sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

2º Domingo do Advento, Homilias, Subsídios homiléticos

2º Domingo do Advento (Adaptado pelo Diácono Ismael)

Tema:
“O Reino dos céus está próximo.” Os valores fundamentais da nossa vida dão os valores do “Reino”?
Na primeira leitura, o profeta Isaías apresenta um enviado de Jahwéh, da descendência de David, sobre quem repousa o Espírito de Deus; a sua missão será construir um reino de justiça e de paz sem fim.
No Evangelho, João Baptista anuncia que o “Reino” está próximo e  convida a mudar a mentalidade, os valores, as atitudes. “Aquele que vem” (Jesus) vai propor um baptismo “no Espírito Santo e no fogo” que os tornará “filhos de Deus”.
A segunda leitura dirige-se àqueles que receberam de Jesus a proposta do “Reino”: sendo o rosto visível de Cristo no meio dos homens, eles devem dar testemunho de união, de amor, de partilha, de harmonia entre si, acolhendo e ajudando os irmãos mais débeis, a exemplo de Jesus.

PRIMEIRA LEITURA (Is 11,1-10) Leitura do Livro do Profeta Isaías.
 Naqueles dias, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus; no temor do Senhor encontra ele seu prazer. Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer; mas trará justiça para os humildes e uma ordem justa para os homens pacíficos; fustigará a terra com a força da sua palavra e destruirá o mau com o sopro dos lábios. Cingirá a cintura com a correia da justiça e as costas com a faixa da fidelidade. O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los. A vaca e o urso pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão comerá palha como o boi; a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá por a mão na toca da serpente. Não haverá danos nem mortes por todo o meu santo monte: a terra estará tão repleta do saber do Senhor quanto as águas que cobrem o mar. Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada.

AMBIENTE - A primeira leitura apresenta-nos um poema que alimenta o sonho do regresso a essa época ideal do reinado de David e que dá fôlego à corrente messiânica. Este poema (e outros semelhantes) surge na fase final da atividade profética de Isaías… Quando o rei Ezequias atingiu a maioridade e começou a dirigir os destinos de Judá (por volta de 714 a.C.), preocupou-se em consolidar uma frente anti-assírica. Isaías condenou essas iniciativas… Elas significavam um colocar a confiança e a esperança no poder de exércitos estrangeiros, negligenciando o poder de Jahwéh: eram, portanto, um grave sinal de infidelidade ao Deus de Judá. De fato, as previsões funestas de Isaías realizaram-se quando Senaquerib invadiu Judá, cercou Jerusalém e obrigou Ezequias a submeter-se ao poderio assírio (701 a.C.). Por essa altura, desiludido com a política dos reis de Judá, o profeta teria começado a sonhar com um tempo novo, sem armas e sem guerras, de justiça e de paz sem fim. Tal “reino” só poderia surgir da iniciativa de Jahwéh (os reis humanos há muito que se haviam revelado incapazes de conduzir o Povo em direção a um futuro de paz); e o instrumento de Jahwéh na implementação desse “reino” seria, na opinião do profeta, um descendente de David.

