quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

1º DOMINGO DA QUARESMA ano A, homilias, subsídios homiléticos


1º DOMINGO DA QUARESMA ano A

PRIMEIRA LEITURA (Gn2,7-9;3,1-7) Leitura do Livro do Gênesis.
O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou lhe nas narinas o sopro da vida, e o homem tornou-se um ser vivente. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’ E a mulher respondeu à serpente: “Do fruto das árvores do jardim nós podemos comer. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse:  ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, ao contrário morrereis’”.  A serpente disse à mulher: “Não, vós não morrereis. Mas  Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”. A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira. Palavra do Senhor. T. Graças a Deus.

AMBIENTE - Texto do séc. X a.C., época de Salomão. Finalidade teológica: na origem está Jahwéh. Trata-se de uma catequese e não de um tratado científico sobre as origens do mundo e da vida.
MENSAGEM - O homem não é apenas terra, pois recebe também o “sopro” de Deus. O homem procede diretamente, de Deus. Deus coloca-o num “jardim”. No centro do jardim, duas árvores especiais: a “árvore da vida” e a “árvore do conhecimento do bem e do mal”. A “árvore da vida” é o símbolo da imortalidade, que passa pela Lei e mandamentos… A “árvore do conhecimento do bem e do mal” é o outro caminho e representa o orgulho e a autossuficiência de quem acha que pode conquistar a sua própria felicidade, prescindindo de Deus. “Comer da árvore do conhecimento” significa decidir por si só o que é bem e o que é mal, pôr-se a si próprio em lugar de Deus. A idéia é esta: Deus criou o homem para ser feliz; deu-lhe a possibilidade de vida imortal; mas o homem pode escolher prescindir de Deus e percorrer caminhos onde Deus não está.
Na segunda parte o autor reflete: De onde vem o mal que impede o homem de ter vida plena? Esse mal – sugere o teólogo – vem das opções erradas que o homem tem feito. Para dizer isto, o autor recorre à imagem da serpente. Entre os povos antigos, a serpente aparece como um símbolo por excelência da vida e da fecundidade. Havia o culto da serpente (baal) com rituais mágicos para a fecundidade dos campos e rebanhos. A “serpente” surge aqui, como símbolo de tudo o que afasta os homens de Deus, sugerindo-lhes caminhos de orgulho, de egoísmo e de autossuficiência.
Conclusão: Deus criou o homem para ser feliz e indicou-lhe o caminho da imortalidade e da vida plena; no entanto, o homem escolhe muitas vezes o caminho do orgulho e da autossuficiência e vive à margem de Deus. Na opinião do autor jahwista, é essa a origem do mal que destrói a harmonia do mundo.
ATUALIZAÇÃO • De onde vimos? É Deus a nossa origem e o nosso destino último.
• Quando aceitamos Deus, Ele nos indica os caminhos da felicidade (mandamentos).
• O mal não vem de Deus, mas das escolhas erradas, do orgulho, do egoísmo e autossuficiência.
- "Nus": Despojados da dignidade inicial (viver nu é a condição dos animais; sem perspectiva).

SALMO RESPONSORIAL / Sl 50 (51)
Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra vós.
• Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!/Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai todas as minhas transgressões.
• Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
• Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. / Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito.
• Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espírito generoso! / Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, / e minha boca anunciará vosso louvor!

EVANGELHO (Mt 4,1-11) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!”. Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”. Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto’”. Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.

AMBIENTE - “Jesus foi tentado pelo diabo”. Os quarenta dias resumem os quarenta anos de Israel pelo deserto. O deserto é o lugar da “prova”, (do encontro com Deus e da sua fragilidade onde se encontra o amor de Deus).

MENSAGEM - A catequese sobre as opções de Jesus aparece em três quadros:
 Tentação do caminho de realização material (Riqueza); É fazer dos bens materiais a prioridade.
 Tentação do êxito fácil, mostrando o seu poder (Fama) e sendo admirado e aclamado. “Não tentar” o Senhor significa não exigir de Deus sinais e provas que sirvam para a promoção pessoal, não usar os dons para se impor.
Tentação do poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. Jesus sabe que só o Pai é absoluto e que só Ele deve ser adorado.
        As três tentações são uma única tentação: a tentação de prescindir de Deus, de escolher um caminho de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência, à margem das propostas de Deus. Mas, para Jesus, ser “Filho de Deus” significa viver em comunhão com o Pai, escutar a sua voz, realizar os seus projetos, cumprir os seus planos. Jesus venceu a tentação de escolher caminhos à margem dos projetos do Pai. De Jesus vai nascer um novo Povo de Deus, cuja vocação é viver em comunhão com o Pai e concretizar o seu projeto para o mundo e para os homens.
ATUALIZAÇÃO • Jesus recusou o individualismo. Ele quer a comunhão com o Pai e ao seu projeto…
• Quando o homem esquece Deus, se fecha no egoísmo e na autossuficiência, cai na escravidão de “deuses”.
** O homem foi seduzido e deseja ser seu próprio Deus! Somente sua vontade importa! Eis aqui o seu pecado!
** Ser como Deus, sendo autônomo, decidindo o que é certo e errado Resultado: viram que estavam nus…

SEGUNDA LEITURA (Rm 5,12-19) Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
 Irmãos, consideremos o seguinte: o pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram... Na realidade, antes de ser dada a lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, o qual era a figura provisória daquele que devia vir. Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. Também o dom é muito mais eficaz do que o pecado de um só. Pois, a partir de um só pecado, o julgamento resultou em condenação, mas o dom da graça frutifica em justificação, a partir de inúmeras faltas. Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.

AMBIENTE - (anos 57/58). Os cristãos de origem judaica consideravam necessário cumprir as Leis (circuncisão); Paulo vai mostrar que o essencial é acolher a oferta de salvação que Deus faz a todos, por Jesus.
MENSAGEM - Para Paulo, Adão prescinde de Deus e opta pelos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência. Ora, essa escolha produz injustiça, alienação, sofrimento, desarmonia. Porque o pecado gera morte. A morte deve ser entendida, neste contexto, como morte espiritual e escatológica que é afastamento temporário ou definitivo de Deus (a fonte da vida autêntica).
Cristo propôs outro caminho. Ele viveu na obediência total aos projetos do Pai. Esse caminho leva à superação do egoísmo, do orgulho, da autossuficiência e faz nascer um Homem Novo, que vive em comunhão com o Deus que é fonte de vida autêntica (a vitória de Cristo sobre a morte é a prova de que só a comunhão com Deus produz vida definitiva). Foi essa a grande proposta que Cristo fez à humanidade… Assim, Cristo libertou os homens da economia de pecado e introduziu no mundo uma dinâmica nova, uma economia de graça que gera vida plena. Cristo veio propor um caminho de comunhão com Deus e de obediência aos seus projetos; vida plena e definitiva.
ATUALIZAÇÃO • Adão ignora as propostas de Deus e decide, por si só; egoísmo, sofrimento e morte;
Jesus escolhe viver na obediência às propostas de Deus; gera vida plena e definitiva.

- O homem é homem, não é Deus! Deixemos a teimosia e a ilusão de achar que nos bastamos a nós mesmos! Nós temos a vida divina, por pura graça.
- “A vida é uma luta” (Jó 7,1): há inimigos internos: soberba, avareza, luxúria, gula, inveja, ira, preguiça. Há inimigos externos: o diabo, pessoas tentadoras, estruturas sociais injustas etc. Se o cristão não luta, é vencido.
- Diz Santo Agostinho que ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode ser coroado sem ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não pode lutar se não encontrou o inimigo e as tentações. O pior dos ídolos é o nosso próprio eu.
- O homem preferiu construir o "paraíso" a seu modo. Rompendo com o projeto de Deus, "sentiu-se nu", incapaz de ser feliz.
-  Ainda hoje somos tentados a esquecer as propostas de Deus e seguir as nossas propostas; outros deuses.
- Como Jesus nos ensinou na oração do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em tentação”; é necessário repetir muitas vezes e com confiança essa oração!
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As tentações continuam...

A Quaresma é um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã.
E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que frequentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.

As Leituras bíblicas nos ajudam nesse sentido...

A 1a Leitura apresenta a tentação de Adão e Eva: (Gen 2,7-9.3,1-7)
Deus criou o homem para a felicidade e para a vida plena. No entanto o homem preferiu construir o "paraíso" a seu modo. Rompendo com o projeto de Deus, "sentiu-se nu", despojado dos dons de Deus, incapaz de ser feliz.

A finalidade do autor sagrado não é uma descrição histórica ou científica, mas uma Catequese sobre a Origem do Mundo e da Vida.
- O Homem vem "da terra", no entanto recebe também o "sopro de Deus".
- Deus criou o homem para ser feliz, em comunhão com Deus   e indica-lhe o caminho da imortalidade e da vida plena.
- As escolhas erradas do homem, desde o início da história,   destroem a harmonia no mundo e é a Origem do Mal.
- "Jardim, plantas, água abundante": é o ideal de felicidade desejado por um povo que vive os rigores do deserto árido.
- "Árvore da vida": símbolo da imortalidade concedida ao homem.
- "Árvore do conhecimento do bem e do mal": representa a auto-suficiência de quem busca a própria felicidade longe de Deus.
- "Nus": Despojados da dignidade inicial (viver nu é a condição dos animais).
- "A Serpente": representa a Religião Cananéia, que cultuava a serpente.
   Por ela, os israelitas eram tentados a abandonar o caminho exigente da Lei.
   É símbolo de tudo o que afasta os homens de Deus e de suas propostas.

