quinta-feira, 6 de março de 2014

1º DOMINGO DA QUARESMA ANO 2014

1º DOMINGO DA QUARESMA ANO 2014

Tema: “Livrai-nos, ó Pai, de todos os males!”. Deus convida-nos à “conversão”

Primeira leitura: Deus criou a humanidade para a felicidade; mas pelo egoísmo, orgulho e prepotência,  construímos nossos próprios caminhos que terminam em sofrimento e morte.
Evangelho: Jesus recusou uma vida à margem de Deus e dos seus projetos. Recusou o projeto tentador da                     riqueza, do prestígio e do poder.
Segunda leitura: Adão ignora as propostas de Deus e decide, por si só; Jesus escolhe a obediência ao Pai. O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte; o esquema de Jesus gera vida plena.

6. PRIMEIRA LEITURA (Gn2,7-9;3,1-7) Leitura do Livro do Gênesis.
O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou- lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. E
o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’ E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim nós podemos comer. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, ao contrário morrereis’”. A serpente disse à mulher: “Não, vós não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”. A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira.

AMBIENTE - Texto jahwista séc. X a.C., época de Salomão. Finalidade teológica: na origem está Jahwéh. Trata-se, portanto, de uma catequese e não de um tratado científico sobre as origens do mundo e da vida.

MENSAGEM - (“Adam” – “homem” – e “’adamah” – “terra”, sugere que o homem vem da “terra”– e, morrendo, voltará à terra). No entanto, o homem não é apenas terra, pois recebe também o “sopro” de Deus. É a vida que vem de Deus que torna o homem vivo… O homem procede diretamente, de Deus. O homem é o centro do projeto de Deus: é para ele que tudo é criado. Deus coloca-o num “jardim”. Para um povo do deserto o ideal de felicidade seria um lugar com muitas árvores e muita água. No centro do jardim, duas árvores especiais: a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal”. A “árvore da vida” é o símbolo da imortalidade: desde o início, Deus ofereceu ao homem a possibilidade da vida plena e imortal, que passa pela Lei e mandamentos… A “árvore do conhecimento do bem e do mal” é o outro caminho e representa o orgulho e a auto-suficiência de quem acha que pode conquistar a sua própria felicidade, prescindindo de Deus. “Comer da árvore do conhecimento” significa fechar-se em si, decidir por si só o que é bem e o que é mal, pôr-se a si próprio em lugar de Deus, reivindicar autonomia total em relação ao criador. O homem que renuncia à comunhão com Deus está seguindo o caminho da morte.
A idéia do nosso catequista é esta: Deus criou o homem para ser feliz; deu-lhe a possibilidade de vida imortal; mas o homem pode escolher prescindir de Deus e percorrer caminhos onde Deus não está.

Na segunda parte o autor reflete: De onde vem o mal que impede o homem de ter vida plena? Esse mal – sugere o teólogo jahwista – vem das opções erradas que, desde o início da história, o homem tem feito. Para dizer isto, o autor recorre à imagem da serpente. Entre os povos antigos, a serpente aparece como um símbolo por excelência da vida e da fecundidade. Entre os cananeus, estava também bastante difundido o culto da serpente. Nos santuários cananeus invocavam-se os deuses da fertilidade (baal) (representados muitas vezes pela serpente) e realizavam-se rituais mágicos para assegurar a fecundidade dos campos… Os israelitas se deixaram fascinar por esses cultos e praticavam os rituais dos cananeus destinados a assegurar a vida e a fecundidade dos campos e dos rebanhos. No entanto, isso significava prescindir de Jahwéh e abandonar o caminho da Lei e dos mandamentos. A “serpente” surge aqui, portanto, como símbolo de tudo o que afasta os homens de Deus e das suas propostas, sugerindo-lhes caminhos de orgulho, de egoísmo e de auto-suficiência.
Conclusão: Deus criou o homem para ser feliz e indicou-lhe o caminho da imortalidade e da vida plena; no entanto, o homem escolhe muitas vezes o caminho do orgulho e da auto-suficiência e vive à margem de Deus. Na opinião do autor jahwista, é essa a origem do mal que destrói a harmonia do mundo.

