quinta-feira, 27 de outubro de 2016

31º Domingo do Tempo Comum ano C, Subsídios homiléticos, homilias

31º Domingo do Tempo Comum ano C (Adaptado pelo Diácono Ismael)

SINOPSE:
TEMA: Deus ama  a todos, mesmo os pecadores.
Primeira leitura: Mostra que Deus criou tudo e ama cada ser que saiu das suas mãos.
Evangelho: um homem pecador, que se encontrou com Jesus e deixou-se transformar pelo amor e tornou-se generoso, capaz de partilhar os seus bens.
Segunda leitura: faz referência ao amor de Deus e avisa para que não se deixem manipular por fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do cristão.

PRIMEIRA LEITURA (Sb 11,22–12,2) Leitura do Livro da Sabedoria.
Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra. Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fecha os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa, não a terias criado. Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses querido? Ou como poderia ser mantida, se por ti não fosse chamada? A todos, porém, tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida, O teu espírito incorruptível está em todas as coisas! É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.

AMBIENTE - O “Livro da Sabedoria” é da primeira metade do séc. I a.C.. O seu autor, um judeu de língua grega, faz o elogio da “sabedoria” israelita e descreve as sortes diversas que tiveram os egípcios (idólatras) e o hebreus (fiéis a Jahwéh). O seu objetivo é duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus, convida-os a redescobrirem a fé e os valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus… só Jahwéh garante a verdadeira “sabedoria”, a verdadeira felicidade. Compara os castigos que Deus lançou contra aos “ímpios” (os pagãos) e a salvação reservada aos “justos” (o Povo de Deus). Manifesta o seu espanto de que o castigo de Deus sobre os egípcios tenha sido tão moderado e benevolente. Porque é que Deus foi tão moderado e não exterminou totalmente os egípcios? É a essa questão que o nosso texto responde.

MENSAGEM - O autor encontra três razões para justificar a moderação e a benevolência de Deus.
1: a grandeza e a onipotência de Deus. Quem é grande e poderoso, não se sente incomodado. Percebe as razões do agir do homem; daí resulta a tolerância e a misericórdia.
2: a lógica do perdão; Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva; por isso, “fecha os olhos” diante do pecado e o convida ao arrependimento…
3: o amor a todas as criaturas. A criação foi a obra de amor de um pai; e esse pai ama todos os seus filhos. Ele se preocupa, corrige, perdoa as faltas e faz comunhão.

ATUALIZAÇÃO O Deus é benevolente e tolerante, cheio de bondade e misericórdia, que não quer a destruição do pecador, mas a sua conversão e que ama todos os homens que criou, mesmo aqueles que praticam ações erradas.
 Qual é a nossa atitude para com aqueles que nos fizeram mal?

SALMO RESPONSORIAL / 144 (145)
Bendirei eternamente vosso nome; / para sempre, ó Senhor, o louvarei!
• Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu Rei, / e bendizer o vosso nome pelos séculos. / Todos os dias haverei de bendizer-vos, / hei de louvar o vosso nome para sempre.
• Misericórdia e piedade é o Senhor, / Ele é amor, é paciência, é compaixão. / O Senhor é muito bom para com todos, / sua ternura abraça toda criatura.
• Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, / e os vossos santos com louvores vos bendigam! / Narrem a glória e o esplendor do vosso reino / e saibam proclamar vosso poder! • O Senhor é amor fiel em sua palavra, / é santidade em toda obra que ele faz. / Ele sustenta todo aquele que vacila / e levanta todo aquele que tombou.

EVANGELHO (Lc 19,1-10) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.

Naquele tempo Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa.” Ele desceu depressa e recebeu Jesus com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” Zaqueu ficou de pé e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais.” Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.”

AMBIENTE - Mais uma vez, um publicano que se considerava um pecador público, um colaborador dos opressores romanos e, portanto, um excluído da comunidade da salvação.

