quinta-feira, 28 de novembro de 2019

1º DOMINGO DO ADVENTO ANO A, homilias, subsídios homiléticos


1º DOMINGO DO ADVENTO ANO A 2019

Sinopse:
Tema:  VIGILANCIA “Na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá!” O cristão caminha, sempre atento, preparado para acolher o Senhor que vem.
Primeira leitura: Todos são convidados a dirigirem-se à montanha onde reside o Senhor… É do encontro com a sua Palavra que resultará um mundo de harmonia, de paz sem fim.
Evangelho: Apela à vigilância. O crente ideal vive atento e vigilante, acolhendo o Senhor que vem, respondendo aos seus desafios, cumprindo o seu papel  na construção do “Reino”.
Segunda leitura: Recomenda aos crentes que despertem da letargia que os mantém presos ao mundo das trevas (o mundo do egoísmo, da injustiça, da mentira, do pecado), que se vistam da luz (a vida de Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que caminhem, com alegria e esperança, ao encontro de Jesus, ao encontro da salvação.

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Celebrações  com a Coroa de Advento

I Domingo do Advento - A vela do Profeta: a esperança. (vela roxa)

Segue-se tudo normal até a saudação inicial feita pelo presidente da
celebração: A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo...... Antes do Ato penitencial segue-se o rito para acender a primeira vela:

Comentário: Hoje vamos acender a primeira vela da Coroa do Advento, a vela do Profeta, a vela da esperança, para recordar que Jesus Cristo é a nossa única esperança. Vamos agradecer a Deus pelas promessas que fez à humanidade e a esperança que despertou e continua a despertar em cada um de nós.

(Alguém entra com a vela roxa acesa e a coloca na Coroa do Advento. Nesse momento pode-se cantar um canto que fale de esperança ou apenas dedilhar o violão ou o teclado.

Oração
Pres. Ó Deus da esperança, quando os seres humanos se separaram da vossa
amizade, do vosso amor, nunca os abandonastes. Já aos primeiros pais Adão e Eva prometestes um salvador, um filho de sua descendência, que haveria de vencer o inimigo e restabelecer a comunhão de amor e de vida convosco.
Renovaste a promessa através de Abraão, do Rei Davi e do Profeta Isaías. Nós vos agradecemos porque finalmente nos enviastes o Salvador nascido da Virgem Maria. Assim como a humanidade soube esperar o Salvador, concede i também a nós, nos prepararmos para acolher o Salvador que vem novamente na comemoração do seu Natal. Aumentai nossa esperança. Nós vos pedimos que Cristo nasça em nossos corações neste Santo Natal. Isso vos pedimos, por Cristo, nosso Senhor.
T. Amém
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PRIMEIRA LEITURA (Is 2,1-5) Leitura do Livro do Profeta Isaías.
Visão de Isaías, filho de Amós, sobre Judá e Jerusalém. Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos”; porque de Sião provém a lei e de Jerusalém, a palavra do Senhor. Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros e não mais travarão combate. Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor.

AMBIENTE - Na fantasia do poeta, ele vê, num futuro sem data definida, uma multidão de povos de todas as raças e nações que, atraídas por Jahwéh, se dirigem ao encontro da salvação de Deus. Estamos diante de um dos oráculos mais bonitos de todo o Antigo Testamento.

MENSAGEM - O nosso oráculo é o poema da paz universal e da convergência de todos os povos à volta de Deus. Na visão do profeta, o “monte do Senhor” transforma se no centro do mundo, por ser a morada de Jahwéh. Todos os povos avançam ao encontro do Senhor: eles vêm atraídos pela força da Palavra de Deus; querem ser instruídos nos caminhos de Jahwéh. Primeiro, eles aceitam a arbitragem justa e pacífica de Deus; depois, compreendem que não são necessárias armas: as máquinas de guerra transformam-se em instrumentos pacíficos de trabalho e de vida. Do encontro com Deus e com a sua Palavra, resulta a harmonia, o progresso, o entendimento entre os povos, a vida em abundância, a paz universal. Este quadro é o reverso de Babel… Na história da torre de Babel o orgulho e a autossuficiência conduziram à divisão, ao conflito, à confusão. Agora, os homens escolheram escutar Deus; o resultado é a reunião de todos os povos, o entendimento, a harmonia, o progresso, a paz universal. Quando se realizará esta profecia?

ATUALIZAÇÃO
O sonho do profeta começa a realizar-se em Jesus. Ele é a Palavra viva de Deus, que Se fez carne e que veio habitar no meio de nós, a fim de trazer a “paz aos homens” amados por Deus; da escuta dessa Palavra, nasce a comunidade universal da salvação, aberta a todos os povos da terra (cf. At 2,5- 11). Estamos começando o tempo de preparação para acolher Jesus (Advento) e a proposta de salvação que, através d’Ele, o Pai quer fazer aos homens.
Estamos muito longe dessa terra ideal de justiça e de paz, construída à volta de Deus e da sua Palavra. Que posso eu fazer para que o sonho de Isaías se concretize?

SALMO RESPONSORIAL 121 (122)
Que alegria, quando me disseram: “Vamos à casa do Senhor!”
• Que alegria, quando me disseram: / “Vamos à casa do Senhor!” /
E agora nossos pés já se detêm, / Jerusalém, em tuas portas.
• Para lá sobem as tribos de Israel, / as tribos do Senhor.
/ Para louvar, segundo a lei de Israel, / o nome do Senhor. /
A sede da justiça lá está / e o trono de Davi.
• Rogai que viva em paz Jerusalém, / e em segurança os que te amam! /
 Que a paz habite dentro de teus muros, / tranquilidade em teus palácios!
• Por amor a meus irmãos e meus amigos, / peço: “A paz esteja em ti!” /
 Pelo amor que tenho à casa do Senhor, / eu te desejo todo bem!

EVANGELHO (Mt 24,37-44)S. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: “A vinda do Filho do Homem será como nos tempos de Noé. Pois nos
dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada. Portanto, ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.

AMBIENTE - Os capítulos 24 e 25 do Evangelho de Mateus apresentam o último grande discurso de Jesus antes da sua paixão e morte. No discurso transmitido por Marcos a questão principal é a dos sinais que precederão a destruição de Jerusalém e do Templo. No discurso reelaborado por Mateus a questão central é a da vinda do Filho do homem e das atitudes com que os discípulos devem preparar esta vinda. Esta mudança de perspectiva pode explicar-se a partir da situação em que vivia a comunidade de Mateus e com as suas necessidades. Estamos na década de 80. Passaram dez anos a destruição de Jerusalém e ainda não aconteceu a segunda vinda de Jesus. Os crentes estão desanimados e desiludidos… O evangelista contempla com preocupação os sinais de abandono, de desleixo, de esfriamento que começam a aparecer na comunidade e sente que é preciso renovar a esperança e levar os crentes a comprometer-se na história, construindo o “Reino”. Nesta situação, Mateus descobre que as palavras de Jesus encerram um profundo ensinamento e compõe com elas uma exortação dirigida aos cristãos. Esta exortação fundamenta-se numa convicção: a vinda do “Filho do homem” é um fato certo, ainda que não aconteça em breve; enquanto não chega o momento, é preciso preparar este grande acontecimento, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus. A linguagem destes capítulos é estranha e enigmática… Trata-se, no entanto, de um gênero usado com alguma frequência por alguns grupos judeus e cristãos da época de Jesus. É a linguagem “apocalíptica”, porque o seu objetivo é “revelar algo escondido” (“apocaliptô). Em muitas ocasiões, esta revelação é dirigida a comunidades que vivem numa situação de sofrimento, de perseguição; o objetivo é animá-las, dar-lhes esperança, mostrar-lhes que a vitória final será de Deus e dos que lhe forem fiéis.

MENSAGEM - Para Mateus, a vinda do Senhor é certa, embora ninguém saiba o dia nem a hora; resta estar vigilantes, preparados e ativos… Mateus usa três quadros:
O primeiro é o quadro da humanidade na época de Noé: os homens viviam preocupados apenas em gozar a sua “vidinha” descomprometida; quando o dilúvio chegou, apanhou-os de surpresa.
O segundo coloca-nos diante de duas situações da vida quotidiana: o trabalho agrícola e a moagem do trigo… Os compromissos e trabalhos necessários à subsistência do homem também não podem ocupá-lo de tal forma que o levem a negligenciar o essencial: a preparação da vinda do Senhor.
O terceiro coloca-nos frente ao exemplo do dono de uma casa que adormece e deixa que a sua casa seja saqueada pelo ladrão… Os crentes não podem, nunca, deixar-se adormecer, pois o seu adormecimento pode levá-los a perder a oportunidade de encontrar o Senhor que vem. A questão fundamental é: o crente ideal é aquele que está sempre vigilante, atento, preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde oportunidades, porque não se deixa distrair com os bens deste mundo, não vive obcecado com eles e não faz deles a sua prioridade fundamental… Mas, dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e com sentido de responsabilidade.

ATUALIZAÇÃO
O que é que significa para nós “estar vigilantes”, “estar atentos”, para acolher o Senhor? Significa acolher todas as oportunidades de salvação que Deus nos oferece continuamente… Se Ele vem ao meu encontro, me desafia a cumprir uma determinada missão e eu prefiro continuar a viver a minha “vidinha” fácil e sem compromisso, estou a perder uma oportunidade de dar sentido à minha vida; se Ele vem ao meu encontro, me convida a partilhar algo com os meus irmãos mais pobres e eu escolho a avareza e o egoísmo, estou a perder uma oportunidade de abrir o meu coração ao amor, à alegria, à felicidade…
O Evangelho apresenta alguns dos motivos que impedem o homem de “acolher o Senhor que vem”… Fala da opção por “gozar a vida”, sem ter tempo para compromissos sérios (quanta gente, ao domingo, tem todo o tempo do mundo para dormir até ao meio dia, mas não para celebrar a fé com a sua comunidade cristã); fala do viver obcecado com o trabalho, esquecendo tudo o mais (quanta gente trabalha quinze horas por dia e esquece que tem uma família e que os filhos precisam de amor); fala do adormecer, não prestando atenção às realidades essenciais (quanta gente encolhe os ombros diante do sofrimento dos irmãos e diz que não tem nada com isso: é o governo ou o Papa que têm que resolver a situação)… E eu: o que é que na minha vida me distrai do essencial e me impede, tantas vezes, de estar atento ao Senhor que vem?
Neste tempo de preparação para a celebração do nascimento de Jesus, sou convidado a centrar a minha vida no essencial, a redescobrir aquilo que é importante, a acordar para os compromissos que assumi para com Deus e para com os irmãos, a empenhar-me na construção do “Reino”. É essa a melhor forma – ou melhor, a única forma – de preparar a vinda do Senhor.