ATUALIZAÇÃO De onde vimos? Para onde vamos? Porque é que estamos aqui? Qual o sentido da nossa vida? É Deus a nossa origem e o nosso destino último. Somos seres que Deus criou com amor, a quem Ele deu o seu próprio “sopro”, a quem animou com a sua própria vida. O fim da nossa existência é a felicidade sem fim com Deus.
• Quando aceitamos Deus, Ele nos indica os caminhos da felicidade (mandamentos).
• O mal não vem de Deus, mas das escolhas erradas, do orgulho, do egoísmo e autossuficiência. Quando o homem escolhe viver sem Deus e prescindindo do amor, constrói a injustiça, o sofrimento, a morte…
- "Nus": Despojados da dignidade inicial (viver nu é a condição dos animais; sem perspectiva).

7. SALMO RESPONSORIAL / Sl 50 (51)

Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra vós.
• Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! /
Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai todas as minhas transgressões.
• Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. /
Foi contra vós, só contra vós que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
• Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. /
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito.
• Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espírito generoso! /
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, / e minha boca anunciará vosso louvor!

10. EVANGELHO (Mt 4,1-11) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!”. Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”. Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto’”. Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.

AMBIENTE - “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo”. Os quarenta dias resumem os quarenta anos que Israel passou em caminhada pelo deserto. O deserto é o lugar da “prova”, (do encontro com Deus e da sua fragilidade onde se encontra o amor de Deus). É uma catequese, que Jesus soube centralizar o projeto do Pai.

MENSAGEM - A catequese sobre as opções de Jesus aparece em três quadros:
1 Tentação do caminho de realização material; É fazer dos bens materiais a prioridade. Jesus sabe que “nem só de pão vive o homem”; a realização é o cumprimento da Palavra do Pai.
2 Tentação do caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espetaculares e sendo admirado e aclamado. Jesus não utiliza os dons para satisfazer projetos pessoais de êxito e de triunfo. “Não tentar” o Senhor significa não exigir de Deus sinais e provas que sirvam para a promoção pessoal, não usar os dons para se impor aos outros homens.
3 Tentação do caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. Jesus sabe que só o Pai é absoluto e que só Ele deve ser adorado.
        As três tentações não são mais do que três faces de uma única tentação: a tentação de prescindir de Deus, de escolher um caminho de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência, à margem das propostas de Deus. Mas, para Jesus, ser “Filho de Deus” significa viver em comunhão com o Pai, escutar a sua voz, realizar os seus projetos, cumprir os seus planos. Jesus vai confirmar esta sua “opção” e vai concretizar, com fidelidade, o projeto do Pai.
Jesus venceu a tentação de prescindir de Deus e de escolher caminhos à margem dos projetos do Pai. De Jesus vai nascer um novo Povo de Deus, cuja vocação é viver em comunhão com o Pai e concretizar o seu projeto para o mundo e para os homens.

