34º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C
2019.
TEMA: JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO.
Primeira leitura: David se tornou rei de todo o
Israel, iniciou-se um tempo de felicidade e de paz, que ficou na memória do
Povo. O Povo sonhava com a volta de um reino igual; os profetas prometeram a
chegada de um descendente de David que iria realizar esse sonho.
Evangelho: Jesus é o Messias/Rei enviado por Deus; no entanto, seu
Reino não é construído sobre a força, a violência, mas sobre o amor, o perdão,
o dom da vida.
Segunda leitura: apresenta
a soberania de Cristo sobre toda a criação; Ele é a fonte de vida para o homem.
PRIMEIRA LEITURA (Sm 5,1-3) Leitura do Segundo Livro de Samuel.
Naqueles dias, todas as tribos de
Israel vieram encontrar-se com Davi em Hebron e disseram-lhe: “Aqui estamos.
Somos teus ossos e tua carne. Tempo atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu
que dirigias os negócios de Israel. E o Senhor te disse: ‘Tu apascentarás o meu
povo Israel e serás o seu chefe’”. Vieram, pois, todos os anciãos de Israel até
o rei em Hebron. O rei Davi fez com eles uma aliança em Hebron, na presença do
Senhor, e eles o ungiram rei de Israel.
AMBIENTE - Por volta do ano 1007 a .C., o reino de Saul
(tribos do norte e do centro) sofreu um rude golpe, com a morte do rei e de
Jônatas (filho e natural sucessor de Saul) às mãos dos filisteus (1 Sm 31).
David reinava sobre as tribos do sul (2 Sm 2,1-4). Abner, chefe dos exércitos
do norte, ofereceu a David a autoridade sobre as tribos do reino de Saul (2 Sm
3,12-21). Os anciãos do norte pediram a
David que aceitasse dirigir também os destinos das tribos do norte e do centro.
É diante deste quadro que a leitura de hoje nos coloca. David está em Hebron –
a capital das tribos do sul – e é lá que recebe os enviados das tribos norte e
do centro que lhe propõem a realeza. Estamos por volta do ano 1005 a .C..
MENSAGEM - Os anciãos propõem-lhe a realeza sobre
as tribos do norte e do centro e David aceita… É a primeira vez que se consegue
a união de todas as tribos sob a autoridade de um único rei. Os autores deste
texto preocupam-se em fazer uma leitura teológica da história… Assim, colocam
na boca dos anciãos de Israel a seguinte frase: “o Senhor disse-te: «tu
apascentarás o meu Povo de Israel, tu serás rei de Israel»”. A realeza de David
aparecerá como algo querido por Deus: o rei David será considerado o
instrumento através do qual Deus apascenta o seu Povo. O seu reinado foi
marcado – como acontece com todos os reinados “humanos” – por conflitos
internos, guerras civis, injustiças, mortes… Mas, apesar de tudo, David
manifestou-se como um homem de grande estatura política e moral. Em termos
políticos, o reinado de David fez de Israel e de Judá um reino de grandes
dimensões, que se sobrepôs aos seus inimigos tradicionais (os filisteus, os
amonitas, os moabitas) e que ficou na memória do Povo como um tempo ideal de
paz e de abundância. No futuro – sobretudo em épocas de crise – o reinado de
David vai constituir como que uma miragem ideal; o Povo de Deus sonha com um
descendente de David que venha restaurar o reino ideal.
ATUALIZAÇÃO
♦
Jesus Cristo, o Messias, Rei de Israel, descendente de David, é considerado no
Novo Testamento a resposta de Jahwéh aos sonhos e expectativas do Povo de Deus.
Ele veio para restaurar, ao jeito de Deus e na lógica de Deus, o reino de
David. Jesus é, portanto, o Rei que, à imagem do que David fez com Israel,
apascenta o novo Povo de Deus.
♦ O
reinado de David é apresentado com um tempo ideal de unidade, de paz e de
felicidade; no entanto, conheceu, também, tudo aquilo que costuma caracterizar
os reinados humanos: tronos, riquezas, exércitos, batalhas, injustiças,
intrigas, lutas pelo poder, assassínios, corrupção…
SALMO RESPONSORIAL 121 (122)
Quanta
alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!
• Que alegria, quando me disseram: / “Vamos à casa
do Senhor!” /
E agora nossos pés já se detêm, / Jerusalém, em
tuas portas.
• Para lá sobem as tribos de Israel, / as tribos do
Senhor.
/ Para louvar, segundo a lei de Israel, / o nome do
Senhor. /
A sede da
justiça lá está / e o trono de Davi.
EVANGELHO (Lc 23,35-43) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo
segundo Lucas.
Naquele tempo, os chefes zombavam de
Jesus dizendo: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o
Cristo de Deus, o Escolhido!” Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se,
ofereciam-lhe vinagre, e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”
Acima dele havia um letreiro: “Este é o Rei dos Judeus”. Um dos malfeitores
crucificados o insultava, dizendo: “Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a
nós!” Mas o outro o repreendeu, dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que
sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que
merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de
mim, quando entrares no teu reinado”. Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te
digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.
AMBIENTE - O
Evangelho situa-nos diante de uma cruz. É o final da “caminhada” terrena de
Jesus ao serviço da construção do “Reino”. As bases do “Reino” estão lançadas e
Jesus é apresentado como “o Rei” desse “Reino”. “Malfeitores e os chefes dos
judeus “zombavam de Jesus. Por cima da cruz de Jesus, havia uma inscrição:
“este é o rei dos judeus”.
