32º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C
Tema: “Deus não é
Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele.” A vida não acaba.
Na primeira leitura, o testemunho de sete irmãos que
deram a vida pela sua fé.
No Evangelho, Jesus garante que a
ressurreição nos espera. A forma como isso acontecerá é um mistério.
Segunda leitura. Só com a oração será possível
mantermo-nos fiéis ao Evangelho.
PRIMEIRA LEITURA (2Mac 7,1-2.9-14) Leitura do Segundo
Livro dos Macabeus.
Naqueles dias, aconteceu que foram presos sete irmãos, com sua mãe, aos
quais o rei, por meio de golpes de chicote e de nervos de boi, quis obrigar a
comer carne de porco, que lhes era proibida. Um deles, tomando a palavra em
nome de todos, falou assim: “Que pretendes? E que procuras saber de nós?
Estamos prontos a morrer, antes que violar as leis de nossos pais”. O segundo,
prestes a dar o último suspiro, disse: ‘Tu, ó malvado, nos tiras desta vida
presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós
que morremos por suas leis’. Depois deste, começaram a torturar o terceiro.
Apresentou a língua logo que o intimidaram e estendeu corajosamente as mãos. E
disse, cheio de
confiança: “Do Céu recebi estes membros; por causa de suas leis os
desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo”. O próprio rei e os que o
acompanhavam ficaram impressionados com a coragem desse adolescente, que
considerava os sofrimentos como se nada fossem. Morto também este, submeteram o
quarto irmão aos mesmos suplícios, desfigurando-o. Estando quase a expirar, ele
disse: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por
Deus, que um dia nos ressuscitará. Para ti, porém, ó rei, não haverá
ressurreição para a vida!”.
AMBIENTE - Em 323
a.C., Alexandre, o Grande, morreu. A Palestina (desde 333 a.C., integrada no
império de Alexandre) ficou, inicialmente, nas mãos dos Ptolomeus (que
dominavam ainda o Egito e a Fenícia). No entanto, a partir do ano 200 (batalha
das “fontes do Jordão”), a Palestina passou para as mãos dos Selêucidas (outra
família de generais de Alexandre, que já dominava a Síria e a Mesopotâmia).
Os
Ptolomeus tiveram uma atitude relativamente tolerante para com o judaísmo e
respeitaram, no geral, as tradições e a fé do Povo de Deus; mas, sob a
autoridade dos Selêucidas, sobreveio uma fase em que a cultura helênica se
tornou mais agressiva, ameaçando pôr em causa a sobrevivência do judaísmo. Foi,
sobretudo, no reinado de Antíoco IV Epifanes (175-164 a.C.) que o helenismo foi
imposto – inclusive pela força – ao Povo de Deus. Muitos judeus foram
perseguidos e mortos. O texto conta-nos o martírio de uma mãe e dos seus sete
filhos, que se recusaram a violar a fé e as tradições judaicas e foram mortos
por isso.
MENSAGEM - A história apresenta-nos,
portanto, uma família de sete irmãos e da sua mãe, que o rei pretendia coagir
(através da tortura) a abandonar a fé e a comer carne de porco (proibida pela
Lei, por ser carne de um animal “impuro”). O que é que lhes dá a coragem? De
acordo com as explicações, é a fé na ressurreição. Os sete irmãos acreditavam
que Deus lhes devolveria outra vez a vida, uma vida semelhante àquela que lhes
ia ser tirada. O Deus criador tem, de acordo com a catequese aqui feita, o
poder de ressuscitar os mártires para a vida eterna…
Não é,
ainda, a noção neo-testamentária de ressurreição (uma vida nova, uma vida
plena, uma vida transformada e elevada à máxima potencialidade) que aqui
aparece; é apenas a ideia de uma revivificação, de um readquirir no outro mundo
uma vida semelhante àquela que aqui foi roubada ao homem (embora se admitisse
que, nesse mundo de Deus, já não haveria pranto, nem sofrimento, nem morte). De
qualquer forma, é a ideia de imortalidade que aqui é formulada. Repare-se, no
entanto, que o nosso texto ainda não ensina a revivificação de todos os homens,
mas apenas dos justos.
