23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
ANO B 2018 (Adaptado
pelo Diácono Ismael)
Tema: “Ele tem feito bem todas as coisas!” Deus quer nos transformar para que tenhamos vida plena.
Tema: “Ele tem feito bem todas as coisas!” Deus quer nos transformar para que tenhamos vida plena.
Na
primeira leitura, um profeta no exílio na Babilônia
garante aos exilados que Jahwéh está prestes a vir ao encontro do seu Povo para
o libertar: os cegos contemplarão a luz, os surdos ouvirão, os coxos que
saltarão e os mudos cantarão.
No
Evangelho, Jesus abre os ouvidos e solta a língua de um
surdo-mudo… Jesus, revela-se esse Deus amor.
A
segunda leitura Convida-nos a não discriminar ou
marginalizar o irmão e a acolher com bondade os pobres.
PRIMEIRA LEITURA (Is 35,4-7a) Leitura do Livro do Profeta Isaías. Dizei
às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a
vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar”. Então
se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo
saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão
águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terra árida se transformará em
lago, e a região sedenta, em fontes d’água.
AMBIENTE
- O autor escreve na fase final do exílio na Babilónia (550
a.C.). A intenção é consolar os exilados.
MENSAGEM
- O Povo, exilado na Babilónia, está em desespero e sem
esperança. O profeta anuncia-lhes a libertação. Deus não esqueceu o seu Povo. O
próprio Jahwéh irá realizar a libertação. O encontro com o Deus libertador
transformará o Povo, dar-lhe-á de novo a liberdade, a alegria e a vida em abundância. O dom de Deus
manifestar-se-á na própria natureza. O deserto transformar-se-á numa terra
fértil, com água em abundância e onde o Povo não terá dificuldade em saciar a
sua fome e a sua sede. A abundância de água no deserto, de que o profeta fala,
é outra imagem para mostrar a vontade de Deus em acumular o seu Povo de vida
plena e abundante.
A marcha será um novo êxodo, onde se
repetirão as maravilhas operadas pelo Deus libertador; este segundo êxodo será
ainda mais grandioso, quanto à manifestação e à ação de Deus. Será uma
peregrinação festiva, solene, feita na alegria e na festa.
ATUALIZAÇÃO
• Para os optimistas, o nosso tempo é um tempo de
grandes realizações, de grandes descobertas; para os pessimistas, o nosso tempo
é um tempo de sobreaquecimento do planeta, de subida do nível do mar, de
destruição da camada do ozônio, de eliminação das florestas, de risco de
holocausto nuclear…
• Para os crentes, “Deus está aí”:
a sua intervenção faz com que o deserto se revista de vida e que na planície
árida do desespero brote a flor da esperança. Aos cegos Deus irá oferecer a luz
que indica o caminho para a felicidade; aos surdos Deus abrirá os ouvidos para
que escutem os gritos de sofrimento dos; aos coxos, que estão presos por
cadeias de opressão, de injustiça, de pecado, Deus vai oferecer a liberdade;
aos mudos, pelo medo, pelo comodismo, pela preguiça, pela passividade, Deus vai
enviá-los como mensageiros da justiça, do amor e da paz.
• Quando todos cruzam os braços e
se afundam no desespero, o profeta é capaz de olhar para o futuro com os olhos
de Deus e ver, para lá do horizonte, um amanhã novo. Ele vai fazer com que o
desespero se transforme em alegria e que o imobilismo se transforme em luta
empenhada por um mundo melhor.
7. SALMO RESPONSORIAL / Sl 145/146
Bendize, ó minha alma ao Senhor.
Bendirei ao Senhor toda a vida!
• O Senhor é fiel para sempre, / faz justiça aos que são oprimidos; /
ele dá alimento aos famintos, / é o Senhor quem liberta os cativos.
• O Senhor abre os olhos aos cegos; / o Senhor faz erguer-se o caído; /
o Senhor ama aquele que é justo. / É o Senhor quem protege o estrangeiro.
• Ele ampara a viúva e o órfão, / mas confunde os caminhos dos maus. /
O Senhor reinará para sempre! / Ó Sião, o teu Deus reinará / para sempre e por
todos os séculos!
EVANGELHO (Mc 7,31-37) Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia
e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. Trouxeram
então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe
impusesse a mão. Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em
seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a
língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer:
“Abre-te!” Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele
começou a falar sem dificuldade. Jesus recomendou com insistência que não
contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam.
Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos
faz ouvir e aos mudos falar”.
AMBIENTE A Decápole (“dez
cidades”) era o nome dado ao território situado na Palestina oriental,
estendendo-se desde Damasco, ao norte, até Filadélfia, ao sul. O nome servia
para designar dez cidades, que se formou depois da conquista da Palestina pelos
romanos, no ano 63 a.C.. As “dez cidades” estavam em território pagão,
considerado pelos judeus completamente à margem dos caminhos da salvação. É
nesse ambiente que o episódio da cura do surdo-mudo nos vai situar. O gesto de
Jesus de curar o surdo-mudo deve ser visto como mais um passo no anúncio do
Reino de Deus.
