segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Quarta feira de cinzas ano A, homilias, subsídios homiléticos


Quarta feira de cinzas ano A 2020

PRIMEIRA LEITURA (Jl 2,12-18) Leitura do Livro do Profeta Joel.
“Agora, portanto, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; Ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”. Quem sabe, se ele se volta para vós e vos perdoa, e deixa atrás de si a bênção, oblação e libação para o Senhor, vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento e a esposa, seu leito. Chorem, postos entre o vestíbulo e o altar, os ministros sagrados do Senhor e digam: "Perdoa, Senhor, a teu povo, e não deixes que esta tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem". Por que se haveria de dizer entre os povos: "Onde está o Deus deles?" Então o Senhor encheu-se de zelo por sua terra e perdoou ao seu povo.

Joel é provavelmente um sacerdote-profeta, que vive no Templo, depois do exílio. Fiel ao serviço da Casa de Deus, exorta o povo, que passa por uma grave carestia provocada por uma invasão de gafanhotos (1, 2-2, 10), à oração e à conversão .. O próprio culto, no templo, tinha cessado (1, 13.16). O profeta, que sabe ler os sinais dos tempos, anuncia a proximidade do «dia do Senhor», e convida o povo ao jejum, à súplica e à penitência (2, 12.15-17). «Convertei-vos», grita o profeta. O termo hebraico subjacente é schOb que significa arrepiar caminho, regressar… O povo que virara as costas a Deus, devia voltar novamente o coração para Ele, e retomar o culto no templo, um culto autêntico, que manifestasse a conversão interior. O povo pode voltar novamente para Deus, porque Ele é misericordioso (v. 13), e também pode mudar de ideia e voltar atrás (v. 14).
Um amor sincero a Deus, uma fé consistente, e uma esperança que se torna oração coral e penitente, darão ao profeta e aos sacerdotes as devidas condições para implorarem a compaixão de Deus para com o seu povo.
SALMO RESPONSORIAL / 50 (51)
Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos.
• Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa!
• Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
• Criai em mim um coração que seja puro, / dai-me de novo um espírito decidido. / Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, / nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!
• Dai-me de novo a alegria de ser salvo / e confirmai-me com espírito generoso! /Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, / e minha boca anunciará vosso louvor!

SEGUNDA LEITURA (2Cor 5,20–6,2)
Leitura da segunda Carta de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos: Somos, pois, embaixadores de Cristo; é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos. Deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus. Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: "No momento favorável, eu te ouvi e no dia da salvação, eu te socorri". É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação.

«Reconciliai-vos com Deus», é o apelo de Paulo. A reconciliação é possível, porque essa é a vontade do Pai, manifestada na obra redentora do Filho e no poder do Espírito que apoia o serviço dos apóstolos. O v. 21 é o ponto alto do texto, pois proclama o juízo de Deus sobre o pecado e o seu incomensurável amor pelos pecadores, pelos quais não poupou o seu próprio Filho (cf. Rm 5, 8; 8, 32). Cristo carregou sobre si o pecado do mundo e expiou-o na sua própria carne. Assim, podemos apropriar-nos da sua justiça-santidade. O Inocente tornou-se pecado para nos pudéssemos tornar justiça de Deus. E, agora, o tempo favorável para aproveitar essa graça: deixemo-nos reconciliar (katallássein) com Deus. O termo grego indica a transformação da nossa relação com Deus e, por consequência, da nossa relação com os outros homens. Acolhendo o amor de Deus, que nos leva a vivermos, não já para nós mesmos, mas para Aquele que morreu e ressuscitou por nós (w. 14s.), podemos tornar-nos nova criação em Cristo (5, 18

EVANGELHO (Mt 6,1-6.16-18)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: "Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”.