MENSAGEM - Lucas nos apresenta o tema da realeza de
Jesus. Dominando a sena, está a inscrição que define Jesus como “rei dos
judeus”. É uma indicação que parece irônica: Ele não está sentado num trono,
mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de súditos fiéis, mas dos chefes dos
judeus que O insultam e dos soldados que O escarnecem; Ele não exerce
autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa
cruz, indefeso, condenado a uma morte infame… Não há aqui qualquer sinal que
identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena. Contudo, a
inscrição da cruz descreve com precisão a situação de Jesus, na perspectiva de
Deus: Ele é o “rei” que preside, da cruz, a um “Reino” de serviço, de amor,
de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica desse “Reino
de Deus” que Jesus veio propor aos homens. Ao lado de Jesus estão dois
“malfeitores”, crucificados como Ele. Enquanto um O insulta, o outro pede:
“Jesus, lembra-Te de mim quando vieres com a tua realeza”. A resposta de Jesus
a este pedido é: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. Jesus é o Rei que
apresenta aos homens uma proposta de salvação e que, da cruz, oferece a vida.
O “estar hoje no paraíso” não expressa um dado cronológico, mas indica que a
salvação definitiva (o “Reino”) começa a fazer-se realidade a partir da cruz.
Na cruz manifesta se plenamente a realeza de Jesus que é perdão, renovação do
homem, vida plena; e essa realeza abarca todos os homens – mesmo os condenados
– que acolhem a salvação. Toda a vida de Jesus foi dominada pelo tema do
“Reino”. Ele começou o seu ministério anunciando que “o Reino chegou” (Mc 1,15;
Mt 4,17). As suas palavras e os seus gestos sempre mostraram que Ele tinha
consciência de ter sido enviado pelo Pai para anunciar o “Reino” e para trazer
aos homens uma era nova de felicidade e de paz. Os discípulos perceberam que
Jesus era o “Messias” (Mc 8,29; Mt 16,16; Lc 9,20) – um título que O ligava às
promessas proféticas e a esse reino ideal de David com que o Povo sonhava.
Contudo, Jesus nunca assumiu com clareza o título de “Messias”, a fim de evitar
equívocos: numa Palestina em ebulição, o título de “Messias” tinha algo de
ambíguo, por estar ligado a perspectivas nacionalistas e a sonhos de luta
política contra o ocupante romano. Jesus não quis deitar mais lenha para a
fogueira da esperança messiânica, pois o seu messianismo não passava por um
trono, nem por esquemas de autoridade, de poder, de violência. Jesus é o
Messias/rei, sim; mas é rei na lógica de Deus – isto é, veio para presidir
a um “Reino” cuja lei é o serviço, o amor, o dom da vida. A afirmação da sua
dignidade real passa pelo sofrimento, pela morte, pela entrega de Si próprio. O
seu trono é a cruz, expressão máxima de uma vida feita amor e entrega. É neste
sentido que o Evangelho de hoje nos convida a entender a realeza de Jesus.
ATUALIZAÇÃO
♦ Celebrar
a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que
Se impõe aos homens do alto da sua onipotência com gestos espetaculares; mas é
celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força do
amor. A cruz – ponto de chegada de uma vida gasta a construir o “Reino de Deus”
– é o trono de um Deus que recusa qualquer poder e escolhe reinar no coração
dos homens através do amor e do dom da vida.
♦
Festa de Cristo Rei convida-nos a repensar a nossa existência e os nossos
valores. Diante deste “rei” despojado de tudo e pregado numa cruz, não nos
parecem ridículas as nossas pretensões de honras, de glórias, de aplausos, de
reconhecimentos?
SEGUNDA LEITURA (Cl 1,12-20) Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses.
Irmãos: Com alegria dai graças ao
Pai, que vos tornou capazes de participar da luz, que é a herança dos santos.
Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado,
por quem temos a redenção, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus
invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas
todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tronos e
dominações, soberanias e poderes. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele
existe antes de todas as coisas e todas têm nele a sua consistência. Ele é a
cabeça do corpo, isto é, da Igreja. Ele é o Princípio, o Primogênito dentre os
mortos; de sorte que em tudo ele tem a primazia, porque Deus quis habitar nele
com toda a sua plenitude e por ele reconciliar consigo todos os seres, os que
estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz.
AMBIENTE - Paulo
estava na prisão (em Roma?) quando recebeu a visita do seu amigo Epafras.
Epafras contou a Paulo que a Igreja de Colossos estava em crise, pois alguns
“doutores” cristãos ensinavam que a adesão a Jesus devia ser completada por
outras práticas religiosas, fundamentais para a salvação. Esses “doutores”
exigiam dos crentes de Colossos o cumprimento de práticas ascéticas, de certos
ritos legalistas, de algumas prescrições sobre os alimentos; exigiam, também, a
observância de determinadas festas e a crença nos anjos e nos seus poderes. É
possível que este quadro tivesse a ver com doutrinas orientais que iriam, mais
tarde, desembocar no movimento “gnóstico”. Contra esta confusão religiosa,
Paulo afirma a absoluta suficiência de Cristo: a adesão a Cristo é o fundamental
para quem quer ter acesso à proposta de salvação; tudo o resto é dispensável e
não deve ser imposto aos cristãos.