MENSAGEM
- As pessoas que trouxeram o surdo-mudo suplicaram a Jesus. Na
sequência Marcos descreve como Jesus curou o doente e lhe deu a possibilidade
de comunicar.
A descrição de Marcos, enriquecida com
um número significativo de elementos simbólicos, é uma catequese sobre a missão
de Jesus e sobre o papel que Ele desenvolve no sentido de fazer nascer um Homem
Novo. Vejamos:
1
No centro da cena está Jesus e o surdo-mudo (literalmente, “um surdo que tinha
também um problema na fala”). Se a linguagem é um meio privilegiado de
comunicar, de estabelecer relação, o surdo-mudo é um homem que tem dificuldade
em estabelecer laços, em partilhar, em dialogar, em comunicar. Por outro lado,
num universo religioso que considera as enfermidades físicas como consequência
do pecado, o surdo-mudo é, de forma notória, um “impuro”, um pecador e um
maldito. Finalmente, o surdo-mudo vive no território pagão da Decápole: é
provavelmente um desses pagãos que a teologia judaica considerava à margem da
salvação.
2
Na catequese de Marcos, este surdo-mudo representa todos aqueles que vivem
fechados no seu mundo, na sua autossuficiência, fechados às propostas de Deus e
fechado aos outros. Representa também os pecadores, incapazes de estabelecer
uma relação verdadeira com Deus, de escutar a Palavra de Deus e de viver de
forma coerente com os desafios de Deus.
3.
O encontro com Jesus transforma a vida desse surdo-mudo. Jesus abre-lhe os ouvidos
e solta-lhe a, tornando-o capaz de comunicar, de escutar, de falar, de
partilhar, de entrar em comunhão. O episódio lembra-nos o anúncio de Isaías na
primeira leitura: “Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus; vem para
fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-vos. Jesus é o Deus
que veio ao encontro dos homens, a fim de os libertar das cadeias do egoísmo,
do comodismo, da autossuficiência, dos preconceitos que impedem a relação com
Deus e com os irmãos.
4.
Não é o surdo-mudo que tem a iniciativa de se encontrar com Jesus (“trouxeram-Lhe”). O surdo-mudo não
sente necessidade de abrir seu coração para o encontro com Deus e com os
irmãos. É preciso que alguém o traga, que o apresente a Jesus, que o empurre
para essa vida nova de amor e de comunhão. É esse o papel da comunidade cristã…
Os que já descobriram Jesus, que se deixaram transformar pela sua Palavra, que
aceitaram segui-lo, devem dar testemunho dessa experiência e desafiar outros
irmãos para o encontro libertador com Jesus.
5.
A sós com o surdo-mudo, Jesus realiza gestos significativos: mete-lhe os dedos
nos ouvidos, faz saliva e toca-lhe com ela a língua. Tocar com o dedo significava transmitir poder; a saliva transmitia, pensava-se, a própria
força ou energia vital (equivale ao sopro de Deus que transformou o barro
inerte do primeiro homem num ser dotado de vida divina). Assim, Jesus
transmitiu ao surdo-mudo a sua própria energia vital, dotando-o da capacidade
de ser um Homem Novo, aberto à comunhão com Deus e à relação com os outros
homens.
6.. Jesus teria pronunciado a palavra
“effathá” (“abre-te”), quando abriu os ouvidos e desatou a língua do
surdo-mudo. Não se trata de uma fórmula mágica … É um convite ao homem fechado
no seu mundo pessoal a abrir o coração à vida nova da relação com Deus e com os
irmãos. É um convite ao surdo-mudo a sair do seu fechamento, do seu comodismo,
do seu egoísmo, da sua instalação, para fazer da sua vida uma história de
comunhão com Deus e de partilha com os irmãos. O processo de transformação do
surdo-mudo em Homem Novo não é um processo em que só Jesus age e onde o homem
assume uma atitude de passividade; mas é um processo que exige o compromisso
ativo e livre do homem. Jesus faz as propostas, lança desafios, oferece o seu
Espírito que transforma e renova o coração do homem; mas o homem tem de acolher
a proposta, optar por Jesus e abrir o coração aos desafios de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• Deus cheio de amor, a cada instante, vem ao nosso
encontro, convida-nos aos caminhos que nos conduzem à felicidade e à vida
verdadeira.
• O surdo-mudo, incapaz de escutar
a Palavra de Deus, representa esses homens que vivem fechados aos projetos e
aos desafios de Deus.
• O surdo-mudo representa também
aqueles que não se preocupam em comunicar, partilhar a vida, dialogar com
outros… vive instalado nas suas certezas e nos seus preconceitos, convencido de
que é dono da verdade. É aquele que não tem tempo para o irmão; não é
tolerante, não compreende os erros dos outros e não sabe perdoar. Uma vida de
“surdez” é uma vida vazia, estéril, triste, egoísta, fechada, sem amor.