Em Mt 4, 6.8, encontramos o princípio da interiorização («no segredo»). Agora, Jesus aponta outro importante princípio, o de «superar» a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus (5, 20). E seguem-se as aplicações práticas no que se refere à esmola, à oração, ao jejum, que resumem as práticas religiosas tradicionais. Jesus não censura essas práticas, mas a forma e o objetivo com que eram realizadas, particularmente pelos fariseus. O discípulo de Cristo comporta-se de modo diferente dos fariseus, os «hipócritas» (vv. 2.5.16). Ainda que não mantenha as suas boas obras «no segredo» (Mt 5, 14), só o faz para que a soberania divina seja reconhecida. Segundo o princípio da retribuição, quem faz boas obras para ser estimado e louvado pelos outros, já recebe a sua recompensa; quem as faz por Deus, obtém dele a retribuição.
O valor da esmola (Sir 3, 29; 29, 12; Tb 4, 9-11) pode ser posto em causa pela ostentação com que é feita. O mesmo se diga da oração, muitas vezes exibida «nos cantos das ruas» (v. 5). Quanto ao jejum, Cristo partilha a posição dos profetas (cf. Is 58, 5-7). O verdadeiro jejum implica conversão a Deus, e deve ser feito com alegria, como indicam os sinais festivos indicados no evangelho: perfumar a cabeça, lavar o rosto (v. 17). E como a conversão é um assunto pessoal, entre Deus e o pecador, deve manter-se secreta entre ambos. E Deus não deixará de retribuir o que bem conhece.
Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus, mesmo quando praticam as mesmas obras que eles.: «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles». Agora aplica esse princípio a algumas práticas religiosas do seu tempo: a esmola, o jejum e a oração. Há que estar atentos às motivações que nos levam a dar esmola, a orar, a jejuar, porque o Pai vê o que está oculto, os sentimentos profundos do coração. Se buscamos o aplauso dos homens, a vanglória, Deus nada tem para nos dar. Mas se buscamos a relação íntima e pessoal com Ele, a comunhão com Ele, seremos recompensados. Se não fizermos as boas obras com reta intenção somos hypokritoi, isto é, comediantes, e mesmo ímpios, de acordo com o uso hebraico do termo.
Meditatio
A Liturgia da Palavra dá-nos, hoje, a orientação correta para vivermos frutuosa mente a Quaresma, tempo favorável de graça, dia de salvação. Penitência e arrependimento não são caminho de tristeza, de depressão, mas caminho de luz e de alegria, porque, se nos levam a reconhecer a nossa verdade de pecadores, também nos abrem ao amor e à misericórdia de Deus.
O profeta, em nome de Deus, convida o povo a percorrer o caminho da esperança, fazendo penitência; os apóstolos recebem de Deus o ministério da reconciliação; a Igreja repete a boa nova: «É este o tempo favorável é este o dia da salvação» (2 Cor 6, 2). Com todo o povo de Deus, somos convidados a arrepiar caminho, a voltar-nos para o Senhor, a deixar-nos reconciliar, a dar a Cristo ocasião de tomar sobre Si o nosso pecado, porque só Ele o conhece e pode expiar.
Jesus, no evangelho, mostra-nos qual deve ser a nossa atitude quando praticamos obras de penitência (tais como a esmola, a oração, o jejum), e insiste na retidão interior, garantida pela intimidade com o Pai. Era essa a atitude e a orientação do próprio Jesus em todas as suas palavras e obras. Nada fazia para ser admirado pelos homens. Nós podemos ser tentados a fazer o bem para obtermos a admiração dos outros. Mas essa atitude, por um lado, fecha-nos em nós mesmos, por outro lado projeta-nos para fora de nós, tornando-nos dependentes da opinião dos outros.
Há, pois, que fazer o bem porque é bem, e porque Deus é Deus, e nos dá oportunidade de vivermos em intimidade e solidariedade com Ele, para bem dos nossos irmãos. Estar cheios de Deus, viver na sua presença, é a máxima alegria neste mundo, e garante-nos essa mesma situação, levada à perfeição, no outro.
Converter-se "ao Evangelho"! O Evangelho para nós, mais do que um livro, é uma pessoa, Jesus Cristo. É necessária a "conversão" ao verdadeiro conhecimento de Cristo. Não um conhecimento intelectual, como aquele que se obtém nas aulas de teologia. É preciso um conhecimento de fé, uma experiência viva, como aquela de fala S. Paulo: "Na verdade, em tudo isso só vejo dano, comparado com o supremo conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo … Assim poderei conhecê-lo, a Ele, à força da Sua Ressurreição e à comunhão nos seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição. Não que eu já tenha alcançado a meta, ou que já seja perfeito, mas prossigo a minha carreira para ver se de algum modo a poderei alcançar, visto que já fui alcançado por Jesus Cristo’ (Fil 3, 8.10-13).
Façamos nesta Quaresma as obras de penitência que pudermos. Mas façamo-las na intimidade e na presença do Senhor, que havemos de procurar na oração, na Eucaristia, na comunidade… Não esqueçamos a ascese, especialmente a que nos é exigida pelo fiel cumprimento dos nossos compromissos com Deus e com os irmãos.
Contemplatio
Que sou eu? Cinza e pó. O pó é levado pelo vento. Assim acontece com a minha pobre natureza. Sou acessível a todo o vento da tentação. A minha vontade é tão móvel como o pó. Em que é então que me posso orgulhar? Que lição de humildade!
Porque é que o barro e a cinza se orgulham, pergunta o Sábio (Eccli 10, 8). Todos os homens, diz ainda, são apenas terra e cinza (17, 31). Os povos, depois de um rápido brilho, são como um amontoado de cinza depois do incêndio, diz Isaías (33, 12).
A nossa vida desaparecerá como se extingue uma faúlha, diz o Sábio, e o nosso corpo cairá feito em cinzas (Sab 2, 3).
Abraão dizia: «Ousarei falar a Deus, eu que não sou senão cinza e pó?» (Gen 18, 27).
No entanto, falou a Deus com humildade e confiança.
Tal deve ser o fruto desta cerimónia. Devo recordar-me, todos os dias, do meu nada e da minha fragilidade. O sinal material apagar-se-á da minha fronte, mas o pensamento que exprime deve permanecer gravado na minha memória.
Sou apenas nada, no entanto irei ter com Deus, mas irei com humildade. Irei lamentando as minhas faltas, irei fazendo reparação e confissão pública pelos meus pecados e pelos dos meus irmãos.
Irei com a consciência da minha fraqueza, mas mesmo assim confiante, porque Deus é bom, porque o Filho de Deus tomou um coração para me amar e partir este coração para deixar escorrer sobre a minha alma o perfume da sua misericórdia (Leão Dehon, OSP 3, p. 196).
BÊNÇÃO DAS CINZAS (Após a homilia, o Presidente da Celebração, de pé, convida para a bênção:)

