a vida tem: ser semente de eternidade.
É possível imaginar a sede sem a água, a fome sem o alimento, o calor
sem o frio, o frio sem o aquecimento? Se fosse assim, a vida não existiria ou
seria apenas um terrível momento de angústia, de busca sem sentido. Como seria
torturante necessitar, buscar, sem encontrar! “Como a corça suspira por águas correntes, minha vida suspira por
ti, ó meu Deus” (Sl 42,2).
A própria experiência da humanidade, ao longo de sua história, tem
demonstrado que, além da sede e da fome e de tantas outras necessidades
fundamentais, no coração humano está inscrito um irresistível desejo de vida
plena. E se é verdade que só temos sede porque existe água, do mesmo modo, só
desejamos que a vida não morra, porque existe a eternidade. A morte sem a fé na
vida tornar-se-ia a grande ironia da existência humana. Assim como uma cova não
pode reter a semente nela depositada, pois no momento certo irromperá com força
e vitalidade, tornando-se planta madura e frutífera, assim também um túmulo não
é capaz de aprisionar alguém cuja vida foi marcada por tantas lutas, tantos
esforços, tanta beleza e encanto.
“Se
o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer,
produzirá muito fruto” (Jo 12,24). Crer
na ressurreição não é uma atitude alienante para suavizar a dor de ingênuos,
mas a atitude mais coerente de quem crê na vida e, portanto, reconhece os seus
anseios mais profundos e não os nega, e não admite o absurdo de que a morte
seja a última palavra da sua existência; reconhece a sede, mas não se recusa a
beber na fonte.
“Quem
tiver sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim… do seu seio jorrarão
rios de água viva” (Jo 7,37). A fé na ressurreição é o
caminho que conduz o sedento à fonte. A sede e a fome não podemos negar, mas
comer e beber podemos optar. A fé não nos faz crer na morte, mas na vida que
não morre!
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Para a Celebração da Palavra (Diáconos e Ministros extraordinários da Palavra)
Louvor: (Quando
O Pão consagrado estiver sobre o altar)
T: Senhor, sois a nossa esperança.
-
Senhor, queremos hoje pedir por aqueles que desapareceram no mistério da morte.
Dái o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam
pelo teu infinito amor.
T: Senhor, sois a nossa esperança.
- Que
nossos amigos e parentes descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da
meta alcançada, na tua paz,
T: Senhor, sois a nossa esperança.
-
Também vos agradecemos por nos ter dado a companhia destes que partiram que
tanto nos ajudaram nesta vida. Agrademos por tudo o eles nos ensinaram. Apagai,
senhor, os seus erros e acolhei-os na glória eterna.
T: Senhor, sois a nossa esperança.
Pai nosso ... A Paz de
Cristo.... Eis o Cordeiro de Deus....
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