SEGUNDA LEITURA (Rm 13,11-14a) Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos: Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo.

AMBIENTE - Estamos no ano 57 ou 58. O perigo da divisão ameaça a Igreja: de um lado estão as comunidades de origem judeu-cristã e de outro as comunidades pagão-cristãs; uns e outros têm algumas dificuldades de entendimento e há um perigo real de cisão. Paulo escreve, então, sublinhando a unidade da fé e chamando a atenção para a igualdade fundamental de todos no processo da salvação. A primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rom 1,18-11,36) é de caráter dogmático e procura mostrar que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente; a segunda parte (cf. Rom 12,1-15,13) é de caráter prático e exorta a todos a viver no amor. O texto que hoje nos é proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de exortar os cristãos que pertencem à comunidade de Roma ao amor mútuo, Paulo pede-lhes que estejam vigilantes e preparados, a fim de acolher o Senhor que vem.

MENSAGEM – Referindo-se à “hora” que os cristãos estão a viver, Paulo pede-lhes que se levantem “do sono, porque a salvação está mais perto”. Ao dizer que a salvação está perto, o que é que Paulo está a sugerir? Paulo pensava, certamente, na vinda mais ou menos iminente de Jesus Cristo, a fim de concluir a história da salvação; no entanto, a ausência de especulações apocalípticas mostra claramente que o interesse de Paulo não é no “quando” e no “como”, mas no significado e nas consequências dessa vinda. O fato que aqui interessa é, portanto, que os cristãos estão a viver os “últimos tempos” (que começaram quando Jesus deixou o mundo e encarregou os discípulos de serem testemunhas da salvação diante dos homens) antes da vinda de Jesus… Quais as consequências disso? Antes de serem batizados, os cristãos viviam nas trevas e a sua vida estava pontuada pelo egoísmo (excessos de comida e de bebida, devassidões, libertinagens, discórdias e ciúmes); mas, com o batismo, eles nasceram para uma nova realidade… É para essa realidade de uma vida nova, liberta do egoísmo e do pecado, que eles devem acordar definitivamente, enquanto esperam o Senhor que vem: quando o Senhor chegar, deve encontrá-los despidos do velho mundo das trevas; e deve encontrá-los atentos e preparados, revestidos dessa vida nova que Cristo lhes ofereceu, vivendo na fé, no amor, no serviço. Fundamentalmente, há aqui um convite a que os crentes vivam este “tempo” como um tempo último e definitivo, que tem de ser um tempo de caminhada ao encontro de Jesus Cristo e ao encontro da salvação.

ATUALIZAÇÃO
A questão é a da conversão: os crentes são convidados a deixar a vida das trevas e embarcar na vida da luz… As “trevas” caracterizam essa realidade negativa que produz mentira, injustiça, opressão, medo, materialismo; a “luz” é a transformação das estruturas e dos corações…
Quase todos nós somos pessoas razoáveis e sérias e não andamos todos os dias em libertinagens e discórdias; mas, apesar da nossa bondade e seriedade, é possível que o cansaço, a monotonia, a preguiça nos adormeçam, que caiamos na indiferença, na inércia, na passividade, no comodismo; é possível que deixemos correr as coisas e que esqueçamos os compromissos que um dia assumimos com Jesus e com o “Reino”… É para nós que Paulo grita: “acordai!; renovai o vosso entusiasmo pelos valores do Evangelho; é preciso estar preparado para acolher o Senhor que vem”.
Há também, neste texto, um convite à esperança: “o Senhor vem! A noite vai adiantada e o dia está próximo”. Deus não nos abandona; Ele continua a vir ao nosso encontro e a construir conosco esse mundo novo de justiça e de paz… Por muito que nos assustem as trevas que envolvem o mundo, a presença de Deus garante-nos que a injustiça, a exploração, a morte não são o final inevitável: a última palavra que a história vai ouvir é a Palavra libertadora e salvadora de Deus.

Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho
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"Vigiai!"

Nesse domingo, inicia mais um Ano Litúrgico, no qual relembramos e revivemos os Mistérios da História da Salvação.

NATAL e PÁSCOA centralizam as celebrações, que são vividas em três momentos: antes, durante e depois...

Nesse Ano A, o Evangelho de Mateus terá uma atenção especial.
Com o Advento, entramos no tempo que nos prepara para o Natal do Senhor

A palavra ADVENTO significa "Vinda", chegada: nos faz relembrar e reviver as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se prepararam para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal.

Nas duas primeiras semanas do Advento, vigilantes e alertas, esperamos a vinda definitiva e gloriosa do Cristo Salvador, e nas duas últimas semanas, lembrando a espera dos profetas e de Maria, preparamos mais especialmente o seu nascimento em Belém.

A Liturgia de hoje é um veemente apelo à VIGILÂNCIA, para acolher os Sinais de Deus.

Na 1a Leitura, ISAÍAS profetiza a vinda de um descendente de Davi, que trará justiça e paz para o seu povo. (Is 2,1-5) É um dos oráculos mais bonitos de todo do Antigo Testamento.


Encarna a espera do Antigo Testamento de um futuro maravilhoso: fala de uma era messiânica, na qual todos os povos acorrerão a Jerusalém para adorar o único Deus.
As armas se transformarão em instrumentos pacíficos de trabalho e de vida.

  * O sonho do profeta começa a realizar-se em Jesus, mas estamos ainda muito longe dessa terra de justiça e de paz...
- O que podemos fazer para que o sonho de Isaías se concretize?

Na 2a Leitura, Paulo nos convida a "acordar" para descobrir os sinais do novo dia que já raiou e caminhar ao encontro da Salvação, deixando as obras das trevas e vestindo as armas da LUZ. (Rm 13,11-14)

O Evangelho é um apelo a uma VIGILÂNCIA permanente, para reconhecer o Senhor na sua chegada.
Para transmitir essa mensagem, Jesus usa três quadros:

- O 1º Quadro é da humanidade na época de Noé: Os homens viviam, então, numa alegre inconsciência,   preocupados apenas em gozar a sua "vidinha" descomprometida.
  Quando o dilúvio chegou, os apanhou de surpresa e despreparados.
- O 2º Quadro fala dos trabalhos da vida cotidiana:   podem nos levar a negligenciar a preparação da Vinda do Senhor.
- O 3º Quadro coloca o exemplo do dono de uma casa, que adormece e deixa a sua casa ser roubada pelo ladrão.

+ O que significa "estar vigilante"?
- Será apenas estar sem pecado... para não ir para o inferno?
- Ou acolher as oportunidades de salvação, que Deus nos oferece?

Jesus continua vindo, para nos salvar e nos trazer a felicidade. E nós temos que estar sempre atentos para perceber cada vinda sua. Ele está presente nas palavras de quem nos orienta para o bem,  nos gestos de amor dos irmãos, no esforço de quem se sacrifica
para construir um mundo mais justo e fraterno.

Hoje, devido ao medo provocado pelo desemprego, fome e violência, assistimos ao fenômeno da busca de refúgio no sagrado. Mas o excesso de alegria de certas práticas religiosas sem compromisso pode nos tirar a possibilidade de perceber a chegada do Senhor.

- As celebrações festivas nos fazem mais vigilantes, mais acordados para a realidade que temos a obrigação de transformar ou funcionam como sonífero, que nos impedem de ver a chegada daquele que vem sem aviso prévio?
               
+ Motivos que impedem a acolhida do Senhor que vem:
- Prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada...
  No domingo, dorme... passeia... pratica esportes... mas não sobra tempo para celebrar a sua fé na Comunidade...
- Trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde...
- Desatenção: o Distraído não vê o Cristo, presente na pessoa sofredora... 
  Acha que não é problema seu... é do governo... da Igreja...

+ Em minha vida, o que mais me distrai do essencial e me impede tantas vezes de estar atento ao Senhor que vem?

