sexta-feira, 8 de novembro de 2019

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C, homilias, subsídios homiléticos


32º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

Tema: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele.” A vida não acaba.

Na primeira leitura, o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela sua fé.
No Evangelho, Jesus garante que a ressurreição nos espera. A forma como isso acontecerá é um mistério.
Segunda leitura. Só com a oração será possível mantermo-nos fiéis ao Evangelho.

PRIMEIRA LEITURA (2Mac 7,1-2.9-14) Leitura do Segundo Livro dos Macabeus.
Naqueles dias, aconteceu que foram presos sete irmãos, com sua mãe, aos quais o rei, por meio de golpes de chicote e de nervos de boi, quis obrigar a comer carne de porco, que lhes era proibida. Um deles, tomando a palavra em nome de todos, falou assim: “Que pretendes? E que procuras saber de nós? Estamos prontos a morrer, antes que violar as leis de nossos pais”. O segundo, prestes a dar o último suspiro, disse: ‘Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis’. Depois deste, começaram a torturar o terceiro. Apresentou a língua logo que o intimidaram e estendeu corajosamente as mãos. E disse, cheio de
confiança: “Do Céu recebi estes membros; por causa de suas leis os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo”. O próprio rei e os que o acompanhavam ficaram impressionados com a coragem desse adolescente, que considerava os sofrimentos como se nada fossem. Morto também este, submeteram o quarto irmão aos mesmos suplícios, desfigurando-o. Estando quase a expirar, ele disse: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará. Para ti, porém, ó rei, não haverá ressurreição para a vida!”.

AMBIENTE - Em 323 a.C., Alexandre, o Grande, morreu. A Palestina (desde 333 a.C., integrada no império de Alexandre) ficou, inicialmente, nas mãos dos Ptolomeus (que dominavam ainda o Egito e a Fenícia). No entanto, a partir do ano 200 (batalha das “fontes do Jordão”), a Palestina passou para as mãos dos Selêucidas (outra família de generais de Alexandre, que já dominava a Síria e a Mesopotâmia).
Os Ptolomeus tiveram uma atitude relativamente tolerante para com o judaísmo e respeitaram, no geral, as tradições e a fé do Povo de Deus; mas, sob a autoridade dos Selêucidas, sobreveio uma fase em que a cultura helênica se tornou mais agressiva, ameaçando pôr em causa a sobrevivência do judaísmo. Foi, sobretudo, no reinado de Antíoco IV Epifanes (175-164 a.C.) que o helenismo foi imposto – inclusive pela força – ao Povo de Deus. Muitos judeus foram perseguidos e mortos. O texto conta-nos o martírio de uma mãe e dos seus sete filhos, que se recusaram a violar a fé e as tradições judaicas e foram mortos por isso. 
MENSAGEM - A história apresenta-nos, portanto, uma família de sete irmãos e da sua mãe, que o rei pretendia coagir (através da tortura) a abandonar a fé e a comer carne de porco (proibida pela Lei, por ser carne de um animal “impuro”). O que é que lhes dá a coragem? De acordo com as explicações, é a fé na ressurreição. Os sete irmãos acreditavam que Deus lhes devolveria outra vez a vida, uma vida semelhante àquela que lhes ia ser tirada. O Deus criador tem, de acordo com a catequese aqui feita, o poder de ressuscitar os mártires para a vida eterna…
Não é, ainda, a noção neo-testamentária de ressurreição (uma vida nova, uma vida plena, uma vida transformada e elevada à máxima potencialidade) que aqui aparece; é apenas a ideia de uma revivificação, de um readquirir no outro mundo uma vida semelhante àquela que aqui foi roubada ao homem (embora se admitisse que, nesse mundo de Deus, já não haveria pranto, nem sofrimento, nem morte). De qualquer forma, é a ideia de imortalidade que aqui é formulada. Repare-se, no entanto, que o nosso texto ainda não ensina a revivificação de todos os homens, mas apenas dos justos.
É a primeira vez que a doutrina da ressurreição é explicitamente apresentada na Bíblia. A partir daqui, esta ideia vai desenvolver-se cada vez mais, até ser completamente iluminada pelo exemplo de Jesus.

