quinta-feira, 27 de outubro de 2016

31º Domingo do Tempo Comum ano C, Subsídios homiléticos, homilias

31º Domingo do Tempo Comum ano C (Adaptado pelo Diácono Ismael)

SINOPSE:
TEMA: Deus ama  a todos, mesmo os pecadores.
Primeira leitura: Mostra que Deus criou tudo e ama cada ser que saiu das suas mãos.
Evangelho: um homem pecador, que se encontrou com Jesus e deixou-se transformar pelo amor e tornou-se generoso, capaz de partilhar os seus bens.
Segunda leitura: faz referência ao amor de Deus e avisa para que não se deixem manipular por fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do cristão.

PRIMEIRA LEITURA (Sb 11,22–12,2) Leitura do Livro da Sabedoria.
Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra. Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fecha os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa, não a terias criado. Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses querido? Ou como poderia ser mantida, se por ti não fosse chamada? A todos, porém, tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida, O teu espírito incorruptível está em todas as coisas! É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.

AMBIENTE - O “Livro da Sabedoria” é da primeira metade do séc. I a.C.. O seu autor, um judeu de língua grega, faz o elogio da “sabedoria” israelita e descreve as sortes diversas que tiveram os egípcios (idólatras) e o hebreus (fiéis a Jahwéh). O seu objetivo é duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus, convida-os a redescobrirem a fé e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus… só Jahwéh garante a verdadeira “sabedoria”, a verdadeira felicidade. Compara os castigos que Deus lançou contra aos “ímpios” (os pagãos) e a salvação reservada aos “justos” (o Povo de Deus). Manifesta o seu espanto de que o castigo de Deus sobre os egípcios tenha sido tão moderado e benevolente. Porque é que Deus foi tão moderado e não exterminou totalmente os egípcios? É a essa questão que o nosso texto responde.

MENSAGEM - O autor encontra três razões para justificar a moderação e a benevolência de Deus.
1: a grandeza e a onipotência de Deus. Quem é grande e poderoso, não se sente incomodado. Percebe as razões do agir do homem; daí resulta a tolerância e a misericórdia.
2: a lógica do perdão; Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva; por isso, “fecha os olhos” diante do pecado e o convida ao arrependimento…
3: o amor a todas as criaturas. A criação foi a obra de amor de um pai; e esse pai ama todos os seus filhos. Ele se preocupa, corrige, perdoa as faltas e faz comunhão.

ATUALIZAÇÃO O Deus é benevolente e tolerante, cheio de bondade e misericórdia, que não quer a destruição do pecador, mas a sua conversão e que ama todos os homens que criou, mesmo aqueles que praticam ações erradas.
 Qual é a nossa atitude para com aqueles que nos fizeram mal?

SALMO RESPONSORIAL / 144 (145)
Bendirei eternamente vosso nome; / para sempre, ó Senhor, o louvarei!
• Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu Rei, / e bendizer o vosso nome pelos séculos. / Todos os dias haverei de bendizer-vos, / hei de louvar o vosso nome para sempre.
• Misericórdia e piedade é o Senhor, / Ele é amor, é paciência, é compaixão. / O Senhor é muito bom para com todos, / sua ternura abraça toda criatura.
• Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, / e os vossos santos com louvores vos bendigam! / Narrem a glória e o esplendor do vosso reino / e saibam proclamar vosso poder! • O Senhor é amor fiel em sua palavra, / é santidade em toda obra que ele faz. / Ele sustenta todo aquele que vacila / e levanta todo aquele que tombou.

EVANGELHO (Lc 19,1-10) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

Naquele tempo Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa.” Ele desceu depressa e recebeu Jesus com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” Zaqueu ficou de pé e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais.” Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.”

AMBIENTE - Mais uma vez, um publicano que se considerava um pecador público, um colaborador dos opressores romanos e, portanto, um excluído da comunidade da salvação.

MENSAGEM - Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens e fez gestos concretos para a libertação a todos os homens. Zaqueu um pecador público, excluído e considerado amaldiçoado por Deus. Este homem procurava “ver” Jesus. O “ver” indica aqui mais do que curiosidade: indica uma procura intensa, uma ânsia de descobrir o “Reino”, que Jesus anunciava. O subir “a um sicômoro” indica a intensidade do desejo de encontro com Jesus. Jesus começa por provocar o encontro; sugere a Zaqueu que está interessado em entrar em comunhão com Ele (“«Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa»”). Jesus, rodeado pelos “puros” que escutam a sua Palavra, deixa todos no meio da rua para estabelecer contato na sua casa. É a exemplificação prática do “deixar as noventa e nove ovelhas para ir à procura da que estava perdida”… Como é que a multidão reage a isto? A sua desaprovação dizendo: «foi hospedar-se em casa de um pecador»”. É a atitude de quem se considera “justo” e despreza os outros, de quem está instalado nas suas certezas, de quem está convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização, de exclusão. Jesus demonstra-lhes a lógica de Deus que não exclui nem marginaliza ninguém. Como é que tudo termina? Termina com um banquete (onde está Zaqueu) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar sentar-Se à mesa com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no “banquete do Reino”; a todos oferece a salvação. E como Zaqueu reage? Acolhendo e convertendo-se ao amor. A repartição dos bens pelos pobres e a restituição de tudo o que foi roubado em quádruplo. Repare-se, no entanto, que Zaqueu só se resolveu a ser generoso após o encontro com Jesus e após ter feito a experiência do amor de Deus. Foi o amor de Deus – que Zaqueu experimentou quando ainda era pecador – que provocou a conversão e que converteu o egoísmo em generosidade. Prova-se, assim, que só a lógica do amor pode transformar o mundo e os corações dos homens.

ATUALIZAÇÃO A questão central é a universalidade do amor de Deus. Deus ama todos os seus filhos sem exceção. Além disso, o amor de Deus não é condicional: Ele ama, apesar do pecado; e é precisamente esse amor que, uma vez experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador. É esta Boa Nova de um Deus que somos convidados a anunciar, com palavras e gestos.
As atitude dos crentes em relação aos pecadores muitas vezes não está em consonância com a lógica de Deus… Muitas vezes, em nome de Deus, os crentes ou as Igrejas marginalizam e excluem, assumem atitudes de censura, de crítica, de acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, o afastam mais e o levam a radicalizar as suas atitudes de provocação. Só o amor gera amor e que só com amor – não com intolerância ou fanatismo – conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens. Testemunhar o Deus que ama e que acolhe todos os homens não significa pactuar com o que está errado. O pecado deve ser combatido e vencido. No entanto, distingamos entre pecador e pecado: Deus convida-nos a amar todos os homens e mulheres, inclusive os pecadores; mas chama-nos a combater o pecado que enfeia o mundo e que destrói a felicidade do homem.
Eu quero realmente ver Jesus? – perguntava o Papa João Paulo II ao comentar esta mensagem do Evangelho –, faço tudo o que posso para poder vê-Lo?
O encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os outros, a compartilhar com quem está mais necessitado o muito ou o pouco que temos?
Jesus estava “atravessando a cidade” de Jericó. Séculos atrás, outro Jesus atravessou Jericó. Refiro-me a Josué. Sabe-se que a palavra Jesus é a transcrição grega da palavra Yeschowah, que significa “O Senhor (Javé) é o Salvador”. Os nomes de Jesus e de Josué são, portanto, o mesmo nome.
Durante seis dias, o Povo de Deus dava uma volta ao redor de Jericó; no sétimo dia, porém, sete voltas, toque de trombetas, gritos do povo e muralha ao chão. Jericó já estava derrotada! A Sagrada Escritura nos diz que eles “tomaram a cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas e os jumentos” (Js 6,21). Barbaridade!
No Novo Testamento, o Novo Josué não tinha como objetivo destruir os muros de Jericó, o que Jesus queria era derrubar os muros do coração de Zaqueu que, por contraste, “era de baixa estatura” (Lc 19,3). Ademais, Zaqueu não pôs resistência ao chamado de Jesus. Zaqueu era uma dessas pessoas que podemos chamar “um homem de boa vontade”: ele queria ver a Jesus.
Deixemos que Jesus passe pelas nossas vidas. Ele não quer entrar na nossa cidade interior como entrou Josué em Jericó, mas à semelhança do que aconteceu com Zaqueu. Tanto é assim que se nós não deixarmos cair as muralhas do nosso coração, ele não entrará.