• O surdo-mudo se fecha no egoísmo
e no comodismo, indiferentes aos apelos dos irmãos. Somos surdos quando não
escutamos os injustiçados; surdos quando toleramos injustiça, miséria,
sofrimento e morte; somos surdos quando encolhemos os ombros, indiferentes,
face à guerra, à fome, à injustiça, à doença, ao analfabetismo; somos surdos
quando temos vergonha de testemunhar os valores em que acreditamos; somos
surdos quando não assumimos
responsabilidades e deixamos que sejam os outros a comprometer-se; somos surdos
quando calamos; Uma vida comodamente instalada nesta “surdez” descomprometida é
uma vida que vale a pena ser vivida?
• A missão de Cristo consistiu
precisamente em abrir os olhos aos cegos e desatar a língua dos mudos… Ele veio
abrir-nos à relação com Deus, ao amor dos irmãos, ao compromisso com o mundo.
Quem adere a Cristo e quer segui-lo no caminho do amor a Deus e da entrega aos
irmãos, não pode resignar-se a viver fechado a Deus e ao mundo. O encontro com
Cristo tira-nos da mediocridade e desperta-nos para o compromisso, para o
testemunho. Ainda somos os surdo-mudo,
ou ainda não assumimos a missão que Cristo nos deixou?.
• Cristo lembra-nos o nosso papel
de fazer a ponte entre os irmãos que vivem prisioneiros da “surdez” e a
proposta libertadora de Jesus Cristo. Não podemos ficar de braços cruzados
quando algum dos nossos irmãos se instalam em esquemas de fechamento, de
egoísmo, de autossuficiência; mas, com o nosso testemunho de vida, temos de lhe
apresentar essa proposta libertadora que Cristo quer oferecer a todos os
homens.
• Antes de curar o surdo-mudo,
Jesus “ergueu os olhos ao céu”. O gesto de Jesus recorda-nos que é preciso
manter sempre, no meio da ação, a referência a Deus. É necessário dialogarmos
continuamente com Deus para descobrir os seus projetos, para perceber as suas
propostas, para ser fiel aos seus planos; é preciso tomar continuamente
consciência de que é Deus que age no mundo através dos nossos gestos; é
preciso que toda a nossa ação encontre em Deus a sua razão última: se isso não
acontecer, rapidamente a nossa ação perde todo o sentido.
SEGUNDA LEITURA (Tg 2,1-5)
Leitura da Carta de São Tiago. Meus
irmãos: a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve
admitir acepção de pessoas. Pois bem, imaginai que na vossa reunião entra uma
pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa
surrada, e vós dedicais atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: “Vem
sentar-te aqui, à vontade”, enquanto dizeis ao pobre: “Fica aí, de pé”, ou
então: “Senta-te aqui no chão, aos meus pés”. Não fizestes, então,
discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com critérios injustos?
Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para
serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?
AMBIENTE
- O objetivo fundamental do autor é exortar os crentes para
que não percam os valores cristãos herdados através dos ensinamentos de Cristo.
A fé concretiza-se no amor ao próximo, sem qualquer discriminação.
MENSAGEM
- Jesus a todos amou igualmente. Quem aderiu a Jesus Cristo e
procura segui-lo, tem de assumir os mesmos valores; por isso, não pode
marginalizar ninguém.
Na comunidade cristã, todos são iguais
e dignos de consideração e de respeito, ainda que desempenhem funções
diferentes e serviços diversos. Os “pobres deste mundo” são, na linguagem
bíblica, os humildes, os débeis, os pacíficos, aqueles que se apresentam diante
de Deus numa atitude de simplicidade, despidos de qualquer atitude de orgulho,
de autossuficiência, de preconceitos; são aqueles que, com humildade, aceitam
os dons de Deus e acolhem as suas propostas com alegria e gratidão. Porque é
que Deus os prefere? Em primeiro lugar, porque são os que mais necessitam de
ser libertados e salvos; em segundo lugar, porque são os mais disponíveis para
acolher o dom do reino. Não é que o reino de Deus seja uma opção de classe e
que os ricos e poderosos não possam ter acesso ao reino; mas os ricos com o
coração cheio de orgulho e de autossuficiência, não estão disponíveis para
acolher a novidade revolucionária e libertadora do reino… São os “pobres”, na
sua simplicidade, humildade e despojamento, na sua ânsia de libertação, que
estão preparados para acolher o dom de Deus que se torna presente em Jesus e no
seu projeto.
ATUALIZAÇÃO
- • O cristão que aderiu a Jesus Cristo, que assumiu os
valores que Ele veio propor, procura concretizar essa proposta de vida que Ele
veio fazer. A comunidade cristã é o rosto de Cristo para os homens; por isso,
não faz sentido qualquer acepção de pessoas na comunidade cristã. Não
esqueçamos: a comunidade cristã é chamada a testemunhar o amor, a bondade, a
misericórdia de Cristo para com todos os irmãos, sem exceção.
• A fraternidade, o amor, a
misericórdia, a tolerância que Cristo nos propõe têm de derramar-se sobre
aqueles que encontramos em cada instante, mesmo se são de outra raça, outra
cultura, se frequentam ambientes diversos, se não concordam com as nossas
ideias, se têm uma forma diferente de encarar a vida.