MENSAGEM - Jesus é o Deus que veio ao encontro dos homens e fez gestos concretos para a libertação a todos os homens. Zaqueu um pecador público, excluído e considerado amaldiçoado por Deus. Este homem procurava “ver” Jesus. O “ver” indica aqui mais do que curiosidade: indica uma procura intensa, uma ânsia de descobrir o “Reino”, que Jesus anunciava. O subir “a um sicômoro” indica a intensidade do desejo de encontro com Jesus. Jesus começa por provocar o encontro; sugere a Zaqueu que está interessado em entrar em comunhão com Ele (“«Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa»”). Jesus, rodeado pelos “puros” que escutam a sua Palavra, deixa todos no meio da rua para estabelecer contato na sua casa. É a exemplificação prática do “deixar as noventa e nove ovelhas para ir à procura da que estava perdida”… Como é que a multidão reage a isto? A sua desaprovação dizendo: «foi hospedar-se em casa de um pecador»”. É a atitude de quem se considera “justo” e despreza os outros, de quem está instalado nas suas certezas, de quem está convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de castigo, de marginalização, de exclusão. Jesus demonstra-lhes a lógica de Deus que não exclui nem marginaliza ninguém. Como é que tudo termina? Termina com um banquete (onde está Zaqueu) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar sentar-Se à mesa com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no “banquete do Reino”; a todos oferece a salvação. E como Zaqueu reage? Acolhendo e convertendo-se ao amor. A repartição dos bens pelos pobres e a restituição de tudo o que foi roubado em quádruplo. Repare-se, no entanto, que Zaqueu só se resolveu a ser generoso após o encontro com Jesus e após ter feito a experiência do amor de Deus. Foi o amor de Deus – que Zaqueu experimentou quando ainda era pecador – que provocou a conversão e que converteu o egoísmo em generosidade. Prova-se, assim, que só a lógica do amor pode transformar o mundo e os corações dos homens.

ATUALIZAÇÃO A questão central é a universalidade do amor de Deus. Deus ama todos os seus filhos sem exceção. Além disso, o amor de Deus não é condicional: Ele ama, apesar do pecado; e é precisamente esse amor que, uma vez experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador. É esta Boa Nova de um Deus que somos convidados a anunciar, com palavras e gestos.
As atitude dos crentes em relação aos pecadores muitas vezes não está em consonância com a lógica de Deus… Muitas vezes, em nome de Deus, os crentes ou as Igrejas marginalizam e excluem, assumem atitudes de censura, de crítica, de acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, o afastam mais e o levam a radicalizar as suas atitudes de provocação. Só o amor gera amor e que só com amor – não com intolerância ou fanatismo – conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens. Testemunhar o Deus que ama e que acolhe todos os homens não significa pactuar com o que está errado. O pecado deve ser combatido e vencido. No entanto, distingamos entre pecador e pecado: Deus convida-nos a amar todos os homens e mulheres, inclusive os pecadores; mas chama-nos a combater o pecado que enfeia o mundo e que destrói a felicidade do homem.
Eu quero realmente ver Jesus? – perguntava o Papa João Paulo II ao comentar esta mensagem do Evangelho –, faço tudo o que posso para poder vê-Lo?
O encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os outros, a compartilhar com quem está mais necessitado o muito ou o pouco que temos?
Jesus estava “atravessando a cidade” de Jericó. Séculos atrás, outro Jesus atravessou Jericó. Refiro-me a Josué. Sabe-se que a palavra Jesus é a transcrição grega da palavra Yeschowah, que significa “O Senhor (Javé) é o Salvador”. Os nomes de Jesus e de Josué são, portanto, o mesmo nome.
Durante seis dias, o Povo de Deus dava uma volta ao redor de Jericó; no sétimo dia, porém, sete voltas, toque de trombetas, gritos do povo e muralha ao chão. Jericó já estava derrotada! A Sagrada Escritura nos diz que eles “tomaram a cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas e os jumentos” (Js 6,21). Barbaridade!
No Novo Testamento, o Novo Josué não tinha como objetivo destruir os muros de Jericó, o que Jesus queria era derrubar os muros do coração de Zaqueu que, por contraste, “era de baixa estatura” (Lc 19,3). Ademais, Zaqueu não pôs resistência ao chamado de Jesus. Zaqueu era uma dessas pessoas que podemos chamar “um homem de boa vontade”: ele queria ver a Jesus.
Deixemos que Jesus passe pelas nossas vidas. Ele não quer entrar na nossa cidade interior como entrou Josué em Jericó, mas à semelhança do que aconteceu com Zaqueu. Tanto é assim que se nós não deixarmos cair as muralhas do nosso coração, ele não entrará.

SEGUNDA LEITURA (2Ts 1,11–2,2) Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses.
Irmãos, não cessamos de rezar por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação. Que ele, por seu poder, realize todo o bem que desejais e torne ativa a vossa fé. Assim o nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos, não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação, ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo.