É a
primeira vez que a doutrina da ressurreição é explicitamente apresentada na
Bíblia. A partir daqui, esta ideia vai desenvolver-se cada vez mais, até ser
completamente iluminada pelo exemplo de Jesus.
ATUALIZAÇÃO •
A sua fé
ditou-lhes a certeza de que a vida continua para além desta terra. É essa
certeza que ele nos deixa, neste texto; e é essa experiência de fé que ele nos
convida a fazer.
• Quem
acredita na ressurreição não pode deixar-se paralisar pelo medo (que nos impede
de defender os valores em que acreditamos)… Pode comprometer-se na luta pela
justiça e pela verdade, na certeza de que as forças da morte não o podem vencer
ou destruir. É essa certeza que animou o testemunho de tantos mártires de ontem
e de hoje…
7. SALMO RESPONSORIAL (Sl 16,1.5-6.8b.15)
Ao despertar, me saciará vossa presença e verei a
vossa face!
• Ó
Senhor, ouvi a minha justa causa, / escutai-me e
atendei o
meu clamor! / Inclinai o vosso ouvido à minha
prece, /
pois não existe falsidade nos meus lábios!
• Os meus
passos eu firmei na vossa estrada, / e por isso
os meus
pés não vacilaram. / Eu vos chamo, ó meu
Deus,
porque me ouvis, / inclinai o vosso ouvido e
escutai-me!
•
Protegei-me qual dos olhos a pupila / e guardai-me à
proteção
de vossas asas. / Mas eu verei, justificado, a
vossa
face / e, ao despertar, me saciará vossa presença.
EVANGELHO (Lc 20,27-38) Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a
ressurreição, e lhe perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém
tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim
de garantir a descendência para o seu irmão. Ora, havia sete irmãos. O primeiro
casou e morreu, sem deixar filhos. Também o segundo e o terceiro se casaram com
a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu
também a mulher. Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete
estiveram casados com ela.” Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os
homens e as mulheres casam-se, mas os que forem julgados dignos da ressurreição
dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em
casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos
de Deus, porque ressuscitaram. Que os mortos ressuscitam, Moisés também o
indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o
Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos,
pois todos vivem para ele.”
AMBIENTE - Discussão após discussão,
torna-se claro que os líderes judaicos rejeitam a proposta de Jesus:
prepara-se, assim, o quadro da paixão e da morte na cruz.
No tempo
de Jesus, os saduceus formavam um grupo aristocrático, recrutado sobretudo
entre os sacerdotes da classe superior. Exerciam a sua autoridade à volta do
Templo e dominavam o Sinédrio. A sua importância política era real, ainda que
muito limitada pela presença do procurador romano. Politicamente, eram
conservadores e entendiam-se bem com o opressor romano… Pretendiam manter a
situação, para não ver comprometidos os benefícios políticos, sociais e
económicos de que desfrutavam.
Para os
saduceus, apenas interessava a Lei escrita – a “Torah”. Negavam que a Lei oral
(que era essencial para os fariseus) tivesse qualquer valor. Este apego conservador
à Lei escrita explica que negassem algumas crenças e doutrinas admitidas nos
ambientes populares frequentados pelos fariseus. Por isso, não aceitavam a
ressurreição dos mortos: nenhum versículo da “Torah” apoiava essa crença. No
seu conflito com os fariseus, estava em jogo uma certa visão da sociedade e do
poder.
MENSAGEM - A questão da ressurreição, não
significava nada para os saduceus. Percebendo que, quanto a essa questão, a
perspectiva de Jesus estava próxima da dos fariseus, os saduceus apresentaram
uma hipótese acadêmica, com o objetivo de ridicularizar a crença na
ressurreição: uma mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a
lei do levirato (segundo a qual, o irmão de um defunto que morreu sem filhos
devia casar com a viúva, a fim de dar descendência ao falecido e impedir que os
bens da família fossem parar a mãos estranhas, cf. Dt 25,5-10). Quando
ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?
