quarta-feira, 21 de março de 2018

Homilias Quinta Feira Santa


Quinta feira Santa 2018 C


PRIMEIRA LEITURA (Ex 12,1-8. 11-14) Leitura do Livro do Êxodo. Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: “Este mês será para vós o começo dos meses; será o primeiro mês do ano. Falai a toda a comunidade dos filhos de Israel, dizendo: ‘No décimo dia deste mês, cada um tome um cordeiro por família, um cordeiro para cada casa. Se a família não for bastante numerosa para comer um cordeiro, convidará também o vizinho mais próximo, de acordo com o número de pessoas. Deveis calcular o número de comensais, conforme o tamanho do cordeiro. O cordeiro será sem defeito, macho, de um ano. Podereis escolher tanto um cordeiro, como um cabrito: e devereis guardá-lo preso até o dia catorze deste mês. Então toda a comunidade de Israel reunida o imolará ao cair da tarde. Tomareis um pouco do seu sangue e untareis os marcos e a travessa da porta, nas casas em que o comerem. Comereis a carne nessa mesma noite, assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Assim devereis comê-lo: com os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. E comereis às pressas, pois é a Páscoa, isto é, a ‘Passagem’ do Senhor! E naquela noite passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; e infligirei castigos contra todos os deuses do Egito, eu, o Senhor. O sangue servirá de sinal nas casas onde estiverdes. Ao ver o sangue, passarei adiante, e não vos atingirá a praga exterminadora, quando eu ferir a terra do Egito. Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua”.

SALMO RESPONSORIAL / SI 115 (116B)
O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
• Que poderei retribuir ao Senhor Deus/ por tudo aquilo que ele fez em meu favor? / Elevo o cálice da minha salvação, / invocando o nome santo do Senhor.
• É sentida por demais pelo Senhor / a morte de seus santos, seus amigos. / Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, / mas me quebrastes os grilhões da escravidão!
• Por isso oferto um sacrifício de louvor, / invocando o nome santo do Senhor. / Vou cumprir minhas promessas ao Senhor / na presença de seu povo reunido.

SEGUNDA LEITURA (1Cor 11,23-26)
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.
 Irmãos, o que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha.

EVANGELHO (Jo 13,1-15) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Era antes da festa da Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai; tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Estavam tomando a ceia. O diabo já tinha posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de entregar Jesus. Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: “Senhor, tu me lavas os pés?” Respondeu Jesus: “Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás”. Disse-lhe Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés!” Mas Jesus respondeu: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Simão Pedro disse: “Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. Jesus respondeu: “Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos”. Jesus sabia quem o ia entregar; por isso disse: “Nem todos estais limpos”. Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-se de novo. E disse aos discípulos: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”.