• Deus oferece o seu amor, a sua
graça e a sua vida a todos; contudo, uns acolhem os seus dons e outros não… O
que é decisivo, na perspectiva de Deus, é a disponibilidade para acolher a sua
proposta e os seus dons. O nosso texto convida-nos a despir-nos do orgulho, da
autossuficiência, dos preconceitos, para acolher com humildade e simplicidade
os dons de Deus.
Pe. Joaquim, Pe. Barbosa, Pe. Ornelas
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Homilia
do Pe. Pedrinho
Na primeira leitura, Isaías nos diz:
você deve ficar com ânimo, dizer à pessoa deprimida: se você está com
depressão, crie ânimo, “não tenha medo”. A Palavra de Deus é sempre esta para
todo mundo: “não tenha medo”; só tem medo quem não tem a quem recorrer. Veja o
que a criança faz, quando está com medo à noite. Ela vai ao quarto da mãe/pai e
fala que está com medo; aí passa o medo, porque ela tem a quem recorrer.
Nós também temos a quem recorrer!
Recorremos a Deus. “Não temais”. Começa o texto: “Criai ânimo e não temais. Eis
o vosso Deus”.
Por que eu sei que Ele veio para me
salvar?
Porque vai abrir os olhos dos cegos,
vai abrir os ouvidos dos surdos, os coxos saltarão como cervos, a língua dos
mudos cantará, as águas arrebentarão no deserto.
E o que Jesus fez? Jesus fez tudo isto.
As pessoas perguntar por que Jesus não acabou com a surdez? Não acabou com a
cegueira? Não acabou com a paralisia? Porque não é papel de Deus acabar com
tudo isto. Isso é papel nosso. Nós devemos usar a inteligência para buscar todo
o recurso para todos ouvirem, para todos falarem, para todos andarem. Ele quis,
porém, mostrar que está conosco.
Ele cura algumas pessoas para dar um
sinal de que Ele é Deus, de que não devemos esperar outro. Por isso Ele vai
abrir o ouvido do surdo no Evangelho e diz que o surdo começa a falar. Qual é o
gesto que Jesus realiza? Ele impõe as mãos, coloca as mãos nos ouvidos. Ora,
quando é que Deus nos impõe as mãos? Na Crisma. Quando é que nós somos chamados
a abrir os nossos ouvidos? No Batismo. Então é importante entendermos que todos
aqueles que recorrem a Deus, passam a ouvir com ouvidos de Deus e passam a
falar a Palavra de Deus.
Se há gente que diz que não entende a
Bíblia, precisa recorrer a Jesus, para que Ele possa abrir sua mente, abrir o
ouvido para ouvir a Deus e possa abrir sua boca para falar de Deus. Mas quem
pode isso? Só os estudados? É outra confusão que fazemos. Todas as pessoas
estão convidadas a fazer parte do povo de Deus, a partir dos mais pobres.
Mas como a partir dos pobres, se Deus
não faz diferença de ninguém? É bom a gente saber que, no tempo de Jesus, a
pessoa pobre era interpretada como sendo alguém que Deus estava castigando,
porque ela não foi fiel a sua Palavra. A Bíblia dizia o seguinte: quem obedecer
a Deus, vai ser recompensado inclusive, com bens materiais.
Assim cada vez que alguém olhava um
pobre, dizia com certeza que ele não obedeceu a Deus, senão ele estaria rico e
não seria pobre.
Jesus veio dizer que esta mentalidade
está errada. Que todos são chamados a ouvir a Palavra, até os pobres. O que
significa? Se você não viveu a vontade de Deus, não seguiu a vontade de Deus,
tudo bem; daqui para frente o que você quer? Quero ouvir, então abra os
ouvidos, desenrole a língua e vamos ouvir.
Então, todos a começar dos pobres,
inclusive os homens de boa vontade, são chamados a experimentar o amor, de tal
maneira que somos chamados a tratar todos com a mesma igualdade. São Tiago puxa
a orelha de quem se serve da aparência das pessoas; não é porque está bem
vestido que vai ter tratamento diferente do outro que está mal vestido. A
pessoa está mal vestida por conta do que? Do desleixo. É obrigação minha
ajudá-la para que tenha autoestima. Se a pessoa está mal vestida porque não tem
condições econômicas, eu sou chamado a ajuda-la. Se eu também não osso, sou
chamado a acolhê-la da forma que está. O que eu não posso é rejeitar alguém
porque não se traja de acordo com o padrão que eu vivo, bonito, adequado.
Repito: se alguém está mal vestido por
desleixo, tenho que ajudar a pessoa adquirir a autoestima; se está mal vestida
porque não tem dinheiro, se eu posso, sou chamado a ajudar. Se eu não posso,
Deus vai acolher da mesma forma, porque realmente o que importa é o ser humano
ser tratado com a mesma dignidade.
Deus fez tudo isso! O Evangelho diz que
Ele tem feito bem todas as coisas; aos surdos faz ouvir, aos mudos, falar. Nós
não somos surdos, porque todos os finais de semana nos encontramos para ouvir a
Palavra de Deus. Graças a Deus que não somos surdos. Aqueles que não ouvem e
voltam, são chamados a abrir os ouvidos para que possam ouvir a Palavra.