ATUALIZAÇÃO  • A sua fé ditou-lhes a certeza de que a vida continua para além desta terra. É essa certeza que ele nos deixa, neste texto; e é essa experiência de fé que ele nos convida a fazer.
 • Quem acredita na ressurreição não pode deixar-se paralisar pelo medo (que nos impede de defender os valores em que acreditamos)… Pode comprometer-se na luta pela justiça e pela verdade, na certeza de que as forças da morte não o podem vencer ou destruir. É essa certeza que animou o testemunho de tantos mártires de ontem e de hoje… 

 7. SALMO RESPONSORIAL (Sl 16,1.5-6.8b.15)
Ao despertar, me saciará vossa presença e verei a vossa face!
• Ó Senhor, ouvi a minha justa causa, / escutai-me e
atendei o meu clamor! / Inclinai o vosso ouvido à minha
prece, / pois não existe falsidade nos meus lábios!
• Os meus passos eu firmei na vossa estrada, / e por isso
os meus pés não vacilaram. / Eu vos chamo, ó meu
Deus, porque me ouvis, / inclinai o vosso ouvido e
escutai-me!
• Protegei-me qual dos olhos a pupila / e guardai-me à
proteção de vossas asas. / Mas eu verei, justificado, a
vossa face / e, ao despertar, me saciará vossa presença.
EVANGELHO (Lc 20,27-38) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição, e lhe perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência para o seu irmão. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. Também o segundo e o terceiro se casaram com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela.” Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele.” 

AMBIENTE - Discussão após discussão, torna-se claro que os líderes judaicos rejeitam a proposta de Jesus: prepara-se, assim, o quadro da paixão e da morte na cruz.
No tempo de Jesus, os saduceus formavam um grupo aristocrático, recrutado sobretudo entre os sacerdotes da classe superior. Exerciam a sua autoridade à volta do Templo e dominavam o Sinédrio. A sua importância política era real, ainda que muito limitada pela presença do procurador romano. Politicamente, eram conservadores e entendiam-se bem com o opressor romano… Pretendiam manter a situação, para não ver comprometidos os benefícios políticos, sociais e económicos de que desfrutavam.
Para os saduceus, apenas interessava a Lei escrita – a “Torah”. Negavam que a Lei oral (que era essencial para os fariseus) tivesse qualquer valor. Este apego conservador à Lei escrita explica que negassem algumas crenças e doutrinas admitidas nos ambientes populares frequentados pelos fariseus. Por isso, não aceitavam a ressurreição dos mortos: nenhum versículo da “Torah” apoiava essa crença. No seu conflito com os fariseus, estava em jogo uma certa visão da sociedade e do poder.

MENSAGEM - A questão da ressurreição, não significava nada para os saduceus. Percebendo que, quanto a essa questão, a perspectiva de Jesus estava próxima da dos fariseus, os saduceus apresentaram uma hipótese acadêmica, com o objetivo de ridicularizar a crença na ressurreição: uma mulher casou, sucessivamente, com sete irmãos, cumprindo a lei do levirato (segundo a qual, o irmão de um defunto que morreu sem filhos devia casar com a viúva, a fim de dar descendência ao falecido e impedir que os bens da família fossem parar a mãos estranhas, cf. Dt 25,5-10). Quando ressuscitarem, ela será mulher de qual dos irmãos?
A primeira parte da resposta de Jesus afirma que a ressurreição não é (como pensavam os fariseus do tempo) uma simples continuação da vida que vivemos neste mundo (na linha de uma revivificação – ideia apresentada na primeira leitura), mas uma vida nova e distinta, uma vida de plenitude que dificilmente podemos entender a partir das nossas realidades quotidianas. A questão do casamento não se porá, então (a expressão “são semelhantes aos anjos” do vers. 30 não é uma expressão de depreciação do matrimónio, mas a afirmação de que, nessa vida nova, a única preocupação será servir e louvar a Deus). O poder de Deus, que chama os homens da morte à vida, transforma e assume a totalidade do ser humano, de forma que nascemos para uma vida totalmente nova e em que as nossas potencialidades serão elevadas à plenitude. A nossa capacidade de compreensão deste mistério é limitada, pois estamos a contemplar as coisas e a classificá-las à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena.
A segunda parte da resposta de Jesus é uma afirmação da certeza da ressurreição. Jesus cita-lhes a “Torah” (cf. Ex 3,6): no episódio da sarça-ardente, Jahwéh revelou-Se a Moisés como “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”… Ora, se Deus Se apresenta dessa forma – muitos anos depois de Abraão, Isaac e Jacó terem desaparecido deste mundo – isso quer dizer que os patriarcas não estão mortos (um homem “morto” – ou seja, um homem reduzido ao estado de uma sombra inconsciente e privada de vida no “sheol”, segundo a ideia semita corrente – tinha perdido a proteção de Deus, pois já não existia como homem vivo e consciente). Na perspectiva de Jesus, portanto, os patriarcas não estão reduzidos ao estado de sombras na obscuridade absoluta do “sheol”, mas vivem em Deus. Conclusão: se Abraão, Isaac e Jacob estão vivos, podemos falar em ressurreição.