MENSAGEM - O texto começa com um convite à ação de
graças, porque Deus livrou os colossenses “do poder das trevas” e transferiu-os
“para o Reino do seu filho muito amado”; em seguida, Paulo apresenta um hino no
qual celebra a supremacia absoluta de Cristo na criação e na redenção. É nas
duas estrofes deste hino que está a mensagem fundamental que nos interessa
refletir. A primeira estrofe do hino (vers. 15-17) afirma e celebra a soberania
de Cristo sobre toda a criação. Cristo é a “imagem de Deus invisível”.
Dizer que é “imagem” significa dizer que Ele é, em tudo, igual ao Pai, no ser e
no agir, e que n’Ele reside a plenitude da divindade. Significa que Deus,
espiritual e transcendente, revela-Se aos homens e faz-Se visível através da
humanidade de Cristo. A segunda afirma que Ele é “o primogênito de toda a
criatura”. No contexto familiar judaico, o “primogênito” era o herdeiro
principal, que tinha a primazia em dignidade e em autoridade sobre os seus
irmãos. Aplicado a Cristo, significa que Ele tem a supremacia e a autoridade
sobre toda a criação. A terceira assegura que “n’Ele, por Ele e para Ele
foram criadas todas as coisas”. Tal significa que todas as coisas têm n’Ele
o seu centro supremo de unidade, de coesão, de harmonia (“n’Ele”); que é Ele
que comunica a vida do Pai (“por Ele”); e que Cristo é o termo e a finalidade
de toda a criação (“para Ele”). Ao mencionar expressamente que os “tronos,
dominações, principados e potestades” estão incluídos na soberania de Cristo,
Paulo desmonta as especulações dos “doutores” de Colossos acerca dos poderes
angélicos, considerados em paralelo com o poder de Cristo. A segunda estrofe
(vers. 18-20) afirma e celebra a soberania e o poder de Cristo na redenção.
Também aqui temos três afirmações fundamentais… A primeira diz que Cristo é a “cabeça
da Igreja, que é o seu corpo”. A expressão significa, em primeiro lugar,
que Cristo tem a primazia e a soberania sobre a comunidade cristã; mas
significa, também, que é Ele quem comunica a vida aos membros do corpo e que os
une num conjunto vital e harmônico. A segunda afirma que Cristo é o “princípio,
o primogênito de entre os mortos”. Significa, não só que Ele foi o primeiro
a ressuscitar, mas também que Ele é a fonte de vida que vai provocar a nossa
própria ressurreição. A terceira assegura que em Cristo reside “toda a
plenitude”. Significa que n’Ele e só n’Ele habita, efetiva e
essencialmente, a divindade: tudo o que Deus nos quer comunicar, a fim de nos
inserir na sua família, está em Cristo. Por isso, o autor do hino pode concluir
que, por Cristo, foram reconciliadas com Deus todas as criaturas na terra e nos
céus: por Cristo, a criação inteira, marcada pelo pecado, recebeu a oferta da
salvação e pôde voltar a inserir-se na família de Deus.
ATUALIZAÇÃO
♦A
festa de Cristo Rei revela que Ele tem a supremacia e autoridade sobre todos os
seres criados; que Ele é o centro de todo o universo e que tudo tende e
converge para Ele…
♦ A
Igreja é um corpo, do qual Cristo é a cabeça; é Cristo que reúne os vários
membros numa comunidade de irmãos que vivem no amor; é Cristo que a todos
alimenta e dá vida; é Cristo o termo dessa caminhada que os crentes fazem ao
encontro da vida em plenitude. Cristo é o centro da Igreja. Não damos, às
vezes, mais importância, tantas vezes, a “santos”, que assumem um valor
exagerado na vivência de certos cristãos, e que ocultam o essencial?
Pe.
Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho
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O Nosso Rei
Com a solenidade de Cristo, REI DO UNIVERSO, encerramos o Ano
Litúrgico.
A Palavra deixa claro, que uma realeza
se exerce no amor, no serviço, no dom da vida.
Na
1ª Leitura Davi é ungido REI de todo o Povo de Israel. (2Sm 5,1-3)
O seu reino tornou-se símbolo do Reino
de paz e de justiça, que um dia Deus teria instaurado na terra.
Os Profetas prometeram a chegada de um
descendente de Davi, que iria realizar esse sonho.
Israel esperou durante muitos séculos
essa Vinda.
O Evangelho: o NOSSO REI
preside esse Reino no Trono da CRUZ.
(Lc 23,35-43)
Cristo não aparece sentado num trono de
ouro, mas pregado numa cruz, com uma horrível coroa de espinhos na cabeça, com
uma irônica inscrição pregada na cruz: "Jesus Nazareno REI dos Judeus".
Nada o identifica com poder, com
autoridade, com realeza terrena.
- Ao lado de Jesus estão dois
malfeitores, crucificados com ele.
Enquanto um o insulta, o outro reconhece
a realeza de Jesus e pede um lugar nele.
* A cruz é a expressão máxima de uma
vida feita Amor e Entrega;
Na
2ª leitura Paulo apresenta
Cristo como o CENTRO da vida e da história. (Cl 1,12-20)
+ Lendo o Evangelho, vemos que:
- A Missão de Cristo nessa terra
foi inaugurar o Reino de Deus...
- A Missão da Igreja é continuar
na História o anúncio do Reino de Deus.
+ Celebrar a festa de Cristo Rei
- Não é celebrar um Deus forte,
dominador, mas é celebrar um Deus que serve com a força do amor.
- Diante deste "rei" que se dá
sem guardar nada para si, não nos sentimos convidados a fazer da vida um dom?