Aqueles que são judôs, são chamados a soltar a voz para que a Palavra de Deus
seja transmitida e ouvida em todos os lugares.
Que Deus nos ajude, portanto, a nos
manter perseverantes, eliminando a surdez da fé do mundo e anunciando a Palavra
de Deus para que ninguém seja exceção e para que todos não tenham medo, mas ao
contrário, que consigam enfrentar os desafios da vida, ajudados pelo Nosso
Senhor que nos ampara e nos guarda em seu coração. Louvado seja Nosso Senhor
Jesus Cristo.
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Os Sinais Messiânicos
No mês de setembro, dedicado à Bíblia, a Palavra de Deus de hoje nos fala dos sinais dos tempos
messiânicos, com os quais Deus manifesta seu Plano de amor e de libertação para
todo seu povo.
Na 1a leitura, o Profeta anuncia ao povo sofrido
do exílio um sinal da iminência da sua libertação: a cura de
surdos, mudos, coxos e cegos. (Is
35,4-7)
* Para os judeus, esses sinais serão sinal que
chegou o Messias.
Na 2ª Leitura, Tiago convida a não discriminar as pessoas e
a acolher com especial bondade os pequenos e os pobres. (Tg 2,15)
No Evangelho temos a realização da profecia da 1ª leitura: (Mc 7,31-37)
- Jesus abre os ouvidos e solta a língua de um surdo-mudo.
- E o povo, entusiasmado, vê nessa cura um SINAL da presença do
Poder salvífico do Messias e exclama:
"Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos
ouvirem e os mudos falarem".
- Como na "criação", quando Deus viu que tudo era bom. (Gn 1,31)
Quem é o surdo-mudo?
É uma pessoa incapaz de escutar... de falar... (a palavra).
- O que seriamos nós sem o uso da PALAVRA?
A Palavra é o meio por excelência de comunicação do homem…
- A CRIANÇA não precisa
só de alimento, ela necessita também de palavras de carinho;
- Os NAMORADOS têm
necessidade de traduzir em palavras os sentimentos de seu coração;
- A Palavra acompanha o
nascimento e o desenvolvimento de todo AMOR
e AMIZADE;
- Os MUDOS convertem
seus gestos em palavras.
Há palavras vazias que não dizem nada… mas há também palavras, que
carregam todo o peso de uma existência.
+ Deus também fez uso da Palavra.
Não quis apenas que sua palavra fosse lida e ouvida...
Quis que fosse também vista, andando no meio dos homens.
Ele próprio SE
FEZ PALAVRA, na pessoa de Jesus
Cristo.
E essa Palavra de Deus ainda hoje a encontramos em parte escrita
num livro que chamamos de BÍBLIA…
Muito se perdeu ao longo da história…
Muito ainda permanece escondida em nossos corações e aguarda que a
escutemos e anunciemos.
É o que nos lembra São Tiago: "Acolhei
com humildade a Palavra que lhes foi plantada no coração". (Tg 1,21)
Quem são os surdos e mudos de hoje?
+ Diante da REALIDADE em que vivemos:
- São os que ficam indiferentes, vivem fechados no seu mundo, de ouvidos fechados às propostas de Deus e
de coração fechado aos irmãos.
Nada vêem, nada escutam,
nada falam...
Preferem que sua voz só
seja ouvida na hora de rezar, permanecendo cegos, surdos e mudos aos problemas
da vida real.
- O Surdo-mudo representa os que não se preocupam em
comunicar, em partilhar a vida, em
dialogar...
* E Cristo convoca a
ouvir o clamor dos que sofrem e a falar
em defesa da justiça, dos direitos humanos, na honestidade pública.
- Quantas pessoas
continuam sendo... surdo-mudas!...
+ Diante
da FAMÍLIA:
São os que não têm tempo
para escutar... nem para falar... e
quando falam é bronca...
- Quantos pais, mães,
filhos... surdo-mudos!...
+ Diante
da BÍBLIA:
São os que têm os ouvidos
e a boca fechados à Palavra de Deus...
São os que não lêem, não
escutam, não estudam, não anunciam...
- Quantos católicos surdos-mudos!...
- Que tal valorizar um pouco mais a Bíblia nesse mês?
- No Rito do Batismo, há uma oração muito significativa:
"O Senhor Jesus, que fez os surdos
ouvirem e os mudos falarem,
te conceda que possas logo ouvir a
Palavra e professar a fé para louvor e
glória de Deus Pai."
- Desde o Batismo, nossos ouvidos se abriram para escutar a
Palavra e a nossa língua se soltou para professar a fé e louvar o Senhor.
Nossos ouvidos estão atentos à Palavra divina e nossa boca é
Palavra de oração permanente?
O Evangelho de hoje nos fala do milagre do surdo-mudo.
Jesus tocou os ouvidos e a boca do doente e ele começou a escutar
e a falar.
- A Missão da Igreja é trazer e apresentar essas pessoas a
Jesus para que Ele as liberte de todos
os males...