MENSAGEM - Na primeira parte do poema (vers. 1-5), o profeta apresenta a personagem que será o instrumento de Deus na realização desse “reino” de justiça e de paz… Em primeiro lugar, o profeta anuncia que esse instrumento de Deus virá “da raiz de Jessé”. Jessé era o pai de David; portanto, ele será da descendência de David (o que nos liga à promessa feita por Deus a David – cf. 2 Sm 7) e, fará voltar esse tempo ideal de bem-estar e de paz que o Povo de Deus conheceu durante o reinado de David. Em segundo lugar, esse personagem será animado pelo Espírito de Deus (“ruah Jahwéh”). É o mesmo Espírito que ordenou o universo na aurora da criação (cf. Gn 1,2), que animou os heróis carismáticos de Israel (cf. Jz 3,10; 6,34; 11,29), que inspirou os profetas (cf. Nm 11,17; 1 Sm 10,6.10; 19,20; 2 Sm 23,2; 2 Re 2,9; Mi 3,8; Is 48,16; 61,1; Zac 7,12). Esse Espírito confere a esse enviado as virtudes dos seus antepassados: sabedoria e inteligência como Salomão, espírito de conselho e de fortaleza como David, espírito de conhecimento e de temor de Deus como os patriarcas e profetas (aos seis dons aqui enunciados, a tradução grega dos “Setenta” acrescentará a “piedade”: é esta a origem da nossa lista dos sete dons do Espírito Santo).
Da plenitude dos carismas brota da justiça e a construção de um “reino” onde os direitos dos mais pobres são respeitados e onde os oprimidos conhecerão a liberdade e a paz. Desse “reino” serão excluídas, a injustiça, a mentira, a opressão…
Na segunda parte do oráculo (vers. 6-9), o profeta apresenta o quadro desse mundo novo que o “Messias” vai instaurar. A revolta do homem contra Deus (cf. Gn 3) havia introduzido no mundo fatores de desequilíbrio que quebraram a harmonia entre o homem e a natureza (cf. Gn 3,17-19), entre o homem e o seu irmão (cf. Gn 4)… Mas agora o “Messias” trará a paz e, dessa forma, cumprir-se-á o projeto inicial que Deus tinha para o mundo e para o homem: os animais selvagens e os animais domésticos viverão em harmonia (o lobo e o cordeiro; a pantera e o cabrito, o bezerro e o leão; a vaca e o urso) e todos eles estarão submetidos ao homem (representado pela criança – isto é, o homem na sua fragilidade máxima). A própria serpente (o animal que induziu a desarmonia universal, ao estar na origem do afastamento do homem do Deus criador) comungará desta harmonia e desta paz sem fim: é a superação total do desequilíbrio, do conflito, da divisão que o pecado do homem introduziu no mundo.
Destruídas as inimizades, superadas as desarmonias, o homem viverá em paz, em comunhão total com o seu Deus (vers. 9). No primeiro paraíso, o homem escolheu ser adversário de Deus e escolheu viver no orgulho e na autossuficiência; agora, por ação do “Messias”, ele regressou à comunhão com o seu criador e passou a viver no “conhecimento de Deus”. É o regresso ao paraíso original.

ATUALIZAÇÃO • Jesus Cristo é o “Messias” que veio tornar realidade o sonho do profeta. Ele iniciou esse “reino” novo de justiça, de harmonia, de paz sem fim… Cheio do Espírito de Deus, Ele convida os homens a tornarem-se “filhos de Deus” e a viverem no amor, na partilha, no dom da vida…
• Que a realidade do “Reino” se concretize ou não, depende também daquilo que faço ou não faço.

SALMO RESPONSORIAL 71 (72)
Nos seus dias a justiça florirá.
• Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus, / vossa justiça ao descendente da realeza! / Com justiça ele governe o vosso povo, / com equidade ele julgue os vossos pobres.
• Nos seus dias a justiça florirá / e grande paz, até que a lua perca o brilho! / De mar a mar estenderá o seu domínio, / e desde o rio até os confins de toda a terra!
• Libertará o indigente que suplica, / e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. / Terá pena do indigente e do infeliz, / e a vida dos humildes salvará.
• Seja bendito o seu nome para sempre! / E que dure como o sol sua memória! / Todos os povos serão nele abençoados, / todas as gentes cantarão o seu louvor!

EVANGELHO (Mt 3,1-12) Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judeia: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!” João usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins; comia gafanhotos e mel do campo. Os moradores de Jerusalém, de toda a Judeia e de todos os lugares em volta do rio Jordão vinham ao encontro de João. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão. Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: “Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar? Produzi frutos que provem a vossa conversão. Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é nosso pai’, porque eu vos digo: até mesmo destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo. Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele está com a pá na mão; ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga”.

AMBIENTE - Depois do Evangelho da Infância (cf. Mt 1-2), Mateus apresenta a figura que prepara os homens para acolher Jesus: João Batista. João anunciava a proximidade do juízo de Deus. Vivia no deserto de Judá, nas margens do rio Jordão. A sua mensagem estava centrada na urgência da conversão (pois o “juízo de Deus” estava iminente); incluía um rito de purificação pela água – um rito muito frequente, aliás, entre alguns grupos judeus da época.
Os primeiros cristãos identificaram João com o mensageiro anunciado em Is 40,3 e com Elias (2 Re 1,8) que, segundo a tradição judaica, anunciaria a chegada do Messias (Mt 11,14; 17,11; Mal 3,23-24 ou, noutras versões, 4,5-6). Nesta interpretação, João seria o precursor que vem preparar o caminho e Jesus o Messias, enviado por Deus para anunciar o reinado de Jahwéh.