A
primeira parte da resposta de Jesus afirma que a ressurreição não é (como pensavam
os fariseus do tempo) uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo
(na linha de uma revivificação – ideia apresentada na primeira leitura), mas
uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente podemos
entender a partir das nossas realidades quotidianas. A questão do casamento não
se porá, então (a expressão “são semelhantes aos anjos” do vers. 30 não é uma
expressão de depreciação do matrimónio, mas a afirmação de que, nessa vida
nova, a única preocupação será servir e louvar a Deus). O poder de Deus, que
chama os homens da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser
humano, de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas
potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão
deste mistério é limitada, pois estamos a contemplar as coisas e a
classificá-las à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição
que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.
A segunda
parte da resposta de Jesus é uma afirmação da certeza da ressurreição. Jesus
cita-lhes a “Torah” (cf. Ex 3,6): no episódio da sarça-ardente, Jahwéh
revelou-Se a Moisés como “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”… Ora, se Deus
Se apresenta dessa forma – muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacó terem
desaparecido deste mundo – isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos
(um homem “morto” – ou seja, um homem reduzido ao estado de uma sombra
inconsciente e privada de vida no “sheol”, segundo a ideia semita corrente –
tinha perdido a proteção de Deus, pois já não existia como homem vivo e
consciente). Na perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas não estão
reduzidos ao estado de sombras na obscuridade absoluta do “sheol”, mas vivem em
Deus. Conclusão: se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em
ressurreição.
ATUALIZAÇÃO • A questão da ressurreição não é
uma questão pacífica e clara para a maioria dos homens do nosso tempo. Há quem
veja na esperança da ressurreição apenas um “ópio do povo”, destinado a
adormecer a justa vontade de lutar pela construção de um mundo mais justo; há
quem veja na ressurreição uma forma de evasão, face aos problemas que a vida
apresenta; há quem veja na ressurreição uma ilusão onde o homem projeta os seus
desejos insatisfeitos… Convencidos de que a vida se resume aos anos que vivemos
neste mundo, muitos dos nossos contemporâneos constroem a sua existência tendo
apenas em conta os valores deste mundo, sem quaisquer horizontes futuros.
• A
ressurreição é, no entanto, a esperança que dá sentido a toda a caminhada do
cristão. A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta,
pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com Ele para a
vida nova e definitiva. A nossa vida presente deve ser, pois, uma caminhada
tranquila, confiante, alegre – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em
direção a essa nova realidade.
• A
ressurreição não é a revivificação dos nossos corpos e a continuação da vida
que vivemos neste mundo; mas é a passagem para uma vida nova onde, sem
deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros… É a plenitude de
todas as nossas capacidades, a meta final do nosso crescimento, a realização da
vida plena. Sendo assim, há alguma razão para temermos a morte ou para vermos
nela algo que nos priva de alguma coisa importante (a relação com aqueles que
amamos)?
• A
certeza da ressurreição não deve ser, apenas, uma realidade que esperamos; mas
deve ser uma realidade que influencia, desde já, a nossa existência terrena. É
o horizonte da ressurreição que deve influenciar as nossas opções, os nossos
valores, as nossas atitudes; é a certeza da ressurreição que nos dá a
coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo, de forma a que
o novo céu e a nova terra que nos esperam comecem a desenhar-se desde já.
• Temos
de ter muito cuidado com a forma como falamos da ressurreição aos homens do
nosso tempo, pois podemos pensá-la, explicá-la e projetá-la à luz da nossa vida
atual e corremos sérios riscos de nos tornarmos ridículos. O que podemos fazer
é afirmar a nossa certeza na ressurreição; depois, temos de confessar a nossa
incapacidade de conceber e de explicar esse mundo novo que nos espera (como a
criança no seio da mãe não compreende nem sabe explicar a vida que a espera no
mundo exterior).