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Homilia do Pe. Pedrinho

Meus irmãos e irmãs, com esta Celebração, damos início ao Tríduo Pascal. Esta Festa começa hoje, continua amanhã, sexta feira, passamos pelo sábado e concluímos domingo, o domingo de Páscoa. É uma Celebração bastante completa, onde esta parte da Celebração, esta Eucaristia, que estamos participando, ela é chamada A Ceia do Senhor. É dela que deriva, é dela que vamos dar continuidade a todas as celebrações Eucarísticas, que participarmos. Não apenas celebração, mas Celebração Eucarística (que muitos ainda chamam de missa). Que é sempre a mesma. Nós é que participamos várias vezes da mesma Celebração Eucarística. Ela tem dois momentos muito importantes, que a Igreja faz convite para que voltemos à fonte, para não esquecermos o sentido da Eucaristia. O sentido da Eucaristia é uma refeição em família, na qual vamos Celebrar a memória do Senhor. O sentido da Eucaristia é um serviço para todos, a começar pelos de casa, mas que se estende para toda a humanidade. A refeição em família já herdamos do Antigo Testamento. Hoje nos é indicado onde surge esta refeição em família: é do próprio Livro do Êxodo; é a Celebração da Páscoa. Páscoa é a passagem do mundo de escravidão, para um mundo de liberdade; libertação. A passagem da escravidão para a libertação se dá através de uma refeição: cada família deve escolher um cordeiro ou um cabrito e comer. Se for muito, chame o vizinho. Se for pouco, é um só, porque é o símbolo do sacrifício que é feito para buscar a libertação. Daniel nos trás como ponto central de sua mensagem a mesa. A mesa, que pode ser fonte de escravidão ou fonte de libertação. Quando é fonte de escravidão? Quando na mesa ficamos no superficial. Ficamos nos melhores pratos, nos pratos mais caros, mas não se busca o sentido da mesa, que em última análise, é a vida. Por que nos sentamos à mesa? Porque se não comermos, vamos morrer de fome, literalmente falando. Então, é preciso sentar-se à mesa para defender a vida. A mesa é o resultado de muitos outros serviços. Desde aquele ou aquela,  que sai em busca do dinheiro, com o trabalho, o suor do rosto, trabalho das mãos, trabalho honesto, para abastecer e garantir a vida. Passa por aquele ou aquela que prepara a refeição, passa por aqueles que ajudam no desenrolar da refeição, pondo os pratos, os talheres, lavando a louça, guardando tudo em seus lugares. Tudo isto é um sinal do serviço. Sinal, porque há outras formas de servir. Qualquer que seja o gesto solidário para alguém, é um gesto de serviço. Esta refeição é entre família, porque é a família que precisa ser um sinal do amor de Deus no mundo. Este é um grande desafio. Nem todos aprenderam das famílias como servir o irmão. Primeiro, porque, muitas vezes, só foram servidos. Eles nunca foram chamados a servir. Segundo, os próprios familiares não aprenderam a servir. Aí então, se torna uma bola de neve, porque se eu não sei servir, eu não ensino o servir. Se eu não ensino, o outro não aprende servir e assim por diante. Vamos compreender como Davi vai cantar o Salmo dizendo: “no pecado minha mãe me concebeu”. Isto porque era um ambiente em que ele era sempre servido. Este é o recado de Jesus para Pedro: Se eu não te lavar os pés, não terás parte comigo. Por que? Porque se não me lavam o pé, sinal do serviço, eu não vou aprender a lavar o pé do outro. Se já, lavando os pés a cada ano, nem sempre sabemos como servir, imagina se não nos lavarem os pés. É aí, que de fato, nós vamos nos perder. Esta lição, este recordar, não é um teatro, mas é cada ano Jesus insistindo, para que esta lição seja vivida pra valer. Por que esta lição é colocada nesta noite? Por causa da segunda leitura, onde Paulo diz: Eu transmito aquilo que eu aprendi. Portanto, tudo que eu aprendi, precisa ser transmitido. É este o grande desafio para os jovens e para todos nós. É um grande desafio. Quantos não sabem, que Jesus, em seu gesto máximo de serviço, entregou seu sangue na cruz, para ninguém mais precisasse morrer. São Paulo diz: na noite que foi entregue. Qual é a noite? Nós não temos marcado no calendário, mas isto também nos dá uma vantagem, porque cada um que é injustamente, inocentemente entregue, podemos ver nele a pessoa de Jesus. Na noite que foi entregue Celebramos hoje. Hoje, porque nesta Celebração Eucarística (missa) começa hoje, continua amanhã, segue no sábado e domingo. Qualquer que tenha sido a noite, cabe nesta Celebração. Jesus toma o Pão, dá graças, parte o Pão e diz: cada vez que quiserdes celebrar a memória de mim, façam isto. São João não coloca a instituição da Eucaristia. Se você olhar o Evangelho de João, lá não está este trecho de São Paulo. O que São Paulo escreveu não aparece no Evangelho de João. Vai aparecer no Evangelho de Mateus, Marcos e Lucas. Por que não aparece no Evangelho de João? O Evangelho de João é o último a ser escrito e as pessoas estavam dando mais importância a participar da ceia do que a SERVIR O IRMÃO. Muitos de nós têm este problema. Não tem dúvida nenhuma, de que, naquele Pão e naquele Vinho está o corpo e o Sangue de Cristo. Muitos de nós não têm dúvida nenhuma da importância da Celebração Eucarística, mas muitos de nós, quando se diz: ide em paz e que o Senhor vos acompanhe, dá graças a Deus, mas no sentido de que acabou a celebração. É verdade. Quando na verdade “Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe”, é para dizer: agora é que você sai ao serviço do irmão, que o Senhor esteja contigo. Por isso, é a nossa MISSÃO. Aqui, se quiser fazer um trocadilho de palavras, é a missa, ou seja, a Missa maior, que é SERVIR AO IRMÃO. Ora, então, não vale de nada o que celebramos? Muito pelo contrário. É aqui, nesta mesa, que recordamos a mesa da família, a mesa de casa, aqui que ouvimos os conselhos de Deus, na primeira leitura, na segunda e no Evangelho. É aqui que respondemos cantando o Salmo. É aqui que nos alimentamos para manter a nossa vida espiritual. Por isso, comemos dessa mesa. Por isso, participamos da Celebração.
Meus irmãos e irmãs, hoje começa este tríduo e que bom, se pudéssemos, assim, com toda alegria que cabe ao cristão, porque o Cristo ressuscitou, comtemplarmos passo a passo daquilo que a Igreja recorda dos gestos do Senhor. Com certeza, teremos cada dia algo novo. Nós teremos a possibilidade de experimentar a ressurreição. Cada um, cada uma é convidado a se perguntar: onde eu sou melhor, no sentido do serviço? Eu tenho certeza, de que todos nós servimos. Porque quem não tem um gesto de serviço, não se identifica com a mesa do altar. Todos nós temos um serviço. Isto tem que ser recuperado e celebrado. É isto que vamos dizer ao Senhor: olha, juntamente com o seu serviço, inclua o meu, para que eu continue servindo e crescendo cada dia, dentro dessa grandeza, porque é o serviço que nos torna imagem de Deus. Porque é Deus que se colocou a serviço de todos, desde quando criou todo o firmamento, desde quando criou todo o planeta.
Que Deus, portanto, nos mantenha neste serviço e nos ajude a crescer cada vez mais.
Agora, o que faremos? Exatamente o rito do lava pés. Hoje, convidamos algumas pessoas representando os apóstolos e todo o povo de Deus.
Que sejamos unidos a Eucaristia e que possamos servir o ano todo.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. Pedrinho.