MENSAGEM - Nesta primeira apresentação do Batista, há vários fatores que nos interessa pôr em relevo: a figura, a mensagem, as reações ao anúncio e a comparação entre o batismo de João e o batismo de Jesus.
A figura do Batista é uma figura que, por si só, nos questiona e interpela. João aparece ligado ao deserto (o lugar das privações, mas também o lugar tradicional do encontro entre Jahwéh e Israel) e não ao Templo onde se reúne a sociedade seleta de Jerusalém; usa “uma veste tecida com pelos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins” (é dessa forma que se vestia, também, Elias – cf. 2 Re 1,8), não as roupas finas, com pregas cuidadosamente estudadas, como as dos sacerdotes; a sua alimentação frugal (de “gafanhotos e mel silvestre”) está em profundo contraste com as iguarias finas que enchem as mesas da classe dirigente… João é, portanto, um homem que – não só com palavras, mas também com a sua própria pessoa – questiona o jeito de viver, voltado para as coisas, para os bens materiais, para o “ter”. Convida a uma conversão, a uma mudança de valores, a esquecer do supérfluo, para dar atenção ao essencial.
O que é que João prega? “Convertei-vos (“metanoeite”), porque está perto o Reino dos céus” (vers. 2). O verbo grego (metanoéo) aqui utilizado tem, normalmente, o sentido de “mudar de mentalidade”; mas, aqui, deve ser visto na perspectiva do Antigo Testamento – isto é, como um apelo a um retorno incondicional ao Deus da Aliança.
Porque é que esta “conversão” é tão urgente? Porque o “Reino dos céus” está perto. Muito provavelmente, João ligava a vinda iminente do “Reino” ao “juízo de Deus”, que iria destruir os maus e inaugurar, com os bons, um mundo novo (por isso, fala da “cólera que esta para vir” – vers. 7; e acrescenta: “o machado já está posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo” – vers. 10). A conversão era urgente, na perspectiva de João, pois aproximava-se a intervenção justiceira de Deus na história humana; quem não estivesse do lado de Deus seria aniquilado… É uma perspectiva muito em voga em certos ambientes apocalípticos da época, nomeadamente na teologia dos essênios de Qûmran.
Quem são os destinatários desta mensagem? Aparentemente, é uma mensagem destinada a todos. Mateus fala da “gente que acorria de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão” e que era batizada “por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados” (vers. 5-6). No entanto, Mateus faz uma referência especial aos fariseus e saduceus, para quem João tem palavras duríssimas: “raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: «Abraão é nosso pai»…” (vers. 7-9). Trata-se de pessoas que “à cautela” ou por curiosidade, vêm ao encontro de João; no entanto, sentem que o “juízo de Deus” não os atingirá porque eles são filhos de Abraão, são membros privilegiados do Povo eleito e estão do lado dos bons: Deus não terá outro remédio senão salvá-los, quando vier para julgar o mundo e condenar os maus. João avisa que não há salvação assegurada a quem tem o nome inscrito nos registos do Povo eleito: é preciso viver em contínua conversão e fazer as obras de Deus: “toda a árvore que não dá fruto, será cortada e lançada ao fogo” (vers. 10).
Neste texto aparece também, em relevo, um rito praticado por João. Consistia na imersão na água do rio Jordão das pessoas que aderiam a esse apelo à conversão. Era, aliás, um rito praticado em certos ambientes judaicos para significar a purificação do coração (nos ambiente essênios, os banhos quotidianos expressavam o esforço em direção a uma vida pura e a aspiração à graça purificadora)… O batismo de João significava o arrependimento, o perdão dos pecados e a agregação ao “resto de Israel”, subtraído à ira de Deus.
No entanto, João avisa: “aquele que vem depois de mim (…) batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo” (vers. 11). De fato, o batismo de Jesus vai muito além do batismo de João: confere a quem o recebe a vida de Deus (Espírito) e torna-o “filho de Deus”; implica, além disso, uma incorporação na Igreja (a comunidade dos que aderiram à proposta de salvação que Cristo trouxe) e a participação ativa na missão da Igreja (cf. At 2,1-4). Não significa, apenas, o arrependimento e o perdão dos pecados; significa um quadro de vida completamente novo, uma relação de filiação com Deus e de fraternidade com Jesus e com todos os outros batizados.