Certamente nos sentimos felizes em
sermos cidadãos desse Reino.
Por isso, alegremo-nos dessa dignidade e façamos com que ele
tenha um lugar sempre maior dentro de nosso coração...
Pe. Antônio Geraldo
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Homilia do Pe.
Pedrinho
Meus
irmãos e irmãs, eu tenho uma pergunta para o pessoal da primeira Comunhão: Eu
quero saber; o que significa dominar? Se estiver errado, não tem problema.
(tomar posse). Tomar posse. Isso que os portugueses fizeram no Brasil. O que
mais além de tomar posse? (tomar conta). Tomar conta já é diferente de tomar
posse. É bem diferente. Dominar é tomar
conta ou tomar posse? É bem o tema de hoje. Nós temos aí, duas posturas
diferentes. As duas, infelizmente, estão corretas, dependendo como agente
enxerga as coisas. Se eu dominar como estamos acostumados a ver, um país entra
dominando o outro, o rei entra dominando os subalternos, ou o político derruba
o outro, toma o poder e quer dominar todo mundo, dignifica tomar posse. Quando
Deus disse no capítulo 1 e 2 do Gênesis: “Crescei, multiplicai e dominai a
terra”, não é tomar posse, mas é tomar
conta, como se fosse o próprio Deus cuidando. Então, você é chamado a
dominar a terra, ou seja, cuidar da terra como se fosse o próprio Deus
cuidando. Domus, domini é Senhor, do Senhor. Cuidar da terra como sendo senhor;
eu sou chamado a cuidar da terra como sendo o próprio Deus cuidando.
Todos
nós já temos um chamado de partida. Qual é? Se Deus lhe deu a vida é para você
cuidar da sua vida, como se fosse Deus cuidando. Só que, tem pessoas que
dependem de outros para cuidar da vida. É aí que chamamos RESPONSÁVEIS.
Normalmente na casa, quem são os responsáveis? Normalmente o pai e a mãe, mas
pode inverter. Quando o pai e a mãe já tem certa idade, aí os filhos que devem
cuidar, como se fosse o próprio Deus cuidando. Então, os pais e os filhos como
se fosse o próprio Deus, cada um cuidando a seu tempo como se fosse o próprio
Deus. Assim, o patrão, o chefe, o presbítero, devem cuidar do seu pessoal como
se fosse o próprio Deus. Assim também o prefeito cuidar da cidade, o governador
cuidar do Estado e o presidente como se fosse o próprio Deus. Mas, fomos longe,
desde os pais, os filhos, o presbítero, o prefeito, o governador e o
presidente, abandonamos esta ordem de cuidar como se fosse o próprio Deus. Uns
por limitação do próprio pecado. Outros, por ganância. Outros por vontade, ao
invés de cuidar, de serem cuidados. Ao invés de servirem, querem ser servidos e
então se servem do povo, se servem abusivamente da natureza e querem apenas
tomar posse de tudo e de todos.
Em
determinado momento Deus falou: vou
mandar algumas pessoas para cuidar do meu povo. Alguém se lembra de algum
nome de rei que aparece na Bíblia? (Rei Davi). Davi. Aliás, é o mais admirado
de todos até hoje, porque Davi é a
imagem do rei. Ele foi perfeito em tudo que ele fez? Não. Ele cobrou tanto imposto do povo,
que parecia os dia de hoje. Só que não devolvia para o povo. Foi contraindo
muitas riquezas. Quis até construir um Santuário. Deus disse: agora chega. Quem
decide onde moro sou eu. Teu filho vai construir um santuário. Você não! Assim,
temos Salomão, que vai construir o Santuário. Salomão foi perfeito? Imagina! Na
hora que ele morre o povo diz para seu filho: teu pai nos açoitava com dura
escravidão. Deixa o povo um pouco mais livre. Seu filho disse: meu pai pesava
em vocês com um dedo. Eu vou pesar a mão inteira.
Todos
os reis falharam. Sabe por que? Tiveram oportunidade e aí entra a tentação. O
que eu faço? Eu sirvo o povo ou eu ME sirvo do povo? Entre tomar conta e tomar
posse, a maioria prefere tomar posse. Bom, disse Deus: vou eu mesmo dominar, e
mostrar como é que dominar é servir, cuidar, como eu gostaria que fosse. Então,
Deus se faz carne, se faz humano e mostra o seu domínio, não como o servo
glorioso como foram os reis, mas como o servo sofredor; assim temos os exemplos
de Jesus.
Jesus
é Rei? Nós cremos que sim. Qual é a coroa que Jesus trás consigo? Coroa
de espinhos.
Qual é o seu trono? A Cruz. Qual é a sua veste de Rei? Ele é
totalmente despido para ser crucificado. Ele é um tipo de rei, que nenhum rei
quer ser. Pergunta se alguém quer ser crucificado para salvar o povo? Não.
Normalmente eles põem o povo para salvar o rei. Fazem a guerra e quem morre é o
povo. Eles não vão para a guerra, mas mandam os outros.
Jesus se torna
Rei e este tipo de reinado incomoda as pessoas. Incomoda todo
mundo e talvez incomoda a nós mesmos. É difícil ver alguém que esteja disposto
a se colocar a serviço do povo cem por cento, mas Jesus fez isto. Ele é o servo
fiel. Ele fez tudo o que é de se esperar de um representante de Deus na terra.