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Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
 “É na glória da cruz de Cristo que brilha o mandamento do amor (lava-pés); é no brilho dessa cruz que resplandece o sacramento do amor (Eucaristia); é no esplendor dessa cruz que podemos cumprir o pedido do Mestre: ‘fazei isto em memória de mim’ (Dir. da Liturgia  CNBB, p. 35). O Tríduo Pascal, ápice do ano litúrgico, coloca-nos de forma muito pedagógica e mistagógica diante e no núcleo de nossa fé; favorece-nos, através da oração contemplativa da celebração litúrgica, mergulhar e ser inundados pelo mistério da morte e ressurreição do Senhor, mas também é ocasião de discernimento para sabermos se estamos ou não tomando parte realmente desse Mistério. Não basta apenas crer que o Senhor morreu e ressuscitou, proclamando esta verdade na oração (Eucaristia) que Ele mesmo mandou fazer em sua memória. Mas é preciso, também, ser testemunhas dessa verdade, assumindo o serviço que Ele realizou e nos mandou realizar (“lava-pés”) a fim de que o mundo creia.
Se para nós “culto” e “serviço” têm significados diferentes e, portanto, indicam realidades independentes, para a Sagrada Escritura usa-se a mesma palavra para referir-se a ambas situações (hebraico sharât: servir a Deus, adorá-lo, 1Sm 3,1; servir o ser humano, 1Rs 19,21; grego doulein: servir a Deus, Sl 71,11; At 7,7; serviço a pessoas, Lc 15,29). Portanto, em Jesus, o serviço alcançou a sua expressão mais perfeita, pois glorificou o Pai, “quetinha colocado tudo em suas mãos, fazendo a sua vontade; e, amando os seus até o extremo, prestou à humanidade o maior e imprescindível serviço que ela necessitava. A sua páscoa não se restringe ao momento de sua morte e ressurreição, mas é toda a sua passagem pelo mundo e compreende a sua saída e volta para o Pai. Por conseguinte, o êxodo de Jesus tem início com a sua encarnação, o seu despojamento: “Sendo Deus não se apegou a sua condição divina, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens” (Fl 2,6), e alcança o seu ponto alto na cruz onde entrega tudo (vestes, perdão, mãe, sangue, espírito). A ceia e o lava-pés resumem todo o itinerário pascal do Verbo encarnado, que existindo desde toda a eternidade no seio do Pai, entrou na nossa história e armou sua tenda em nós (cf. Jo 1,14); a sua páscoa é culto e serviço.