ATUALIZAÇÃO • A questão dominante que o Evangelho de hoje nos apresenta é a da conversão. Não é possível acolher “aquele que vem” se o nosso coração estiver cheio de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preocupação com os bens materiais… É preciso, portanto, uma mudança da nossa mentalidade, dos nossos valores, dos nossos comportamentos, das nossas atitudes, das nossas palavras; é preciso um despojamento de tudo o que rouba espaço ao “Senhor que vem”.
• A figura de João Batista obriga-nos a questionar as nossas prioridades e valores fundamentais. Ora, o “Reino” é despojamento, simplicidade, amor total, partilha, dom da vida… São esses valores que ele procura anunciar, com palavras e com atitudes?
• João deixa claro que receber o batismo de Jesus é receber o batismo do Espírito… Equivale a aceitar ser “filho de Deus”, a viver em comunhão com Deus, no amor e na partilha com os irmãos que caminham ao nosso lado.

SEGUNDA LEITURA (Rm 15,4-9) Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.
Irmãos, tudo o que outrora foi escrito foi escrito para nossa instrução, para que, pela nossa constância e pelo conforto espiritual das Escrituras, tenhamos firme esperança. O Deus que dá constância e conforto vos dê a graça da harmonia e concórdia, uns com os outros, como ensina Cristo Jesus. Assim, tendo como que um só coração e uma só voz, glorificareis o Deus e Pai do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu, para a glória de Deus. Pois eu digo: Cristo tornou-se servo dos que praticam a circuncisão, para honrar a veracidade de Deus, confirmando as promessas feitas aos pais. Quanto aos pagãos, eles glorificam a Deus, em razão de sua misericórdia, como está escrito: “Por isso, eu vos glorificarei entre os pagãos e cantarei louvores ao vosso nome”

AMBIENTE - A Carta aos Romanos – já o dissemos no passado domingo – é uma carta de reconciliação, endereçada aos romanos, mas dirigida a toda a Igreja fundada por Jesus. Pretende – numa altura em que fundos culturais diversos e sensibilidades diferentes dividiam os cristãos vindos do judaísmo e os cristãos vindos do paganismo – afastar o perigo da divisão da Igreja e levar todos os crentes (judeu-cristãos e pagão-cristãos) a redescobrir a unidade da fé e a igualdade fundamental de todos diante de Deus. Desde que optaram por Cristo e receberam o batismo, todos receberam o dom de Deus, tiveram acesso à salvação e tornaram-se irmãos, chamados a viver no amor.
O texto que nos é proposto pertence à segunda parte da carta. Nessa parte (que vai de Rm 12,1 a 15,13), Paulo exorta os cristãos a viver no amor; em concreto, dá aos cristãos algumas indicações de caráter prático acerca do comportamento que devem assumir para com os irmãos.

MENSAGEM - O mais importante: a comunidade deve viver em harmonia, acolhendo e ajudando os mais fracos, sem discriminar nem excluir ninguém, no amor e na partilha. Cristo é o exemplo que os membros da comunidade devem ter sempre diante dos olhos… Convém também não esquecer que o ser capaz de viver deste jeito é um dom de Deus – dom que os crentes devem pedir em todos os momentos ao Pai.

ATUALIZAÇÃO • A comunidade cristã tem de ser o lugar do amor, da partilha fraterna, da harmonia, do acolhimento.
• Convém não esquecer que a conversão à harmonia, à partilha com os mais pobres, ao amor fraterno, ao dom da vida, é algo exigente, que não pode ser feito contando apenas com a boa vontade do homem; mas é algo que só pode ser feito com a força e com a ajuda de Deus…

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"Convertei-vos"

Em nossa caminhada para o Natal, a Liturgia desse domingo nos convida a nos despir dos valores efêmeros e egoístas que muitas vezes nos fascinam, para dar lugar em nós aos valores do Reino de Deus.