A 2ª Leitura nos propõe dois exemplos: Adão e Jesus. (Rm 5,12-19)
Adão representa o homem que escolhe ignorar as propostas de Deus e decidir, por si só, os caminhos da salvação e da vida plena;
Jesus é o homem que escolhe viver na obediência às propostas de Deus.
O esquema de Adão gera egoísmo, sofrimento e morte;
O esquema de Jesus gera vida plena e definitiva.

O Evangelho fala das tentações de Jesus. (Mt 4,1-11)
Na sua quaresma no DESERTO, Jesus é tentado três vezes a abandonar o plano de Deus e procurar outros caminhos, mas Ele se recusa.
Esse relato não é uma reportagem histórica, mas uma Catequese, cujo objetivo é mostrar que também Jesus foi tentado, mas foi fiel à vontade do Pai.
Os 40 dias simbolizam os 40 anos passados por Israel no deserto.
Jesus revive a experiência da fome e da confiança do povo na Providência divina.
Mateus sintetiza em três tentações simbólicas todas aquelas provas, que Jesus enfrentou e venceu durante toda a sua vida:
 
1) Tentação da Abundância (Riqueza):
Jesus é tentado a transformar as pedras em pães, como no tempo do Maná.
Jesus vence a prova, demonstrando a necessidade essencial de alimentar-se da Palavra de Deus: "Nem só de pão vive o homem..."

2) Tentação do Prestígio:         
Jesus poderia ter escolhido um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espetaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões.
Jesus rejeita todo o desejo de prestígio e afirma:
 "Não tentarás o Senhor teu Deus".
Não força Deus para solucionar magicamente problemas humanos.

3) Tentação do Poder:
Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio.
No entanto, Jesus rejeita essa tentação, afirmando: "Só a Deus adorarás".

As três tentações aqui apresentadas são três faces de uma única tentação: ignorar as propostas de Deus e escolher um caminho pessoal.
Jesus recusou a tentação do pão, da glória e do poder...
Para Ele, só uma coisa é verdadeiramente decisiva e fundamental: a comunhão com o Pai e o cumprimento obediente do seu projeto…

 + As Tentações continuam ainda hoje...
Ainda hoje somos tentados a esquecer as propostas de Deus e seguir outros deuses.
A Quaresma é um tempo favorável para rever quais são os ídolos, que adoramos no lugar de Deus e que
condicionam as nossas decisões e opções.
As nossas tentações talvez sejam semelhantes às de Jesus:

- Tentação da Riqueza: de "ter mais": dinheiro, bens, conforto, comodidade...
  Até recusamos compromissos voluntários, pois podem prejudicar o conforto...
  achando que para ser feliz,   basta ter muitos bens...

- Tentação do Prestígio, da fama: Adoramos ser elogiados, aparecer...
   Até exigimos de Deus sinais do seu amor: "Senhor, se me amas, ajuda-me..."
   E se o milagre não acontece, a nossa fé vacila!...

- Tentação do Poder: procuramos o Poder a todo custo e
  o exercemos com prepotência... em todos os ambientes...  
+ As tentações continuam ainda...  Qual é a nossa atitude diante delas?

                                         Pe. Antônio Geraldo
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Homilia D. Henrique Soares da Costa
Logo no início deste santo caminho para a Páscoa, a Palavra de Deus nos desvenda dois mistérios tremendos: o mistério da piedade e o mistério da iniqüidade! Esses dois mistérios atravessam a história humana e se interpenetram misteriosamente; dois mistérios que nos atingem e marcam nossa vida, e esperam nossa decisão, nossa atitude, nossa escolha! Um é mistério de vida; o outro, mistério de morte.
Comecemos pelo mistério da iniqüidade: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. Eis! A vida que vivemos, a vida da humanidade é uma vida de morte, ferida por tantas contradições, por tantas ameaças físicas, psíquicas, morais… Viver tornou-se uma luta e, se é verdade que a vida vale a pena ser vivida, não é menos verdade que ela também tem muito de peso, de dor, de pranto, de fardo danado. Mas, como isso foi possível? Escutemos a primeira leitura: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente”. Somos obra de Deus, do seu amor gratuito: do nada ele nos tirou e encheu-nos de vida. Mais ainda: “O Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado”. Vede: o Senhor não somente nos tirou do pó do nada, não somente nos encheu de vida; também nos colocou no jardim de delícias, pensou nossa vida como vida de verdade toda banhada pela luz do oriente. E mais: nosso Deus passeava no jardim à brisa do dia (cf. Gn 3,8), como amigo do homem. Eis o mistério da piedade, o projeto que Deus concebeu para nós desde o início, apresentado pela Palavra de modo poético e simbólico: um Deus que é Deus de amor, de ternura, de carinho, de respeito pela sua criatura, com a qual ele deseja estabelecer uma parceria; um homem chamado a ser plenamente homem: feliz na comunhão com Deus, feliz em ter no seu Deus sua plenitude e sua vida; homem plenamente homem nos limites de homem. O homem é homem, não é Deus! Somente o Senhor Deus é o Senhor do Bem e do Mal. Por isso as duas árvores no Éden: a do conhecimento do Bem e do Mal (isto é, o poder de decidir por si mesmo o que é bem ou mal, certo ou errado) e a árvore da Vida (da vida plena, da vida divina). Se o homem confiasse em Deus, se cumprisse seu preceito, se reconhecesse seus limites, um dia comeria do fruto da árvore da Vida…
Mas, o homem foi seduzido; é seduzido inda agora: deseja ser seu próprio Deus, sem nenhum limite, sem nenhuma abertura à graça! Somente sua vontade lhe importa, somente sua medida! Hoje, como no princípio, ele pensa que é a medida de todas as coisas! Eis aqui o seu pecado! O Diabo o seduz: primeiro distorce o preceito de Deus (“É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim’?”), semeando no coração do homem a desconfiança e o sentimento de inferioridade; depois, mente descaradamente: “Não! Vós não morrereis! Vossos olhos se abrirão e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal!” Ser como Deus, decidindo de modo autônomo o que é certo e o que é errado; decidindo que a libertinagem é um bem, que as aventuras com embriões humanos, que o aborto, que a infidelidade feita de preservativos, são um bem… Decidindo loucamente que levar a sério a religião e a Palavra de Deus é um mal… Ser como Deus… Eis nosso sonho, nossa loucura, nossa mais triste ilusão! Tudo tão atraente, tudo tão apto para dar conhecimento, autonomia, felicidade… O resultado: os olhos dos dois se abriram: estavam nus… estamos nus… somos pó e, por nós mesmos, ao pó tornaremos, inapelavelmente!
Então, nosso destino é a morte? Não há saída para a humanidade? O mistério da iniqüidade destruiu o mistério da piedade? Não! De modo algum! Ao contrário: revelou-o ainda mais: “A transgressão de um só levou a multidão humana à morte; mas foi de modo bem superior que a graça de Deus… concedida através de Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. Por um só homem a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça”. Eis aqui o mistério tão grande, o mistério da piedade, o centro da nossa fé: em Cristo revelou-se todo o amor de Deus para conosco; pela obediência de Cristo a nossa desobediência é redimida; pela morte de Cristo na árvore da cruz, nós temos acesso ao fruto da Vida, da Vida plena, da Vida em abundância, da Vida que nunca haverá de se acabar! Pela obediência de Cristo, pelo dom do seu Espírito, nós temos a vida divina, nós somos divinizados, somos, por pura graça, aquilo que queríamos ser de modo autônomo e soberbo! Assim, manifestou-se a justiça de Deus: em Jesus morto e ressuscitado por nós – e só nele! – a humanidade encontra vida!
Mas, esta salvação em Jesus teve alto preço: a encarnação do Filho de Deus e sua humilde obediência, até a morte e morte de cruz. O Senhor desfez o nó da nossa desobediência, da nossa autossuficiência, da nossa prepotência, renunciando ser o senhor de sua existência humana: ele acolheu a proposta do Pai, ele se fez obediente: à glória do pão (dos bens materiais, dos prazeres, do conforto) ele preferiu a Palavra do Pai como único sentido e única orientação de sua vida; à glória do sucesso (a honra, a fama, o aplauso), ele preferiu a humildade de não tentar Deus; à glória do poder (da força, das amizades poderosas e influentes, do prestígio político para impor e conseguir tudo) ele preferiu o compromisso absoluto e total com o Absoluto de Deus somente. Assim, Cristo Jesus, o Homem novo, o novo Adão (de quem o primeiro era somente figura e sombra) abriu-nos o caminho da obediência que nos faz retornar ao Pai!
Este é também o nosso caminho. Nossa vocação é entrar, participar, da obediência de Cristo pela oração, a penitência e a caridade fraterna para sermos herdeiros de sua vitória pascal! Este sagrado tempo que estamos iniciando é tempo de combate espiritual, para que voltemos, pelo caminho da obediência Àquele de quem nos afastamos pela covardia da desobediência. Convertamo-nos, portanto! Deixemos a teimosia e a ilusão de achar que nos bastamos a nós mesmos! Sinceramente, abracemos os sentimentos de Cristo, percorramos o caminho de Cristo, convertamo-nos a Cristo!
Concluamos com as palavras da Coleta de hoje: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”. Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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Homilia  Pe. Françoá Costa

Somos pessoas normais!