SEGUNDA LEITURA (2Ts 1,11–2,2) Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses.
Irmãos, não cessamos de rezar por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação. Que ele, por seu poder, realize todo o bem que desejais e torne ativa a vossa fé. Assim o nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos, não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação, ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo.

AMBIENTE
Paulo chegou a Tessalônica pelo ano 50. mas os judeus – incomodados pelo testemunho de Paulo – sublevaram a multidão e o apóstolo teve de abandonar a cidade. Paulo enviou Timóteo a Tessalônica, para saber notícias e encorajar os cristãos… Quando Timóteo voltou, Paulo estava em Corinto. As notícias eram boas: os tessalonicenses continuavam a viver com entusiasmo a fé e a dar testemunho de Jesus. Havia, apenas, algumas questões de doutrina que os preocupavam – nomeadamente a questão da segunda vinda do Senhor. Paulo decidiu-se, então, a escrever aos cristãos de Tessalônica, animando-os a viverem na fidelidade ao Evangelho e esclarecendo-os quanto à doutrina sobre o “dia do Senhor”.

MENSAGEM - Dois temas: O primeiro uma súplica de Paulo, para que os tessalonicenses; o segundo refere-se à vinda do Senhor. A primeira o papel de protagonista que Deus desempenha na salvação do homem. Não basta a boa vontade; é preciso que Deus acompanhe os esforços do crente e lhe dê a força de percorrer até ao fim o caminho do Evangelho. A segunda parte é o início da doutrina sobre o “dia do Senhor”. A intenção de Paulo é desautorizar alguns fanáticos que anunciavam a iminência do fim do mundo… Isto provocava perturbações na comunidade, porque demitiam-se das suas responsabilidades e esperavam ociosamente o acontecimento.

ATUALIZAÇÃO - No nosso caminho pessoal Deus está sempre no princípio, no meio e no fim. É Ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada e nos espera no final para nos dar a vida plena.
 é preciso discernir o certo do errado. O caminho para discernir o certo do errado está na Palavra de Deus e numa vida de comunhão e de intimidade com Deus.

(Dehonianos)

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O Olhar de Jesus...

Com frequência, somos levados a olhar nas pessoas só os aspectos negativos...
Como é o OLHAR DE DEUS?

 Na 1ª Leitura, vemos o Olhar de Deus:
"Os olhos de Deus são diferentes dos nossos". (Sb 11,22-12,2)

O autor sagrado manifesta o seu espanto porque o castigo de Deus sobre os egípcios tinha sido moderado e benevolente.
E encontra três razões para justificar essa benevolência de Deus:

1. Ele é paciente porque é grande e poderoso...
Não se sente incomodado pelos atos dos que são pequenos e finitos.
Daí resulta a tolerância e a misericórdia...

2. Ele não quer a morte do pecador, mas a sua conversão.
Por isso: "Deus fecha os olhos" diante do pecado do homem, a fim de convidá-lo ao arrependimento.

3. Deus ama todas as criaturas: Porque tudo é obra de suas mãos...
Ele não está interessado em castigar os homens.

* Essa imagem do amor e da misericórdia de Deus deve nos impregnar e transparecer em gestos para com os nossos irmãos.

Na 2ª Leitura, vemos o Olhar de São Paulo. (2Tm 1,11-22)

 O Apóstolo lembra que Deus é o protagonista na salvação do homem.
Deus está sempre no princípio, no meio e no fim...
É ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada; é ele quem nos espera no final do caminho, para nos dar a vida plena.
* A salvação não é uma conquista nossa, mas um dom de Deus

No Evangelho vemos o Olhar de Jesus, no encontro com Zaqueu. (Lc 19,1-10)

+ ZAQUEU é chefe dos Publicanos, um chefe de ladrões...
  insignificante aos olhos dos homens, desprezado e rejeitado da comunidade...
- Este homem procurava "ver Jesus".
O "Ver" indica aqui mais do que curiosidade, indica uma procura intensa de algo novo, uma ânsia de descobrir o "Reino", um desejo de fazer parte dessa comunidade de Salvação que Jesus anunciava.
- No entanto, o Mestre rodeado desses "puros" e "santos", que desprezavam os marginais como ele.
- O "subir num sicômoro" indica um desejo muito forte de encontro com Jesus, disposto a enfrentar até o ridículo ou as vaias da multidão.
+ JESUS vai ao Encontro dele; deixa o grupo dos "fiéis" e preocupa-se com o "pecador". Ergue os olhos e vê o "pequeno"... Chama-o pelo nome: Zaqueu ("puro").
Ele se autoconvida: "Desce depressa... porque hoje preciso ficar em tua casa".

+ A atitude de Jesus provoca uma REAÇÃO:
- A Multidão murmura escandalizada: "Foi hospedar na casa de um pecador".
- Zaqueu acolhe com alegria o hóspede... Prepara um "Banquete"...
E, comovido, faz um pequeno discurso, em que manifesta a sua transformação.
Está disposto a repartir os seus bens com os pobres e  restituir quatro vezes mais o que tinha roubado...
Zaqueu só se aquietou quando conseguiu VER JESUS e acolhê-lo em sua casa e em seu coração.

+ CRISTO conclui: "Hoje entrou a salvação nesta casa..."
   Passos: - Zaqueu deseja ver Jesus... e vai à procura;  
     - Jesus percebe o interesse e vai ao encontro: Convida-se...
               - Acolhido... Zaqueu acolhe Jesus e também os pobres: a Salvação.

* Zaqueu só resolveu ser generoso após o encontro com Cristo e após ter feito a experiência do AMOR DE DEUS.
O amor de Deus não se derramou sobre Zaqueu depois de ele ter mudado.
O que provocou a conversão de Zaqueu foi o amor de Deus, quando ainda era pecador. Converteu-se, quando se sentiu amado...
Prova-se assim que o amor pode transformar o mundo e o coração dos homens.

Hoje Cristo continua batendo à porta de nossa casa. Ele deseja cear conosco para nos libertar de tudo o que nos aprisiona e impede o nosso crescimento da vida de fé e de comunidade.
Abrindo as portas de nossa casa para acolher Jesus, abrimos também os ouvidos e o coração ao anúncio da Boa nova.

É esse Deus de amor que devemos anunciar com palavras e gestos.
Só o amor gera amor e só com o amor conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens.
Deus nos convida a amar todos os homens, inclusive os pecadores; mas nos chama a combater o pecado, que enfeia o mundo e destrói a felicidade do homem.