As Leituras bíblicas apresentam duas figuras típicas do ADVENTO:
ISAÍAS e JOÃO BATISTA

Na 1ª Leitura, ISAÍAS apresenta um Enviado de Javé, descendente de Davi, com a missão de construir um Reino de Justiça e Paz. (Is 11,1-10)

É uma das maiores profecias do Antigo Testamento referentes ao Messias,  com que o profeta reaviva a esperança do seu povo, diante das ameaças do imperialismo dos assírios.
O Poema dá as características:

 - Será descendente de DAVI: (Jessé é Pai de Davi)
    "Naqueles dias, do tronco de Jessé sairá um ramo e um broto de sua raiz". 

- Será animado pelo ESPÍRITO de Deus: (Como na Criação)
    Sobre ele pousará o Espírito do Senhor:
    Espírito de sabedoria e inteligência, de conselho e de fortaleza,  de conhecimento e de temor de Deus,(de piedade).
      * É esta a origem da nossa lista dos 7 dons do Espírito Santo.

- Será portador da JUSTIÇA e da PAZ: "Trará justiça para os humildes..."
   Haverá a reconciliação da Criação: voltará a harmonia perdida entre o homem e a natureza, entre os animais selvagens e domésticos....

* Jesus é o "messias"  que veio tornar realidade o sonho do profeta.
   Ele iniciou esse "Reino" novo de justiça, de harmonia, de paz sem fim...
   Cheio do Espírito de Deus, ele passou pelo mundo convidando os homens    a se tornarem "filhos de Deus" e a viverem no amor e na partilha.
   - Mas a profecia está longe de sua completa realização.
     O Reino novo trazido por Jesus só poderá se estabelecer a partir de nossa conversão pessoal, familiar e comunitária.

Na 2ª Leitura, Paulo exorta os cristãos de Roma a viverem no amor, dando testemunho de união, de amor, de partilha, de harmonia, a fim de que louvem a Deus, com um só coração e uma só alma. (Rm 15,4-9)

No Evangelho, JOÃO BASTISTA anuncia que esse Reino está próximo, mas para que se torne realidade precisa CONVERTER-SE. (Mt 3,1-12):

- Personalidade: É uma figura impressionante, que fascina o povo;
   Tem um estilo de vida austera: no vestir, no comer, no falar, no morar...  
   Vive no "DESERTO", lugar das privações, do despojamento, mas também lugar tradicional dos encontros entre Deus e Israel.

- Mensagem: É um Apelo à CONVERSÃO
   "Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo..."
   "Preparai o caminho do Senhor: endireitai as veredas para ele."

- Reação ao Anúncio:
   - O Povo simples: reconhece seus erros e pede o Batismo...
   - Os Fariseus e Saduceus: vão ao encontro de João por curiosidade apenas...
     e são desmascarados: "Raça de cobras venenosas...
      produzam frutos que a conversão exige e  não se iludam a si mesmos, dizendo: ‘Abraão é nosso Pai' ".

- O Batismo de João: consistia na imersão na água do rio Jordão para as pessoas que aderiam a esse apelo de conversão.
  Significava o arrependimento, o perdão dos pecados e a agregação ao povo fiel.
  Mas ele avisa, que aquele que vem depois dele "batizará no ESPÍRITO SANTO e no fogo..."

- Portanto o Batismo de Jesus vai muito além do batismo de João:
  Confere, a quem o recebe, a vida de Deus e torna-o filho de Deus; incorpora-o à Igreja e torna-o participante da missão da Igreja no mundo...

- É um quadro de vida completamente novo, uma relação de filiação com Deus e de fraternidade com Jesus e com todos os outros batizados.
  É um SACRAMENTO.

+ A Voz de João Batista continua convidando à CONVERSÃO...