Essa afirmação poderia chamar a nossa atenção se não conhecêssemos a natureza humana, não somente através da bondade que ela manifesta constantemente, mas também por causa das dificuldades que a velha natureza encontra desde que Adão e Eva aprontaram, ou seja, pecaram. Antes o homem e a mulher estavam cheios de graça, a sua inteligência conhecia com rapidez e a sua vontade não encontrava dificuldade para amar, a sua memória era ágil, as suas forças permaneciam firmes diante do trabalho cotidiano e se vivia em grande harmonia com toda a criação. Eram pessoas normais!
No entanto, na situação atual, podemos afirmar tranquilamente: também nós somos pessoas normais! Isso significa que em nós há coisas boas e coisas más. Não nos deveriam surpreender demasiado nem as coisas boas, porque são graças de Deus; nem as más, porque são consequentes como uma natureza que, a partir, do pecado, tem aquilo que a tradição chama de vulnera peccati, ou seja, as feridas do pecado. Em efeito, depois do pecado, o ser humano perdeu a maravilhosa harmonia que existia no seu próprio ser e, consequentemente, também perdeu a harmonia que experimentava junto à natureza biológica e animal. Também o mundo que antes lhe era favorável, depois do pecado se lhe manifestava como hostil.
Pobre de nós se não reconhecermos que somos pecadores! Mais pobres ainda se não reconhecermos que a graça de Deus nos atingiu, nos curou e nos santificou! “O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição de homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Ef 6, 12), no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Consequência prática: é preciso lutar! É preciso fazer guerra! É preciso ser fortes na batalha! Sou um sacerdote de Jesus Cristo consciente da necessidade da graça de Deus como qualquer outro cristão; no entanto, não posso pregar uma santidade sem luta: utópica, fora da realidade. Em definitiva, santidade sem luta é um quimera! Não existe santo que não tenha lutado! Já o justo Jó era consciente de que “a vida do homem sobre a terra é uma luta” (Jó 7,1). A paz que se deseja não se consegue se não for através da guerra, através da derrota do inimigo. Qual o inimigo? Na verdade, são vários: há inimigos internos que causam desordem nos desejos e nos amores: soberba, avareza, luxúria e gula; há inimigos internos que causam desordem no nosso ânimo: inveja, ira, preguiça. Há ainda os inimigos externos: o demônio, pessoas que são tentadoras, algumas estruturas sociais injustas etc. Se o cristão não luta, é vencido.
Diante dessa realidade dramática, poder-se-ia assumir posturas que não condizem com aquilo que nós somos, isto é, filhos de Deus. Uma delas é uma espécie de naturalismo, que tem duas versões. Na primeira versão, luta-se somente com as próprias forças, com a vazia confiança de que se poderá vencer dessa maneira. A outra versão implicaria uma ausência de luta contra as más inclinações, simplesmente porque essas inclinações seriam concebidas como naturais ao homem e, no fundo, ele nem tem culpa das coisas que faz. Outra postura, diferente do naturalismo, é o pessimismo: luta-se, confia-se na graça de Deus, mas no fundo como se sabe que se cairá se desiste e se conforma com uma vida triste e aburguesada. Outra ainda, o rigorismo: tudo parece pecado e, por tanto, quase seria preferível fugir desse mundo, pois este se torna totalmente hostil e tudo se transforma em pecado, dessa atitude podem vir angústias, depressões e ansiedades.
A maneira de combater de um filho de Deus é equilibrada: confia, em primeiro lugar, na graça de Deus e, depois, coloca todos os meios que está ao seu alcance para conseguir a vitória: oração, sacramentos, fuga das ocasiões de pecado, cultivo do espírito de penitência, uma dimensão de serviço que ajuda a descomplicar-se. Além do mais, o filho de Deus luta com serenidade: caso haja alguma caída, se levanta rapidamente a través da contrição e da confissão, e continua lutando. Jesus saiu vitorioso das tentações. Ele não tinha as feridas do pecado porque não tinha pecado, mas foi tentado para vencer por nós. Nele nós somos vencedores. Já! Agora!
Pe. Françoá Costa
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Por: Pe. André Vital Félix da Silva, SCJ
Iniciamos a nossa caminhada quaresmal diante de duas cenas bíblicas aparentemente opostas, mas ao mesmo tempo intimamente relacionadas. Por um lado, o velho Adão no centro do paraíso (Éden em hebraico: jardim das delícias), tendo ao seu dispor uma variedade de frutos para a sua alimentação, com a única restrição de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (1ª Leitura); do outro lado, temos o novo Adão, em pleno deserto, sem nada para comer e beber, peregrinando em busca do homem perdido, isto é, o Adão desobediente que fora expulso do paraíso e que se encontra ali no deserto, abandonado, incapaz de reencontrar o caminho de volta. Por isso, o Filho de Deus, assumindo a condição desse homem, vai ao seu encontro a fim de fazê-lo reencontrar a estrada rumo ao paraíso, à vida plena (2ª Leitura).
Nesse episódio das tentações de Jesus retoma-se a perspectiva do Antigo Testamento do compromisso de Deus de reconduzir seu povo, que se encontra no deserto, para a terra prometida. Moisés, no seu cântico (Dt 32) afirma: “Quando o Altíssimo repartiu as nações, quando espalhava os filhos de Adão, ele fixou fronteiras para os povos… Mas a parte do Senhor foi o seu povo… Ele o achou numa terra deserta, num vazio solitário e ululante”, portanto, o deserto é o lugar do encontro por excelência de Deus com o seu povo. Contudo, aquele que provocou a expulsão do paraíso, agora faz de tudo para que esse homem não saia do deserto, por isso se antepõe àquele que pode tirá-lo de lá. Satanás em hebraico significa “aquele que se coloca diante para impedir a passagem”, é o adversário, o acusador. As tentações propostas pelo diabo representam as tentativas de impedir que o Filho de Deus reconduza o homem, que se encontra no deserto, de volta ao paraíso, pois mantê-lo no deserto é garantir a sua morte.
Se o homem foi expulso do paraíso por causa de sua desobediência, só há um caminho de volta: a obediência a Deus. Se a antiga serpente convenceu o homem a desobedecer a Deus incitando-o a comer do fruto proibido, agora o Filho de Deus reabre a estrada através de um jejum de 40 dias a fim de alimentar-se apenas da Palavra que sai da boca de Deus, pois só assim não se deixará seduzir por nenhuma outra palavra enganadora como fora aquela da serpente a Eva.
Sutilmente o tentador quer convencer Jesus a endurecer o coração (fechar os ouvidos à voz do Pai), levando-o à desobediência e à infidelidade. Uma linguagem simbólica muito recorrente na Bíblia para indicar as tentações do povo no deserto é justamente “o coração de pedra”, como adverte o salmista: “Não endureçais os vossos corações como no deserto” (Sl 95,8). A missão de Jesus é justamente o contrário, é transformar os corações de pedra, desobedientes, em coração de carne. Ezequiel já profetizara que o próprio Deus iria transformar o coração de pedra do seu povo a fim de torná-lo obediente à sua Palavra, e isso resultaria na certeza de habitar a terra prometida, ou seja, sair do deserto, pois de uma terra desolada e deserta o Senhor fará como o Jardim do Éden (Ez 34,26-38).
As investidas do Diabo visam dissuadir Jesus de sua missão, ou seja, primeiramente, ao invés de transformar os corações de pedra em coração de carne, o tentador sugere que Jesus transforme as pedras em pão, isto é, uma vez que está com fome, use o seu poder de Filho de Deus em benefício próprio e não na realização da vontade de Deus.
Em seguida, o tentador procura obstruir o caminho exodal de Jesus propondo-lhe abandonar a estrada por onde devia passar e tomar atalhos, caminhos mais fáceis: “Atira-te daqui para baixo… os anjos te tomarão pela mão”. Porém, Jesus sabe que o caminho que conduzirá a humanidade para fora do deserto, que leva ao paraíso, não conhece nem atalhos nem saídas de emergência, mas é a estrada da cruz, é a porta estreita que leva inevitavelmente ao calvário.

A astúcia da antiga serpente, a sua característica fundamental, alcança seu ponto mais alto quando propõe: “Tudo isto te darei, se prostrado, me adorares”. O Satanás não apenas tenta obstruir o caminho de volta ao paraíso, mas se coloca como meta final desse caminho. É a mais ousada tentativa de impedir que Jesus realize a sua missão. Mais do que dificultar a estrada, o Diabo se coloca como ponto final do percurso, pois propõe a Jesus que o reconheça como o seu Deus (e Pai). Diante da tentação de tomar uma estrada errada, reza o salmista: “Ensinai-me, ó Senhor, vossos caminhos e mostrai-me a estrada certa! Por causa do inimigo, protegei-me, não me entregueis a seus desejos!” (Sl 27,11-12).
Todo ser humano na sua jornada terrena faz a experiência de sentir-se perdido, de encontrar-se no deserto sem rumo. A quaresma nos propõe um encontro com o Senhor que vem ao nosso deserto para desobstruir o caminho de libertação. Jesus, vencedor das tentações, ajuda-nos também a vencê-las, quando nos deixamos guiar pela Palavra de Deus que ilumina nossos passos e nos encoraja na luta contra as três grandes tentações de todo ser humano, como nos diz muito bem São Gregório de Nazianzo (Sermão XL, 10): o diabo quis convencer Jesus pela necessidade (fome), pela vaidade (privilégio de ser Filho de Deus), pela ambição (possuir todos os reinos). Essas continuam sendo também as nossas tentações, são os grandes empecilhos que obstruem o nosso caminho de crescimento (rumo à plenitude de vida). Reduzindo nossa existência à satisfação de nossas necessidades, permaneceremos fechados na nossa dimensão material, imediatista, cujo horizonte é estreito e medíocre: não enxergamos mais do que o que comer, beber, vestir. Apegados à nossa vaidade, viveremos estagnados na superficialidade da nossa existência, nas aparências sem raízes profundas que possibilitem nosso crescimento em todas as dimensões. Escravizados pela ambição, serviremos apenas aos ídolos que garantam o nosso bem-estar material, ainda que isso não passe de uma ilusão. Todos nós somos suscetíveis às tentações, porém se nos deixarmos conduzir por aquele que as venceu e vai à nossa frente desobstruindo o caminho, é possível também vencê-las.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou Ministros da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO SAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR):
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR, NOSSO DEUS...
- COM JESUS, por Jesus e em Jesus, NA FORÇA DO ESPÍRITO, LOUVEMOS AO PAI :
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Senhor, criador do céu e da terra, bendito sejais, porque nos destes o Vosso sopro de vida e Por Jesus nos dignificastes com a graça da salvação. Que vosso Espírito nos fortifique sempre, para que saibamos optar pelos vossos projetos de vida e dignidade.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Nós Vos damos graças, porque nos enviastes o Vosso Filho, como um novo Adão, para que Ele fosse a cabeça de uma nova humanidade. Nós Vos bendizemos pelo dom gratuito da salvação.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- Pai, Vos louvamos e vos bendizemos pela Palavra que sai da Vossa boca: ela é o verdadeiro pão que dá vida. Dai-nos força para que possamos sempre optar em seguir os vossos mandamentos.
T: LOUVOR E GLÓRIA A VÓS, Ó PAI DE BONDADE!
- PAI NOSSO... A PAZ DE CRISTO... EIS O CORDEIRO...





segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Quarta feira de cinzas ano A, homilias, subsídios homiléticos


Quarta feira de cinzas ano A 2020

PRIMEIRA LEITURA (Jl 2,12-18) Leitura do Livro do Profeta Joel.
“Agora, portanto, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”. Quem sabe, se ele se volta para vós e vos perdoa, e deixa atrás de si a bênção, oblação e libação para o Senhor, vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento e a esposa, seu leito. Chorem, postos entre o vestíbulo e o altar, os ministros sagrados do Senhor e digam: "Perdoa, Senhor, a teu povo, e não deixes que esta tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem". Por que se haveria de dizer entre os povos: "Onde está o Deus deles?" Então o Senhor encheu-se de zelo por sua terra e perdoou ao seu povo.

Joel é provavelmente um sacerdote-profeta, que vive no Templo, depois do exílio. Fiel ao serviço da Casa de Deus, exorta o povo, que passa por uma grave carestia provocada por uma invasão de gafanhotos (1, 2-2, 10), à oração e à conversão .. O próprio culto, no templo, tinha cessado (1, 13.16). O profeta, que sabe ler os sinais dos tempos, anuncia a proximidade do «dia do Senhor», e convida o povo ao jejum, à súplica e à penitência (2, 12.15-17). «Convertei-vos», grita o profeta. O termo hebraico subjacente é schOb que significa arrepiar caminho, regressar… O povo que virara as costas a Deus, devia voltar novamente o coração para Ele, e retomar o culto no templo, um culto autêntico, que manifestasse a conversão interior. O povo pode voltar novamente para Deus, porque Ele é misericordioso (v. 13), e também pode mudar de ideia e voltar atrás (v. 14).
Um amor sincero a Deus, uma fé consistente, e uma esperança que se torna oração coral e penitente, darão ao profeta e aos sacerdotes as devidas condições para implorarem a compaixão de Deus para com o seu povo.
SALMO RESPONSORIAL / 50 (51)
Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.
• Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa!
• Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
• Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. / Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!
• Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espírito generoso! /Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, / e minha boca anunciará vosso louvor!

SEGUNDA LEITURA (2Cor 5,20–6,2)
Leitura da segunda Carta de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos: Somos, pois, embaixadores de Cristo; é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos. Deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: "No momento favorável, eu te ouvi e no dia da salvação, eu te socorri". É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação.

«Reconciliai-vos com Deus», é o apelo de Paulo. A reconciliação é possível, porque essa é a vontade do Pai, manifestada na obra redentora do Filho e no poder do Espírito que apoia o serviço dos apóstolos. O v. 21 é o ponto alto do texto, pois proclama o juízo de Deus sobre o pecado e o seu incomensurável amor pelos pecadores, pelos quais não poupou o seu próprio Filho (cf. Rm 5, 8; 8, 32). Cristo carregou sobre si o pecado do mundo e expiou-o na sua própria carne. Assim, podemos apropriar-nos da sua justiça-santidade. O Inocente tornou-se pecado para nos pudéssemos tornar justiça de Deus. E, agora, o tempo favorável para aproveitar essa graça: deixemo-nos reconciliar (katallássein) com Deus. O termo grego indica a transformação da nossa relação com Deus e, por consequência, da nossa relação com os outros homens. Acolhendo o amor de Deus, que nos leva a vivermos, não já para nós mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós (w. 14s.), podemos tornar-nos nova criação em Cristo (5, 18

EVANGELHO (Mt 6,1-6.16-18)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: "Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”.

Em Mt 4, 6.8, encontramos o princípio da interiorização («no segredo»). Agora, Jesus aponta outro importante princípio, o de «superar» a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus (5, 20). E seguem-se as aplicações práticas no que se refere à esmola, à oração, ao jejum, que resumem as práticas religiosas tradicionais. Jesus não censura essas práticas, mas a forma e o objetivo com que eram realizadas, particularmente pelos fariseus. O discípulo de Cristo comporta-se de modo diferente dos fariseus, os «hipócritas» (vv. 2.5.16). Ainda que não mantenha as suas boas obras «no segredo» (Mt 5, 14), só o faz para que a soberania divina seja reconhecida. Segundo o princípio da retribuição, quem faz boas obras para ser estimado e louvado pelos outros, já recebe a sua recompensa; quem as faz por Deus, obtém dele a retribuição.
O valor da esmola (Sir 3, 29; 29, 12; Tb 4, 9-11) pode ser posto em causa pela ostentação com que é feita. O mesmo se diga da oração, muitas vezes exibida «nos cantos das ruas» (v. 5). Quanto ao jejum, Cristo partilha a posição dos profetas (cf. Is 58, 5-7). O verdadeiro jejum implica conversão a Deus, e deve ser feito com alegria, como indicam os sinais festivos indicados no evangelho: perfumar a cabeça, lavar o rosto (v. 17). E como a conversão é um assunto pessoal, entre Deus e o pecador, deve manter-se secreta entre ambos. E Deus não deixará de retribuir o que bem conhece.
Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus, mesmo quando praticam as mesmas obras que eles.: «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles». Agora aplica esse princípio a algumas práticas religiosas do seu tempo: a esmola, o jejum e a oração. Há que estar atentos às motivações que nos levam a dar esmola, a orar, a jejuar, porque o Pai vê o que está oculto, os sentimentos profundos do coração. Se buscamos o aplauso dos homens, a vanglória, Deus nada tem para nos dar. Mas se buscamos a relação íntima e pessoal com Ele, a comunhão com Ele, seremos recompensados. Se não fizermos as boas obras com reta intenção somos hypokritoi, isto é, comediantes, e mesmo ímpios, de acordo com o uso hebraico do termo.
Meditatio
A Liturgia da Palavra dá-nos, hoje, a orientação correta para vivermos frutuosa mente a Quaresma, tempo favorável de graça, dia de salvação. Penitência e arrependimento não são caminho de tristeza, de depressão, mas caminho de luz e de alegria, porque, se nos levam a reconhecer a nossa verdade de pecadores, também nos abrem ao amor e à misericórdia de Deus.
O profeta, em nome de Deus, convida o povo a percorrer o caminho da esperança, fazendo penitência; os apóstolos recebem de Deus o ministério da reconciliação; a Igreja repete a boa nova: «É este o tempo favorável é este o dia da salvação» (2 Cor 6, 2). Com todo o povo de Deus, somos convidados a arrepiar caminho, a voltar-nos para o Senhor, a deixar-nos reconciliar, a dar a Cristo ocasião de tomar sobre Si o nosso pecado, porque só Ele o conhece e pode expiar.
Jesus, no evangelho, mostra-nos qual deve ser a nossa atitude quando praticamos obras de penitência (tais como a esmola, a oração, o jejum), e insiste na retidão interior, garantida pela intimidade com o Pai. Era essa a atitude e a orientação do próprio Jesus em todas as suas palavras e obras. Nada fazia para ser admirado pelos homens. Nós podemos ser tentados a fazer o bem para obtermos a admiração dos outros. Mas essa atitude, por um lado, fecha-nos em nós mesmos, por outro lado projeta-nos para fora de nós, tornando-nos dependentes da opinião dos outros.
Há, pois, que fazer o bem porque é bem, e porque Deus é Deus, e nos dá oportunidade de vivermos em intimidade e solidariedade com Ele, para bem dos nossos irmãos. Estar cheios de Deus, viver na sua presença, é a máxima alegria neste mundo, e garante-nos essa mesma situação, levada à perfeição, no outro.
Converter-se "ao Evangelho"! O Evangelho para nós, mais do que um livro, é uma pessoa, Jesus Cristo. É necessária a "conversão" ao verdadeiro conhecimento de Cristo. Não um conhecimento intelectual, como aquele que se obtém nas aulas de teologia. É preciso um conhecimento de fé, uma experiência viva, como aquela de fala S. Paulo: "Na verdade, em tudo isso só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo … Assim poderei conhecê-lo, a Ele, à força da Sua Ressurreição e à comunhão nos seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição. Não que eu já tenha alcançado a meta, ou que já seja perfeito, mas prossigo a minha carreira para ver se de algum modo a poderei alcançar, visto que já fui alcançado por Jesus Cristo’ (Fil 3, 8.10-13).
Façamos nesta Quaresma as obras de penitência que pudermos. Mas façamo-las na intimidade e na presença do Senhor, que havemos de procurar na oração, na Eucaristia, na comunidade… Não esqueçamos a ascese, especialmente a que nos é exigida pelo fiel cumprimento dos nossos compromissos com Deus e com os irmãos.
Contemplatio
Que sou eu? Cinza e pó. O pó é levado pelo vento. Assim acontece com a minha pobre natureza. Sou acessível a todo o vento da tentação. A minha vontade é tão móvel como o pó. Em que é então que me posso orgulhar? Que lição de humildade!
Porque é que o barro e a cinza se orgulham, pergunta o Sábio (Eccli 10, 8). Todos os homens, diz ainda, são apenas terra e cinza (17, 31). Os povos, depois de um rápido brilho, são como um amontoado de cinza depois do incêndio, diz Isaías (33, 12).
A nossa vida desaparecerá como se extingue uma faúlha, diz o Sábio, e o nosso corpo cairá feito em cinzas (Sab 2, 3).
Abraão dizia: «Ousarei falar a Deus, eu que não sou senão cinza e pó?» (Gen 18, 27).
No entanto, falou a Deus com humildade e confiança.
Tal deve ser o fruto desta cerimónia. Devo recordar-me, todos os dias, do meu nada e da minha fragilidade. O sinal material apagar-se-á da minha fronte, mas o pensamento que exprime deve permanecer gravado na minha memória.
Sou apenas nada, no entanto irei ter com Deus, mas irei com humildade. Irei lamentando as minhas faltas, irei fazendo reparação e confissão pública pelos meus pecados e pelos dos meus irmãos.
Irei com a consciência da minha fraqueza, mas mesmo assim confiante, porque Deus é bom, porque o Filho de Deus tomou um coração para me amar e partir este coração para deixar escorrer sobre a minha alma o perfume da sua misericórdia (Leão Dehon, OSP 3, p. 196).
BÊNÇÃO DAS CINZAS (Após a homilia, o Presidente da Celebração, de pé, convida para a bênção:)