+ Como desejo me preparar para o Natal desse ano?
   - Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
   - Ou numa atitude humilde e vigilante, a esse Cristo que vem?  
   - Participo da Novena do Natal em Família?
   - Que PAZ desejo construir?
                                                    Pe. Antônio Geraldo

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Homilia do Pe. Pedrinho (Adaptada pelo Diácono Ismael)

Meus irmãos e irmãs, gostaria de perguntar às crianças que estão na catequese: Por que estou de casula roxa? (porque é o ano litúrgico). Ano litúrgico. Está certíssimo, mas eu quero uma explicação mais fácil. Está certo, não está errado. Por que estou de roxo? (porque é advento e no advento usamos o roxo). Olha aí. No advento usamos a cor roxa. Uma vez, eu perguntei por que estava de verde e me disseram que era porque o Palmeiras tinha ganhado. Fiquei muito chateado... (porque é penitência). Olha, agente associa o roxo com penitência. Não está errado, mas eu não quero que alguém pense que penitência é sacrifício. Não. Penitência é: eu sou convidado, neste tempo, para aprofundar o tema que estamos celebrando. O Tempo Comum, que é o verde, cada domingo é um tema diferente. No advento e também na quaresma o tema é sempre o mesmo. Agora, no advento, vamos ter quatro semanas onde vamos meditar o mesmo tema, que é a vinda de Jesus. É celebrar a vinda de Jesus; portanto, é celebrar o aniversário de Jesus e celebrar a segunda vinda. Os dois primeiros finais de semana, hoje e domingo que vem, nós vamos ver o Evangelho falando do fim dos tempos. É um assunto que parece estranho. Por que? Porque Celebramos a segunda vinda de Jesus. O terceiro e o quarto final de semana iremos refletir sobre a primeira vinda de Jesus. Vai contar o que aconteceu, conta  que o anjo anunciou, conta que foram para Belém e assim por diante.
É assim que a liturgia nos convida a pensar sobre o assunto. O que é que tem de bom do tempo do Advento, que vai nos ajudar e nos preparar para o nascimento de Jesus? A cada domingo vamos meditar algo que é importantíssimo, que conhecemos com a vinda de Jesus.  ... ... ... ... Para termos a Paz, somos convidados a não nos afastarmos de Deus. Por que só Deus é Justo e é a nossa Paz. Na medida em que eu estiver mais próximo de Deus, eu compreendê-lo melhor o que é a justiça, o que é a verdadeira Paz. Por isso, é bom participarmos da Celebração Eucarística (missa) pelo menos aos domingos, porque é aí que Deus fala e eu me aproximo de Deus, porque Ele me dá conselhos justos e então eu posso construir a paz.
Como vai a Paz em minha casa? Se não tivermos paz em casa, é porque não está havendo justiça. Como vai a paz no meu trabalho? Se não há paz no meu trabalho é porque não está havendo justiça. Como vai a paz no estádio de futebol? Se não tiver paz, é porque ali não está havendo justiça . nós poderíamos falar do ambiente do lazer, no ambiente de escola, em todos os ambientes. Então,  somos chamados a construir a paz e a justiça em todos os ambientes. Quando na comunidade não está havendo paz, é porque não está havendo justiça. É claro, que aí, um precisa estar ajudando o outro. Como nós não temos plena consciência da justiça, nem sempre somos justos. Não porque somos maus. É isto que as pessoas confundem. O ser humano não é mau, mas ignorante, em se tratando da justiça.   Às vezes tem a melhor das intenções, mas não é juto. Não por maldade, mas com limitação. É aí que é importante nós ouvirmos a Palavra de Deus.
Tem ainda outro aspecto. Por que quando agente ouve o Evangelho, ficamos em pé? Quem vai dar uma opinião? É só para não cansar de ficar sentado? Aliás, tem alguns que tem uma preguiça de se levantar na hora do Evangelho! Por que agente fica em pé? – (porque é a Palavra de Deus). E, que isto tem a ver com o ficar em pé? A Primeira Leitura, geralmente é do Antigo Testamento é Palavra de Deus também e nós ficamos sentados. A segunda Leitura, que é do Novo Testamento, também é Palavra de Deus e agente fica sentado. É só no Evangelho que agente fica em pé. Por que? (por causa do respeito). Respeito a que? (a Deus). Mas, a Primeira e a Segunda Leitura também é palavra de Deus e agente fica sentado. Eu estou aproveitando para explicar, porque tenho noção de que pouca gente sabe. “uma multidão está em pé diante do Cordeiro – do Filho do Homem”, diz São João. O que é que é isto? Nós cremos que quem faz a leitura somente empresta a voz. É Deus quem fala. Por isso, agente quando é convidado para ler, aceitar. Você só está sendo amplificador para a voz de Deus. Na hora do Evangelho é o Filho do Homem, o Cordeiro, é Jesus quem fala. Porque João fala que é para encontrar com o Filho do Homem em pé. É por isso.  O respeito vale para as três Leituras. Só que diante de Jesus que fala, ficamos em pé. por que? Porque, pelo Batismo cremos que morremos e ressuscitamos e como diante do Cordeiro imolado todos ficam em pé, eu me levanto porque o próprio Cordeiro que nos fala. Todo ressuscitado, diante de Jesus, fica em pé.
Agora está fácil a resposta da pergunta que eu vou fazer. Por que durante a consagração todos ficam em pé? Sei que alguns, por devoção ficam de joelhos e só ficam em pé quando o presidente da celebração diz “eis o mistério da fé” voltam a ficar em pé. É por devoção e isto nós respeitamos. Por que ficamos em pé quando o pão e o vinho são consagrados? Sabemos que Jesus se torna presente no Pão e no Vinho consagrados. Por que ficamos em pé? Porque na consagração é o mesmo Filho do Homem que nos está sendo apresentado. Se diante do Filho do Homem todos devem se apresentar em pé, então, se Ele se faz presente na forma de Pão e de Vinho, devemos estar em pé. Quem gosta de ficar ajoelhado por devoção, sem problema, mas o pedido do Evangelho é que diante do Filho do Homem, nós nos apresentemos de pé. Veja que, na nossa liturgia, tem gestos, todos eles, baseados na Palavra de Deus. Está bom por hoje. Vamos pedir a Deus que nos ajude a caminhar no advento. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

PE. PEDRINHO – Diocese de Santo André - SP


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Homilia do Padre Françoá Costa – I Domingo do Advento (Ano A)

Noé do século XXI

Não faz muito tempo, um amigo enviou-me uns conselhos interessantíssimos para recristianizar a sociedade. São verdadeiramente divertidos! Vamos aproveitá-los no dia de hoje de uma maneira bastante prática. Por outro lado, falando em recristianizar o nosso mundo, o nosso Brasil, vêm à mente as alegrias e as dificuldades que essa missão leva consigo.
Escutamos a comparação entre os tempos de Noé e os tempos da segunda vinda de Cristo: assim como, nos tempos de Noé, as pessoas, além de viver bem ordinariamente, estavam bastante distraídas, “assim será também na volta do Filho do homem” (Mt 24,39). Assim como os seres humanos que precederam o dilúvio universal, “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento” (Mt 24,38), assim também estará a humanidade que precederá o juízo universal. Além da exortação que o Senhor faz para que estejamos vigilantes porque ele pode voltar a qualquer momento, não surpreende o fato de que nós frequentemente vivemos distraídos para essas coisas de dilúvios e de juízos. É normal, pois nos parece de grande proveito comer, beber e divertir-nos. E é verdade! Mas é preciso que unamos essas coisas ordinárias com as realidades sobrenaturais fazendo com que sejam uma só coisa na nossa vida: “quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10,31).
O critério está bem claro: se fizermos todas as coisas ordinárias tendo presente a glória de Deus não seremos surpreendidos no dia do juízo, estaremos sempre preparados para esse acontecimento. Mas, como ter sempre presente a glória de Deus? Como não andar frequentemente distraídos?
É nesse contexto que eu acho que se encaixa como uma luva à mão os conselhos do meu amigo para recristianizar a sociedade. São também bastante práticos para que tenhamos sempre presente a glória de Deus e não andarmos tão distraídos. Dos vinte e cinco conselhos formulados pelo meu amigo, vou mencionar somente alguns:
  1. Reze antes das refeições, também ao comer em restaurantes ou em qualquer outro lugar. Ser cristão não é ter AIDS!
  2. Escreva aquilo que você sabe, mas com sentido cristão. Não se preocupe! Aqueles que escrevem sem sentido cristão tampouco são escritores.
  3. Se for comer num restaurante numa sexta-feira, pregunte ao garçom pelos menus de abstinência. Caso ele fique um pouco admirado, é simples, explique o porquê.
  4. Se você é religioso, lembre-se que o hábito é um grande testemunho e é fera demais! Retire a poeira dele e use-o desde a manhã até a noite. Não se preocupe: os jovens também chamam a atenção com as roupas que eles utilizam.
  5. Não tenha vergonha de apresentar aos amigos os seus oito filhos.
  6. Se você é sacerdote passe cinco horas diárias no confessionário. Se não é, passe cinco minutos semanais pelo confessionário.
  7. Seja pós-moderno e atreva-se a elogiar diante dos seus amigos a santa pureza, a mortificação corporal, a virgindade e a obediência ao Papa; não se preocupe: aqueles que têm complexos irão ao psiquiatra.
  8. No tempo de calor, não se comporte como índio antes da colonização. Um pouco de decência, né!?
  9. Pela rua, vá de mãos dadas com a sua namorada; e se ela tiver frio, é só dar-lhe de presente um cachecol.
  10. Com idêntica soltura com que você cita a Maomé, Gandhi o Martin Luther King, faça o mesmo com a Epístola aos Filipenses, o Evangelho segundo São Mateus ou São Cirilo de Jerusalém. Experimente!
  11. Sorria. Um Brasil mais cristão é um Brasil mais alegre.
  12. Não se queixe. Faça alguma coisa.
Sem dúvida, o meu amigo tem razão! Dizia um santo que nós temos que passar despercebidos quando está de moda chamar-se católico e ser valentes e aparecer quando os católicos desaparecem. Não precisamos vestir-nos como Noé, nem usar barba como ele, mas podemos despertar a sociedade: Jesus voltará!
Já que com esse primeiro domingo do Advento a Igreja inicia mais um Ano Novo Litúrgico, aproveito para felicita-lo também: felicidades neste Ano Novo e que seja de abundantes graças do Senhor.
Pe. Françoá Costa
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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa – I Domingo do Advento (Ano A)