ATUALIZAÇÃO • A questão da ressurreição não é uma questão pacífica e clara para a maioria dos homens do nosso tempo. Há quem veja na esperança da ressurreição apenas um “ópio do povo”, destinado a adormecer a justa vontade de lutar pela construção de um mundo mais justo; há quem veja na ressurreição uma forma de evasão, face aos problemas que a vida apresenta; há quem veja na ressurreição uma ilusão onde o homem projeta os seus desejos insatisfeitos… Convencidos de que a vida se resume aos anos que vivemos neste mundo, muitos dos nossos contemporâneos constroem a sua existência tendo apenas em conta os valores deste mundo, sem quaisquer horizontes futuros. 
• A ressurreição é, no entanto, a esperança que dá sentido a toda a caminhada do cristão. A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta, pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com Ele para a vida nova e definitiva. A nossa vida presente deve ser, pois, uma caminhada tranquila, confiante, alegre – ainda quando feita no sofrimento e na dor – em direção a essa nova realidade.
 • A ressurreição não é a revivificação dos nossos corpos e a continuação da vida que vivemos neste mundo; mas é a passagem para uma vida nova onde, sem deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros… É a plenitude de todas as nossas capacidades, a meta final do nosso crescimento, a realização da vida plena. Sendo assim, há alguma razão para temermos a morte ou para vermos nela algo que nos priva de alguma coisa importante (a relação com aqueles que amamos)?
 • A certeza da ressurreição não deve ser, apenas, uma realidade que esperamos; mas deve ser uma realidade que influencia, desde já, a nossa existência terrena. É o horizonte da ressurreição que deve influenciar as nossas opções, os nossos valores, as nossas atitudes; é a certeza da ressurreição que nos dá a coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo, de forma a que o novo céu e a nova terra que nos esperam comecem a desenhar-se desde já.
• Temos de ter muito cuidado com a forma como falamos da ressurreição aos homens do nosso tempo, pois podemos pensá-la, explicá-la e projetá-la à luz da nossa vida atual e corremos sérios riscos de nos tornarmos ridículos. O que podemos fazer é afirmar a nossa certeza na ressurreição; depois, temos de confessar a nossa incapacidade de conceber e de explicar esse mundo novo que nos espera (como a criança no seio da mãe não compreende nem sabe explicar a vida que a espera no mundo exterior).

SEGUNDA LEITURA (2Ts 2,16 - 3,5) Leitura da 2ª Carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Irmãos, nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. Quanto ao mais, irmãos, rezai por nós, para que a palavra do Senhor seja divulgada e glorificada como foi entre vós. Rezai também para que sejamos livres dos homens maus e perversos, pois nem todos têm a fé! Mas o Senhor é fiel; ele vos confirmará e vos guardará do mal. O Senhor nos dá a certeza de que vós estais seguindo e sempre seguireis as nossas instruções. Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo. 

AMBIENTE - Já vimos no domingo passado que a Segunda Carta aos Tessalonicenses nos coloca frente a uma comunidade cristã fervorosa, que vive com empenho e generosidade o seu compromisso cristão apesar das provações, constituindo mesmo um modelo para as comunidades vizinhas ; no entanto, a comunidade a que esta carta se destina é, também, uma comunidade com algumas dúvidas e inquietações em questões de doutrina – nomeadamente no que diz respeito ao “dia do Senhor” (isto é, à segunda vinda de Jesus). De resto, Paulo aproveita a ocasião para corrigir comportamentos, fazer alguns pedidos e exortar a uma fidelidade cada vez maior ao Evangelho de Jesus.

