31º Domingo do Tempo Comum ano
C (Adaptado pelo Diácono Ismael)
SINOPSE:
TEMA: Deus ama a todos,
mesmo os pecadores.
Primeira leitura: Mostra que Deus criou tudo e ama cada ser que saiu das suas mãos.
Evangelho: um homem pecador, que se encontrou com Jesus e deixou-se
transformar pelo amor e tornou-se generoso, capaz de partilhar os seus bens.
Segunda leitura: faz referência ao amor de Deus e avisa para que não se
deixem manipular por fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho
normal do cristão.
PRIMEIRA LEITURA
(Sb 11,22–12,2) Leitura do Livro da Sabedoria.
Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão
de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra.
Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fecha os olhos aos
pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe e não
desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa, não a terias
criado. Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses
querido? Ou como poderia ser mantida, se por ti não fosse chamada? A todos,
porém, tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida, O teu
espírito incorruptível está em todas as coisas! É por isso que corriges com
carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se
afastem do mal e creiam em ti, Senhor.
AMBIENTE - O “Livro da Sabedoria” é da primeira metade do séc. I
a.C.. O seu autor, um judeu de língua grega, faz o elogio da “sabedoria”
israelita e descreve as sortes diversas que tiveram os egípcios (idólatras) e o
hebreus (fiéis a Jahwéh). O seu objetivo é duplo: dirigindo-se aos seus
compatriotas judeus, convida-os a redescobrirem a fé e os valores judaicos;
dirigindo-se aos pagãos, convida-os a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único
Deus… só Jahwéh garante a verdadeira “sabedoria”, a verdadeira felicidade. Compara
os castigos que Deus lançou contra aos “ímpios” (os pagãos) e a salvação
reservada aos “justos” (o Povo de Deus). Manifesta o seu espanto de que o
castigo de Deus sobre os egípcios tenha sido tão moderado e benevolente. Porque
é que Deus foi tão moderado e não exterminou totalmente os egípcios? É a essa
questão que o nosso texto responde.
MENSAGEM - O autor encontra três razões para justificar a moderação e
a benevolência de Deus.
1: a grandeza
e a onipotência de Deus. Quem é grande e poderoso, não se sente incomodado.
Percebe as razões do agir do homem; daí resulta a tolerância e a misericórdia.
2: a lógica
do perdão; Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e
viva; por isso, “fecha os olhos” diante do pecado e o convida ao
arrependimento…
3: o amor a
todas as criaturas. A criação foi a obra de amor de um pai; e esse pai ama
todos os seus filhos. Ele se preocupa, corrige, perdoa as faltas e faz
comunhão.
ATUALIZAÇÃO ♦ O Deus é benevolente e tolerante, cheio de bondade e
misericórdia, que não quer a destruição do pecador, mas a sua conversão e que
ama todos os homens que criou, mesmo aqueles que praticam ações erradas.
♦ Qual é a nossa atitude para com aqueles que
nos fizeram mal?
SALMO RESPONSORIAL / 144 (145)
Bendirei
eternamente vosso nome; / para sempre, ó Senhor, o louvarei!
• Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu Rei, / e
bendizer o vosso nome pelos séculos. / Todos os dias haverei de bendizer-vos, /
hei de louvar o vosso nome para sempre.
• Misericórdia e piedade é o Senhor, / Ele é amor, é
paciência, é compaixão. / O Senhor é muito bom para com todos, / sua ternura
abraça toda criatura.
• Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, / e os
vossos santos com louvores vos bendigam! / Narrem a glória e o esplendor do
vosso reino / e saibam proclamar vosso poder! • O Senhor é amor fiel em sua
palavra, / é santidade em toda obra que ele faz. / Ele sustenta todo aquele que
vacila / e levanta todo aquele que tombou.
EVANGELHO (Lc 19,1-10) Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo Jesus tinha entrado em Jericó e estava
atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos
cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas
não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à
frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando
Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje
eu devo ficar na tua casa.” Ele desceu depressa e recebeu Jesus com alegria. Ao
ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de
um pecador!” Zaqueu ficou de pé e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos
meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais.”
Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é
um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que
estava perdido.”
AMBIENTE - Mais uma vez, um publicano que se considerava um pecador
público, um colaborador dos opressores romanos e, portanto, um excluído da
comunidade da salvação.
MENSAGEM - Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens e fez
gestos concretos para a libertação a todos os homens. Zaqueu um pecador
público, excluído e considerado amaldiçoado por Deus. Este homem procurava “ver”
Jesus. O “ver” indica aqui mais do
que curiosidade: indica uma procura intensa, uma ânsia de descobrir o “Reino”,
que Jesus anunciava. O subir “a um
sicômoro” indica a intensidade do desejo de encontro com Jesus. Jesus começa
por provocar o encontro; sugere a Zaqueu que está interessado em entrar
em comunhão com Ele (“«Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua
casa»”). Jesus, rodeado pelos “puros” que escutam a sua Palavra, deixa todos
no meio da rua para estabelecer contato na sua casa. É a exemplificação
prática do “deixar as noventa e nove ovelhas para ir à procura da que estava
perdida”… Como é que a multidão reage a isto? A sua desaprovação dizendo: «foi
hospedar-se em casa de um pecador»”. É a atitude de quem se considera “justo” e
despreza os outros, de quem está instalado nas suas certezas, de quem está
convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização,
de exclusão. Jesus demonstra-lhes a lógica de Deus que não exclui nem
marginaliza ninguém. Como é que tudo termina? Termina com um banquete (onde
está Zaqueu) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar sentar-Se à mesa
com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no “banquete do Reino”; a
todos oferece a salvação. E como Zaqueu reage? Acolhendo e convertendo-se ao
amor. A repartição dos bens pelos pobres e a restituição de tudo o que foi
roubado em quádruplo. Repare-se, no entanto, que Zaqueu só se resolveu a ser
generoso após o encontro com Jesus e após ter feito a experiência do amor de
Deus. Foi o amor de Deus – que Zaqueu experimentou quando ainda era pecador –
que provocou a conversão e que converteu o egoísmo em generosidade. Prova-se,
assim, que só a lógica do amor pode transformar o mundo e os corações dos
homens.
ATUALIZAÇÃO ♦ A questão central é a universalidade do amor de Deus. Deus
ama todos os seus filhos sem exceção. Além disso, o amor de Deus não é
condicional: Ele ama, apesar do pecado; e é precisamente esse amor que, uma vez
experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador. É esta Boa
Nova de um Deus que somos convidados a anunciar, com palavras e gestos.
♦ As
atitude dos crentes em relação aos pecadores muitas vezes não está em
consonância com a lógica de Deus… Muitas vezes, em nome de Deus, os crentes ou
as Igrejas marginalizam e excluem, assumem atitudes de censura, de crítica, de
acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, o afastam mais e o
levam a radicalizar as suas atitudes de provocação. Só o amor gera amor e que
só com amor – não com intolerância ou fanatismo – conseguiremos transformar o
mundo e o coração dos homens. ♦ Testemunhar o Deus que ama e que
acolhe todos os homens não significa pactuar com o que está errado. O pecado
deve ser combatido e vencido. No entanto, distingamos entre pecador e pecado:
Deus convida-nos a amar todos os homens e mulheres, inclusive os pecadores; mas
chama-nos a combater o pecado que enfeia o mundo e que destrói a felicidade do
homem.
Eu quero
realmente ver Jesus? – perguntava o Papa João Paulo II ao comentar esta
mensagem do Evangelho –, faço tudo o que posso para poder vê-Lo?
O
encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os outros, a compartilhar com
quem está mais necessitado o muito ou o pouco que temos?
Jesus
estava “atravessando a cidade” de Jericó. Séculos atrás, outro Jesus atravessou
Jericó. Refiro-me a Josué. Sabe-se que a palavra Jesus é a transcrição grega da
palavra Yeschowah, que significa “O Senhor (Javé) é o Salvador”. Os nomes de
Jesus e de Josué são, portanto, o mesmo nome.