AMBIENTE
Paulo chegou a Tessalônica pelo ano 50. mas os judeus – incomodados pelo testemunho de Paulo – sublevaram a multidão e o apóstolo teve de abandonar a cidade. Paulo enviou Timóteo a Tessalônica, para saber notícias e encorajar os cristãos… Quando Timóteo voltou, Paulo estava em Corinto. As notícias eram boas: os tessalonicenses continuavam a viver com entusiasmo a fé e a dar testemunho de Jesus. Havia, apenas, algumas questões de doutrina que os preocupavam – nomeadamente a questão da segunda vinda do Senhor. Paulo decidiu-se, então, a escrever aos cristãos de Tessalônica, animando-os a viverem na fidelidade ao Evangelho e esclarecendo-os quanto à doutrina sobre o “dia do Senhor”.

MENSAGEM - Dois temas: O primeiro uma súplica de Paulo, para que os tessalonicenses; o segundo refere-se à vinda do Senhor. A primeira o papel de protagonista que Deus desempenha na salvação do homem. Não basta a boa vontade; é preciso que Deus acompanhe os esforços do crente e lhe dê a força de percorrer até ao fim o caminho do Evangelho. A segunda parte é o início da doutrina sobre o “dia do Senhor”. A intenção de Paulo é desautorizar alguns fanáticos que anunciavam a iminência do fim do mundo… Isto provocava perturbações na comunidade, porque demitiam-se das suas responsabilidades e esperavam ociosamente o acontecimento.

ATUALIZAÇÃO - No nosso caminho pessoal Deus está sempre no princípio, no meio e no fim. É Ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada e nos espera no final para nos dar a vida plena.
 é preciso discernir o certo do errado. O caminho para discernir o certo do errado está na Palavra de Deus e numa vida de comunhão e de intimidade com Deus.

(Dehonianos)

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O Olhar de Jesus...

Com frequência, somos levados a olhar nas pessoas só os aspectos negativos...
Como é o OLHAR DE DEUS?

 Na 1ª Leitura, vemos o Olhar de Deus:
"Os olhos de Deus são diferentes dos nossos". (Sb 11,22-12,2)

O autor sagrado manifesta o seu espanto porque o castigo de Deus sobre os egípcios tinha sido moderado e benevolente.
E encontra três razões para justificar essa benevolência de Deus:

1. Ele é paciente porque é grande e poderoso...
Não se sente incomodado pelos atos dos que são pequenos e finitos.
Daí resulta a tolerância e a misericórdia...

2. Ele não quer a morte do pecador, mas a sua conversão.
Por isso: "Deus fecha os olhos" diante do pecado do homem, a fim de convidá-lo ao arrependimento.

3. Deus ama todas as criaturas: Porque tudo é obra de suas mãos...
Ele não está interessado em castigar os homens.

* Essa imagem do amor e da misericórdia de Deus deve nos impregnar e transparecer em gestos para com os nossos irmãos.

Na 2ª Leitura, vemos o Olhar de São Paulo. (2Tm 1,11-22)

 O Apóstolo lembra que Deus é o protagonista na salvação do homem.
Deus está sempre no princípio, no meio e no fim...
É ele quem anima e dá forças ao longo da caminhada; é ele quem nos espera no final do caminho, para nos dar a vida plena.
* A salvação não é uma conquista nossa, mas um dom de Deus

No Evangelho vemos o Olhar de Jesus, no encontro com Zaqueu. (Lc 19,1-10)

+ ZAQUEU é chefe dos Publicanos, um chefe de ladrões...
  insignificante aos olhos dos homens, desprezado e rejeitado da comunidade...
- Este homem procurava "ver Jesus".
O "Ver" indica aqui mais do que curiosidade, indica uma procura intensa de algo novo, uma ânsia de descobrir o "Reino", um desejo de fazer parte dessa comunidade de Salvação que Jesus anunciava.
- No entanto, o Mestre rodeado desses "puros" e "santos", que desprezavam os marginais como ele.
- O "subir num sicômoro" indica um desejo muito forte de encontro com Jesus, disposto a enfrentar até o ridículo ou as vaias da multidão.
+ JESUS vai ao Encontro dele; deixa o grupo dos "fiéis" e preocupa-se com o "pecador". Ergue os olhos e vê o "pequeno"... Chama-o pelo nome: Zaqueu ("puro").
Ele se autoconvida: "Desce depressa... porque hoje preciso ficar em tua casa".