Com esta santa Eucaristia, estamos iniciando o novo ano litúrgico. É este o primeiro Domingo do Advento, o tempo de quatro semanas que nos prepara para o Natal do Senhor. Tudo, na Liturgia nos ajudará nessa santa preparação, na santa espera, cheia de esperança: o roxo significa a vigilância de quem aguarda, a moderação das flores ajuda-nos a concentrar nossa atenção naquele que vem, o “Glória” não cantado prepara-nos para cantá-lo como novidade na Noite Santa do Natal. Os sentimentos do nosso coração devem ser a vigilância, a piedade humilde de Maria Virgem, de José, dos pastores, de Simeão, Zacarias e Isabel, o espírito de conversão anunciado por João Batista, o sonho de um mundo “cheio da sabedoria do Senhor como as águas enchem o mar” (Is 11,9), como Isaías profetizou… Aproveitemos essas quatro semanas tão doces, que recordam a espera de Israel e da humanidade pelo Messias!
Nos textos bíblicos que a Igreja hoje nos propõe, o Senhor sonda as angústias e saudades do coração humano e nos fala precisamente da esperança: ele é o Deus que vem ao encontro dos nossos anseios mais profundos… Mas também nos exorta a vigiar, a nos preparar para acolher o Dom esperado. Aliás, é esta a miséria do mundo atual: busca a paz, procura a vida, mas não busca naquele que é a saciedade do nosso coração e a salvação da nossa existência. O homem tem sede e Deus, misericordiosamente envia-lhe a água, que é o Messias… e o nosso mundo não o reconhece; antes, renega-o! Vejamos se não é assim; recordemos a palavra do Profeta: “Acontecerá nos últimos tempos que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão povos numerosos.. porque de Sião provém a lei e de Jerusalém, a Palavra do Senhor”. Vejamos bem: de Israel, Deus prepara uma salvação, uma luz, uma direção para toda a humanidade. O homem sozinho não encontra o caminho, por mais que teime em se julgar grande e autossuficiente. À nossa pobreza, o Senhor vem com uma promessa tão grande. E, se o coração da humanidade acolher a salvação que vem, a luz que brilha, então, encontrará a paz: “Ele há de julgar as nações e argüir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegaram em armas uns contra os outros em não mais travarão combate”. Eis a promessa de Deus: dá-nos a salvação; eis o sonho do Senhor: encontrar uma humanidade que acolha o Salvador, dele bebendo a paz!
No nosso mundo, ferido, cansado, incerto… mundo que já não mais crê de verdade em nada, a promessa do Senhor é como um alento. Acreditemos, irmãos! Quão triste o mundo se os cristãos viverem sem esperança, sem certeza, sem ânimo, como os pagãos… Este Tempo do sagrado Advento quer levantar nosso ânimo: o Senhor, cujo Natal celebraremos dentro de quatro semanas, é o mesmo que virá um dia, na sua manifestação gloriosa! Nossa vida tem rumo e sentido. Vigiemos: “Vós sabeis em que tempo estamos! Já é hora de despertas. Agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noitedeste mundo já vai adiantada, o Dia vem chegando” – o Dia é Cristo, Salvação que Deus nos prometeu e nos preparou! Então: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia” – como quem vive já agora, durante a noite deste mundo, no Dia, que é Cristo-Deus: “nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo contrário: revesti-vos do Senhor Jesus”. Eis o modo de vigiar na noite deste mundo, eis o modo de testemunhar que esperamos, na vigilância, o Salvador que nos foi prometido e virá. É oportuno recordar que este texto da Carta aos Romanos, foi o que provocou a conversão de Santo Agostinho, lá no distante século V. A Palavra de Deus é sempre um apelo gritante e forte para nós! Que ela nos converta também agora!
A grande tentação para os discípulos de Cristo, hoje, é conformar-se com o marasmo do pecado do mundo, é viver burguesamente, uma vida cômoda e sem uma fé verdadeira e operante, sem aquela atitude de alegre expectativa por aquilo que o Senhor nos prometeu. Vamos nos ocupando e distraindo com uma vida fútil, dispersa em mil bobagens, esquecendo daquilo que realmente importa! Vale para nós a advertência seríssima do Senhor Jesus: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé”: Naquele então, todos vivam tranquilamente: “comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até que Noé entrou na arca e eles nada perceberam…” Como agora: vive-se na farra do paganismo, do consumismo, do relaxamento moral, de tantos absurdos contrários ao Evangelho… e não percebemos que haverá um juízo decisivo de Deus para nós e para o mundo, um juízo no qual o bem e o mal, o santo e o pecador, serão separados: “um será levado e o outro será deixado”… Triste de quem for deixado, triste de quem perder a companhia do Senhor, nossa paz! Pois bem: logo neste iniciozinho de Advento, a advertência do Senhor é dramática: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor! Na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá!”
Então, enquanto o mundo dorme no seu pecado, na sua auto-satisfação, elevemos, humildemente nosso olhar e nosso coração para Aquele que vem: “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meu inimigos, pois não será desiludido quem em vós espera!” – Marana thá! Vem, Senhor Jesus!
Dom Henrique Soares da Costa

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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Neste tempo santo do Advento a Igreja reza: “Revestido da nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, Ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Prefácio Advento I). Nestas palavras, encontramos a síntese completa da teologia e espiritualidade do Advento; é tempo de preparação para fazer memória da primeira vinda de Cristo (advento natalino), mas também é celebração vigilante e jubilosa que proclama a sua vinda definitiva na glória (advento escatológico). Porém, não há um hiato entre a primeira e a segunda vindas de Jesus, pois Ele não é um simples personagem da nossa lembrança, nem muito menos um ausente aguardado com ansiedade. Por isso, também rezamos: “Agora e em todos os tempos, Ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização do seu Reino” (Prefácio Advento I/A).

Neste I Domingo do Advento, a liturgia nos indica qual deve ser a atitude mais coerente e profícua para vivenciarmos bem este tempo de preparação: “Vigiai, porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. A vigilância na Sagrada Escritura é a atitude de quem está atento aos acontecimentos da vida, sabe ler neles os apelos de Deus e está em permanente estado de espera, por isso, é capaz de reconhecer que o Senhor vem constantemente, independe das diversas maneiras de Ele se fazer presente. Por conseguinte, esperar não significa acomodar-se; esperar pelo Senhor não deve ser um pretexto para cruzar os braços. Destarte, o sinal seguro de vigilância é uma atitude operante: “Dois homens estarão trabalhando no campo… Duas mulheres estarão moendo no moinho”. Contudo, não há um lugar especial e exclusivo, nem uma atividade particular e específica que garantem a autêntica vigilância ou a adequada preparação para o encontro com o Senhor. A diferença está na atitude interior de atenção que leva a discernir a sua presença.
Jesus ilustra o seu ensinamento sobre a vigilância evocando a figura de Noé, o último patriarca antes do dilúvio, símbolo do homem justo porque está atento à voz de Deus, diferente da sociedade do seu tempo desatenta, dissoluta e alienada diante de suas opções. Noé é visto também na Sagrada Escritura como instrumento de Deus para salvar a humanidade e, ao mesmo, é figura do novo começo, da criação restabelecida. O seu próprio nome (hebraico Noah: tem conotação de descanso, consolação e salvação, de nuah, nâham: Gn 5,29), por isso ele está entre os vários tipos transitórios do Antigo Testamento que anunciam o definitivo, isto é, o Messias.
Assim como Noé passou 40 dias dentro da arca a fim de que a criação fosse salva e renovada, Jesus fez o seu tempo de preparação durante os 40 dias no deserto, precedido pelo seu batismo, símbolo do novo dilúvio e realização do novo êxodo, a partir do qual Deus refaz toda a sua criação no seu Filho amado (cf. 1Pd 3,20). Assim como Noé foi chamado para estabelecer com Javé uma aliança, garantia de que Deus não destruiria mais a terra, com Jesus, Deus estabeleceu a nova e eterna aliança, através da sua cruz, constituída a nova e definitiva arca da salvação (cf. Ef 2,16).  Assim como Noé, depois da purificação da humanidade com o dilúvio, plantou a vinha a fim de alegrar, com os seus frutos, o coração humano (Gn 9,20), o novo Noé declara-se a videira verdadeira, que dá frutos não apenas para a alegria passageira do ser humano, mas dá a verdadeira vida aos que nela forem enxertados (cf. Jo 15,1s).
A cegueira do ser humano dos tempos de Noé, de Jesus e de hoje continua a mesma: enxerga muito pouco da vida, pois limita-se apenas, na maioria dos casos, ao que come ou bebe (vida puramente animal), ou mesmo aos seus projetos temporais (casar-se e dar-se em casamento). Vigiar significa reconhecer que a vida é chamada à plenitude que ultrapassa os limites da existência terrena; vigiar é reconhecer que palmilhar essa estrada rumo à plenitude é deixar-se guiar por Aquele que, sendo Deus, se fez homem e, por isso, se faz caminho seguro, pois é presença constante, é o Emanuel, o Deus conosco cuja primeira vinda celebramos com gratidão e cuja vinda definitiva aguardamos com esperança e alegria. Porém, Ele espera de nós que estejamos sempre vigilantes para o acolhermos a cada momento, em cada semelhante. Advento é tempo pedagógico para fazer esse caminho!!!

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Para a Celebração da Palavra: (Diáconos ou Ministros extraordinários da Palavra):
Louvor: (Quando o Pão consagrado estiver sobre o altar)                   : I dom. advento
- O Senhor esteja com todos vocês... demos graças ao Senhor, nosso Deus...
- Com Jesus, por Jesus e em Jesus, na força do Espírito Santo, louvemos ao Pai:
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade.
- Bendito sejais, Deus nosso Pai! Vós, instruindo o vosso povo, revelastes o caminho da Paz através de vosso Filho. Que todas as Igrejas do universo irradiem vossa luz indicando o caminho do Reino.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade.
- Nós vos bendizemos pelo anúncio de um novo dia, pois a cada ano vosso filho renasce em nossos corações, nos trazendo a esperança de salvação. Atentos e vigilantes aguardamos o nosso Salvador.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade.
- Pai, nós vos damos graças porque sempre estais conosco. Sempre nos acompanhais nas alegrias e dificuldades. Ajudai-nos a estarmos atentos ao serviço do reino, construindo a paz, a justiça e  a solidariedade.
T: Louvor e glória a vós, ó Pai de bondade.
PAI NOSSO... A PAZ... EIS O CORDEIRO...
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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Cristo Rei do Universo, 34º DOMINGO, homilias, subsídios homiléticos


34º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C 2019.
  