ATUALIZAÇÃO
• Jesus recusou o individualismo. Ele quer a comunhão com o Pai; é obediente ao seu projeto…
• Quando o homem esquece Deus, se fecha no egoísmo e na autossuficiência, facilmente cai na escravidão de outros “deuses” que, no entanto, estão longe de assegurar vida plena e felicidade duradoura.
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Somos obra do amor gratuito: do nada ele nos tirou e encheu-nos de vida.; nos colocou no jardim: Se o homem confiasse em Deus, se cumprisse seu preceito, se reconhecesse seus limites, um dia comeria do fruto da árvore da Vida…
** O homem foi seduzido e deseja ser seu próprio Deus, sem limite, sem abertura à graça! Somente sua vontade importa, somente sua medida! Hoje, como no princípio, ele pensa que é a medida de todas as coisas! Eis aqui o seu pecado!
** Ser como Deus, sendo autônomo, decidindo o que é certo e errado; decidindo que a libertinagem é um bem, que as aventuras com embriões humanos, que o aborto, que a infidelidade feita de preservativos, são um bem… que levar a sério a religião e a Palavra de Deus é um mal… Resultado: viram que estavam nus… somos pó e ao pó tornaremos!
1) Tentação da Abundância (Riqueza): "Nem só de pão vive o homem..."
2) Tentação do Prestígio e da fama: um caminho fácil, mostrando o seu poder e sendo admirado e aclamado. "Não tentarás o Senhor teu Deus".
3) Tentação do Poder,: um caminho de poder, de domínio : "Só a Deus adorarás".

8. SEGUNDA LEITURA (Rm 5,12-19) Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos: Consideremos o seguinte: o pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram... Na realidade, antes de ser dada a lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, o qual era a figura provisória daquele que devia vir. Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. Também o dom é muito mais eficaz do que o pecado de um só. Pois, a partir de um só pecado, o julgamento resultou em condenação, mas o dom da graça frutifica em justificação, a partir de inúmeras faltas. Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.

AMBIENTE - (anos 57/58). Os cristãos de origem judaica consideravam que, além da fé em Jesus Cristo, era necessário cumprir as obras da Lei (circuncisão) para ter acesso à salvação; Paulo vai mostrar que judeus e não judeus são, de igual forma, chamados por Deus à salvação; o essencial não é cumprir a Lei de Moisés; o essencial é acolher a oferta de salvação que Deus faz a todos, por Jesus Cristo. Através de Jesus se faz a oferta de salvação para todos.

MENSAGEM - Para deixar bem claro que a salvação vem através de Jesus Cristo, Paulo vai expor o seu raciocínio através de duas figuras: Adão e Jesus. Adão que prescinde de Deus e das suas propostas e que escolhe caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência. Ora, essa escolha produz injustiça, alienação, sofrimento, desarmonia. Porque o pecado gera morte. A morte deve ser entendida, neste contexto, como morte espiritual e escatológica que é afastamento temporário ou definitivo de Deus (a fonte da vida autêntica).
Cristo propôs outro caminho. Ele viveu na obediência total aos projetos do Pai. Esse caminho leva à superação do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência e faz nascer um Homem Novo, que vive em comunhão com o Deus que é fonte de vida autêntica (a vitória de Cristo sobre a morte é a prova de que só a comunhão com Deus produz vida definitiva). Foi essa a grande proposta que Cristo fez à humanidade… Assim, Cristo libertou os homens da economia de pecado e introduziu no mundo uma dinâmica nova, uma economia de graça que gera vida plena (salvação).
O que é claro é que, para Paulo, a intervenção de Cristo na história humana se traduziu num dinamismo de esperança, de vida nova, de vida autêntica. Cristo veio propor à humanidade um caminho de comunhão com Deus e de obediência aos seus projetos; é esse caminho que conduz o homem em direção à vida plena e definitiva.