BÊNÇÃO DAS CINZAS
Pr. Caros irmãos e irmãs, roguemos instantemente a Deus Pai, que abençoe com a riqueza da sua graça estas cinzas, que vamos colocar sobre as nossas cabeças em sinal de penitência.
(E após um instante em silêncio:)
Pr. Ó Deus, que vos deixais comover pelos que se humilham e vos reconciliais com os que reparam suas faltas, ouvi como um pai as nossas súplicas. Derramai a graça da vossa bênção sobre os fiéis que vão receber estas cinzas, para que, prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado o mistério pascal do vosso Filho. P.C.N.S.
T. Amém!

COMPROMISSO QUARESMAL
A. Irmãos e irmãs, antes de termos as cinzas impostas sobre nossas cabeças, renovemos os nossos compromissos quaresmais.
S. A Quaresma nos propõe Jesus como modelo de vida. Estais dispostos a segui-lo e a imitá-lo fielmente, procurando amar a todos como irmãos e irmãs?
 T. Sim, estamos!
Pr.  A Quaresma é um tempo que exige empenho constante nas pequenas coisas. Estais dispostos a realizar vossas atividades diárias como oferenda sacrifical em vista de um mundo mais fraterno?
T. Sim, estamos!
Pr.  Quaresma é um tempo propício para rezar mais e dedicar mais tempo à Palavra de Deus. Estais dispostos a dedicar mais tempo para ler, refletir e rezar a partir da Palavra de Deus?
T. Sim, estamos!
Pr. Quaresma é tempo de jejum e de penitência, de solidariedade e fraternidade. Estais dispostos, durante a Quaresma, a jejuar pelo bem de alguém necessitado e, como leigos e leigas protagonistas da evangelização, sujeitos da “Igreja em saída”, unir os esforços e “construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”, objetivo geral da Campanha da Fraternidade?
T. Sim, estamos!
Pr.  Renovado o nosso compromisso quaresmal, recebamos agora as cinzas.

CANTO PARA IMPOSIÇÃO DAS CINZAS [Hinário ABC Litúrgico, p.52]

1. Pecador, agora é tempo / de pesar e de temor: //: Serve a Deus, despreza o mundo, / já não sejas pecador!://
2. Neste tempo sacrossanto / o pecado faz horror: / //:Contemplando a Cruz de Cristo, / já não sejas pecador! ://
3. Vais pecando, vais pecando, / vais de horror em mais horror; //:Filho, acorda dessa morte, / já não sejas pecador!://
4. Passam meses, passam anos, / sem que busques teu Senhor; //:Como um dia para o outro, / assim morre o pecador!://
5. Pecador arrependido, / pobrezinho pecador, //:vem, abraça-te contrito / com teu Pai, teu criador!://
6. Compaixão, misericórdia / vos pedimos, Redentor; //:Pela Virgem, Mãe das Dores, / perdoai-nos, Deus de amor!://

Ou

Pequei, Senhor, misericórdia!
1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa!
2. Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
3. Mostrais assim quanto sois justo na sentença / e quanto é reto o julgamento que fazeis. / Vede, Senhor, que eu nasci na iniquidade / e pecador já minha mãe me concebeu.
4. Mas vós amais os corações que são sinceros; / na intimidade, me ensinais sabedoria. / Aspergi-me, e serei puro do pecado / e mais branco do que a neve ficarei. 5. Fazei-me ouvir cantos de festa e de alegria / e exultarão estes meus ossos que esmagastes. / Desviai o vosso olhar dos meus pecados / e apagai todas as minhas transgressões.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

7º Domingo do Tempo Comum ANO A 2020, homilias, subsídios homiléticos


7º Domingo do TC ANO A 2020  (Adaptado pelo Diácono Ismael)
SINOPSE das leituras:
Tema: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.”
Primeira leitura: Viver na comunhão com o Deus, exige o ser santo e ser santo passa pelo amor ao próximo. 
Evangelho: Jesus pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.
Segunda leitura: Paulo convida a sermos o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, devemos optar pela “sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total).

PRIMEIRA LEITURA (Levítico 19,1-2.17-18): “Sede santos, porque Eu, o Senhor, sou santo. Não tenhas no coração ódio contra teu irmão.... Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
AMBIENTE - Levítico (questões do culto) Jahwéh explica leis, preceitos, ritos, relacionados com o culto.
MENSAGEM - A santidade é ser “justo”. Não haja ódio, nem rancor: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
ATUALIZAÇÃO• Ser santo não significa viver de olhos voltados para Deus esquecendo os homens;
• Temos de viver num contínuo processo de conversão; egoísmo, ódio injustiça exploração.

EVANGELHO (Mt 5,38-48): Olho por olho e dente por dente! ’: Não enfrenteis quem é malvado! Se alguém te dá um tapa, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois! Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado. Foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.”
AMBIENTE - “Discurso da montanha” e a “nova Lei”. A perspectiva de Mateus é que Jesus não veio abolir a Lei, mas levá-la à plenitude. É preciso que a Lei deixe de ser preceitos externos, para se tornar compromisso com Deus.
MENSAGEM: O primeiro: “olho por olho, dente por dente”. Destina a evitar as vinganças excessivas… Na  perspectiva de Jesus, é preciso acabar com a espiral de violência. Jesus apresenta quatro casos. No primeiro, pede que não se responda com a mesma moeda. No segundo, (entrega da túnica), (a entrega da capa); no terceiro, se acompanhe por duas milhas; no quarto, atender aquele que pede dinheiro emprestado…:
O segundo exemplo (o sexto da lista) refere-se ao amor aos inimigos. Lei antiga: “ama o teu próximo e odeia o teu inimigo”… Qual o motivo? É porque Deus faz brilhar o sol e envia a chuva sobre bons e maus. “Ser filho de Deus” significa dar testemunho do amor de Deus e parecer-se com Deus no modo de agir.
A expressão final (“sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”) parafraseia a primeira leitura (“sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo”):
ATUALIZAÇÃO - • Eu sou chamado a dar testemunho do amor de Deus no meio do mundo.
• A dinâmica do “Reino” implica gestos de amor para com os irmãos.
• Jesus pede que inverta a espiral de violência..
• Jesus pede o amor a todos, inclusive aos inimigos. “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
** É mais do que «perdoar os inimigos», que já é muito. Amar quer dizer responder ao ódio com o amor. Porque, «se amar os amigos é de todos, amar os inimigos é só dos cristãos», como escreveu Tertuliano.
«Jesus viveu e morreu em vão, se não aprendemos dele a regular as nossas vidas pela lei do amor», escreveu Gandhi.

SEGUNDA LEITURA (1Cor 3,16-23) Irmãos, sois santuário de Deus. A sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus. ... Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum. Com efeito, tudo vos pertence: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro; tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.
AMBIENTE  Paulo constata que os coríntios ainda não acolheram essa sabedoria: cultivam as divisões e os conflitos; correm atrás de mestres humanos como se eles tivessem a chave da felicidade.
MENSAGEM - Para Paulo, o verdadeiro segredo da felicidade não está na ciência, na técnica, na elegância dos discursos; mas está em Jesus e, de forma privilegiada na cruz, nos mostrou que só o amor, a doação, a entrega, o serviço, geram vida plena e fazem nascer o Homem Novo.
A última frase: “tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. Deve ser compreendida em ‘eu sou de Paulo; e eu de Apolo; e eu de Cefas’”… “Não é assim”. ; eles é que vos pertencem a vós, pois são servidores.
ATUALIZAÇÃO - • Os cristãos são Templo de Deus e as testemunhas da sua salvação.
• O que é que preside à minha vida: a “sabedoria de Deus” que é amor, ou a “sabedoria do mundo”, que é luta pelo poder econômico, pelos bens perecíveis e secundários?