TEMA: JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO.
Primeira leitura: David se tornou rei de todo o Israel, iniciou-se um tempo de felicidade e de paz, que ficou na memória do Povo. O Povo sonhava com a volta de um reino igual; os profetas prometeram a chegada de um descendente de David que iria realizar esse sonho.
Evangelho: Jesus é o Messias/Rei enviado por Deus; no entanto, seu Reino não é construído sobre a força, a violência, mas sobre o amor, o perdão, o dom da vida.
Segunda leitura: apresenta a soberania de Cristo sobre toda a criação; Ele é a fonte de vida para o homem.

PRIMEIRA LEITURA (Sm 5,1-3) Leitura do Segundo Livro de Samuel.
Naqueles dias, todas as tribos de Israel vieram encontrar-se com Davi em Hebron e disseram-lhe: “Aqui estamos. Somos teus ossos e tua carne. Tempo atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu que dirigias os negócios de Israel. E o Senhor te disse: ‘Tu apascentarás o meu povo Israel e serás o seu chefe’”. Vieram, pois, todos os anciãos de Israel até o rei em Hebron. O rei Davi fez com eles uma aliança em Hebron, na presença do Senhor, e eles o ungiram rei de Israel.

AMBIENTE - Por volta do ano 1007 a.C., o reino de Saul (tribos do norte e do centro) sofreu um rude golpe, com a morte do rei e de Jônatas (filho e natural sucessor de Saul) às mãos dos filisteus (1 Sm 31). David reinava sobre as tribos do sul (2 Sm 2,1-4). Abner, chefe dos exércitos do norte, ofereceu a David a autoridade sobre as tribos do reino de Saul (2 Sm 3,12-21). Os anciãos do norte  pediram a David que aceitasse dirigir também os destinos das tribos do norte e do centro. É diante deste quadro que a leitura de hoje nos coloca. David está em Hebron – a capital das tribos do sul – e é lá que recebe os enviados das tribos norte e do centro que lhe propõem a realeza. Estamos por volta do ano 1005 a.C..

MENSAGEM - Os anciãos propõem-lhe a realeza sobre as tribos do norte e do centro e David aceita… É a primeira vez que se consegue a união de todas as tribos sob a autoridade de um único rei. Os autores deste texto preocupam-se em fazer uma leitura teológica da história… Assim, colocam na boca dos anciãos de Israel a seguinte frase: “o Senhor disse-te: «tu apascentarás o meu Povo de Israel, tu serás rei de Israel»”. A realeza de David aparecerá como algo querido por Deus: o rei David será considerado o instrumento através do qual Deus apascenta o seu Povo. O seu reinado foi marcado – como acontece com todos os reinados “humanos” – por conflitos internos, guerras civis, injustiças, mortes… Mas, apesar de tudo, David manifestou-se como um homem de grande estatura política e moral. Em termos políticos, o reinado de David fez de Israel e de Judá um reino de grandes dimensões, que se sobrepôs aos seus inimigos tradicionais (os filisteus, os amonitas, os moabitas) e que ficou na memória do Povo como um tempo ideal de paz e de abundância. No futuro – sobretudo em épocas de crise – o reinado de David vai constituir como que uma miragem ideal; o Povo de Deus sonha com um descendente de David que venha restaurar o reino ideal.

ATUALIZAÇÃO
Jesus Cristo, o Messias, Rei de Israel, descendente de David, é considerado no Novo Testamento a resposta de Jahwéh aos sonhos e expectativas do Povo de Deus. Ele veio para restaurar, ao jeito de Deus e na lógica de Deus, o reino de David. Jesus é, portanto, o Rei que, à imagem do que David fez com Israel, apascenta o novo Povo de Deus.
O reinado de David é apresentado com um tempo ideal de unidade, de paz e de felicidade; no entanto, conheceu, também, tudo aquilo que costuma caracterizar os reinados humanos: tronos, riquezas, exércitos, batalhas, injustiças, intrigas, lutas pelo poder, assassínios, corrupção…

SALMO RESPONSORIAL 121 (122)
Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!
• Que alegria, quando me disseram: / “Vamos à casa do Senhor!” /
E agora nossos pés já se detêm, / Jerusalém, em tuas portas.
• Para lá sobem as tribos de Israel, / as tribos do Senhor.
/ Para louvar, segundo a lei de Israel, / o nome do Senhor. /
 A sede da justiça lá está / e o trono de Davi.

EVANGELHO (Lc 23,35-43) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, os chefes zombavam de Jesus dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!” Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!” Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”. Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

AMBIENTE - O Evangelho situa-nos diante de uma cruz. É o final da “caminhada” terrena de Jesus ao serviço da construção do “Reino”. As bases do “Reino” estão lançadas e Jesus é apresentado como “o Rei” desse “Reino”. “Malfeitores e os chefes dos judeus “zombavam de Jesus. Por cima da cruz de Jesus, havia uma inscrição: “este é o rei dos judeus”.

MENSAGEM - Lucas nos apresenta o tema da realeza de Jesus. Dominando a sena, está a inscrição que define Jesus como “rei dos judeus”. É uma indicação que parece irônica: Ele não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de súditos fiéis, mas dos chefes dos judeus que O insultam e dos soldados que O escarnecem; Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa cruz, indefeso, condenado a uma morte infame… Não há aqui qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena. Contudo, a inscrição da cruz descreve com precisão a situação de Jesus, na perspectiva de Deus: Ele é o “rei” que preside, da cruz, a um “Reino” de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica desse “Reino de Deus” que Jesus veio propor aos homens. Ao lado de Jesus estão dois “malfeitores”, crucificados como Ele. Enquanto um O insulta, o outro pede: “Jesus, lembra-Te de mim quando vieres com a tua realeza”. A resposta de Jesus a este pedido é: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Jesus é o Rei que apresenta aos homens uma proposta de salvação e que, da cruz, oferece a vida. O “estar hoje no paraíso” não expressa um dado cronológico, mas indica que a salvação definitiva (o “Reino”) começa a fazer-se realidade a partir da cruz. Na cruz manifesta se plenamente a realeza de Jesus que é perdão, renovação do homem, vida plena; e essa realeza abarca todos os homens – mesmo os condenados – que acolhem a salvação. Toda a vida de Jesus foi dominada pelo tema do “Reino”. Ele começou o seu ministério anunciando que “o Reino chegou” (Mc 1,15; Mt 4,17). As suas palavras e os seus gestos sempre mostraram que Ele tinha consciência de ter sido enviado pelo Pai para anunciar o “Reino” e para trazer aos homens uma era nova de felicidade e de paz. Os discípulos perceberam que Jesus era o “Messias” (Mc 8,29; Mt 16,16; Lc 9,20) – um título que O ligava às promessas proféticas e a esse reino ideal de David com que o Povo sonhava. Contudo, Jesus nunca assumiu com clareza o título de “Messias”, a fim de evitar equívocos: numa Palestina em ebulição, o título de “Messias” tinha algo de ambíguo, por estar ligado a perspectivas nacionalistas e a sonhos de luta política contra o ocupante romano. Jesus não quis deitar mais lenha para a fogueira da esperança messiânica, pois o seu messianismo não passava por um trono, nem por esquemas de autoridade, de poder, de violência. Jesus é o Messias/rei, sim; mas é rei na lógica de Deus – isto é, veio para presidir a um “Reino” cuja lei é o serviço, o amor, o dom da vida. A afirmação da sua dignidade real passa pelo sofrimento, pela morte, pela entrega de Si próprio. O seu trono é a cruz, expressão máxima de uma vida feita amor e entrega. É neste sentido que o Evangelho de hoje nos convida a entender a realeza de Jesus.

ATUALIZAÇÃO
Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que Se impõe aos homens do alto da sua onipotência com gestos espetaculares; mas é celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força do amor. A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a construir o “Reino de Deus” – é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração dos homens através do amor e do dom da vida.
Festa de Cristo Rei convida-nos a repensar a nossa existência e os nossos valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos parecem ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de aplausos, de reconhecimentos?

SEGUNDA LEITURA (Cl 1,12-20) Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses.
Irmãos: Com alegria dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de participar da luz, que é a herança dos santos. Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas têm nele a sua consistência. Ele é a cabeça do corpo, isto é, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os mortos; de sorte que em tudo ele tem a primazia, porque Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz.

AMBIENTE - Paulo estava na prisão (em Roma?) quando recebeu a visita do seu amigo Epafras. Epafras contou a Paulo que a Igreja de Colossos estava em crise, pois alguns “doutores” cristãos ensinavam que a adesão a Jesus devia ser completada por outras práticas religiosas, fundamentais para a salvação. Esses “doutores” exigiam dos crentes de Colossos o cumprimento de práticas ascéticas, de certos ritos legalistas, de algumas prescrições sobre os alimentos; exigiam, também, a observância de determinadas festas e a crença nos anjos e nos seus poderes. É possível que este quadro tivesse a ver com doutrinas orientais que iriam, mais tarde, desembocar no movimento “gnóstico”. Contra esta confusão religiosa, Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo: a adesão a Cristo é o fundamental para quem quer ter acesso à proposta de salvação; tudo o resto é dispensável e não deve ser imposto aos cristãos.