Qual é o nosso Olhar  para com os que se sentem excluídos e marginalizados
até pelos "fiéis" de nossas Comunidade?

- Um olhar severo e feroz, como o do povo, que julga e condena?
- Ou um olhar meigo, como o de Jesus,   que convida a celebrar num "Banquete", com muito amor e acolhida?

                                               Pe. Antônio Geraldo

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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa
Comecemos nossa meditação da Palavra deste Domingo pelo Evangelho. Aí, a miséria corre para ver a Misericórdia, o homem corre para encontrar Deus…
Quem é este Zaqueu, este baixinho ansioso do Evangelho de hoje? É um publicano – como o homem que rezava compungido no Domingo passado. Um publicano é um pecador público, cobrador de impostos para os romanos e, por isso, odiado pelos judeus. Os publicanos muitas vezes extorquiam o povo. Talvez fosse o caso de Zaqueu, pois ele “era chefe dos publicanos e muito rico”. Certamente, tanto mais odiado quanto mais rico…
Pois bem, é um homem assim que correu e subiu numa figueira para ver o Senhor. Imaginemos a cena: Zaqueu esquece sua pose, sua respeitabilidade, sua posição. Aquele homem rico devia também ser sozinho, amargurado na sua riqueza, que o tornava um rejeitado por todos e um excluído da comunidade do Povo de Deus. Zaqueu certamente ouvira falar de Jesus, de sua misericórdia, de sua bondade, de sua mansidão. Não era ele que acolhia os pecadores? Não era ele que comia com os publicanos? Não tinha ele um publicano, Mateus, como um dos Doze? Por isso, não hesita em subir numa figueira, não tem medo do ridículo! Quer ver Jesus, nem que fosse às escondidas… Quem dera que fôssemos assim, que não deixássemos o Senhor passar em vão no caminho da nossa vida! E aí vinha Jesus… O coração de Zaqueu certamente disparou… Jesus vai passando, acompanhado, cercado por uma multidão barulhenta. Aí, então, para surpresa de todos e desespero de Zaqueu, ele para, olha pra cima… Imaginemos os risos, a mangação, a situação de ridículo na qual o pobre Zaqueu encontrou-se! Mas, Jesus é surpreendente – ele sempre nos surpreende; ele é maravilhosamente surpreendente! “Zaqueu – chama-o pelo nome. Conhecia-o! – Desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa!” Era demais para Zaqueu: o mundo desaparecera; a mangação não tinha importância… Naquela hora, naquele momento só existiam Jesus e ele! E Jesus o chamava pelo nome! Enquanto todos o rejeitavam, Jesus, chamava-o pelo nome, como a um amigo, como a um conhecido, e oferecia-se para se hospedar na sua casa! “Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria”. Contemplemos o amor de Deus, amor misericordioso, que alegra, renova, transforma a existência e dá um novo sentido para a vida!
Qual o resultado desta visita do Senhor, deste acolhimento de Zaqueu? “Senhor, eu dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais!” Zaqueu fizera experiência do amor de Deus, Zaqueu acolhera esse amor, deixara-se amar e, agora, transborda em arrependimento, amor e misericórdia para com os outros! Que pena que não compreenderam isso, e começaram a murmurar contra Jesus…
Quem dera que da escuta da Palavra deste Domingo aprendêssemos quem é o nosso Deus, como age seu coração, e como nós deveríamos reagir! Pensemos no coração de Deus não a partir dos nossos sentimentos mesquinhos, mas a partir das palavras comoventes do Livro da Sabedoria: um Deus tão grande, tão imensamente maior que tudo quanto existe, tão imensamente para lá de tudo quanto possamos imaginar… “Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra”. E, no entanto, ele se inclina com carinho sobre o mundo: dele cuida, sustenta-o, compadece-se de suas criaturas e nos perdoa as loucuras, ingratidões e pecados: “De todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado”… Admirado, o autor sagrado exclama: “A todos tu tratas com bondade, porque tudo é teu, ó Senhor, Amigo da vida!” Que título comovente: Amigo da vida! Um Deus que somente é glorificado na nossa alegria, na nossa vida! Um Deus que sorri com o sorriso de Zaqueu, um Deus que se oferece para entrar na casa e no coração de um pecador perdido!
Quem dera que sejamos como Zaqueu; que desejemos vê-lo, que abramos para ele a nossa porta, que por seu amor mudemos nossa atitude, como esse publicano. São Paulo deseja, na segunda leitura de hoje, que o nome de Jesus seja glorificado em nós, na nossa vida… Seria, será glorificado, se abrirmos essa nossa vida fechada, mesquinha e cansada para o Senhor. Ele vem a nós cada dia, ele passa por nós de tantos modos: na Palavra, nos irmãos, nas situações, nos desafios, nos sofrimentos, nas provas… Quem dera que o reconhecêssemos, como Zaqueu… Saber acolhê-lo nas suas vindas é glorificá-lo agora e preparar-se bem para a sua Vinda, no fim dos tempos, aquela da nossa união definitiva com ele, de que fala o Apóstolo na leitura de hoje.
Que o Senhor nos dê a ânsia e a graça que concedeu a Zaqueu. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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Homilia do Mons. José Maria

O Evangelho (Lc. 19, 1-10) fala-nos do encontro misericordioso de Jesus com Zaqueu. O Senhor passa por Jericó, a caminho de Jerusalém! Uma multidão apinhava-se nas ruas por onde o Mestre passava e lá no meio da multidão encontrava-se um homem chefe dos publicanos e rico, bem conhecido em Jericó pelo seu cargo.
Os publicanos eram cobradores de impostos. O imposto era fixado pela autoridade romana e os publicanos cobravam uma sobretaxa, da qual viviam. Isto prestava-se a arbitrariedades, razão pela qual eram facilmente hostilizados pela população.
São Lucas diz que Zaqueu procurava ver Jesus para conhecê-Lo, mas não podia por causa da multidão, pois era muito baixo. Mas o seu desejo é eficaz! Para conseguir realizar o seu propósito, começa por misturar-se com a multidão e depois, sem pensar no ridículo da sua atitude, correndo adiante subiu a um sicômoro para ver Jesus, que devia passar por ali. Não se importa com o que as pessoas possam pensar ao verem um homem da sua posição começar a correr e depois subir numa árvore. É uma formidável lição para nós que, acima de tudo, queremos ver Jesus e permanecer com Ele.
Que o Senhor aumente em nós o desejo sincero de vê-Lo! Eu quero realmente ver Jesus? – perguntava o Papa João Paulo II ao comentar esta mensagem do Evangelho –, faço tudo o que posso para poder vê-Lo? Este problema, depois de dois mil anos, é tão atual como naquela altura, quando Jesus atravessava as cidades e povoados da sua terra. E é atual para cada um de nós pessoalmente: quero verdadeiramente contemplá-Lo, ou não será que venho evitando encontrar-me com Ele? Prefiro não vê-Lo ou que Ele não me veja? E se já o vislumbro de algum modo, não será que prefiro vê-Lo de longe, sem me aproximar muito, sem me situar claramente diante dos seus olhos…, para não ter que aceitar toda a verdade que há nEle, que provém dEle?
Qualquer esforço que façamos por aproximar-nos de Cristo é amplamente recompensado. Disse Jesus: “Zaqueu desce depressa! Hoje Eu devo ficar na tua casa” (Lc 19, 5). Que alegria imensa! Zaqueu, que já se dava por satisfeito de vê-Lo do alto de uma árvore, ouve Jesus chamá-lo pelo nome, como a um velho amigo, e, e com a mesma confiança, fazer-se convidar para sua casa. Comenta Santo Agostinho: “Aquele que tinha por coisa grande e inefável vê-Lo passar, mereceu imediatamente tê-Lo em casa.” O Mestre, que tinha lido no coração do publicano a sinceridade dos seus desejos, não quis deixar passar a ocasião. Zaqueu descobre que é amado pessoalmente por Aquele que se apresenta como o Messias esperado, sente-se tocado no íntimo do seu espírito e abre o seu coração.
Zaqueu está agora com o Mestre, e com Ele tem tudo. Mostra com atos a sinceridade da sua nova vida; converte-se em mais um discípulo do Mestre.
O encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os outros, a compartilhar imediatamente com quem está mais necessitado o muito ou o pouco que temos.
“Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19, 9). É um convite à esperança: se alguma vez o Senhor permite que passemos por dificuldades, se nos sentimos às escuras e perdidos, temos de saber que Jesus, o Bom Pastor, sairá imediatamente em nossa busca. Diz Santo Ambrósio: “O Senhor escolhe um chefe de publicanos: quem poderá desesperar se ele alcançou a graça?” O Senhor nunca se esquece dos seus.
A figura de Zaqueu deve ajudar-nos a nunca dar ninguém por perdido ou irrecuperável.
Não duvidemos nunca do Senhor, da sua bondade e do seu amor pelos homens, por muito extremas ou difíceis que sejam as situações em que nos encontremos ou em que se encontrem as pessoas que queremos levar até Jesus. A sua misericórdia é sempre maior do que os nossos pobres raciocínios.
Mons. José Maria Pereira
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Homilia do Padre Françoá Costa