SEGUNDA LEITURA (2Ts 2,16 - 3,5) Leitura da 2ª Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Irmãos, nosso
Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos
proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, animem os vossos corações
e vos confirmem em toda boa ação e palavra. Quanto ao mais, irmãos, rezai por
nós, para que a palavra do Senhor seja divulgada e glorificada como foi entre
vós. Rezai também para que sejamos livres dos homens maus e perversos, pois nem
todos têm a fé! Mas o Senhor é fiel; ele vos confirmará e vos guardará do mal.
O Senhor nos dá a certeza de que vós estais seguindo e sempre seguireis as
nossas instruções. Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à
firme esperança em Cristo.
AMBIENTE - Já vimos no domingo passado que a
Segunda Carta aos Tessalonicenses nos coloca frente a uma comunidade cristã
fervorosa, que vive com empenho e generosidade o seu compromisso cristão apesar
das provações, constituindo mesmo um modelo para as comunidades vizinhas ; no
entanto, a comunidade a que esta carta se destina é, também, uma comunidade com
algumas dúvidas e inquietações em questões de doutrina – nomeadamente no que
diz respeito ao “dia do Senhor” (isto é, à segunda vinda de Jesus). De resto,
Paulo aproveita a ocasião para corrigir comportamentos, fazer alguns pedidos e
exortar a uma fidelidade cada vez maior ao Evangelho de Jesus.
MENSAGEM - Depois de apresentar a doutrina
sobre a segunda vinda do Senhor, o autor da carta convida os tessalonicenses a
assumir a atitude correta, enquanto esperam essa vinda. Em concreto, o autor da
carta pede aos cristãos de Tessalônica que guardem as tradições recebidas de
Paulo, “de viva voz ou por carta”, isto é, pede-lhes que se mantenham fiéis ao
Evangelho de Jesus que o apóstolo lhes transmitiu.
O convite
a permanecer fiéis às tradições recebidas vai acompanhado de uma súplica a Deus
Pai e a Jesus Cristo, para que tornem possível essa fidelidade. Mais uma vez
fica claro que, no processo de salvação do homem, há dois planos: o dom de Deus
e o esforço de fidelidade do homem. É preciso, no entanto, deixar claro que,
sem a graça de Deus, o esforço do homem seria inútil.
Na
segunda parte do nosso texto, temos um pedido de oração pelo apóstolo e pelo
seu ministério. À súplica do autor em favor dos destinatários da carta, deve
responder a súplica dos destinatários da carta em favor do apóstolo. A oração
de uns pelos outros é uma forma preciosa de solidariedade cristã.
De resto,
os crentes que já receberam a Palavra transformadora e libertadora de Jesus
devem solicitar a ajuda divina para que a proposta de salvação que Cristo veio
trazer, e que a Igreja ficou encarregada de testemunhar, chegue a todos os
homens; ainda mais se, como parece insinuar-se no presente caso, as
circunstâncias são decididamente adversas à proclamação e vivência do
Evangelho. Repare-se como, também aqui, o papel de Deus é central: o autor da
carta sabe que, sem a ajuda de Deus, será impossível ao apóstolo dar
testemunho.
ATUALIZAÇÃO - • E com a ajuda de Deus que o
crente consegue viver na fidelidade ao Evangelho, enquanto espera a vinda do
Senhor.
• É com a
ajuda de Deus que o missionário tem a coragem de anunciar fielmente o Evangelho
e de vencer as dificuldades, as injustiças, as incompreensões, as oposições que
são obstáculo ao seu trabalho e ao seu testemunho.
• O
pedido de rezar “uns pelos outros” convida-nos a tomar consciência da
solidariedade que deve marcar a experiência comunitária. O cristão nunca é uma
pessoa isolada, mas o membro de uma família de irmãos, chamados a viver no
amor, na partilha, na entrega da vida, como membros de um único corpo – o corpo
de Cristo. É preciso tomar consciência dos laços que nos unem, sentirmo-nos
responsáveis pelos nossos irmãos, partilhar as suas dores e alegrias, fazer
nossos os seus problemas e, no nosso diálogo com Deus, ter presente as
necessidades de todos.
Pe.
Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho
======-------------=========
Homilia de D.
