quarta-feira, 30 de abril de 2014

3º Domingo da Páscoa ANO 2014, III Domingo da Páscoa, Os discípulos de Emaús

3º Domingo da Páscoa ANO 2014 (Adaptado e postado pelo Diácono Ismael)

Tema: “Realmente, o Senhor ressuscitou!” Cristo vivo nos acompanha pelos caminhos do mundo.
 Evangelho: O Cristo, ressuscitado, caminha com os discípulos, explica-lhes as Escrituras, enche-lhes o coração de esperança e a senta-Se com eles à mesa para “partir o pão”. É aí que os discípulos O reconhecem.
Primeira leitura: O amor a Deus e aos irmãos, nos convida a testemunhar essa realidade diante dos homens.
A segunda leitura: contemplar e ver o projeto salvador de Deus (expresso na cruz de Jesus e na sua ressurreição).

10. EVANGELHO (Lc 24,13-35  Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado, chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. Os discípulos, porém, estavam como que cegos e não o reconheceram. Então Jesus perguntou: “O que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles, chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?” E1e perguntou: “O que foi?” Os discípulos responderam: “O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu”. Então Jesus lhes disse: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele. Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” Jesus entrou para ficar com eles. Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía. Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os onze reunidos com os outros. E estes confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão.

AMBIENTE - A história que o Evangelho deste domingo nos apresenta é exclusiva de Lucas: nenhum outro evangelista a refere. Dois homens dirigiam-se para uma aldeia chamada Emaús, (cerca de 12 quilômetros). Uma localidade com esse nome, a essa distância de Jerusalém é, no entanto, desconhecida…
Os comentaristas destacaram, muitas vezes, a intenção teológica deste relato. Que é que isto significa? Significa que não estamos diante de uma reportagem jornalística de uma viagem geográfica, mas de uma catequese sobre Jesus. O que interessa ao autor não é escrever um relato lógico e coerente (se Lucas estivesse preocupado com a lógica e com a coerência, teria mais cuidado com a situação geográfica de Emaús; e, certamente, explicaria melhor algumas incongruências do texto – nomeadamente porque é que estes discípulos partiram para a sua aldeia na manhã de Páscoa sem investigar os rumores de que o túmulo estava vazio e Jesus tinha ressuscitado). O que interessa ao autor é explicar aos cristãos para quem escreve – na década de 80 – como é que podem descobrir que Jesus está vivo e como podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Trata-se, portanto, de uma catequese, mais do que a descrição fiel de acontecimentos concretos.