Durante
seis dias, o Povo de Deus dava uma volta ao redor de Jericó; no sétimo dia,
porém, sete voltas, toque de trombetas, gritos do povo e muralha ao chão.
Jericó já estava derrotada! A Sagrada Escritura nos diz que eles “tomaram a
cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se
encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas
e os jumentos” (Js 6,21). Barbaridade!
No Novo
Testamento, o Novo Josué não tinha como objetivo destruir os muros de Jericó, o
que Jesus queria era derrubar os muros do coração de Zaqueu que, por contraste,
“era de baixa estatura” (Lc 19,3). Ademais,
Zaqueu não pôs resistência ao chamado de Jesus. Zaqueu era uma dessas pessoas que
podemos chamar “um homem de boa vontade”: ele queria ver a Jesus.
Deixemos que Jesus passe pelas nossas vidas. Ele não quer entrar na
nossa cidade interior como entrou Josué em Jericó, mas à semelhança do que
aconteceu com Zaqueu. Tanto é assim que se nós não deixarmos cair as muralhas
do nosso coração, ele não entrará.
SEGUNDA LEITURA
(2Ts 1,11–2,2) Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses.
Irmãos, não cessamos de rezar por vós, para que o
nosso Deus vos faça dignos da sua vocação. Que ele, por seu poder, realize todo
o bem que desejais e torne ativa a vossa fé. Assim o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e
do Senhor Jesus Cristo. No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e
à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos, não deixeis tão facilmente
transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação, ou
carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo.
AMBIENTE
Paulo chegou a Tessalônica pelo ano
50. mas os judeus – incomodados pelo testemunho de Paulo – sublevaram a
multidão e o apóstolo teve de abandonar a cidade. Paulo enviou Timóteo a
Tessalônica, para saber notícias e encorajar os cristãos… Quando Timóteo voltou,
Paulo estava em Corinto. As notícias eram boas: os tessalonicenses continuavam
a viver com entusiasmo a fé e a dar testemunho de Jesus. Havia, apenas, algumas
questões de doutrina que os preocupavam – nomeadamente a questão da segunda
vinda do Senhor. Paulo decidiu-se, então, a escrever aos cristãos de
Tessalônica, animando-os a viverem na fidelidade ao Evangelho e esclarecendo-os
quanto à doutrina sobre o “dia do Senhor”.
MENSAGEM - Dois temas: O primeiro uma súplica de Paulo, para que os
tessalonicenses; o segundo refere-se à vinda do Senhor. A primeira o papel de
protagonista que Deus desempenha na salvação do homem. Não basta a boa vontade;
é preciso que Deus acompanhe os esforços do crente e lhe dê a força de
percorrer até ao fim o caminho do Evangelho. A segunda parte é o início da
doutrina sobre o “dia do Senhor”. A intenção de Paulo é desautorizar alguns
fanáticos que anunciavam a iminência do fim do mundo… Isto provocava
perturbações na comunidade, porque demitiam-se das suas responsabilidades e esperavam
ociosamente o acontecimento.
ATUALIZAÇÃO - ♦ No nosso caminho pessoal Deus está sempre no princípio, no
meio e no fim. É Ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada e nos espera
no final para nos dar a vida plena.
♦ é preciso discernir o certo do errado. O
caminho para discernir o certo do errado está na Palavra de Deus e numa vida de
comunhão e de intimidade com Deus.
(Dehonianos)
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O Olhar de Jesus...
Com frequência, somos levados a
olhar nas pessoas só os aspectos negativos...
Como é o OLHAR DE DEUS?
Na 1ª Leitura, vemos o
Olhar de Deus:
"Os olhos de Deus são diferentes dos nossos". (Sb 11,22-12,2)
O autor sagrado manifesta o seu
espanto porque o castigo de Deus sobre os egípcios tinha sido moderado e
benevolente.
E encontra três razões para
justificar essa benevolência de Deus:
1. Ele é paciente porque é grande
e poderoso...