Peçamos a Cristo, que toque também
- NOSSOS OUVIDOS para que se tornem sensíveis em escutar sua
Palavra,
- NOSSOS LÁBIOS para que se tornem entusiastas em anunciá-la e
- NOSSAS MÃOS para que nos tornemos generosos em testemunhá-la…
- NOSSOS PÉS, para que desperte em nós novo ardor missionário...
Pe. Antônio
Geraldo
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Homilia de D. Henrique
Soares
O Evangelho deste
Domingo apresenta-nos um homem surdo e gago que é colocado diante de Jesus para
que ele o cure.
Quem é o surdo-gago? É a humanidade,
enquanto fechada para o dom de Deus que Jesus nos traz. Surda, porque incapaz
de ouvir a Palavra, ouvi-la compreendendo-a, acolhendo-a no coração: "tem
ouvido para ouvir, mas não ouve" (Jr 5,21; cf. Mt 13,14-15).
Esta é a tendência do coração humano,
que a Escritura sempre denunciou: o fechamento para não acolher a proposta que
Deus nos faz, de um caminho com ele, a tendência de nos fechar em nós e viver a
vida como se fosse nossa de modo absoluto: "Escutai, prestai
ouvidos, não sejais orgulhosos, porque o Senhor falou!" (Jr 13,15); "Ah!
Se meu povo me escutasse, se Israel andasse em meus caminhos... Mas meu povo
não ouviu a minha voz, Israel não quis saber de obedecer-me; então os entreguei
ao seu coração endurecido: que sigam seus próprios caminhos!" (Sl
81/80,14.13). Assim, no fundo, é o fechamento para Deus, para um Deus
verdadeiro, a resistência em realmente levar a sério o primeiro
mandamento: "Ouve, ó Israel!" (Dt 6,4).
Nossa civilização ocidental tem sido
particularmente fechada à Palavra do Senhor: construímos a sociedade e
construímos nossa vida privada, nossos valores morais, nossas escolhas, do
nosso modo, sem realmente ouvir a proposta e o caminho que o Senhor nos indica.
Reunimos e escutamos os especialistas: economistas, antropólogos, sociólogos,
sexólogos, psicólogos... mas, para nós, o Senhor não tem mais nada a dizer! Os
gurus são os economistas e psicólogos, é o Paulo Coelho, são os livros de
auto-ajuda... Somos uma geração de surdos!
Ora, se somos surdos, também não
podemos falar com clareza: nossas idéias são embotadas, nossos debates, nossas
palavras, não chegam ao essencial da vida, do sentido da existência, não
podemos proclamar de verdade a alegria da salvação, da plenitude de quem sabe
de onde vem e para onde vai. A comunicação se torna oca, alienada e alienante.
Basta observar o que os meios de comunicação veiculam! Por isso, Jesus cura
primeiro a surdez e, depois, a gagueira do homem. Quando ele puder ouvir o
Senhor, tornando-se discípulo pela fé, também poderá falar, proclamar a ação de
Deus em Jesus: do Deus que salva e nos mostra o sentido da vida, abrindo-nos a
esperança eterna!
Sigamos os detalhes da narração de Marcos: (1) Trouxeram o homem surdo-gago
para que Jesus o curasse. "Jesus afastou-se com o homem para fora
da multidão" – bem ao contrário dos curadores pentecostais de
televisão, que exploram seus "milagres" e "curas" como
shows, Jesus procura evitar todo sensacionalismo: ele quer encontrar-se
realmente com aquele homem, pessoa a pessoa, quer que aquele homem o descubra
como sua salvação; (2) "Em seguida, colocou os dedos nos seus
ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele" – o homem,
sendo surdo, somente poderia compreender a linguagem dos símbolos, dos sinais;
é a que Jesus empregou: toca os dedos que, para os antigos, transmitiam poder
(cf. Ex 8,15) e, depois, toca sua língua com a saliva, significando o dom do
Espírito que cura e liberta. Para os antigos, a saliva era o Espírito em estado
líquido (a idéia é estranha, mas é preciso que nos transportemos para o modo de
pensar semítico)! (3)"Olhando para o céu, suspirou e disse:
'Ephatà'". Assim, Jesus indica que a salvação que ele traz procede do
Pai, que o enviou. Mais ainda: ao suspirar, ao gemer, ele exprime sua
compaixão, sua dor pela situação humana; (4) "Imediatamente seus
ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem
dificuldade". Somente Jesus, com o poder do seu Espírito, pode
curar o homem de seu fechamento para escutar e para proclamar. Sim, porque
também nossa geração cristã é, muitíssimas vezes, covarde para proclamar, para
professar sem medo e respeito humano nossa fé. O cristão ou é testemunha ou não
é cristão:"Não podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e
ouvimos. Nós somos testemunhas destas coisas, nós e o Espírito Santo" (At
4,20; 5,32).
Este
caminho do surdo-gago é urgente para o cristão: reaprender a escutar de verdade
Jesus (= crer nele de verdade) e falar dele ao mundo no testemunho corajoso,
pois, somente assim, a humanidade atual encontrará a paz que tanto almeja.