ATUALIZAÇÃO • Quando o homem deixa de dar ouvidos a Deus, dá ouvidos ao lucro fácil, destrói a natureza, explora os outros homens, torna-se injusto e prepotente, sacrifica em proveito próprio a vida dos seus irmãos…
Adão o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só; egoísmo, sofrimento e morte;
Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus; gera vida plena e definitiva.
** Pela obediência de Cristo a nossa desobediência é redimida; pela cruz, nós temos acesso ao fruto da Vida  plena, nós somos divinizados, por pura graça, aquilo que queríamos ser de modo autônomo e soberbo! Assim, manifestou-se a justiça de Deus: em Jesus, e só nele, a humanidade encontra vida!
** Mas, esta salvação em Jesus teve alto preço: a obediência, até a morte e morte de cruz. renunciando ser o senhor de sua existência humana: ele acolheu a proposta do Pai, ele se fez obediente: à glória do pão (dos bens materiais, dos prazeres) ele preferiu a Palavra do Pai como único sentido e única orientação de sua vida; à glória do sucesso (a honra, a fama, o aplauso), ele preferiu a humildade de não tentar Deus; à glória do poder (da força, das amizades poderosas e influentes, do prestígio político para impor e conseguir tudo) ele preferiu o compromisso absoluto e total com o Absoluto de Deus somente. Assim, Cristo Jesus, o Homem novo, o novo Adão (de quem o primeiro era somente figura e sombra) abriu-nos o caminho da obediência que nos faz retornar ao Pai!
Deixemos a ilusão de achar que nos bastamos a nós mesmos! Percorramos o caminho de Cristo!
Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Carvalho