Henrique Soares
Estamos já próximos
do final do Ano Litúrgico. De hoje a 15 dias, estaremos celebrando a Solenidade
de Cristo-Rei, que marca o final do ano da Igreja. Pois bem, a Liturgia vai nos
educando, irmãos amados, fazendo-nos pensar no fim de nossa vida – fim que nos
obriga a nos perguntar pelo sentido da nossa existência e pelo que estamos
fazendo dela. Neste sentido, tivemos a Solenidade de Todos os Santos e a
Comemoração dos Fiéis Defuntos... E hoje a Liturgia fala-nos da ressurreição.
O Evangelho nos
apresenta uma disputa entre Jesus e os saduceus, que não acreditavam na
ressurreição. O Senhor confirma: há, sim ressurreição! Os mortos ressurgirão,
mas de um modo que nós não podemos descrever nem imaginar: “Os
que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e da vida futura, nem eles
se casam nem elas dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais
aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram”. Em outras
palavras: estaremos em tal comunhão com o Deus da vida, em tal proximidade dele
– como os anjos – que, a morte nunca mais nos poderá atingir: nem a morte
física, nem a morte da dor, nem a morte da tristeza, do medo, da saudade, nem a
morte do pecado! Como diz o Salmista: “Eu verei, justificado, a vossa
face e ao despertar me saciará vossa presença!”
Caríssimos, quando
a Escritura fala em ressurreição, não está pensando simplesmente em voltarmos a
esta nossa vida, deste nosso modo atual, somente que habitando no céu... De
modo algum! Nós seremos glorificados em corpo e alma! Ressuscitar é receber em
todo o nosso ser a vida de Deus, que Cristo, o primogênito dentre os mortos,
nos conquistou e já derramou em nós no batismo. Semente dessa vida é o Espírito
Santo vivificador – o mesmo em quem o Pai ressuscitou o Filho Jesus! É Jesus
quem nos ressuscita, ele que disse a Marta: “Eu sou a Ressurreição!” (Jo
11,25) É somente nele
e por causa dele que esperamos vencer a morte! Na primeira leitura deste
Domingo escutamos o testemunho dos sete irmãos, filho de uma corajosa mãe
viúva, que incentiva seus filhos a entregarem a vida por amor da Lei de Deus.
Donde lhes vinha tanta coragem? Donde, tanta disponibilidade para serem fiéis
até o fim? Da certeza de que ressuscitariam: “Prefiro ser morto pelos homens
tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará!” – disse um deles. E o outro, pensando
na ressurreição da carne, afirmou sem medo: “Do céu recebi estes membros;
por causa de suas leis os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo!” Vede, meus caros, o quanto a certeza
da vida eterna muda nosso modo de enfrentar os revezes da vida. A este
propósito, poderíamos perguntar: Tanta frouxidão na nossa fé, tanto relaxamento
nos nossos costumes, tão pouca seriedade na prática da religião, tanta
condescendência com os vícios, a comodidade e a tibieza, não seriam causados
por uma fraca e sem convicção fé na ressurreição, na vida eterna?
E, no entanto, a
nossa esperança é firme: fomos criados para Deus, para Deus estamos a
caminho... Um dia morreremos, terminará nosso caminho neste mundo tão incerto.
E, imediatamente após a morte, em nossas almas, estaremos diante do Cristo,
nossa Salvador e Juiz. Se tivermos sido abertos ao seu Espírito Santo, se lhe
tivermos sido realmente fiéis, ele, nosso Senhor, no seu abraço eterno,
glorificará do seu Espírito Santo a nossa alma e, então, estaremos para sempre
com o Senhor, onde ninguém mais vai sofrer, ninguém mais chorar, ninguém vai
ter saudade, ninguém mais vai ficar triste. No final dos tempos, quando Cristo
nossa vida, glorificar todo o universo, também nossos pobres corpos
ressuscitarão, pela força e ação do mesmo Espírito Santo vivificador, que o
Senhor tem em plenitude. Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos
para sempre com o Senhor! Eis por que somos cristãos, eis por que temos
esperança! Eis por que queremos viver com retidão, sobriedade, abertura de
coração para os irmãos e santo temor em relação a Deus. É o que exprime São
Paulo na segunda leitura: “Nosso Senhor Jesus Cristo e
Deus nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação
eterna e feliz esperança, animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa
ação e palavra. O Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme
esperança em Cristo!”