Tão perfeito e tão plena a sua realização, que Ele mostra a própria imagem de
Deus. Ele não é um representante, um embaixador, mas o próprio Deus feito
homem. Aí é que está. Como Ele venceu o pecado, enquanto os outros foram
vencidos por ele, Ele destruiu a morte, nos dando vida eterna.
Durante
o ano celebramos vários mistérios. Um
dos mistérios é este: Jesus vai voltar para tomar posse, dominar, cuidar do seu
povo. Vai reinar, pois o Reino é dele. Ele pode tomar posse. Olha que eu estou
dizendo tomar posse. Pode porque Ele ensinou que quem quiser ser o maior, seja
o servo de todos. Então, ser subalterno de Jesus é a maior liberdade que
poderíamos ter, porque Ele não precisa de nada de nosso serviço. De nada.
Nós cremos que Ele irá voltar. É isso que celebramos hoje: Jesus é o Senhor, o
Rei do Universo e tomará posse de obra do Criador.
Hoje
é o último dia do ano litúrgico. O ano litúrgico não segue o ano civil. O ano
litúrgico termina no trigésimo quarto domingo do tempo comum. Domingo que vem
já começamos o advento, que é a preparação para a vinda do Senhor.
Louvado
seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
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Homilia
do Padre Françoá Costa – Solenidade de Cristo Rei (Ano C)
Relativismo
e verdade
A festa de hoje
foi instituída no Ano Jubilar de 1925 pelo Papa Pio XI com a Carta Encíclica
“Quas Primas” (QP), com o qual coincidiu o 16º centenário do Concílio de
Nicéia, que proclamara a divindade do Filho de Deus; este Concílio inseriu
também em sua fórmula de fé as palavras: “cujo reino não terá fim”, afirmando
assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2).
Jesus Cristo,
sendo a Verdade, é também o rei da verdade, isto é, verdade é o que ele diz. O
ser humano sempre mantem essa sadia curiosidade por conhecer a verdade. No
filme “A Paixão de Cristo” de M. Gibson há um momento em que Pilatos pergunta a
Jesus: Quid est veritas? – O que é a verdade? Tanto no filme como na Escritura
se pode ver que “falando isso, saiu de novo” (Jo 18,38). Dá a impressão de que
no fundo ele não queria saber a resposta. E, no entanto, o ser humano sempre
tem o desejo de conhecer a resposta para os seus interrogantes, ainda que seja
verdade que às vezes tente abafar esse desejo.
No Evangelho de
hoje, se percebe esse desejo a través da conjunção “se”: “se é o Cristo, o
escolhido de Deus!” – manifestam os príncipes dos sacerdotes; “se és o rei dos
judeus” – dizem os soldados; “se és o Cristo” – diz um dos malfeitores
crucificados com Jesus. Parece existir uma dúvida que no fundo é um “grito
silencioso” que poderia ser traduzido dessa maneira: “Por favor, Senhor, se
manifesta; por favor, me diz quem é você. Não aconteça que pela minha
ignorância, venha eu a perecer. Se você é o Cristo, me salva”. Frequentemente,
diante da aparente indiferença em relação à escuta do Evangelho, devemos
escutar esse apelo oculto, silencioso, um grito suplantado.
O chamado “bom
ladrão” teve coragem de expressar nitidamente o desejo do seu coração: “Jesus,
lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!” Não devemos temer as
revoltas humanas contra Deus. Temos a esperança de que, um dia, essas pessoas
possam dizer como esse pecador que, como era um bom ladrão, soube “roubar” o
céu nos últimos minutos de vida. Tenhamos por certo: a verdade de Cristo é que
o que todos os homens e mulheres desejam, sabendo ou não.
A verdade, na
Sagrada Escritura, não é somente uma luz na inteligência evidente para o
sujeito, mas principalmente um apoio para toda a vida. O símbolo da verdade na
Escritura é a rocha, a solidez da pedra. Na verdade de Deus nós podemos
apoiar-nos para levar uma vida justa e bela, humana e sobrenaturalmente.
Joseph Ratzinger,
um dia antes da sua eleição como Sucessor de Pedro, afirmava que nós “não
devemos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. E em que é que
consiste ser crianças na fé? Responde São Paulo: significa ser batidos pelas
ondas e levados ao sabor de qualquer vento de doutrina… (Ef 4, 14). Uma
descrição muito atual! Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos
decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento (…). Todos
os dias nascem novas seitas e cumpre-se assim o que São Paulo disse sobre o
engano dos homens, sobre a astúcia que tende a induzir ao erro (cf. Ef 4, 14).
Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é frequentemente catalogado como
fundamentalismo, ao passo que o relativismo, isto é, o deixar-se levar ao sabor
de qualquer vento de doutrina, aparece como a única atitude à altura dos tempos
atuais. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada
como definitivo e que usa como critério último apenas o próprio “eu” e os seus
apetites. Nós, pelo contrário, temos um outro critério: o Filho de Deus, o
verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo. Não é “adulta” uma fé
que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é antes uma fé
profundamente enraizada na amizade com Cristo. (…). Devemos amadurecer essa fé
adulta (…). Em contraste com as contínuas peripécias daqueles que são como
crianças batidas pelas ondas, São Paulo oferece-nos a este propósito uma bela
palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência
cristã. Em Cristo, verdade e caridade coincidem. Na medida em que nos
aproximamos de Cristo, assim também na nossa vida, verdade e caridade se
fundem. A caridade sem a verdade seria cega; a verdade sem a caridade seria como
um címbalo que tine (1 Cor 13, 1)”.