Não se sente incomodado pelos
atos dos que são pequenos e finitos.
Daí resulta a tolerância e a
misericórdia...
2. Ele não quer a morte do
pecador, mas a sua conversão.
Por isso: "Deus fecha os olhos" diante do
pecado do homem, a fim de convidá-lo ao arrependimento.
3. Deus ama todas as criaturas:
Porque tudo é obra de suas mãos...
Ele não está interessado em
castigar os homens.
* Essa imagem do amor e da
misericórdia de Deus deve nos impregnar e transparecer em gestos para com os
nossos irmãos.
Na 2ª Leitura, vemos o Olhar
de São Paulo. (2Tm 1,11-22)
O Apóstolo lembra que Deus é o
protagonista na salvação do homem.
Deus está sempre no princípio, no meio e no fim...
É ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada; é ele quem nos
espera no final do caminho, para nos dar a vida plena.
* A salvação não é uma conquista nossa, mas um dom de Deus
No Evangelho vemos o Olhar de Jesus, no encontro com Zaqueu. (Lc 19,1-10)
+ ZAQUEU é chefe dos Publicanos, um chefe de ladrões...
insignificante aos olhos dos homens, desprezado e rejeitado da
comunidade...
- Este homem procurava "ver Jesus".
O "Ver" indica aqui
mais do que curiosidade, indica uma procura intensa de algo novo, uma ânsia de
descobrir o "Reino", um desejo de fazer parte dessa comunidade de
Salvação que Jesus anunciava.
- No entanto, o Mestre rodeado
desses "puros" e "santos", que desprezavam os marginais
como ele.
- O "subir num
sicômoro" indica um desejo muito forte de encontro com Jesus, disposto a
enfrentar até o ridículo ou as vaias da multidão.
+ JESUS vai ao Encontro dele; deixa o grupo dos "fiéis" e
preocupa-se com o "pecador". Ergue os olhos e vê o
"pequeno"... Chama-o pelo nome: Zaqueu
("puro").
Ele se autoconvida: "Desce depressa... porque hoje preciso
ficar em tua casa".
+ A atitude de Jesus provoca uma
REAÇÃO:
- A Multidão murmura
escandalizada: "Foi hospedar na casa
de um pecador".
- Zaqueu acolhe com
alegria o hóspede... Prepara um "Banquete"...
E, comovido, faz um pequeno
discurso, em que manifesta a sua transformação.
Está disposto a repartir os seus
bens com os pobres e restituir quatro
vezes mais o que tinha roubado...
Zaqueu só se aquietou quando conseguiu VER JESUS e acolhê-lo em sua
casa e em seu coração.
+ CRISTO conclui: "Hoje
entrou a salvação nesta casa..."
Passos: - Zaqueu deseja ver Jesus... e vai à
procura;
- Jesus percebe o interesse e vai ao
encontro: Convida-se...
- Acolhido... Zaqueu acolhe
Jesus e também os pobres: a Salvação.
* Zaqueu só resolveu ser
generoso após o encontro com Cristo e após ter feito a experiência do AMOR DE DEUS.
O amor de Deus não se derramou
sobre Zaqueu depois de ele ter mudado.
O que provocou a conversão de
Zaqueu foi o amor de Deus, quando ainda era pecador. Converteu-se, quando se
sentiu amado...
Prova-se assim que o amor pode
transformar o mundo e o coração dos homens.
Hoje Cristo continua batendo à
porta de nossa casa. Ele deseja cear conosco para nos libertar de tudo o que
nos aprisiona e impede o nosso crescimento da vida de fé e de comunidade.
Abrindo as portas de nossa casa
para acolher Jesus, abrimos também os ouvidos e o coração ao anúncio da Boa
nova.
É esse Deus de amor que devemos
anunciar com palavras e gestos.
Só o amor gera amor e só com o
amor conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens.
Deus nos convida a amar todos os
homens, inclusive os pecadores; mas nos chama a combater o pecado, que enfeia o
mundo e destrói a felicidade do homem.