+ A atitude de Jesus provoca uma REAÇÃO:
- A Multidão murmura escandalizada: "Foi hospedar na casa de um pecador".
- Zaqueu acolhe com alegria o hóspede... Prepara um "Banquete"...
E, comovido, faz um pequeno discurso, em que manifesta a sua transformação.
Está disposto a repartir os seus bens com os pobres e  restituir quatro vezes mais o que tinha roubado...
Zaqueu só se aquietou quando conseguiu VER JESUS e acolhê-lo em sua casa e em seu coração.

+ CRISTO conclui: "Hoje entrou a salvação nesta casa..."
   Passos: - Zaqueu deseja ver Jesus... e vai à procura;  
     - Jesus percebe o interesse e vai ao encontro: Convida-se...
               - Acolhido... Zaqueu acolhe Jesus e também os pobres: a Salvação.

* Zaqueu só resolveu ser generoso após o encontro com Cristo e após ter feito a experiência do AMOR DE DEUS.
O amor de Deus não se derramou sobre Zaqueu depois de ele ter mudado.
O que provocou a conversão de Zaqueu foi o amor de Deus, quando ainda era pecador. Converteu-se, quando se sentiu amado...
Prova-se assim que o amor pode transformar o mundo e o coração dos homens.

Hoje Cristo continua batendo à porta de nossa casa. Ele deseja cear conosco para nos libertar de tudo o que nos aprisiona e impede o nosso crescimento da vida de fé e de comunidade.
Abrindo as portas de nossa casa para acolher Jesus, abrimos também os ouvidos e o coração ao anúncio da Boa nova.

É esse Deus de amor que devemos anunciar com palavras e gestos.
Só o amor gera amor e só com o amor conseguiremos transformar o mundo e o coração dos homens.
Deus nos convida a amar todos os homens, inclusive os pecadores; mas nos chama a combater o pecado, que enfeia o mundo e destrói a felicidade do homem.

Qual é o nosso Olhar  para com os que se sentem excluídos e marginalizados
até pelos "fiéis" de nossas Comunidade?

- Um olhar severo e feroz, como o do povo, que julga e condena?
- Ou um olhar meigo, como o de Jesus,   que convida a celebrar num "Banquete", com muito amor e acolhida?