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Homilia D. Henrique Soares da Costa
Logo no início deste santo caminho para a Páscoa, a Palavra de Deus nos desvenda dois mistérios tremendos: o mistério da piedade e o mistério da iniqüidade! Esses dois mistérios atravessam a história humana e se interpenetram misteriosamente; dois mistérios que nos atingem e marcam nossa vida, e esperam nossa decisão, nossa atitude, nossa escolha! Um é mistério de vida; o outro, mistério de morte.
Comecemos pelo mistério da iniqüidade: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. Eis! A vida que vivemos, a vida da humanidade é uma vida de morte, ferida por tantas contradições, por tantas ameaças físicas, psíquicas, morais… Viver tornou-se uma luta e, se é verdade que a vida vale a pena ser vivida, não é menos verdade que ela também tem muito de peso, de dor, de pranto, de fardo danado. Mas, como isso foi possível? Escutemos a primeira leitura: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente”. Somos obra de Deus, do seu amor gratuito: do nada ele nos tirou e encheu-nos de vida. Mais ainda: “O Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado”. Vede: o Senhor não somente nos tirou do pó do nada, não somente nos encheu de vida; também nos colocou no jardim de delícias, pensou nossa vida como vida de verdade toda banhada pela luz do oriente. E mais: nosso Deus passeava no jardim à brisa do dia (cf. Gn 3,8), como amigo do homem. Eis o mistério da piedade, o projeto que Deus concebeu para nós desde o início, apresentado pela Palavra de modo poético e simbólico: um Deus que é Deus de amor, de ternura, de carinho, de respeito pela sua criatura, com a qual ele deseja estabelecer uma parceria; um homem chamado a ser plenamente homem: feliz na comunhão com Deus, feliz em ter no seu Deus sua plenitude e sua vida; homem plenamente homem nos limites de homem. O homem é homem, não é Deus! Somente o Senhor Deus é o Senhor do Bem e do Mal. Por isso as duas árvores no Éden: a do conhecimento do Bem e do Mal (isto é, o poder de decidir por si mesmo o que é bem ou mal, certo ou errado) e a árvore da Vida (da vida plena, da vida divina). Se o homem confiasse em Deus, se cumprisse seu preceito, se reconhecesse seus limites, um dia comeria do fruto da árvore da Vida…
Mas, o homem foi seduzido; é seduzido inda agora: deseja ser seu próprio Deus, sem nenhum limite, sem nenhuma abertura à graça! Somente sua vontade lhe importa, somente sua medida! Hoje, como no princípio, ele pensa que é a medida de todas as coisas! Eis aqui o seu pecado! O Diabo o seduz: primeiro distorce o preceito de Deus (“É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim’?”), semeando no coração do homem a desconfiança e o sentimento de inferioridade; depois, mente descaradamente:“Não! Vós não morrereis! Vossos olhos se abrirão e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal!” Ser como Deus, decidindo de modo autônomo o que é certo e o que é errado; decidindo que a libertinagem é um bem, que as aventuras com embriões humanos, que o aborto, que a infidelidade feita de preservativos, são um bem… Decidindo loucamente que levar a sério a religião e a Palavra de Deus é um mal… Ser como Deus… Eis nosso sonho, nossa loucura, nossa mais triste ilusão! Tudo tão atraente, tudo tão apto para dar conhecimento, autonomia, felicidade… O resultado: os olhos dos dois se abriram: estavam nus… estamos nus… somos pó e, por nós mesmos, ao pó tornaremos, inapelavelmente!
Então, nosso destino é a morte? Não há saída para a humanidade? O mistério da iniqüidade destruiu o mistério da piedade? Não! De modo algum! Ao contrário: revelou-o ainda mais: “A transgressão de um só levou a multidão humana à morte; mas foi de modo bem superior que a graça de Deus… concedida através de Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. Por um só homem a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça”. Eis aqui o mistério tão grande, o mistério da piedade, o centro da nossa fé: em Cristo revelou-se todo o amor de Deus para conosco; pela obediência de Cristo a nossa desobediência é redimida; pela morte de Cristo na árvore da cruz, nós temos acesso ao fruto da Vida, da Vida plena, da Vida em abundância, da Vida que nunca haverá de se acabar! Pela obediência de Cristo, pelo dom do seu Espírito, nós temos a vida divina, nós somos divinizados, somos, por pura graça, aquilo que queríamos ser de modo autônomo e soberbo! Assim, manifestou-se a justiça de Deus: em Jesus morto e ressuscitado por nós – e só nele! – a humanidade encontra vida!
Mas, esta salvação em Jesus teve alto preço: a encarnação do Filho de Deus e sua humilde obediência, até a morte e morte de cruz. O Senhor desfez o nó da nossa desobediência, da nossa auto-suficiência, da nossa prepotência, renunciando ser o senhor de sua existência humana: ele acolheu a proposta do Pai, ele se fez obediente: à glória do pão (dos bens materiais, dos prazeres, do conforto) ele preferiu a Palavra do Pai como único sentido e única orientação de sua vida; à glória do sucesso (a honra, a fama, o aplauso), ele preferiu a humildade de não tentar Deus; à glória do poder (da força, das amizades poderosas e influentes, do prestígio político para impor e conseguir tudo) ele preferiu o compromisso absoluto e total com o Absoluto de Deus somente. Assim, Cristo Jesus, o Homem novo, o novo Adão (de quem o primeiro era somente figura e sombra) abriu-nos o caminho da obediência que nos faz retornar ao Pai!
Este é também o nosso caminho. Nossa vocação é entrar, participar, da obediência de Cristo pela oração, a penitência e a caridade fraterna para sermos herdeiros de sua vitória pascal! Este sagrado tempo que estamos iniciando é tempo de combate espiritual, para que voltemos, pelo caminho da obediência Àquele de quem nos afastamos pela covardia da desobediência. Convertamo-nos, portanto! Deixemos a teimosia e a ilusão de achar que nos bastamos a nós mesmos! Sinceramente, abracemos os sentimentos de Cristo, percorramos o caminho de Cristo, convertamo-nos a Cristo!
Concluamos com as palavras da Coleta de hoje: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”. Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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Homilia  Pe. Françoá Costa

Somos pessoas normais!