Qual é o nosso Olhar para com os que se sentem excluídos e
marginalizados
até pelos "fiéis" de
nossas Comunidade?
- Um olhar severo e feroz, como
o do povo, que julga e condena?
- Ou um olhar meigo, como o de
Jesus, que convida a celebrar num
"Banquete", com muito amor e acolhida?
Pe.
Antônio Geraldo
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Homilia
de Dom Henrique Soares da Costa
Comecemos nossa meditação da Palavra deste
Domingo pelo Evangelho. Aí, a miséria corre para ver a Misericórdia, o homem
corre para encontrar Deus…
Quem é este Zaqueu, este baixinho ansioso do
Evangelho de hoje? É um publicano – como o homem que rezava compungido no
Domingo passado. Um publicano é um pecador público, cobrador de impostos para
os romanos e, por isso, odiado pelos judeus. Os publicanos muitas vezes
extorquiam o povo. Talvez fosse o caso de Zaqueu, pois ele “era chefe
dos publicanos e muito rico”. Certamente, tanto mais odiado quanto mais
rico…
Pois bem, é um homem assim que correu e subiu
numa figueira para ver o Senhor. Imaginemos a cena: Zaqueu esquece sua pose,
sua respeitabilidade, sua posição. Aquele homem rico devia também ser sozinho,
amargurado na sua riqueza, que o tornava um rejeitado por todos e um excluído
da comunidade do Povo de Deus. Zaqueu certamente ouvira falar de Jesus, de sua
misericórdia, de sua bondade, de sua mansidão. Não era ele que acolhia os
pecadores? Não era ele que comia com os publicanos? Não tinha ele um publicano,
Mateus, como um dos Doze? Por isso, não hesita em subir numa figueira, não tem
medo do ridículo! Quer ver Jesus, nem que fosse às escondidas… Quem dera que
fôssemos assim, que não deixássemos o Senhor passar em vão no caminho da nossa
vida! E aí vinha Jesus… O coração de Zaqueu certamente disparou… Jesus vai
passando, acompanhado, cercado por uma multidão barulhenta. Aí, então, para
surpresa de todos e desespero de Zaqueu, ele para, olha pra cima… Imaginemos os
risos, a mangação, a situação de ridículo na qual o pobre Zaqueu encontrou-se!
Mas, Jesus é surpreendente – ele sempre nos surpreende; ele é maravilhosamente
surpreendente! “Zaqueu – chama-o pelo nome. Conhecia-o! –
Desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa!” Era demais para Zaqueu: o
mundo desaparecera; a mangação não tinha importância… Naquela hora, naquele
momento só existiam Jesus e ele! E Jesus o chamava pelo nome! Enquanto todos o
rejeitavam, Jesus, chamava-o pelo nome, como a um amigo, como a um conhecido, e
oferecia-se para se hospedar na sua casa! “Ele desceu depressa, e
recebeu Jesus com alegria”. Contemplemos o amor de Deus, amor
misericordioso, que alegra, renova, transforma a existência e dá um novo
sentido para a vida!
Qual o resultado desta visita do Senhor, deste
acolhimento de Zaqueu? “Senhor, eu dou a metade de meus bens aos
pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais!” Zaqueu
fizera experiência do amor de Deus, Zaqueu acolhera esse amor, deixara-se amar
e, agora, transborda em arrependimento, amor e misericórdia para com os outros!
Que pena que não compreenderam isso, e começaram a murmurar contra Jesus…
Quem dera que da escuta da Palavra deste Domingo
aprendêssemos quem é o nosso Deus, como age seu coração, e como nós deveríamos
reagir! Pensemos no coração de Deus não a partir dos nossos sentimentos
mesquinhos, mas a partir das palavras comoventes do Livro da Sabedoria: um Deus
tão grande, tão imensamente maior que tudo quanto existe, tão imensamente para
lá de tudo quanto possamos imaginar… “Senhor, o mundo inteiro, diante
de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai
sobre a terra”. E, no entanto, ele se inclina com carinho sobre o mundo:
dele cuida, sustenta-o, compadece-se de suas criaturas e nos perdoa as
loucuras, ingratidões e pecados: “De todos tens compaixão, porque tudo
podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim,
amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se
odiasses alguma coisa não a terias criado”… Admirado, o autor sagrado
exclama: “A todos tu tratas com bondade, porque tudo é teu, ó Senhor,
Amigo da vida!” Que título comovente: Amigo da vida! Um Deus que somente é
glorificado na nossa alegria, na nossa vida! Um Deus que sorri com o sorriso de
Zaqueu, um Deus que se oferece para entrar na casa e no coração de um pecador
perdido!