Uma das expressões que o Evangelho de hoje utiliza parece-me de um grande valor significativo: Jesus estava “atravessando a cidade” de Jericó. Anos, decênios, séculos, milênios atrás, outro Jesus atravessou Jericó. Refiro-me a Josué. Sabe-se que a palavra Jesus é a transcrição grega da palavra Yeschowah, que significa “O Senhor (Javé) é o Salvador”. Os nomes de Jesus e de Josué são, portanto, o mesmo nome.
A narração da conquista de Jericó é grandiloquente. A arca do Senhor presidia aquela imponente procissão, sete sacerdotes tocavam as trombetas diante da arca e, diante dos sacerdotes, um exército em ordem de batalha. Durante seis dias, o Povo de Deus dava uma volta ao redor de Jericó; no sétimo dia, porém, sete voltas, toque de trombetas, gritos do povo e muralha ao chão. Jericó já estava derrotada! A Sagrada Escritura no diz que eles “tomaram a cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas e os jumentos” (Js 6,21). Barbaridade!
No Novo Testamento, o Novo Josué não tinha como objetivo destruir os muros de Jericó, o que Jesus queria era derrubar os muros do coração de Zaqueu que, por contraste, “era de baixa estatura” (Lc 19,3). Ademais, Zaqueu não pôs resistência ao chamado de Jesus. Zaqueu era uma dessas pessoas que podemos chamar “um homem de boa vontade”: ele queria ver a Jesus; rico como era, fez o esforço de subir a um sicômoro para ver a um profeta; quando Jesus o chamou, esse bom homem não só aceita com toda alegria que Jesus entre na sua casa, mas é tão generoso que ao descobrir o tesouro da amizade de Jesus, relativiza totalmente aquilo que ele tanto desejou e conquistou durante a sua vida, dinheiro. Jesus votou o coração de Zaqueu ao interdito, passando a fio de espada os vícios que nele se encontrava.
Deixemos que Jesus passe pelas nossas vidas. Ele não quer entrar na nossa cidade interior como entrou Josué em Jericó, mas à semelhança do que aconteceu com Zaqueu. Tanto é assim que se nós não deixarmos cair as muralhas do nosso coração, ele não entrará. Talvez em algum momento também nós, os cristãos, desejamos que Jesus atue à maneira antiga de pensar: forçando aos pobres mortais a dobrarem os joelhos diante dele, a reconhecerem que só há um Deus e que devem abandonar a sua vida de pecado; obrigando a que todos o sirvam; obrigando a que o mundo seja mais justo, mais solidário, mais fraterno; que ele não permita jamais um terremoto, um furacão ou uma enchente destruidora das melhores colheitas; que ele não deixe, por nada do mundo, que tenhamos enfermidades, guerras, matanças, fome, bombas atômicas, drogas etc. Gostaríamos que Deus fosse mais autoritário, mais forte, mais rigoroso, que resolvesse de uma vez por todas os graves problemas da humanidade. Até parece que gostaríamos que Deus suprimisse para sempre a nossa liberdade, a nossa capacidade de fazer o bem e fazer o mal, de que nos transformasse em meros robôs e que o mundo fosse uma espécie de jogo de videogame onde Deus, como é inteligente, sempre ganha a batalha. Mas… como seria triste! Nós, criaturas inteligentes e com uma capacidade enorme de amar, transformados em máquinas! Não! Deus não quis que fosse assim, não quis que fôssemos como pedras ou madeiras. Ele nos amou e o seu amor foi a causa da nossa existência. Deus nos fez à sua imagem e semelhança para que – inteligentes, criativos, com vontade e memória, cheios da sua graça – pudéssemos embelezar esse mundo e a vida dos nossos irmãos.
Permitamos, portanto, que Jesus passe ao seu estilo, com a sua mansidão, bondade e generosidade, contando conosco para que lhe ofereçamos um banquete e sejamos amáveis com os nossos semelhantes. Ele também quer escutar aquilo que queremos – voluntariamente e movidos por sua graça – dizer-lhe: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo” (Lc 19,8). A resposta de Jesus? É a mesma: “Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19,9). A partir desse momento, veremos de outra maneira a respiração da terra durante os seus imponentes vulcões; a confiança que Deus tem no ser humano ao fazê-lo livre; a grandeza da liberdade humana que pode dirigir-se tanto ao bem quanto ao mal. Ah, e não nos esqueçamos de que também é bom aceitar os limites da nossa inteligência humana à hora de tentar compreender os mistérios da natureza, da graça e da glória. Deus é sábio, entreguemo-nos a ele. Sem dúvida, quanto mais estivermos nas suas mãos, mais entenderemos quais são os seus planos para o mundo, para a humanidade e para a nossa própria vida. Somente quem está enxertado na vida de Deus pode entender o que pode vir a ser a vida dos homens.
Pe. Françoá Costa
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e ministros da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)                            (Lc 19, 1-10)
- O SENHOR ESTEJA CONVOSCO... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR NOSSO...
- COM JESUS, por Jesus e em Jesus,  NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, vos louvamos porque sois o nosso escudo, a nossa defesa e a nossa felicidade. Fostes vós que nos criastes e com a vinda de vosso filho Jesus Cristo, nos tornastes vossos filhos prediletos. Nós vos agradecemos.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, não queremos a riqueza nem a pobreza, mas que nos dê o sustento de cada dia. Só em Vós seremos saciados. Sois nossa alegria e nossa felicidade eterna. Fazei-nos compreender os vossos projetos para que saibamos levar vosso nome a todos os irmãos.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, ajudai-nos a ver os irmãos com os vossos olhos de amor. Enviai-nos o Espírito Santo para que tenhamos força e coragem para vivermos e anunciarmos o vosso Reino. Santificai-nos para que sigamos os passos de vosso filho Jesus Cristo e saibamos fazer a vossa vontade.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai nosso... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro...



quinta-feira, 20 de outubro de 2016

30º Domingo do Tempo Comum ano C, homilias, subsídios homiléticos

30º Domingo do Tempo Comum ano C

(SINOPSE)
TEMAA HUMILDADE - “Deus escuta a oração dos humildes!”