MENSAGEM - Um dos discípulos chama-se Cléofas; o outro não é identificado (como se Lucas quisesse dizer que podia ser ”qualquer um (de nós)” dos crentes que tomam conhecimento da história). Os dois estão tristes e desanimados, pois os seus sonhos de triunfo e de glória ao lado de Jesus ruíram pela base, aos pés de uma cruz. Esse Messias poderoso, capaz de derrotar os opressores, de restaurar o reino grandioso de David (”nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel”) e de distribuir honras aos seus colaboradores diretos revelou-se, afinal, um ”bluff”, um fracasso. Em lugar de triunfar, deixou-Se matar numa cruz; e a sua morte é um fato consumado pois ”é já o terceiro dia depois que isto aconteceu” (o ”terceiro dia” após a morte é o dia da morte definitiva, do não regresso do túmulo). Abandonam a comunidade – que, doravante, não parece fazer qualquer sentido – e regressam à sua aldeia, dispostos a esquecer o sonho e a enfrentar, de novo, uma vida dura e sem esperança. A discussão entre eles a propósito de ”tudo o que tinha acontecido” deve entender-se neste enquadramento: é essa partilha solidária dos sonhos desfeitos que torna menos doloroso o desencanto.
Na sequência, o autor do relato introduz um novo personagem: Jesus. Ele faz-se companheiro de viagem destes discípulos em caminhada, interroga-os sobre ”o que se passou nestes dias” em Jerusalém, escuta as suas preocupações, torna-se o confidente da sua frustração.
Os dois homens contam a história do ”mestre” cuja proposta os seduziu; mas a versão que contam termina no túmulo: falta, na sua descrição, a fé no Senhor ressuscitado – ainda que conheçam a tradição do túmulo vazio.
Para responder às inquietações dos dois discípulos e para lhes demonstrar que o projeto de Deus não passava por quadros de triunfo humano, mas pelo amor até às últimas consequências e pelo dom da vida, ”começando por Moisés e passando pelos profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que lhe dizia respeito”. É na escuta e na partilha da Palavra que o plano salvador de Deus ganha sentido: só através da Palavra de Deus – explicada, meditada e acolhida – o crente pode perceber que o amor até às últimas consequências e o dom da vida não são um fracasso, mas geram vida nova e definitiva. A escuta da Palavra de Deus dá a entender ao crente a lógica de Deus e demonstra-lhe que a vida oferecida como dom não é perdida, mas é semente de vida plena. Os discípulos percebem, então, que ”o messias tinha de sofrer tudo isso para entrar na glória”: a vida plena e definitiva não está – de acordo com os esquemas de Deus – nos êxitos humanos, nos tronos, no poder; mas está no serviço simples e humilde aos irmãos, no dom da vida por amor, na partilha daquilo que somos e que temos com os irmãos que caminham lado a lado conosco.
Os três (Jesus, Cléofas e o discípulo não identificado) chegam, finalmente, a Emaús. Os discípulos continuam a não reconhecer Jesus, mas convidam-no a ficar com eles. Ele aceita e sentam-se à mesa. Enquanto comiam, Jesus ”tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lhes”. As palavras usadas por Lucas para descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja primitiva. Dessa forma, Lucas recorda aos membros da sua comunidade que é possível encontrar Jesus vivo e ressuscitado – esse Jesus que por amor enfrentou a cruz, mas que continua a fazer-Se companheiro de caminhada dos homens nos caminhos da história – na Celebração dominical: sempre que os irmãos se reúnem em nome de Jesus para ”partir o pão”, Jesus lá está, vivo e atuante, no meio deles.
A última cena da nossa história põe os discípulos a retomar o caminho, a regressar a Jerusalém e a anunciar aos irmãos que Jesus está vivo. Quando Lucas escreve o seu Evangelho (década de 80), a comunidade cristã defrontava-se com algumas dificuldades. A catequese dizia que Ele estava vivo; mas no dia a dia de uma vida cheia de dificuldades, era difícil fazer essa experiência. As testemunhas oculares de Jesus tinham já desaparecido e os acontecimentos da paixão, morte e ressurreição pareciam distantes, ilógicos e irreais. ”Se Jesus ressuscitou e está vivo, como posso encontrá-lo? Porque é que Ele não aparece de forma gloriosa e não instaura um reino de glória e de poder, que nos faça triunfar definitivamente sobre os nossos adversários?” – perguntavam os crentes das comunidades. É a isto que o catequista Lucas vai procurar responder. A sua mensagem dirige-se a esses crentes que caminham pela vida desanimados e sem rumo, cujos sonhos parecem desfazer-se ao encontro da realidade difícil do dia a dia. Lucas diz: nós podemos sonhar com intervenções de Deus na história humana; mas esses não são os esquemas de Deus… Não será numa intervenção espetacular que encontraremos Jesus, vivo e ressuscitado. No entanto, Ele está vivo e caminha ao nosso lado nos caminhos do mundo. Às vezes, não conseguimos reconhecê-lo, pois os nossos corações estão cheios de perspectivas erradas acerca do que Ele é e do que Ele pretende; mas, apesar de tudo, Ele faz-Se nosso companheiro de viagem, caminha conosco, alimenta a nossa caminhada com a esperança que brota da sua Palavra, faz-Se encontrar na partilha comunitária do pão (Eucaristia).
Na catequese Lucana aparece, sobretudo, a ideia de que é na celebração comunitária da Eucaristia que os crentes fazem a experiência do encontro com Jesus vivo e ressuscitado. A nossa narração apresenta o esquema litúrgico da celebração eucarística: a liturgia da Palavra (a ”explicação das Escrituras” – que permite aos discípulos entenderem a lógica do plano de Deus em relação a Jesus) e o ”partir do pão” (que faz com que os discípulos entrem em comunhão com Jesus, recebam d’Ele vida e que O reconheçam nesses gestos que são o ”memorial” do dom da vida e da entrega aos homens).
Há ainda uma última mensagem: depois de fazer a experiência do encontro com Cristo vivo e ressuscitado na celebração eucarística, cada crente é convidado a voltar à estrada, a dirigir-se ao encontro dos irmãos e a testemunhar que Jesus está vivo e presente na história e na caminhada dos homens.