Quem dera que sejamos como Zaqueu; que desejemos
vê-lo, que abramos para ele a nossa porta, que por seu amor mudemos nossa
atitude, como esse publicano. São Paulo deseja, na segunda leitura de hoje, que
o nome de Jesus seja glorificado em nós, na nossa vida… Seria, será glorificado,
se abrirmos essa nossa vida fechada, mesquinha e cansada para o Senhor. Ele vem
a nós cada dia, ele passa por nós de tantos modos: na Palavra, nos irmãos, nas
situações, nos desafios, nos sofrimentos, nas provas… Quem dera que o
reconhecêssemos, como Zaqueu… Saber acolhê-lo nas suas vindas é glorificá-lo
agora e preparar-se bem para a sua Vinda, no fim dos tempos, aquela da nossa
união definitiva com ele, de que fala o Apóstolo na leitura de hoje.
Que o Senhor nos dê a ânsia e a graça que
concedeu a Zaqueu. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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Homilia do Mons. José Maria
O Evangelho (Lc. 19, 1-10) fala-nos do encontro
misericordioso de Jesus com Zaqueu. O Senhor passa por Jericó, a caminho de
Jerusalém! Uma multidão apinhava-se nas ruas por onde o Mestre passava e lá no
meio da multidão encontrava-se um homem chefe dos publicanos e rico, bem
conhecido em Jericó pelo seu cargo.
Os publicanos eram cobradores de impostos. O
imposto era fixado pela autoridade romana e os publicanos cobravam uma
sobretaxa, da qual viviam. Isto prestava-se a arbitrariedades, razão pela qual
eram facilmente hostilizados pela população.
São Lucas diz que Zaqueu procurava ver Jesus
para conhecê-Lo, mas não podia por causa da multidão, pois era muito baixo. Mas
o seu desejo é eficaz! Para conseguir realizar o seu propósito, começa por
misturar-se com a multidão e depois, sem pensar no ridículo da sua atitude,
correndo adiante subiu a um sicômoro para ver Jesus, que devia passar por ali.
Não se importa com o que as pessoas possam pensar ao verem um homem da sua
posição começar a correr e depois subir numa árvore. É uma formidável lição
para nós que, acima de tudo, queremos ver Jesus e permanecer com Ele.
Que o
Senhor aumente em nós o desejo sincero de vê-Lo! Eu quero realmente ver Jesus?
– perguntava o Papa João Paulo II ao comentar esta mensagem do Evangelho –,
faço tudo o que posso para poder vê-Lo? Este problema, depois de dois mil
anos, é tão atual como naquela altura, quando Jesus atravessava as cidades e
povoados da sua terra. E é atual para cada um de nós pessoalmente: quero
verdadeiramente contemplá-Lo, ou não será que venho evitando encontrar-me com
Ele? Prefiro não vê-Lo ou que Ele não me veja? E se já o vislumbro de algum
modo, não será que prefiro vê-Lo de longe, sem me aproximar muito, sem me
situar claramente diante dos seus olhos…, para não ter que aceitar toda a
verdade que há nEle, que provém dEle?