MENSAGEM - O texto começa com um convite à ação de graças, porque Deus livrou os colossenses “do poder das trevas” e transferiu-os “para o Reino do seu filho muito amado”; em seguida, Paulo apresenta um hino no qual celebra a supremacia absoluta de Cristo na criação e na redenção. É nas duas estrofes deste hino que está a mensagem fundamental que nos interessa refletir. A primeira estrofe do hino (vers. 15-17) afirma e celebra a soberania de Cristo sobre toda a criação. Cristo é a “imagem de Deus invisível”. Dizer que é “imagem” significa dizer que Ele é, em tudo, igual ao Pai, no ser e no agir, e que n’Ele reside a plenitude da divindade. Significa que Deus, espiritual e transcendente, revela-Se aos homens e faz-Se visível através da humanidade de Cristo. A segunda afirma que Ele é “o primogênito de toda a criatura”. No contexto familiar judaico, o “primogênito” era o herdeiro principal, que tinha a primazia em dignidade e em autoridade sobre os seus irmãos. Aplicado a Cristo, significa que Ele tem a supremacia e a autoridade sobre toda a criação. A terceira assegura que “n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”. Tal significa que todas as coisas têm n’Ele o seu centro supremo de unidade, de coesão, de harmonia (“n’Ele”); que é Ele que comunica a vida do Pai (“por Ele”); e que Cristo é o termo e a finalidade de toda a criação (“para Ele”). Ao mencionar expressamente que os “tronos, dominações, principados e potestades” estão incluídos na soberania de Cristo, Paulo desmonta as especulações dos “doutores” de Colossos acerca dos poderes angélicos, considerados em paralelo com o poder de Cristo. A segunda estrofe (vers. 18-20) afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo na redenção. Também aqui temos três afirmações fundamentais… A primeira diz que Cristo é a “cabeça da Igreja, que é o seu corpo”. A expressão significa, em primeiro lugar, que Cristo tem a primazia e a soberania sobre a comunidade cristã; mas significa, também, que é Ele quem comunica a vida aos membros do corpo e que os une num conjunto vital e harmônico. A segunda afirma que Cristo é o “princípio, o primogênito de entre os mortos”. Significa, não só que Ele foi o primeiro a ressuscitar, mas também que Ele é a fonte de vida que vai provocar a nossa própria ressurreição. A terceira assegura que em Cristo reside “toda a plenitude”. Significa que n’Ele e só n’Ele habita, efetiva e essencialmente, a divindade: tudo o que Deus nos quer comunicar, a fim de nos inserir na sua família, está em Cristo. Por isso, o autor do hino pode concluir que, por Cristo, foram reconciliadas com Deus todas as criaturas na terra e nos céus: por Cristo, a criação inteira, marcada pelo pecado, recebeu a oferta da salvação e pôde voltar a inserir-se na família de Deus.

ATUALIZAÇÃO
A festa de Cristo Rei revela que Ele tem a supremacia e autoridade sobre todos os seres criados; que Ele é o centro de todo o universo e que tudo tende e converge para Ele…
♦ A Igreja é um corpo, do qual Cristo é a cabeça; é Cristo que reúne os vários membros numa comunidade de irmãos que vivem no amor; é Cristo que a todos alimenta e dá vida; é Cristo o termo dessa caminhada que os crentes fazem ao encontro da vida em plenitude. Cristo é o centro da Igreja. Não damos, às vezes, mais importância, tantas vezes, a “santos”, que assumem um valor exagerado na vivência de certos cristãos, e que ocultam o essencial?

  Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho

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                        O Nosso Rei

Com a solenidade de Cristo, REI DO UNIVERSO, encerramos o Ano Litúrgico.

A Palavra deixa claro, que uma realeza se exerce no amor, no serviço, no dom da vida.

Na 1ª Leitura Davi é ungido REI de todo o Povo de Israel. (2Sm 5,1-3)
O seu reino tornou-se símbolo do Reino de paz e de justiça, que um dia Deus teria instaurado na terra.
Os Profetas prometeram a chegada de um descendente de Davi, que iria realizar esse sonho.
Israel esperou durante muitos séculos essa Vinda.

O Evangelho: o NOSSO REI preside esse Reino no Trono da CRUZ. (Lc 23,35-43)
Cristo não aparece sentado num trono de ouro, mas pregado numa cruz, com uma horrível coroa de espinhos na cabeça, com uma irônica inscrição pregada na cruz: "Jesus Nazareno REI dos Judeus".

Nada o identifica com poder, com autoridade, com realeza terrena.

- Ao lado de Jesus estão dois malfeitores, crucificados com ele.
Enquanto um o insulta, o outro reconhece a realeza de Jesus e pede um lugar nele.
* A cruz é a expressão máxima de uma vida feita Amor e Entrega;

Na 2ª leitura Paulo apresenta Cristo como o CENTRO da vida e da história. (Cl 1,12-20)

+ Lendo o Evangelho, vemos que:
- A Missão de Cristo nessa terra foi inaugurar o Reino de Deus...
- A Missão da Igreja é continuar na História o anúncio do Reino de Deus.

+ Celebrar a festa de Cristo Rei
- Não é celebrar um Deus forte, dominador, mas é celebrar um Deus que serve com a força do amor.
 
- Diante deste "rei" que se dá sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?

Certamente nos sentimos felizes em sermos cidadãos desse Reino.

Por isso, alegremo-nos dessa dignidade e façamos com que ele tenha um lugar sempre maior dentro de nosso coração...

                                                                                              

                                        Pe. Antônio Geraldo

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Homilia do Pe. Pedrinho

Meus irmãos e irmãs, eu tenho uma pergunta para o pessoal da primeira Comunhão: Eu quero saber; o que significa dominar? Se estiver errado, não tem problema. (tomar posse). Tomar posse. Isso que os portugueses fizeram no Brasil. O que mais além de tomar posse? (tomar conta). Tomar conta já é diferente de tomar posse. É bem diferente. Dominar é tomar conta ou tomar posse? É bem o tema de hoje. Nós temos aí, duas posturas diferentes. As duas, infelizmente, estão corretas, dependendo como agente enxerga as coisas. Se eu dominar como estamos acostumados a ver, um país entra dominando o outro, o rei entra dominando os subalternos, ou o político derruba o outro, toma o poder e quer dominar todo mundo, dignifica tomar posse. Quando Deus disse no capítulo 1 e 2 do Gênesis: “Crescei, multiplicai e dominai a terra”, não é tomar posse, mas é tomar conta, como se fosse o próprio Deus cuidando. Então, você é chamado a dominar a terra, ou seja, cuidar da terra como se fosse o próprio Deus cuidando. Domus, domini é Senhor, do Senhor. Cuidar da terra como sendo senhor; eu sou chamado a cuidar da terra como sendo o próprio Deus cuidando.
Todos nós já temos um chamado de partida. Qual é? Se Deus lhe deu a vida é para você cuidar da sua vida, como se fosse Deus cuidando. Só que, tem pessoas que dependem de outros para cuidar da vida. É aí que chamamos RESPONSÁVEIS. Normalmente na casa, quem são os responsáveis? Normalmente o pai e a mãe, mas pode inverter. Quando o pai e a mãe já tem certa idade, aí os filhos que devem cuidar, como se fosse o próprio Deus cuidando. Então, os pais e os filhos como se fosse o próprio Deus, cada um cuidando a seu tempo como se fosse o próprio Deus. Assim, o patrão, o chefe, o presbítero, devem cuidar do seu pessoal como se fosse o próprio Deus. Assim também o prefeito cuidar da cidade, o governador cuidar do Estado e o presidente como se fosse o próprio Deus. Mas, fomos longe, desde os pais, os filhos, o presbítero, o prefeito, o governador e o presidente, abandonamos esta ordem de cuidar como se fosse o próprio Deus. Uns por limitação do próprio pecado. Outros, por ganância. Outros por vontade, ao invés de cuidar, de serem cuidados. Ao invés de servirem, querem ser servidos e então se servem do povo, se servem abusivamente da natureza e querem apenas tomar posse de tudo e de todos.
Em determinado momento Deus falou: vou mandar algumas pessoas para cuidar do meu povo. Alguém se lembra de algum nome de rei que aparece na Bíblia? (Rei Davi). Davi. Aliás, é o mais admirado de todos até hoje, porque Davi é a imagem do rei. Ele foi perfeito em tudo que ele fez?  Não. Ele cobrou tanto imposto do povo, que parecia os dia de hoje. Só que não devolvia para o povo. Foi contraindo muitas riquezas. Quis até construir um Santuário. Deus disse: agora chega. Quem decide onde moro sou eu. Teu filho vai construir um santuário. Você não! Assim, temos Salomão, que vai construir o Santuário. Salomão foi perfeito? Imagina! Na hora que ele morre o povo diz para seu filho: teu pai nos açoitava com dura escravidão. Deixa o povo um pouco mais livre. Seu filho disse: meu pai pesava em vocês com um dedo. Eu vou pesar a mão inteira.
Todos os reis falharam. Sabe por que? Tiveram oportunidade e aí entra a tentação. O que eu faço? Eu sirvo o povo ou eu ME sirvo do povo? Entre tomar conta e tomar posse, a maioria prefere tomar posse. Bom, disse Deus: vou eu mesmo dominar, e mostrar como é que dominar é servir, cuidar, como eu gostaria que fosse. Então, Deus se faz carne, se faz humano e mostra o seu domínio, não como o servo glorioso como foram os reis, mas como o servo sofredor; assim temos os exemplos de Jesus.
Jesus é Rei? Nós cremos que sim. Qual é a coroa que Jesus trás consigo? Coroa de espinhos. Qual é o seu trono? A Cruz. Qual é a sua veste de Rei? Ele é totalmente despido para ser crucificado. Ele é um tipo de rei, que nenhum rei quer ser. Pergunta se alguém quer ser crucificado para salvar o povo? Não. Normalmente eles põem o povo para salvar o rei. Fazem a guerra e quem morre é o povo. Eles não vão para a guerra, mas mandam os outros.
Jesus se torna Rei e este tipo de reinado incomoda as pessoas. Incomoda todo mundo e talvez incomoda a nós mesmos. É difícil ver alguém que esteja disposto a se colocar a serviço do povo cem por cento, mas Jesus fez isto. Ele é o servo fiel. Ele fez tudo o que é de se esperar de um representante de Deus na terra. Tão perfeito e tão plena a sua realização, que Ele mostra a própria imagem de Deus. Ele não é um representante, um embaixador, mas o próprio Deus feito homem. Aí é que está. Como Ele venceu o pecado, enquanto os outros foram vencidos por ele, Ele destruiu a morte, nos dando vida eterna.
Durante o ano celebramos vários mistérios. Um dos mistérios é este: Jesus vai voltar para tomar posse, dominar, cuidar do seu povo. Vai reinar, pois o Reino é dele. Ele pode tomar posse. Olha que eu estou dizendo tomar posse. Pode porque Ele ensinou que quem quiser ser o maior, seja o servo de todos. Então, ser subalterno de Jesus é a maior liberdade que poderíamos ter, porque Ele não precisa de nada de nosso serviço. De nada. Nós cremos que Ele irá voltar. É isso que celebramos hoje: Jesus é o Senhor, o Rei do Universo e tomará posse de obra do Criador.
Hoje é o último dia do ano litúrgico. O ano litúrgico não segue o ano civil. O ano litúrgico termina no trigésimo quarto domingo do tempo comum. Domingo que vem já começamos o advento, que é a preparação para a vinda do Senhor.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.