Somente em Cristo aquilo que a primeira leitura vislumbra e anuncia de modo tão
belo, pode realizar-se: "Dizei às pessoas deprimidas: 'Criai
ânimo, não tenhais medo! Vede! É o nosso Deus que vem; é ele que vem para
salvar!' Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos
surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim
como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terá árida se
transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d'água" – Que
imagens impressionantes, belas, evocativas! Quando Deus vem, quando ele está
presente, tudo é vida, tudo é plenitude, tudo canta de alegria! Não é disso que
nosso mundo atual tanto precisa? Mas, o homem fechado na sua soberba – nós,
fechados na nossa autossuficiência e no nosso comodismo! – jamais vai
experimentar isso!
Para acolher na alegria e simplicidade,
é necessário reconhecer-se necessitado, como o surdo-gago, que procurou Jesus,
para que lhe impusesse as mãos: somente quem é pobre diante de Deus, quem se
reconhece pequeno diante do Altíssimo, pode abrir-se para a salvação e
recebê-la do Senhor! Daí a lembrete de São Tiago: "Não escolheu
Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que
prometeu aos que o amam?" São palavras que nos incomodam e até
escandalizam: Deus prefere os pobres... porque os pobres são abertos para Deus.
Eles conseguem experimentar dolorosamente na carne aquilo que nós tentamos
esquecer ou temos dificuldades para compreender: que somos todos pobres,
necessitados, pequenos diante de Deus! Com nossas posses e nossas seguranças,
apoiamo-nos em nós mesmos, tornando-nos surdos e mudos para o Senhor! O pobre é
profético sempre, porque recorda o que nós somos e, quando descobrimos isso,
podemos ser curados de nossa autossuficiência surda e libertados de nossa
preguiça muda. O salmo da Missa de hoje canta exatamente esta experiência: Deus
salva o pobre, o pequeno, o desvalido!
Se o
pobre é sempre profeta, sempre uma palavra de Deus ao nosso lado e, mais ainda,
é presença do próprio Cristo, que sendo rico se fez pobre (cf. 2Cor 8,9)
- "O que fizestes ao menor dos meus irmãos, a mim o fizestes"
(Mt 25,40) -, então, o nosso modo de tratar o pobre, de ver o pobre,
de nos aproximar do pobre – seja pessoal, seja comunitariamente – diz muito
daquilo que nós e nossa Comunidade somos em relação a Deus; diz muito dos nosso
critérios: se são segundo Deus ou segundo nosso coração mundano!
Que o
Senhor nos cure da surdez e da gagueira; faça-nos atentos à sua Palavra e ao
seu testemunho; dê-nos olhos para reconhecê-lo nos irmãos, sobretudo nos
pobres, seja de que pobreza for... sobretudo os pobres, social e economicamente
falando!
+++++
Homilia II
Caríssimos em Cristo, hoje a santa Palavra do Senhor nos fala de um Deus que
vem. E ele vem sempre, amados! Vem porque está entre nós na potência do seu
Santo Espírito, que age constantemente nos sacramentos da Igreja, que proclamam
a Palavra da Salvação e tornam realidade essa Palavra salvífica! Eis, portanto,
nosso Deus vem, vem sempre no seu Filho Jesus pleno do Santo Espírito. E quando
ele vem, a nossa sorte muda: "Criai ânimo, não tenhais medo! Vede,
é vosso Deus: é ele que vem para vos salvar! Abrir-se-ão os olhos dos cegos e
se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se
desatará a língua dos mudos... brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes
no ermo. A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes
d'água". Ó caros! Não é coxo o mundo atual, não é cego, não é
seco? Vede ao redor em que tem se tornado a nossa existência! Tanto mais o
homem se feche para Deus, tanto menos vive, tanto menos se realiza, tanto menos
é feliz... E, no entanto, se nos abrirmos, se nos deixarmos curar, o Senhor transformará
a nossa pobre vida: nossa surdez será curada e escutaremos a doce voz do Senhor
que nos guia, nossa mudez transformar-se-á em canto de exultação e da sequidão
do nosso coração sem vida, a água fresca e vivificante brotará em abundância!
Humanidade dura e teimosa, a nossa, que procura vida sem Deus e não encontra a
não ser desilusão! Pois bem, caríssimos, é de paz, é de vida, é de felicidade
que o Senhor nos fala hoje, nos fala sempre nos anúncios dos profetas! E o que
eles anunciaram para os tempos do Messias, tempos de salvação, o Senhor Jesus
realiza em plenitude: hoje, no Evangelho que ouvimos, ele coloca os dedos nos
ouvidos dum surdo-mudo e, com a saliva, toca-lhe a língua. Que significa esse
gesto? A saliva, para os judeus, era o ar feito líquido. Assim, Jesus dá seu
Sopro, seu Espírito ao homem. Agora aquele zé-ninguém, aquele surdo-mudo de
vida semi-humana é homem novo: pode ouvir o Senhor, pode proclamar suas
maravilhas! Mas, não é isso que somos? Não é isso que devemos testemunhar com a
nossa vida?