                                               Pe. Antônio Geraldo

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Homilia de Dom Henrique Soares da Costa
Comecemos nossa meditação da Palavra deste Domingo pelo Evangelho. Aí, a miséria corre para ver a Misericórdia, o homem corre para encontrar Deus…
Quem é este Zaqueu, este baixinho ansioso do Evangelho de hoje? É um publicano – como o homem que rezava compungido no Domingo passado. Um publicano é um pecador público, cobrador de impostos para os romanos e, por isso, odiado pelos judeus. Os publicanos muitas vezes extorquiam o povo. Talvez fosse o caso de Zaqueu, pois ele “era chefe dos publicanos e muito rico”. Certamente, tanto mais odiado quanto mais rico…
Pois bem, é um homem assim que correu e subiu numa figueira para ver o Senhor. Imaginemos a cena: Zaqueu esquece sua pose, sua respeitabilidade, sua posição. Aquele homem rico devia também ser sozinho, amargurado na sua riqueza, que o tornava um rejeitado por todos e um excluído da comunidade do Povo de Deus. Zaqueu certamente ouvira falar de Jesus, de sua misericórdia, de sua bondade, de sua mansidão. Não era ele que acolhia os pecadores? Não era ele que comia com os publicanos? Não tinha ele um publicano, Mateus, como um dos Doze? Por isso, não hesita em subir numa figueira, não tem medo do ridículo! Quer ver Jesus, nem que fosse às escondidas… Quem dera que fôssemos assim, que não deixássemos o Senhor passar em vão no caminho da nossa vida! E aí vinha Jesus… O coração de Zaqueu certamente disparou… Jesus vai passando, acompanhado, cercado por uma multidão barulhenta. Aí, então, para surpresa de todos e desespero de Zaqueu, ele para, olha pra cima… Imaginemos os risos, a mangação, a situação de ridículo na qual o pobre Zaqueu encontrou-se! Mas, Jesus é surpreendente – ele sempre nos surpreende; ele é maravilhosamente surpreendente! “Zaqueu – chama-o pelo nome. Conhecia-o! – Desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa!” Era demais para Zaqueu: o mundo desaparecera; a mangação não tinha importância… Naquela hora, naquele momento só existiam Jesus e ele! E Jesus o chamava pelo nome! Enquanto todos o rejeitavam, Jesus, chamava-o pelo nome, como a um amigo, como a um conhecido, e oferecia-se para se hospedar na sua casa! “Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria”. Contemplemos o amor de Deus, amor misericordioso, que alegra, renova, transforma a existência e dá um novo sentido para a vida!
Qual o resultado desta visita do Senhor, deste acolhimento de Zaqueu? “Senhor, eu dou a metade de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais!” Zaqueu fizera experiência do amor de Deus, Zaqueu acolhera esse amor, deixara-se amar e, agora, transborda em arrependimento, amor e misericórdia para com os outros! Que pena que não compreenderam isso, e começaram a murmurar contra Jesus…
Quem dera que da escuta da Palavra deste Domingo aprendêssemos quem é o nosso Deus, como age seu coração, e como nós deveríamos reagir! Pensemos no coração de Deus não a partir dos nossos sentimentos mesquinhos, mas a partir das palavras comoventes do Livro da Sabedoria: um Deus tão grande, tão imensamente maior que tudo quanto existe, tão imensamente para lá de tudo quanto possamos imaginar… “Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra”. E, no entanto, ele se inclina com carinho sobre o mundo: dele cuida, sustenta-o, compadece-se de suas criaturas e nos perdoa as loucuras, ingratidões e pecados: “De todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado”… Admirado, o autor sagrado exclama: “A todos tu tratas com bondade, porque tudo é teu, ó Senhor, Amigo da vida!” Que título comovente: Amigo da vida! Um Deus que somente é glorificado na nossa alegria, na nossa vida! Um Deus que sorri com o sorriso de Zaqueu, um Deus que se oferece para entrar na casa e no coração de um pecador perdido!
Quem dera que sejamos como Zaqueu; que desejemos vê-lo, que abramos para ele a nossa porta, que por seu amor mudemos nossa atitude, como esse publicano. São Paulo deseja, na segunda leitura de hoje, que o nome de Jesus seja glorificado em nós, na nossa vida… Seria, será glorificado, se abrirmos essa nossa vida fechada, mesquinha e cansada para o Senhor. Ele vem a nós cada dia, ele passa por nós de tantos modos: na Palavra, nos irmãos, nas situações, nos desafios, nos sofrimentos, nas provas… Quem dera que o reconhecêssemos, como Zaqueu… Saber acolhê-lo nas suas vindas é glorificá-lo agora e preparar-se bem para a sua Vinda, no fim dos tempos, aquela da nossa união definitiva com ele, de que fala o Apóstolo na leitura de hoje.
Que o Senhor nos dê a ânsia e a graça que concedeu a Zaqueu. Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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Homilia do Mons. José Maria