Primeira leitura: Deus ama os humildes e escuta as suas súplicas.
Evangelho: Jesus conta a parábola do publicado e do fariseu quando oram no templo.
Segunda leitura: Paulo convida a viver com entusiasmo e confiança na misericórdia de Deus.
                                                                                                                                               
PRIMEIRA LEITURA (Eclo 35, 15b-17.20-22a) Leitura do Livro do Eclesiástico.
O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas. Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido, e suas súplicas subirão até as nuvens. A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento.

AMBIENTE - O livro de Ben Sira (Eclesiástico) foi escrito nos inícios do séc. II a.C., quando os selêucidas dominavam a Palestina e a cultura helênica colocava em risco a cultura, a fé e os valores judaicos. O autor defende o patrimônio cultural e religioso do judaísmo.
MENSAGEM - Jesus Ben Sira insiste em que Deus escuta sempre as preces dos débeis e que está atento aos gritos de revolta daqueles que são vítimas da injustiça. Assim, os humildes que sofrem a opressão e a prepotência dos poderosos são convidados a apresentar a Deus as suas queixas, até que Ele restabeleça o direito e a justiça.
ATUALIZAÇÃO  a “verdadeira religião” não passa pelos ritos, mas pelo amor aos irmãos.  Não é verdadeira a religião daqueles que aos domingos pagam o dízimo, mas não respeitam a dignidade e a liberdade dos outros. Uma religião desligada da vida é uma religião falsa.
 Deus não deixa passar em claro qualquer injustiça cometida contra o pobre.
A oração do pobre chega sempre aos ouvidos de Deus…

SALMO RESPONSORIAL 33 (34)
O pobre clama a Deus e ele escuta; o Senhor liberta a vida dos seus servos.
• Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, / seu louvor estará sempre em minha boca. / Minha alma se gloria no Senhor; / que ouçam os humildes e se alegrem!
• Mas Ele volta a sua face contra os maus, / para da terra apagar sua lembrança. / Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta / e de todas as angústias os liberta.
• Do coração atribulado ele está perto / e conforta os de espírito abatido. / Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, / e castigado não será quem nele espera.

EVANGELHO (Lc 18, 9-14) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: “Dois homens subiram ao templo para rezar: um era fariseu; o outro, cobrador de impostos. O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda’. O cobrador de impostos, porém, ficou à distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ Eu vos digo: este último voltou para casa justificado; o outro, não. Pois quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”.

AMBIENTE - Jesus fala aos que se consideravam justos e desprezavam os outros”. Os “fariseus” eram os defensores intransigentes da “Torah”; no dia a dia, procuravam cumprir escrupulosamente a Lei: só assim – pensavam eles – o Povo chegaria a ser santo. Os “publicanos” estavam ligados à cobrança dos impostos romanos. estavam afetados de impureza e não podiam fazer penitência. Quem exercia tal ofício, estava privado de certos direitos cívicos, políticos e religiosos; por exemplo, não podia ser juiz nem prestar testemunho em tribunal.
MENSAGEM - O fariseu é o modelo de um homem irrepreensível face à Lei, que cumpre todas as regras. O problema do fariseu é que pensa ganhar a salvação com o seu próprio esforço. Para ele, a salvação não é um dom de Deus, mas uma conquista do homem; se o homem levar uma vida irrepreensível, Deus não terá outro remédio senão salvá-lo. Essa auto-suficiência leva-o, também, ao desprezo por aqueles que não são como ele … O publicano, ao contrário, apoia-se apenas em Deus e não nos seus méritos. Ele apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões … E Deus “justifica-o” – isto é, derrama sobre ele a sua graça e o salva.
ATUALIZAÇÃO   Deus não é um contabilista, mas é o Deus da bondade, do amor, da misericórdia, sempre disposto a derramar sobre o homem a salvação como puro dom.
A certeza de possuir qualidades e méritos em abundância, acaba por gerar o desprezo pelos irmãos. Então, criam-se barreiras de separação e exclusão…

SEGUNDA LEITURA (2Tm 4, 6-8.16-18) Leitura da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo.
Caríssimo, quanto a mim eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.

AMBIENTE - É uma época de perseguições, de divisões, de heresias e, portanto, de confusão e de desânimo. Nesse contexto, um cristão anônimo, usando o nome de Paulo, escreveu a pedir aos seus irmãos na fé que se mantivessem fiéis à missão que Deus lhes confiou. O seu objetivo era revitalizar a fé e o entusiasmo dos crentes.
MENSAGEM - A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou a sua vida, para que a salvação chegasse a todos os povos da terra. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores. Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a Ele pelos séculos sem fim. Amem”. É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.
ATUALIZAÇÃO
Paulo é um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.
 Aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal.
Santo Agostinho dizia que “a fé não é para os soberbos, mas para os humildes”. Somente aquele que se sabe pequeno e frágil, imperfeito e limitado diante de Deus reza de verdade. Por isso o Eclesiástico afirma que “a prece do humilde atravessa as nuvens”.
 É este o verdadeiro crente: aquele que sabe bendizer a Deus em todo o tempo – seja no tempo bom, seja no mau. “Seu louvor estará sempre em minha boca!”
O fariseu está de pé, dá graças pelo que faz, mostra-se satisfeito. Compara-se com os outros e considera-se mais justo, melhor cumpridor da Lei. Na oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo…
A falta de conhecimento próprio é causa de muitos erros na nossa vida. Pensamos que somos o que não somos e não consideramos o que realmente somos. A falta de conhecimento próprio pode levar-nos tanto à baixa estima quanto à vanglória.
Santo Inácio de Loyola afirma: “Nós nos salvamos, salvando”. Estamos todos na mesma videira, como ramos; como peixes no mesmo mar; como iluminados à luz do mesmo sol, como disse Jesus: “Sede perfeitos como o Pai do céu”, que deixa o sol iluminar a todos e deixa chover sobre justos e injustos. Sejamos missionários; “Eis que eu os envio; quem vos recebe, a mim recebe”. Este é o mês das missões.


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Fariseu ou Publicano?

No domingo passado, refletimos  sobre a necessidade da Oração perseverante:
Um apelo muito atual ao homem moderno, tão ocupado e preocupado com tantas coisas,
que quase não sobra tempo para si mesmo. E o tempo que sobra gasta na TV ou outras diversões. Mas não basta rezar, precisa rezar bem...
- E qual é o espírito que deve animar a nossa oração    para que seja agradável a Deus e proveitosa para nós?


Na 1ª Leitura, Deus afirma que escuta as sua súplicas dos HUMILDES:
"A oração do humilde penetra as nuvens..." (Eclo 35,15a-17.20-22a)

* A nossa oração só tem valor e é acolhida por Deus,
   quando parte de um coração pobre, humilde e justo
   e é solidária com todos os oprimidos e empobrecidos.