ATUALIZAÇÃO
• As crises, os fracassos, deixam-nos frustrados, perdidos, sem perspectivas. Então, parece que nada faz sentido e que Deus desapareceu do nosso horizonte… No entanto, a catequese que Lucas nos propõe hoje garante-nos que Jesus, vivo e ressuscitado, caminha ao nosso lado. Ele é esse companheiro de viagem que encontra formas de vir ao nosso encontro – mesmo se nem sempre somos capazes de reconhecê-lo – e de encher o nosso coração de esperança.
• Como é que Ele faz renascer em nós a esperança? Lucas responde: é através da Palavra de Deus, escutada, meditada, partilhada, acolhida no coração, que Jesus nos indica caminhos, nos aponta perspectivas novas, nos dá a coragem de continuar, depois de cada fracasso.
• Quando é que os olhos do nosso coração se abrem para descobrir Jesus, vivo e atuante? Lucas responde: é na partilha do Pão eucarístico. Sempre que nos sentamos à mesa com a comunidade e partilhamos o pão que Jesus nos oferece, damo-nos conta de que o Ressuscitado continua vivo, caminhando ao nosso lado, alimentando-nos ao longo da caminhada, ensinando-nos que a felicidade está no dom, na partilha, no amor. Sempre que nos juntamos com os irmãos à volta da mesa de Deus, celebrando na alegria e na festa o amor, a partilha e o serviço, encontramos o Ressuscitado a encher a nossa vida de sentido, de plenitude, de vida autêntica.
• E quando O encontramos, Que fazer com Ele? Lucas responde: Temos de levá-lo para os caminhos do mundo, temos de partilhá-lo com os nossos irmãos, temos de dizer a todos que Ele está vivo e que oferece aos homens (através dos nossos gestos de amor, de partilha, de serviço) a vida nova e definitiva.

6. PRIMEIRA LEITURA (At 2,14.22-33) Leitura dos Atos dos Apóstolos.
No dia de Pentecostes, Pedro, de pé, junto com os onze apóstolos, levantou a voz e falou à multidão: “Homens de
Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus, junto de vós, pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou, por meio dele, entre vós. Tudo isto vós bem o sabeis. Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz. Mas Deus ressuscitou a Jesus, libertando-o das angústias da morte, porque não era possível que ela o dominasse. Pois Davi dele diz: ‘Eu via sempre o Senhor diante de mim, pois está à minha direita para eu não vacilar. Alegrou-se por isso meu coração e exultou minha língua e até minha carne repousará na esperança. Porque não deixarás minha alma na região dos mortos nem permitirás que teu Santo experimente corrupção. Deste-me a conhecer os caminhos da vida e a tua presença me encherá de alegria’. Irmãos, seja-me permitido dizer com franqueza que o patriarca Davi morreu e foi sepultado e seu sepulcro está entre nós até hoje. Mas, sendo profeta, sabia que Deus lhe jurara solenemente que um de seus descendentes ocuparia o trono. É, portanto, a ressurreição de Cristo que previu e anunciou com as palavras: ‘Ele não foi abandonado na região dos mortos e sua carne não conheceu a corrupção’. Com efeito, Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disto todos nós somos testemunhas. E agora, exaltado pela direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo, que fora prometido pelo Pai, e o derramou, como estais vendo e ouvindo”.