Celebrar a Ceia do Senhor é estar disposto a aprender as grandes lições do autêntico serviço (a Deus e ao próximo). Contudo, não basta apenas estar na ceia “do Senhor”, é preciso estar na ceia “com o Senhor”: Se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Diante da resistência e incompreensão de Simão Pedro de não querer que Jesus lhe lavasse os pés, o Mestre declara que não pode ser seu discípulo quem não aceita ser servido por Ele, pois consequentemente não aprenderá com a vida o serviço aos outros. A expressão não terás parte comigo” (grego ouk echeis meros met’emou: não tens parte em mim, comigo, depois de mim) resume o testamento de Jesus, isto é, deixar ser servido por Ele é herdar a sua vida, a sua missão, pois o seu discípulo continuará a fazer no mundo, o que aprendeu do Mestre. Não basta simplesmente saber o que Ele  mandou fazer, mas é preciso aprender com Ele o modo de fazê-lo: Vós me chamais mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu sou…Se eu vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros”. Aqui está a grande novidade do serviço de Jesus, a sua marca fundamental, livre de qualquer ambiguidade ou demagogia. Ele não nega ser Mestre e Senhor, nem mesmo rejeita que os discípulos o chamem assim. Pois, se um servo lava os pés do seu senhor, não há nada de extraordinário nisso, nenhuma lição se pode aprender desse gesto, é sua obrigação. Mas quando o Senhor lava os pés do servo, toda lógica humana e natural estremece, o novo irrompe dando-se uma lição inédita. Jesus não abandonou o seu senhorio ou autoridade, pois os recebeu do Pai: “Todo poder me foi dado no céu e na terra”.

Ao assumir a condição de servo, Jesus não se tornou impotente, fraco, incapaz, mas pelo contrário, manifestou-se nele o poder de Deus, do seu amor que vai até o extremo, pois é “próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência” (São Tomás de Aquino). Quando a autoridade perde a sua potente capacidade de servir, enfraquece e apela para a violência do autoritarismo.
Apesar de ter tido os pés lavados por Jesus e estar presente à ceia, Judas não aprendeu o exemplo do Mestre, não se deixou purificar: Vós estais puros, mas não todos”. A impureza de Judas significa justamente essa sua incapacidade de reconhecer que o seu Senhor não é autoritário, mas servidor, que não divide com os seus discípulos armas a fim de que matem para se defender, mas os instrui com a sua palavra (“Vós já estais limpos por causa da palavra que vos fiz ouvir” Jo 15,3) a amar sempre, inclusive os inimigos.
A cada Eucaristia, o Senhor nos convida a sentar-se com Ele à mesa, alimenta-nos com sua palavra, e reparte conosco o seu corpo e sangue, a sua vida entregue como serviço ao Pai e à humanidade, a sua herança; contudo, não basta estar na ceia do Senhor, é preciso estar na ceia com o Senhor, tendo parte com Ele, assumindo a sua herança de amor e fidelidade aos extremos, eis o autêntico serviço.

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A SANTA CEIA
Enquanto comiam, tomou Jesus o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: Tomai, comei. Isto é o meu corpo. Tomou, em seguida, um cálice, deu graças e entregou-lhes dizendo:
Este é o meu sangue, sangue da aliança, que vai ser derramado por muitos para a remissão dos pecados … Ora um dos discípulos, aquele que Jesus amava, estava à mesa junto do peito de Jesus (Mt 26, 26-28; Jo 13, 12).
Primeiro Prelúdio. O Cenáculo. Jesus está como transfigurado no meio dos seus apóstolos. As fontes do amor vão abrir-se para darem ao mundo a Eucaristia.
Segundo Prelúdio. Obrigado, Senhor. Com S. João, agradeço-vos, amo-vos, dou-me todo a vós.