Na 2ª Leitura, Paulo, velho, preso, condenado à morte,
medita e reza sobre a sua VIDA... (1Tm 4,6-8.16-18)
"Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé..."

* É o testamento de alguém que está com a consciência do dever cumprido
   e aguarda com humildade e confiança  a recompensa de Deus.

No Evangelho, Jesus mostra a ORAÇÃO HUMILDE de um pecador,
que se apresenta diante de Deus de mãos vazias,
mas disposto a acolher o Dom de Deus. (Lc 18,9-14)

- Os destinatários da Parábola do Fariseu "santo" e do Publicano "pecador"                   
  são: "alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros".
- Os dois rezam no Templo: um espera a recompensa e o outro a misericórdia...
  O modo de rezar dos dois é bem diferente:
  O Fariseu pelo caminho do orgulho, o Publicano pelo caminho da humildade.

+ O FARISEU: na frente... "de pé"... reza satisfeito pelo que é e pelo que faz:
- Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si.
  Agradece a Deus por não ser como os demais, nos quais só vê erros e pecados.
- É auto-suficiente: não precisa de Deus e despreza os irmãos. A sua salvação é uma conquista pelas suas boas obras e não misericórdia e dom de Deus.
 

+ O PUBLICANO: no fundo... de cabeça baixa... batendo no peito...
   Reconhece com humildade a soberania de Deus e a própria pequenez...
   Ele precisa de Deus e aceita a salvação que Deus lhe oferece.
  
   - Sua oração é breve: resume-se em pedir perdão:
     "Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador..."

+ À primeira vista, daria a impressão que o fariseu era mau e o publicano bom. No entanto, o fariseu era "bom praticante" e o publicano praticava injustiças. Mas, quem se comportava bem foi condenado e o pecador voltou "justificado".
O fariseu ofereceu suas obras, o publicano sua miséria e seus pecados...

- E Jesus conclui:
  "Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado".

A Parábola nos fala de DOIS TIPOS de Pessoas:


+ O Fariseu é modelo do homem "justo", cumpridor de todas as leis,
que leva uma vida impecável. Ninguém o pode acusar de ações contra Deus,
nem contra os irmãos. Está contente por não ser como os outros.
Vai à missa todos os domingos... Paga o dízimo... Confessa de vez em quando... Mas na confissão "não tem pecados". Só tem boas obras a declarar...
Na Oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo...
Umas práticas religiosas bem observadas lhe dão a segurança da salvação.

   * CRISTO quer uma religião em espírito e verdade, com o mandamento do amor.
 E ele a reduz a umas obrigações, para estar em dia com Deus...

+ O Publicano é modelo do homem humilde, que se reconhece pecador.

Sente necessidade de Deus, confia nele e lhe oferece seu pobre coração abatido.

* Aceita com humildade os meios da Confissão, da Missa e da Comunhão.
   Não se considera melhor do que os outros... Nem os julga...

+ Os novos Fariseus...

O FARISAÍSMO é uma atitude religiosa que nos impede de ver-nos como somos
e deturpa nossa relação com Deus e com os irmãos.
Ninguém está isento da contaminação dessa perene soberba humana.

PUBLICANOS são todos aqueles que tomam consciência de seus erros
e pedem perdão.
- Quais são os sentimentos que animam o nosso coração na Oração?

Missão e Partilha...
Nesse DIA MUNDIAL DAS MISSÕES, o papa nos lembra que...  "é uma ocasião para renovar o compromisso de anunciar o Evangelho
e conferir às atividades pastorais ampla conotação missionária...
 'Queremos ver Jesus' é um apelo atual... Os homens de nosso tempo
pedem aos fiéis que não apenas "falem" de Jesus, mas "apresentem",
fazendo resplandecer o seu rosto, em todos os cantos da terra...
A Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua Missão. Uma Igreja autenticamente eucarística é uma igreja missionária:
'O que vimos e ouvimos, nós agora o anunciamos a vocês,
para que vocês estejam em comunhão conosco' (1Jo 1,3)...
O impulso missionário sempre foi sinal de vitalidade para as nossas Igrejas e                 a sua cooperação é testemunho singular de unidade, fraternidade e solidariedade, que torna críveis os anunciadores do Amor que salva".