Recordam, irmãos amados, do rito batismal, quando o sacerdotes traçou o sinal
da cruz nos nossos ouvidos e nos nossos lábios, repetindo o gesto de Jesus?
Recordam quando ele exclamou: "Efatá!", como o próprio Jesus,
naquele tempo? Recordam? Surdos curados por Jesus, é o que somos; mudos
libertados pelo Senhor, é a nossa realidade! Agora curados, aprendamos a
escutar realmente a palavra e os apelos daquele que nos curou; agora libertos,
proclamemos ante o mundo incréu as maravilhas daquele que nos livrou e nos
chamou das trevas para a sua luz admirável! Somos novos em Cristo, somos novas
criaturas! Externemos essa realidade com nossa vida pessoal e comunitária! Ó
cristão, quantas vezes será necessário exortar-te a viver de acordo com aquilo
que tu és? Por que és frouxo, por que covarde, por que sem entusiasmo, por que
omisso, por que és duro e surdo para a voz do teu Senhor? Por que, caríssimos
meus, o nosso modo de viver não impressiona? Por que nosso testemunho do Senhor
não contagia os outros? Por que nossas ações não iluminam o mundo em trevas?
Porque fugimos do Senhor, porque não deixamos que ele nos toque, nos cure, nos
liberte! Sufocamos a graça recebida no batismo! E como a sufocamos? Pela
vida frouxa, pela existência displicente, que não leva a sério realmente a ação
libertadora do Senhor em nós!
Somos
novos de uma nova vida! Novos, cada um de nós; novos, nós todos como Igreja!
Somos a comunidade dos que experimentam essa vida nova, dos que vivem já neste
mundo o sonho de um novo modo de existir. Não se trata, meus caros, de um ideal
sociológico ou simplesmente humanístico: o motivo da vida nova é o Cristo de
Deus que, nos dando o seu Santo Espírito, faz-nos criaturas novas, capazes de
viver no seu amor e do seu amor. A Igreja é isso: uma comunhão brotada do amor
do Cristo – e este amor é o Santo Espírito. Uma comunidade que vive neste
Espírito, que não é o do mundo, que não é o da esquerda festiva ou da direita
egoísta, do centro omisso ou dos extremos exaltados... Nossa vida, nossa
inspiração, nossa força é o Espírito no qual o Pai e o Filho se amam e se dão!
Pois bem! Uma comunidade que vive nesse Espírito não admite discriminações
injustas, não admite o desprezo de uns pelos outros, sobretudo dos seus membros
mais frágeis e pobres. Uma comunidade "espiritual" julga segundo os
critérios do Evangelho e descobre que aquilo que para o mundo é frágil, é
perdido, é sem valor, na verdade é o que há de mais precioso aos olhos de Deus:
"Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo
para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam?" Aqui
não se trata de bom-mocismo, de uma filantropia meramente humana; trata-se,
antes, de uma consciência que brota da contemplação do próprio modo de agir de
Deus: ele ama o miserável porque é misericordioso, ele se volta para o pobre,
de qualquer pobreza que seja, porque nos ama gratuitamente, e lhe apraz retirar
o pobrezinho do monturo e elevá-lo com os nobres do seu povo! Neste sentido,
São Tiago nos chama atenção para uma realidade bem concreta, palpável em cada
geração: são os pobres, os débeis, os fracos que mais têm fé, que mais se
abandonam no Senhor. Quem enche nossas igrejas? Quem é mais generoso para com
Deus? Quem mais se esforça para levar a sério os preceitos do Senhor? Quem mais
teme a Deus? Em geral, os pobres, os sofredores, os desvalidos! E por quê?
Porque ali, na humana miséria, podemos ver sem máscaras aquilo que somos o
tempo todo: pobres! Ainda que não queiramos admitir, somos todos pobres, todos
necessitados, todos dependentes diante de Deus. Precisamente aqui está a grande
bem-aventurança: ser pobre diante de Deus. E são os pobres do mundo e os pobres
de nossas comunidades quem melhor nos lembram isso! Olhemos os pobres e vejamos
o que somos; sirvamos e honremos os pobres, e serviremos e honraremos aquele
por quem e para quem somos!
Neste
sentido, a segunda leitura deste hoje é um sério convite a que nos perguntemos
sobre como nossa comunidade e nossa casa se comportam em relação aos pobres e
carentes do mundo. Damos-lhe atenção? Preocupamo-nos com eles? Uma comunidade
cristã – a de casa, da paróquia ou do grupo e movimento de Igreja – que não
abra o coração para os pobres, não é comunidade cristã! É incômodo isso que eu
digo; mas, é a verdade da Palavra de Deus, que não pode ser maquiada nem
domesticada! Nosso comportamento em relação aos pobres definirá nossa situação
para sempre diante de Cristo no Último Dia! Disso não tenhamos a mínima dúvida!
Portanto, ouçamos e tremamos!
Caríssimos, calem no coração as palavras que o Senhor hoje nos dirigiu. E que
esta Eucaristia cure nossa surdez, desate nossa língua e converta o nosso
coração. Amém.
D. Henrique Soares
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