MENSAGEM - Depois de apresentar a doutrina sobre a segunda vinda do Senhor, o autor da carta convida os tessalonicenses a assumir a atitude correta, enquanto esperam essa vinda. Em concreto, o autor da carta pede aos cristãos de Tessalônica que guardem as tradições recebidas de Paulo, “de viva voz ou por carta”, isto é, pede-lhes que se mantenham fiéis ao Evangelho de Jesus que o apóstolo lhes transmitiu.
O convite a permanecer fiéis às tradições recebidas vai acompanhado de uma súplica a Deus Pai e a Jesus Cristo, para que tornem possível essa fidelidade. Mais uma vez fica claro que, no processo de salvação do homem, há dois planos: o dom de Deus e o esforço de fidelidade do homem. É preciso, no entanto, deixar claro que, sem a graça de Deus, o esforço do homem seria inútil.
Na segunda parte do nosso texto, temos um pedido de oração pelo apóstolo e pelo seu ministério. À súplica do autor em favor dos destinatários da carta, deve responder a súplica dos destinatários da carta em favor do apóstolo. A oração de uns pelos outros é uma forma preciosa de solidariedade cristã.
De resto, os crentes que já receberam a Palavra transformadora e libertadora de Jesus devem solicitar a ajuda divina para que a proposta de salvação que Cristo veio trazer, e que a Igreja ficou encarregada de testemunhar, chegue a todos os homens; ainda mais se, como parece insinuar-se no presente caso, as circunstâncias são decididamente adversas à proclamação e vivência do Evangelho. Repare-se como, também aqui, o papel de Deus é central: o autor da carta sabe que, sem a ajuda de Deus, será impossível ao apóstolo dar testemunho.

ATUALIZAÇÃO - • E com a ajuda de Deus que o crente consegue viver na fidelidade ao Evangelho, enquanto espera a vinda do Senhor. 
• É com a ajuda de Deus que o missionário tem a coragem de anunciar fielmente o Evangelho e de vencer as dificuldades, as injustiças, as incompreensões, as oposições que são obstáculo ao seu trabalho e ao seu testemunho.  
• O pedido de rezar “uns pelos outros” convida-nos a tomar consciência da solidariedade que deve marcar a experiência comunitária. O cristão nunca é uma pessoa isolada, mas o membro de uma família de irmãos, chamados a viver no amor, na partilha, na entrega da vida, como membros de um único corpo – o corpo de Cristo. É preciso tomar consciência dos laços que nos unem, sentirmo-nos responsáveis pelos nossos irmãos, partilhar as suas dores e alegrias, fazer nossos os seus problemas e, no nosso diálogo com Deus, ter presente as necessidades de todos.

  Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho

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Homilia de D. Henrique Soares
Estamos já próximos do final do Ano Litúrgico. De hoje a 15 dias, estaremos celebrando a Solenidade de Cristo-Rei, que marca o final do ano da Igreja. Pois bem, a Liturgia vai nos educando, irmãos amados, fazendo-nos pensar no fim de nossa vida – fim que nos obriga a nos perguntar pelo sentido da nossa existência e pelo que estamos fazendo dela. Neste sentido, tivemos a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos... E hoje a Liturgia fala-nos da ressurreição.
O Evangelho nos apresenta uma disputa entre Jesus e os saduceus, que não acreditavam na ressurreição. O Senhor confirma: há, sim ressurreição! Os mortos ressurgirão, mas de um modo que nós não podemos descrever nem imaginar: “Os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e da vida futura, nem eles se casam nem elas dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram”. Em outras palavras: estaremos em tal comunhão com o Deus da vida, em tal proximidade dele – como os anjos – que, a morte nunca mais nos poderá atingir: nem a morte física, nem a morte da dor, nem a morte da tristeza, do medo, da saudade, nem a morte do pecado! Como diz o Salmista: “Eu verei, justificado, a vossa face e ao despertar me saciará vossa presença!”
Caríssimos, quando a Escritura fala em ressurreição, não está pensando simplesmente em voltarmos a esta nossa vida, deste nosso modo atual, somente que habitando no céu... De modo algum! Nós seremos glorificados em corpo e alma! Ressuscitar é receber em todo o nosso ser a vida de Deus, que Cristo, o primogênito dentre os mortos, nos conquistou e já derramou em nós no batismo. Semente dessa vida é o Espírito Santo vivificador – o mesmo em quem o Pai ressuscitou o Filho Jesus! É Jesus quem nos ressuscita, ele que disse a Marta: “Eu sou a Ressurreição!” (Jo 11,25) É somente nele e por causa dele que esperamos vencer a morte! Na primeira leitura deste Domingo escutamos o testemunho dos sete irmãos, filho de uma corajosa mãe viúva, que incentiva seus filhos a entregarem a vida por amor da Lei de Deus. Donde lhes vinha tanta coragem? Donde, tanta disponibilidade para serem fiéis até o fim? Da certeza de que ressuscitariam: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará!” – disse um deles. E o outro, pensando na ressurreição da carne, afirmou sem medo: “Do céu recebi estes membros; por causa de suas leis os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo!” Vede, meus caros, o quanto a certeza da vida eterna muda nosso modo de enfrentar os revezes da vida. A este propósito, poderíamos perguntar: Tanta frouxidão na nossa fé, tanto relaxamento nos nossos costumes, tão pouca seriedade na prática da religião, tanta condescendência com os vícios, a comodidade e a tibieza, não seriam causados por uma fraca e sem convicção fé na ressurreição, na vida eterna?
E, no entanto, a nossa esperança é firme: fomos criados para Deus, para Deus estamos a caminho... Um dia morreremos, terminará nosso caminho neste mundo tão incerto. E, imediatamente após a morte, em nossas almas, estaremos diante do Cristo, nossa Salvador e Juiz. Se tivermos sido abertos ao seu Espírito Santo, se lhe tivermos sido realmente fiéis, ele, nosso Senhor, no seu abraço eterno, glorificará do seu Espírito Santo a nossa alma e, então, estaremos para sempre com o Senhor, onde ninguém mais vai sofrer, ninguém mais chorar, ninguém vai ter saudade, ninguém mais vai ficar triste. No final dos tempos, quando Cristo nossa vida, glorificar todo o universo, também nossos pobres corpos ressuscitarão, pela força e ação do mesmo Espírito Santo vivificador, que o Senhor tem em plenitude. Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos para sempre com o Senhor! Eis por que somos cristãos, eis por que temos esperança! Eis por que queremos viver com retidão, sobriedade, abertura de coração para os irmãos e santo temor em relação a Deus. É o que exprime São Paulo na segunda leitura: “Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. O Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo!”
Caríssimos, em Cristo, se fomos criados para Deus, para a comunhão com ele no céu, tenhamos, no entanto, o cuidado de não o perdermos para sempre no inferno. O inferno existe, é real e pode ser nossa miserável herança! Pode dar-se que, logo após a minha morte, não exista nenhuma comunhão com o Cristo que é Vida, mas somente o “Apartai-vos de mim, malditos! Não vos conheço!” E nossa alma caia na eterna tristeza, na depressão sem fim, que devora, como verme e queima como fogo! Não aconteça que, no fim dos tempos, também nosso corpo tenha de padecer também este triste destino!
Eis, amados em Cristo, que o Senhor nos adverte! Procuremos, pois, viver de tal modo, que possamos ser considerados dignos de viver para sempre com ele. Para isso, pautemos nossa vida pelo amor e obediência ao Senhor. Assim poderemos dizer como o Salmista, tendo os olhos fixos em Cristo nosso Deus e nossa vida: “Os meus passos eu firmei na vossa estrada,/ e por isso os meus pés não vacilaram./ Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis,/ inclinai o vosso ouvido e escutai-me!/ Protegei-me qual dos olhos a pupila/ e guardei-me, à proteção de vossas asas./ Mas eu verei justificado a vossa face/ e ao despertar me saciará vossa presença!” Que o Senhor que tudo pode confirme a nossa esperança. Amém.
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Deus dos vivos

Aproxima-se o final do ano litúrgico.
A Liturgia nos oferece a oportunidade de aprofundar 
uma verdade importante de nossa fé:
"Eu creio na Ressurreição dos mortos".

Os primeiros livros da Bíblia não falam claramente da Ressurreição dos mortos.
Só mais tarde, começou-se a falar em Israel de um despertar daqueles que estão dormindo no pó da terra.

Na 1a Leitura, temos a 1ª profissão de fé na Ressurreição. (2Mac 7,1-2.9-14)

No tempo da perseguição do rei Antíoco (± 170 aC), a experiência da morte de muitos justos fez nascer a
esperança da Ressurreição.
Nessa época, temos o belo testemunho da Mãe e os sete filhos Macabeus.
Eles são obrigados a violar a prática religiosa dos antepassados.
Fortalecidos pela esperança da ressurreição,eles preferem enfrentar as torturas e a própria morte, a transgredir a Lei...
Vejamos as respostas corajosas dos primeiros quatro irmãos:

- Um deles, tomando a palavra em nome de todos, falou assim:  "Estamos prontos a morrer, antes de violar as leis de nossos pais".
- O Segundo, prestes a dar o último suspiro, disse:
  "Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos
   ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis"
- Depois começaram a torturar o terceiro. Apresentando a língua e as mãos,   diz: "Do céu recebi estes membros... no céu espero recebê-los de novo..."
- E o quarto quase a expirar: "Prefiro ser morto pelos homens,   tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará.   Para ti, porém, ó Rei, não haverá ressurreição para a vida". 