                                            Pe. Antônio Geraldo

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PISTAS: 1) No domingo anterior vimos a constância na oração; hoje contemplamos como a sinceridade e humildade conquistam o favor divino. Não basta qualquer oração; é necessário que saia do fundo da indigência humana para provocar a ação divina. O fariseu busca um Deus que aprove sua vida e nada pede. Nada necessita: é a oração do auto-suficiente. Deus nada tem a fazer diante de semelhante atitude.
2) Devemos modificar nossa maneira de julgar nossos semelhantes. Geralmente fixamos nossa atenção nos seus defeitos, nos seus pecados, nos seus vícios. Por que não olhar neles as coisas boas, as excelências, as virtudes? Sem dúvida que seremos mais justos e teremos uma visão mais otimista do mundo.
3) No mal, no pecado, achamos a miséria humana, a derrota, a impotência, quando não a ignorância, nunca a grandeza. É a mesma miséria que encontramos na doença, no sofrimento, na morte. Se esta última nos oferece uma palavra de compaixão e de desculpa, por que não desculpamos e perdoamos a pessoa que comete esse mal, que, por outra parte, tão absolutamente reprovamos?
4) O perdão é o maior dom que podemos receber de Deus. A humildade, o reconhecimento de nossa insignificância, é a mais excelente disposição para recebê-lo. E todos necessitamos desse perdão.
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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa
No Domingo passado, a Palavra de Deus nos falava da oração. Vimos, naquela ocasião, que rezar nos coloca diante de Deus com toda a nossa vida: a oração é a atitude fundamental do homem de fé. Quem não reza é ateu, fechado em si, na sua auto-suficiência. Para quem não reza – ou não reza de verdade, com espírito de orante -, Deus não passa de um objeto. Neste sentido, Santo Agostinho dizia que “a fé não é para os soberbos, mas para os humildes”. Somente aquele que se sabe pequeno e frágil, imperfeito e limitado diante de Deus reza de verdade. Por isso o Eclesiástico afirma que “a prece do humilde atravessa as nuvens”. E aqui não se trata simplesmente de uma oração de momento, mas de uma atitude de vida: atravessa as nuvens os desejos do coração daquele que vive a vida diante de Deus e não fechado em si mesmo: “Bendirei o Senhor Deus em todo tempo, seu louvor estará sempre em minha boca!” – Vejam: é este o verdadeiro orante, porque é este o verdadeiro crente: aquele que sabe bendizer a Deus em todo o tempo – seja no tempo bom, seja no mau. “Seu louvor estará sempre em minha boca!”
Pensando nisso, meditemos na parábola de Jesus, sobre a atitude dos dois homens que sobem ao Templo para rezar… Por que Jesus a contou? Contou-a “para alguns que confiavam na sua própria justiça, isto é, na sua própria retidão, nos seus próprios méritos, na sua própria santidade e desprezavam os outros”. Como reza o fariseu? Santo Agostinho explica que ele nem sequer reza: “Procura nas suas palavras o que ele pediu. Não encontras nada! Foi para rezar, mas não rezou a Deus; só louvou a si próprio! Mais ainda: não lhe bastou não rezar, não lhe bastou louvar a si próprio e ainda insultou aquele que rezava de verdade!” O fariseu, na verdade, é incapaz de uma verdadeira comunhão com Deus: ele somente tem a si próprio ante seus olhos, ele é o seu próprio Deus, a sua própria satisfação e, quando se mede com os outros, é para insultar e desprezar interiormente… Bem diferente de Jesus, que tinha tudo para nos acusar e, no entanto, quando nos olha, é para ter compaixão, para perdoar, para nos estender a mão.
E o publicano? Qual a sua atitude? “Ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”’ De modo poético, diz Santo Agostinho que “o remorso o afastava, mas a piedade o aproximava; o remorso o rebaixava; mas a esperança o elevava”. Eis a atitude do homem aberto para Deus, daquele que se vê na luz do Senhor: tem consciência do seu nada, da sua miséria, do seu pecado, mas sabe que é amado por Deus; sabe que o que de bom possui e faz é dom da graça do Senhor! E porque assim vive e assim procede, esse pobre pecador experimenta a misericórdia de Deus, daquele que, como diz o Salmo, “volta sua face contra os maus, para da terra apagar sua lembrança. Do coração atribulado ele está perto e conforta os de espírito abatido” . Como termina a parábola? Deixem-me ainda citar Santo Agostinho: “Escutaste o contraste entre o fariseu e o publicano; escuta agora a sentença. Escutaste o soberbo acusador e o réu humilde. Escuta, agora, o Juiz: ‘Em verdade eu vos digo: aquele publicano saiu do templo justificado, não o fariseu’. Senhor, dize-nos o motivo! Perguntas o por quê? Eis: ‘ Porque quem se exalta, será humilhado, e quem se humilha, será exaltado’. Ouviste a sentença; guarda-te bem de caíres no motivo; ouviste a sentença; preserva-te da soberba!”
Meus caros, não é esta a nossa grande tentação? Achar que somos bons, que somos justos diante de Deus, que mereceríamos um prêmio de honra ao mérito. E, ainda mais: do alto da nossa auto-suficiência, quantas e quantas vezes julgamos, condenamos e executamos os outros! No entanto, se nos recordássemos os nossos pecados com sinceridade, como o publicano, não nos acharíamos grandes diante de Deus e não julgaríamos nem condenaríamos, como o fariseu. Pensemos nos tantos benefícios que do Senhor recebemos, pensemos nos nossos pecados e na nossa preguiça para amá-lo como ele deve ser amado, pensemos nas nossas incoerências e infidelidades, pensemos nas nossas fraquezas… Se assim o fizermos, não teremos a pretensão de merecer nada diante de Deus, seremos humildes e também mais compreensivos com as fraquezas dos irmãos. Nunca percamos de vista o seguinte: aquele que se acha merecedor diante do Senhor, merece, na verdade somente a sua repreensão, pois ainda não compreendeu de fato que Deus nos amou primeiro e não só nos chamou à vida, como também deu-nos o seu Filho quando ainda estávamos nos nossos pecados! Estejamos atentos ao exemplo de São Paulo, na segunda leitura de hoje. Ele, que tinha tanto de se gloriar, porque combateu o bom combate, com toda humildade esperou do Senhor o prêmio da coroa da justiça. Que diferença do fariseu! Este, confiava na sua própria justiça; o Apóstolo esperou na justiça do Senhor. Por isso, na fraqueza experimentou a força do Senhor e, na tribulação, experimentou que o Senhor lutou por ele…
Que este mesmo Senhor nos dê a graça de um coração humilde, que coloque somente nele a confiança, o repouso e a esperança da salvação. Assim, seremos livres da soberba e justos diante de Deus. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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Homilia do Mons. José Maria

Oração: Autêntica ou Falsa?

“A oração do humilde atravessa as nuvens”, diz Eclo 35, 21: sobe até Deus e desce cheia de frutos.
Em Lc 18, 9 – 14 Jesus põe em confronto a oração do soberbo e do humilde, contando-nos a parábola do fariseu e do publicano.
Antes de narrar a parábola, São Lucas preocupa-se em mencionar que Jesus falava a uns que confiavam em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros. O Senhor fala de dois personagens bem conhecidos de todos os ouvintes: Subiram dois homens ao Templo para orar: um fariseu e outro publicano. Percebeu-se logo que, embora ambos tenham ido ao Templo com a mesma finalidade, um deles não fez oração. Não falou com Deus num diálogo amoroso, mas consigo próprio. Na sua oração, não há amor como também não há humildade. Está de pé, dá graças pelo que faz, mostra-se satisfeito. Compara-se com os outros e considera-se mais justo, melhor cumpridor da Lei. Parece não necessitar de Deus. Na oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo… Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si. Sua Salvação não é dom de Deus, mas conquista de suas  “boas obras”.
O publicano “ficou de longe, e por isso Deus aproximou-se dele mais facilmente. Não atrevendo a levantar os olhos ao céu, tinha já consigo Aquele que fez os céus… Que o Senhor esteja longe ou não, depende de ti. Ama e se aproximará” (Santo Agostinho). O publicano conquistou a Deus pela sua humildade, pois “Ele resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes” (Tg 4, 6). Não se considera melhor do que os outros… Nem os julga… Sua oração é breve: resume-se em pedir perdão.
Efetivamente, a humildade é o fundamento do nosso trato com Deus.
“Deus gosta – ensina Santo Afonso Maria de Ligório – de que trateis familiarmente com Ele. Tratai com Ele dos vossos assuntos, dos vossos projetos, dos vossos trabalhos, dos vossos temores e de tudo o que vos interesse. Fazei-o com confiança e com o coração aberto, porque Deus não costuma falar à alma que não lhe fala.” Mas falemos-Lhe com a simplicidade da humildade.
Jesus começa a parábola do fariseu e o publicano (Lc 18, 1) insistindo em que é preciso orar sempre! O Mestre quer dizer-nos de muitas maneiras que a oração é absolutamente necessária para segui-Lo e para empreender qualquer tarefa cujo valor permaneça para além desta vida passageira.
Nos começos do seu Pontificado, o Papa João Paulo II declarava: “A oração é para mim a primeira tarefa e como que o primeiro anúncio; é a primeira condição do meu serviço à Igreja e ao mundo.” E acrescentava: “Todos os fiéis devem considerar sempre a oração como a obra essencial e insubstituível da sua vocação… Sabemos bem que a fidelidade à oração ou o seu abandono são a prova da vitalidade ou da decadência da vida religiosa, do apostolado, da fidelidade cristã.” Sem oração, não poderíamos seguir o Senhor no meio do mundo. A oração é tão indispensável como o alimento ou a respiração para a vida do corpo.
Façamos um exame, uma reflexão, sobre como estamos rezando! Examinemos hoje se a nossa oração, o nosso trato diário com Jesus, vivifica o nosso trabalho, a vida familiar, a amizade, o apostolado… Sabemos que tudo é diferente quando primeiro falamos com o Mestre. É na oração que o Senhor dá luzes para entender as verdades.
Peçamos ao Senhor a graça de termos zelo, amor, pelos tempos de oração, que defendamos os tempos dedicados à oração, “estando a sós com quem sabemos que nos ama” (Santa Teresa), pois dela tiramos forças para santificar os nossos afazeres diários, para converter em graça as contrariedades e para vencer todas as dificuldades. A nossa fortaleza está na proporção do nosso trato com o Senhor.
Não deixemos nunca a oração! Escreve Santa Teresa: “Outra coisa não me parece perder o caminho senão abandonar a oração.” Não devemos ficar preocupados se algumas vezes a oração se torna árida, não experimentamos nenhum sentimento especial enquanto tentamos rezar. No tratado sobre a oração, ensina São Pedro de Alcântara: “Para quem se empenha seriamente em fazer oração, virão tempos em que lhe parecerá vaguear por um deserto e, apesar de todos os esforços, não sentir nada de Deus. Deve saber que essas provas não são poupadas a ninguém que tome a oração a sério [...]. Nesses períodos, deve esforçar-se firmemente por manter a oração, que ainda que possa dar-lhe a impressão de um certo artificialismo, é na realidade algo completamente distinto: é precisamente nessa altura que a oração constitui uma expressão de sua fidelidade a Deus, na presença do qual quer permanecer mesmo que não seja recompensado por nenhuma consolação subjetiva.”
“É a presença silenciosa de Deus na base do nosso pensamento, da nossa reflexão e do nosso ser, que impregna toda a nossa consciência.” (Bento XVI)
A oração ajudará a ser “Discípulos-Missionários”
Mons. José Maria Pereira
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Homilia do Padre Françoá Costa