Não é possível acolher "aquele que vem" se o nosso coração estiver cheio de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preocupação com os bens materiais.
Se quisermos celebrar a vinda do Senhor e participar do seu Reino, devemos preparar o caminho, mudar o nosso coração.
Nesse itinerário, não há espaço para a hipocrisia.
Não bastam as aparências, apenas dizer que somos cristãos porque recebemos o batismo.
A Conversão deve ser comprovada pela ação.
+ Os Frutos de conversão comprovam a autenticidade da nossa conversão:
Não bastam alguns sentimentos religiosos... ou algumas práticas piedosas...
Precisamos apresentar frutos de conversão: Paz, Fraternidade, Justiça...

- Quais os caminhos tortos, que devemos endireitar?
- Quais os frutos de conversão que Deus está esperando de nós, neste Advento, em preparação ao Natal ?

- Estamos convencidos de que, se não dermos esse passo, nunca será Natal em nós, nem mesmo no dia 25 de dezembro?

  Deus espera que tenhamos a coragem de dar esse passo!...

                                               Pe. Antônio Geraldo

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Homilia de Dom Henrique Soares

A liturgia do Tempo do Advento não somente nos faz recordar as promessas de Deus sobre o Messias, mas também nos vai mostrando os traços da missão desse Salvador tão prometido e tão esperado.
O profeta Isaías usa uma imagem impressionante: do velho tronco de Jessé, isto é, da dinastia já antiga de Davi, nascerá uma hastesinha, modesta, frágil, pequena: um rebento! Querem coisa mais frágil, mais débil? Qualquer criancinha pode, travessa, quebrar, estiolar uma haste… E, no entanto, sobre este rebento tão frágil repousará o Espírito do Senhor. Esta haste é o ungido pelo Espírito, é o Messias, o Cristo de Deus, brotado da Casa de Davi! João, o Batista, dirá no Evangelho de hoje que “ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”, isto é, com o fogo do Espírito! Só ele pode fazer isso, porque somente ele é pleno do Espírito: “Espírito de sabedoria e discernimento, Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de ciência e temor de Deus”. Como é Santo o Messias prometido pela boca dos profetas! Porque pleno do Espírito, ele é justo: ele não julgará pelas aparências nem decidirá somente por ouvir dizer, mas trará a justiça para os humildes e uma ordem justa para os pacíficos”. Eis: ele vem para quem tem um coração pobre, para os que têm consciência que, sozinhos, não poderão nunca levar o peso da vida. Somente os pobres poderão acolhê-lo, reconhecê-lo, alegrar-se com sua chegada: sua justiça é justiça para quem chorou, para quem sentiu fraqueza física, moral, psíquica, econômica ou existencial… “Com justiça ele governe o vosso povo; com equidade ele julgue os vossos pobres. No seus dias a justiça florirá e grande paz até que a lua perca o brilho! Libertará o indigente que suplica, e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do humilde e do infeliz, e a vida dos humildes salvará. Todos os povos serão nele abençoados, todas as gentes cantarão o seu louvor!” Que Rei bendito! Que santo Messias! Que esperança para o nosso coração cansado, para o nosso mundo desiludido! Porque ele vem curar os corações, vem trazer o perdão de Deus, aqueles que o acolherem conhecerão a paz verdadeira: “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los. A vaca e o urso pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão comerá palha como o boi; a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na toca da serpente. Não haverá danos nem mortes… porque a terra estará repleta da ciência do senhor quanto as águas que cobrem o mar…” Que sonho: uma humanidade reconciliada, um mundo de paz, um homem uma criação em harmonia… Eis o sonho do Messias, eis o dom que ele traz! São Paulo diz, na Carta aos Romanos, que Cristo realiza este sonho prometido. A primeira reconciliação que ele trouxe foi unir num só povo, numa só humanidade, o que antes era dividido: judeus e pagãos. Quem o acolhe agora é parte de um novo povo – a Igreja!
Mas, esta paz precisa ainda aparecer claramente no mundo! E aqui, não nos iludamos: o mundo não conhecerá a paz de verdade, o coração humano não conhecerá o sossego enquanto não acolher de verdade o Cristo do Pai, o Senhor Jesus! O sonho que Deus sonhou para nós e para toda a humanidade ao enviar Jesus, não poderá ser sonhado e realizado sem o nosso “sim”. E o trágico é que o mundo vai dizendo “não”. Este Natal encontrará o mundo mais pagão que o do ano passado… Que pena!