AMBIENTE
O nosso texto situa-nos na manhã do dia do Pentecostes, em Jerusalém. A comunidade cristã, transformada pelo Espírito, deixou a segurança das paredes do cenáculo e prepara-se para dar testemunho de Jesus, em Jerusalém e até aos confins do mundo. Nesse contexto, Lucas coloca na boca de Pedro – o porta-voz dos Doze – um discurso, que constitui um primeiro anúncio de Jesus (“kerigma”) aos habitantes da cidade e a todos os que se encontram ali para celebrar a festa judaica de ”Shavu'ot” (”Pentecostes” – festa celebrada cinquenta dias após a Páscoa, e na qual se ofereciam a Deus os primeiros frutos da terra. Na época neo-testamentária, celebrava a ”aliança” e, sobretudo, o dom da Lei ao Povo de Deus, na montanha do Sinai).
Este discurso, colocado na boca de Pedro, não é a reprodução histórica exata de um discurso feito por Pedro junto do cenáculo, no dia da festa do Pentecostes; mas é um discurso construído pelo autor dos Atos, que reproduz, em parte, a pregação que a primitiva comunidade cristã fazia sobre Jesus.
Este discurso é uma apresentação breve da atividade de Jesus, anúncio da sua morte e ressurreição e salvação que daí brota. Mesmo que o texto não reproduza exatamente a pregação de Pedro no dia do Pentecostes, reproduz a fórmula mais ou menos consagrada do kerigma primitivo e a catequese que a comunidade cristã primitiva costumava apresentar sobre Jesus.

MENSAGEM - O texto resume os dados fundamentais da catequese cristã primitiva: Jesus passou pelo mundo realizando gestos que testemunhavam a dinâmica de Deus e a sua proposta de salvação para os homens; a proposta de Jesus chocou com a recusa do mundo e Ele foi morto na cruz; no entanto, Deus ressuscitou-O, mostrando que uma vida gasta ao serviço do projeto de Deus não pode terminar no fracasso, mas conduz à ressurreição, à vida. Este primeiro anúncio é dirigido a judeus que conhecem as Escrituras e as promessas de Deus. Por isso, Lucas vai utilizar argumentos tirados da própria Escritura para apresentar a catequese sobre Jesus. Em concreto, Lucas cita o salmo 16,8-11 (vers. 25-28), atribuído aqui a David: trata-se de um dos raros textos do Antigo Testamento onde se vislumbra a vitória da vida sobre a morte. O raciocínio do autor deste discurso é o seguinte: David falou de um ”amigo” de Jahwéh que haveria de vencer a morte; não era o próprio David pois, como todos sabem, ele morreu… Tratava-se, sem dúvida, desse descendente de David que, segundo a promessa de Deus, haveria de herdar o trono do seu pai e estabelecer um reino eterno (cf. 2Sm 7,12-16). Era a esse rei, da descendência de David, que os judeus chamavam ”Messias” (”ungido”); era esse rei, da descendência de David que alimentava a esperança de Israel e que era aguardado ansiosamente. A conclusão é óbvia: Jesus é esse que venceu a morte; portanto, é o filho de David, o herdeiro do trono ideal de David, o Messias que Israel esperava.
Temos aqui, portanto, o testemunho da comunidade cristã sobre Jesus, o Messias, enviado ao mundo para cumprir o plano de Deus – isto é, para libertar os homens e para instaurar um Reino de justiça, de abundância, de paz. A vitória de Jesus sobre a morte e a sua exaltação atestam que Ele é esse Messias, enviado por Deus com uma proposta de salvação para os homens. Os cristãos são as testemunhas disto diante de todo o mundo. Por agora, esse testemunho é dado em Jerusalém; mas Lucas irá descrever, ao longo do livro dos Atos, a forma como o anúncio sobre Jesus irá conquistando o mundo, até atingir o próprio coração do império (Roma).

ATUALIZAÇÃO
• A ressurreição de Cristo prova que uma vida gasta ao serviço do plano do Pai, na entrega aos homens, não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à exaltação, à vida plena. É conveniente lembrarmos isto, sempre que nos sentirmos desiludidos, decepcionados, fracassados, derrotados, criticados, por gastarmos a vida numa dinâmica de serviço, de entrega, de amor. Uma vida que se faz dom nunca é um fracasso; uma vida vivida de forma egoísta e autossuficiente, à margem de Deus e dos outros, é que é fracassada, pois não conduz à vida em plenitude.
• Uma outra ideia, que está bem vincada no nosso texto, é a do testemunho… Pedro é o porta-voz de uma comunidade que se sente investida da missão de dar testemunho diante dos homens. A Igreja é hoje, no mundo, a testemunha da proposta de salvação que Cristo fez; ela deve dizer a todos os homens o que aconteceu com Cristo e como Ele mostrou que a vida plena resulta do amor e do dom da vida.