Essa afirmação poderia chamar a nossa atenção se não conhecêssemos a natureza humana, não somente através da bondade que ela manifesta constantemente, mas também por causa das dificuldades que a velha natureza encontra desde que Adão e Eva aprontaram, ou seja, pecaram. Antes o homem e a mulher estavam cheios de graça, a sua inteligência conhecia com rapidez e a sua vontade não encontrava dificuldade para amar, a sua memória era ágil, as suas forças permaneciam firmes diante do trabalho cotidiano e se vivia em grande harmonia com toda a criação. Eram pessoas normais!
No entanto, na situação atual, podemos afirmar tranquilamente: também nós somos pessoas normais! Isso significa que em nós há coisas boas e coisas más. Não nos deveriam surpreender demasiado nem as coisas boas, porque são graças de Deus; nem as más, porque são consequentes como uma natureza que, a partir, do pecado, tem aquilo que a tradição chama de vulnera peccati, ou seja, as feridas do pecado. Em efeito, depois do pecado, o ser humano perdeu a maravilhosa harmonia que existia no seu próprio ser e, consequentemente, também perdeu a harmonia que experimentava junto à natureza biológica e animal. Também o mundo que antes lhe era favorável, depois do pecado se lhe manifestava como hostil.
Pobre de nós se não reconhecermos que somos pecadores! Mais pobres ainda se não reconhecermos que a graça de Deus nos atingiu, nos curou e nos santificou! “O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição de homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Ef 6, 12), no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Consequência prática: é preciso lutar! É preciso fazer guerra! É preciso ser fortes na batalha! Sou um sacerdote de Jesus Cristo consciente da necessidade da graça de Deus como qualquer outro cristão; no entanto, não posso pregar uma santidade sem luta: utópica, fora da realidade. Em definitiva, santidade sem luta é um quimera! Não existe santo que não tenha lutado! Já o justo Jó era consciente de que “a vida do homem sobre a terra é uma luta” (Jó 7,1). A paz que se deseja não se consegue se não for através da guerra, através da derrota do inimigo. Qual o inimigo? Na verdade, são vários: há inimigos internos que causam desordem nos desejos e nos amores: soberba, avareza, luxúria e gula; há inimigos internos que causam desordem no nosso ânimo: inveja, ira, preguiça. Há ainda os inimigos externos: o demônio, pessoas que são tentadoras, algumas estruturas sociais injustas etc. Se o cristão não luta, é vencido.
Diante dessa realidade dramática, poder-se-ia assumir posturas que não condizem com aquilo que nós somos, isto é, filhos de Deus. Uma delas é uma espécie de naturalismo, que tem duas versões. Na primeira versão, luta-se somente com as próprias forças, com a vazia confiança de que se poderá vencer dessa maneira. A outra versão implicaria uma ausência de luta contra as más inclinações, simplesmente porque essas inclinações seriam concebidas como naturais ao homem e, no fundo, ele nem tem culpa das coisas que faz. Outra postura, diferente do naturalismo, é o pessimismo: luta-se, confia-se na graça de Deus, mas no fundo como se sabe que se cairá se desiste e se conforma com uma vida triste e aburguesada. Outra ainda, o rigorismo: tudo parece pecado e, por tanto, quase seria preferível fugir desse mundo, pois este se torna totalmente hostil e tudo se transforma em pecado, dessa atitude podem vir angústias, depressões e ansiedades.
A maneira de combater de um filho de Deus é equilibrada: confia, em primeiro lugar, na graça de Deus e, depois, coloca todos os meios que está ao seu alcance para conseguir a vitória: oração, sacramentos, fuga das ocasiões de pecado, cultivo do espírito de penitência, uma dimensão de serviço que ajuda a descomplicar-se. Além do mais, o filho de Deus luta com serenidade: caso haja alguma caída, se levanta rapidamente a través da contrição e da confissão, e continua lutando. Jesus saiu vitorioso das tentações. Ele não tinha as feridas do pecado porque não tinha pecado, mas foi tentado para vencer por nós. Nele nós somos vencedores. Já! Agora!
Pe. Françoá Costa
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Homilia Mons. José Maria Pereira

As Tentações de Jesus!