Qualquer esforço que façamos por aproximar-nos
de Cristo é amplamente recompensado. Disse Jesus: “Zaqueu desce depressa! Hoje
Eu devo ficar na tua casa” (Lc 19, 5). Que alegria imensa! Zaqueu, que já se
dava por satisfeito de vê-Lo do alto de uma árvore, ouve Jesus chamá-lo pelo
nome, como a um velho amigo, e, e com a mesma confiança, fazer-se convidar para
sua casa. Comenta Santo Agostinho: “Aquele que tinha por coisa grande e
inefável vê-Lo passar, mereceu imediatamente tê-Lo em casa.” O Mestre, que
tinha lido no coração do publicano a sinceridade dos seus desejos, não quis
deixar passar a ocasião. Zaqueu descobre que é amado pessoalmente por Aquele
que se apresenta como o Messias esperado, sente-se tocado no íntimo do seu
espírito e abre o seu coração.
Zaqueu está agora com o Mestre, e com Ele tem
tudo. Mostra com atos a sinceridade da sua nova vida; converte-se em mais um
discípulo do Mestre.
O
encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os outros, a compartilhar
imediatamente com quem está mais necessitado o muito ou o pouco que temos.
“Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19, 9).
É um convite à esperança: se alguma vez o Senhor permite que passemos por
dificuldades, se nos sentimos às escuras e perdidos, temos de saber que Jesus,
o Bom Pastor, sairá imediatamente em nossa busca. Diz Santo Ambrósio: “O Senhor
escolhe um chefe de publicanos: quem poderá desesperar se ele alcançou a
graça?” O Senhor nunca se esquece dos seus.
A figura de Zaqueu deve ajudar-nos a nunca dar
ninguém por perdido ou irrecuperável.
Não duvidemos nunca do Senhor, da sua bondade e
do seu amor pelos homens, por muito extremas ou difíceis que sejam as situações
em que nos encontremos ou em que se encontrem as pessoas que queremos levar até
Jesus. A sua misericórdia é sempre maior do que os nossos pobres raciocínios.
Mons. José Maria Pereira
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Homilia do Padre
Françoá Costa
Uma das expressões que o Evangelho de hoje
utiliza parece-me de um grande valor significativo: Jesus estava “atravessando a cidade” de Jericó. Anos, decênios,
séculos, milênios atrás, outro Jesus atravessou Jericó. Refiro-me a Josué.
Sabe-se que a palavra Jesus é a transcrição grega da palavra Yeschowah, que
significa “O Senhor (Javé) é o Salvador”. Os nomes de Jesus e de Josué são,
portanto, o mesmo nome.
A narração da conquista de Jericó é
grandiloquente. A arca do Senhor presidia aquela imponente procissão, sete
sacerdotes tocavam as trombetas diante da arca e, diante dos sacerdotes, um
exército em ordem de batalha. Durante
seis dias, o Povo de Deus dava uma volta ao redor de Jericó; no sétimo dia,
porém, sete voltas, toque de trombetas, gritos do povo e muralha ao chão.
Jericó já estava derrotada! A Sagrada Escritura no diz que eles “tomaram a
cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se
encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas
e os jumentos” (Js 6,21). Barbaridade!
No Novo
Testamento, o Novo Josué não tinha como objetivo destruir os muros de Jericó, o
que Jesus queria era derrubar os muros do coração de Zaqueu que, por contraste,
“era de baixa estatura” (Lc 19,3). Ademais,
Zaqueu não pôs resistência ao chamado de Jesus. Zaqueu era uma dessas pessoas
que podemos chamar “um homem de boa vontade”: ele queria ver a Jesus; rico
como era, fez o esforço de subir a um sicômoro para ver a um profeta; quando
Jesus o chamou, esse bom homem não só aceita com toda alegria que Jesus entre
na sua casa, mas é tão generoso que ao descobrir o tesouro da amizade de Jesus,
relativiza totalmente aquilo que ele tanto desejou e conquistou durante a sua
vida, dinheiro. Jesus votou o coração de Zaqueu ao interdito, passando a fio de
espada os vícios que nele se encontrava.