7. SALMO RESPONSORIAL / 15 (16)
Vós me ensinastes o caminho para a vida; junto de vós felicidade sem limites!
• Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio! / Digo ao Senhor: “Somente vós sois meu Senhor: /
nenhum bem eu posso achar fora de vós!” / Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, /
meu destino está seguro em vossas mãos.
• Eu bendigo o Senhor, que me aconselha / e até de noite me adverte o coração. /
Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, / pois, se o tenho ao meu lado, não vacilo.
• Eis porque meu coração está em festa, / minha alma rejubila de alegria /
e até meu corpo no repouso está tranquilo; / pois não haveis de me deixar entregue à morte, /
nem vosso amigo conhecer corrupção.• Vós me ensinais vosso caminho para a vida; /
junto a vós, felicidade sem limites, / delícia eterna e alegria ao vosso lado.

8. SEGUNDA LEITURA (1Pd 1,17-21) Leitura da Primeira Carta de São Pedro.
Caríssimos, se invocais como Pai aquele que sem discriminação julga a cada um de acordo com as suas obras, vivei então respeitando a Deus durante o tempo de vossa migração neste mundo. Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito. Antes da criação do mundo, ele foi destinado para isso e, neste final dos tempos, ele apareceu, por amor de vós. Por ele é que alcançastes a fé em Deus. Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória e, assim, a vossa fé e esperança estão em Deus.

AMBIENTE - Já vimos no domingo passado que a Primeira Carta de Pedro é um texto dirigido aos cristãos de cinco províncias romanas da Ásia Menor, provavelmente na parte final do séc. I (talvez pelos anos 80). Trata-se de comunidades do meio rural, pobres e altamente vulneráveis, nesse contexto de hostilidade que começa a manifestar-se cada vez mais contra os cristãos. As violentas perseguições de Domiciano (que se traduzirão, para os cristãos, em massacres, torturas e sofrimentos indizíveis) estão já no horizonte próximo (década de 90). Neste contexto, o autor da Carta exorta os crentes a manterem a fidelidade à sua fé, apesar da hostilidade atual e dos sofrimentos futuros. Convida-os a olharem para Cristo, que passou pela experiência da paixão e da cruz, antes de chegar à ressurreição; e exorta-os a manterem a esperança, o amor, a solidariedade, vivendo com alegria, coragem, coerência e fidelidade a sua opção cristã.

MENSAGEM
Para tornar mais marcante a exortação, o autor apresenta a razão pela qual eles são convidados a viver na santidade: Deus pagou um alto preço para os resgatar da antiga maneira de viver… E esse preço não foi pago com ouro ou com prata, mas com o sangue precioso de Cristo, derramado na cruz.
Dizer que Deus ”resgata”, contudo, não significa acentuar a ideia de um ”pagamento” (Deus não paga nenhuma soma para ”resgatar” o seu Povo), mas significa acentuar a questão da libertação: Deus, no seu amor, liberta Israel da escravidão e do pecado e faz dele um Povo consagrado ao seu serviço.
É neste ambiente que devemos entender a afirmação do autor da Primeira Carta de Pedro. Aliás, a tipologia do Êxodo/libertação está bem expressa na referência ao ”cordeiro sem defeito e sem mancha” (qualidades do ”cordeiro pascal”, segundo Ex 12,5), que recordava a noite gloriosa da libertação da escravidão do Egito. A questão é esta: Deus amou de tal forma os homens que enviou ao mundo o próprio Filho (o ”cordeiro” da libertação) com uma proposta de salvação e de vida nova para o Povo de Deus. O egoísmo e o pecado não acolheram essa proposta de salvação e mataram Jesus: esse foi o ”preço” do amor de Deus e da sua vontade de nos fazer chegar à vida plena. Mas a morte de Jesus não foi em vão: da sua fidelidade à missão do Pai, do dom da sua vida, nasceu uma comunidade de homens novos, que acolheram a proposta de Jesus e que aceitaram caminhar ao encontro da vida plena.
O cristão é, pois, convidado a contemplar o plano de salvação que Deus quer concretizar em favor do homem e que leva Jesus (o Filho de Deus) a morrer na cruz. Constatando a grandeza do amor de Deus e a sua vontade salvífica, o homem aceita renascer para uma vida nova e santa (mesmo no meio das dificuldades e perseguições). Dessa forma, nascerá um Povo novo, consagrado ao serviço de Deus.