Caríssimos, em
Cristo, se fomos criados para Deus, para a comunhão com ele no céu, tenhamos,
no entanto, o cuidado de não o perdermos para sempre no inferno. O inferno
existe, é real e pode ser nossa miserável herança! Pode dar-se que, logo após a
minha morte, não exista nenhuma comunhão com o Cristo que é Vida, mas somente o “Apartai-vos
de mim, malditos! Não vos conheço!” E nossa alma caia na eterna tristeza,
na depressão sem fim, que devora, como verme e queima como fogo! Não aconteça
que, no fim dos tempos, também nosso corpo tenha de padecer também este triste
destino!
Eis, amados em
Cristo, que o Senhor nos adverte! Procuremos, pois, viver de tal modo, que
possamos ser considerados dignos de viver para sempre com ele. Para isso,
pautemos nossa vida pelo amor e obediência ao Senhor. Assim poderemos dizer
como o Salmista, tendo os olhos fixos em Cristo nosso Deus e nossa vida: “Os
meus passos eu firmei na vossa estrada,/ e por isso os meus pés não vacilaram./
Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis,/ inclinai o vosso ouvido e
escutai-me!/ Protegei-me qual dos olhos a pupila/ e guardei-me, à proteção de
vossas asas./ Mas eu verei justificado a vossa face/ e ao despertar me saciará
vossa presença!” Que
o Senhor que tudo pode confirme a nossa esperança. Amém.
==========--------------=======
Deus
dos vivos
Aproxima-se o final do ano
litúrgico.
A Liturgia nos oferece a
oportunidade de aprofundar
uma verdade importante de nossa
fé:
"Eu creio na Ressurreição dos mortos".
Os primeiros livros da Bíblia
não falam claramente da Ressurreição dos mortos.
Só mais tarde, começou-se a
falar em Israel de um despertar daqueles que estão dormindo no pó da terra.
Na 1a Leitura,
temos
a 1ª profissão de fé na Ressurreição. (2Mac 7,1-2.9-14)
No tempo da perseguição do rei
Antíoco (± 170 aC), a experiência da morte de muitos justos fez nascer a
esperança da Ressurreição.
Nessa época, temos o belo
testemunho da Mãe e os sete filhos Macabeus.
Eles são obrigados a violar a
prática religiosa dos antepassados.
Fortalecidos pela esperança da
ressurreição,eles preferem enfrentar as torturas e a própria morte, a
transgredir a Lei...
Vejamos as respostas corajosas dos
primeiros quatro irmãos:
- Um deles, tomando a palavra em
nome de todos, falou assim:
"Estamos prontos a morrer, antes de violar as leis de nossos
pais".
- O Segundo, prestes a dar o
último suspiro, disse:
"Tu, ó
malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos
ressuscitará
para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis"
- Depois começaram a torturar o
terceiro. Apresentando a língua e as mãos,
diz: "Do céu recebi estes membros... no céu espero recebê-los de
novo..."
- E o quarto quase a expirar: "Prefiro
ser morto pelos homens, tendo em vista
a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará. Para ti, porém, ó Rei, não haverá
ressurreição para a vida".
* São as afirmações
mais claras do A.T. sobre a vida além da morte.
Assim mesmo tinham uma idéia ainda
muito imperfeita.
Era apenas a idéia de uma
"revivificação dos justos", um readquirir no outro mundo uma vida
semelhante a de antes.
A idéia foi se desenvolvendo,
até ser completamente iluminada por Cristo.
No Evangelho, Jesus fala
claramente da Ressurreição, afirmando que "Deus não é Deus dos
mortos, mas dos vivos". (Lc
20,27-38)
- Essa idéia imperfeita de
Ressurreição existia ainda no tempo de Jesus.