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PERDÃO: Jesus cita quatro exemplos:
             - Violência física:  Se te bater na Face direita; oferece a esquerda;
          - Injustiça econômica: Se tomar tua túnica; dá-lhe também o manto;
          - Abuso do Poder: Se mandar andar um Km; anda dois;
          - empréstimo: Se alguém te pedir;  não vires as costas.
O GRANDE SERMÃO DA MONTANHA (CAPÍTULO 5 DE MATEUS):
4º Domingo TC : “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
5º Domingo do TC: Jesus pede que sejamos sal do mundo e luz de liberdade e de esperança.     
 6º DOMINGO DO TC: 'Não matarás! 'Não cometerás adultério', 'Não jurarás falso'. 
7º Domingo do TC:    Jesus pede para inverter a lógica da violência; sede santos como o vosso Pai...
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA (Diáconos ou Ministros extraordinários da Palavra):

LOUVOR (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS...  DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, por Jesus e em Jesus, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: SENHOR, QUE SAIBAMOS AMAR COMO NOS AMAIS.
- Senhor, nosso Deus, Vos louvamos e Vos agradecemos por nos amar e nos dar Jesus como a palavra viva que nos orienta e nos transforma.
T: SENHOR, QUE SAIBAMOS AMAR COMO NOS AMAIS.
- Senhor, grande é o vosso amor nos ensinando os caminhos para a felicidade plena. Que os vossos ensinamentos transformem nossos corações para o amor.
T: SENHOR, QUE SAIBAMOS AMAR COMO NOS AMAIS.
- Senhor, Sois imenso e cheio de bondade. Dai-nos o entendimento para que cumpramos os vossos mandamentos e sejamos espelhos de vosso amor.
T: SENHOR, QUE SAIBAMOS AMAR COMO NOS AMAIS.
- Senhor, nosso Deus, que vossas leis sejam luz para nossas ações e possamos viver como irmãos em nossa comunidade.
T: SENHOR, QUE SAIBAMOS AMAR COMO NOS AMAIS.
- PAI NOSSO...  A PAZ...  CORDEIRO DE DEUS.

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Mt 5, 38-48 7º Domingo do Tempo Comum ANO A
Tema: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.” O compromisso é sério.
Primeira leitura: Viver na comunhão com o Deus, exige o ser santo e ser santo passa pelo amor ao próximo. 
Evangelho: Jesus pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.
Segunda leitura: Paulo convida a sermos o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, devemos optar pela “sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total).
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PRIMEIRA LEITURA (Lv 19,1-2.17-18)Leitura do Livro do Levítico.
O Senhor falou a Moisés, dizendo: “Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel e dize-lhes: Sede santos, porque
eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. Não procures vingança, nem guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti esmo. Eu sou o Senhor.”

AMBIENTE - No Livro Levítico (questões do culto) Jahwéh explica o que deve fazer para viver sempre em comunhão com Deus. Apresenta leis, preceitos, ritos, relacionados com o culto: o Povo tem de viver de acordo com determinadas regras para manter esta comunhão com Deus.

MENSAGEM - “Sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo”. A santidade é ser “justo” para com os irmãos. Não haja ódio, nem rancor contra o irmão. A centralidade é: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

ATUALIZAÇÃO• “Sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo”. A santidade é a comunhão com Deus. É se identificar com Cristo e caminhar ao encontro da vida plena, do Homem Novo.
• Ser santo não significa viver de olhos voltados para Deus esquecendo os homens; mas a santidade implica um real compromisso com o mundo. Passa pela construção de uma vida de relação com os irmãos; sem qualquer tipo de agressividade, de vingança, de rancor; implica amar o outro como a si mesmo.
• Temos de viver num contínuo processo de conversão, que elimine do nosso coração as raízes do mal, responsáveis pelo egoísmo, pelo ódio, pela injustiça, pela exploração.

SALMO RESPONSORIAL / 102(103)
Bendize, ó minh’alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compassivo!
• Bendize, ó minha alma, ao Senhor/ e todo o meu ser, seu santo nome! /
Bendize, ó minha alma, ao Senhor; / não te esqueças de nenhum de seus favores!
• Pois ele te perdoa toda culpa / e cura toda a tua enfermidade; /
da sepultura ele salva a tua vida / e te cerca de carinho e compaixão.
• O Senhor é indulgente, é favorável, / é paciente, é bondoso e compassivo. /
Não nos trata como exigem nossas faltas, / nem nos pune em proporção às nossas culpas.
• Quanto dista o nascente do poente, / tanto afasta para longe nossos crimes. /
Como um pai se compadece de seus filhos, / o Senhor tem compaixão dos que o temem.

EVANGELHO (Mt 5,38-48) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente! ’ Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado. Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.”

AMBIENTE - Continuamos com o “discurso da montanha” e com a apresentação da “nova Lei” que deve conduzir a caminhada cristã. Vimos, no domingo passado, como Mateus estava preocupado em definir, para os cristãos vindos do judaísmo, a relação entre Cristo e a Lei de Moisés. Os cristãos continuam obrigados a cumprir a Lei de Moisés? Jesus não aboliu a Lei antiga? O que há de verdadeiramente novo na mensagem de Jesus? A perspectiva de Mateus é que Jesus não veio abolir a Lei, mas levá-la à plenitude. No entanto, considera Mateus, a Lei tornou-se um conjunto de prescrições que são cumpridas mecanicamente, dentro de uma lógica casuística que, tantas vezes, não tem nada a ver com o coração e com a vida. É preciso que a Lei deixe de ser um conjunto de preceitos externos a cumprir para conquistar a salvação, para se tornar expressão de um verdadeiro compromisso com Deus e com o “Reino”.

MENSAGEM: O primeiro exemplo que o Evangelho de hoje nos propõe (o quinto da lista) refere-se à chamada “lei de talião”: “olho por olho, dente por dente” (cf. Ex 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21). Em si, é uma lei destinada a evitar as vinganças excessivas… Na  perspectiva de Jesus, é preciso acabar com a espiral de violência, assumindo uma atitude pacífica.Jesus apresenta quatro casos concretos. No primeiro, pede que não se responda com a mesma moeda àquele que nos agride, mas que se desarme o violento oferecendo a outra face; no segundo, recomenda que, diante de uma exigência exorbitante (entrega da túnica), se responda entregando ainda mais (a entrega da capa, vestimenta que servia para proteger dos rigores da noite); no terceiro, exige que se acompanhe por duas milhas aquele que quer forçar-nos a acompanhá-lo por uma (provavelmente, uma prática frequente das patrulhas romanas que requisitavam os Palestinos para que as guiassem durante algum tempo); no quarto, Jesus recomenda que não deixe sem atender aquele que pede dinheiro emprestado… Este conjunto de exemplos concretos aponta numa única direção: os membros da comunidade de Jesus devem manifestar a todos um amor sem medida, que vai muito além daquilo que é humanamente exigido. Dessa forma, eles inauguram uma nova era de relações entre os homens.
O segundo exemplo (o sexto da lista) refere-se ao amor aos inimigos. Jesus afirma que a Lei antiga recomendava: “ama o teu próximo e odeia o teu inimigo”… Para Jesus, o amor deve atingir a todos, sem exceção, inclusive os inimigos. Fica, assim, abolida qualquer discriminação. Qual o motivo desta exigência? É porque Deus também não faz discriminação no seu amor. Ele é o Pai que não distingue entre amigos e inimigos, que faz brilhar o sol e envia a chuva sobre bons e maus, que oferece o seu amor a todos, inclusive aos indignos. O amor universal de Deus é a razão do amor que os membros do “Reino” devem oferecer a todos que Deus coloca no seu caminho. “Ser filho de Deus” significa dar testemunho do amor de Deus e parecer-se com Deus no modo de agir.
A expressão final (“sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”) parafraseia o refrão da “lei da santidade” que encontramos na primeira leitura (“sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo”) e resume, de forma magnífica, o ensinamento que Mateus pretende apresentar à sua comunidade com estes seis exemplos (os quatro do domingo passado e os dois de hoje): viver na dinâmica do “Reino” exige a superação de uma perspectiva legalista e casuística, para viver em comunhão total com Deus, deixando que a vida de Deus, que enche o coração do crente, se manifeste na vida do dia-a-dia, inclusive nas relações fraternas.

ATUALIZAÇÃO - • Ao aceitar o desafio de viver em comunhão com Deus, eu sou chamado a dar testemunho da vida de Deus diante de todos os meus irmãos e a ser um sinal vivo de Deus, do seu amor, da sua perfeição, da sua santidade, no meio do mundo.
• A dinâmica do “Reino” implica a superação de uma religião feita de leis, de ritos, de gestos externos e transborde em gestos de amor para com os irmãos.
• Jesus pede a superação de uma lógica de vingança, de responder na mesma moeda, e que inverta a espiral de violência e que inaugure um novo espírito nas relações entre os homens..
• Jesus pede o amor a todos, inclusive aos inimigos, subvertendo a lógica do mundo. “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
** É mais do que «perdoar os inimigos», que já é muito. Amar quer dizer responder ao ódio com o amor. Trata-se de um excesso de amor. Porque, «se amar os amigos é de todos, amar os inimigos é só dos cristãos», como escreveu Tertuliano.
«Jesus viveu e morreu em vão, se não aprendemos dele a regular as nossas vidas pela lei do amor», escreveu Gandhi.
Valem, então, as palavras de Jesus: «Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam, bendizei aqueles que vos amaldiçoam, rezai por aqueles que vos maltratam» .Tudo isto, «para que sejais filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o sol para os bons e para os maus, e manda a chuva para os justos e os injustos... Sede, portanto, perfeitos como é perfeito o Pai celeste» (Mt 5, 45-46).