ATUALIZAÇÃO
• O nosso texto convida-nos a contemplar o imenso amor de Deus pelos homens. Esse amor traduziu-se no envio do próprio Filho (Jesus Cristo), com uma proposta de salvação. Da fidelidade do Filho ao projeto do Pai resultou o seu confronto com o egoísmo e o pecado e a morte na cruz. Não há maior expressão de amor do que entregar a vida em favor de alguém; e é dessa forma que Deus nos ama.
• Da contemplação do amor de Deus resulta uma resposta nossa. Segundo o autor da Primeira Carta de Pedro, essa resposta deve traduzir-se numa conduta nova de obediência a Deus, de entrega incondicional nas mãos de Deus, de adesão completa aos seus planos, valores e projetos.
• Nós somos convidados a viver e a anunciar a lógica de Deus, que é a lógica do amor e da entrega da vida até às últimas consequências.


PE. Joaquim, PE. Barbosa, PE. Carvalho

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Homilia de D. Henrique Soares da Costa
No Tempo Pascal a Igreja vive, celebra e testemunha sua certeza, aquela convicção que a faz existir e sem a qual ela não teria sentido neste mundo: “Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou por meio dele entre vós. Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue nas mãos dos ímpios e vós o matastes pregando numa cruz… Deus ressuscitou este mesmo Jesus e disto todos nós somos testemunhas. Exaltado pela Direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo prometido e o derramou…”
Este é o núcleo da nossa fé, o fundamento da nossa esperança, a inspiração para a nossa vida e nossa ação, isto é, para nossas atitudes concretas, nossa vida moral.
Na Liturgia da Palavra deste Domingo, o encontro de Emaús sintetiza muito bem a experiência cristã. Prestemos atenção, porque é de nós que fala o Evangelho de hoje! O que há aí? Há, primeiramente o caminho – aquele da vida: aí, os discípulos conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido com Jesus. Mas, os acontecimentos, lidos somente à nossa luz, segundo a nossa razão e os nossos critérios, são opacos, são tantas e tantas vezes, sem sentido… Por isso, no coração e no rosto daqueles dois havia tristeza e escuro; eles estavam cegos e tristes… Dominava-os o desânimo e a incerteza: esperaram tanto e, agora, só restava um túmulo vazio… Mas, à luz do Ressuscitado – quando o experimentamos vivo entre nós – tudo muda, absolutamente. Primeiro o coração arde no nosso peito. Arde com a alegria e o calor de quem vê um sentido – e um sentido de amor e de vida – para os acontecimentos da existência, mesmo os mais sombrios: “Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na glória?” Que palavras impressionantes! São as mesmas dos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura: “Deus em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue…” Aqui, compreendamos bem: só na fé se pode penetrar o mistério e ultrapassar o absurdo! Então, com Jesus, na sua luz, os olhos nossos se abrem e reconhecemos Jesus, experimentamo-lo vivo, próximo, como Senhor, que dá orientação, sustento e sentido à nossa vida! Sentimos, então, a necessidade de conviver e compartilhar com outros que fizeram a mesma experiência, todos reunidos em torno daqueles que o Senhor constituiu como primeiras testemunhas suas – os Apóstolos e seus sucessores, os Bispos em comunhão com o Sucessor de Simão, a quem o Senhor apareceu em primeiro lugar dentre os Apóstolos. É assim que somos cristãos; é assim que somos Igreja!
Esta é, portanto, a certeza dos cristãos, a nossa certeza! Hoje somos nós as testemunhas! Hoje somos nós quem devemos pedir: “Mane nobiscum, Domine!” – “Fica conosco, Senhor!” Somente seremos cristãos de verdade se ficarmos com o Senhor que fica conosco, se o encontrarmos sempre na Palavra e no Pão eucarístico. Nunca esqueçamos: os discípulos sentiram o coração arder ao escutá-lo na Escritura e o reconheceram ao partir o Pão! Esta é a experiência dos cristãos de todos os tempos. João Paulo Magno, precisamente na sua Carta Apostólica Mane nobiscum Domine afirmava essa necessidade absoluta de Cristo, necessidade de voltar sempre a ele: “Cristo está no centro não só da história da Igreja, mas também da história da humanidade. Tudo é recapitulado nele. Cristo é o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização, o centro do gênero humano, a alegria de todos os corações e a plenitude de suas aspirações. Nele, Verbo feito carne, revelou-se realmente não só o mistério de Deus, mas também o próprio mistério do homem. Nele, o homem encontra a redenção e a plenitude!” (n. 6).
O mundo atual – e o mundo de sempre – deseja apontar outros caminhos de realização para o homem; outras possibilidades de vida… Os cristãos não se iludem! Sabemos onde está a nossa vida, sabemos onde encontrar o caminho e a verdade de nossa existência: em Cristo sempre presente na Palavra e na Eucaristia experimentadas na vida da Igreja! Repito: este é o centro da experiência cristã; e precisamente daqui brotam as exigências de coerência de nossa vida: “Fostes resgatados da vida fútil herdade de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata e o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um Cordeiro sem mancha e sem defeito. Antes da criação do mundo ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, ele apareceu por amor de vós!” Eis, que mistério! Antes do início do mundo o Pai nos tinha preparado este Cordeiro imolado, para que nele encontrássemos a vida e a paz! Por ele alcançamos a fé em Deus; por ele, nossa vida ganhou um novo sentido; por ele, não mais pensamos, vivemos e agimos como o mundo das trevas! E porque Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, a nossa fé e a nossa esperança estão em Deus, estão firmadas na Rocha! “Vivei, pois, respeitando a Deus durante o tempo da vossa migração neste mundo!” Vivamos para Deus e manifestemos isso pelo nosso modo de pensar, falar, agir e viver!
Irmãos! Irmãs! Não tenhais medo de colocar em Cristo toda a vossa vida e toda a vossa esperança! É ele quem nos fala agora, na Palavra, e agora mesmo, para que nossos olhos se abram e o reconheçamos, ele mesmo nos partirá o Pão. A ele a glória pelos séculos! Amém.
D. Henrique Soares da Costa
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3º Domingo da Páscoa; Fica conosco
A Liturgia deste domingo nos convida a descobrir o Cristo vivo, que acompanha os homens pelos caminhos do
mundo, muitas vezes sem ser reconhecido. Mas onde o podemos encontrar?