Deixemos
que Jesus passe pelas nossas vidas. Ele não quer entrar na nossa cidade
interior como entrou Josué em Jericó, mas à semelhança do que aconteceu com
Zaqueu. Tanto é assim que se nós não deixarmos cair as muralhas do nosso
coração, ele não entrará. Talvez em algum momento também nós, os cristãos,
desejamos que Jesus atue à maneira antiga de pensar: forçando aos pobres
mortais a dobrarem os joelhos diante dele, a reconhecerem que só há um Deus e
que devem abandonar a sua vida de pecado; obrigando a que todos o sirvam;
obrigando a que o mundo seja mais justo, mais solidário, mais fraterno; que ele
não permita jamais um terremoto, um furacão ou uma enchente destruidora das
melhores colheitas; que ele não deixe, por nada do mundo, que tenhamos
enfermidades, guerras, matanças, fome, bombas atômicas, drogas etc. Gostaríamos
que Deus fosse mais autoritário, mais forte, mais rigoroso, que resolvesse de
uma vez por todas os graves problemas da humanidade. Até parece que gostaríamos
que Deus suprimisse para sempre a nossa liberdade, a nossa capacidade de fazer
o bem e fazer o mal, de que nos transformasse em meros robôs e que o mundo
fosse uma espécie de jogo de videogame onde Deus, como é inteligente, sempre
ganha a batalha. Mas… como seria triste! Nós, criaturas inteligentes e com uma
capacidade enorme de amar, transformados em máquinas! Não! Deus não quis que
fosse assim, não quis que fôssemos como pedras ou madeiras. Ele nos amou e o
seu amor foi a causa da nossa existência. Deus nos fez à sua imagem e semelhança
para que – inteligentes, criativos, com vontade e memória, cheios da sua graça
– pudéssemos embelezar esse mundo e a vida dos nossos irmãos.
Permitamos, portanto, que Jesus passe ao seu
estilo, com a sua mansidão, bondade e generosidade, contando conosco para que
lhe ofereçamos um banquete e sejamos amáveis com os nossos semelhantes. Ele
também quer escutar aquilo que queremos – voluntariamente e movidos por sua
graça – dizer-lhe: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se
tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo” (Lc 19,8). A resposta de
Jesus? É a mesma: “Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19,9). A partir desse
momento, veremos de outra maneira a respiração da terra durante os seus
imponentes vulcões; a confiança que Deus tem no ser humano ao fazê-lo livre; a
grandeza da liberdade humana que pode dirigir-se tanto ao bem quanto ao mal.
Ah, e não nos esqueçamos de que também é bom aceitar os limites da nossa
inteligência humana à hora de tentar compreender os mistérios da natureza, da
graça e da glória. Deus é sábio, entreguemo-nos a ele. Sem dúvida, quanto mais
estivermos nas suas mãos, mais entenderemos quais são os seus planos para o
mundo, para a humanidade e para a nossa própria vida. Somente quem está
enxertado na vida de Deus pode entender o que pode vir a ser a vida dos homens.
Pe. Françoá Costa
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PARA A
CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e ministros da Palavra):
LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO
ESTIVER SOBRE O ALTAR) (Lc 19, 1-10)
-
O SENHOR ESTEJA CONVOSCO... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR NOSSO...
-
COM JESUS, por Jesus e em Jesus, NA
FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI.
T: Senhor, nosso
Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, vos louvamos porque sois o
nosso escudo, a nossa defesa e a nossa felicidade. Fostes vós que nos criastes
e com a vinda de vosso filho Jesus Cristo, nos tornastes vossos filhos
prediletos. Nós vos agradecemos.
T: Senhor, nosso
Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, não queremos a riqueza nem a
pobreza, mas que nos dê o sustento de cada dia. Só em Vós seremos saciados.
Sois nossa alegria e nossa felicidade eterna. Fazei-nos compreender os vossos
projetos para que saibamos levar vosso nome a todos os irmãos.
T: Senhor, nosso
Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, ajudai-nos a ver os irmãos com
os vossos olhos de amor. Enviai-nos o Espírito Santo para que tenhamos força e
coragem para vivermos e anunciarmos o vosso Reino. Santificai-nos para que
sigamos os passos de vosso filho Jesus Cristo e saibamos fazer a vossa vontade.
T: Senhor, nosso
Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai
nosso... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro...
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