O Evangelho (Lc. 19, 1-10) fala-nos do encontro misericordioso de Jesus com Zaqueu. O Senhor passa por Jericó, a caminho de Jerusalém! Uma multidão apinhava-se nas ruas por onde o Mestre passava e lá no meio da multidão encontrava-se um homem chefe dos publicanos e rico, bem conhecido em Jericó pelo seu cargo.
Os publicanos eram cobradores de impostos. O imposto era fixado pela autoridade romana e os publicanos cobravam uma sobretaxa, da qual viviam. Isto prestava-se a arbitrariedades, razão pela qual eram facilmente hostilizados pela população.
São Lucas diz que Zaqueu procurava ver Jesus para conhecê-Lo, mas não podia por causa da multidão, pois era muito baixo. Mas o seu desejo é eficaz! Para conseguir realizar o seu propósito, começa por misturar-se com a multidão e depois, sem pensar no ridículo da sua atitude, correndo adiante subiu a um sicômoro para ver Jesus, que devia passar por ali. Não se importa com o que as pessoas possam pensar ao verem um homem da sua posição começar a correr e depois subir numa árvore. É uma formidável lição para nós que, acima de tudo, queremos ver Jesus e permanecer com Ele.
Que o Senhor aumente em nós o desejo sincero de vê-Lo! Eu quero realmente ver Jesus? – perguntava o Papa João Paulo II ao comentar esta mensagem do Evangelho –, faço tudo o que posso para poder vê-Lo? Este problema, depois de dois mil anos, é tão atual como naquela altura, quando Jesus atravessava as cidades e povoados da sua terra. E é atual para cada um de nós pessoalmente: quero verdadeiramente contemplá-Lo, ou não será que venho evitando encontrar-me com Ele? Prefiro não vê-Lo ou que Ele não me veja? E se já o vislumbro de algum modo, não será que prefiro vê-Lo de longe, sem me aproximar muito, sem me situar claramente diante dos seus olhos…, para não ter que aceitar toda a verdade que há nEle, que provém dEle?
Qualquer esforço que façamos por aproximar-nos de Cristo é amplamente recompensado. Disse Jesus: “Zaqueu desce depressa! Hoje Eu devo ficar na tua casa” (Lc 19, 5). Que alegria imensa! Zaqueu, que já se dava por satisfeito de vê-Lo do alto de uma árvore, ouve Jesus chamá-lo pelo nome, como a um velho amigo, e, e com a mesma confiança, fazer-se convidar para sua casa. Comenta Santo Agostinho: “Aquele que tinha por coisa grande e inefável vê-Lo passar, mereceu imediatamente tê-Lo em casa.” O Mestre, que tinha lido no coração do publicano a sinceridade dos seus desejos, não quis deixar passar a ocasião. Zaqueu descobre que é amado pessoalmente por Aquele que se apresenta como o Messias esperado, sente-se tocado no íntimo do seu espírito e abre o seu coração.
Zaqueu está agora com o Mestre, e com Ele tem tudo. Mostra com atos a sinceridade da sua nova vida; converte-se em mais um discípulo do Mestre.
O encontro com Cristo leva-nos a ser generosos com os outros, a compartilhar imediatamente com quem está mais necessitado o muito ou o pouco que temos.
“Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19, 9). É um convite à esperança: se alguma vez o Senhor permite que passemos por dificuldades, se nos sentimos às escuras e perdidos, temos de saber que Jesus, o Bom Pastor, sairá imediatamente em nossa busca. Diz Santo Ambrósio: “O Senhor escolhe um chefe de publicanos: quem poderá desesperar se ele alcançou a graça?” O Senhor nunca se esquece dos seus.
A figura de Zaqueu deve ajudar-nos a nunca dar ninguém por perdido ou irrecuperável.
Não duvidemos nunca do Senhor, da sua bondade e do seu amor pelos homens, por muito extremas ou difíceis que sejam as situações em que nos encontremos ou em que se encontrem as pessoas que queremos levar até Jesus. A sua misericórdia é sempre maior do que os nossos pobres raciocínios.
Mons. José Maria Pereira
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Homilia do Padre Françoá Costa