Conhecimento próprio

A falta de conhecimento próprio é causa de muitos erros na nossa vida. Pensamos que somos o que não somos e não consideramos o que realmente somos. Frequentemente sofremos à toa, simplesmente porque não nos conhecemos. O desconhecimento de quem somos pode levar-nos inclusive à depressão quando vemos a nossa imagem desfigurada por alguém. O que acontece é que essa imagem que formamos de nós mesmos não é a nossa verdadeira imagem, mas uma mera caricatura. Não serve para nada! Qual é a nossa verdadeira imagem, então?
A falta de conhecimento próprio pode levar-nos tanto à baixa estima quanto à vanglória. Alguns “se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros” (Lc 18,9). Vangloriamo-nos, isto é, temos uma glória vã, porque não nos conhecemos. Uma das consequências é a falta de critério em relação às nossas ações e às dos outros: excessivo rigor para com os outros, extrema misericórdia para conosco mesmos. São Josemaría Escrivá deixou escrito: “Nunca queres esgotar a verdade”. – Umas vezes, por correção. Outras – a maioria-, para não passares um mau bocado. Algumas, para evitá-lo aos outros. E, sempre, por covardia. Assim, com esse medo de aprofundar, jamais serás homem de critério” (Caminho 33).
Não adianta! Enganar-nos a nós mesmos não é o caminho. Conta-se que Dionísio I de Siracusa pensava de si mesmo que era um poeta excelente, tanto era assim que um belo dia se alegrou de ler os seus versos diante de Filoxeno, um autêntico poeta. Ao terminar, o poeta criticou os versos de Dionísio. Este, como um verdadeiro tirano e sem respeito à opinião dos outros, mandou prender a Filoxeno sem maiores explicações. Mas, depois de alguns dias, compôs outros versos e tanta foi a sua curiosidade em saber a opinião de Filoxeno que o mandou trazer da prisão e leu novamente as rimas que compusera. O poeta, depois de escutar, disse aos guardas que o tinha conduzido à presença do rei: “Devolvei-me à prisão”.
Como conhecer-nos a nós mesmos? Em primeiro lugar, dispondo-nos a obter esse conhecimento com humildade para aceitar-nos como somos. Deus nos ama não apesar de sermos dessa ou daquela maneira, mas com tudo o que somos e temos. É diante de Deus que alcançaremos o verdadeiro conhecimento sobre nós mesmos, pois nos conhece melhor que nós mesmos. Em segundo lugar é muito importante perder o medo de chamar as coisas pelo nome: soberba, preguiça, gula, luxúria, etc. Nada de eufemismos como: autoafirmação do eu, falta de disposição, apetite abundante para a mesa ou para a cama etc. Quando não tivermos medo de saber quem somos, isto é, sem assustar-nos e quando saibamos conviver pacificamente conosco mesmos, lutando por ser melhores, o nosso conhecimento próprio irá de progresso em progresso.
É interessante que às vezes não dizemos algumas verdades às pessoas porque sabemos que vão se ofender ou que ficarão brabas, ou ainda, que deixarão de falar conosco. Será que Deus não nos dá um maior conhecimento sobre nós mesmos porque sabe que ficaríamos irritados, não nos aceitaríamos ou, ainda, colocaríamos a culpa nele? Como é importante dizer ao Senhor: “Pode me mostrar, Senhor, quem sou eu. Por favor, me mostra pouco a pouco, à medida que me prepares, mas, não deixe de fazer com que eu progrida nesse conhecimento”. A sinceridade com Deus é muito importante, e o mesmo se diga da sinceridade para com os demais. Dessa maneira, seremos homens e mulheres de critério, de personalidade, firmes.
Os santos se consideravam tão pouca coisa e, ao mesmo tempo, era muito conscientes da sua dignidade de filhos de Deus, a tal ponto de ignorar as ofensas pessoais que os outros pudessem dirigir-lhes. Sabiam que qualquer coisa que os outros pudessem dizer deles ainda era pouco diante daquele conhecimento que Deus lhes ia concedendo. E, no entanto, esse conhecimento os mantinha em paz porque estava fundamentado no fato de sentirem-se filhos muito amados de Deus e na humildade cada vez maior que Deus lhes concedia.
Ao conhecermo-nos a nós mesmos, tampouco iremos por aí alardeado: pobre de mim! Eu sou tão pequeno, tão humilde, não sei fazer nada. Uma das frases mais bonitas daquele delicioso romance de Dickens, David Cooperfield, é a seguinte: “estou convencido que o homem que sabe o que vale não deixa de ser modesto”, com autêntica modéstia e com otimismo.
Para ajudar no nosso conhecimento próprio, um propósito que poderíamos fazer nesse domingo é o de realizar, diariamente, o nosso exame de consciência. Talvez sejam úteis essas três perguntinhas: no dia de hoje, o que eu fiz de bom? O que eu fiz de mal? O que eu posso fazer melhor? A cada uma dessas perguntas correspondem três atitudes, respectivamente: agradecer, pedir perdão, pedir ajuda.
Pe. Françoá Costa
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e Ministros da Palavra):



LOUVOR: QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR:
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, por Jesus e em Jesus, NA FORÇA DO ESP. SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade!
- Pai, agradecemos a nossa existência e toda a criação. Agradecemos o envio do Vosso Filho para nos instruir e salvar. Nós vos louvamos e Vos bendizemos. Dai-nos um coração humilde para que reconheçamos vossa bondade.
 T: louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade!
- Pai, hoje vimos o exemplo de Paulo que, após a sua conversão, empenhou-se por evangelizar a todos. Gastou a vida e por fim derramou seu sangue. Que saibamos, a seu exemplo, sermos mais dedicados a evangelizar e a construir uma sociedade mais justa. Pai, dai-nos força e coragem.
T: louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade!
- Pai, sabemos que escutais o coração arrependido, pois sois amor e misericórdia. Enviai o Espírito Santo para que nos transformemos em testemunhas do Evangelho. Que saibamos ser mais justos e amorosos. Dai-nos humildade e amor para sermos bons instrumentos em vossas mãos na construção do Reino.
T: louvor e glória a Vós, ó Pai de bondade!
 - PAI NOSSO... A PAZ... EIS O CORDEIRO...