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Homilia do Padre Françoá Costa – Solenidade de Cristo Rei (Ano C)

Relativismo e verdade

A festa de hoje foi instituída no Ano Jubilar de 1925 pelo Papa Pio XI com a Carta Encíclica “Quas Primas” (QP), com o qual coincidiu o 16º centenário do Concílio de Nicéia, que proclamara a divindade do Filho de Deus; este Concílio inseriu também em sua fórmula de fé as palavras: “cujo reino não terá fim”, afirmando assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2).
Jesus Cristo, sendo a Verdade, é também o rei da verdade, isto é, verdade é o que ele diz. O ser humano sempre mantem essa sadia curiosidade por conhecer a verdade. No filme “A Paixão de Cristo” de M. Gibson há um momento em que Pilatos pergunta a Jesus: Quid est veritas? – O que é a verdade? Tanto no filme como na Escritura se pode ver que “falando isso, saiu de novo” (Jo 18,38). Dá a impressão de que no fundo ele não queria saber a resposta. E, no entanto, o ser humano sempre tem o desejo de conhecer a resposta para os seus interrogantes, ainda que seja verdade que às vezes tente abafar esse desejo.
No Evangelho de hoje, se percebe esse desejo a través da conjunção “se”: “se é o Cristo, o escolhido de Deus!” – manifestam os príncipes dos sacerdotes; “se és o rei dos judeus” – dizem os soldados; “se és o Cristo” – diz um dos malfeitores crucificados com Jesus. Parece existir uma dúvida que no fundo é um “grito silencioso” que poderia ser traduzido dessa maneira: “Por favor, Senhor, se manifesta; por favor, me diz quem é você. Não aconteça que pela minha ignorância, venha eu a perecer. Se você é o Cristo, me salva”. Frequentemente, diante da aparente indiferença em relação à escuta do Evangelho, devemos escutar esse apelo oculto, silencioso, um grito suplantado.
O chamado “bom ladrão” teve coragem de expressar nitidamente o desejo do seu coração: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” Não devemos temer as revoltas humanas contra Deus. Temos a esperança de que, um dia, essas pessoas possam dizer como esse pecador que, como era um bom ladrão, soube “roubar” o céu nos últimos minutos de vida. Tenhamos por certo: a verdade de Cristo é que o que todos os homens e mulheres desejam, sabendo ou não.
A verdade, na Sagrada Escritura, não é somente uma luz na inteligência evidente para o sujeito, mas principalmente um apoio para toda a vida. O símbolo da verdade na Escritura é a rocha, a solidez da pedra. Na verdade de Deus nós podemos apoiar-nos para levar uma vida justa e bela, humana e sobrenaturalmente.
Joseph Ratzinger, um dia antes da sua eleição como Sucessor de Pedro, afirmava que nós “não devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. E em que é que consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser batidos pelas ondas e levados ao sabor de qualquer vento de doutrina… (Ef 4, 14). Uma descrição muito atual! Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento (…). Todos os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente catalogado como fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor de qualquer vento de doutrina, aparece como a única atitude à altura dos tempos atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio “eu” e os seus apetites. Nós, pelo contrário, temos um outro critério: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo. Não é “adulta” uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é antes uma fé profundamente enraizada na amizade com Cristo. (…). Devemos amadurecer essa fé adulta (…). Em contraste com as contínuas peripécias daqueles que são como crianças batidas pelas ondas, São Paulo oferece-nos a este propósito uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, verdade e caridade coincidem. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, assim também na nossa vida, verdade e caridade se fundem. A caridade sem a verdade seria cega; a verdade sem a caridade seria como um címbalo que tine (1 Cor 13, 1)”.
Cristo é o rei da verdade, mas é custoso deixar que essa verdade penetre até o mais profundo do nosso ser para ser nosso apoio, guia e modelo. Queremos conhecer a verdade, mas temos medo de comprometer-nos com ela, tememos que a verdade conhecida nos arranque do nosso habitual comodismo e das nossas costumeiras tradições. Quando Cristo bate à porta do nosso coração nos sentimos alegres, mas também – à medida que ele vai pedindo um maior espaço – percebemos como nos incomoda. No entanto, graças a Deus, somos conscientes de que a felicidade desejada só se encontrada nessa verdade abraçada.
Pe. Françoá Costa
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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa – Solenidade de Cristo Rei (Ano C)