SEGUNDA LEITURA (1Cor 3,16-23)Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Se alguém destruir osantuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário. Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus. Com efeito, está escrito: “Aquele que apanha os sábios em sua própria astúcia”, e ainda: “O Senhor conhece os pensamentos dos sábios; sabe que são vãos”. Portanto, que ninguém ponha a sua glória em homem algum. Com efeito, tudo vos pertence: Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro; tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.

AMBIENTE - Continuamos no contexto da comunidade cristã de Corinto. Depois de apresentar a “sabedoria de Deus”, revelada em Jesus Cristo (“loucura da cruz”) e oferecida aos homens (cf. 1 Cor 1,18-2,16), Paulo constata que os coríntios ainda não acolheram essa sabedoria: mantêm-se na dimensão do homem carnal (isto é, do homem fraco, limitado, pecador, escravo das suas paixões), imaturos na fé; cultivam as divisões e os conflitos, em flagrante contradição com o que Jesus lhes ensinou; correm atrás de mestres humanos como se eles tivessem a chave da felicidade e da realização plena, esquecendo que, por detrás de Paulo ou de Apolo, está Deus (cf. 1 Cor 3,1-15).
MENSAGEM - É por isso que Paulo pergunta: “Não sabeis que sois Templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” O Templo é, no contexto do Antigo Testamento, a residência de Deus, o lugar da presença de Deus no meio do seu Povo. Mas agora, considera Paulo, é a comunidade cristã que é o verdadeiro Templo onde Deus reside, onde ele se manifesta aos homens e onde ele oferece a salvação. Ora, pode ser Templo de Deus onde reside o Espírito e viver no conflito, na divisão, no ciúme, no confronto?
Paulo exorta a deixarem a “sabedoria do mundo” e a pautarem a sua existência pela “sabedoria de Deus” (que é amor, dom da vida, que é cruz). E Paulo volta a recordar: a “sabedoria de Deus” parece ser loucura aos olhos do mundo; mas é nessa “loucura” que reside o segredo da vida em plenitude.
Para Paulo, o verdadeiro segredo da felicidade não está na ciência, na técnica, na elegância dos discursos; mas está em Jesus e, de forma privilegiada na cruz, nos mostrou que só o amor, a doação, a entrega, o serviço, geram vida plena e fazem nascer o Homem Novo.
A última frase do nosso texto é muito rica: “tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. Deve ser compreendida em função de 1 Cor 1,12: “cada um de vós diz: ‘eu sou de Paulo; e eu de Apolo; e eu de Cefas’”… “Não é assim”, esclarece Paulo. “Vós não pertenceis a estes pregadores; eles é que vos pertencem a vós, pois são vossos servidores. Eles estão ao vosso serviço para que vós descubrais Cristo e a ‘loucura da cruz’ e, para que por Cristo, o mediador da salvação, chegueis a Deus”.

ATUALIZAÇÃO - • Os cristãos são Templo de Deus e as testemunhas da sua salvação.
• O que é que preside à minha vida: a “sabedoria de Deus” que é amor, ou a “sabedoria do mundo”, que é luta pelo poder, pelo poder econômico, pelos bens perecíveis e secundários?

Dehonianos
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Pe. Antônio Geraldo
Perfeitos como o Pai

Nesse domingo, continuaremos o Sermão da Montanha.
Jesus nos coloca a essência do seu ensinamento: O AMOR, para sermos "perfeitos como o Pai".

O Evangelho apresenta mais dois exemplos (antíteses), que mostram a novidade de Jesus em relação a antiga Lei:
Perdão x vingança, Amor x Ódio... (Mt, 5,38-48)

1)PERDÃO: "Ouvistes: Dente por dente, olho por olho..."
                  É a conhecida Lei do talião, que não pretendia autorizar a vingança, mas limitar: não podia ser maior do que a violência original...

EU: "Não ofereçais resistência ao malvado...":
   Jesus cita quatro exemplos de situações de violência:
             - Violência física:             Se te bater na Face direita; oferece a esquerda;
            - Injustiça econômica:       Se tomar tua túnica; dá-lhe também o manto;
            - Abuso do Poder:             Se mandar andar um Km; anda dois;
            - empréstimo:                     Se alguém te pedir; não vires as costas.

Na lógica dos homens é uma loucura...
- A Lei antiga procurava limitar a violência, mas, na prática, justificava...

- JESUS: Não é suficiente o perdão... o Cristão deve ser um sacramento de amor e de perdão.

PERDÃO: é uma extensão do amor. Através do perdão, o amor é confirmado e a paz se faz presente na relação humana.
A não resistência ao malvado rompe o ciclo contínuo da vingança.
- Perdão é cortar o mal pela raiz, extinguindo a maldade e o ressentimento.
  A dificuldade de perdoar impede o seguimento radical de Jesus Cristo
- Não é uma resignação fatalista, mas a não violência ativa do amor...
   (Exemplos: M.L.King, Gandhi, Dom Romero...)
- Suportar a injustiça não significa aprová-la, pode ser uma denúncia profética...
  = Amar como Deus ama é o núcleo do novo.
     Só assim podemos rezar o Pai Nosso: "Perdoai, assim como perdoamos..".

* O Espírito de vingança ("Talião" de hoje) está bem enraizado também em nosso coração:
   "Quem ri por último, ri melhor..."; "Não levo desaforo para casa..."

2) AMOR AOS INIMIGOS: "Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo..."

EU: "Amai os vossos inimigos, e rezai pelos que vos perseguem..."

- Já no Antigo Testamento encontramos:
. "Não guardes ódio no coração contra teu irmão".
. "Não procures vingança, nem guardes rancor aos teus compatriotas".
. "Amarás o próximo como a ti mesmo...

"(1ª Leitura Lv 19,1-2.17-18)

O texto esclarece que a "Santidade" que o Senhor exige não se manifesta em formas de religiosidade  externa,
mas no amor ao irmão. Mas na prática, o amor ao próximo se limitava só para os compatriotas...

- JESUS: amplia as dimensões da caridade: amar até os inimigos...
Motivo: Uns e outros são filhos de Deus = irmãos...

A compreensão de que somos todos filhos do mesmo Pai e Mãe e a percepção de que seu amor é sem limites leva à fraternidade universal, à solidariedade e à partilha, vivendo-se com alegria, tendo como meta a união e a paz.

E nos apresenta um Modelo: O Pai Celeste:
"Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito..."
A imitação de Deus, na sua perfeição ou santidade, concretiza-se no amor manifestado também ao inimigo.
Trata-se de um amor gratuito e desinteressado, que supera a restrição à religião e à raça.
"Desse modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus".
O amor sem distinção possibilita fazer a experiência de filhos, reproduzindo na terra a bondade do Pai celeste,
que "faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos."
O amor leva a superar o espírito de hostilidade, a vingança, o ódio e o rancor, para construir a fraternidade.

Só assim nos tornamos verdadeiros filhos de Deus...
- "Se amais aos que vos amam... que recompensa tendes? também os publicanos (pecadores) o fazem..."
- "Se saudais os vossos irmãos... Os gentios também o fazem..."

A 2ª Leitura responde que é uma loucura para os homens, mas é "Sabedoria" para Deus. (1Cor 3, 16-23)

+ Temos inimigos a perdoar e rezar por eles?
+ Pessoas que não gostamos ou que não gostam de nós?
+ Qual a nossa atitude para com elas?

+ A Eucaristia que celebramos é de fato um gesto de COMUNHÃO com Deus e os irmãos?
Pe. Antônio Geraldo
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HOMILIA DE D. HENRIQUE SOARES da Costa