Na 1ª Leitura, a COMUNIDADE CRISTÃ transformada pelo Espírito, deixou a segurança das paredes do Cenáculo e prepara-se para dar testemunho de Jesus, em Jerusalém e até aos confins da terra. (At 2,14.22-33)

* A pregação de Pedro, no dia do Pentecostes, anuncia que Cristo ressuscitou, está vivo e salva a todos. 
É a catequese da Comunidade cristã primitiva sobre Jesus. (Kerigma)

A 2ª Leitura nos garante que Cristo permanece para sempre entre nós, como realidade libertadora de toda escravidão. (1Pd 1,17-21)

No Evangelho, o Peregrino aponta aos DISCÍPULOS DE EMAÚS o caminho para reconhecer o Cristo Ressuscitado. (Lc 24,13-35)

- Os DISCÍPULOS estão tristes, desanimados, decepcionados, frustrados... abandonam a Comunidade e voltam para casa, dispostos a esquecer o sonho. Aguardavam um Messias glorioso, um Rei poderoso, um Vencedor e   encontram-se diante de um derrotado, que tinha morrido na cruz.

- Aparece um PEREGRINO, que caminha com eles...  e começam a falar do assunto do momento:
   JESUS, Profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e dos homens, mas que teve um fim inesperado...

- O Peregrino interpreta as ESCRITURAS, que falam do Messias...
  Eles escutam com interesse... e seus corações começam a "arder".

- No final da tarde, os discípulos chegam em casa e fazem um CONVITE: "Fica conosco".
  Querem prolongar a agradável companhia.
  Após ter acolhido a PALAVRA do  Peregrino, lhe oferecem HOSPEDAGEM em sua casa...  e Ele aceita...  não apenas para "passar a noite", mas para "ficar com eles".