Cristo é o rei da
verdade, mas é custoso deixar que essa verdade penetre até o mais profundo do
nosso ser para ser nosso apoio, guia e modelo. Queremos conhecer a verdade, mas
temos medo de comprometer-nos com ela, tememos que a verdade conhecida nos
arranque do nosso habitual comodismo e das nossas costumeiras tradições. Quando
Cristo bate à porta do nosso coração nos sentimos alegres, mas também – à
medida que ele vai pedindo um maior espaço – percebemos como nos incomoda. No
entanto, graças a Deus, somos conscientes de que a felicidade desejada só se
encontrada nessa verdade abraçada.
Pe.
Françoá Costa
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Homilia
de Dom Henrique Soares da Costa –
Solenidade de Cristo Rei (Ano C)
É este o último
Domingo do Ano da Igreja. Na corrida, na fiada de dias iniciada no Advento do
ano passado, contemplamos o Cristo que se fez homem por nós, por nós anunciou e
tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo,
por nós entregou-se na cruz, morreu e ressuscitou, dando-nos de modo definitivo
o seu Espírito Santo. Pois bem: depois de termos contemplado todo este
mistério, chegamos ao fim e proclamamos o Senhor Jesus como Reino do Universo.
Como afirma o Apocalipse, “Jesus Cristo fez de nós um reino e sacerdotes
para Deus, seu Pai. A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos!”
Mas, que significa
afirmar esta realeza de Cristo Jesus? Pensando bem, é um título problemático,
esse dado ao Senhor… Ele é Rei mesmo? Rei do quê? Rei num mundo que o rejeita,
Rei de um Ocidente que cada vez mais lhe volta as costas? Rei de uma humanidade
de coração fechado para o seu senhorio? Não seria mais lógico, mais realista
afirmar que os reis de hoje são os Ronaldinhos, o Paulo Coelho, o Bush e os
heróis de plantão? Será que celebrar o Senhor Jesus com este título portentoso,
“Rei do Universo”, não é mais uma prova de que os cristãos estão delirando,
apegados a um passado glorioso, quando a sociedade era cristã e a Igreja tinha
poder?
Quando os cristãos
confessamos que Cristo é Rei, de que reinado estamos falando? A que Reino
estamos nos referindo? Nós realmente acreditamos com todo o coração e
confessamos com toda convicção que Jesus Cristo – e só ele! – é Rei: Rei do
universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa
humana, cristã ou não-cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem, é, como
diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas
foram criadas, no céu e na terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele
é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,1518).
No entanto, é
necessário compreender a natureza do reinado de Jesus. A Liturgia de hoje
coloca como antífona de entrada do Missal romano uma frase do Apocalipse que é
surpreendente: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder,
a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos
séculos!” Frase surpreendente, sim! Quem é Aquele que proclamamos Rei? O
Cordeiro; e Cordeiro imolado. Cordeiro evoca mansidão, paz, fragilidade… Nosso
Rei não é aquele que faz e acontece, aquele que passa por cima feito trator…
Nosso Rei é o Cordeiro que foi esmagado na cruz, Aquele que foi imolado pelo
Pecado do mundo. O mundo passou e passa por cima do nosso Rei, refuta seu
Evangelho, desdenha de sua Palavra, ridiculariza seus preceitos, calunia sua
Igreja… Esse Rei é Aquele que foi crucificado, que foi derrotado e terminou
sozinho, é o homem de dores prenunciado por Isaías. No Evangelho escutamos que
zombaram e zombam dele: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se
de fato é o Cristo de Deus, o Escolhido! Tu não és o Cristo? Salva-te a ti
mesmo e a nós!” (Lc 23,35.39)
Não!
Decididamente, Jesus não é Rei nos moldes dos reis da terra. Não podemos
imaginar os reis, presidentes e manda-chuvas deste mundo, para depois enquadrar
Cristo nesses modelos. O reinado de Cristo somente pode ser compreendido a
partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).
Eis o modo que Cristo tem de reinar: servindo, dando vida e entregando a
própria vida. Tão diferente dos reis da terra, dos políticos e líderes de ontem
de hoje: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam,
e os seus grandes as tiranizam. Entre vos não será assim…” (Mc 10,42s).
Cristo é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós, é Rei
porque tomou nossa vida sobre seus ombros, é Rei porque passou entre nós
servindo, até o maior serviço: entregar-se totalmente na cruz. É rei porque,
agora, no céu, Deus e homem verdadeiro, é Cabeça e Princípio de uma nova
criação, de uma nova humanidade, de uma nova história, que se consumará na
plenitude final. A festa de Cristo Rei recorda-nos uma outra: a do Domingo de
Ramos, quando, com palmas nas mãos, cantamos o reinado de Cristo, que entrava
em Jerusalém num burrico – animal de carga de serviço – para ser coroado de
espinhos, morrer e ressuscitar.
Tudo isto nos
coloca em crise, pois este Rei-Messias olha para nós, cristãos, seus
discípulos, e nos convida a segui-lo por esse caminho: não o da glória, mas da
humildade; não o do sucesso a qualquer custo, mas da fidelidade a todo preço;
não o das honras, mas do serviço; não o da imposição, mas da proposta humilde. Quantas
vezes os cristãos pensaram o reinado de Cristo de modo demasiado humano,
quantas vezes a Igreja pensou que o Reino do Senhor estava mais presente quando
ela era honrada, reverenciada, presente nos corredores dos palácios ou nos
palanques dos grandes do mundo… Quantas vezes vemos o reinado do Senhor quando
tudo sai bem para nós… Ilusão; tentação diabólica! Nosso verdadeiro reinado,
nossa real serviço, nossa inalienável dignidade é unir-se a Cristo no seu
caminho de humilde serviço ao Evangelho, seguindo os passos do nosso
Senhor: “Fiel é esta palavra: Se com ele morremos, com ele
viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,11). Todas
as vezes que esquecemos isso, fomos infiéis e indignos de reinar com Cristo.