BÊNÇÃO DAS CINZAS
Pr. Caros irmãos e irmãs, roguemos instantemente a Deus Pai, que abençoe com a riqueza da sua graça estas cinzas, que vamos colocar sobre as nossas cabeças em sinal de penitência.
(E após um instante em silêncio:)
Pr. Ó Deus, que vos deixais comover pelos que se humilham e vos reconciliais com os que reparam suas faltas, ouvi como um pai as nossas súplicas. Derramai a graça da vossa bênção sobre os fiéis que vão receber estas cinzas, para que, prosseguindo na observância da Quaresma, possam celebrar de coração purificado o mistério pascal do vosso Filho. P.C.N.S.
T. Amém!

COMPROMISSO QUARESMAL
A. Irmãos e irmãs, antes de termos as cinzas impostas sobre nossas cabeças, renovemos os nossos compromissos quaresmais.
S. A Quaresma nos propõe Jesus como modelo de vida. Estais dispostos a segui-lo e a imitá-lo fielmente, procurando amar a todos como irmãos e irmãs?
 T. Sim, estamos!
Pr.  A Quaresma é um tempo que exige empenho constante nas pequenas coisas. Estais dispostos a realizar vossas atividades diárias como oferenda sacrifical em vista de um mundo mais fraterno?
T. Sim, estamos!
Pr.  Quaresma é um tempo propício para rezar mais e dedicar mais tempo à Palavra de Deus. Estais dispostos a dedicar mais tempo para ler, refletir e rezar a partir da Palavra de Deus?
T. Sim, estamos!
Pr. Quaresma é tempo de jejum e de penitência, de solidariedade e fraternidade. Estais dispostos, durante a Quaresma, a jejuar pelo bem de alguém necessitado e, como leigos e leigas protagonistas da evangelização, sujeitos da “Igreja em saída”, unir os esforços e “construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”, objetivo geral da Campanha da Fraternidade?
T. Sim, estamos!
Pr.  Renovado o nosso compromisso quaresmal, recebamos agora as cinzas.

CANTO PARA IMPOSIÇÃO DAS CINZAS [Hinário ABC Litúrgico, p.52]

1. Pecador, agora é tempo / de pesar e de temor: //: Serve a Deus, despreza o mundo, / já não sejas pecador!://
2. Neste tempo sacrossanto / o pecado faz horror: / //:Contemplando a Cruz de Cristo, / já não sejas pecador! ://
3. Vais pecando, vais pecando, / vais de horror em mais horror; //:Filho, acorda dessa morte, / já não sejas pecador!://
4. Passam meses, passam anos, / sem que busques teu Senhor; //:Como um dia para o outro, / assim morre o pecador!://
5. Pecador arrependido, / pobrezinho pecador, //:vem, abraça-te contrito / com teu Pai, teu criador!://
6. Compaixão, misericórdia / vos pedimos, Redentor; //:Pela Virgem, Mãe das Dores, / perdoai-nos, Deus de amor!://

Ou

Pequei, Senhor, misericórdia!
1. Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! / Na imensidão de vosso amor, purificai-me! / Lavai-me todo inteiro do pecado / e apagai completamente a minha culpa!
2. Eu reconheço toda a minha iniquidade, / o meu pecado está sempre à minha frente. / Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei / e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!
3. Mostrais assim quanto sois justo na sentença / e quanto é reto o julgamento que fazeis. / Vede, Senhor, que eu nasci na iniquidade / e pecador já minha mãe me concebeu.
4. Mas vós amais os corações que são sinceros; / na intimidade, me ensinais sabedoria. / Aspergi-me, e serei puro do pecado / e mais branco do que a neve ficarei. 5. Fazei-me ouvir cantos de festa e de alegria / e exultarão estes meus ossos que esmagastes. / Desviai o vosso olhar dos meus pecados / e apagai todas as minhas transgressões.


Nenhum comentário:

Postar um comentário