* São as afirmações mais claras do A.T. sobre a vida além da morte.
Assim mesmo tinham uma idéia ainda muito imperfeita.
Era apenas a idéia de uma "revivificação dos justos", um readquirir no outro mundo uma vida semelhante a de antes.
A idéia foi se desenvolvendo, até ser completamente iluminada por Cristo.

No Evangelho, Jesus fala claramente da Ressurreição, afirmando que "Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos". (Lc 20,27-38)

- Essa idéia imperfeita de Ressurreição existia ainda no tempo de Jesus.
Alguns Saduceus, que não acreditavam na Ressurreição, inventaram uma história e fizeram uma pergunta capciosa que visava ridicularizar a doutrina da ressurreição e da vida futura:
Uma mulher viúva sem filhos... casou com 7 maridos sucessivamente ...  Com quem ficará na vida futura?

- Jesus responde:

1. Aos Fariseus (que acreditavam numa ressurreição imperfeita):
A Ressurreição não é apenas um despertar do sepulcro para retomar a vida de antes. A vida com Deus é uma realidade completamente nova e distinta.  É um dom maravilhoso que o Pai reservou para todos os seus filhos.
Seremos imortais, glorificados, não mais sujeitos às leis da carne.
Por isso, será desnecessário o matrimônio para a conservação da espécie.

2. Aos Saduceus: Afirma a existência da vida futura:
Deus se manifestou a Moisés como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, muitos anos depois de terem desaparecido deste mundo.
Isso quer dizer que eles não estão mortos, mas vivem atualmente em Deus. 
Portanto, se Abraão, Isaac e Jacó estão vivos, podemos falar de Ressurreição.

A RESSURREIÇÃO:

- A Ressurreição é a esperança que dá sentido a toda a caminhada do cristão.
A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta, pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com ele para a vida nova e definitiva.
A nossa vida presente deve ser uma caminhada tranqüila, confiante, alegre, em direção a essa nova realidade.

- A Ressurreição não é a continuação da vida que vivemos neste mundo; mas é a passagem para uma vida nova onde, sem deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros... É a realização da vida plena.

- A certeza da Ressurreição não deve ser, apenas, uma realidade que esperamos; mas deve ser uma realidade que influencia, desde já, a nossa existência terrena. É o horizonte da Ressurreição que deve influenciar as nossas atitudes; é a certeza da ressurreição que nos dá a coragem de enfrentar as forças da morte que dominam o mundo, de forma a que o novo céu e a nova terra que nos esperam comecem a desenhar-se desde já.

A Liturgia nos apresenta uma verdade consoladora: Viemos de Deus e, com a morte, voltamos para ele.
A Morte não nos deve assustar: É o encontro maravilhoso com os amigos e parentes, que foram na nossa frente.
E, sobretudo, vai ser o encontro com o melhor dos amigos: DEUS.
Nossa vida não termina aqui: ressuscitaremos...
"Nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos..."

- Cristo nos garante: "Eu sou a Ressurreição e a Vida.
  Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá". (Jo 11,25)

- "A esperança cristã é a ressurreição dos mortos: Tudo o que nós somos, o somos na medida em que acreditamos na Ressurreição." (Tertuliano)

                         Pe. Antônio
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Louvor para a celebração da Palavra (Diáconos ou ministros da Palavra)


LOUVOR (quando o Pão consagrado estiver sobre o altar)
- Com Jesus presente junto de nós, pela força do Espírito Santo, louvemos  ao Pai.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Ó Pai, hoje nos ensinastes que sois o Deus dos vivos. Vós vos apresentastes a Moisés como o Deus de nossos pais na fé, o Deus de Abraão, de Isac e de Jacó. Pai querido, agradecemos nossa existência. Em vós existimos e nos movemos. E é para Vós que nos tornaremos para louvar-vos eternamente. Senhor, dai-nos muita fé e esperança para que vivamos o sentido do eterno e não apenas as realidades desta vida por onde peregrinamos.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Ó Pai, temos a esperança que Vós nos ressuscitareis. Senhor, transformai-nos em bons filhos. Que saibamos Vos amar e amar ao nosso próximo. Que tenhamos coragem e força de levar Vosso nome a todos os irmãos.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Ó Pai, Enviai o Vosso Espírito Santo sobre nós, para que fortalecidos com a vossa graça construamos o Reino de Paz e amor.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- PAI NOSSO... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro de Deus...                                       



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