O 1º Domingo da Quaresma nos apresenta todos os anos o mistério do jejum de Jesus no deserto, seguido das tentações (cf. Mt 4, 1-11).
Quaresma é para nós um tempo forte de conversão e renovação em preparação à Páscoa. É tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que freqüentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.
A Quaresma comemora os quarenta dias que Jesus passou no deserto, como preparação para esses anos de pregação que culminam na CRUZ e na glória da Páscoa. Quarenta dias de oração e de penitência que, ao findarem, desembocam na cena que Mateus narra no cap. 4, 1-11. É uma cena cheia de mistério, que o homem em vão pretende entender – Deus que se submete à tentação, que deixa agir o Maligno –, mas que pode ser meditada se pedirmos ao Senhor que nos faça compreender a lição que encerra.
É a primeira vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e faz isto abertamente. Põe à prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias. Jesus deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar – diz São João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar combate com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem maiores tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado. Se não contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a um grande inimigo: o desalento e a tristeza.
A narrativa das tentações que Jesus sofreu mostra que Jesus “foi experimentado em tudo” (Hb 4, 15), comprovando também a veracidade da Encarnação do Verbo de Deus.
Diz Santo Agostinho que, na sua passagem por este mundo nossa vida não pode escapar à prova da tentação, dado que nosso progresso se realiza pela prova. De fato, ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode ser coroado sem ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não pode lutar se não encontrou o inimigo e as tentações.
Por isso, a existência do ser humano nesta terra é uma batalha contínua contra o mal. É esta luta contra o pecado, a exemplo de Cristo, que devemos intensificar nesta Quaresma; luta que constitui uma tarefa para a vida toda.
O demônio promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das suas mãos. Toda a tentação é sempre um engano miserável! Mas, para nos experimentar, o demônio conta com as nossas ambições. E a pior delas é desejar a todo o custo a glória pessoal; a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a nós mesmos nas coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós permanece a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao Senhor que não queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a nós quando diz: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”. E é isto o que nós desejamos e pedimos: servir a Deus alicerçados na vocação a que Ele nos chamou.
O Senhor está sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente: “Confiai: Eu venci o mundo” (Jo16, 33). E com o salmista podemos dizer: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei?” (Sl 26, 1).
“Procuremos fugir das ocasiões de pecado, por pequenas que sejam, pois aquele que ama o perigo nele perecerá” (Eclo 3, 27). Como Jesus nos ensinou na oração do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”; é necessário repetir muitas vezes e com confiança essa oração!
Contamos sempre com a graça de Deus para vencer qualquer tentação. Usemos as armas para vencermos na batalha espiritual, que são: a oração contínua, a sinceridade com o diretor espiritual, a Eucaristia, o sacramento da Confissão (Penitência), um generoso espírito de mortificação cristã, a humildade de coração e uma devoção terna e filial a Nossa Senhora.
Na Quaresma somos todos chamados ao deserto, para um confronto conosco mesmos, com Deus e com o próximo e os bens materiais. Somos chamados a despojar-nos de nós mesmos para nos revestir de Deus.
Mons. José Maria Pereira

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Para a Celebração da Palavra, ver abaixo:




LOUVOR (QUANDO O PÃO SAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
à O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR, NOSSO DEUS...
à COM JESUS, por Jesus e em Jesus, NA FORÇA DO ESPÍRITO, LOUVEMOS AO PAI :
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
à Senhor, criador do céu e da terra, bendito sejais, porque nos destes o Vosso sopro de vida e Por Jesus nos dignificastes com a graça da salvação. Que vosso Espírito nos fortifique sempre, para que saibamos optar pelos vossos projetos de vida e dignidade.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
à Nós Vos damos graças, porque nos enviastes o Vosso Filho, como um novo Adão, para que Ele fosse a cabeça de uma nova humanidade. Nós Vos bendizemos pelo dom gratuito da salvação.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
à Pai, Vos louvamos e vos bendizemos pela Palavra que sai da Vossa boca: ela é o verdadeiro pão que dá vida. Dai-nos força para que possamos sempre optar em seguir os vossos mandamentos.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!


à PAI NOSSO... A PAZ DE CRISTO... EIS O CORDEIRO...

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