- À mesa: UM GESTO CONHECIDO: o mesmo gesto da última ceia, quando Jesus instituiu a Eucaristia.
  Os olhos se abrem e reconhecem o Ressuscitado...
  A Palavra faz "arder" o coração, a fração do Pão faz "abrir os olhos".
  E Cristo desaparece... porque agora a Comunidade já possui os sinais concretos de sua presença: a sua Palavra e o Pão partilhado...
Mesmo invisível aos olhos, o Senhor está e permanecerá presente. Agora é só Testemunhar.

- E PARTEM LOGO para anunciar a descoberta aos irmãos e, junto com eles, proclamam a fé: "O Senhor ressuscitou."
  A Proclamação da alegria pascal não pode esperar o dia amanhecer... A escuta atenta da Palavra e o repartir do pão abre os olhos e impulsiona para a MISSÃO.

+ Cristo continua hoje companheiro de caminhada

Onde encontrar o Ressuscitado?
O episódio de Emaús nos aponta o caminho:

- Na PALAVRA DE DEUS, escutada, meditada, partilhada, acolhida, Jesus nos indica caminhos, nos aponta novas perspectivas, nos dá a coragem de continuar, depois de nossos fracassos.
Acolhem a Palavra do Peregrino e lhe oferecem hospedagem em sua casa.

- NA PARTILHA DO PÃO EUCARÍSTICO.
A narração apresenta o esquema da Missa: Liturgia da Palavra e do Pão.
É na celebração comunitária da Eucaristia, que nós fazemos a experiência do encontro pessoal com Jesus vivo e ressuscitado.

- Na COMUNIDADE:
A Comunidade sempre foi e continua sendo o lugar privilegiado do encontro...
(Experiência dos discípulos... e de Tomé...)

+ O Caminho de Emaús
Muitas vezes, também nós andamos pelos caminhos da vida, "tristes"... cansados e desiludidos...
Caíram os nossos castelos e a vida parece ter perdido sentido. Esperávamos tanto... mas tudo terminou...
(quem sabe lá... a morte de um parente amigo, um fracasso em nossos empreendimentos... a família desunida...)
É triste quando a esperança morre... Parece nada mais ter sentido. Somos tentados a abandonar a luta e voltar...

Eles estavam angustiados por aquilo que aconteceu em Jerusalém. Mas, na medida em que participaram da
celebração da Palavra e do banquete da Fração do pão, o interior deles se abriu à luz, a vida do Ressuscitado invadiu seus corações e os fez voltar à Comunidade.

Nesses momentos, mais do que nunca, como os dois discípulos, necessitamos do Peregrino de Emaús:
"Fica conosco, Senhor".


                                 Pe. Antônio Geraldo


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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA:

LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
à O SENHOR ESTEJA COM TODOS VOCÊS... DEMOS GRAÇAS AO SENHOR, O NOSSO DEUS...
à COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS, NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade, Aleluia!
àNosso Pai, Nós Vos damos graças pelo Vosso Filho Jesus. N’Ele realizastes os anúncios dos profetas; VÓs O ressuscitastes de entre os mortos e O elevastes na Vossa glória. Bendito sejais! Pai, derramai sobre nós o Vosso Espírito, para que possamos realizar as vossas obras.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade, Aleluia!
à Nós  vos bendizemos por Jesus Cristo, o Cordeiro sem pecado e sem mancha, cujo precioso sangue nos libertou. Por Cristo ressuscitado, acreditamos e colocamos em Vós a nossa fé e a nossa esperança.
T: Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade, Aleluia!
à Bendito sejais, senhor Nosso Deus. É por vossa vontade que Jesus caminha ao nosso lado, para nos fazer compreender as Escrituras. Nós Vos damos graças, pelo Vosso Filho que nos deu o Pão da vida eterna. Pai, tornai-nos atentos à presença de vosso Filho no meio de nós, curai os nossos corações, tão lentos a crer.
Louvor e glória a Vós, ó Pai de Bondade, Aleluia!


PAI NOSSO... A PAZ DE CRISTO... EIS O CORDEIRO...

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