     Caríssimos irmãos no Senhor, mais uma vez estamos reunidos para a santa Eucaristia dominical, na qual encontramos o Ressuscitado, alimentamo-nos da sua palavra e nutrimo-nos do seu Corpo sagrado. Com efeito, ele está conosco, ele nos fala, ele se dá a nós, totalmente! Ouvir o Senhor, alimentar-se dele - pensem bem -, significa abrir-se para ele porque nele cremos. É isto crer, meus caros: viver abertos de verdade para o Senhor, deixando que ele plasme a nossa vida, ilumine os nossos caminho, vá invadindo e transformando toda a nossa existência.
      Se pensarmos bem, é a uma atitude assim que a Palavra de Deus hoje nos convida. O Senhor Deus nos diz: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”; depois, no Evangelho, insiste: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” Em outras palavras: Sede como o vosso Deus, deixai-vos invadir por ele, transformar por ele! Deixai que ele seja o lastro, o alicerce, o fundamento, o rumo da vossa vida! Crer nele e deixar-se invadir por ele e ir assumindo seus sentimentos, seus pensamentos, seus desígnios. Observai como na primeira leitura o Senhor Deus afirma: “Eu sou o Senhor!” Se eu sou o Senhor para vós, sede santos como eu, tende um coração como o meu: não guardes ódio no coração, não te vingues, repreende o teu próximo com bom coração, ama de verdade o próximo como a ti mesmo!
      Compreendeis, caríssimos? Não podemos dizer que Deus é o Senhor e, ao mesmo tempo, vivermos do nosso modo, como se nós próprios fôssemos o nosso Deus! Alguém que viva do seu modo, seguindo seus próprios critérios, alguém que se julgue o senhor do bem e do mal e veja, analise, julgue e aja de acordo com seus próprios pensamentos, gostos e prioridades, independente da vontade de Deus – e essa vontade de Deus não é teórica, distante, mas nos aparece nas Escrituras interpretadas pela Igreja com a autoridade de Cristo – alguém assim, mesmo que dissesse que acredita, não crê de verdade, não exprime na vida que Deus é seu Senhor! Ah, caríssimos, que há tantos crentes de nome e ateus de vida! Há tantos, como diz o Apóstolo, “que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim será a perdição; o seu deus, é o ventre; e sua glória, eles a põem na própria ignomínia, já que só levam a peito as coisas da terra” (Fl 3,18-19). Viver na vontade do Senhor, abertos ao Senhor, àquele Deus Santo que se manifestou como Poder, Santidade, Sabedoria e Salvação na fraqueza, na maldição, na loucura e na perdição da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
      A mesma ideia aparece na segunda leitura de hoje: vede como São Paulo nos convida ter plena consciência de que não nos pertencemos: “Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” Somos santuário de Deus, isto é, somos templo, morada do seu Santo Espírito, aquele Espírito que Jesus morto e ressuscitado derramou em nossos corações desde o nosso batismo. Então, como poderíamos viver do nosso jeito? Como poderíamos seguir a lógica da moda, da maioria, do mundo atual? Como poderíamos abraçar a louca e tola sabedoria do mundo atual? Que palavras claras e escandalosas as do Apóstolo: “Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus!” O que significam tais palavras? É preciso deixar nossa lógica mundana para abraçar a lógica de Deus; e esta lógica – nunca esqueçamos, nunca deixemos de repetir - manifestar-se-á sempre e somente na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Era isto que o nosso bendito Salvador dizia no Domingo passado e continua a dizer neste hoje: a nossa religião tem que superar a dos escribas e fariseus! Lembram de oito dias atrás? “Se a vossa justiça, isto é, se o vosso modo de praticar a religião, de cumprir os preceitos, não for maior que a justiça dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus!” em que nossa prática deve ser maior? No modo de viver a religião: um modo interior, nascido do amor a Deus e aos irmãos; um amor que deixa de verdade Deus entrar, habitar em nós como num templo, nos questionar, nos transformar; uma prática da religião suscitada, sustentada, impulsionada, animada pelo Santo Espírito! Observai, amados no Senhor, como Jesus chama atenção não primeiramente para a letra do preceito, mas para o espírito, a intenção, a motivação com a qual se realiza o preceito: “Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente” – é justo, era a medida da justiça da Lei de Moisés e ainda hoje é a medida de todos os tribunais do mundo. Este preceito não é de vingança; é de justiça: um olho por um olho, um dente por um dente! “Eu, porém, vos digo: não só justiça, mas misericórdia, generosidade, porque vosso Deus é assim!” “Ouvistes o que foi dito: amarás a quem te ama, não tens obrigação para com teus inimigos. Eu, porém vos digo: amai a todos, amai sem esperar recompensa, porque o coração do vosso Pai no céu é assim!” Abri-vos, pois, irmãos meus, abri-vos para Deus, aquele Deus que vos deu tudo quando vos deu o Filho Único, o Amado, até a morte e morte de cruz!
      Caríssimos, vivemos num mundo no qual o homem se colocou como o centro. Até mesmo na Igreja há pessoas que pensam num cristianismo à medida do homem e do gosto das modas atuais. Há cristãos, há teólogos que pensam assim: “Se fizermos como o mundo espera, vamos atrair o mundo para a Igreja; se fizermos adaptações no cristianismo e na Igreja ele se tornará atraente...” Não! É Cristo quem atrai, é Cristo crucificado e ressuscitado o critério! Não se trata de atrair para a Igreja, mas para o Jesus vivo e verdadeiro, com toda a sua verdade, com todo o seu amor, com toda a sua exigência que nos liberta, nos tira de nós e nos dá a vida em abundância! O resto é pensamento humano, vazio e estéril! Repito, caríssimos: o centro é Cristo Jesus que nos leva ao Pai: é ele o critério, é ele a medida, é ela a única verdade! Quando nos deixamos transformar por ele somos livres de verdade e de verdade damos glória a Deus. Nunca esqueçais, amado meus: “Tudo vos pertence, tudo é vosso, mas vós sois de  Cristo, e Cristo é de Deus”. A ele a glória pelos séculos. Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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Homilia Pe. Françoá Costa

Amor aos inimigos

Amor a quem? Aos inimigos? Sim. Aos que nos odeiam e aos que nos maltratam, aos que nos perseguem e aos que falam mal de nós, nem excluímos os que difamam a Igreja e os que injuriam os ministros de Deus. Também os insensatos que afirmam disparates contra a fé e os bons costumes tentando corromper a família, a juventude e as crianças, devem ser objetos do nosso amor que perdoa. Enfim, todos os que nos consideram inimigos – nós, ao contrário, não somos inimigos de ninguém – se sintam amados e perdoados por nós. O amor de Cristo não conhece fronteiras e nós, seus discípulos, também devemos desconhecê-las.
Cristo não pregou essa doutrina somente com a palavra, mas também com o exemplo. Do alto da cruz, depois de crucificado por aqueles deicidas, ou seja, por todos os pecadores, pronuncia aquelas palavras que continuam nos comovendo profundamente: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Faz dois mil anos que essas palavras ressoam aos ouvidos do Pai que, em atenção a essa súplica do seu Filho, ao qual não fizeram justiça, continua perdoando e nos levando ao Paraíso.
“Mais do que em “dar”, a caridade estar em “compreender” (S. Jose Maria Escrivá, Caminho, 463). O que nós fazemos para compreender aqueles que se dizem nossos inimigos? Será que nós pensamos que essas pessoas tem fome de Deus e de que, no fundo, desejariam ser felizes ao lado do Senhor? De fato é assim: eles desejam a felicidade e, consequentemente, desejam a Deus. Demos graças a Deus pelo dom da fé e pela boa formação que vamos recebendo no seio da Igreja, já que se não fosse a bondade de Deus para conosco seríamos piores que aqueles que, quiçá, julgamos endiabrados.
Certa vez dois jovens viram a um sacerdote passar pela rua e decidiram incomodá-lo; um deles disse, então, uma terrível blasfêmia. Realmente, conseguiram o seu objetivo: o sangue do padre subiu fervendo, ainda que exteriormente o sacerdote procurasse mostrar a máxima amabilidade possível para falar com aqueles jovens não desde a imposição, mas com uma proposta inteligente. O padre disse aos jovens: “eu passei pacificamente pela rua, não disse nada a nenhum de vocês. Qual é a razão dessa blasfêmia? Vocês não respeitam a Deus?” Um dos jovens respondeu: “Deus não existe”. O sacerdote replicou: “se Deus não existe, então porque você blasfema contra alguém que não existe? Não me parece lógico”. O outro jovem, que estava ao lado do seu amigo escutando esse diálogo entre o padre e seu interlocutor, interviu: “olha, cara, eu acho que o padre tem razão: se Deus não existe porque você está blasfemando contra alguém que não existe?” O outro rapazinho, o que blasfemara, pensou por uns segundos e disse: “é mesmo, padre. Desculpa aí.” O sacerdote gostou da atitude daqueles garotos e terminou a conversa da seguinte maneira: “ainda que vocês não acreditem em Deus, eu vou rezar por vocês; pode ser?” Ao que eles responderam: “pode sim, mal é que o senhor não nos vai fazer?” O que aconteceu aos jovens depois daquela conversa com o padre eu não sei, o que eu sei é que aquele jovem padre continua convencido de que um gesto amável e uma proposta acompanhada de um sorriso valem mais que uma bronca.
Às vezes as pessoas necessitam alguém que possa dialogar com elas. Não se comportam dessa maneira simplesmente por “espírito de porco”, como se diz, mas é que ignoram as verdades mais básicas, inclusive as da lógica mais elementar. É preciso ter paciência, amar a essas pessoas e caminhar com elas, como Jesus, que comia com os pecadores e com os cobradores de impostos. Jesus, que veio salvar aos pecadores, conversava com os seus inimigos frequentemente e, mesmo sofrendo, do alto da cruz, mostrou-lhes um gesto de carinho suplicando para eles o perdão do seu Pai.
Não olhemos as pessoas desde cima, como se fossem inferiores a nós, ainda que nos considerem inimigos. A caridade exige justamente o contrário: colocar-nos ao serviço deles, ver os aspectos positivos dos demais, fomentar as qualidades que o outro tem e entrar – de certa maneira – no universo dele para procurar compreendê-lo. E, dessa maneira, desde a visão do outro, ainda que errônea, procurar encaminhar tudo para o bem, para Deus.
Que bom é saber amar, saber perdoar, saber compreender. Graças sejam dadas ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo que quis difundir o amor que há entre eles às suas criaturas inteligentes. É verdade, Deus foi crucificado por amar. É verdade, talvez sejamos crucificados por amar. Mas, não tem problema, outros foram crucificados por roubar. Sempre se pode ser crucificado, o sofrimento é uma experiência universal. No entanto, somente o cristianismo pode oferecer o autêntico sentido do sofrimento porque tem o seu modelo em Cristo, o justo sofredor que morre perdoando os inimigos e os liberta das suas dores.
Pe. Françoá Costa.