Alguns Saduceus, que não
acreditavam na Ressurreição, inventaram uma história e fizeram uma pergunta
capciosa que visava ridicularizar a doutrina da ressurreição e da vida futura:
Uma mulher viúva sem filhos...
casou com 7 maridos sucessivamente ...
Com quem ficará na vida futura?
- Jesus responde:
1. Aos Fariseus
(que acreditavam numa ressurreição imperfeita):
A Ressurreição não é
apenas um despertar do sepulcro para retomar a vida de antes. A vida com Deus é
uma realidade completamente nova e distinta.
É um dom maravilhoso que o Pai reservou para todos os seus filhos.
Seremos imortais, glorificados,
não mais sujeitos às leis da carne.
Por isso, será desnecessário o
matrimônio para a conservação da espécie.
2. Aos Saduceus: Afirma a existência da
vida futura:
Deus se manifestou a Moisés como o Deus de Abraão, de Isaac e
de Jacó, muitos anos depois de terem desaparecido deste mundo.
Isso quer dizer que eles não estão mortos, mas vivem
atualmente em Deus.
Portanto, se Abraão, Isaac e Jacó estão vivos, podemos falar
de Ressurreição.
A RESSURREIÇÃO:
- A Ressurreição é a esperança que dá sentido a toda a
caminhada do cristão.
A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza
absoluta, pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com
ele para a vida nova e definitiva.
A nossa vida presente deve ser uma caminhada tranqüila,
confiante, alegre, em direção a essa nova realidade.
- A Ressurreição não é a continuação da vida que vivemos
neste mundo; mas é a passagem para uma vida nova onde, sem deixarmos de ser nós
próprios, seremos totalmente outros... É a realização da vida plena.
- A certeza da Ressurreição não deve ser, apenas, uma
realidade que esperamos; mas deve ser uma realidade que influencia, desde já, a
nossa existência terrena. É o horizonte da Ressurreição que deve influenciar as
nossas atitudes; é a certeza da ressurreição que nos dá a coragem de enfrentar
as forças da morte que dominam o mundo, de forma a que o novo céu e a nova
terra que nos esperam comecem a desenhar-se desde já.
A Liturgia nos apresenta uma
verdade consoladora: Viemos de Deus e, com a morte, voltamos para ele.
A Morte não nos deve assustar: É
o encontro maravilhoso com os amigos e parentes, que foram na nossa frente.
E, sobretudo, vai ser o encontro com o melhor dos amigos:
DEUS.
Nossa vida não termina aqui: ressuscitaremos...
"Nosso Deus é o Deus
dos vivos e não dos mortos..."
- Cristo nos garante: "Eu sou a Ressurreição e a Vida.
Aquele que crê em
mim, ainda que esteja morto, viverá". (Jo 11,25)
- "A esperança cristã é a ressurreição dos
mortos: Tudo o que nós somos, o somos na medida em que acreditamos na
Ressurreição." (Tertuliano)
Pe.
Antônio
=======-------------========
Louvor para a
celebração da Palavra (Diáconos ou ministros da
Palavra)
LOUVOR (quando o Pão consagrado estiver sobre o altar)
- Com Jesus
presente junto de nós, pela força do Espírito Santo, louvemos ao Pai.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Ó Pai, hoje nos ensinastes que sois o Deus dos vivos. Vós vos
apresentastes a Moisés como o Deus de nossos pais na fé, o Deus de Abraão, de
Isac e de Jacó. Pai querido, agradecemos nossa existência. Em vós existimos e
nos movemos. E é para Vós que nos tornaremos para louvar-vos eternamente.
Senhor, dai-nos muita fé e esperança para que vivamos o sentido do eterno e não
apenas as realidades desta vida por onde peregrinamos.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Ó Pai, temos a esperança que Vós nos ressuscitareis. Senhor,
transformai-nos em bons filhos. Que saibamos Vos amar e amar ao nosso próximo.
Que tenhamos coragem e força de levar Vosso nome a todos os irmãos.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Ó Pai, Enviai o Vosso Espírito Santo sobre nós, para que
fortalecidos com a vossa graça construamos o Reino de Paz e amor.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- PAI NOSSO... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro de Deus...
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