É este o último Domingo do Ano da Igreja. Na corrida, na fiada de dias iniciada no Advento do ano passado, contemplamos o Cristo que se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-se na cruz, morreu e ressuscitou, dando-nos de modo definitivo o seu Espírito Santo. Pois bem: depois de termos contemplado todo este mistério, chegamos ao fim e proclamamos o Senhor Jesus como Reino do Universo. Como afirma o Apocalipse, “Jesus Cristo fez de nós um reino e sacerdotes para Deus, seu Pai. A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos!”
Mas, que significa afirmar esta realeza de Cristo Jesus? Pensando bem, é um título problemático, esse dado ao Senhor… Ele é Rei mesmo? Rei do quê? Rei num mundo que o rejeita, Rei de um Ocidente que cada vez mais lhe volta as costas? Rei de uma humanidade de coração fechado para o seu senhorio? Não seria mais lógico, mais realista afirmar que os reis de hoje são os Ronaldinhos, o Paulo Coelho, o Bush e os heróis de plantão? Será que celebrar o Senhor Jesus com este título portentoso, “Rei do Universo”, não é mais uma prova de que os cristãos estão delirando, apegados a um passado glorioso, quando a sociedade era cristã e a Igreja tinha poder?
Quando os cristãos confessamos que Cristo é Rei, de que reinado estamos falando? A que Reino estamos nos referindo? Nós realmente acreditamos com todo o coração e confessamos com toda convicção que Jesus Cristo – e só ele! – é Rei: Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa humana, cristã ou não-cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem, é, como diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no céu e na terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,1518).
No entanto, é necessário compreender a natureza do reinado de Jesus. A Liturgia de hoje coloca como antífona de entrada do Missal romano uma frase do Apocalipse que é surpreendente: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos séculos!” Frase surpreendente, sim! Quem é Aquele que proclamamos Rei? O Cordeiro; e Cordeiro imolado. Cordeiro evoca mansidão, paz, fragilidade… Nosso Rei não é aquele que faz e acontece, aquele que passa por cima feito trator… Nosso Rei é o Cordeiro que foi esmagado na cruz, Aquele que foi imolado pelo Pecado do mundo. O mundo passou e passa por cima do nosso Rei, refuta seu Evangelho, desdenha de sua Palavra, ridiculariza seus preceitos, calunia sua Igreja… Esse Rei é Aquele que foi crucificado, que foi derrotado e terminou sozinho, é o homem de dores prenunciado por Isaías. No Evangelho escutamos que zombaram e zombam dele: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se de fato é o Cristo de Deus, o Escolhido! Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!” (Lc 23,35.39)
Não! Decididamente, Jesus não é Rei nos moldes dos reis da terra. Não podemos imaginar os reis, presidentes e manda-chuvas deste mundo, para depois enquadrar Cristo nesses modelos. O reinado de Cristo somente pode ser compreendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis o modo que Cristo tem de reinar: servindo, dando vida e entregando a própria vida. Tão diferente dos reis da terra, dos políticos e líderes de ontem de hoje: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vos não será assim…” (Mc 10,42s). Cristo é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós, é Rei porque tomou nossa vida sobre seus ombros, é Rei porque passou entre nós servindo, até o maior serviço: entregar-se totalmente na cruz. É rei porque, agora, no céu, Deus e homem verdadeiro, é Cabeça e Princípio de uma nova criação, de uma nova humanidade, de uma nova história, que se consumará na plenitude final. A festa de Cristo Rei recorda-nos uma outra: a do Domingo de Ramos, quando, com palmas nas mãos, cantamos o reinado de Cristo, que entrava em Jerusalém num burrico – animal de carga de serviço – para ser coroado de espinhos, morrer e ressuscitar.
Tudo isto nos coloca em crise, pois este Rei-Messias olha para nós, cristãos, seus discípulos, e nos convida a segui-lo por esse caminho: não o da glória, mas da humildade; não o do sucesso a qualquer custo, mas da fidelidade a todo preço; não o das honras, mas do serviço; não o da imposição, mas da proposta humilde. Quantas vezes os cristãos pensaram o reinado de Cristo de modo demasiado humano, quantas vezes a Igreja pensou que o Reino do Senhor estava mais presente quando ela era honrada, reverenciada, presente nos corredores dos palácios ou nos palanques dos grandes do mundo… Quantas vezes vemos o reinado do Senhor quando tudo sai bem para nós… Ilusão; tentação diabólica! Nosso verdadeiro reinado, nossa real serviço, nossa inalienável dignidade é unir-se a Cristo no seu caminho de humilde serviço ao Evangelho, seguindo os passos do nosso Senhor: “Fiel é esta palavra: Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,11). Todas as vezes que esquecemos isso, fomos infiéis e indignos de reinar com Cristo. Houve tempos gloriosos na nossa história de Igreja de Cristo: já fomos perseguidos pelos romanos, já fomos perseguidos em tantos lugares da terra: já nos mataram, torturaram, pisaram, discriminaram… Houve tempos tristes: quando perseguimos, torturamos e discriminamos… pensando, assim, manifestar o Reino de Cristo! Que engano! Que ilusão!
Hoje, temos uma nova chance. Nos países muçulmanos e budistas, somos cidadãos de segunda classe, perseguidos e mortos (ninguém divulga isso!), na China, somos colocados na prisão e nossos Bispos são condenados a trabalhos forçados e, aqui, no nosso Brasil, somos chamados de reacionários, medievais, obscurantistas, anacrônicos, contrários à ciência e ao progresso… porque não aceitamos o aborto, a eutanásia, o assassinato de deficientes, a dissolução da família… É, mais uma vez, a chance de testemunhar o reinado de Cristo, de permanecermos firmes no combate, com a humildade que é capaz de dialogar e ouvir, mas também com a firmeza que não arreda o pé da fidelidade ao Senhor: “Vós sois os que permanecestes constantemente comigo em minhas tribulações; também eu disponho para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à minha mesa em meu Reino” (Lc 22,28-30). Que missão, que chance, que desafio, que graça! Com serenidade e firmeza, na palavra, na vida e na morte, testemunhemos: Jesus Cristo é Rei e Senhor, Princípio e Fim de todas as coisas.
Humildemente, elevemos, cheios de confiança, o nosso olhar para ele, e como o Bom Ladrão, supliquemos: “Jesus, lembra-te de mim, lembra-te de nós, quando entrares no teu Reino!” Só a ti a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
A Solenidade de Cristo, Rei do Universo, mais do que marcar o término do Ano Litúrgico, é anúncio profético da conclusão de toda a história: Aquele que se ofereceu na cruz, vítima pura e pacífica e realizou a redenção da humanidade, entregará ao Pai um reino eterno e universal (prefácio da Solenidade de Cristo-Rei). Portanto, tudo se encaminha para o definitivo estabelecimento do Reino de Deus. A cada Eucaristia anunciamos esta verdade e renovamos o nosso compromisso de colaborar com a instauração desse Reino. O Reino de Deus não é mais uma utopia que pretende enganar a humanidade a fim de que ela não enlouqueça diante da sua impotência de fazer acontecer, no aqui e agora, as suas aspirações de justiça, paz, igualdade, etc.
O cristão autêntico não se pergunta se o Cristo vencerá ou se ainda há esperança de que Ele reine. O verdadeiro discípulo do Mestre não tem dúvida de que Ele já é vitorioso, e que o seu reinado já foi inaugurado: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Por outro lado, anunciar a vitória de Cristo Rei é optar pelo seu caminho e destino; é vencer a tentação de ficar apenas assistindo passivamente à sua luta, ou mesmo, diante do desânimo e frustrações humanas, passar para o outro lado, tornando-se um adversário dele, colaborando com o antirreino. A cruz de Jesus não é apenas instrumento de suplício, mas prova da sua fidelidade ao Pai, confundindo os seus opositores. A cruz é o trono do qual Ele exerce a sua suprema autoridade, não abdica do seu poder real, mas o manifesta sobretudo no perdão e na misericórdia para aqueles que o reconhecem, apesar de seu sofrimento, como Salvador da humanidade.
Nas atitudes e reações daqueles que estavam presentes no calvário, Lucas nos apresenta, num movimento crescente, os três graus de cumplicidade na execução da morte de Jesus, ápice da rejeição à sua pessoa e ao seu projeto de vida. Parte-se da incredulidade dos chefes do povo, passando pelo escárnio dos soldados, até culminar na blasfêmia proferida por um dos malfeitores pendentes da cruz. Essas três reações, na verdade, são as últimas tentativas (tentações) de convencer Jesus de trair o projeto do Pai, negando a sua encarnação e fazendo-o romper definitivamente com a sua missão de Messias Sofredor.
No início do evangelho, Lucas finaliza a narração das tentações afirmando: “Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo oportuno” (grego kairós, Lc 4,13). Eis, portanto, o tempo oportuno, o momento decisivo para Jesus testemunhar a sua fidelidade ao Pai e ao seu projeto de salvação.
Assim como o diabo introduzia suas propostas tentadoras com a expressão: “Se és Filho de Deus”, os chefes, os soldados e o malfeitor também fazem referência aos títulos de Jesus (Filho de Deus, Rei dos Judeus, Messias). Tanto o diabo como os outros exigem que Jesus dê provas disso. Para o diabo a prova era usar a sua prerrogativa divina em benefício próprio, isto é, matar a própria fome; para os chefes ser filho de Deus era salvar-se a si mesmo. Esse é o primeiro grau de cumplicidade com o projeto do diabo: exigir que o Messias não seja o servo sofredor, e por isso, não acreditam que aquele crucificado, coberto de dores, fosse o Messias. Eis por que “ridicularizavam-no (grego eksemuktérizon: contorcer o nariz, virar-se para não ver, caçoar): a outros salvou, que salve a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito”. Os primeiros que deveriam ter reconhecido Jesus como o Messias fazem dele objeto de riso (brincadeira), não veem que o crucificado é o Deus encarnado que levou a sério a sua missão, até as últimas consequências, não permitindo que as pessoas fossem tratadas com menosprezo, tornando-se, assim, o defensor dos postos à margem.
Se o diabo prometeu a Jesus dar-lhe todos os reinos da terra, os soldados insultam Jesus ironizando com o título de “Rei dos Judeus”. Esse é o segundo grau de cumplicidade com o projeto do diabo: “traziam-lhe vinagre, e diziam: Se és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo”. Àquele, cuja dignidade real duvidam, oferecem a bebida dos miseráveis (vinagre: vinho podre), e assim reiteram que o crucificado não pode ser um rei, pois não tinha nem reinos nem poderes, visto que quando teve a oportunidade de recebê-los (do diabo), recusou. Na última tentação, o diabo sugere a Jesus, apoiando-se na Escritura, reivindicar toda isenção de dificuldade e problema, pois sendo um protegido de Deus, nada o poderia atingir, e caso se encontrasse em situações adversas, o Altíssimo enviaria os seus anjos para livrá-lo. Esta é a mentalidade do malfeitor, a sua blasfêmia representa o terceiro grau de cumplicidade com o projeto do diabo: “Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Assim como o diabo foi derrotado no início da vida pública de Jesus, tal derrota é confirmada no julgamento da cruz. Portanto, as palavras do bom ladrão representam a grande proclamação desse julgamento: “Ele não fez nenhum mal”. Pedro, no seu discurso na casa de Cornélio, dirá: “Como Deus o ungiu (Messias) com o Espírito Santo e com poder, ele que passou fazendo o bem” (At 10,38s). Eis a grande prova de que Jesus é o Messias, o Eleito de Deus. Participar do seu Reino é proclamar essa verdade e comprometer-se com ela. Enquanto todos os opositores exigiram de Jesus que abandonasse a cruz e desse provas de que era o Messias, o Filho de Deus, o bom ladrão, pregado na cruz, reconhece quem é aquele que está ao seu lado: “Jesus”, e, por isso, faz-lhe um pedido para permanecer sempre do seu lado: “lembra-te de mim quando estiveres no teu reinado”.
Enquanto os adversários se dirigiam a Jesus usando ironicamente os seus títulos, o bom ladrão dirige-se a Ele chamando-o por seu nome, isto é: “Deus salva” (Jesus), grande proclamação de fé, diante da incredulidade dos chefes, dos soldados e do malfeitor que acreditavam que Jesus só poderia salvar abandonando a cruz, fugindo da morte. Assim como o tentador, todos os adversários do Reino querem um Jesus sem cruz. A tentação de abandonar a cruz torna-se insulto e blasfêmia ao Crucificado. Distanciar-se da cruz é ser impedido de ouvir a grande verdade da sua vitória, da sua ressurreição que alimenta a nossa esperança: “Em verdade vos digo: ‘Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.


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Para a celebração da Palavra: (Diáconos e Ministros da Palavra):

LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O Senhor esteja com todos vocês... Demos graças ao Senhor o nosso...
- Com Jesus, Por Jesus e em Jesus, na força do Esp. Santo, louvemos ao Pai:
T: Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Senhor, nosso Deus e Pai, grande é o vosso amor nos enviando vosso Filho para nos salvar!
T: Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Nós vos damos graças pelo nosso batismo e por nos acolher como filhos prediletos vossos!
T: Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Pai, hoje aclamamos Jesus como nosso Rei e nosso Pastor. Guiai-nos para as águas da vida eterna!
T: Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Ajudai-nos a ver nos irmãos e irmãs a vossa imagem e semelhança, para que saibamos perdoar e agirmos como filhos do mesmo Pai!..
T: Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Senhor, encerramos neste domingo o ano litúrgico. Paulo nos ensinou que Jesus Cristo é o Rei do Universo. Ele é o nosso exemplo na caminhada para o Reino. Pai, neste ano que se inicia, queremos nos preparar para a chegada do menino Jesus que sempre renasce em nosso coração todo ano. Nos ajude a sermos humildes e desapegados das coisas que passam. Que sejamos simples como o menino de Belém. Que aprendamos a seguir os passos de vosso Filho.
T: Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- PAI NOSSO... A PAZ...
 (Elevando o Pão consagrado);
- Eu digo “Jesus Cristo”, vocês respondem: É o Nosso Rei!:
- Jesus Cristo! (T: É O NOSSO REI). (3x).
...Eis o Cordeiro de Deus...