Uma das expressões que o Evangelho de hoje utiliza parece-me de um grande valor significativo: Jesus estava “atravessando a cidade” de Jericó. Anos, decênios, séculos, milênios atrás, outro Jesus atravessou Jericó. Refiro-me a Josué. Sabe-se que a palavra Jesus é a transcrição grega da palavra Yeschowah, que significa “O Senhor (Javé) é o Salvador”. Os nomes de Jesus e de Josué são, portanto, o mesmo nome.
A narração da conquista de Jericó é grandiloquente. A arca do Senhor presidia aquela imponente procissão, sete sacerdotes tocavam as trombetas diante da arca e, diante dos sacerdotes, um exército em ordem de batalha. Durante seis dias, o Povo de Deus dava uma volta ao redor de Jericó; no sétimo dia, porém, sete voltas, toque de trombetas, gritos do povo e muralha ao chão. Jericó já estava derrotada! A Sagrada Escritura no diz que eles “tomaram a cidade e votaram-na ao interdito, passando a fio de espada tudo o que nela se encontrava, homens, mulheres, crianças, velhos e até mesmo os bois, as ovelhas e os jumentos” (Js 6,21). Barbaridade!
No Novo Testamento, o Novo Josué não tinha como objetivo destruir os muros de Jericó, o que Jesus queria era derrubar os muros do coração de Zaqueu que, por contraste, “era de baixa estatura” (Lc 19,3). Ademais, Zaqueu não pôs resistência ao chamado de Jesus. Zaqueu era uma dessas pessoas que podemos chamar “um homem de boa vontade”: ele queria ver a Jesus; rico como era, fez o esforço de subir a um sicômoro para ver a um profeta; quando Jesus o chamou, esse bom homem não só aceita com toda alegria que Jesus entre na sua casa, mas é tão generoso que ao descobrir o tesouro da amizade de Jesus, relativiza totalmente aquilo que ele tanto desejou e conquistou durante a sua vida, dinheiro. Jesus votou o coração de Zaqueu ao interdito, passando a fio de espada os vícios que nele se encontrava.
Deixemos que Jesus passe pelas nossas vidas. Ele não quer entrar na nossa cidade interior como entrou Josué em Jericó, mas à semelhança do que aconteceu com Zaqueu. Tanto é assim que se nós não deixarmos cair as muralhas do nosso coração, ele não entrará. Talvez em algum momento também nós, os cristãos, desejamos que Jesus atue à maneira antiga de pensar: forçando aos pobres mortais a dobrarem os joelhos diante dele, a reconhecerem que só há um Deus e que devem abandonar a sua vida de pecado; obrigando a que todos o sirvam; obrigando a que o mundo seja mais justo, mais solidário, mais fraterno; que ele não permita jamais um terremoto, um furacão ou uma enchente destruidora das melhores colheitas; que ele não deixe, por nada do mundo, que tenhamos enfermidades, guerras, matanças, fome, bombas atômicas, drogas etc. Gostaríamos que Deus fosse mais autoritário, mais forte, mais rigoroso, que resolvesse de uma vez por todas os graves problemas da humanidade. Até parece que gostaríamos que Deus suprimisse para sempre a nossa liberdade, a nossa capacidade de fazer o bem e fazer o mal, de que nos transformasse em meros robôs e que o mundo fosse uma espécie de jogo de videogame onde Deus, como é inteligente, sempre ganha a batalha. Mas… como seria triste! Nós, criaturas inteligentes e com uma capacidade enorme de amar, transformados em máquinas! Não! Deus não quis que fosse assim, não quis que fôssemos como pedras ou madeiras. Ele nos amou e o seu amor foi a causa da nossa existência. Deus nos fez à sua imagem e semelhança para que – inteligentes, criativos, com vontade e memória, cheios da sua graça – pudéssemos embelezar esse mundo e a vida dos nossos irmãos.
Permitamos, portanto, que Jesus passe ao seu estilo, com a sua mansidão, bondade e generosidade, contando conosco para que lhe ofereçamos um banquete e sejamos amáveis com os nossos semelhantes. Ele também quer escutar aquilo que queremos – voluntariamente e movidos por sua graça – dizer-lhe: “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres e, se tiver defraudado alguém, restituirei o quádruplo” (Lc 19,8). A resposta de Jesus? É a mesma: “Hoje entrou a salvação nesta casa” (Lc 19,9). A partir desse momento, veremos de outra maneira a respiração da terra durante os seus imponentes vulcões; a confiança que Deus tem no ser humano ao fazê-lo livre; a grandeza da liberdade humana que pode dirigir-se tanto ao bem quanto ao mal. Ah, e não nos esqueçamos de que também é bom aceitar os limites da nossa inteligência humana à hora de tentar compreender os mistérios da natureza, da graça e da glória. Deus é sábio, entreguemo-nos a ele. Sem dúvida, quanto mais estivermos nas suas mãos, mais entenderemos quais são os seus planos para o mundo, para a humanidade e para a nossa própria vida. Somente quem está enxertado na vida de Deus pode entender o que pode vir a ser a vida dos homens.
Pe. Françoá Costa
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos e ministros da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)                            (Lc 19, 1-10)
- O SENHOR ESTEJA CONVOSCO... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR NOSSO...
- COM JESUS, por Jesus e em Jesus,  NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, vos louvamos porque sois o nosso escudo, a nossa defesa e a nossa felicidade. Fostes vós que nos criastes e com a vinda de vosso filho Jesus Cristo, nos tornastes vossos filhos prediletos. Nós vos agradecemos.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, não queremos a riqueza nem a pobreza, mas que nos dê o sustento de cada dia. Só em Vós seremos saciados. Sois nossa alegria e nossa felicidade eterna. Fazei-nos compreender os vossos projetos para que saibamos levar vosso nome a todos os irmãos.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai, ajudai-nos a ver os irmãos com os vossos olhos de amor. Enviai-nos o Espírito Santo para que tenhamos força e coragem para vivermos e anunciarmos o vosso Reino. Santificai-nos para que sigamos os passos de vosso filho Jesus Cristo e saibamos fazer a vossa vontade.
T: Senhor, nosso Deus, nós vos louvamos pela vossa bondade.
- Pai nosso... A Paz de Cristo... Eis o Cordeiro...



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