Houve tempos gloriosos na nossa história de Igreja de Cristo: já fomos
perseguidos pelos romanos, já fomos perseguidos em tantos lugares da terra: já
nos mataram, torturaram, pisaram, discriminaram… Houve tempos tristes: quando
perseguimos, torturamos e discriminamos… pensando, assim, manifestar o Reino de
Cristo! Que engano! Que ilusão!
Hoje, temos uma
nova chance. Nos países muçulmanos e budistas, somos cidadãos de segunda
classe, perseguidos e mortos (ninguém divulga isso!), na China, somos colocados
na prisão e nossos Bispos são condenados a trabalhos forçados e, aqui, no nosso
Brasil, somos chamados de reacionários, medievais, obscurantistas, anacrônicos,
contrários à ciência e ao progresso… porque não aceitamos o aborto, a
eutanásia, o assassinato de deficientes, a dissolução da família… É, mais uma
vez, a chance de testemunhar o reinado de Cristo, de permanecermos firmes no
combate, com a humildade que é capaz de dialogar e ouvir, mas também com a
firmeza que não arreda o pé da fidelidade ao Senhor: “Vós sois os que
permanecestes constantemente comigo em minhas tribulações; também eu disponho
para vós o Reino, como meu Pai o dispôs para mim, a fim de que comais e bebais à
minha mesa em meu Reino” (Lc 22,28-30). Que missão, que chance, que
desafio, que graça! Com serenidade e firmeza, na palavra, na vida e na morte,
testemunhemos: Jesus Cristo é Rei e Senhor, Princípio e Fim de todas as coisas.
Humildemente,
elevemos, cheios de confiança, o nosso olhar para ele, e como o Bom Ladrão,
supliquemos: “Jesus, lembra-te de mim, lembra-te de nós, quando
entrares no teu Reino!” Só a ti a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.
Dom
Henrique Soares da Costa
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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
A Solenidade de Cristo, Rei do Universo,
mais do que marcar o término do Ano Litúrgico, é anúncio profético da conclusão
de toda a história: Aquele que se ofereceu na cruz, vítima pura e pacífica e realizou
a redenção da humanidade, entregará ao Pai um reino eterno e universal
(prefácio da Solenidade de Cristo-Rei). Portanto, tudo se encaminha para o
definitivo estabelecimento do Reino de Deus. A cada Eucaristia anunciamos esta
verdade e renovamos o nosso compromisso de colaborar com a instauração desse
Reino. O Reino de Deus não é mais uma utopia que pretende enganar a humanidade
a fim de que ela não enlouqueça diante da sua impotência de fazer acontecer, no
aqui e agora, as suas aspirações de justiça, paz, igualdade, etc.
O cristão
autêntico não se pergunta se o Cristo vencerá ou se ainda há esperança de que
Ele reine. O verdadeiro discípulo do Mestre não tem dúvida de que Ele já é
vitorioso, e que o seu reinado já foi inaugurado: “Hoje estarás comigo no
paraíso”. Por outro lado, anunciar a vitória de Cristo Rei é
optar pelo seu caminho e destino; é vencer a tentação de ficar apenas
assistindo passivamente à sua luta, ou mesmo, diante do desânimo e frustrações
humanas, passar para o outro lado, tornando-se um adversário dele, colaborando
com o antirreino. A cruz de Jesus não é apenas instrumento de suplício, mas
prova da sua fidelidade ao Pai, confundindo os seus opositores. A cruz é o
trono do qual Ele exerce a sua suprema autoridade, não abdica do seu poder
real, mas o manifesta sobretudo no perdão e na misericórdia para aqueles que o
reconhecem, apesar de seu sofrimento, como Salvador da humanidade.
Nas atitudes e reações daqueles que
estavam presentes no calvário, Lucas nos apresenta, num movimento crescente, os
três graus de cumplicidade na execução da morte de Jesus, ápice da rejeição à
sua pessoa e ao seu projeto de vida. Parte-se da incredulidade dos chefes do
povo, passando pelo escárnio dos soldados, até culminar na blasfêmia proferida
por um dos malfeitores pendentes da cruz. Essas três reações, na verdade, são
as últimas tentativas (tentações) de convencer Jesus de trair o projeto do Pai,
negando a sua encarnação e fazendo-o romper definitivamente com a sua missão de
Messias Sofredor.
No início
do evangelho, Lucas finaliza a narração das tentações afirmando: “Tendo acabado toda a tentação, o diabo o deixou até o tempo
oportuno” (grego kairós, Lc 4,13). Eis, portanto, o tempo oportuno, o
momento decisivo para Jesus testemunhar a sua fidelidade ao Pai e ao seu
projeto de salvação.