Nós, cristãos, temos, no entanto, uma missão neste mundo, nesta situação atual. Escutemos o profeta: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo! Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira que v ai chegar? Produzi frutos que provem a vossa conversão! O machado está na raiz da árvore e toda aquela que não produzir fruto será cortada e lançada ao fogo!” Caros irmãos, o Advento, tempo de alegre expectativa, é também tempo de juízo. O mundo precisa do nosso testemunho, da nossa palavra de esperança, do nosso modo de viver inspirado no Evangelho! Chega de um bando de cristãos vivendo como todo mundo vive, pecando como todo mundo peca, medíocres como todo mundo é medíocre! Se não dermos frutos, seremos cortados! Vivemos num mundo que não somente é descrente como também zomba da fé: as porcarias das novelas, a corrupção dos governantes, a imoralidade sexual, e dissolução das famílias, a imoralidade da ciência prepotente que se julga senhora do bem e do mal, as calúnias e mentiras contra a Igreja, o modo de viver de quem não tem esperança… E muitos de nós, que nos dizemos crentes, não notamos isso, vivemos numa boa entre os pagãos e como os pagãos… E ainda nos dizemos cristãos!
O roxo desse tempo convida-nos à vigilância, a compreendermos que Aquele que vem com amor, que vem como Salvador, nós o podemos perder para sempre se não nos abrirmos para ele no aqui e no agora de nossa existência. Não brinquemos com a vida que temos: ela poderá ser plenificada pelo Santo Messias com a glória do céu; ou poderá ser perdida para sempre, longe do Cristo de Deus, num total absurdo, a que chamamos inferno! Não esqueçamos: o sonho de Deus é lindo: é de salvação e de paz! Levemo-lo a sério, vivamo-lo e sejamos suas testemunhas no mundo de hoje! Não relaxemos, não desanimemos, não nos cansemos de esperar. Como diz a profecia de Isaías, numa de suas passagens mais misteriosas: “Sentinela, que resta da noite? Sentinela, que resta da noite? A sentinela responde: ‘A manhã vem chagando, mas ainda é noite’. Se quereis perguntar, perguntai! Vinde de novo!” (Is 21,11s). Quanto restará da noite deste mundo? Não sabemos! Mas, a manhã, a aurora radiosa do dia do Messias virá! Nós somos as sentinelas que o Senhor colocou na noite deste mundo. Vigiemos! Ainda que tantas vezes nos perguntemos: Meu Deus, “quanto resta de noite?” O Senhor não nos impede de perguntar: “se quereis perguntar, perguntai…” Mas – atenção! – ele não aceita que percamos a esperança, que deixemos nosso posto de vigia: “Vinde de novo!” eis, novamente, o convite que ele nos faz: Vinde de novo! Recomeçai, retomai a esperança, vigiai: ainda é noite, mas a manhã luminosa vem chegando! Vem, Senhor Jesus! Vem, ó Santo Messias! Tem piedade de nós! Amém.
Dom Henrique Soares da Costa

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Para a Celebração da Palavra (Diáconos ou Ministros extraordinários da Palavra):


LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR):
- O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR...
- COM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Pai, com alegria aguardamos o nosso Salvador.
- Bendito sejais, Senhor, por nos enviar o vosso Filho Jesus Cristo. Ajudai-nos para que aprendamos com Ele a vossa sabedoria e os vossos caminhos.
T: Pai, com alegria aguardamos o nosso Salvador.
- Senhor, nós vos louvamos pelo vosso imenso amor. Ajudai-nos que vivamos como irmãos e irmãs, que saibamos perdoar e amar.
T: Pai, com alegria aguardamos o nosso Salvador.
- Senhor, convertei-nos e transformai-nos para que possamos acolher o Reino que Jesus nos propõe. Que nosso coração se abra ao amor para que construamos a vossa Paz.
T: Pai, com alegria aguardamos o nosso Salvador.
- Senhor, nós vos bendizemos pelo nosso batismo, onde nos tornastes vossos filhos e filhas prediletos. Que esta graça cresça em nós e produza frutos de justiça, amor, amizades, alegrias e paz.
T: Pai, com alegria aguardamos o nosso Salvador.

PAI NOSSO... A PAZ... EIS O CORDEIRO...




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