PRIMEIRO PONTO: A Eucaristia. – Ó prodígio inaudito! O Senhor supremo faz-se alimento da sua pobre e miserável criatura!
Enquanto comiam, nesta noite da última Ceia, Jesus estava sentado com os seus discípulos. – Ergue os olhos para o seu Pai e recolhe-se numa ardente oração. Está como transfigurado. – Consideremos o céu aberto acima da sua cabeça: os Anjos admirados tremem de alegria e de temor … de alegria: a Eucaristia inflamará e santificará tantos corações! Acenderá no seio da Igreja uma tal fogueira de dedicação e de amor!… de temor também: a Eucaristia encontrará tantos ingratos! Será profanada pelos Judas de todos os séculos!
Escutemos as palavras de Jesus: «Tomai e comei, isto é o meu corpo; bebei, isto é o meu sangue … ». – Eu vos saúdo, ó verdadeiro corpo, nascido da Virgem Maria!
Verei os apóstolos aproximarem-se, tomarem o seu lugar nesta primeira comunhão … Maria, a Mãe bem-amada de Jesus! Quem poderia dizer o ardor da sua caridade! É o seu Filho que ela recebe! É a carne, é o sangue que ela lhe deu! Correntes de amor sobem para o céu nos transportes desta casta união, destes santos arrebatamentos.
«Fazei isto em minha memáris-, acrescenta Jesus, e os seus apóstolos são feitos sacerdotes para a eternidade. Unamo-nos ao seu acto de fé e de amor.

SEGUNDO PONTO: Judas! – A Paixão começa no Cenáculo, com a atitude de Judas tão cruelmente ofensiva para o Coração de Jesus. O traidor já vendeu o seu divino Mestre. Entretanto assiste hipocritamente à Ceia e à instituição da Eucaristia. Comunga sem dúvida sacrilegamente.
Nosso Senhor experimenta abatimento e piedade. Tenta ainda salvá-lo. Adverte­o: «Um de vós, diz, que estais comigo a esta mesa, trelr-me-e-, Isto devia recordar ao traidor a lamentação de David: «Se um inimigo me tivesse ofendido, tê-lo-ia suportado, mas vó~ um amigo que vivia à minha mesa … »
Nosso Senhor deixa manifestar a sua tristeza, não por causa de si mesmo, Ele sabe que deve morrer: «No que diz respeito ao Filho do homem, diz, vai acontecer segundo o que foi determineao». Mas entristece-se por causa do crime do seu discípulo: «Ai daquele, diz, pelo qual o Filho do homem é treidot: (Lc 22,22). Mas nada toca o pecador endurecido.
Ó Coração sagrado, vítima dos homens, peço-vos perdão pela traição de Judas e pelos crimes que vos hão-de afligir, humilhar, e ferir até ao fim dos tempos sobre todos os altares da terra; perdão pelos cristãos indignos, perdão pelos sacerdotes apóstatas!

TERCEIRO PONTO: S. João sobre o Coração de Jesus. – Entremos no Cenáculo no momento da acção de graças desta primeira comunhão da terra. S. João repousa com abandono e ternura sobre o Coração de Jesus. É a realização de um quadro do Cântico dos Cânticos: «O meu Bem-Amado é para mim e eu sou para ele … Eu sou para o meu Bem-Amado e o seu Coração volta-se para min» (Cant. 2).
Jesus compraz-se na sua imolação eucarística. Esta Páscoa fecunda, que Ele acaba de celebrar com os seus discípulos, renovar-se-á sobre o altar até ao fim dos tempos. É o maná do Novo Testamento, o pão da vida, o pão dos fortes, as delícias dos santos, o penhor da salvação e da ressurreição.
S. João, o apóstolo virgem, o amigo do Esposo, o familiar de Cristo, extasia-se com a comunhão que acaba de fazer, deixa cair ternamente a sua cabeça sobre o peito do seu Mestre querido. Ele é puro, e a castidade dos sentidos e do coração permite ao homem a intimidade com Deus. Atração inefável que desprende o discípulo da terra e o eleva à região superior da beatitude e do amor.
O discípulo bem-amado apoia sobre o coração sagrado de Jesus os seus lábios donde brotarão os rios da teologia sagrada, a sua fronte que tantos raios maravilhosos de ciência e de sabedoria devem ornamentar, e cingir a auréola dos apóstolos, dos profetas, das virgens, dos mártires.
Cristo reservou a ele somente, porque é puro, escrever com a sua mão os mistérios da pureza incriada, do Verbo de Deus feito carne pela salvação do mundo.
S. João, discípulo bem-amado, atraí-nos convosco para o peito de Jesus quando estamos unidos a Ele na comunhão.
Resoluções. – Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou por eles para lhes assinalar o seu amor! E eu que farei para lhe dar amor por amor? Irei à Eucaristia com uma pureza e um fervor que me aproximam das disposições de S. João.

Colóquio com S. João. Tradução do Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, SCJ)





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