Assim
como o diabo introduzia suas propostas tentadoras com a expressão: “Se és Filho de Deus”, os chefes, os soldados e o
malfeitor também fazem referência aos títulos de Jesus (Filho de Deus, Rei dos
Judeus, Messias). Tanto o diabo como os outros exigem que Jesus dê provas
disso. Para o diabo a prova era usar a sua prerrogativa divina em benefício
próprio, isto é, matar a própria fome; para os chefes ser filho de Deus era
salvar-se a si mesmo. Esse é o primeiro grau de cumplicidade com o projeto do
diabo: exigir que o Messias não seja o
servo sofredor, e por isso, não acreditam que aquele crucificado, coberto
de dores, fosse o Messias. Eis por que “ridicularizavam-no (grego eksemuktérizon:
contorcer o nariz, virar-se para não ver, caçoar): a outros salvou, que salve a si mesmo, se é o Messias de Deus, o
Eleito”. Os primeiros que deveriam ter reconhecido Jesus como o
Messias fazem dele objeto de riso (brincadeira), não veem que o crucificado é o
Deus encarnado que levou a sério a sua missão, até as últimas consequências,
não permitindo que as pessoas fossem tratadas com menosprezo, tornando-se,
assim, o defensor dos postos à margem.
Se o
diabo prometeu a Jesus dar-lhe todos os reinos da terra, os soldados insultam
Jesus ironizando com o título de “Rei dos Judeus”. Esse é o segundo grau de
cumplicidade com o projeto do diabo: “traziam-lhe vinagre, e diziam:
Se és o Rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo”. Àquele, cuja
dignidade real duvidam, oferecem a bebida dos miseráveis (vinagre: vinho
podre), e assim reiteram que o crucificado não pode ser um rei, pois não tinha
nem reinos nem poderes, visto que quando teve a oportunidade de recebê-los (do
diabo), recusou. Na última tentação, o diabo sugere a Jesus, apoiando-se na
Escritura, reivindicar toda isenção de dificuldade e problema, pois sendo um
protegido de Deus, nada o poderia atingir, e caso se encontrasse em situações
adversas, o Altíssimo enviaria os seus anjos para livrá-lo. Esta é a
mentalidade do malfeitor, a sua blasfêmia representa o terceiro grau de
cumplicidade com o projeto do diabo: “Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós”.
Assim como o diabo foi derrotado no início da vida pública de Jesus, tal
derrota é confirmada no julgamento da cruz. Portanto, as palavras do bom ladrão
representam a grande proclamação desse julgamento: “Ele não fez nenhum mal”.
Pedro, no seu discurso na casa de Cornélio, dirá: “Como Deus o ungiu (Messias)
com o Espírito Santo e com poder, ele que passou fazendo o bem” (At 10,38s). Eis a grande prova de que
Jesus é o Messias, o Eleito de Deus. Participar do seu Reino é proclamar essa
verdade e comprometer-se com ela. Enquanto todos os opositores exigiram de
Jesus que abandonasse a cruz e desse provas de que era o Messias, o Filho de Deus,
o bom ladrão, pregado na cruz, reconhece quem é aquele que está ao seu lado: “Jesus”, e, por
isso, faz-lhe um pedido para permanecer sempre do seu lado: “lembra-te de mim quando
estiveres no teu reinado”.
Enquanto
os adversários se dirigiam a Jesus usando ironicamente os seus títulos, o bom
ladrão dirige-se a Ele chamando-o por seu nome, isto é: “Deus salva” (Jesus),
grande proclamação de fé, diante da incredulidade dos chefes, dos soldados e do
malfeitor que acreditavam que Jesus só poderia salvar abandonando a cruz,
fugindo da morte. Assim como o tentador, todos os adversários do Reino querem
um Jesus sem cruz. A tentação de abandonar a cruz torna-se insulto e blasfêmia
ao Crucificado. Distanciar-se da cruz é ser impedido de ouvir a grande verdade
da sua vitória, da sua ressurreição que alimenta a nossa esperança: “Em verdade vos digo: ‘Hoje
mesmo estarás comigo no paraíso”.
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Para a celebração da Palavra: (Diáconos e Ministros
da Palavra):
LOUVOR: (QUANDO O PÃO
CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O Senhor esteja com todos vocês... Demos graças ao Senhor o
nosso...
- Com Jesus, Por Jesus e em Jesus, na força do Esp. Santo,
louvemos ao Pai:
T:
Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Senhor, nosso Deus
e Pai, grande é o vosso amor nos enviando vosso Filho para nos salvar!
T:
Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Nós vos damos
graças pelo nosso batismo e por nos acolher como filhos prediletos vossos!
T: Nós
vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Pai, hoje aclamamos
Jesus como nosso Rei e nosso Pastor. Guiai-nos para as águas da vida eterna!
T:
Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Ajudai-nos a ver
nos irmãos e irmãs a vossa imagem e semelhança, para que saibamos perdoar e
agirmos como filhos do mesmo Pai!..
T:
Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- Senhor, encerramos
neste domingo o ano litúrgico. Paulo nos ensinou que Jesus Cristo é o Rei do
Universo. Ele é o nosso exemplo na caminhada para o Reino. Pai, neste ano que
se inicia, queremos nos preparar para a chegada do menino Jesus que sempre
renasce em nosso coração todo ano. Nos ajude a sermos humildes e desapegados
das coisas que passam. Que sejamos simples como o menino de Belém. Que
aprendamos a seguir os passos de vosso Filho.
T:
Nós vos louvamos e vos agradecemos, ó Deus de Bondade.
- PAI NOSSO... A PAZ...
(Elevando o Pão consagrado);
-
Eu digo “Jesus Cristo”, vocês respondem: É o Nosso Rei!:
-
Jesus Cristo! (T: É O NOSSO REI). (3x).
...Eis
o Cordeiro de Deus...
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